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DIREITO CIVIL

PARTE GERAL

Prof. Cláudio José Reis


aula 9 • 28.04.2023
Classificação dos bens
Os bens considerados em si mesmos
são analisados isoladamente. Isto é,
podem ser classificados de diversas
formas, que independem da relação
com outro bem.
Quanto à mobilidade
MÓVEIS X IMÓVEIS
Quanto à
fungibilidade
FUNGÍVEIS X INFUNGÍVEIS
Quanto à
consuntibilidade
CONSUMÍVEIS X INCONSUMÍVEIS
Quanto à
divisibilidade
DIVISÍVEIS X INDIVISÍVEIS
Quanto à
singularidade
SINGULARES X COLETIVOS
Classificação dos bens
Existem bens que isoladamente cumprem a sua finalidade. A
contratiu sensu, existem bens que servem a outro.
Trataremos, então, dos bens reciprocamente considerados,
que podem ser principais ou acessórios.

)
Quanto ao domínio
Bens públicos: bem cujo direito real de propriedade
é titularizado por pessoas jurídicas de direito público.
Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Bens particulares: bem cujo direito real de
propriedade é titularizado por pessoa natural, pessoa
jurídica de direito privado ou ente despersonalizado.
Bens públicos
Conceito: são os do domínio nacional pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público interno (art. 98 do
Código Civil)
Caracteres: inalienabilidade* (art. 100 do Código Civil),
imprescritibilidade (art. 91, parágrafo único, da CF) e
impenhorabilidade.
*apenas os bens de uso comum do povo e bens de uso especial, enquanto conservarem
a sua qualificação (arts. 100 e 101 do Código Civil).
Bens públicos
Espécies:
◦ de uso comum do povo: podem ser usados
por todos, indistintamente, tais como rios,
mares, estradas, ruas e praças.
◦ de uso especial: edifícios ou terrenos
destinados ao serviço ou estabelecimento da
administração federal, estadual, territorial ou
municipal, inclusive de suas autarquias.
◦ dominicais: constituem o patrimônio das
pessoas jurídicas de direito público, como
objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma
dessas entidades. São alienáveis.
Bem de família
O bem de família é o imóvel residencial, urbano ou rural, próprio da
entidade familiar, e/ou móveis da residência, impenhoráveis por
determinação legal.
◦ Bem de família voluntário ou convencional: pode ser instituído mediante
escritura pública ou testamento, desde que não ultrapasse um terço do
seu patrimônio líquido.
◦ Bem de família legal ou obrigatório: determina a impenhorabilidade do
imóvel residencial, independentemente da instituição do bem de família
convencional.
O bem de família legal é
(im)penhorável?
A impenhorabilidade do bem de família legal é oponível em qualquer
processo de execução civil, salvo:
◦ Em caso de crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
◦ Créditos decorrentes da pensão alimentícia;
◦ Cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do
imóvel familiar;
◦ Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar;
◦ Por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
◦ Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
O bem de família legal é
(im)penhorável?
UM POUCO DE JURISPRUDÊNCIA

É válida a penhora do bem de família de fiador apontado em contrato


de locação de imóvel, seja residencial, seja comercial, nos termos do
inciso VII, do art. 3º da Lei nº 8.009/1990.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.822.040-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,


julgado em 08/06/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1091) (Info 740).
Fatos
Jurídicos
O que é fato jurídico?
Fato jurídico é todo acontecimento da vida que tenha relevância
para o mundo do direito, em razão da aptidão para criar,
modificar, conservar, transferir ou extinguir direitos ou relações
jurídicas.
Fato material (fato ajurídico), em sentido oposto, é aquele que
não tem relevância para o direito. Exemplo: tempestade no meio
do oceano que não atinge nenhum bem e nenhuma pessoa.
Classificação dos fatos jurídicos
FATO NATURAL
ou FATO JURÍDICO
FATO JURÍDICO STRICTO SENSU
ou FATO JURÍDICO
LATO SENSU FATO HUMANO
ou ATO JURÍDICO
LATO SENSU
Classificação dos fatos jurídicos

ORDINÁRIO

FATO JURÍDICO ou FATO NATURAL ou Decurso do tempo e causa natural:


maioridade, nascimento, morte.
FATO JURÍDICO FATO JURÍDICO
LATO SENSU STRICTO SENSU
Ocorre quando o fato envolve EXTRAORDINÁRIO
acontecimentos da natureza,
independentemente da vontade
humana. Acontecimento imprevisível ou
inevitável: catástrofe natural, tsunami.
Classificação dos fatos jurídicos
MERAMENTE LÍCITO
ou ATO JURÍDICO
STRICTO SENSU

