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DIREITO CIVIL

LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

DIREITO CIVIL
LINDB, INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL,
PARTE GERAL (PARTE I)

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Sumário

Sumário .................................................................................................................................................... 3

1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO .................................................................... 5


1.1 Vigência, aplicação, obrigatoriedade, interpretação e integração das leis .................................................. 5
1.2 Antinomias .................................................................................................................................................. 10
1.3 Aplicação temporal das normas.................................................................................................................. 11
1.4. Revogação das leis ..................................................................................................................................... 12
1.5. Aplicação do direito público....................................................................................................................... 16

2. INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL ...........................................................................................................21


2.1 Valores que permeiam o Código Civil de 2002 ........................................................................................... 21
2.2 Constitucionalização do Direito Civil X Publicização do Direito Civil .......................................................... 24

3. CAPACIDADE E PERSONALIDADE, EMANCIPAÇÃO, MORTE PRESUMIDA E AUSÊNCIA..............................25


3.1. Capacidade e Personalidade ...................................................................................................................... 25
3.2 Incapacidade ............................................................................................................................................... 27
3.3 Emancipação ............................................................................................................................................... 31

4. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ...................................................................................................... 32


4.1 Características dos Direitos da Personalidade ............................................................................................ 34
4.2 Classificação dos Direitos da Personalidade ............................................................................................... 36
4.3 MORTE PRESUMIDA E AUSÊNCIA ............................................................................................................... 52

5. DAS PESSOAS JURÍDICAS ...................................................................................................................... 54


5.1 Breves Considerações ................................................................................................................................. 54
5.2 Teorias que explicam a existência da Pessoa Jurídica ................................................................................ 56
5.3 Lei n. 13.874 de 2019 (Liberdade Econômica): a Desconsideração da Personalidade Jurídica e a Vigência
do Novo Diploma .............................................................................................................................................. 57
5.4 Administração da Pessoa Jurídica ............................................................................................................... 66

6. DO DOMICÍLIO ..................................................................................................................................... 66
6.1 Espécies de domicílio .................................................................................................................................. 67

7. DOS BENS ............................................................................................................................................ 67


7.1 Classificação ................................................................................................................................................ 67
7.2. Bens Acessórios (bens reciprocamente considerados).............................................................................. 72
7.3 Bem de família ............................................................................................................................................ 75
TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO...................................................................................................................... 82
QUESTÕES PROPOSTAS ..................................................................................................................................... 91

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ARTIGOS CORRESPONDENTES

✔ Leitura da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB

✔ Leitura do Código Civil:

- Art. 1º ao 10(Personalidade e capacidade)

- Art. 11 a 21 (Direitos da personalidade – DECOREM!).

- Art. 22 a 39 (Ausência):

Obs. Os artigos mais importantes de Ausência são 25, 26, 27, 28 caput, 28 parágrafo 2º,
30, 33, 34, 37, 38 e 39 (não costuma cair muito)

- Art. 40 a 45, 47 a 52, 53, 55 a 57, 61 e 62 a 69 (Pessoas jurídicas)

Obs. Arts. 48-A, 49, 49-A e 50 (Novidade Legislativa)

- Art. 70 a 78 (Domicílio)

- Art. 79 a 103 (Bens)

1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

A LINDB disciplina o âmbito de aplicação das normas jurídicas, e possui natureza de norma de
sobredireito ou de apoio, consistente no conjunto de regras cujo objetivo é disciplinar as próprias
normas jurídicas, isto é, disciplina a emissão e aplicação de outras normas jurídicas (postulados
normativos).

1.1 Vigência, aplicação, obrigatoriedade, interpretação e integração das leis

1.1.1 Vigência

É critério puramente temporal da norma. Trata-se do lapso temporal em que a norma tem força
obrigatória. O início da vigência marca o começo de sua exigibilidade. A lei passa por três fases
fundamentais para que tenha validade e eficácia: elaboração, promulgação e publicação. Depois vem
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o prazo de vacância, geralmente previsto na própria norma.


VACATIO LEGIS: É o período entre a publicação e o início de vigência da norma. Pode ser
definido como o tempo necessário para que o texto normativo se torne efetivamente conhecido, e
variará de acordo com a repercussão social da matéria.

Decreto-Lei nº 4.657/42 (LINDB): Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei


começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.

