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INTRODUÇÃO
Estado / Nação
Uma nação é um conjunto de indivíduos ligados por determinadas afinidades e que
manifestam vontade de viver em comum. Um Estado é a organização política e jurídica
composta por elementos como o território, população e governos. Há Estados compostos por
várias nações (Estados Multilaterais), por exemplo, África e Espanha. Há também nações que
se dissipam por vários Estados, como por exemplo, a comunidade judaica. Há matérias sobre
as quais o Direito Internacional não interfere por serem matérias de domínio reservado dos
Estados, dizendo respeito exclusivamente à sua jurisdição interna. No entanto, cada vez mais
a comunidade internacional influência na produção das legislações estatais. A noção de
Direito Internacional remete à relação necessária entre direito e sociedade e serve para
atestar a conveniência da sentença ubi societas ibi ius: onde houver sociedade, haverá Direito
– para regulá-la e discipliná-la.
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Sujeitos
No entanto, a sociedade internacional de hoje não é apenas constituída por Estados. É
constituída por um leque relativamente alargado de sujeitos de direito: os Estados, as
organizações internacionais, os povos não autónomos e o próprio indivíduo. Basicamente,
são sujeitos do Direito Internacional os sujeitos com personalidade jurídica internacional,
titulares de direitos e obrigações (no plano internacional), que se tornam destinatários diretos
de normas jurídicas internacionais.
O Direito Internacional é aplicado à sociedade internacional, constituída, atualmente, por
Estados, organizações internacionais, povos não autónomos e o próprio indivíduo.
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O Direito Internacional moderno nasce no século XVII, na Europa Ocidental com os tratados
de paz de Westfália que, em 1648, puseram termo à sangrenta guerra religiosa dos Trinta
Anos, marcam o início de uma nova era, assente na emergência de entidades soberanas e
independentes, colocadas num plano (formal) de perfeita igualdade. Para unir as entidades
soberanas e independentes foi necessária a submissão dos vários Estados a um conjunto de
normas reguladoras das suas relações recíprocas. Normas essas que pudessem evitar o clima
de caos e violência que se instalaria, caso as novas entidades soberanas e independentes não
se achassem ligadas pela supremacia do Direito. Nascem, assim, os Estados Modernos
(concentradores de poder). Estas são as raízes do moderno
Direito Internacional que nos revelam as funções que, desde o início da sua existência, ou
seja, desde a paz de Westfália, no século XVII:
• Permitir a coexistência entre Estados heterogéneos e juridicamente iguais num
clima de paz
• Satisfazer necessidades e interesses comuns dos membros da comunidade
internacional
• Propiciar mecanismos normativos e institucionais para a cooperação
intraestatal
• Coexistência e cooperação são as duas funções principais que devem ser
desempenhadas pelo Direito Internacional desde a Paz de Westfália no século
XVII
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que formam a comunidade internacional, de que alguns valores como a dignidade da pessoa
humana, a paz, a cooperação e a interdependência económica devem ser respeitados.
Segundo H. Moslet, o vínculo comunitário assenta na consideração da sociedade
internacional como comunidade jurídica, ou seja, na ideia de que todos os Estados estão
submetidos ao mesmo ordenamento jurídico e aos órgãos e são capazes de o aplicar,
sobretudo a ONU. Assim, se por um lado os Estados têm a tendência de afirmar a sua
soberania e independência, por outro eles aspiram a formação de uma verdadeira
comunidade. O Direito internacional nasce dos dois movimentos e tem como objetivo torná-
los compatíveis e harmónicos.
O Direito internacional clássico (traduzido em uma ordem jurídica de coordenação de
soberanias estaduais) vem cedendo lugar para o Direito internacional moderno, o qual
começa a ser constituído após a 2ª Guerra. Esse Direito internacional moderno não se baseia
mais na soberania absoluta do Estado, mas que se abre cada vez mais para novos domínios
onde prevalecem a coesão e solidariedade entre os Estados. Desse modo, nos últimos anos
pode-se observar um reforço dos laços comunitários entre os Estados e um afrouxamento das
características societárias.
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INTRODUÇÃO
Os períodos históricos que antecederam o surgimento do direito internacional trazem muitos
contributos para a sua formação, contudo, a sua história tem início efetivo com o seu
aparecimento enquanto ramo autónomo da ciência jurídica, o que ocorre com o nascimento
dos Estados Modernos na Europa após a Paz de Westfália (1648). Identificamos, até hoje, dois
grandes modelos de Direito Internacional: o Clássico (ou de Westfália) e o Moderno (ou da
Carta das Nações Unidas). O modelo clássico compreende o lapso temporal que medeia entre
1648 (ano da paz de Westfália, que pôs fim à Guerra religiosa dos Trinta Anos e abriu caminho
ao surgimento do Estado Moderno) e 1945, que marcou o fim da 2ª Grande Guerra. Pode-se
comparar a estrutura da sociedade internacional desse modelo à uma "vasta planície
interestadual”: ela era composta por Estados situados num plano (formalmente) paritário, no
qual inexistiam órgãos externos (próprios da sociedade internacional) limitadores do poder
dos Estados soberanos. Os órgãos de cada Estado eram também órgãos de ordem
internacional, atuando tanto no plano interno como no plano internacional ("desdobramento
funcional").
SUJEITOS
A sociedade internacional dos primeiros tempos era composta por Estados, num plano
paritário, inexistindo órgãos próprios dessa sociedade capazes de controlar o comportamento
dos seus sujeitos. Os órgãos estaduais são simultaneamente órgãos da ordem internacional,
atuando em 2 planos – o interno e o internacional. Em matéria de sujeitos do DI, a
personalidade jurídica praticamente circunscrevia-se aos Estados soberanos. Eventualmente,
os insurretos (agentes de insurreições) também o poderiam ser caso fossem objeto de
reconhecimento internacional. Ao contrário do sujeito singular do direito internacional
clássico, havia uma pluralidade de sujeitos de direito interno de cada Estado na mesma época.
Aos Estados, enquanto únicos sujeitos de DI, não eram impostos quaisquer constrangimentos
na sua atuação concreta. Na verdade, a sua liberdade era irrestrita, já que não existiam, na
sociedade internacional, órgãos superiores a esses Estados, que estivessem habilitados a
limitar tal liberdade. Cada Estado era visto como "comunidade perfeita" e a sua soberania era
um poder absoluto. Há, assim, uma grande dispersão de poder propiciada pela
descentralização da sociedade internacional. Neste contexto, ao DI apenas era exigido o
equilíbrio de força e poder prevalecente, repartir o poder entre os membros da sociedade
internacional, sem alterar, contudo, o status quo de cada Estado, emprestando alguma
coerência e estabilidade às relações internacionais. Assim, não é de admirar que o Direito
Internacional clássico seja encarado como um direito de “laisser faire” ("deixe fazer") que não
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impõe nenhuma barreira ao princípio da autonomia da vontade dos Estados. Por isso, a
eficácia das normas e princípios do Direito internacional era, neste período, uma eficácia
limitada.
PRODUÇÃO NORMATIVA
Faziam parte do corpus do Direito internacional normas concernentes aos corolários da
soberania estadual (territorial) e, bem assim, às liberdades do mar alto; normas consagrando
privilégios e imunidades diplomáticas e consulares; outras relativas à responsabilidade
internacional; ainda respeitantes à conclusão e condições de validade dos tratados; e, por
último, normas sobre conflitos ou litígios internacionais e acerca da adoção de represálias –
como seria de esperar numa época em que se entendia que o recurso à guerra era uma
faculdade discricionária dos Estados. Nos dias de hoje, o DI regula uma infinidade de matérias,
como veremos adiante.
Em oposição ao que ocorria no direito internacional, no direito nacional há uma abundância
de sistemas jurídicos internos em cada Estado (direito Constitucional, civil, penal, etc.), os
quais cerceiam o princípio da autonomia contratual dos cidadãos. Por conta disso, a eficácia
das normas e princípios de Direito Internacional era limitada nessa época; a elas cabia, como
já dito, apenas assegurar a repartição do poder entre os membros da comunidade
internacional.
Do corpus do Direito Internacional faziam parte normas ligadas à:
• Corolários da soberania estadual;
• Condução de guerras (conflitos ou litígios internacionais e adoção de
represálias);
• Responsabilidade internacional (no âmbito específico do tratamento dado a
estrangeiros);
• Conclusão de tratados/convenções internacionais;
• Liberdades do mar alto (zona internacional fora da jurisdição de um Estado);
• Privilégios e imunidades diplomáticos e consulares.
FONTES
No modelo de Westfália, as fontes (mecanismos/processos de criação de normas jurídicas)
seriam apenas o costume e os tratados/convenções bilaterais. O costume é o modo
espontâneo de surgimento de normas jurídicas que resulta da união de dois elementos: um
objetivo/material e outro subjetivo/psicológico. O objetivo é o consuetudo, isto é, a adoção
reiterada e uniforme no tempo e no espaço de certos comportamentos (os chamados
precedentes). O elemento subjetivo é a convicção adquirida, após certo tempo, da
obrigatoriedade jurídica do comportamento adotado (opinio iuris sive necessitatis). O
costume tende a assumir maior importância em sociedades pouco centralizadas, desprovida
de órgãos vocacionados para a criação autoritária do direito. Os tratados ou convenções
bilaterais são acordos de vontade entre dois ou mais sujeitos do DI, inspirados pelo princípio
da reciprocidade (ut des), dirigidos à produção de efeitos de direito (regular juridicamente a
sua conduta) dirigidos à produção de efeitos de direito e regulados predominantemente pelo
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Direito Internacional. Serão bilaterais se celebrados apenas entre duas partes. Como
consequência da pouca institucionalização da sociedade internacional clássica (sociedade
muito relacional e desprovida de órgãos vocacionados para a criação autoritária do direito),
o costume tende a assumir uma importância acrescida no exercício das funções legislativa,
judicial e executiva: cabia a cada Estado, em função do seu poder e da sua influência –
sociedade descentralizada.
O voluntarismo assume-se como imagem de marca do DI clássico. Isto significa que as
obrigações internacionais derivam, em último lugar, da vontade dos Estados, vontade essa
que reveste a forma de uma autolimitação. Já a cominação de sanções é efetuada em regime
de autotutela.
Na falta de órgãos jurisdicionais internacionais dotados de competência obrigatória por força
da lei, toda a vez que um Estado reputa de ilícita a conduta de outro e se julga, em virtude
dela, ofendido nos seus direitos, cabe-lhe, a si próprio, defini-los, bem como ao grau de
prejuízos suportados e decretar as sanções que se lhe afigurem adequadas. Ou seja, é um
processo de auto reintegração dos direitos, sem que tenha havido recurso a um processo
judicial ou arbitral internacional.
A inexistência de um poder executivo na sociedade internacional, de um verdadeiro órgão
público de coação, abre espaço para atuações individuais e descentralizadas dos Estados,
aumentando o risco de abuso e arbitrariedade em relação ao tipo de medidas adotadas e à
sua intensidade.
Desde a paz de Westfália até o século XIX, os Estados têm plena liberdade para fazer guerra:.
Apesar do uso da força ser encarado como uma manifestação da soberania dos Estados
RECURSO À FORÇA
A precariedade dos limites jurídicos no que concerne ao recurso à força nas relações
internacionais é outra das características dominantes do DI clássico. Desde a paz de Westfália
até ao século XIX, os Estados tinham plena liberdade de fazer a guerra (recorrer à força como
instrumento de política exterior constituía uma prerrogativa normal no conceito de
soberania), de acordo com os fins (dos quais eram únicos juízos) que com ela visassem
alcançar e desde muito cedo surgiu a preocupação ética de diferenciar as guerras
justas/legítimas das guerras injustas. Consequências da liberdade originária dos Estados:
• Os princípios jurídicos internacionais, sobretudo os que garantiam a soberania
territorial e a independência política, não oferecem aos sujeitos de Direito
Internacional uma proteção consistente, mas provisória e incerta. Tais
princípios só eram respeitados pelos Estados mais poderosos se esse respeito
não conflituasse com os seus próprios interesses.
• Sendo a força o principal parâmetro de avaliação dos factos e, por isso, o
critério legitimador nas relações internacionais pós-westfalianas,
compreende-se que só as situações efetivas (já consolidadas) pudessem
produzir efeitos jurídicos. Era o que sucedia em matéria de reconhecimento de
governos e de insurretos. Isto poderia, contudo, conduzir ao reconhecimento
de situações constituídas em infração a certas normas fundamentais da ordem
jurídica internacional. Havia, então, uma espécie de
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RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
Por um lado, a responsabilidade internacional clássica tem um caráter privado (entre os
Estados diretamente envolvidos), entre Estado autor do ato ilícito e Estado vítima, de modo
que outros sujeitos de Direito Internacional deveriam abster-se de qualquer intromissão.. A
prática de um ato ilícito, emergente da violação de uma obrigação internacional, fazia surgir
uma nova relação jurídica, de caráter bilateral (de responsabilidade), entre o Estado vítima e
o Estado autor desse procedimento ilícito. O Estado vítima tinha o direito de exigir a
reparação dos danos que lhe houvessem sido causados e o autor desse procedimento ilícito
tinha o dever de assegurar essa reparação. Por outro lado, é uma responsabilidade coletiva,
e não individual, na medida em que determina apenas a responsabilização das entidades
coletivas, que são os Estados, e jamais dos indivíduos que hajam contribuído para a
consumação dos factos ilícitos: a responsabilidade era apenas do Estado (sociedade abstrata
composta por pessoas) violador enquanto entidade coletiva. O indivíduo é visto como objeto
do poder estadual e não é responsabilizado individualmente pela consumação do ato ilícito
(não é destinatário direto das normas internacionais). As normas internacionais só atingem o
indivíduo indiretamente, ou seja, através da interposição dos órgãos estaduais. É ainda
característico da responsabilidade internacional clássica, o seu caráter meramente
reparatório. O objetivo da responsabilidade era assegurar que o Estado vítima pudesse exigir
ao Estado autor do ato ilícito a reparação dos danos que pudessem ter sido causados, isto é,
a finalidade que ela preside traduz-se, única e exclusivamente, na reparação dos danos
sobrevindos à prática de um facto internacional ilícito. Não há, neste ponto de
desenvolvimento do DI, uma dimensão sancionatória ou punitiva. Podemos dizer que o
objetivo era assegurar a reparação dos danos, sem um propósito sancionatório ou punitivo.