Conteúdo e efeitos
expressamente previstos em lei:
LÍCITO adoção de uma criança.
FATO JURÍDICO ou FATO HUMANO ou
FATO JURÍDICO ATO JURÍDICO NEGÓCIO JURÍDICO
LATO SENSU LATO SENSU
ILÍCITO
Manifestação de uma Conteúdo e efeitos estipulados
vontade humana pelas partes, desde que não
contrariem o ordenamento
jurídico: compra e venda.
Classificação dos fatos jurídicos
O que é ato meramente lícito?
Ato meramente lícito (ato jurídico stricto sensu) é aquele
configurado a partir da manifestação da vontade humana, mas
cujos efeitos estão todos previstos em lei, isto é,
predeterminados pela norma.
O agente manifesta, mas não delibera sua vontade (não há plena
autonomia de vontade). Exemplo: reconhecimento voluntário de
paternidade.
Classificação dos fatos jurídicos
O que é negócio jurídico?
Categoria de ato jurídico lícito, por meio do qual o agente
manifesta a sua vontade e delibera os efeitos dela
decorrentes (eficácia ex voluntate). Trata-se da principal
forma de manifestação da autonomia privada.
Exemplos: contratos, testamento, casamento e promessa de
recompensa.
Classificação dos fatos jurídicos
ORDINÁRIO
FATO NATURAL ou
FATO JURÍDICO
STRICTO SENSU
EXTRAORDINÁRIO

FATO JURÍDICO ou
FATO JURÍDICO MERAMENTE LÍCITO ou
LATO SENSU ATO JURÍDICO
STRICTO SENSU
LÍCITO
FATO HUMANO ou
ATO JURÍDICO NEGÓCIO JURÍDICO
LATO SENSU
ILÍCITO
Classificação dos fatos jurídicos
ORDINÁRIO
FATO NATURAL ou
FATO JURÍDICO
STRICTO SENSU
EXTRAORDINÁRIO

FATO JURÍDICO ou
ATO-FATO
FATO JURÍDICO MERAMENTE LÍCITO ou
JURÍDICO
LATO SENSU ATO JURÍDICO
STRICTO SENSU
LÍCITO
FATO HUMANO ou
ATO JURÍDICO NEGÓCIO JURÍDICO
LATO SENSU
ILÍCITO
Classificação dos fatos jurídicos
O que é ato-fato jurídico?
Decorre de um comportamento humano praticado sem consciência e
voluntariedade do agente, cujos efeitos estão previstos em lei.
Ato-fato jurídico é o acontecimento decorrente da atuação humana,
mas cuja intenção é abstraída pela norma jurídica, não importando se
o agente queria ou não praticá-lo.
Exemplos: compra de pequeno valor realizada por absolutamente
incapaz, achado de tesouro.
Classificação dos fatos jurídicos
ORDINÁRIO
FATO NATURAL ou
FATO JURÍDICO
STRICTO SENSU
EXTRAORDINÁRIO

FATO JURÍDICO ou
ATO-FATO
FATO JURÍDICO MERAMENTE LÍCITO ou
JURÍDICO
LATO SENSU ATO JURÍDICO
STRICTO SENSU
LÍCITO
FATO HUMANO ou
ATO JURÍDICO NEGÓCIO JURÍDICO
LATO SENSU
ILÍCITO
Negócio
Jurídico
Classificação dos negócios jurídicos
Neste momento, o que nos interessa são os negócios jurídicos.
Os negócios jurídicos ocorrem quando a manifestação de
vontade das partes decorre da composição de interesses, e cujos
efeitos decorrem do que as partes estipularam, desde que não
contrariem o ordenamento jurídico.
Revela-se, assim, imprescindível classificar os negócios jurídicos.
Quanto às vantagens patrimoniais
A) Gratuito: Se perfaz como ato de liberalidade, em que o proveito econômico se dá em
benefício de apenas um dos agentes. Exemplo: doação pura e simples.

B) Oneroso: Negócio jurídico em que ambas as partes auferem vantagens e sofrem sacrifícios
patrimoniais. Existe prestação e contraprestação, sacrifícios e benefícios recíprocos.
Exemplos: contratos de compra e venda, locação e empreitada.

C) Neutro: É o negócio jurídico que não pode ser classificado como gratuito ou oneroso,
tendo em vista que não possui caráter patrimonial. Exemplos: instituição de bem de família
voluntário, cláusula de incomunicabilidade, inalienabilidade.