§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando


admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

QUESTÃO DE PROVA:1

Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi publicada
oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo de sua vigência.
Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação em que as partes
discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das referidas normas. Tendo como
referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de Introdução às Normas
do Direito brasileiro.

“Apesar de a nova lei ter revogado integralmente a anterior, ela não se aplica ao contrato objeto da
ação”.

1.1.2 Obrigatoriedade
Uma vez publicada a lei, presume-se o conhecimento geral, razão pela qual ninguém pode
descumpri-la alegando que não a conhece:
Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

A Lei, como fonte primária do Direito brasileiro, tem as seguintes características básicas:
● Generalidade - a norma jurídica dirige-se a todos os cidadãos, sem qualquer distinção,
tendo eficácia erga omnes.

1 Resposta: Correto. No momento do ajuizamento da ação, a nova lei já estava em vigor. Conforme prevê o art. 6º da
LINDB, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
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● Imperatividade - a norma jurídica é um imperativo, impondo deveres e condutas para


os membros da coletividade.
● Permanência - a lei perdura até que seja revogada por outra ou perca a eficácia.
● Competência - a norma, para valer contra todos, deve emanar de autoridade
competente, com o respeito ao processo de elaboração.
● Autorizante - o conceito contemporâneo de norma jurídica traz a ideia de uma
autorização (a norma autoriza ou não autoriza determinada conduta), estando superada a tese
de que não há norma sem sanção (Hans Kelsen).

1.1.3 Interpretação
“Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica” (Maria Helena Diniz).

I. Classificação quanto ao agente:

• AUTÊNTICA OU PÚBLICA: Apresentada pela via legislativa;


• JUDICIAL: Realizada pelos juízes e tribunais na atividade judicante, ao aplicar a lei na solução
aos casos em julgamento;
• DOUTRINÁRIA: Proveniente das obras de juristas, a partir de trabalhos teóricos ou pareceres;
• ADMINISTRATIVA: Manifestada pelos órgãos da administração pública, ao editar atos
normativos ou julgar processo administrativo.

II. Classificação quanto à natureza:

LITERAL OU É a extração do sentido da norma através das regras linguísticas;


GRAMATICAL

É a compreensão da norma por meio de raciocínios lógicos, analisando as


LÓGICA OU
leis e comparando-as com outros trechos, de forma a alcançar a perfeita
RACIONAL
compatibilidade;

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Proveniente da consideração do sistema em que se encontra a norma,


SISTEMÁTICA
relacionando-a com outras concernentes ao mesmo objeto;

HISTÓRICA Decorrente da análise do processo histórico em que surgiu a lei;

TELEOLÓGICA É a compreensão da norma com o intuito de adaptar a sua finalidade às


OBJETIVA OU SOCIOLÓGICA novas exigências sociais. Possui substrato legal, o art. 5º da LINDB.

III. Classificação quanto à extensão:

EXTENSIVA OU Forma de interpretação que amplia o sentido da norma além do que indicam
AMPLIATIVA os seus termos;

Redução da amplitude do preceito, com o objetivo de dar àquela norma


RESTRITIVA
aplicação razoável e justa;

Extração do sentido da lei sem a necessidade de expansão ou retração do


DECLARATIVA
alcance do enunciado normativo.

1.1.4 Integração
Utilização de mecanismos para suprir as lacunas da lei, quando inexiste norma aplicável
diretamente ao caso concreto. De acordo com os arts. 4º da LINDB, são formas de integração da
lei:
● ANALOGIA;
● COSTUMES;
● PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.

Artigo 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

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Importante ressaltar que a EQUIDADE não se encontra nestes artigos, mas alguns
doutrinadores, como Maria Helena Diniz, a inclui nas formas de integração da lei. No Direito Tributário,
é expressa a equidade como forma de integração da lei no art. 108, inciso IV, do CTN.

ATENÇÃO: A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara. Em contrapartida,
a integração depende da existência de LACUNAS que, por sua vez, podem ser:
● AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma hipótese.
● NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre o assunto.

Silêncio Eloquente: Opção do legislador em excluir, intencionalmente, certo fato do comando


legal (DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008). É o contrário de lacuna
da lei, pois nessas hipóteses não se pode fazer analogia (RE 130522, DJ 28.6.1991, pág. 529)

1.1.4.1 Analogia

É a utilização de uma norma próxima ou semelhante para regular uma situação que não foi
regulamentada pelo direito. Pode ser dividida em:
● Analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei;
● Analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso concreto.

