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DIREITO PRIVADO

PROFESSORA I SABEL C RISTINA G UIMARÃES AQUINO DE


O LIVEIRA
Direito público e direito
privado
O Direito Público é o conjunto de normas de
natureza pública, com forte atuação do Estado, de
caráter social e organizacional da sociedade.
Por sua vez, o Direito Privado visa disciplinar as
relações interindividuais e os interesses privados.
Já no âmbito do Direito Privado, o Direito Civil visa
disciplinar as relações entre os indivíduos
estabelecendo direitos e impondo obrigações.
Ordena todos os campos de interesses individuais.
O agrupamento de todas as normas do Direito Civil
é o Código Civil, este, por sua vez, é estruturado
em geral e especial.
Código Civil 1916
A Constituição do Império de 1824 estabeleceu que
fosse organizado um código civil e também um
criminal, em caráter de urgência. Pois bem. Nosso
diploma civil passou por uma série de fases e
demorou quase um século para ser elaborado,
aprovado e promulgado.
O primeiro Código Civil brasileiro só vigorou a partir
do ano de 1917. Foram noventa e dois anos de
processo de elaboração. De autoria do jovem Clóvis
Bevilácqua, renovou o direito brasileiro, dentro de
uma filosofia marcada pelo liberalismo político e
econômico.
Pretensão do código civil:
- ordenar as condutas jurídico-privadas dos
cidadãos,

- torna-se o centro do regramento privado,


restando à Constituição a função de carta política
regulamentadora do Estado; suas normas eram
exclusivamente dirigidas ao legislador.
Características do Código Civil
de 1916:
a) individualista e patrimonialista - garantia, por
consequência, o direito de propriedade e de
liberdade contratual, como frutos do liberalismo
econômico dominante.
b) Ramos do Direito Civil: As instituições de Direito
Civil foram tradicionalmente aprisionadas em
quatro grandes ramos, quais sejam, o Direito das
Obrigações, o Direito das Coisas, o Direito de
Família e o Direito das Sucessões.
c) CC/ 1916 tutelava o sujeito, enquanto
proprietário e contratante: O indivíduo,
considerado sujeito de direito por sua capacidade
de ser titular de relações patrimoniais, deveria ter
plena liberdade para a apropriação.
d) O trinômio fundamental da estrutura do Código
Civil de 1916: propriedade, autonomia da vontade e
família.
e) Ideologia fundante - completude, centralidade e
unicidade
- Família: se assentava em um arcabouço
patriarcalista e hierarquizado, marcada pela
monogamia, pelo casamento, fundado na
autoridade de um chefe, e pela preocupação de
preservação do patrimônio. O afeto não era visto
como valor jurídico.
f) Influência positivista: a busca por segurança
jurídica.
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição Brasileira de 1988, chamada
“Constituição Cidadã”, quebrou este paradigma,
trazendo disposições tipicamente de Direito
Privado, como contratos, propriedade, etc. Com
isso, o Direito Civil passou a receber tratamento
constitucional e o garantismo passa a abraçar
também normas de Direito Civil, ou seja, a este
ramo do direito passará a ser aplicada a tábua
axiológica prevista na Constituição (arts. 1º, 3º, 5º e
7º): dignidade, solidariedade, igualdade e liberdade.
O Direito Civil perde seu caráter patrimonialista e
individualista, pois agora, curvando-se aos valores
constitucionais, há maior preocupação com a tutela
da pessoa humana, considerada a finalidade, a
justificativa da existência do próprio Direito Civil.
Dessa forma, o Código Civil de 1916 colidia
frontalmente com os valores erigidos pela
Constituição de 1988. Uma nova codificação era
demandada, já que a separação essencial do Direito
Público e Direito Privado havia sido superada.
Lei 10.406/2002
Em 2002 nasce o Novo Código Civil, mais compatível
com a Constituição de 1988, trazendo consigo
valores como a socialidade, eticidade e
operabilidade.
A proteção do Direito Civil muda de foco: da tutela
da pessoa individualmente considerada, para a
tutela da pessoa considerada pela sua inserção em
uma sociedade.
Princípios norteadores do
Código Civil de 2002
A socialidade se desdobra na função social do
contrato, função social da propriedade, da
interpretação adequada das normas de direito civil.
A eticidade, por sua vez, exige um comportamento
ético nas relações privadas. Uma faceta da eticidade
é o princípio da boa-fé objetiva e da probidade.
A operabilidade demanda que a norma civil seja
facilmente manejada, e tenha uma aplicabilidade
mais concreta.
Outros princípios do Direito
Civil
Conforme o ilustríssimo Amaral, há também os
“Princípios Institucionais do Direito Civil” que se
pautam como alicerces para institutos respectivos,
como:
Princípio da dignidade da pessoa humana para os
direitos da personalidade;
Princípio da igualdade dos cônjuges (CC, arts.
1.511, 1.565 e 1.566) e dos filhos (CC, art. 1.596)
para o direito da família;
.
Princípio da autonomia privada, da boa‐fé, da
equidade, da função social para o direito
contratual;
Princípio da função social da propriedade (CC, art.
1.228, § 1o) para os direitos reais;
Princípio da responsabilidade patrimonial no
âmbito da responsabilidade civil.
Assim, percebe-se que os princípios são os
alicerces que te darão a base para uma
argumentação sólida no Direito Civil. Eles
corroboram inquestionavelmente para a
construção de autoridade no seu nome como
operador de fato do Direito
A este movimento histórico, por meio do qual o
Direito Civil se curva ao Direito Constitucional dá-se
o nome de “Constitucionalização do Direito Civil”,
ou “Direito Civil Constitucional”.

Constitucionalização não se confunde com


Publicização do Direito Civil. Aquele movimento se
refere ao condicionamento da norma de Direito
Civil à norma constitucional.
A publicização, por sua vez, remete à participação
do Estado (Direito Público) na limitação das relações
privadas. Determinadas relações particulares
reclamam a presença do Estado para garantir a
igualdade entre as partes. É o que se chama de
dirigismo estatal.
O Direito do Trabalho e Direito do Consumidor são
exemplos claros de relações privadas que
demandam o dirigismo estatal, uma maior inserção
de normas de Direito Público a fim de garantir
igualdade entre as partes.
Constitucionalização do
Direito Civil:
A) superação da dicotomia entre Direito Público e
Direito Privado.

B) absorção definitiva pelo texto constitucional de


valores que presidem a iniciativa privada e seus
institutos (família, propriedade e contrato).
ESTRUTURA
O Código Civil de 2002 — Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 —, seguindo a tradição brasileira, é
dividido em duas partes: (1) Parte Geral; (2) Parte
Especial.

A Parte Geral se divide em três livros: (I) Das


Pessoas — art. 1º a 78; (II) Dos Bens — arts. 79 a
103; (III) Dos Fatos Jurídicos — arts. 104 a 232.
A Parte Especial, por sua vez, divide-se em cinco
livros: (I) Direito das Obrigações — arts. 233 a 965;
(II) Direito de Empresa — arts. 966 a 1.195; (III)
Direito das Coisas — arts. 1.196 a 1.510; (IV) Direito
de Família — arts. 1.511 a 1.783; (V) Direito das
Sucessões — arts. 1.784 a 2.027.
Há, ainda, um Livro Complementar — Das
disposições finais e transitórias — arts. 2.028 a
2.046.

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