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DIREITO CIVIL

PARTE GERAL

Prof. Cláudio José Reis


aula 2 • 08.03.2023
Retomando...
• Organização didática do Direito Civil
• Parte Geral vs. Parte Especial

• Direito Público e Direito Privado


• Predomínio do interesse público ou do interesse particular (autonomia da vontade)

• Noções introdutórias
• “Toda a vida social está impregnada do Direito Civil” (Maria Helena Diniz)

• A evolução do Direito Civil


• Direito Romano
• Movimento de codificação moderna

• Código Civil de 1916


• Cunho fortemente individualista e detentor de institutos patriarcalistas, matrimonialistas e patriominalistas

• Código Civil de 2002


• Prioriza o “ser” em detrimento do “ter”
Conceitos importantes

Positivação de regras do Direito Civil na Constituição Federal


Constitucionalização do Direito Civil
Eficácia horizontal dos direitos fundamentais
(ou Direito Civil Constitucional)
Despatrimonialização e repersonalização do Direito Civil

Recivilização Constitucional do Direito Civil


Constitucionalização do Direito Civil
• Os professores Gustavo Tepedino e Maria Celina Bodin de Moraes trouxeram da Itália a
ideia de Constitucionalização do Direito Civil, desenvolvida por Pietro Perlingieri.

• Esse movimento estabelece que o Direito Civil está subordinado à Constituição Federal.

• Antes, o Direito Civil era analisado de forma apartada das disposições constitucionais.

• 1ª implicação: Positivação de regras do Direito Civil na Constituição Federal


• Há artigos que tratam de Direito Civil no texto constitucional
• Direito de indenização, direito de resposta e direito à herança (art. 5º, CF)
• Direito de família (art. 226, CF)
• Direito à livre iniciativa (art. 170, CF)
Positivar: “tornar concreto, escrito no texto legal”.
Constitucionalização do Direito Civil
• 2ª implicação: Eficácia horizontal dos direitos fundamentais
• Os direitos fundamentais também devem ser aplicados entre particulares, pessoas
do mesmo nível. Por isso, trata-se de eficácia horizontal.
• Aplica-se, por exemplo, o direito à ampla defesa e ao exercício do contraditório aos
particulares.
• Exclusão de associado → Art. 57, CC: “A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa,
assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos
no estatuto.”
• Condômino antissocial → Art. 1.337, CC: “O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente
com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos
restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à
contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração,
independentemente das perdas e danos que se apurem” (a multa deve ser precedida de notificação, a
fim de viabilizar o direito de defesa).
Constitucionalização do Direito Civil
• 3ª implicação: Despatrimonialização e repersonalização do
Direito Civil
• O Direito Civil atual preocupa-se mais com a dignidade da pessoa humana
do que com a tutela do patrimônio. Às vezes, serão autorizadas situações
que não são economicamente adequadas, mas que prestigiam a dignidade
humana porque o Direito Civil foi despatrimonializado.
• Em conexão à ideia de despatrimonialização, existe o conceito de
respersonalização do Direito Civil, já que foi atribuído um novo significado
de pessoa. Deixou-se de considerar pessoa mero agente econômico para
adotar uma percepção de pessoa com direito à dignidade.
Recivilização Constitucional do Direito Civil
• Corrente contrária à tese da absoluta Constitucionalização do Direito Civil.

• A ideia dessa corrente é prestigiar a autonomia do Direito Civil em relação ao Direito


Constitucional, pois os pressupostos são diferentes.

• Realça a separação entre o Direito Privado e o Direito Público, defendendo que são
lógicas distintas:
• O Direito Privado é baseado na autonomia da vontade.
• Enquanto que no Direito Público há a primazia do interesse público.

• O modelo admite uma eficácia mediata dos direitos fundamentais entre os particulares.
Isso significa que os direitos fundamentais podem ser aplicados entre eles por meio de
lei, e não por intermédio de decisão judicial que se ampare diretamente na Constituição.
Princípios Norteadores ou Diretrizes
Teóricas do Código Civil de 2002
Diretrizes que guiaram a comissão de juristas chefiada pelo Prof. Miguel Reale na elaboração da nova codificação:

• Socia(bi)lidade: O Código Civil foi redigido para prestigiar a função social do Direito. A plena realização do bem
comum requer uma comunhão entre a plenitude da pessoa e da coletividade.
• Art. 421 (função social do contrato) e art. 1.228 (função social da propriedade) do Código Civil

• Eticidade: O Código Civil foi redigido de forma a impor a justiça e a boa-fé nas relações, nas quais se verifica se a
conduta (e não a intenção) da pessoa é ética ou não, trazendo à tona o princípio da boa-fé objetiva.

