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Noções gerais do

Direito
Fernandes, Raquel
SST Noções gerais do Direito / Raquel Fernandes
Ano: 2020
nº de p.: 11

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Noções gerais do Direito

Apresentação
Nesta unidade, compreenderemos que a doutrina organiza um sistema normativo,
levando em consideração alguns aspectos. Verificaremos que essas divisões são
meramente didáticas, visto que, na prática, um sistema jurídico é dinâmico e as
linhas de divisões são tênues. Assim, estudaremos como o Direito conceitua as
figuras do Estado, Nação e País. Perceberemos que a classificação em direito
público e privado leva em consideração a participação do Estado na relação. E, por
fim, verificaremos o conceito de ramos do Direito.

CONCEITO DE ESTADO
Antes de falarmos sobre os ramos do Direito, é necessário que você entenda quem é
o Estado. Para o direito, o Estado é o conjunto de instituições sociais que constituem
a organização política de um povo que vive em um determinado território. A ideia
de Estado está atrelada à de bem comum, ou seja, as ações do Estado devem estar
sempre direcionadas ao bem de todos.

Reflita
Em relação ao exame a partir da perspectiva jurídica, Estado, Nação
e País são conceituados de formas distintas. Todavia, em outros
campos do saber são considerados como institutos semelhantes. Por
isso, é preciso verificar sob qual ótica esses estão sendo analisados.

Assim, conforme Dallari (2012), a concepção de Estado como pessoa jurídica


representa um extraordinário sentido da disciplina jurídica do interesse coletivo.

As nações seriam organizações que antecedem a formação estatal e possuem


finalidade mais humana. Ou seja, essa categoria está dotada de subjetividade, visto
que é composta por membros em uma dada localização geográfica e unidos por
elementos como identidade cultural, laços históricos, econômicos e linguísticos.

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Assim, é o povo de um determinado território, regido por leis emanadas de um poder
e postas por uma autoridade competente.

A figura a seguir traz os elementos constitutivos da nação.

Elementos constituvos da nação

Povo Poder

Território

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

No Brasil, o Estado é quem elabora, edita e aprova as leis por meio do poder
legislativo e, às vezes, do poder executivo. Além disso, o Estado é o responsável por
aplicar sanções em caso de descumprimento destas.

Já um país é uma designação geográfica que coincide, em regra, com a conceituação


de Estado. Também é um termo geralmente utilizado como sinônimo de pátria. Todavia,
a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que pode haver Estado sem país
(Cavaleiros de Malta), bem como nação sem país (Povos Ciganos).

Na realidade, os termos guardam semelhanças entre si, como mostra a figura:

Interação

País

Estado Nação

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

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CLASSIFICAÇÃO EM DIREITO PÚBLICO E
DIREITO
No Direito, tem-se a chamada dicotomia, que é a divisão de um elemento em duas
partes e, nesse caso, o Direito é dividido entre público e privado. Assim, os entes que
forem do Direito Público serão exclusivos deste, não configurando o Direito Privado,
e os entes que forem do Direito Privado serão exclusivos deste, não configurando o
Direito Público.

As origens históricas dessa classificação rementem ao período romano, quando


tal divisão decorreu do entendimento de que a esfera pública era lugar de ação, de
encontro de pessoas que se governam, enquanto o lugar privado era a casa e as
atividades voltadas à sobrevivência.

Saiba mais
O Direito Público surge das necessidades de tutelar a “res publica”,
ou seja, a coisa pública.

No Estado Moderno, a dicotomia Direito Público e Direito Privado fica evidente, uma
vez que houve a separação entre Estado e sociedade nos conformes do liberalismo,
que defende a liberdade individual, privada, nas esferas econômica, política, religiosa
e intelectual. Nesse período, o princípio da livre concorrência regia a esfera privada,
ou seja, os preços eram fixados livremente. E, ao Estado, esfera pública, cabia
apenas preservar a ordem interna e fazer a manutenção da paz.

Nesse mesmo período, começam a acontecer processos de concentração


econômica, o que trouxe conflitos sociais. Assim, houve o comprometimento do
mercado livre e do liberalismo, com a necessidade de intervenção do Estado nesses
conflitos sociais.

No decorrer do século XX, a intervenção estatal generalizou-se, fazendo com que


novos conflitos emergissem, muito em função da atuação estatal ultrapassar os
limites da esfera privada. Dessa forma, o Estado passou a assumir funções na vida
social, passando a gerir serviços que antes eram realizados pela esfera privada,

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como fiscalização de contratos de trabalho e distribuição de bens e serviços,
remetendo aos dias atuais.

Por consequência desse contexto histórico, o Direito Público remete ao conjunto


de normas jurídicas de natureza pública, o que compreende as normas que regem
a relação entre o particular e o Estado; e as normas que regulam as funções,
atividades e organizações do Estado. Por outro lado, o Direito Privado caracteriza
o conjunto de normas jurídicas de natureza privada, ou seja, normas jurídicas que
regulamentam as relações entre os particulares.

No Direito Privado, aplica-se o princípio da legalidade, no sentido de que é permitido


fazer tudo o que a lei não obriga ou proíbe; e o princípio da autonomia privada, o qual
permite aos particulares a regulação de seus interesses, desde que não violem ou
contrariem normas jurídicas.

Saiba mais
As primeiras dimensões dos direitos fundamentais surgem
buscando limitar o poder do Estado sobre a vida privada. Assim,
gera uma ampliação das normas de Direito Privado e um recuo das
normas de Direito Público.

Para efeitos de estudos, o Direito é segmentado e agrupado em ramos, levando-


se em consideração a dicotomia público-privado. Entretanto, é importante sempre
lembrar que ele é uno e que, por isso, todos os ramos são ligados.

