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Direito Civil I.

Conceito, histórico, codificação, Código Civil de 1916 e Código Civil de


2002.

Conceito de direito civil

O direito civil é o direito comum que rege as relações entre os particulares.


Regula a vida das pessoas desde a concepção até a morte, e ainda depois
dela, reconhecendo, por exemplo, a eficácia "post mortem" do testamento e
exigindo o respeito aos mortos.

Serpa Lopes conceitua o direito civil como um dos ramos do direito privado
"destinado a regulamentar as relações de família e as relações patrimoniais
que se formam entre os indivíduos encarados como tal, isto é, quanto membros
da sociedade".

O direito civil é ainda visto como a "constituição do homem comum", tendo em


vista que disciplina as relações mais simples da vida, os direitos e obrigações
das pessoas, ou seja, toda a vida social e o dia-a-dia do homem. Note-se que o
direito civil trata das relações puramente pessoais, como o poder familiar, e
também das relações patrimoniais.

Histórico do direito civil

Em princípio, o direito privado era um só, sendo que as relações entre


particulares eram reguladas por um conjunto de normas sem diferenciação.
Mais tarde, o direito romano passou a fazer distinção entre o "jus civile",
aplicado aos súditos romanos, e o "jus gentium", aplicado aos estrangeiros e às
relações entre romanos e estrangeiros.

Porém, na época de Justiniano a divisão tornou-se maior: havia o "jus civile",


como direito privado comum, aplicável dentro das fronteiras do Império
Romano; o "jus gentium", aplicável às nações estrangeiras; e o "jus naturale",
ideal jurídico para o qual deveriam evoluir os demais. Assim, nesta época o
direito civil destinava-se à regulamentação da vida dos romanos.

Já na Idade Média, o direito civil sofreu grande influência do direito germânico e


canônico, em razão da autoridade legislativa da Igreja, que normalmente
indicava os princípios gerais do direito romano.

Outrossim, a Idade Moderna tem grande influência no estudo do direito civil,


pelo surgimento do estado moderno e pela racionalização do pensamento e
cultura, que deram origem à construção da ciência jurídica. A partir do século
XIX o direito civil estreitou-se, passando a concernir às disciplinas do Código
Civil.

O Brasil elaborou seu primeiro Código Civil em 1850.

Codificação

No período colonial, o Brasil era regido pelas Ordenações Filipinas. Com sua
independência, a legislação portuguesa continuou a vigorar entre nós, com a
ressalva de que assim seria até que o Código Civil fosse elaborado. Assim, a
Constituição de 1824 referiu-se à organização do Código Civil, sendo que em
1865 tal tarefa foi incumbida a Teixeira de Freitas, que elaborou o "Esboço do
Código Civil", que acabou não sendo acolhido, mas influenciou o CC argentino.

Todavia, somente após a Proclamação da República que o projeto de Clóvis


Beviláqua foi remetido ao Congresso Nacional em 1900. Na Câmara dos
Deputados tal projeto sofreu algumas alterações, sendo aprovado em janeiro
de 1916, e entrou em vigor em 1º de janeiro de 1917.

Ocorre que a complexidade e o dinamismo das relações sociais determinaram


a criação de vários microssistemas jurídicos, decorrentes de legislações
especiais, como a Lei do Divórcio, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a
Lei dos Registros Públicos, entre outras. Tais leis acabaram por provocar
insinuações de que o Código Civil desempenhava papel subsidiário dentro do
sistema legal.
Tal situação levantou discussões sobre a possibilidade de ser ter um direito
civil codificado e, assim, a codificação prevaleceu. O primeiro grande passo foi
dado na França, com o Código de Napoleão, de 1804, que regula até hoje a
vida daquele povo.

Código Civil de 1916

O CC de 1916 continha 1.807 artigos, era antecedido pela Lei de Introdução ao


Código Civil, e sofreu grande influência dos Códigos francês e alemão.
Continha uma Parte Geral e uma Parte Especial, que era dividida em Direito de
Família, Direito das Coisas, Direito das Obrigações e Direito das Sucessões.

Frisa-se que o CC de 1916 refletia as concepções predominantes do fim do


século XIX e início do século XX, e era elogiado pela sua clareza e precisão de
conceitos. A evolução social provocou inúmeras transformações na sociedade,
que exigiram uma adaptação do direito, mediante a elaboração de legislações
especiais, tais como as já mencionadas anteriormente (Lei do Divórcio, ECA
etc).

Até mesmo a Constituição Federal de 1988 trouxe inovações ao direito de


família e ao direito das coisas.

Código Civil de 2002

Após várias tentativas de reformar o CC de 1916, em 1967 formou-se uma


nova comissão dirigida por Miguel Reale, que apresentou, em 1972, o
Anteprojeto, com a disposição de preservar o aspecto geral do CC de 1916
naquilo que fosse possível, reformulando-se no âmbito especial.

