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DIREITO CIVIL

PARTE GERAL

Prof. Cláudio José Reis


aula 3 • 15.03.2023
Retomando...
Conceitos importantes
Positivação de regras do Direito Civil na Constituição Federal
Constitucionalização do Direito Civil
Eficácia horizontal dos direitos fundamentais
(ou Direito Civil Constitucional)
Despatrimonialização e repersonalização do Direito Civil

Recivilização Constitucional do Direito Civil

Corolários da boa-fé objetiva


Proibição do comportamento contraditório ou venire contra factum proprium
Supressio e Surrectio
Tu Quoque
Duty to mitigate the loss
Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB)
• Decreto-Lei nº 4.657/1942
• A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, outrora Lei de
Introdução ao Código Civil Brasileiro, é uma das leis mais importantes
do nosso ordenamento jurídico, porque dispõe sobre regras gerais
que são utilizadas em todos os ramos do Direito, de forma subsidiária.
• Assim, a LINDB traz regras de interpretação de leis, preenchimento de
lacunas de lei, versa sobre a entrada em vigor de normas etc.
• É por ser aplicável a todas as leis, respeitadas as normas especiais,
que a LINDB recebe a alcunha de lex legum (“lei das leis”).
Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB)
A LINDB pode ser divida em três partes:
• PARTE 1 (arts. 1º a 6º): normas gerais sobre vigência,
eficácia, interpretação, aplicação e integração da lei
• PARTE 2 (arts. 7º a 19): direito internacional privado
• PARTE 3 (arts. 20 a 30): princípios de direito público
Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB)
PARTE 1 – NORMAS GERAIS
A primeira parte da LINDB possui caráter
interdisciplinar, trata de regras gerais sobre a própria
lei, a qual estabelece alguns parâmetros genéricos
para formação, elaboração, vigência, eficácia,
interpretação, integração e aplicação das leis.
LINDB
• PARTE 2 (arts. 7º a 19): direito internacional privado
• PARTE 3 (arts. 20 a 30): princípios de direito público.
Vigência da lei
Não confundir!

• Validade: é a compatibilidade formal e material de uma lei com a


Constituição Federal.

• Vigência: é o momento em que a norma válida, sob aspecto formal e


material, passa a ter força vinculante, ou seja, torna-se obrigatória.
Vigência da lei
• Uma lei se torna obrigatória a partir da sua vigência e não da sua
publicação.

• Em alguns casos, haverá coincidência entre a publicação e o início da vigência,


como quando há a disposição “Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação”.

• O período entre a publicação e a vigência da lei é chamado de vacatio legis.


• A vacatio legis dependerá da relevância da lei.
• Em geral, leis menos relevantes tendem a produzir efeitos no início da publicação.
Vigência da lei
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

• Se houver previsão, prevalecerá a regra específica. O prazo de 45


dias somente será observado se a lei não dispuser sobre o início da
vigência.
Art. 1º, § 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira,
quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

Obs. Três meses, para fins legais, não são 90 dias!


Vigência da lei
VACATIO LEGIS

• É o período entre a publicação da lei e o início de sua vigência.


• Exemplo: art. 2.044 do Código Civil: “Este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação.”

• Repetindo: A lei se torna obrigatória com a vigência e não com a publicação!

• Com a publicação, a lei já existe, mas não tem força vinculante.

• Como a lei já existe, poderá ser modificada no período de vacatio legis por outra lei.

• É possível que determinada lei no período de vacatio legis venha a ser modificada?
• Sim!
• O prazo para vigência da alteração começará a ser contado a partir da retificação.
• Por outro lado, se a modificação ocorrer quando a lei já estiver em vigor, a alteração será considerada lei nova.
Vigência da lei
• Alteração antes da vigência (revisão da lei no período anterior à vigência, mas
posterior à publicação, a fim de corrigir erros materiais ou falhas na redação): somente a
parte retificada submeter-se-á a um novo período de vacatio legis, voltando a fluir o
prazo da obrigatoriedade apenas para a parte modificada.