ATENÇÃO: ANALOGIA X INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - Na analogia rompe-se com os limites do


que está previsto na norma, havendo integração da norma jurídica. Na interpretação extensiva apenas
amplia-se o seu sentido.

1.1.4.2 Costumes

São as práticas e usos reiterados, de conteúdo lícito e com relevância jurídica. Podem ser:
● Costume segundo a lei (secundum legem: Incide quando há referência expressa ao costume
no texto legal).
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● Costume na falta da lei (praeter legem): É aplicado quando a lei for omissa, sendo denominado
de costume integrativo.
● Costume contra a lei (contra legem): É a aplicação do costume contraria a lei. Nesse caso, há
abuso de direito.

1.1.4.3 Princípios gerais do Direito

São as ideias centrais do sistema, estabelecendo suas diretrizes e dando um conteúdo


harmonioso, lógico e racional.
Obs. O CC/02 consagra 3 princípios fundamentais, conforme se extrai da sua exposição de
motivos:
- Princípio da Eticidade: trata-se da valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquele
que existe no plano da conduta de lealdade das partes (boa-fé objetiva). Pelo CC, a boa-fé objetiva tem
função de interpretação dos negócios jurídicos em geral; serve como controle das condutas humanas,
eis que sua violação pode gerar abuso de direito (ilícito); bem como tem a função de integrar todas as
fases pelas quais passa o contrato.
- Princípio da Sociabilidade: um dos escopos da nova codificação foi o de superar o caráter
individualista da codificação anterior. Assim, todas as categorias têm função social: o contrato, a
empresa, a propriedade, a posse, a família, a responsabilidade civil.
- Princípio da Operabilidade: tem o sentido de simplicidade e de concretude/efetividade.

1.2 Antinomias

É o choque de duas normas jurídicas válidas emanadas de autoridade competente. Para a


solução desses conflitos, utilizam-se três critérios:
● Cronológico: norma posterior prevalece sobre norma anterior.
● Especialidade: norma especial prevalece sobre norma geral.
● Hierárquico: norma superior prevalece sobre norma inferior.

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Quanto aos critérios de colisão, as antinomias podem ser classificas em:


● De primeiro grau: o choque envolve apenas um dos critérios de solução de conflito;
● De segundo grau: o choque envolve dois critérios de solução de conflito.

Já quanto à possibilidade ou não de solução do conflito, classificam-se em:


● Aparente: quando, de acordo com os três critérios de solução, há possibilidade de resolução
do conflito;
● Real: não se consegue resolver o conflito.

ATENÇÃO:

▪ Se houver conflitos de segundo grau envolvendo os critérios cronológico e da especialidade:


prevalecerá o da especialidade – Conflito aparente;

▪ Se houver conflitos entre os critérios cronológico e hierárquico: prevalecerá o hierárquico –


Conflito aparente;

▪ Se houver conflito de segundo grau, envolvendo os critérios da especialidade e hierárquico: haverá


conflito real, pois a doutrina aponta o critério hierárquico como mais forte e, ao seu turno, o
critério da especialidade está na CF/88 (princípio da isonomia). No caso de conflito real Maria
Helena aponta duas soluções:
o Legislativa: A edição de uma terceira norma para estabelecer qual prevalecerá;
o Judicial: O aplicador do direito escolherá uma das duas normas, tendo como base os art. 4º e 5º
da LINDB – analogia, princípios gerais do direito e função social da norma.

1.3 Aplicação temporal das normas

A irretroatividade é a regra prevista na LINDB. No entanto, para ser possível, não pode
prejudicar direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. Adota-se a ideia do tempus regit
actum, ou seja, a lei nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vigência. Em consequência, os

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fatos anteriores à vigência da lei nova regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram
praticados.
Porém, podem existir hipóteses que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei
nova, para alcançar fatos pretéritos ou os seus efeitos. Assim, a doutrina faz uma distinção entre
retroatividade máxima, média e mínima:

● Retroatividade máxima ou restitutória: a lei alcança a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou


os fatos jurídicos consumados
● Retroatividade média: a lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos verificados antes
dela. A lei nova atinge os direitos exigíveis, mas não realizados antes de sua vigência;
● Retroatividade mínima, temperada ou mitigada: a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos
anteriores verificados após a data em que ela entra em vigor. Logo, alcança apenas as
prestações futuras de negócios firmados antes do advento de nova lei.