EM SUMA
• Objetivo do direito internacional clássico: assegurar a coexistência e justaposição
entre os Estados (modelo de mera coordenação de entidades soberanas).
• Entidades soberanas eram colocadas em um plano de paridade, sem que fossem
considerados desequilíbrios fácticos na sociedade internacional (plano paritário era
consequência da ideia que se tinha de igualdade formal das normas jurídicas vigentes)
• Direito Internacional clássico era axiologicamente neutro (neutralidade axiológica)
pois não visava alterar os dados da realidade a que se dirigia, sendo apenas um
ratificador (confirmador) acrítico do circunstancialismo existente em cada momento
na sociedade internacional.
• Normatividade no modelo clássico era horizontal, não havendo relações hierárquicas:
todas as normas tinham idêntico valor.
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INTRODUÇÃO
De 1945 (a partir do final da Segunda Guerra) em diante desenvolve-se um sistema jurídico
internacional diverso do precedente o direito internacional moderno assume determinadas
características que o aproximam direito interno, sendo um modelo de subordinação. Tal
similitude, todavia, tem limites, dado que o Direito Internacional nunca deixará de ter uma
intencionalidade específica e por isso é dotado de instrumentos normativos próprios; a
estrutura da comunidade internacional é muito distinta da estrutura das sociedades
estaduais. A sociedade internacional muda muito durante o século XX por força das sucessivas
descolonizações (em obediência ao princípio da autodeterminação) pós 2ª Guerra, o qual
provoca um aumento significativo do número de Estados. O Direito internacional deixa, assim,
de regular somente o círculo restrito dos Estados europeus (as autoproclamadas nações
civilizadas) nas suas relações recíprocas para passar a aplicar-se também aos novos membros
da comunidade internacional, universalizando-se. Emergem e proliferam as organizações
internacionais, que se apresentam como verdadeiros centros autónomos de imputação de
direitos e deveres. Assiste-se, assim, a uma mutação deveras significativa no plano dos
sujeitos de direito em comparação com o período anterior.
SUJEITOS
Surgem novos sujeitos de Direito Internacional para além dos Estados e dos insurretos após
1945, nomeadamente as Organizações Internacionais, os Povos não autónomos, os próprios
indivíduos, as Organizações não governamentais (ONGs) e sociedades transnacionais.
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Povos não autónomos com direito à autodeterminação ➔ organizam-se em grupos que lutam
em nome de um povo contra determinadas estruturas de opressão 1 (fenómeno dos
movimentos de libertação nacional) que, num primeiro momento, eram advindas do
colonialismo. Num momento posterior, tais grupos também lutam contra os regimes racistas
e situações de dominação estrangeira. A pouco e pouco, aos povos que se incluíssem nas três
categorias firmadas pelo Direito da ONU – povos submetidos a regimes coloniais, a regimes
racistas, ou sob ocupação estrangeira – desde que dispusessem de uma estrutura
representativa no plano internacional, foi-lhes sendo conferida uma legitimação jurídica e
política no plano internacional, a qual poderia radicar no direito à autodeterminação externa
(ou seja, direito de escolher como será legitimado o seu direito interno sem influência de
qualquer outro país). Então, os povos não autónomos têm ao dispor três modalidades
possíveis para o exercício do seu direito à autodeterminação: independência, associação ou
integração. Esses grupos organizados de indivíduos ligados por laços étnicos, históricos,
culturais, religiosos, ascenderam à qualidade de sujeitos de DI.
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das minorias são diretamente atribuídos; elas deixam de ser protegidas apenas pela via
diplomática e passam a ter sua personalidade jurídicas efetivamente reconhecida (a qual não
é, entretanto, autonomizada da personalidade internacional do indivíduo).
FONTES
Há também uma expansão das fontes de direito internacional no modelo moderno. Para além
das fontes clássicas (costumes e tratados internacionais bilaterais), haverá agora que
acrescentar o costume “selvagem”, os tratados multilaterais e as resoluções das organizações
internacionais.
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Atos jurídicos unilaterais ➔ (ou resoluções das organizações internacionais) podem emanar
tanto dos Estados quanto das Organizações Internacionais. No caso das Organizações
Internacionais, esses atos são designados resoluções, assumindo a forma de decisões,
recomendações e pareceres. As recomendações e os pareceres por serem desprovidos de
força jurídica obrigatória, são atos meramente exortatórios (adversativos) e constituem o
"terreno de incidência da soft law em Direito Internacional".
RECURSO À FORÇA
Se o recurso à força nas relações internacionais do modelo clássico era considerado legítimo
e os limites impostos aos Estados em relação a tal recurso eram muito ténues, no modelo
moderno o princípio da proibição do recurso à força nas relações internacionais ocupa lugar
proeminente. Artº 2, nº 4 da CNU. A restrição da liberdade dos Estados de fazerem guerra
conduz conduziu a que, na Carta das Nações Unidas, se procurasse torná-los comparticipantes
num sistema de segurança coletiva, em que o recurso à força constitui uma espécie de ultima
ratio (último recurso), que apenas cabe ao órgão internacional – o Conselho de Segurança –
centralizadamente decretar. Sendo assim, perde-se o princípio da efetividade. A força deixa,
paulatinamente, de ser um meio legítimo de diálogo nas relações internacionais e, assim, o
princípio da efetividade, estruturante do direito internacional clássico, perde importância. Tal
princípio é, inclusive, contrariado pelo dever de não reconhecimento de situações ilícitas,
surgido nos EUA. Mais tarde, a Assembleia Geral da ONU adota uma resolução que confirma
e universaliza o dever de não reconhecimento de tais situações contrárias ao Direito
Internacional, ainda que estas já se tenham efetivado e consolidado.
NOVOS DOMÍNIOS
Novas questões surgem com o Direito Internacional moderno: as relativas ao meio ambiente
(Direito Ambiental - tutela e preservação dos sistemas naturais) são uma delas. Os problemas
que surgem no meio ambiente não são de fácil resolução e são, ainda, superficialmente
conhecidos pela população no geral. O Direito Internacional, sob pena de abdicar da sua
dimensão regulativa, não pode deixar de intervir nas relações estabelecidas entre os sujeitos
de Direito Internacional e o meio ambiente. Atualmente, o Direito Internacional já consegue
intervir de maneira mais sistemática e consistente em tais relações. Apesar de recentemente
formado, o Direito ambiental é, hoje em dia, um dos mais importantes ramos do DI.
A responsabilidade internacional universaliza-se, convertendo-se em assunto público, em
algo que diz respeito a todos os Estados, cessando de se esgotar numa finalidade tão-somente
reparatória, para comportar também uma dimensão sancionatória. De acordo com a natureza
da obrigação internacional violada, insere-se a distinção entre crimes e delitos internacionais,
indiciando a existência de regimes distintos de responsabilidade internacional. Acrescenta-se
também o facto de, no modelo moderno de DI, a responsabilidade por factos ilícitos se ter
individualizado, no sentido em que o sujeito
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EM SUMA
• O Direito Internacional contemporâneo é “axiologicamente fundado e materialmente
interessado”, não mais repousando, como fazia no modelo clássico, na falsa ideia da
igualdade apenas formal entre os Estados.
• As normas internacionais, no modelo moderno, são orientadas por uma finalidade
(orientação teleológica) não mais sendo, como no modelo clássico, uma mera
ratificação do status quo da realidade internacional.
• Em vista das interdependências crescentes, a sociedade torna-se mais integrada e
institucionalizada, caminhando para um modelo de comunidade. Apesar de tal
integração, ocorrem, por vezes, situações graves no plano internacional.
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Enquanto as fontes são processos técnicos de produção jurídica de regras, as normas são o
próprio conteúdo das regras reveladas pelas fontes. Assim, o que há é a hierarquia entre as
normas criadas por tais fontes em virtude dos seus conteúdos ou dos seus objetos de
proteção (exemplo: prevalência das normas imperativas ou de ius cogens sobre as demais).
Os conflitos provenientes entre normas criadas por fontes formais de Direito Internacional
são resolvidos, tradicionalmente, a partir de três parâmetros/testes que se aplicam numa
ordem sucessiva e subsidiaria.
Primeiro, analisa-se a hierarquia entre as normas: uma lei superior derroga uma lei inferior
(hierarquia do conteúdo material das normas, e não formal das fontes). Se a análise da
hierarquia não solucionar o conflito, recorre-se ao critério da especialidade: uma lei especial
derroga uma lei geral. Caso este também não seja suficiente, aplica-se o critério da
atualidade: uma lei posterior derroga uma lei anterior.
A terceira conclusão é a de que nenhuma definição foi dada das fontes nele elencadas, isto é,
as fontes formais do Direito internacional estão identificadas, mas não definidas, porque os
autores do Estatuto do Tribunal Internacional da Justiça acharam que os conceitos que
existiam eram resultado do direito internacional costumeiro. Isso resulta da circunstância de
existir uma espécie de norma iminente, de validade geral, revelada consuetudinariamente,
que nos diz quais são e em que consistem as várias formas de produção jurídica admitidas na
comunidade internacional. Assim, o artº 38 mais não fez que, sob a forma escrita, dar
expressão àquela norma consuetudinária pré-existente.
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Classificação material
Tratado-lei é o tratado que estipula direitos e obrigações iguais (portanto as vontades
convergem), gerais e abstratas, vinculando todos os sujeitos integrantes do tratado da mesma
forma, como por exemplo o Tratado da União Europeia;
≠
Tratado-contrato estabelece direitos e obrigações diferentes para as partes visto que, na
ocasião desse tratado contrato, o interesse das partes é contraposto. Aquele em que as partes
prosseguem os mesmos interesses e, portanto, se assemelha a uma lei, ocasionam a criação
de situações opostas de caráter subjetivo.
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Em suma
Há três grandes planos pelos quais uma convenção internacional deve passar para que
comece a vincular sujeitos e produzir efeitos jurídicos: o da existência, o da validade e o da
eficácia (sendo neste último que a produção de efeitos tem início com a entrada em vigor da
convenção). Após estas três etapas, há outros dois passos que não são condições de validade
ou eficácia, mas são importantes efeitos para que a comunidade internacional saiba da
existência da convenção e para que a convenção possa ser invocada perante a ONU ou
analisada pelo Tribunal de Justiça Internacional: o registo e a publicação da convenção
internacional.
Assinatura diferida
Tradicionalmente, apenas os Estados participantes na negociação, e para quem o texto-
projeto fosse considerado satisfatório, era permitida a assinatura das convenções
internacionais. Hoje, a possibilidade de assinar um Tratado existe não só para os Estados que
participaram na negociação, entendendo, todavia, por bem, (com o intuito de melhor
refletirem acerca do conteúdo desse tratado) diferir a sua assinatura para um momento
subsequente à adoção do texto, mas também para os que nela não tenham participado. Nisto
consiste a assinatura diferida (assinatura a posteriori), trata-se daquela que podem fazer os
Estados durante um prazo estabelecido na própria convenção (ou até sem qualquer limite de
tempo), tendo ou não participado na fase de negociação. Este mecanismo aplica-se a Tratados
que ainda não tenham entrado em vigor.
Adesão
Caso o Tratado já tenha entrado em vigor, através da adesão (art. 15º da CV) permite-se a um
Estado não signatário de uma convenção internacional, tornar-se parte nela,
independentemente de ter ou não participado na negociação. À semelhança da ratificação, a
adesão serve para exprimir o consentimento de um Estado a ficar vinculado por um tratado,
submetendo-se assim aos termos da negociação, pelo que constitui um meio eficaz
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Reservas
Pode ocorrer que um Estado esteja globalmente de acordo com o objeto e o conteúdo
essencial de uma convenção internacional do qual está prestes a se tornar parte, discordando,
entretanto, de certa ou certas disposições desse tratado. Nesses casos, o Estado tem a
possibilidade de fazer parte do tratado declarando, todavia, que exclui as cláusulas que não
lhe convêm ou que pretende modificar tais cláusulas, atribuindo-lhes um
significado diverso, aceitável a si próprio. Tais atos unilaterais são denominados reservas: no
primeiro caso citado, ela é de exclusão; no segundo, de modificação. As reservas podem ser
formuladas nos momentos da: assinatura, ratificação, aceitação ou aprovação, visando
“excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado na sua aplicação a esse
Estado” (artigo 2º/1d da CVDT).
No Direito Internacional Clássico, a reserva só poderia ser feita caso todos os Estados
estivessem de acordo com ela (exigência de unanimidade). Tal condição foi alterada em 1951
pelo Tribunal Internacional de Justiça frente ao caso das reservas à Convenção sobre o
Genocídio. A partir daí, passou a bastar a aceitação de um dos Estados partes para que uma
reserva formulada por um determinado Estado seja aceite, isto é, para que o Estado
formulador da reserva possa editar a disposição que pretende (desde que ela não contenda
com o objeto e o fim da convenção). Nos dois casos, a reserva altera a disposição apenas do
Estado que a formulou e solicitou.
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Acordo colateral ➔ logo no art. 35º da CV, admite-se a possibilidade de um Tratado criar
obrigações para um Estado terceiro. Trata-se do mecanismo do acordo colateral. Vamos
supor que A e B, partes num tratado inicial, pretendem criar uma obrigação para C (Estado
terceiro – que não participou nas negociações). Tal intenção só logrará concretizar-se, caso C,
expressamente e por escrito, anua em ser sujeito passivo da mencionada obrigação. Daqui se
conclui que a obrigação não se impõe a C por força da convenção A-B, mas sim em resultado
de um acordo posterior em que serão intervenientes os três Estados considerados. É o acordo
colateral que constitui o fundamento jurídico da obrigação que passa a vincular o Estado
terceiro.