Saiba mais
Quando da construção de um trabalho científico, chamamos os
ramos do direito de área de concentração.

Na sequência, vamos conhecer alguns ramos do Direito no âmbito público.

• Direito Internacional Público: refere-se às normas e regras jurídicas que condu-


zem as relações entre os Estados (países), ou seja, regula o comportamento
dos Estados e as organizações internacionais, como ONU, OEA, OIT e outras;

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• Direito Constitucional: é constituído por princípios e normas que estruturam
o Estado e garantem os direitos da sociedade. É fundamental para a organi-
zação e o funcionamento do Estado, o que inclui a estruturação política e as
formas de administração do Estado;
• Direito Administrativo: é o conjunto de princípios e normas jurídicas que re-
gem as atividades e relações públicas dos agentes e órgãos públicos (exem-
plo: leis que regem a contratação de servidores públicos; leis que disciplinam
os orçamentos públicos);
• Direito Eleitoral: é o conjunto de regras destinadas à escolha de representantes
para a ocupação de cargos eletivos, o que inclui os sistemas eleitorais. Além dis-
so, essas regras disciplinam as formas de atuação da soberania do povo;
• Direito Penal: é o conjunto de princípios e normas jurídicas pelos quais o
Estado aduz quais são os comportamentos humanos que devem sofrer san-
ções por serem reprováveis. Assim, o Estado proíbe determinadas ações e/ou
omissões;
• Direito Tributário: define como os tributos serão cobrados dos contribuintes,
ou seja, rege a relação jurídica entre o tesouro público e as pessoas;
• Direito Processual: traz normas jurídicas sobre como deve ser a sequência
dos atos pelos quais um processo deve acontecer. Assim, é o conjunto de
normas sobre a organização dos tribunais e juízes que neles atuam;
• Direito Notarial: refere-se a alguns atos jurídicos que necessitam de publici-
dade e autenticidade pública, ou seja, precisam ser registrados em âmbito
público. Dessa forma, surge o Direito Notarial, que é o conjunto de normas que
disciplinam as declarações humanas formuladas sob a autenticidade pública.

Saiba mais
Ainda que na prática utilizemos direito notarial como sinônimo de
registral, são espécies distintas. O Direito Registral é um conjunto
de princípios e normas jurídicas que regem a organização e o
funcionamento do registro de imóveis.

• Direito Imobiliário: regulamenta aspectos da vida privada relacionados a bens


imóveis, como aluguel, condomínios, compra e venda de imóveis, financia-
mento de casas próprias e outros;
• Direito Internacional Privado: são as normas jurídicas internas dos Estados (paí-
ses), que têm por objetivo solucionar conflitos existentes quando se aplica a le-

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gislação de outros países. Como exemplo, podemos citar questões de naciona-
lidade; de herança de pessoas que deixaram patrimônio em vários países; e de
acordos e contratos comerciais para importação e exportação de produtos;
• Direito Civil: pode ser considerado um ramo do Direito, pois é dele que decor-
rem outros sub-ramos, como Direito Empresarial, Direito de Família e Direitos
das Sucessões. É o conjunto de princípios e normas jurídicas que regem as
relações jurídicas entre as pessoas, físicas ou jurídicas. Regula as relações
patrimoniais, familiares, sucessórias, empresariais e obrigacionais entre os
indivíduos de uma sociedade;
• Direito Empresarial: é o conjunto de regras jurídicas que regem as atividades
e as relações das empresas e dos empresários.
• Direito de Família: é o conjunto de normas jurídicas que regem a estrutura, a
organização e a proteção da família. Portanto, trata das relações familiares e
das obrigações advindas dessas relações.

Saiba mais
Atualmente, a doutrina reconhece o Direito de Família como um
ramo autônomo do direito civil. Todavia, não há consenso quanto
a essa autonomia.

• Direito das Sucessões: é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a


transferência de patrimônios aos herdeiros.

É importante ressaltar que existem outros ramos do Direito nos âmbitos públicos e
privados.

Além disso, existem diversas discussões entre juristas quanto a alguns direitos
serem públicos ou privados, como é o caso do Direito do Trabalho e do Direito
Ambiental, pois, embora tenham características de Direito Privado, em alguns casos,
o Estado intervém nas relações jurídicas e substitui a manifestação da vontade das
partes envolvidas nos casos. Para compreender um pouco mais sobre eles, vamos
aos referidos direitos.

• Direito Ambiental: é o conjunto de normas jurídicas que buscam um meio am-


biente saudável, equilibrado e íntegro. A proteção do meio ambiente constitui
obrigação de titularidade coletiva, fazendo parte dos Direitos Humanos;

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• Direito do Trabalho: é o conjunto de princípios e normas jurídicas que discipli-
nam as relações entre empregados e empregadores.

Saiba mais
A chamada ala progressista do Direito ainda reconhece outros ramos
que seriam autônomos. A exemplo, atualmente temos um forte
movimento que fala na construção do ramo do Direito do Animal.

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FECHAMENTO
Nesta unidade, verificamos que apesar de, no cotidiano, utilizarmos os temos
Estado, País e Nação como sinônimos, para o Direito, essas são categorias distintas
que, apesar de não se confundirem, guardam íntima relação entre si.

Vimos ainda que, doutrinariamente, podemos organizar as normas jurídicas como direito
público e privado. Nesse momento, conseguimos compreender que a distinção entre
esses termos se estabelece em relação a quanto o Estado participa da relação.

Por fim, verificamos a organização das normas de um sistema jurídico relacionadas ao


ramo a que pertencem e que essa classificação está em processo de modificação, ao
passo que alguns ramos tomam independência e outros são criados.

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Referências
DALLARI, D. A. Elementos da teoria geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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