1.4. Revogação das leis

É a perda de vigência de uma lei em razão do surgimento de outra lei no ordenamento,


incompatível com a primeira. A revogação pode ser:

● Total (abrogação);
● Parcial (derrogação);
● Expressa: Expressamente exclui lei anterior do ordenamento jurídico;
● Tácita: A nova lei é absolutamente incompatível com a anterior;
● Global: A nova lei disciplina totalmente a matéria disciplinada pela lei anterior;

O QUE É REPRISTINAÇÃO? É POSSÍVEL SUA OCORRÊNCIA?


Repristinação é a restauração da vigência de uma lei anteriormente revogada em virtude da revogação
da lei revogadora. Segundo o art. 2º, §3º, da LINDB, salvo disposição em contrário, a lei revogada NÃO
se restaura por ter a lei revogadora perdido sua vigência.

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ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA:


Os artigos 20 até o 30 foram inseridos pela LEI FEDERAL Nº 13.655/2018

LEI Nº 13.655, DE 25 DE ABRIL DE 2018.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

Art. 1º O Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro), passa a vigorar acrescido dos seguintes artigos:

“Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da


invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das
possíveis alternativas.”

“Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.”

“Art.22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as


dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.

O art. 22 insere o que a doutrina denomina de Primado da Realidade.

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou


norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os


danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes
e os antecedentes do agente.

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§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato.”

“Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou


orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o
novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e
eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.

Parágrafo único. (VETADO).”

“Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em


atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.”

“Art. 25. (VETADO).”

“Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do
direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após
oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões
de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação
aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais;

II – (VETADO);

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito


reconhecidos por orientação geral;

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções
aplicáveis em caso de descumprimento.

§ 2º (VETADO).”

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“Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou
da conduta dos envolvidos.

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre
os envolvidos.”

“Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso
de dolo ou erro grosseiro.

ATENÇÃO!!!! O ARTIGO NÃO MENCIONA “CULPA”.

§ 1º (VETADO).

§ 2º (VETADO).

§ 3º (VETADO).”

“Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa,
salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação
de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
Vigência

§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da


consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.

§ 2º (VETADO).”

“Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das
normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.”

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, salvo quanto ao art. 29 acrescido à Lei nº
4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), pelo art. 1º
desta Lei, que entrará em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.

Brasília, 25 de abril de 2018; 197º da Independência e 130o da República.

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MICHEL TEMER

1.5. Aplicação do direito público

A Lei nº 13.655/2018 incluiu diversos artigos na Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro que cuidam de regras sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do
direito público. São normas aplicadas nas esferas administrativa (como nos processos
administrativos), controladora (como o Tribunal de Contas) e judicial (como nos processos que
tramitam perante o Poder Judiciário).
Nesses âmbitos, o art. 20 da LINDB prevê que não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão, sendo que a motivação
demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação do ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
Desse modo, a decisão administrativa, judicial ou do órgão controlador pode ser
fundamentada em valores jurídicos abstratos, como os princípios constitucionais da isonomia e da
dignidade da pessoa humana, porém o julgador deve esclarecer suas considerações quanto às
consequências práticas da decisão, como, por exemplo, as repercussões econômicas da medida.
Constata-se, ainda, que a norma legal trata expressamente dos corolários do princípio da
proporcionalidade, quais sejam a necessidade e adequação. Assim, a medida deve ser necessária,
não excedendo os limites indispensáveis à conservação do direito, e adequada, mostrando-se
efetivamente apta a alcançar os objetivos pretendidos.
O art. 21 dispõe que:

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e
administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo
proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo
impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades
do caso, sejam anormais ou excessivos.
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Busca-se, assim, uma reflexão aprofundada do julgador sobre as consequências jurídicas e


administrativas de sua decisão, que - ao invalidar ato, contratos, ajuste, processo ou norma
administrativa – atingirá, direta ou indiretamente, a coletividade. Nesse sentido, sendo possível a
regularização, a decisão deverá indicar os meios para tanto, de modo proporcional e equânime e
sem prejuízo aos interesses gerais.
No tocante à interpretação das normas sobre gestão pública, o art. 22 estabelece que serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas
a seu cargo, sem prejuízo dos administrados. Dessa maneira, as normas de gestão pública devem ser
interpretadas considerando as peculiaridades de cada ente público, especialmente, por exemplo, dos
Municípios – na maioria das vezes menores e localizados no interior do Estado – onde a estrutura
administrativa e técnica é precária (o art. 22 insere o que a doutrina denomina de Primado da
Realidade).
Além disso, os parágrafos do art. 22 dispõem que, em decisão sobre regularidade de conduta
ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as
circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente. Na
aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos
que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os
antecedentes do agente, sendo que as sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na
dosimetria das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
O art. 23 prevê uma espécie de modulação de efeitos ao prescrever que a decisão
administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre
norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito,
deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento
de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses
gerais.
Dispõe o art. 24 que:

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Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto


à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da
época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação
geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e
especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

Cuida-se de previsão que busca garantir a segurança jurídica às situações constituídas à luz
de um entendimento geral válido.
O art. 26 estabelece que para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação
contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade
administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta
pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados,
observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
Esse compromisso tem por escopo buscar solução jurídica proporcional, equânime, eficiente
e compatível com os interesses gerais, não podendo conferir desoneração permanente de dever ou
condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral e deverá prever com clareza as
obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de
descumprimento.
Consoante o art. 27:
Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou
judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos
anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as
partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado
compromisso processual entre os envolvidos.

Com relação à responsabilidade civil do agente público, o art. 28 prevê que o mesmo
responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
Ressalta-se, contudo, que essa previsão se afasta da regulamentação constitucional que estabelece
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a responsabilidade do agente público, somente de forma regressiva, quando tiver agido com dolo ou
culpa. Ademais, o Código de Processo Civil (arts. 143, 181, 184 e 187) possui dispositivos específicos
que tratam da responsabilidade dos magistrados e dos membros do Ministério Público, da
Defensoria Pública e da Advocacia Pública, o que afastaria a aplicação do art. 28 da LINDB.
Conforme no site dizerodireito: Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS
24.631/DF (DJ 01/02/2008), existem três espécies de parecer:

FACULTATIVO OBRIGATÓRIO VINCULANTE


O administrador NÃO É O administrador é obrigado a O administrador É obrigado a
obrigado a solicitar o parecer
solicitar o parecer do órgão solicitar o parecer do órgão jurídico.
do órgão jurídico. jurídico.
O administrador pode
O administrador pode O administrador NÃO pode
discordar da conclusão
discordar da conclusão discordar da conclusão exposta pelo
exposta pelo parecer, desde exposta pelo parecer, desde parecer.
que o faça
que o faça Ou o administrador decide nos
fundamentadamente. fundamentadamente com termos da conclusão do parecer,
base em um novo parecer. ou, então, não decide.
Em regra, o parecerista não Em regra, o parecerista não Há uma partilha do poder de
tem responsabilidade pelo tem responsabilidade pelo decisão entre o administrador e o
ato administrativo. ato administrativo. parecerista, já que a decisão do
administrador deve ser de acordo
Contudo, o parecerista pode Contudo, o parecerista pode com o parecer.
ser responsabilizado se ficar ser responsabilizado se ficar
configurada a existência de configurada a existência de Logo, o parecerista responde
culpa ou erro grosseiro. culpa ou erro grosseiro. solidariamente com o
administrador pela prática do ato,
não sendo necessário demonstrar
culpa ou erro grosseiro.

Ressalta-se, ainda, a MP 966/2020 que dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos


por atos relacionados com a pandemia da covid-19. O caput do art. 1º da MP prevê o seguinte (quadro
retirado do site dizerodireito):

REGIME DE RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS NAS ESFERAS CIVIL E


ADMINISTRATIVA POR MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19
Os agentes I - Enfrentamento da emergência de Se tiverem
19
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

públicos somente saúde pública decorrente da covid-19. Ex: agido ou se omitido


poderão ser dispensa de licitação para compra de com:
responsabilizados respiradores. • DOLO ou
pela prática de atos II - Combate aos efeitos econômicos •ERRO GROSSEIRO.
relacionados com e sociais decorrentes da covid-19. Ex:
as medidas de: concessão de anistia ou remissão para
empresários.

Cabe esclarecer que a doutrina divide a culpa em três subespécies: culpa grave, leve e levíssima.
O erro grosseiro é sinônimo de culpa grave. Assim, é como se o art. 1º da MP dissesse: o agente público
somente responde em caso de dolo ou culpa grave.
Esse art. 1º se aproxima daquilo que prevê o art. 28 da LINDB:

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou


opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº
13.655/2018)

CESPE/2020 - O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro. Item correto.