Cláusula da nação mais favorecida ➔ outro mecanismo muito corrente, sobretudo de caráter
económico “expediente técnico destinado à criação de direitos em benefício de um terceiro”,
é o da cláusula da nação mais favorecida. Imaginemos a existência de um contrato inicial entre
A e B referente a tarifas aduaneiras incidentes na importação de certos produtos. Nele, as
partes contratantes concordam em inserir uma cláusula segundo a qual se qualquer um deles
(A ou B) concluir, no futuro, uma convenção sobre a mesma matéria com um outro Estado (C,
por exemplo) mas com condições mais favoráveis ou sob um regime mais vantajoso, essas
disposições mais favoráveis deste segundo acordo (entre A e C ou entre B e C) serão aplicadas
no primeiro (entre A e B), beneficiando também então o estado (A ou B) que esteve fora do
segundo acordo. Assim, por meio do segundo tratado nascerão direitos em cuja titularidade
ficará investido um terceiro (que era parte contratante do primeiro acordo, o qual
estabeleceu a cláusula). O consentimento de A (ou B) em ser titular de direitos surgidos com
o segundo tratado é prestado por antecipação: quando o primeiro acordo foi concluído, os
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Estados partes aceitaram beneficiar-se de um hipotético regime mais favorável que poderia
surgir com uma convenção eventualmente celebrada, em momento posterior, com um
terceiro Estado.
Criação de situações objetivas ou estatutárias ➔ Tais situações são criadas por meio de
convenções que se destinam à instituição de certos estatutos políticos ou territoriais e
apresentam um caráter de verdadeiro direito objetivo, sendo os seus efeitos sentidos por
partes não-contratantes. É o caso das convenções internacionais que consagram
determinados estatutos territoriais, como as convenções que criam uma zona de
desmilitarização (como ocorre na Antártida); que criam uma zona neutra; ou as que
determinam zonas de navegação. Tais convenções criam um estatuto político para um
território e não podem deixar de produzir efeitos para terceiros pois estabelecem algo
objetivo que terceiros terão de respeitar, como a delimitação de uma fronteira, por exemplo.
Nesses acordos que criam situações objetivas a noção de governo internacional de facto é
manifestada: um conjunto de Estados atua em nome do interesse geral da comunidade,
procurando criar regras de alcance universal, disciplinadoras da conduta de seus membros,
através de procedimentos “quase legislativos”.
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direitos humanos, à escravidão e à tortura). Acontece então que as suas disposições não se
aplicam apenas às partes, mas também a terceiros. São exemplos desses tratados convenções
como a das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Convenção de Montego Bay), a qual, por
estar redigida como um tratado-lei, estipulando direitos e obrigações iguais, gerais e
abstratas, vinculando todos os sujeitos integrantes do tratado da mesma forma, não teria
sentido útil se não fosse acatada e observada pela generalidade dos sujeitos de direito
internacional.
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Regularidade do consentimento
A regularidade do consentimento das partes que se vincularem a um tratado deve existir
tanto do ponto de vista formal quanto de um ponto de vista substancial.
Irregularidades formais
Os vícios formais se referem à competência e ao procedimento para a conclusão das
convenções internacionais (regras formais), importando saber em que medida o
incumprimento dos preceitos constitucionais em matéria de conclusão de tratados põe em
causa a sua validade internacional (isto é, até que ponto as ratificações imperfeitas afetam a
validade dos compromissos internacionais dos Estados).
Segundo o artigo 46º da CVDT, “o facto do consentimento de um Estado a vincular-se por um
tratado ter sido prestado com violação de um preceito do seu direito interno, relativo à
competência, ao procedimento ou às formas para a conclusão de tratados (irregularidade
formal do consentimento), não constitui motivo bastante para que esse Estado alegue o vício
ocorrido e se desvincule da convenção”.
A nulidade (relativa) do tratado pode ser pleiteada apenas caso a violação seja manifesta
(facilmente identificável por qualquer pessoa) e diga respeito a uma norma de direito interno
considerada de importância fundamental (assim, há ratificação imperfeita). A norma de
importância fundamental varia de acordo com o Estado. Em Portugal, há três casos em que a
doutrina concorda que sejam de importância fundamental no processo de conclusão das
convenções internacionais em Portugal:
• A ratificação deve ser dada após a aprovação da AR
• O Governo regional deve obrigatoriamente participar da negociação das convenções
internacionais que dizem respeito a matérias de interesses específico
• O PR deve ratificar a norma
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são dirigidas ao Estado, podendo a coerção estar relacionada não apenas ao emprego de força
armada, mas também a medidas económicas e políticas. Para configurar um vício, a ameaça
tem de ser dirigida à base essencial do consentimento, isto é, a conclusão da convenção tem
que ser decorrente da ameaça – por exemplo: o agente só manifestou seu consentimento
porque tinha medo da ameaça se concretizar; o efeito da coação deve ser a substituição da
vontade do coagido (vítima) pela vontade do coator. Além disso, a ameaça deve ser efetiva,
séria e praticável. Caso a coação seja provada, o regime adotado será o de nulidade absoluta
do tratado.
Licitude do objeto
O objeto da convenção (ou seja, a sua finalidade; matéria sobre a qual ela versa) não pode
atentar contra a ordem pública internacional, isto é, não pode contrariar o conjunto de
princípios fundamentais que estão na base do sistema jurídico internacional.
As normas de ius cogens são aquelas consideradas essenciais à convivência entre povos e,
portanto, são imperativas. Segundo o artigo 53º da CVDT, o tratado será nulo se seu objeto
for incompatível com uma norma imperativa de direito internacional geral, isto é, que seja
aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como norma inderrogável.
Pode ocorrer casos em que na época em que o tratado foi celebrado o seu objeto ter sido
compatível com as normas de direito internacional, mas, posteriormente, consagrar-se uma
norma de direito internacional geral incompatível com a norma particular versada no tratado
em questão, provocando assim a nulidade do tratado e fim de sua vigência (artigo 64º da
CVDT). A violação de normas ius cogens (impositiva) e erga omnes (reconhecida por todos)
leva à nulidade absoluta da convenção. Sendo absoluta, qualquer sujeito pode invocar, a
convenção é indivisível e o vício não pode ser sanado.
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O direito de invocação da nulidade, importa saber que quer se trate de uma nulidade relativa
ou quer, antes, de uma nulidade absoluta, o direito de invocar o vício circunscreve-se às
partes contratantes. Nas nulidades relativas, apenas a parte vítima pode invocar o vício, isto
é, apenas o Estado cujo consentimento a ficar vinculado foi assente na violação de um
preceito do seu direito interno relativo à conclusão dos tratados (irregularidades formais), ou
o Estado errante (no erro), ou o Estado enganado (no dolo) ou o Estado cujo representante
tenha sido corrompido (corrupção). Nas nulidades absolutas, qualquer uma das partes da
convenção – e apenas essas – podem invocar o vício.
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Dolo – art.o 49o; art.o 50o - corrupção do representante de um estado. Nulidade relativa.
Atuação de má fé.
3. Portugal celebrou com os EUA uma CI destinada à aquisição de aviões F-16 para a sua
força aérea. Algum tempo depois, verificou-se que esses aparelhos se encontravam
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a) Se a equipa de peritos for americana, poderemos estar perante uma situação de dolo,
caso se consiga comprovar que foi praticado com conhecimento.
b) Se a equipa de peritos for portuguesa, estaremos perante uma situação de erro.
Em qualquer dos casos, estaríamos perante uma situação de nulidade relativa. Neste caso
não há possibilidade de divisibilidade da convenção (art.o 44o/3).
Alegadamente houve uma tentativa de corrupção, mas há que provar o nexo de causalidade.
Uma mera tentativa de corrupção não é corrupção.
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III. O COSTUME
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votar “sim” para que uma decisão seja aprovada pois a abstenção não é mais associada ao
veto, uma prática que surgiu por via costumeira; operações de manutenção da paz surgem
por via consuetudinária).
Atos de outros sujeitos de direito ➔ sociedades transnacionais são sujeitos de direito
internacional privado que podem influenciar sujeitos de direito internacional público.
Também sujeitos de direito privado podem estar na origem de costumes internacionais.
Regional ➔ vincula apenas os Estados de uma determinada região do globo. Tende a exigir-
se uma prática unânime, de modo que todos contribuam para o surgimento da norma.
Em suma
O elemento material do costume é a repetição uniforme de certos atos (precedentes) ao
longo do tempo. Tais atos ou comportamentos podem ser positivos ou negativos (ações ou
omissões). Podem ser muito variados e de diferentes naturezas, os comportamentos que
concorrem para a formação de um costume.
Para se tornar norma costumeira, estes comportamentos (precedentes) têm de se dispersar
no tempo e no espaço. No tempo através de uma prática constante (repetição de
comportamentos num certo período) e uniforme (concordância ou similitude dos atos
sucessivos dos sujeitos de DI). Claro que terão de ser vários os Estados (ou outros sujeitos de
DI), e não apenas um, a adotar uniformemente, ao longo do tempo, determinado
comportamento. No caso dos costumes com um alcance geográfico mais limitado – os
costumes regionais e os locais (bilaterais) – não se exige uma dispersão universal, mas sim
uma dispersão e aceitação unânime dos Estados que irão obedecer à norma costumeira. É
exigida a unanimidade do círculo de Estados interessados no caso dos costumes gerais, a
jurisprudência internacional não exige uma unanimidade. Exige apenas a sedimentação dessa
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A PROVA DO COSTUME
É necessário, para provar a existência do costume, recorrer à prática dos Estados e analisar
como estes se comportam e a razão de ser desta conduta, tentando averiguar se se sentem
obrigados a agir de certo modo.
Quando invocada uma norma costumeira regional ou local, o ónus da prova do costume recai
sobre o Estado demandante (isto é, que o alega). No caso das normas costumeiras gerais,
todavia, o ónus inverte-se, cabendo ao Estado demandado demonstrar (se o interessar) que
se opôs, de modo constante e inequívoco, à formação do costume.
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No que tange à prática, a prova da sua existência é, por vezes, bastante complicada e isto, em
virtude da escassa publicidade dada aos comportamentos diplomáticos, sobretudo quando
se trata de uma omissão. Não obstante, a multiplicação dos reportórios das práticas nacionais
e os estudos comparativos e compilações que têm sido elaborados pelas organizações
internacionais, ao longo dos últimos aos, vão contribuindo para minimizar as dificuldades que
encerra a prova do elemento material dos costumes.
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NOTA: o costume pode derrogar convenções internacionais pois não há hierarquia formal
entre as fontes do direito internacional público - norma costumeira de DIP geral pode revogar
convenção internacional de DIP particular, pois o DIP geral é hierarquicamente superior ao
DIP particular.
Controvérsia doutrinal
I. Os princípios gerais de direito seriam princípios de direito internacional público.
II. Os princípios gerais de direito seriam princípios de direito interno.
III. Os princípios gerais de direito poderiam pertencer tanto ao direito internacional
público quanto ao direito interno.
A primeira e a terceira doutrina enfermam do mesmo vício. Repousam numa confusão entre
os princípios gerais de direito e os princípios fundamentais do Direito Internacional. Os
princípios fundamentais do direito internacional não são uma fonte formal de direito
internacional, não constituem um processo técnico de formação de normas, mas são regras
gerais deduzidas dos costumes e convenções em vigor. Os princípios gerais do direito, ao
contrário, são uma terceira fonte de direito internacional dotada de autonomia em relação
as restantes fontes. Além disso, não faz sentido que o direito internacional público seja uma
fonte autónoma dele mesmo. Mas por que alguns pensam que esses princípios são de Direito
Internacional? ➔ Porque, se o Tribunal Internacional de Justiça usar esses princípios gerais
de direito reiteradamente, eles podem ser absorvidos pelo direito internacional,
convertendo-se em um principio de direito internacional: mas, caso isso ocorra, entramos no
terreno de norma costumeira e saímos dos princípios gerais de direito (os princípios gerais de
direito só têm autonomia se permanecerem como princípios do direito interno: se são
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NOTA: não há relações de hierarquia entre fontes de direito internacional; as fontes são
meros procedimentos técnicos de criação de normas. O que há, por vezes, é a hierarquia entre
as normas reveladas pelas fontes.
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Algumas condições necessárias devem ser observadas – em simultâneo – nos princípios (que
vem dos sistemas jurídicos nacionais ou internos) para que eles possam ser aplicados na
ordem jurídica internacional ➔ generalidade e suscetibilidade de transposição.
Requisito da generalidade
É preciso que os princípios sejam suficientemente gerais, isto é, que sejam comuns à maior
parte dos sistemas jurídicos nacionais ou internos (não pode ser típico do common law ou do
civil law, etc.).
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NOTA: Alguns dos atos acima podem resultar de um tratado ou ser adotados no âmbito de
uma convenção internacional. Entretanto, nesses casos tais atos perderiam o caráter
autónomo, não se enquadrando nas fontes de direito internacional
Decisões ➔ São atos jurídicos unilaterais dotados de força obrigatória (são vinculativos) que
impõem um comportamento aos destinatários. Como exemplos de decisões, temos as
resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Recomendações ➔ São atos através dos quais a organização se limita a propor ou incitar (e
não impor) determinado comportamento. São atos que não têm força jurídica obrigatória,
constituindo o terreno da soft law. Elas têm um valor permissivo no sentido de permitir a
adoção de um certo comportamento (o qual carrega a certeza de não ser um ato ilícito). As
recomendações podem ser dirigidas a Estados (membros ou não da organização), a outras
organizações internacionais, a empresas ou até mesmo a particulares, dispondo de
significativo valor moral e impacto político. Uma recomendação pode contribuir, por vezes,
para a formação de um costume.
NOTA: Apesar de não haver um “poder legislativo internacional”, há quem enxergue nas
resoluções um certo poder deste tipo, especialmente no que toca às decisões da Assembleia
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Geral da ONU. O problema é que a Assembleia só pode adotar recomendações, mas não
decisões, o que limita o alcance das resoluções.
Jurisprudência
É o conjunto das decisões judiciais (ou arbitrais), sejam elas nacionais ou internacionais, que
se baseiam na autoridade própria das decisões judiciais (a qual resulta da imparcialidade e
objetividade oferecidas, em geral, pelos procedimentos jurisdicionais). A jurisprudência
internacional tem o importante papel de certificar a existência de normas costumeiras e para
precisar o conteúdo tantas destas quanto de normas convencionais.