Art. 1º, § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a
correr da nova publicação.

• Alteração após a vigência: as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei


nova. Se a lei tiver pouca relevância, entra em vigor na data da sua publicação. Se a lei
tiver relevância e necessitar de um tempo para se tornar conhecida antes de se tornar
obrigatória, haverá um prazo de vacatio legis.

Art. 1º, § 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.


Vigência da lei
• Modo de cômputo do prazo

Art. 8º, § 1º, da Lei Complementar 95/1998: “A contagem do prazo para entrada em
vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data
da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua
consumação integral.”

Conclusão: A data da publicação é considerada o primeiro dia do prazo. Quando o


prazo de vacatio legis for consumado, a vigência iniciará no dia seguinte à
consumação.
Vigência da lei
PRAZO DE VIGÊNCIA
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
• Regra geral: a lei tem vigência por prazo indeterminado;
• Exceção: a lei terá prazo determinado quando for uma lei de vigência temporária.
Nesses casos, a própria lei estabelecerá o prazo de vigência. No entanto, há
determinados casos em que a lei será temporária sem que haja o estabelecimento do
prazo de término, a exemplo das leis orçamentárias.
Princípio da continuidade
De acordo com o princípio da continuidade ou da permanência, a lei permanece em vigor até
que outra a revogue, salvo no caso de lei temporária, que já prevê a sua própria caducidade.
A revogação consiste em fazer cessar a eficácia de uma lei, encerrando a sua vigência.
No caso de leis que dão nova redação a dispositivos legais, há uma revogação do texto
anterior cumulada com a edição de uma nova norma e podem ser divididas:
A) quanto à extensão:
(1) ab-rogação, quando atinge toda a lei, ou seja, todos os seus dispositivos, a exemplo do que
sucedeu com o Código Civil de 1916, que foi ab-rogado pelo Código Civil de 2002;
(2) derrogação, quando atinge apenas alguns artigos da lei, a exemplo das revogações
ocorridas em dispositivos do Código Civil de 2002 pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência,
que, ao modificar apenas alguns artigos do CC, perpetrou uma derrogação.
Princípio da continuidade
B) quanto à forma:

(1) expressa, quando textualmente revogar uma outra norma;

(2) tácita, quando, apesar de seu silêncio, guardar incompatibilidade com outra
norma ou regular inteiramente a matéria dessa outra lei (art. 2º, § 1º, da LINDB).
• É comum haver novas normas que, sem anunciar a revogação expressa, reiteram o texto
de outra norma, caso em que, apesar de a disciplina da matéria ter se mantido, poder-se-á
falar em revogação implícita da norma reproduzida se a matéria das normas for a mesma.
• Há ainda casos de normas que disciplinam o assunto de outra sem reiterar dispositivos,
caso em que também se poderá falar em revogação tácita.
Princípio da vigência sincrônica da lei
A lei entra em vigor simultaneamente em todo o território nacional, trata-se do
princípio da vigência sincrônica da lei, que adota sistema da vigência única, sincrônica ou
simultânea da lei (critério do prazo único).

CURIOSIDADE: Antes da LINDB, de 1942, o art. 2º da antiga Lei de Introdução adotava o


sistema da vigência sucessiva, progressiva ou gradual da lei (critério do prazo
progressivo), de maneira que, salvo disposição diversa, uma nova lei entrava em vigor
em momentos diferentes em cada região do país: (a) 3 dias depois no antigo Distrito
Federal; (b) 15 dias depois no Estado do Rio de Janeiro, que era vizinho do Distrito
Federal; (c) 30 dias depois nos Estados marítimos e em Minas Gerais; e (d) 100 dias
depois nos demais locais.
Vigência da lei
Art. 2º, § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.

Art. 2ª, § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência.

