O LIVEIRA Direito público e direito privado O Direito Público é o conjunto de normas de natureza pública, com forte atuação do Estado, de caráter social e organizacional da sociedade. Por sua vez, o Direito Privado visa disciplinar as relações interindividuais e os interesses privados. Já no âmbito do Direito Privado, o Direito Civil visa disciplinar as relações entre os indivíduos estabelecendo direitos e impondo obrigações. Ordena todos os campos de interesses individuais. O agrupamento de todas as normas do Direito Civil é o Código Civil, este, por sua vez, é estruturado em geral e especial. Código Civil 1916 A Constituição do Império de 1824 estabeleceu que fosse organizado um código civil e também um criminal, em caráter de urgência. Pois bem. Nosso diploma civil passou por uma série de fases e demorou quase um século para ser elaborado, aprovado e promulgado. O primeiro Código Civil brasileiro só vigorou a partir do ano de 1917. Foram noventa e dois anos de processo de elaboração. De autoria do jovem Clóvis Bevilácqua, renovou o direito brasileiro, dentro de uma filosofia marcada pelo liberalismo político e econômico. Pretensão do código civil: - ordenar as condutas jurídico-privadas dos cidadãos,
- torna-se o centro do regramento privado,
restando à Constituição a função de carta política regulamentadora do Estado; suas normas eram exclusivamente dirigidas ao legislador. Características do Código Civil de 1916: a) individualista e patrimonialista - garantia, por consequência, o direito de propriedade e de liberdade contratual, como frutos do liberalismo econômico dominante. b) Ramos do Direito Civil: As instituições de Direito Civil foram tradicionalmente aprisionadas em quatro grandes ramos, quais sejam, o Direito das Obrigações, o Direito das Coisas, o Direito de Família e o Direito das Sucessões. c) CC/ 1916 tutelava o sujeito, enquanto proprietário e contratante: O indivíduo, considerado sujeito de direito por sua capacidade de ser titular de relações patrimoniais, deveria ter plena liberdade para a apropriação. d) O trinômio fundamental da estrutura do Código Civil de 1916: propriedade, autonomia da vontade e família. e) Ideologia fundante - completude, centralidade e unicidade - Família: se assentava em um arcabouço patriarcalista e hierarquizado, marcada pela monogamia, pelo casamento, fundado na autoridade de um chefe, e pela preocupação de preservação do patrimônio. O afeto não era visto como valor jurídico. f) Influência positivista: a busca por segurança jurídica. CONSTITUIÇÃO DE 1988 A Constituição Brasileira de 1988, chamada “Constituição Cidadã”, quebrou este paradigma, trazendo disposições tipicamente de Direito Privado, como contratos, propriedade, etc. Com isso, o Direito Civil passou a receber tratamento constitucional e o garantismo passa a abraçar também normas de Direito Civil, ou seja, a este ramo do direito passará a ser aplicada a tábua axiológica prevista na Constituição (arts. 1º, 3º, 5º e 7º): dignidade, solidariedade, igualdade e liberdade. O Direito Civil perde seu caráter patrimonialista e individualista, pois agora, curvando-se aos valores constitucionais, há maior preocupação com a tutela da pessoa humana, considerada a finalidade, a justificativa da existência do próprio Direito Civil. Dessa forma, o Código Civil de 1916 colidia frontalmente com os valores erigidos pela Constituição de 1988. Uma nova codificação era demandada, já que a separação essencial do Direito Público e Direito Privado havia sido superada. Lei 10.406/2002 Em 2002 nasce o Novo Código Civil, mais compatível com a Constituição de 1988, trazendo consigo valores como a socialidade, eticidade e operabilidade. A proteção do Direito Civil muda de foco: da tutela da pessoa individualmente considerada, para a tutela da pessoa considerada pela sua inserção em uma sociedade. Princípios norteadores do Código Civil de 2002 A socialidade se desdobra na função social do contrato, função social da propriedade, da interpretação adequada das normas de direito civil. A eticidade, por sua vez, exige um comportamento ético nas relações privadas. Uma faceta da eticidade é o princípio da boa-fé objetiva e da probidade. A operabilidade demanda que a norma civil seja facilmente manejada, e tenha uma aplicabilidade mais concreta. Outros princípios do Direito Civil Conforme o ilustríssimo Amaral, há também os “Princípios Institucionais do Direito Civil” que se pautam como alicerces para institutos respectivos, como: Princípio da dignidade da pessoa humana para os direitos da personalidade; Princípio da igualdade dos cônjuges (CC, arts. 1.511, 1.565 e 1.566) e dos filhos (CC, art. 1.596) para o direito da família; . Princípio da autonomia privada, da boa‐fé, da equidade, da função social para o direito contratual; Princípio da função social da propriedade (CC, art. 1.228, § 1o) para os direitos reais; Princípio da responsabilidade patrimonial no âmbito da responsabilidade civil. Assim, percebe-se que os princípios são os alicerces que te darão a base para uma argumentação sólida no Direito Civil. Eles corroboram inquestionavelmente para a construção de autoridade no seu nome como operador de fato do Direito A este movimento histórico, por meio do qual o Direito Civil se curva ao Direito Constitucional dá-se o nome de “Constitucionalização do Direito Civil”, ou “Direito Civil Constitucional”.
Constitucionalização não se confunde com
Publicização do Direito Civil. Aquele movimento se refere ao condicionamento da norma de Direito Civil à norma constitucional. A publicização, por sua vez, remete à participação do Estado (Direito Público) na limitação das relações privadas. Determinadas relações particulares reclamam a presença do Estado para garantir a igualdade entre as partes. É o que se chama de dirigismo estatal. O Direito do Trabalho e Direito do Consumidor são exemplos claros de relações privadas que demandam o dirigismo estatal, uma maior inserção de normas de Direito Público a fim de garantir igualdade entre as partes. Constitucionalização do Direito Civil: A) superação da dicotomia entre Direito Público e Direito Privado.
B) absorção definitiva pelo texto constitucional de
valores que presidem a iniciativa privada e seus institutos (família, propriedade e contrato). ESTRUTURA O Código Civil de 2002 — Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 —, seguindo a tradição brasileira, é dividido em duas partes: (1) Parte Geral; (2) Parte Especial.
A Parte Geral se divide em três livros: (I) Das
Pessoas — art. 1º a 78; (II) Dos Bens — arts. 79 a 103; (III) Dos Fatos Jurídicos — arts. 104 a 232. A Parte Especial, por sua vez, divide-se em cinco livros: (I) Direito das Obrigações — arts. 233 a 965; (II) Direito de Empresa — arts. 966 a 1.195; (III) Direito das Coisas — arts. 1.196 a 1.510; (IV) Direito de Família — arts. 1.511 a 1.783; (V) Direito das Sucessões — arts. 1.784 a 2.027. Há, ainda, um Livro Complementar — Das disposições finais e transitórias — arts. 2.028 a 2.046.