O prestígio das decisões judicias pode, todavia, ficar algo abalado sempre que se permite aos
juízes ou árbitros a publicitação das suas discordâncias, com o risco óbvio de ser transmitida
para o exterior uma ideia, nada reconfortante, de divisão ou de fratura num coletivo de juízes.
Significa isto que, do ponto de vista da autoridade e posterior acatamento das decisões de
um tribunal internacional, seria preferível criar no público em geral a sensação de que as
mesmas são proferidas por unanimidade ou, pelo menos, a de que não resultam do fator
aleatório das simples maiorias conjunturais. O que é certo é que no que toca ao TIJ se faculta
aos seus juízes a possibilidade de emissão de críticas às decisões adotadas pelo Tribunal
através da:
Opinião individual ➔ opinião de um juiz que, concordando com o sentido da decisão (sendo
ele a decidir, teria decidido da mesma forma), discorda da respetiva fundamentação feita,
isto é, dos motivos ou razões em que o Tribunal de baseou para chegar a tal veredito;
Opinião dissidente ➔ “voto de vencido” é o juiz minoritário que discorda com o sentido da
decisão do Tribunal. Sendo ele a decidir, teria decidido noutro sentido.
Vem-se assistindo, ao longo dos últimos anos, a uma multiplicação das decisões judiciais
internacionais, com a consequência evidente de serem cada vez em maior número os
precedentes que, mais tarde, é possível invocar. Deste modo, a uma jurisprudência
internacional dispersa e predominantemente arbitral foi, aos poucos, sucedendo um corpo
homogéneo e sistematizado de decisões, que se revelam, posteriormente, de inestimável
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préstimo para aqueles que têm por missão aplicar o Direito Internacional – em especial, as
normas costumeiras, cuja existência ou conteúdo são, muitas vezes, particularmente
controversos.
Doutrina
Ao falarmos em doutrina, no contexto específico dos meios de determinação das normas de
Direito Internacional, temos em vista o conjunto das tomadas de posição individuais (ou
coletivas) de autores (jus internacionalistas) sobre problemas jurídicos internacionais – ou,
eventualmente, de certos órgãos também vocacionados para o efeito -, sem que tais opiniões
jurídicas ou juízos vinculem os sujeitos de direito (Estados ou organizações).
Menos relevante que no passado, o papel da doutrina continua a ser importante no que
respeita a dois vetores fundamentais: na determinação das normas de direito positivo (por
exemplo, as normas consuetudinárias cujos precedentes carecem, muitas vezes, de ser
explicitados) e no contributo para a evolução futura do Direito Internacional.
Equidade
No parágrafo 2º do art. 38º ETIJ, prevê-se ainda a possibilidade excecional de o TIJ, mediante
autorização das partes envolvidas nos litígios, decidir ex aequo et bono, isto é, segundo
critérios de equidade, se as partes em litígio o autorizem a fazê-lo.
A equidade analisa-se num conjunto de critérios de razoabilidade e bom senso, idóneos a
solucionar idealmente, à luz do sentimento dominante de justiça, os casos concretos. Deste
modo, a equidade desempenha uma função complementar, ou de “justiça corretiva”, em
relação às fontes de Direito Internacional. Em abstrato, a equidade pode visar três objetivos
distintos:
Equidade secundum legem - atenua a aplicação do direito sempre que a aplicação estrita das
normas jurídicas conduziria a injustiças ou iniquidades. A essa equidade o juiz internacional
e, genericamente o intérprete de qualquer norma jurídica, estará autorizado a recorrer,
independentemente de qualquer autorização expressa nesse sentido (deve fazê-lo, inclusive,
para levar a cabo a sua missão).
Equidade praeter legem - completa o sentido do direito, funcionando como regime
subsidiário no caso da deteção de lacunas no direito positivo.
Equidade contra legem - afasta o direito, desde que as partes expressamente o prevejam;
contraria o direito e resolve o caso à luz de critérios de equidade.
No que tange à equidade praeter e contra legem, é indispensável o juiz ter uma habilitação
clara e inequívoca, conferida pelas partes litigantes ao Tribunal, para fazer uso destas
equidades. Ora, não deve admitir-se o recurso à contra legem, quer por razões de segurança
jurídica (ainda por cima num ordenamento jurídico como o internacional), quer porque
aceitar esse tipo de equidade conduziria a um complexo desvirtuamento da função
jurisdicional (o juiz não poderia em tese afastar o direito positivo).
Em concreto, afigura-se apenas como viável o recurso à equidade secundum legem e,
mediante autorização expressa das partes, à equidade praeter legem.
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Não se contesta que são diferentes os procedimentos de criação e de aplicação das normas
internacionais por comparação com aqueles outros que para as normas internas visam
idênticos propósitos. Referimo-nos à controvérsia doutrinal entre dualismo e monismo,
sempre convocada pelos autores, toda a vez que se coloca o problema das relações entre o
Direito Internacional e o Direito Interno.
Soluções teóricas
As soluções teóricas, no que toca ao relacionamento entre os dois ordenamentos jurídicos –
o internacional e o interno – são, por consequência, aquelas que nos são apresentadas pelas
teses dualistas ou pluralistas e pelas teses monistas; sendo que estas, por sua vez, se cindem
em duas distintas: o monismo de direito interno e o monismo de Direito Internacional.
Face à existência de duas ordens jurídicas, há autores que as consideram absolutamente
independentes uma da outra, a ponto de serem necessárias normas específicas destinadas a
regular as suas relações recíprocas, ao passo que outros se apoiam antes na tese da essencial
unidade do mundo jurídico.
TESE DUALISTA
Para os seus partidários, existiria uma separação radical entre o ordenamento jurídico
internacional e as ordens jurídicas internas. Esta linha clara de separação entre as duas ordens
jurídicas, produziria inarredáveis consequências: por um lado, as normas internacionais só se
tornariam válidas na esfera estadual depois de transformadas em direito interno; por outro,
em virtude de serem estranhos um ao outro, não seriam configuráveis quaisquer conflitos
entre os dois sistemas. Cada um deles regularia relações distintas.
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TESES MONISTAS
As teorias monistas repousam na premissa de que todo o Direito – interno ou internacional –
constitui uma unidade, um mesmo sistema. Assim, uma norma de direito internacional pode
ser (e é) automaticamente aplicada ao plano interno (técnica da recepção automática da
norma de direito internacional no plano interno). Não há, todavia, unanimidade de vistas
entre os partidários das correntes monistas. Concretamente, acham-se aqueles divididos em
dois grupos, consoante o primado é atribuído ao direito interno (monismo de direito interno)
ou ao Direito Internacional (monismo de Direito Internacional).
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técnica de incorporação de uma conceção monista (monismo com primado do DI) no que
concerne às relações entre o Direito Internacional e o direito interno.
Entretanto, mesmo nesses sistemas a Constituição pode impor uma leve restrição,
normalmente relacionada à condição de a norma ser publicada no jornal oficial do Estado, à
plena vigência interna das normas internacionais, atenta à fonte da qual elas emanam. No
caso português, é exigida a publicação no Diário da República - recepção plena, mas não
incondicionada.
Direito francês ➔ recepção automática para normas do direito internacional geral ou comum,
mas os tratados devem, para produzirem efeitos na ordem interna, ser publicados. Além
disso, as convenções internacionais, cumprido o requisito da publicação, são
hierarquicamente superiores face à legislação ordinária desde que aplicadas pela(s) outra(s)
parte(s).
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A CRP não se debruça muito sobre a questão e, assim, é preciso recorrer à doutrina e à
hermenêutica jurídica para resolver o problema.
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Efeito direto ➔ possibilidade de uma norma de direito comunitário ser invocada pelos
particulares junto dos órgãos jurisdicionais nacionais, quer contra o Estado (efeito direto
vertical), quer contra outros particulares (efeito direto horizontal), ainda que não
disponha de aplicabilidade direta. As decisões da UE, embora não sejam uma verdadeira
norma, possuem efeito direto.
Em suma
A CRP assenta em pressupostos monistas de direito internacional no que diz respeito às
relações entre as ordens jurídicas internacional e interna.
Para as várias categorias de direito internacional, a CRP consagra sempre uma técnica de
recepção automática da ordem jurídica internacional na ordem interna: quer para o direito
internacional geral, quer para o particular, que para o comunitário. Isto demonstra uma
posição de abertura da Constituição portuguesa face o direito internacional, às normas
emanadas pela comunidade internacional, e aos valores fundamentais da comunidade
internacional.
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Caso uma norma de direito interno contrarie o disposto numa convenção internacional, a
consequência será a ineficácia da disposição interna. Assim, toda vez que uma lei interna
contrariar o disposto numa convenção internacional, os tribunais portugueses deverão
recusar-se a aplicar tal lei enquanto durar a vigência internacional dessa convenção.
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DIREITO EUROPEU
Derivado ➔ direito que emana das instituições da União Europeia (Conselho, Comissão,
Parlamento Europeu): regulamentos, diretivas, decisões; tem de estar em conformidade
com o originário.
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I. NOÇÃO
Os sujeitos de direito internacional são os destinatários diretos de normas internacionais e,
por isso, titulares de uma relação jurídica subjetiva que nasce de tais normas. Tais sujeitos
são dotados de legitimidade para reagir perante o incumprimento das normas internacionais
e, para os autores do inadimplemento, de serem responsabilizados internacionalmente.
Há, atualmente, vários sujeitos de direito internacional. O Estado, entretanto, é o mais
fundamental, sendo o único sujeito de direito que se beneficia da característica da soberania,
exercendo de forma estável, duradoura e plena uma autoridade exclusiva sobre determinado
território.
O Estado é uma ficção jurídica: em termos materiais, como bem físico, não é possível defini-
lo. Mas, apesar disso, a sua existência jurídica repousa em dados objetivos. Ele reúne em si
três elementos constitutivos: a população, o território e o governo. É, entretanto, uma
característica que o diferencia de outros sujeito de direito internacional: a soberania – o
Estado é o único sujeito de direito que possui tal atributo.
Os Estados não estão organicamente subordinados a nenhum outro membro da comunidade
internacional e, por isso, tem uma proteção jurídica ímpar.
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Tal determinação essenciais e fundantes do Estado é feita por ele mesmo, e não pelo direito
internacional ou por outros Estados. Há dois parâmetros para a atribuição de nacionalidade,
que podem ser aplicados sozinhos ou combinados: o ius soli e o ius sanguini. Pelo ius soli, a
nacionalidade é atribuída a quem nasça ou resida, durante um determinado período, num
território. Pelo ius sanguini, a nacionalidade é atribuída àqueles que sejam filhos de um
nacional do Estado.
Os parâmetros podem ser aplicados de modo concorrente (simultaneamente) ou de modo
subsidiário (um parâmetro principal e outro parâmetro que preveja exceções). Portugal, por
exemplo, combina os dois de modo subsidiário. O parâmetro principal aplicado por Portugal
é o ius sanguini, mas o ius soli é aplicado de modo subsidiário: se o filho de dois estrangeiros
nascer em Portugal e não tiver direito a nenhuma outra nacionalidade, esse filho poderá ser
português. Artigo 26º CRP: direito à cidadania c/c Lei nº 37/1981, de 3/10
Apesar de direito internacional não pode estabelecer parâmetros para a concessão de
nacionalidade pelos Estados, ele consagra o direito à nacionalidade como um direito humano.
Os Estados, para cumprirem tal direito, editam leis internas para conceder nacionalidade com
base no ius soli/ius sanguini caso esse seja o único meio para que a pessoa não seja apátrida.
Há, então, dois tipos de nacionalidade:
• Originária - surge com o nascimento, ou seja, o direito à nacionalidade surge quando
a pessoa nasce;
• Derivada - direito à nacionalidade só surge ao longo da vida da pessoa;
Portugal, diferentemente do Brasil, permite que uma pessoa adquira uma nacionalidade
derivada sem que para isto tenha de perder a outra.
O parâmetro do ius sanguini só pode ser aplicado, em regra, para a nacionalidade originária,
mas há casos exceções, isto é, casos nos quais o ius sanguini é aplicado para a nacionalidade
derivada, como no caso de crianças adotadas (sendo filhas, elas têm direito à nacionalidade
dos pais, direito este que surge a partir da data de adoção ➔ nacionalidade retroage para a
data de adoção).
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Fora do seu território, o Estado pode vir a exercer jurisdição, isto é, aplicar suas normas
jurídicas, mas não exercer a totalidade dos poderes (militares, políticos, económicos, etc.)
que decorrem da sua soberania. A embaixada é um espaço avançado de jurisdição em que a
lei daquele Estado é aplicada, e não uma extensão do território do Estado. O território de um
Estado é formado pelo domínio terrestre, domínio fluvial, domínio marítimo, domínio
lacustre e domínio aéreo.
O domínio terrestre abrange o solo e o subsolo que se situam no interior das fronteiras do
Estado e sobre o qual este exercer os seus poderes de soberania de forma plena e exclusiva.
O domínio fluvial é composto pelos cursos de água (rios) que atravessam um Estado ou o
separam de outros. Os rios podem ser nacionais, caso nasçam e desaguem no território
nacional, ou internacionais, caso atravessem (rios sucessivos) ou separem (rios contíguos)
vários Estados. O Estado exerce soberania exclusiva sobre os primeiros e parcial sobre os
segundos.
Poderes soberanos
Águas interiores ➔ Situando-se entre a linha de base e o domínio terrestre, fazem parte das
águas interiores as águas dos portos, baías, golfos, estuários, mares internos, estreitos e
canais. São chamadas também de “território marítimo” ou “mar nacional”: sobre elas, a
soberania estadual incide de modo completo, de modo que não há sequer, nas águas
interiores, o direito de passagem inofensiva. As únicas restrições à regra de competência
exclusiva do Estado costeiro para exercer jurisdição sobre todos os atos praticados nessa zona
referem-se à prática de atos ilícitos de natureza disciplinar ou criminal praticados a bordo de
navios de guerra (quem gozam de imunidade de jurisdição) ou de navios privados.