O art. 29 estabelece que em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por
autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta
pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será
considerada na decisão. A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais
condições da consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.
Ressalva-se, apenas, que apenas esse dispositivo (art. 29) entrará em vigor após decorridos 180 dias
de sua publicação oficial, que ocorreu em 25/04/2018.

Por fim, o art. 30 dispõe que as autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança
jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e

20
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

respostas a consultas, sendo que esses instrumentos terão caráter vinculante em relação ao órgão
ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.

Sugerimos também a leitura dos comentários do Dizer o Direito a respeito da Lei nº 13.655/2018, que
podem ser acessados gratuitamente em http://www.dizerodireito.com.br/2018/04/comentarios-lei-
136552018-que-alterou.html

2. INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL

2.1 Valores que permeiam o Código Civil de 2002

Socialidade; Eticidade; Operabilidade; Sistematicidade.

2.1.1 Socialidade

Segundo apontava o próprio Miguel Reale, um dos escopos da nova codificação foi o de superar
o caráter individualista e egoísta da codificação anterior. Todas as categorias civis têm função social:
o contrato, a empresa, a propriedade, a posse, a família, a responsabilidade civil. Por isso, valores foram
positivados no prestígio à função social do contrato (art. 421) e à natureza social da posse (art. 1.239 e
s.). Neste sentido:

Enunciado 23 CJF/STJ - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art.


421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas
atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses
metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.

2.1.2 Eticidade

Trata-se da valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquela que existe no plano da


conduta e lealdade entre partes; privilegia os critérios ético-jurídicos em detrimento dos critérios
lógico-formais no processo de realização do direito (boa-fé objetiva-art. 113; art. 422 Código Civil). O

21
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

novo Código confere ao juiz não só poder para suprir lacunas, mas também para resolver, onde e
quando previsto, de conformidade com valores éticos. A referência a este princípio pelo legislador
demonstra a sua não aceitação do dogma da plenitude da ordem jurídica, vendo-a como um sistema
aberto, flexível e lacunoso.

2.1.3 Operabilidade

Esse princípio tem dois sentidos:


1. Primeiro o de simplicidade ou facilitação das categorias de direito privado, dos institutos nele
previstos, o que pode ser percebido, por exemplo, pelo tratamento diferenciado da prescrição
e da decadência.
2. Segundo, há o sentido da efetividade ou concretude, o que foi buscado pelo sistema aberto
de cláusulas gerais adotado pela atual codificação (importa na concessão de maiores poderes
hermenêuticos ao magistrado, verificando, no caso concreto, as efetivas necessidades a exigir
a tutela jurisdicional, privilegiando a normatização por meio de cláusulas gerais).
As cláusulas gerais são preceitos subjetivos descritos na lei que serão preenchidos pelo juiz por
meio de princípios, sempre buscando a equidade (ex.: boa-fé objetiva, função social etc.). O sistema
aberto é o que permite a aplicação principiológica para se trazer institutos não previstos na lei. Esse
sistema se contrapõe ao sistema fechado. O atual Código Civil busca valorizar o sistema de cláusulas
gerais.
Isto significa que, cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que não trazem
expressamente uma solução jurídica (consequência). A norma é inteiramente aberta. Uma cláusula
geral, noutras palavras, é um texto normativo que não estabelece "a priori" o significado do termo
(pressuposto), tampouco as consequências jurídicas da norma (consequente). Sua ideia, de acordo com
Fredie Didier Jr., é "estabelecer uma pauta de valores a ser preenchida historicamente de acordo com
as contingências históricas". Um exemplo, citado pelo ilustre processualista, é a cláusula geral do
devido processo legal.