O projeto foi enviado ao Congresso Nacional, transformando-se no Projeto de


Lei nº 634/75, e que veio a se tornar o novo Código Civil Brasileiro. Antes
mesmo da sua entrada em vigor, no período de "vacatio legis", o CC de 2002
sofreu algumas modificações, em razão da demora na tramitação.

Note-se que o atual CC apresenta as seguintes características: a) preserva a


estrutura do CC de 1916; b) mantém o CC como lei básica do direito privado,
unificando o direito das obrigações; c) aproveita as contribuições dos trabalhos
e projetos apresentados anteriormente; d) inclui as matérias tratadas nas
legislações especiais posteriores a 1916; e e) exclui matérias de cunho
processual.

A Lei do Divórcio, o ECA, o Código de Defesa do Consumidor e outras leis


específicas continuam em vigor no que não contrariarem o CC de 2002.

- Estrutura e conteúdo:

Como já dito, o CC de 2002 mantém a estrutura do CC de 1916 e é dividido em


Parte Geral e Especial, sendo que a primeira trata dos bens, das pessoas e
dos fatos jurídicos, e a segunda é dividida em Direito das Obrigações, Direito
de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família e Direito das Sucessões.

Quanto ao conteúdo, pode-se dizer que o CC de 2002 é o conjunto de direitos,


relações e instituições que formam o sistema legal. Diz-se que o objeto do
direito civil é a tutela da personalidade humana, regulamentando a
personalidade jurídica, a família, o patrimônio e sua transmissão.

- Princípios básicos:

O Código Civil de 2002 tem por princípios básicos os da socialidade, eticidade


e operabilidade. O primeiro reflete a predominância dos valores coletivos sobre
os individuais, sem a perda do valor essencial da pessoa humana. Já o
princípio da eticidade baseia-se no valor da pessoa humana como fonte dos
demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa, entre outros
aspectos éticos.

Por fim, o princípio da operabilidade considera que o direito deve ser efetivado
para ser executado, motivo pelo qual o novo código afastou as complexidades.
Incluído neste princípio está o princípio da concretitude, que consiste na
obrigação do legislador de não legislar em abstrato.
Direitos Congênitos (da personalidade) e Direitos Adquiridos

Segundo definição do Dicionário Aurélio, a palavra congênita refere-se àquilo


que é "gerado ao mesmo tempo; nascido com o indivíduo; conatural; conato;
inato". No direito brasileiro, tanto na legislação quanto na doutrina, esta palavra
está diretamente ligada à personalidade jurídica da pessoa, pois considera que
o indivíduo tem capacidade de direito, isto é, personalidade desde o
nascimento com vida.

Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil (art. 2º, Código
Civil), ou seja, toda pessoa tem personalidade.

O artigo 2º do Código Civil estabelece que "a personalidade civil do homem


começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os
direitos do nascituro".

Quando o Código diz que a lei põe a salvo os direitos do nascituro (aquele que
tem vida intra-uterina, que vai nascer), garante também a ele direitos, pois
desde a sua concepção a lei não lhe confere personalidade, mas o
ordenamento jurídico lhe preserva direitos e interesses futuros, partindo do
princípio de que nascerá com vida. O Código Penal garante-lhe o direito à vida
ao tipificar como crime o aborto (arts. 124 a 126), considerando que nascerá
vivo. O Código Civil garante ao nascituro, no caso de falecimento do pai,
estando a mulher grávida, um curador para cuidar de seus interesses que
possam divergir dos de sua genitora (art. 1.779, do Código Civil). Além disso, o
Estatuto da Criança e do Adolescente admite o reconhecimento pelos pais se
nascido fora do casamento, e antes do nascimento (art. 27 e § único).

A personalidade propriamente dita se inicia a partir do nascimento do indivíduo


com vida, sendo seus direitos absolutos, impostos a todos os membros da
sociedade. Os direitos personalíssimos são: direito à vida, à saúde, ao nome, à
liberdade, à privacidade e à própria imagem.
O fim da personalidade se dá com a morte do indivíduo, por isso é importante
distinguir se o nascimento ocorreu com vida ou não, pois as consequências são
bem diferentes, no que se refere à sucessão de seu patrimônio.

O indivíduo nasce, conforme se viu, com direitos próprios da pessoa e vai ao


longo de sua vida adquirindo-os em decorrência de diversos fatos sociais que
possam gerar direitos. Estes chamados direitos adquiridos são protegidos pela
Constituição Federal (art. 5º, XXXVI), nos seguintes termos: "a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada". A
doutrina discute se pode o direito adquirido, como interesse individual que é,
prevalecer sobre o interesse coletivo.

Referência bibliográfica

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 5ª ed. São Paulo:


Editora Saraiva, 2007.

Atualizado 2016.

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