Mar territorial ➔ estende-se desde a linha de base até 12 milhas marítimas adiante.
Compreende as águas, o leito e o subsolo do mar territorial, espaços sobre os quais o Estado
exerce poderes de soberania em matéria de exploração, extração de recursos marinhos (de
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Poderes jurisdicionais
Zona contígua (artigo 33º CMB) ➔ zona adjacente ao mar territorial, que tem extensão de
até 24 milhas marítimas contadas desde a linha de base. A zona contígua não é território do
Estado: sobre aquela, este não exerce a sua soberania, mas sim a sua jurisdição, isto é, aplica
o seu direito interno a algumas atividades que nela ocorrem. Os poderes exercidos pelo
Estado sobre esta zona estão indicados no artigo 33º da CMB; são poderes de mera
fiscalização para:
• Evitar infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários
no seu território ou no seu mar territorial;
• Reprimir as infrações às leis e regulamentos no seu território ou mar territorial.
Zona económica exclusiva (artigos 55º a 68º CMB) ➔ tem extensão de 200 milhas marítimas
contadas a partir da linha normal de maré baixa. A ZEE é uma novidade trazida pelo novo
direito do mar: com os movimentos de descolonização pós-guerra (1945), surgem Estados
independentes em situação desfavorável no que diz respeito ao aproveitamento dos recursos
do mar. Tais Estados reivindicam tratamento mais favorável em relação aos recursos do mar
e a ZEE pretende atender essas reivindicações presidindo um princípio de igualdade
material/desigualdade compensatória: ela pressupõe um tratamento diferente os Estados
menos credenciados.
Sobre ela, os Estados possuem amplos poderes de jurisdição em matéria de pesca,
aproveitamento energético, etc. Para que um Estado consiga direito de exploração exclusiva
da ZEE, ele deve provar que é capaz de, sozinho, explorar todos os recursos da zona.
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reivindicar sua extensão até as 350 milhas marítimas (depois das 350 começam os fundos
marinhos internacionais que estão para além do controle da jurisdição estadual). Aqui, o
Estado pode fazer o mesmo que faz na ZEE.
Espaços internacionais
Zona ou área (artigos 133º a 155º CMB) ➔ leitos do mar, os fundos marinhos e o seu subsolo
além dos limites da jurisdição nacional. A zona e os seus recursos constituem “património
comum da humanidade”. Ela é regida pelos princípios de não apropriação, utilização para fins
pacíficos e exploração no interesse da humanidade.
Alto mar (artigos 86º a 132º CMB) ➔ vigora, aqui, um princípio de liberdade de navegação,
pesca, colocação de oleodutos, de sobrevoo, etc.
O domínio lacustre refere-se aos lagos, isto é, superfícies de água doce circundadas por terra.
Se forem totalmente fechados, aplicam-se sobre eles as normas que vigoram para os mares
(regime de mar interno); caso eles se comuniquem com o mar por um curso de água que
atravesse vários Estados, aplica-se a regulamentação internacional do domínio fluvial.
Por fim, o domínio aéreo é o espaço suprajacente ao território terrestre, às águas interiores
e ao mar territorial. Sobre este domínio, o Estado exerce soberania completa, a qual só
termina quando começa o espaço extra-atmosférico (que é um espaço internacional).
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Corolários positivos
• Ausência de subordinação orgânica e jurídica do Estado face a outros sujeitos de
direito internacional;
• Direito de os Estados exercerem jurisdição sobre os respectivos território e população;
• Autonomia constitucional e política do Estado;
Corolários negativos
• Exigência do respeito pelo direito internacional ➔ garantia para as demais
consequências jurídicas resultantes da soberania;
• Dever de não ingerência (ou de não intervenção) nos assuntos internos de outros
Estados ➔ consequência do princípio da não subordinação orgânica e jurídica do
Estado;
• Princípio da proibição do recurso à força nas relações internacionais ➔ consequência
do princípio da não subordinação orgânica e jurídica do Estado;
• Obrigação de solução pacífica dos conflitos internacionais (artigo 33º CNU);
• Dever internacional de cooperação ➔ pressuposto necessário para a observância dos
restantes corolários negativos da soberania, funda juridicamente a luta contra o
subdesenvolvimento;
COMPETÊNCIAS DO ESTADO
O Estado é titular de um vasto conjunto de direitos e prerrogativas. Uns são exercidos no
plano interno, outros no plano internacional. Em ambos os casos de forma plena e com
exclusividade. Entre as competências internas do Estado, estão a territorial e a pessoal. A
competência territorial significa que o direito internacional reconhece aos Estados o direito
do exercício de atos autoritários que sejam necessários para o desenvolvimento de atividades
no seu território. E, por assim ser, pode o Estado soberano, relativamente a essas mesmas
atividades, recusar o exercício de qualquer ato de jurisdição por parte de outros Estados. A
competência pessoal significa que o direito internacional dá ao Estado a competência de
atribuição da sua nacionalidade a pessoas, navios, aviões, satélites e demais engenhos
espaciais. Ponto assente é que a jurisdição dos Estados não se exerce apenas em relação aos
seus nacionais; estende-se também aos estrangeiros, já que a lei do Estado se aplica a todos
os atos praticados no respetivo território. Ora, é comum às ordens jurídicas internas a
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Nexo de imputação ➔ pressupõe que o comportamento ilícito em causa tenha sido adotado
por pessoas ou órgãos que representam o Estado, os quais estão, desse modo, sob a
autoridade efetiva deste.
Dano ➔ A violação de uma norma jurídica pressupõe a violação do bem jurídico por ela
protegido também, violação esta traduzida num dano ao bem jurídico. Assim, um terceiro
pressuposto (ainda que não nuclear) para a o Estado ser implicado em responsabilidade
internacional é a ocorrência de danos (morais ou materiais, diretos ou remotos) na esfera
jurídica de terceiros. O dano não é essencial à responsabilidade internacional pois, embora
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seja essencial à responsabilidade civil interna, no DI, pela ausência de outras sanções, aplica-
se a responsabilidade internacional independentemente da ocorrência de danos.
Entre a conduta ilícita e o dano, deve haver nexo de causalidade. Entre a conduta ilícita e o
Estado (agente), deve haver um nexo de imputação.
3.2 CONSEQUÊNCIAS
Uma vez verificada a responsabilidade internacional subjetiva, o Estado vítima tem o direito
subjetivo de exigir a reparação dos danos a ele causados e o Estado autor do facto ilícito tem
o dever de proceder à respectiva reparação.
Se não houver danos, o Estado vai ser responsável no plano internacional e vão se produzir
dois grandes efeitos: a declaração de ilicitude e a obrigação de não repetição da conduta. Se
houver danos, aos dois efeitos anteriores soma-se um terceiro: o dever de reparar o dano
(reparação).
Graus de ilicitude
Algumas normas tem um valor superior às demais por tutelarem valores de importância
fundamental para a comunidade internacional. Por conta disso, existem regimes diversos de
responsabilidade internacional, os quais variam conforme varia o índice de gravidade do
ilícito.
Os atos ilícitos praticados internacionalmente dividem-se em duas categorias: crimes
internacionais e delitos internacionais. Os crimes internacionais resultam de uma violação
mais grave de obrigações internacionais particularmente importantes (obrigações erga
omnes, isto é, obrigações de cada Estado para com a comunidade internacional em conjunto).
São considerados crimes internacionais: a agressão armada, a repressão pela força do direito
dos povos à autodeterminação, a violação em larga escala de direitos fundamentais da pessoa
humana (ex.: escravatura, genocídio) e a contaminação maciça da atmosfera e dos mares.
Pelo facto de os crimes colocarem em causa o interesse geral e a ordem pública, todos os
Estados estão habilitados a reagir à prática do ilícito, exigindo a reparação dos danos causados
ou lançando mão de contramedidas. Os Estados que praticarem crimes internacionais podem
estar sujeitos, ainda, a sanções estabelecidas por uma organização internacional. As sanções
são uma reação institucional/centralizada ao ilícito, são medidas decretadas por uma
organização internacional contra um Estado membro após uma qualificação objetiva (e
teoricamente imparcial) da infração ao direito internacional.
Já as contramedidas são reações descentralizadas ao ilícito, em que o Estado ofendido decide
acerca do tipo, da intensidade e das formas de execução das medidas que serão dirigidas ao
Estado infrator. As contramedidas podem ser retorsões ou represálias: as primeiras
traduzem-se em atos inamistosos, mas lícitos (como o corte de relações diplomáticas), as
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➔ Reparação por equivalente: mais frequente modalidade de reparação dos danos. Consiste
no pagamento de uma quantia em dinheiro ao Estado vítima para o compensar pelos danos
que sofreu. Essa quantia em dinheiro deve permitir compensar o Estado vítima não só pelos
danos emergentes, mas também pelos lucros cessantes (que deixa de ganhar em virtude o
ato ilícito). O cálculo do montante é feito à luz das normas de direito internacional e o grau
do prejuízo sofrido deve ser estabelecido com referência ao momento presente. Ao cálculo
da indemnização não se inclui a ideia de indemnização punitiva: trata-se da reparação de um
prejuízo, e não de uma sanção/pena. Os danos passíveis de indemnização são aqueles
economicamente valoráveis, que atinjam diretamente o Estado ou os funcionários/agentes
do Estado.
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➔ Satisfação: modalidade de reparação para danos de caráter moral. Ela pode manifestar-se
através de uma expressão pública de pesar, de um pedido oficial de desculpas, na sanção
interna dos agentes responsáveis pela prática ilícita, numa declaração de ilicitude proferida
por um tribunal internacional.
NOTA: Restitutio in integrum e satisfação excluem-se mutuamente (não pode haver as duas
de uma vez só); o resto pode coexistir.
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internacional é o Estado que “detém” temporariamente tais órgãos. Aí, surge uma nova
complexidade: quando privados pratiquem atos ilícitos com financiamento do Estado; surge
a questão de saber se esses grupos podem ou não ser equiparados ao Estado (problema do
Estado falhado: instituições públicas do Estado faliram e privados tomam controlo da
situação).
Se todos os requisitos estiverem presente, surge a responsabilidade internacional do Estado,
que tem 3 consequências: declaração da ilicitude, dever de não repetição e reparação dos
danos (se houver).
MAS: pode ocorrer os requisitos estarem presentes (nexo de imputação, danos, nexo de
causalidade – resultantes da conduta ilícita), mas haver uma causa que afaste a
responsabilidade do Estado. Pode haver causas de exclusão da irresponsabilidade; essas
causas são defesas que o Estado pode apresentar.
CONSENTIMENTO: acordo entre ambos os Estados (autor do ilícito e vítima) que tem por
efeito impedir que, naquele caso concreto, a obrigação internacional se aplique, não se
podendo falar em “ilicitude” do ato praticado. Através deste acordo, o Estado vítima autoriza
a prática do ato ilícito. O consentimento só exclui a ilicitude da conduta se:
• For válido à luz do direito internacional ➔ vontade do Estado deve ter sido expressa
sem vícios (erro, dolo, corrupção ou coação);
• For claro e inequívoco quanto ao seu sentido, alcance e duração;
• Não surgirem dúvidas quanto à efetiva ou real manifestação do consentimento ➔ ele
nunca pode ser presumido;
• For atribuível ou imputável ao Estado (prestado por órgãos capazes de o vincularem
internacionalmente, por exemplo), regendo neste âmbito as normas internacionais
concernentes à manifestação de vontade dos Estados;
• For invocado dentro dos limites (substantivos e temporais) em que o Estado vítima
tenha delimitado.
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um perigo grave que ameaça a sua existência – é um uso defensivo da força – e tem requisitos
para ser validamente exercida:
• Ato de agressão: deve ter havido um ataque MILITAR (e não civil, por exemplo) ➔ só
o uso da força prévio permite o uso da força em legítima defesa. Os atos de agressão
estão previstos pela resolução 3314;
• O estado deve notificar o CSNU ➔ CSNU que incorpora o uso da força da ONU, então
o Estado deve notificar que vai usar/está a usar a força;
• Uso da força deve ser temporário ➔ somente até que o CSNU intervenha tomando as
medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais;
• Uso da força para legítima defesa deve ser proporcional (adequação, necessidade,
proporcionalidade em sentido estrito);
• Atualidade ➔ tem a ver com o momento do ato de agressão (legítima defesa
imediatamente após o ataque).
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Para além das causas acima, excluem também a responsabilidade internacional por atos
ilícitos: causas de invalidade das convenções internacionais (vícios) e causas de suspensão da
vigência (eficácia) das convenções internacionais.
O que nunca desculpa o ilícito, é o direito interno do Estado: nenhum Estado pode invocar o
direito interno como causa do incumprimento das convenções internacionais.
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Por serem sujeitos derivados de direito internacional, as OIs não poderiam ser criadas senão
por iniciativa de uma vontade exterior, as organizações internacionais só podem ser criadas
por uma iniciativa de vontade exprimida pelos sujeitos (Estados) preexistentes da
comunidade por meio de um tratado multilateral.
Tais organizações têm órgãos permanentes, o que permite distingui-las, por exemplo, das
relações acidentais entre Estados e das conferências internacionais. Esta característica
implica que entre a organização e um ou mais Estados membros sejam concluídos os
chamados “acordos de instalação”, para que no território por este determinado a organização
possa dispor de infraestruturas e condições materiais para o seu funcionamento quotidiano.
As organizações são, ainda, centros autónomos de imputação de direitos e obrigações
internacionais (personalidade jurídica internacional distinta), sendo capazes de exprimir uma
vontade própria, juridicamente distinta das vontades dos seus Estados membros: nota-se,
aqui, sua natureza institucional.
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Por fim, o caráter constitucional das cartas constitutivas refere-se ao facto de que todas elas
disponibilizarem informações acerca: dos fins da organização; dos princípios norteadores ou
limitativos da sua atividade; da sua estrutura; das suas competências e tomadas de decisões
pelos seus órgãos; etc.