• Operabilidade ou Concretude: O Código Civil foi redigido de forma a ser operável pelo profissional do Direito, ou
seja, de modo a ser facilmente manuseado e compreendido, a fim de solucionar o caso concreto de maneira
efetiva.
• Sistematicidade: texto organizado
• Técnicas de redação legislativa com vocação de eternidade
• Conceitos jurídicos indeterminados: existe uma incerteza no conceito, e não no resultado [“necessidade”, “imprevisto”, “urgente”]
• Cláusulas abertas: existe uma incerteza no resultado, e não no conceito [“função social do contrato”]
Princípios do Direito Civil
i) a personalidade, revelando que todo ser humano é capaz de titularizar obrigações e direitos

ii) a autonomia privada limitada, pelo qual se evidencia o poder de praticar ou se abster dos atos de acordo com o
interesse e conveniência do titular, dentro de determinados limites, sem prejudicar a terceiros e à coletividade e
respeitada a ética negocial que se espera de todos

iii) a liberdade de estipulação negocial ou a autonomia privada regrada, explicitando a possibilidade de escolher o
conteúdo e as categorias dos atos jurídicos praticados, respeitada a boa-fé objetiva e a função social do contrato

iv) a propriedade individual, cumprida a função social, exprimindo a possibilidade de constituir patrimônio

v) a intangibilidade e pluralidade familiar, querendo significar o equilíbrio entre a proteção da família e a dignidade
da pessoa humana, constituindo os diferentes tipos de constituição de família uma verdadeira célula mater da
sociedade e expressão imediata do ser

vi) a legitimidade da herança e direito de testar, decorrente do poder sobre os bens

vii) a solidariedade social, buscando conciliar as exigências coletivas com os interesses particulares
Boa-fé
objetiva
Corolários da boa-fé objetiva
Proibição do comportamento contraditório
• Também pode ser chamado de vedação ao venire contra
factum proprium (vir contra um fato próprio), que pode ser
considerado seu sinônimo, embora alguns afirmem que o
princípio da proibição é mais amplo.
• Significa que ninguém pode praticar um fato A, criar uma
legítima expectativa em outrem e, posteriormente, praticar
um fato B, de modo a frustrar a legítima expectativa criada.
Esse comportamento contraditório é ilícito.
Corolários da boa-fé objetiva
Supressio

É a perda (supressão) de um direito em razão de uma


inércia prolongada (sem prazo legal, pois depende do
caso concreto) com a capacidade de criar uma
legítima expectativa em outrem.
Corolários da boa-fé objetiva
Surrectio

É o contrário da supressio; ambas são consideradas


por alguns como faces da mesma moeda. A ideia é
que se temos supressio, teremos surrectio se
mudarmos a perspectiva. Trata-se da aquisição de um
direito em razão de condutas reiteradas e
antijurídicas com a capacidade de criar uma legítima
expectativa no agente.
Corolários da boa-fé objetiva
Tu Quoque

Expressão em latim que dá a ideia de traição, torpeza. Pode ser


resumido na ideia de que ninguém pode se servir da própria
torpeza.
• exceção de contrato não cumprido (art. 476, CC)
• presunção do efeito indesejado pelo manipulador (art. 129, CC)
• dolo bilateral (art. 150, CC)
Corolários da boa-fé objetiva
Duty to mitigate the loss

Também conhecido como dever de mitigar (atenuar,


reduzir) as perdas. O credor (e não só o devedor)
tem o dever de observar a boa-fé objetiva de modo
a adotar uma conduta que não aumente o valor da
dívida. Se o credor tiver uma atitude contrária à boa-
fé, àquilo que legitimamente se espera, ele comete
ato ilícito e pode receber algum tipo de sanção ou
deixar de ter algum direito específico.

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