Repristinação

É a possibilidade de lei revogada ter os efeitos restaurados porque a lei que a revogou perdeu vigência.

EXEMPLO: lei “B” revoga a lei “A” e, posteriormente, a lei “B” (revogadora), perde vigência, porque foi
revogada expressamente pela lei “C”. A lei “A”, que havia sido revogada pela lei “B” volta a produzir efeitos?

Como regra, nossa legislação não admite a repristinação. De acordo com a LINDB, essa regra possui uma
exceção, que é quando a própria lei dispor que haverá repristinação. É preciso, portanto, uma norma
expressa que “ressuscita” a lei.
Vigência da lei
Obs. Efeito Repristinatório

• Situação diversa ocorre quando é declarada a inconstitucionalidade da lei revogadora.

• Imagine: a lei “A” é revogada pela lei “B”, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) declara a
inconstitucionalidade da lei “B”, que é a revogadora. Nesse caso, a lei “A”, que havia
sido revogada, volta a ter efeitos. Nesse caso, haveria um efeito repristinatório em razão
de uma declaração de inconstitucionalidade da lei revogadora, considerada nula. Logo, a
lei que teria sido revogada pela lei declarada inconstitucional nunca deixou de ter
vigência.

• Há, porém, divergência acerca do entendimento.


Princípio da obrigatoriedade da lei
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

• O princípio da obrigatoriedade da lei, em suma, estabelece que há uma presunção de que todos
conhecem a lei.

• O art. 3º da LINDB ajuda a justificar o período de vacatio legis.

• Essa presunção de ciência da lei é relativa, pois admite prova em contrário a depender do caso
concreto e de previsão legal. Por exemplo, o art. 139, inciso III, do Código Civil admite a anulação
do negócio jurídico por erro de direito, flexibilizando o princípio da obrigatoriedade da lei.

• Há três teorias que tentam explicar o princípio da obrigatoriedade da lei:


• Tese da ficção jurídica
• Tese da presunção absoluta
• Tese da necessidade social
Formas de Integração da Lei
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

As formas de integração servem como suporte para a colmatação das normas jurídicas em
situações de lacunas, de omissão da lei.

• ANALOGIA → Aplicação de uma norma jurídica ou de um conjunto de normas semelhantes


para solucionar um caso concreto não previsto na lei.

• COSTUMES → É a prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato percebida


como obrigatória.

• PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO → Ideias fundamentais, orientações, guias teóricos que


formam a base do direito.
Fins sociais, aplicação e interpretação
das normas jurídicas
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
• Quanto ao conflito da lei no tempo, a regra é a irretroatividade, assim aplica-se a lei nova aos
casos pendentes e futuros.
• Nos casos em que há a retroatividade da lei, esta não pode prejudicar:
• ATO JURÍDICO PERFEITO → Já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou.
• DIREITO ADQUIRIDO → Direito que se incorporou ao patrimônio do particular.
• COISA JULGADA → Decisão judicial de que já não caiba recurso.
Conflito das leis no tempo e
eficácia da lei no espaço
Conflito das leis no tempo: A ultratividade é o fenômeno por meio do qual
uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo após a sua revogação. Em regra,
não é admitida em nosso ordenamento.
Conflito das leis no espaço: o Brasil adota o princípio da territorialidade
moderada, uma vez que a LINDB também admite regras de
extraterritorialidade (arts. 7º, 10, 12 e 17). Ou seja, em regra, a norma tem
aplicação dentro do território brasileiro e, como exceção, admite-se a
aplicação da lei estrangeira ao território nacional ou, ainda, a lei brasileira no
exterior, desde que admitida.
Fontes do Direito
• Fontes Formais:
• Primárias: Leis
• Secundárias: Analogia, Costumes e Princípios Gerais do Direito

• Fontes Informais:
• Doutrina
• Jurisprudência
• Equidade
Verificação de
aprendizagem

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