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OBJETIVOS
Os grandes objetivos que a ONU visa alcançar estão nos artigos 1º e ss na CNU. Entre estes
estão, por exemplo: a manutenção da paz e da segurança internacionais (finalidade
primordial); o desenvolvimento das relações cordiais e amistosas entre os Estados
(pressuposto necessário para o objetivo anterior); a cooperação internacional em ordem à
resolução de problemas económicos, sociais, culturais e humanitários, no respeito pelos
direitos e liberdades fundamentais da pessoa humana; etc..
PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO
O artigo 2º CNU consagra princípios de alcance geral ➔ fundamentais de direito internacional
que pautam a atuação concreta da ONU e, por isso, alguns defendem que a CNU seria um
“tratado constituição” ou uma “constituição da comunidade internacional”:
• Princípio da igualdade soberana dos Estados - tem plena aplicação da Assembleia
Geral das Nações Unidas (órgão plenário/de reunião da ONU) e é atenuado pela
composição e processo de votação no seio do Conselho de Segurança;
• Princípio da solução pacífica dos conflitos - é a condição sine qua non da manutenção
da paz e da segurança; devem ser aplicados, para a resolução de conflitos, os métodos
indicados no artigo 33º da CNU;
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• Princípio da proibição do recurso à força (ou ameaça desse recurso) - têm duas
exceções previstas na própria carta da ONU:
➔ Direito de Legítima Defesa (artigo 51º);
➔ Medidas Coercitivas Militares Decretadas pelo CSNU (capítulo 7º da CNU);
7O artigo 51º trata, ainda de legítima defesa individual e legítima defesa coletiva. A individual
deveria ser denominada própria; a coletiva deveria ser chamada de legítima defesa alheia/de
terceiro, visto que ocorre quando um Estado (alheio/terceiro) vai em auxilio de outro Estado
que haja sido vítima de ataque. A legítima defesa “coletiva” (de terceiros) coloca-se, no plano
institucional, através de pactos de defesa coletiva (como a OTAN/NATO e o já dissolvido Pacto
de Varsóvia).
MEMBROS DA ONU
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ESTRUTURA DA ONU
Quanto aos órgãos da ONU, retira-se do artigo 7º/1 CNU que são seis os órgãos principais: a
Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Economico e Social, o Conselho de
Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado.
Assembleia Geral
É o órgão plenário da ONU, isto é, é o órgão composto por todos os membros da Organização
(art 9º); nela, têm assento todos os Estados membros. A Assembleia funciona em comissões
(formadas por sete países cada), sendo que os assuntos que fazem parte da agenda são
apreciados primeiramente por estas e posteriormente serão submetidos à discussão e
aprovação do plenário. Quando a uma questão se queira dar especial destaque ou relevo
político, ocorre o seu exame direto e imediato pelo plenário.
Resulta do artigo 10º que a AG é o único órgão da ONU com competência genérica, podendo
apreciar ou discutir qualquer questão ou assunto desde que esteja dentro dos fins da Carta
ou se relacionem com as atribuições e funções dos órgãos nela previstos. Isto com uma
exceção decorrente da primazia atribuída ao Conselho de Segurança: enquanto este estiver a
exercer as suas funções em relação a algum assunto, “a Assembleia Geral não fará nenhuma
recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o CSNU o solicite” (art
12º/1). Em relação às suas competências genéricas, a AG está autorizada à emissão de
pareceres, os quais não têm caráter obrigatório – atos sem força vinculativa. Sempre que seja
reclamada uma ação concreta, a AG deve submeter o assunto ao CSNU.
As suas competências específicas (exclusivas deste órgão, por exemplo: o exame de relatórios
fornecidos pelos outros órgãos da organização, a competência orçamental e financeira,
eleição dos membros não permanentes do CSNU, eleição dos membros do CES) as
deliberações da AG – salvo as relacionadas com a manutenção da paz e segurança
internacionais – são dotadas de força obrigatória - art 15º a 18º.
No seio da AG, que se reúne numa sessão anual ordinária e nas sessões extraordinárias
exigidas pelas circunstancias, as deliberações são, em regra, alcançadas através de maioria
simples dos membros presentes e votantes (art. 18º/1); só as decisões sobre questões mais
importantes requerem a maioria de dois terços dos membros presentes e votantes (art
18º/2). As abstenções são excluídas, isto é, só os votos positivos e negativos são tomados em
consideração.
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que, todavia, nenhum membro que termine o seu mandato possa ser imediatamente reeleito
para o biénio seguinte (art. 23º/1 e 2).
Ao CS é atribuída a especial preponderância no domínio da preservação da paz e da segurança
internacionais. Nos termos do art 27, o CS delibera por maioria qualificada de novo votos.
Mas tal processo deliberativo varia consoante o CS deva apreciar uma questão processual ou
antes uma questão material ou de fundo. No primeiro caso, para que uma resolução seja
adotada são necessários quaisquer nove votos (maioria de 2/3), visto que o voto de todos os
membros do CS tem, nas questões processuais, o mesmo valor. Já, porém, tratando - se da
deliberação acerca de uma questão material, continuando a ser exigidos nove votos, cinco de
entre eles deverão obrigatoriamente ser dos membros permanentes. O que equivale,
portanto, a dizer que a estes membros está reservado, nas questões materiais, um direito de
veto, o qual se traduz no poder de paralisar a tomada de uma projetada decisão do CS - artigo
27º/3 da CNU induz esse pensamento. O veto significa muito mais do que votar
negativamente: o direito de veto é o poder de paralisar a tomada de decisão, é um voto contra
que impede a tomada da decisão por parte do CSNU.
Quando há dúvidas sobre a natureza da questão discutida (isto é, se ela é uma questão
processual ou uma questão material), torna-se necessário qualificar a questão, o que será
feito pelo próprio Conselho de Segurança. O simples ato de qualificar a questão já é, em
si, uma questão material e, assim, qualquer dos membros permanentes pode, já na
qualificação, fazer uso do seu direito de veto.
Eis-nos assim em presença do chamado sistema de duplo veto: um qualquer membro
permanente pode opor-se a que certa questão seja qualificada como meramente
processual (1º veto) e, posteriormente, aquando da discussão desta questão (já
classificada como material) pelo CSNU, este membro dispõe da possibilidade de impedir
que uma determinada resolução seja adotada (2º veto).
Caso o sistema de duplo veto não existisse, isto é, se o ato de qualificar uma questão fosse
considerado uma questão processual, o conteúdo do direito de seria vazio: qualquer
membro permanente ficaria, quando a qualificação de uma questão levantasse dúvidas,
dependente dos expedientes processuais da maioria dos membros do CSNU. Por isso a
frase: “não há veto sem duplo veto”
Aos membros permanentes é interessante a classificação de uma questão como material
porque, quando isso ocorre, eles têm poder de veto sobre ela (2º) aquando do seu
julgamento.
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Claro que poderá, legitimamente, pôr-se em causa a consideração do próprio ato de qualificar
uma questão como questão material. Numa tentativa de evitar os inconvenientes deste
processo, a AG adotou uma resolução em que indicava trinta e cinco categorias de questões
processuais ou de procedimento (uma resolução com valor de mera recomendação a qual o
CS não está vinculado).
A prática Conselho de Segurança da ONU originou um costume contra legem. De acordo com
o artigo 27º/3 da CNU, a ausência de um voto positivo por parte de um dos membros
permanentes equivale a veto. Entretanto, com o passar do tempo, entendeu-se que a mera
abstenção não seria causa para a paralisação da decisão: apenas um voto negativo deveria
poder paralisar a resolução. Assim, hoje, uma resolução do CSNU sobre uma questão material
pode ser adotada mesmo com a abstenção dos cinco membros permanentes – desde que se
tenham nove votos afirmativos dos membros não permanentes.
Segundo o artigo 24º da CNU, cabe ao Conselho de Segurança da ONU “a principal
responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais”. O artigo 33º revela
que tal responsabilidade poderá ser exercida por meio da emissão de recomendações aos
Estados envolvidos num conflito, buscando a solução por meios pacíficos.
Nos casos de ameaça à paz, de ruptura da paz ou de atos de agressão, o CSNU pode solicitar
que as partes em conflito aceitem medidas provisórias (adotadas em função do caso
concreto), adotem as recomendações ou adotem decisões suscetíveis. As decisões podem
envolver a aplicação de sanções (militares ou não) contra o Estado infrator.
Conselho de Tutela
Foi criado para controlar o exercício da tutela internacional sobre territórios não autónomos
(artigo 86º e ss da CNU).
A tutela foi concebida como uma situação temporária para facilitar a passagem dos territórios
tutelados para a autodeterminação. Esta pressupunha a conclusão prévia de um acordo de
tutela, o qual regulava a administração do território a ser tutelado e a autoridade encarregada
de tal administração (potência mandatária); tal autoridade, contudo, não exercia poderes de
soberania sobre o território sob tutela. O Conselho de Tutela da ONU era encarregado de
fiscalizar e supervisionar o curso da administração – examinando os
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Secretariado
Órgão de carater administrativo, cuja competência é predominantemente técnica. É
composto pelo Secretário-Geral, eleito pela AG sob recomendação do CSNU (art 97º CNU) por
um mandato de 5 anos renováveis, e pelo demais pessoal exigido pela organização. A sua
missão não se esgota no desempenho de tarefas meramente administrativas. Antes exerce,
muitas vezes, funções eminentemente politicas (art 99º) que têm, aliás, vindo a assumir uma
importância cada vez maior.
Ele é o “rosto visível” da ONU. A inércia patenteada pelo CS em muitas situações de crise,
concorreu para uma acentuação da vertente diplomática/pacífica na resolução de conflitos
internacionais e, portanto, para um correspondente reforço do protagonismo do Secretário-
Geral nesse domínio. Tornam-se, assim, frequentes os casos em que estabelece contactos
com as partes desavindas, oferece os seus bons ofícios, faz propostas ou elabora planos de
paz, etc., numa atividade diplomática que, notoriamente, vai além do previsto na Carta. O
secretariado tem uma atividade política intensa, sendo quase como um “diplomata
internacional”.
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declare aceitar a jurisdição obrigatória do Tribunal para todos os litígios. Como se vê, esta
clausula só funciona quando os Estados partes no Estatuto a subscreverem a título individual;
daí a designar-se facultativa, mas uma vez subscrita, a jurisdição do Tribunal passa a ser
obrigatória. Muitos Estados acompanham esta subscrição com a formulação de reservas –
quer temporais (determinado período), quer substantivas, visando excluir certas categorias
de litígios do âmbito da declaração de aceitação da competência do TIJ (ex.: não vale para
acordos sobre o direito do mar) – facto que em muito tem contribuído para limitar o alcance
prático do art 36º/2 ETIJ. É preciso que haja um encontro dos dois consentimentos unilaterais
para que o TIJ possa julgar o conflito entre esses dois Estados.
FUNÇÕES DA ONU
Para concluir, cabe destacar as quatro principais funções da ONU: manutenção da paz e
segurança internacionais; a cooperação económica e social internacional, a proteção dos
direitos do homem e a descolonização.
No caso de falharem os diversos métodos e procedimentos de solução pacifica de conflitos
contemplados no cap VI da CNU, subsistindo o litígio, impõe a CNU que sejam adotadas as
medidas (de peace-keeping ou peace-making) previstas no seu cap VII, as quais
consubstanciam uma reação da comunidade internacional organizada contra situações de
ameaça à paz, de rutura da paz ou de ato de agressão.
De acordo com o art 39º da Carta, incumbe ao CSNU determinar a existência de uma situação
suscetível de contender com a paz e a segurança internacionais, qualificando-a segundo uma
dos três tipos atrás identificados. Identificada a situação, o CSNU pode lançar mão: de
medidas provisórias, de sanções não militares e de sanções militares.
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I. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Nos casos em que a negociação direta entre os sujeitos em litígio não basta para a sua solução
e por conta da consagrada proibição do recurso à força, como princípio imperativo do Direito
Internacional, implica a consagração de um dever (também imperativo) de composição
pacífica dos conflitos advindos do relacionamento entre os sujeitos daquele ordenamento
jurídico. A esse dever fazem expressa alusão a CNU nos artigos 2º e 33º.
Há dois caminhos possíveis para a solução pacifica de controvérsias internacionais: ou são
persuadidas a aproximar-se, procurando em si próprias uma composição amigável para o
conflito (solução político-diplomática; auto-solução); ou as partes desavindas são levadas a
aceitar a solução que lhes é ditada por um terceiro (solução jurisdicional; hetero-solução).
As soluções político-diplomáticas pressupõem meras recomendações, não vinculando os
sujeitos envolvidos, podendo ou não ser acolhidas pelos sujeitos. Podem ser concretizadas na
prática nos procedimentos de bons ofícios, nas mediações, nos inquéritos e nas conciliações.
Já as soluções jurisdicionais produzem decisões vinculativas, podendo assumir a forma da
arbitragem ou da solução judicial.
Existe liberdade de escolha entre os diferentes métodos de solução pacifica de conflitos
sendo, porém, são sempre priorizados os procedimentos não jurisdicionais (menos
afrontosos para a soberania estadual).
NEGOCIAÇÃO DIPLOMÁTICA
Na negociação, intervêm apenas os Estados diretamente envolvidos no conflito. É o meio
pacífico mais político para resolução de conflitos de todos porque os Estados negociam,
autonomamente, se quiserem e como quiserem. A obrigação de negociar tem um
fundamento costumeiro, servindo de necessário ponto de partida para o recurso a outros
métodos tecnicamente mais elaborados (se necessários).
No essencial, a negociação diplomática envolve o estabelecimento de conversações entre os
contendores, subordinadas ou não a condições previas, que culminarão na chegada a uma
solução concertada. Nalguns casos, o objeto da negociação pode ser um conflito hipotético,
suscetível de eclodir no futuro, aparecendo então aquela como um meio idóneo a prevenir a
ocorrência desse litígio. O direito contribui muito pouco nesse meio de negociação: não há
normas jurídicas que digam como a negociação deve correr, instituindo-se um livre âmbito
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de conformação dos Estados. A solução a que se chega pode ser positivada (normas jurídicas)
ou não (acordo de cavalheiros, por exemplo).