D) Bifronte: Aquele que pode ser gratuito ou oneroso a depender vontade das partes. O tipo
de negócio jurídico, por si só, não é capaz de revelar a sua gratuidade ou onerosidade, mas
tão só a vontade das partes concretamente manifestadas. Exemplos: mandato, mútuo e
depósito.
Quanto aos efeitos temporais ou ao
momento de produção dos efeitos
A) Inter vivos: Negócio jurídico destinado a produzir efeitos
com os interessados em vida. Exemplos: compra e venda,
promessa de recompensa, locação, contratos em geral.
B) Mortis causa: Negócio jurídico cujos efeitos serão
produzidos apenas após a morte de determinada pessoa.
Exemplos: testamento, codicilo e doação estipulada em
pacto antenupcial para depois da morte do doador.
Quanto ao modo de existência ou
à independência
A) Principal: Negócio jurídico que existe em si mesmo e
que, por isso, não possui qualquer relação de dependência
para com outro pacto. Exemplos: compra e venda, permuta,
locação.
B) Acessório: Aquele cuja existência e validade depende de
um outro negócio, chamado principal. Exemplos: fiança,
cláusula penal, pacto antenupcial.
Quanto ao número de declarantes ou
às manifestações de vontade
A) Unilateral: Considera-se negócio jurídico unilateral aquele
em que a declaração de vontade de uma só pessoa é suficiente
para o seu aperfeiçoamento. Exemplos: testamento, codicilo,
promessa de recompensa, instituição de fundação, renúncia de
um crédito.
◦ Unilateral receptício: A vontade do agente deve ser conhecida pelo
destinatário para que produza os devidos efeitos. Exemplos: promessa de
recompensa, revogação de mandato, denúncia.
◦ Unilateral não receptício: Aquele em que o conhecimento do destinatário é
irrelevante. Exemplos: testamento, renúncia de crédito, confissão de
dívida.
Quanto ao número de declarantes ou
às manifestações de vontade
B) Bilateral: Aquele que se aperfeiçoa com duas
manifestações de vontade coincidentes sobre o objeto, o
que chamamos de acordo de vontades ou consentimento
mútuo.
◦ Bilateral simples: apesar da presença de dois sujeitos, apenas
um deles assume obrigações. Exemplos: doação, comodato,
mútuo.
◦ Bilateral sinalagmático: aquele em há reciprocidade de
obrigações, existe prestação e contraprestação. Exemplos:
compra e venda, locação, permuta.
Quanto ao número de declarantes ou
às manifestações de vontade
C) Plurilateral: Negócio jurídico em que há mais de
duas declarações de vontade com a mesma
finalidade e interesse. Exemplos: contrato social,
consórcios.
Quanto às formalidades
A) Informal (não solene): É o negócio jurídico de forma
livre. Não se exige qualquer formalidade, constituindo-se
pela simples manifestação de vontade dos contratantes.
B) Formal (solene): aquele que deve observar forma
prescrita em lei, sob pena de invalidade. Exemplo: negócios
jurídicos de alienação de imóvel com valor superior a trinta
salários mínimos (art. 108 do Código Civil).
Quanto à pessoalidade ou às condições
pessoais especiais dos negociantes
A) Pessoal: O negócio jurídico pessoal (personalíssimo ou intuitu
personae) é aquele em que a pessoa do contratante é elemento
indispensável à sua celebração. Não autoriza a modificação do sujeito,
seja por ato inter vivos ou causa mortis. Exemplo: fiança.

B) Impessoal: Negócio jurídico em que a pessoa do negociante não é


relevante para a sua formação. As partes unem-se em razão do objeto
que está sendo contratado e não em razão do sujeito com quem estão
contratando. Exemplo: compra e venda, locação e depósito.
Quanto ao aperfeiçoamento
A) Consensual: Que se aperfeiçoa pela simples manifestação de
vontade das partes. Existem e são válidos no exato momento em
que as partes entram em consenso, o que ocorre com a
aceitação da proposta. Exemplos: compra e venda, doação,
locação e mandato.
B) Real: Aquele em que se aperfeiçoa com a entrega da coisa
(traditio rei) que lhe serve de objeto, não sendo suficiente
apenas a manifestação de vontade. Exemplos: comodato, mútuo
e depósito.
Quanto ao momento de execução
A) Execução instantânea: Aquele em que a prestação deve ser
cumprida por meio de um único ato (de uma só vez) realizado
imediatamente após sua constituição. Exemplo: compra e venda à
vista.
B) Execução diferida: Cuja prestação é cumprida em um único ato (de
uma só vez), contudo este ato é realizado apenas em momento futuro.
Exemplo: cheque pós-datado, entrega programada.
C) Trato sucessivo: Negócio jurídico de execução periódica ou
continuada, cujas prestações são cumpridas em atos reiterados, em
parcelas contínuas. Exemplo: locação.
Quanto à tipicidade
A) Típico: Aquele que encontra expressa previsão na lei. São espécies
negociais com nomen iuris, ou seja, possuem disciplina e regulamentação
legal. Exemplos: contratos de compra e venda, troca, doação, locação.

B) Atípico: Negócio jurídico que não possui expressa previsão legal. Não são
disciplinados ou regulamentados pelo Código Civil ou lei extravagante.
Exemplos: contratos de publicidade, hospedagem, mediação, cessão de
clientela, estacionamento.

Art. 425 do Código Civil: “É lícito às partes estipular contratos atípicos,


observadas as normas gerais fixadas neste Código”.

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