INQUÉRITO INTERNACIONAL
Consiste na averiguação dos factos que se julga estarem por detrás do aparecimento do
conflito, confiada normalmente a um órgão colegial, designado comissão de inquérito, que
depois elabora, após a averiguação, um relatório a fornecer às partes, as quais podem dar-
lhe o seguimento que entenderem. O objetivo primordial deste método é esclarecer
devidamente os factos que estão na base do litigio, já que se acredita que assim será possível
evitar o recurso à força armada.
CONCILIAÇÃO
O desencadeamento deste método pressupõe sempre um prévio compromisso convencional
e atua em duas fases. A comissão de conciliação, num primeiro momento, recolhe (na fase de
inquérito) todas as informações necessárias ao estabelecimento da materialidade dos factos
que desencadearam o litígio (analisa provas e possíveis causas, produz perícias, ouve
testemunhas, etc.). Assim como ocorre num processo judicial, à questão de facto (apuração
dos factos) e com base nos resultados obtidos, segue-se uma questão de direito (proposta de
solução). Devido ao procedimento seguido, estamos em presença de um método quase
jurisdicional de solução pacifica de conflitos. Só não o é porque não segue verdadeiramente
o intuito de um processo judicial, isto é, enquanto a atividade de um tribunal culmina com
uma sentença obrigatória para as partes, a tarefa da comissão de conciliação desemboca,
apenas, na elaboração de uma proposta de solução para o conflito.
Nos dias atuais, recorre-se à conciliação sobretudo no contexto da solução pacífica de
conflitos no âmbito das organizações internacionais universais e regionais (ex.: todos os casos
da comissão africana e interamericana sobre os direitos do homem).
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Na fase escrita (artigo 43º ETIJ) (em que assumem especial relevo o apuramento da matéria
de facto, fase que se destina à produção da prova – inquéritos, buscas, vistorias; também é o
momento em que as partes escrevem as peças processuais; os Estados são representados por
assessores, consultores e advogados) as partes apresentam ao TIJ (e às outras partes)
memórias, contra memórias e, eventualmente, réplicas. As memórias são as alegações
escritas do Estado demandante (que intenta/estabelece a ação); as contra memórias são as
alegações escritas do Estado demandado (que recebe a ação); a réplica pode ser feita pelo
Estado demandante. Durante a fase escrita, o TIJ pode realizar inspeções, vistorias ou visitas
aos locais para esclareça os fatos e produza as provas.
Na fase oral, o TIJ ouve testemunhas, peritos, agentes (representam as partes), consultores
(auxiliam os agentes) e advogados (auxiliam os agentes).
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➔ É possível recorrer de uma sentença já proferida pelo TIJ? Nos termos do artigo 60º do
ETIJ, a sentença é definitiva e inapelável/irrecorrível, o que faz sentido dado que o TIJ é,
simultaneamente, um Tribunal de primeira e última instância um Tribunal, não havendo
vários graus de jurisdição. Entretanto, coloca-se a possibilidade de haver uma reinterpretação
do acórdão, a pedido de qualquer uma das partes, caso a sentença seja obscura/dúbia quanto
ao seu sentido e alcance. Não se trata de um recurso, mas uma clarificação do acórdão,
realizada pelo TIJ, que visa torná-lo mais percetível para as partes.
NOTA: O réu pode alegar também a falta de interesse do TIJ em agir, argumentando que
não teria por que o tribunal julgar o caso: não haveria razão fática para o julgamento -
Inadmissibilidade do pedido por falta de interesse em agir
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SOLUÇÃO ARBITRAL
A solução arbitral respeita mais a soberania estadual visto que os árbitros são escolhidos pelas
partes. Com base num acordo entre as partes que se constitui, por um período determinado,
o órgão arbitral encarregado de apreciar e julgar o litígio. Ou seja, os tribunais arbitrais são
de constituição ad hoc, extinguindo-se uma vez proferida a sentença.
As competências do tribunal arbitral provêm de um compromisso de arbitragem e o
julgamento do caso é amparado pelas diversas fontes de direito internacional, mas há casos
em que o Tribunal (leia-se: os árbitros) pode decidir com base em seu conhecimento.
Os tribunais arbitrais costumam ser especializados por matéria (comércio internacional, em
direito marítimo, etc.) e são normalmente compostos por juristas de grande saber
especializado na matéria que está em conflito (árbitros). A decisão do tribunal arbitral tende
a ser mais apurada que a dos tribunais judiciais (justamente por conta do saber especializado).
A sentença arbitral tem caráter definitivo, a menos que as partes tenham decido o contrário.
Será nula a decisão que extravase os termos do compromisso arbitral, pode ser uma resolução
que: se pronuncie sobre uma questão diversa da que foi submetida ao
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO [2]
I. NOÇÃO DE DIREITO INTERNACIONAL [2]
• ESTADO/NAÇÃO [2]
• SUJEITOS [3]
• DIREITO INTERESTADUAL OU DIREITO DAS GENTES [3]
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➔ JURISDIÇÃO
➔ ESPAÇOS INTERNACIONAIS
• GOVERNO [65]
➔ SOBERANIA (COROLÁRIOS POSITIVOS E NEGATIVOS)
➔ COMPETÊNCIAS DO ESTADO
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1. Defina zona ou área. São fundos marinhos e subsolos para além dos limites da
jurisdição nacional. Solo e subsolo do alto mar. O regime jurídico é diferente. Foi criada
uma organização internacional, que se encarrega de superintender na exploração e
distribuição dos recursos da zona, de acordo com o princípio da desigualdade
compensatória. Aqui tem uma internacionalização positiva, pois a autoridade garante
igualdade material na exploração.
2. Defina duplo veto. A ONU é composta por 10 membros não permanentes e 5
membros permanentes. Quando há dúvida sobre natureza da matéria em causa, tem
de qualificá-la, através de uma votação. Este ato de qualificação, é em si considerado
um ato de natureza material, logo pode haver direito de veto por um dos membros
permanentes (primeiro veto). Num momento subsequente, se a matéria for
qualificada como material, um dos membros permanentes pode vetar novamente,
desta vez para impedir a adoção da decisão (segundo veto). Se não fosse o primeiro
veto, os 10 membros qualificariam a matéria sempre como procedimental, para não
haver possibilidade de veto por algum dos membros permanentes.
3. Distinga força maior e perigo extremo. Força maior são situações em que um Estado
fica materialmente impossibilitado de cumprir uma obrigação internacional por causa
de uma força irresistível ou um acontecimento exterior completamente imprevisto. O
perigo extremo consiste em casos em que um agente ou órgão estadual adota um
comportamento que viola o Direito Internacional pois essa é a única maneira que
encontra de salvar a sua vida ou a vida das pessoas que estão sob sua
responsabilidade. Em ambos os casos há uma exclusão de ilicitude no âmbito
internacional, porem na força maior, essa exclusão de ilicitude se dá quando o
acontecimento for irresistível, imprevisto e o Estado não tenha contribuído para o
ocorrido, já no perigo extremo a ilicitude será excluída quando o valor do interesse
protegido for maior que o valor sacrificado. Em ambos o Estado adota um
comportamento que viola o direito internacional, porem na força maior o Estado não
tem escolha.
4. Distinga recepção automática condicionada e transformação. No âmbito das técnicas
de incorporação do Direito Internacional na ordem jurídica interna, apresentam-se,
como duas das soluções positivas, a recepção automática condicionada e a
transformação. As normas jurídicas de direito internacional inserem-se diretamente
na ordem interna, produzindo efeitos. Porem a CRP pode impor uma leve restrição a
plena vigência interna das normas internacionais, constituindo a recepção automática
condicionada. Por outro lado, a transformação consiste em uma norma de DIP só
produzir efeito na ordem interna caso um legislador a converta em norma interna
através de um ato de sua competência. A recepção automática condicionada provem
de uma concepção monista enquanto a transformação de uma concepção dualista. A
primeira produz efeitos automaticamente, enquanto a segunda precisa de uma
conversão. Porem ambas são técnicas de incorporação do direito internacional no
direito interno.
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verificar os fatos que estão por detrás do surgimento do conflito e depois produzir a
proposta de solução para as partes.
Ambos são métodos político-diplomático para resolver conflitos, em ambos é
designado uma comissão, porem no inquérito é uma comissão de inquérito e na
conciliação é uma comissão de conciliação. Ambos verificam os fatos que estão por
detrás do conflito.
10. Comente: ‘’as convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa
tem valor supralegal, mas infraconstitucional’’. A convenção internacional celebrada
pelo estado português, em relação a legislação ordinária, só se cumpre se a convenção
tiver um valor maior que a lei interna, ou seja, valor supralegal. Esta convenção vai
prevalecer quer sobre as leis anteriores, quer sobre as posteriores. Se a CI fosse
inferior a lei, seria imediatamente revogada por leis internas conflitantes, e se não
houvesse uma lei na hora da entrada em vigor da CI, mas surgisse uma lei depois, está
derrubaria a CI. O mesmo aconteceria se estas tivessem iguais valores. Porém, a CI
tem valor infraconstitucional, ou seja, esta tem que estar em harmonia com a CRP
sobre pena de invalidez da CI por inconstitucionalidade. A CI vai vigorar enquanto
vincular o estado português no âmbito internacional.
11. Defina exceção preliminar. É um expediente processual através do qual um Estado
demandado contesta a competência ou a jurisdição do Tribunal Internacional de
Justiça para julgar um determinado caso. Quem decide essa questão é o próprio TJI.
Temos 4 tipos de exceções preliminares, a ratione materiae, ratione personae, ratione
temporis e inadmissibilidade do pedido por falta de interesse em agir.
12. Defina clausula da nação mais favorecida. Há um tratado inicial entre dois ou mais
Estados, nele as partes inserem uma clausula nos termos da qual, se um deles vier a
celebrar, no futuro, com outro estado, uma convenção mais vantajosa, versando
sobre a mesma matéria, tais disposições mais favoráveis irão se aplicar ao tratado
inicial. Deste modo, Estados vão se beneficiar de tratados que não celebraram. O
consentimento do Estado é dado por antecipação.
13. Distinga perigo extremo e estado de necessidade. O perigo extremo refere-se a casos
em que um agente ou órgão estadual adota um comportamento que viola o DI pois
essa é a única maneira que encontra de salvar a sua vida ou das pessoas sob sua
responsabilidade. Deve haver uma ponderação, só exclui a ilicitude deste, quando o
valor do interesse protegido for superior do que o valor sacrificado. Já o Estado de
necessidade, está em jogo a existência do próprio Estado, há uma ameaça que paira
sobre a estabilidade política ou subsistência económica. Diferentemente do que
acontece no perigo extremo, em que está em causa um agente do Estado ou pessoas
a sua guarda. No estado de necessidade o interesse ameaçado deve ser essencial e a
violação do direito internacional deve ter constituído o único meio utilizável de
conjurar o perigo. Em ambos, existe, teoricamente, a possibilidade de cumprir ou não
a obrigação internacional.
14. Diferencie organização internacional intergovernamental e supranacional.
Organização intergovernamental é o tipo mais frequente de organização
internacional. Geram entre as organizações e os Estados relações horizontais de mera
coordenação de soberanias nacionais. Visam promover a cooperação entre Estados
membros. Dos órgãos destas organizações fazem parte representantes dos Estados
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33. Distinga conciliação e arbitragem. Conciliação e arbitragem são meios pacíficos, com
intervenção de terceiros, para solução de controvérsias no plano internacional que
dependem de prévio compromisso entre as partes envolvidas no conflito (art. 33
CNU). Diferenciam-se no sentido de que a conciliação apresenta-se como um meio
quase jurisdicional de solução de conflitos, em que a comissão de conciliação, para
além da análise e assentamento dos fatos, apresenta uma proposta de solução
(interpretação e aplicação do Direito ao caso concreto) que, porém, não é vinculativa
nem obrigatória às partes, as quais, assim, conservam a liberdade de autocomposição
do conflito; ao passo que na arbitragem, como um meio de natureza jurisdicional, a
proposta de solução jurídica do conflito é vinculativa, obrigatória e definitiva, cujo
cumprimento, portanto, afigura-se cogente às partes em conflito, as quais, em
consequência, deixam de conservar, uma vez instaurado o procedimento arbitral, a
liberdade de comporem negocial e voluntariamente o conflito.
34. Comente: ‘’ As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa
têm um valor supralegal’’. A CRP absorve à luz de seu art. 8º, uma posição monista
com primado do Direito Internacional com mitigações relacionadas a e dependentes
da natureza jurídica da norma de Direito Internacional, que acabam por estabelecer
um diferente regime jurídico de incorporação e relacionamento hierárquico entre o
Direito interno e o Direito Internacional. Relativamente ao Direito Internacional geral,
a que se refere o nº 1 do art. 8º da CRP, a recepção é automática e, mediante
interpretação conjugada com o art. 16º, nº 2 da CRP, a alocação hierárquica
relativamente ao Direito interno é a supraconstitucional. Logo, convenções
internacionais que positivem normas de cunho universal/geral de Direito
Internacional Público terão não só valor supralegal como supraconstitucional. No que
concerne ao Direito Internacional particular, nos termos do art. 8º, nº 2, da CRP, a
regra é da recepção automática condicionada a prévia ratificação e publicação e,
hierarquicamente, consoante o posicionamento doutrinário maioritário, da recepção
com valor supralegal, mas infraconstitucional (a partir de uma leitura sistemática e
conjugada com os arts. 277º, 278º e 119º CRP). Embora tais conclusões não sejam
pacíficas – havendo vozes dissonantes na doutrina quanto ao valor supralegal do
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tido uma orientação diferente ou nem tinha acordado a Convenção Internacional. Por
outro lado, se o Estado, contribuiu para a ocorrência do erro, este já não é desculpável.
Já o dolo, é uma conduta assumida por uma parte, intencionando enganar um Estado.
Ambas provocam a nulidade relativa.
39. Comente: ‘’ A CRP positiva uma solução monista moderada com primado do Direito
Internacional ‘’. Existem 2 teses que dissertam sobre a relação entre o Direito
Internacional e o Direito Interno. A tese dualista, defende uma separação total entre
a ordem jurídica internacional e a ordem jurídica interna, são vistas como realidades
distintas. Logo, uma norma de DIP só pode vigorar no plano interno desde que seja
convertido em direito interno, não há aplicabilidade direta. Essa separação radical
entre as ordens é fundamentada em uma tríplice diferença, quanto a origem do direito
positivo, quando aos sujeitos das relações jurídicas e quanto à natureza de ambos os
ordenamentos. Já a tese monista, existe uma unidade do mundo jurídico. Aceitam que
as normas internacionais produzam efeitos na ordem jurídica interna de forma direta.
Porém, acaba por negar a existência do direito Internacional como disciplina
autónoma. Numa versão mais radical, defende-se que as normas internacionais
situam um plano superior as internas. Para os mais moderados, a perdem jurídica
internacional delimita o campo de atuação da ordem jurídica interna, dispondo está
de uma margem de manobra. Em Portugal, adota-se a posição monista mais
moderada, pois cada vez é maior o número de normas de direito internacional que
são validas no plano interno independentemente da vontade dos Estados e a
globalização tem vindo reduzir o leque das matérias que fazer parte do domínio
reservado dos Estados. (Falar do art. 8º?).
40. Comente: ‘’Sendo omisso o art. 8.º da Constituição quanto à recepção do direito
consuetudinário particular (regional) na ordem jurídica portuguesa, seria, não
obstante, absurdo concluir que esse direito não vigora em Portugal nos casos em
que vincula internacionalmente o Estado português’’. Descrição do conceito de costume e
distinção entre o costume geral e o costume regional. Descrição das técnicas de incorporação do direito
internacional na ordem jurídica dos Estados. Realização de análise dos aspectos essenciais do art. 8.ºda
Constituição da República Portuguesa. Descrição das diferentes posições teóricas relativas ao problema da inserção
dos costumes bilaterais na ordem jurídica portuguesa (Silva Cunha, Moura Ramos e Azevedo Soares). Tomada de
posição relativamente ao problema descrito.
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42. Defina sucintamente promessa. A promessa, como ato jurídico unilateral (declaração
unilateral de vontade de realizar ou deixar de realizar determinados
comportamentos), é passível de criar direitos e obrigações internacionais, assomando
como fonte autónoma do Direito Internacional Público quando satisfeitos os
requisitos da publicidade e seriedade da declaração, voltada à produção de efeitos
jurídicos, tal como jurisprudencialmente reconhecido pelo Tribunal Internacional de
Justiça (casos dos testes nucleares no Pacífico Sul).
43. Defina organização internacional. As organizações internacionais passaram, no
modelo moderno, a ser reconhecidas como sujeitos de Direito Internacional Público,
consubstanciando-se em “associações voluntárias de Estados, criadas por tratado,
dotadas de uma estrutura orgânica permanente e possuidoras de uma personalidade
jurídica internacional distinta da dos Estados membros”, que se voltam a prosseguir
objetivos comuns a seus membros a partir de estruturas orgânicas próprias, cujas
competências e poderes associados encontram-se estatutariamente previstos e
podem caracterizá-las como de cooperação ou de integração.
44. Distinga clausula arbitral de compromisso arbitral. O princípio da vedação do uso da
força no plano internacional impõe sejam pacificamente resolvidos os conflitos
internacionais, assomando a arbitragem como um dos meios (art. 33 CNU) – no caso
jurisdicional com intervenção de terceiros – disponíveis aos sujeitos de DIP para tal
efeito. A formação de tribunais arbitrais ad hoc depende da declaração de vontade de
todos os sujeitos envolvidos na controvérsia (jurisdição facultativa), apresentando-se
a cláusula arbitral e o compromisso arbitral como mecanismos para expressar a
vontade de vincular-se à solução arbitral. Diferenciam-se no sentido de que a cláusula
arbitral consubstancia declaração de vontade prévia à existência de qualquer conflito,
integrando materialmente convenções internacionais para prever que quaisquer
controvérsias passíveis de assomarem serão resolvidas por arbitragem. O
compromisso arbitral, ao revés, é firmado após o surgimento de um conflito, quando
as partes em conflito decidem submeter a celeuma a um tribunal arbitral e, para tanto,
firmam um acordo (compromisso arbitral) estabelecendo a concordância quanto à
solução arbitral e os seus parâmetros.
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II.1.:
O poder de veto deriva da obrigatoriedade de uma decisão unânime dos membros permanentes do
Conselho de Segurança das Nações Unidas na votação de uma proposição envolvendo questão de
natureza material. O sistema de duplo veto apresenta-se porque a própria qualificação da natureza
da questão a ser discutida – se processual ou material – é considerada uma questão material e, assim,
sujeita a veto dos membros permanentes. Assim, o poder de veto exerce-se, em primeiro plano, no
âmbito da votação acerca da qualificação da questão e, vindo a ser-lhe atribuída natureza material,
apresenta-se nova oportunidade de exercício do poder de veto (ou duplo veto), já agora no âmbito da
votação acerca da solução a ser dada à questão de cunho material (arts. 23 a 27 CNU).
II.2.:
Conciliação e arbitragem são meios pacíficos, com intervenção de terceiros, para solução de
controvérsias no plano internacional que dependem de prévio compromisso entre as partes
envolvidas no conflito (art. 33 CNU).
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1 - «As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa têm um valor supralegal».
(5 val.)
A CRP absorve, à luz de seu art. 8º, uma posição monista com primado do Direito Internacional com
mitigações relacionadas a e dependentes da natureza jurídica da norma de Direito Internacional, que
acabam por estabelecer um diferente regime jurídico de incorporação e relacionamento hierárquico
entre o Direito interno e o Direito Internacional.
Relativamente ao Direito Internacional geral, a que se refere o nº 1 do art. 8º da CRP, a recepção é
automática e, mediante interpretação conjugada com o art. 16º, nº 2 da CRP, a alocação hierárquica
relativamente ao Direito interno é a supraconstitucional. Logo, convenções internacionais – v.g., a
Declaração Universal dos Direitos do Homem – que positivem normas de cunho universal/geral de
Direito Internacional Público terão não só valor supralegal como supraconstitucional.
No que concerne ao Direito Internacional particular, nos termos do art. 8º, nº 2, da CRP, a regra é da
recepção automática condicionada a prévia ratificação e publicação e, hierarquicamente, consoante
o posicionamento doutrinário maioritário, da recepção com valor supralegal, mas infraconstitucional
(a partir de uma leitura sistemática e conjugada com os arts. 277º, 278º e 119º CRP).
Embora tais conclusões não sejam pacíficas – havendo vozes dissonantes na doutrina quanto ao valor
supralegal do Direito internacional convencional, a exemplo de Gomes Canotilho e Vital Moreira, que
colocam na mesma ordem hierárquica as convenções internacionais e o direito interno ordinário –,
uma interpretação sistemática da CRP parece encaminhar forçosamente a tal solução.
A uma porque tais normas, por mandamento constitucional do art. 8º, nº 2, devem vigorar no plano
interno enquanto vincularem internacionalmente o Estado português, afigurando-se, como
consequência lógica, a sua necessária prevalência frente às leis ordinárias posteriores que,
eventualmente, as contrariem, o que só se pode assegurar mediante a atribuição de valor supralegal;
a duas porque, sob uma perspetiva material, a ponderação de valores em conflito parece pender para
tal conclusão, sobretudo à luz de uma evidente abertura do sistema jurídico português ao DIP (art. 7º
e 16º CRP); e, por fim, porque a prática internacional tem se firmado neste sentido, sendo, ainda, esta
posição – a do valor supralegal das convenções internacionais – aquela consagrada pelo Tribunal
Constitucional português.
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3 - Logo no início do processo, porém, A alegou que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória, havia excluído os conflitos relativos à interpretação de convenções
internacionais do âmbito da sua declaração de aceitação da jurisdição do TIJ. Aprecie a situação acima
descrita do ponto de vista da responsabilidade internacional (1), da validade das convenções
internacionais (2) e do funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça (3). (8 val.)
(1) Consoante o princípio da pacta sunt servanda, positivado no art. 26º da Convenção de Viena sobre
o Direito dos Tratados – CVDT, as convenções internacionais válidas e eficazes são vinculativas e
obrigatórias às partes, que, assim, têm o dever de executar e dar cumprimento aos seus termos.
Relativamente à conduta do Estado A de, em resposta, não respeitar a delimitação das respetivas
zonas económicas exclusivas, é preciso ter em conta que tal delimitação derivava de um “acordo de
cavalheiros” – portanto, sem natureza vinculativa.
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Sendo assim, não configuraria ilícito para efeitos de responsabilidade internacional, já que nenhuma
obrigação vinculativa de Direito Internacional foi violada (arts. 12 e 13 do Draft da CDI). Ausente a
configuração de ato ilícito, não há fundamentos à aplicação do sistema de responsabilidade.
(2) Do ponto de vista da validade das convenções internacionais, o art. 50º da CVDT consagra como
vício de consentimento a corrupção.
No entanto, no caso concreto, a alegação do Estado B é de que houve a mera tentativa de corrupção
de seu representante pelo Estado A, o que não é bastante para colocar em causa a validade da
convenção, já que o art. 50º aplica-se somente quando há consumação do ato de corrupção, com o
cumprimento de todas as condicionantes ali prescritas.
Considerando que, no enunciado da questão, não há elementos para verificar a consumação do ato
de corrupção, tampouco a existência de outros vícios que coloquem em causa a validade da
convenção, não é possível afirmar que o diploma é inválido.
(3) O exercício da jurisdição em um caso concreto pelo Tribunal Internacional de Justiça depende,
como regra, de acordo especial expresso e formal das partes, forum prorrogatum, cláusula
compromissória ou, nos termos do art. 36º do Estatuto do TIJ, declaração unilateral dos Estados de
que “reconhecem como obrigatória ipso facto e sem acordo especial, em relação a qualquer outro
Estado que aceite a mesma obrigação, a jurisdição do Tribunal em todas as controvérsias jurídicas
(…)”.
In casu, extrai-se do enunciado que o Estado A assinou cláusula facultativa de jurisdição obrigatória
do Tribunal, o que o colocaria, automaticamente, sujeito à jurisdição do Tribunal na hipótese de o
Estado B também ser signatário de cláusula desta espécie – o que parece ser o caso, já que B intentou
diretamente ação contenciosa contra A no TIJ.
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1 – Conciliação e arbitragem
Conciliação e arbitragem são meios pacíficos, com intervenção de terceiros, para solução de
controvérsias no plano internacional que dependem de prévio compromisso entre as partes
envolvidas no conflito.
Consoante o art. 27º da CNU, o poder de veto deriva da obrigatoriedade de uma decisão unânime
dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas na votação de uma
proposição envolvendo questão de natureza material. O sistema de duplo veto apresenta-se
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Entretanto, em 2016, forças rebeldes que actuam no Estado A e que pretendem derrubar as
autoridades oficiais de governo para ascender ao poder, bombardearam uma fábrica de pesticidas
e outros químicos, situada junto a uma das margens do rio x, o que originou um forte derrame de
substâncias poluentes nas águas desse curso de água e, consequentemente, o incumprimento,
por parte de A, do tratado de 2015. Dias mais tarde, eram já perceptíveis os danos ambientais
produzidos no Estado vizinho B. Confrontado com um pedido de reparação subsequente, A,
sustenta, porém, que não lhe pode ser assacada qualquer responsabilidade pela actuação de
grupos rebeldes, que escapam ao seu controlo, pelo que a situação ocorrida deverá ser levada à
conta de força maior ou caso fortuito (“an act of God”).
Pretendendo ver declarada a ilicitude do comportamento de A, B decide então intentar uma
acção contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça, ciente, no entanto, que, aquando da
subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, A havia excluído os litígios relativos a
tratados internacionais do âmbito da sua aceitação da competência do Tribunal.
Quid juris, do ponto de vista da responsabilidade internacional do Estado e do funcionamento do
Tribunal Internacional de Justiça? (8 val.)
A responsabilidade internacional do Estado emerge da conjugação de dois pressupostos essenciais
(ato ilícito e nexo de imputação – art. 2º do Draft da CDI da ONU sobre Responsabilidade
Internacional dos Estados – DRIE por atos ilícitos), acrescidos, para efeitos de reparação, dos
pressupostos da ocorrência de danos e do nexo de causalidade – os quais, na resposta, devem ser
analisados individualmente à luz do caso enunciado para perquirição da existência, ou não, da
responsabilidade do Estado A.
No que concerne ao nexo de imputação, para além da eventual análise da incidência dos artigos
8º a 10º do DRIE, o incumprimento é imputável ao Estado A (uma vez que a obrigação era devida
por A e este deixou de cumpri-la, respondendo pela omissão). Os danos encontram-se igualmente
configurados, colocando-se o problema quanto ao nexo de causalidade.
Em defesa, A alega que não lhe pode ser assacada qualquer responsabilidade pela atuação de
grupos rebeldes, que escapam ao seu controlo, pelo que a situação ocorrida deverá ser levada à
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conta de força maior ou caso fortuito, o que, caso procedente, seria causa de rompimento do
nexo de causalidade entre os danos sofridos e a conduta do Estado A.
Assim sendo, deverão ser analisados argumentativamente à luz do caso concreto os requisitos
postulados no art. 23º do DRIE para configuração de fortuito ou força maior.
Apresentando-se argumentos robustos em prol da viabilidade da defesa à luz do art. 23º do DRIE,
A não poderá ser responsável civilmente no plano internacional; na hipótese de entender-se que
os requisitos do art. 23º não estão preenchidos no caso concreto, haverá nexo de causalidade e,
portanto, a responsabilidade internacional do Estado A.
Relativamente ao funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça, consoante o artigo 36º do
ETIJ, é válida a exclusão realizada pelo Estado A dos litígios relativos a tratados internacionais do
âmbito da sua aceitação da competência do Tribunal (arts. 19 e ss. CVDT).
Contudo, o caso submetido ao TIJ não estaria abarcado pela exclusão realizada por A, uma vez
que versa não sobre tratados internacionais propriamente ditos, mas sobre responsabilidade
internacional do Estado.
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