22
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Obs. Denomina-se Conceito Jurídico Indeterminado, quando palavras ou expressões contidas numa
norma são vagas/imprecisas, de modo que a dúvida se encontra no significado das mesmas, e não nas
consequências legais de seu descumprimento. Um grande exemplo de conceito jurídico indeterminado
está no parágrafo único do art. 927 do CC de 2002, que trata da "atividade de risco". Veja que no
exemplo, a dúvida está no significado (conteúdo/pressuposto) de "atividade de risco", e não nas
consequências jurídicas (responsabilidade civil objetiva).2

Como caiu na DPE-ES, 2016 – FCC

Darei apenas um exemplo. Quem é que, no Direito Civil brasileiro ou estrangeiro, até hoje, soube fazer
uma distinção, nítida e fora de dúvida, entre prescrição e decadência? Há as teorias mais cerebrinas e
bizantinas para se distinguir uma coisa de outra. Devido a esse contraste de idéias, assisti, uma vez,
perplexo, num mesmo mês, a um Tribunal de São Paulo negar uma apelação interposta por mim e
outros advogados, porque entendia que o nosso direito estava extinto por força de decadência; e,
poucas semanas depois, ganhávamos, numa outra Câmara, por entender-se que o prazo era de
prescrição, que havia sido interrompido! Por isso, o homem comum olha o Tribunal e fica perplexo.
Ora, quisemos pôr termo a essa perplexidade, de maneira prática, porque o simples é o sinal da
verdade, e não o bizantino e o complicado. Preferimos, por tais motivos, reunir as normas
prescricionais, todas elas, enumerando-as na Parte Geral do Código. Não haverá dúvida nenhuma: ou
figura no artigo que rege as prescrições, ou então se trata de decadência. Casos de decadência não
figuram na Parte Geral, a não ser em cinco ou seis hipóteses em que cabia prevê-la, logo após, ou
melhor, como complemento do artigo em que era, especificamente, aplicável.
(REALE, Miguel. O projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo:
Saraiva, 1986. p. 11-12).
Essa solução adotada no Código Civil de 2002 se vincula3
A) à diretriz fundamental da socialidade.
B) à abolição da distinção entre prescrição e decadência.
C) à diretriz fundamental da eticidade, evitando soluções juridicamente conflitantes.
D) ao princípio da boa-fé objetiva, que garante a obtenção do julgamento esperado pelo jurisdicionado.
E) à diretriz fundamental da operabilidade, evitando dificuldades interpretativas.

2.1.4 Sistematicidade

2 Fonte: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/959725/qual-a-diferenca-entre-clausula-geral-e-conceito-juridico-
indeterminado-fernanda-braga
3 Alternativa E

23
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

A respeito da estrutura do CC/02, seguiu o modelo germânico preconizado por Savigny,


colocando as matérias em ordem metódica, dividida em Parte Geral (pessoas, bens e fatos jurídicos) e
Especial. Operou-se a unificação do direito das obrigações fazendo incluir o direito de empresa. No
sentir de Carlos Roberto Gonçalves tratou-se de inovação original, sem paralelo no Direito comparado.
Assim, a Parte Especial acabou dividida em cinco livros: Direito das obrigações, Direito de Empresa,
Direito das Coisas, Direito de Família e Direito das Sucessões.

Tema Quente!

No meio do ano de 2022, a DPERJ promoveu um WEBINÁRIO SOBRE OS 20 ANOS DO CÓDIGO


CIVIL DE 2002. Além da presença de professores importantes no assunto, como o Dr. Anderson
Schreiber, o webinário também contou com a presença do Defensor José Augusto Garcia,
examinador do último concurso. Para ambos, alteração mais relevante trazida pelo CC/2002
consiste na mudança da lógica do Direito Civil, que anteriormente estava fortemente ligada à
proteção patrimonial e agora passa a contemplar a proteção do indivíduo, incluindo a tutela dos valores
existenciais, como os direitos da personalidade.

2.2 Constitucionalização do Direito Civil X Publicização do Direito Civil

É importante observar que tais fenômenos não se confundem e podem coexistir. Vejam:

CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL


CIVIL
Caracteriza-se pela aplicação de princípios É a fase do dirigismo contratual, que
constitucionais no Direito Civil. Surgiu com consolida a publicização do direito
o Estado Social de Direito e a privado.
despatrimonializacão do Código. Neste Trata-se da supressão de matérias
contexto, alguns princípios passaram a tradicionais de direito privado
reger as relações particulares (principais), trasladadas para o âmbito do direito
tais como Dignidade da Pessoa Humana público. Ex: Direito do Trabalho.
(art. 1, III da CF); Socialidade ou
Solidariedade Social (art. 3, I da CF

24
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

princípio que da origem a função social);


Igualdade ou Isonomia (art. 5 caput da CF).

3. CAPACIDADE E PERSONALIDADE, EMANCIPAÇÃO, MORTE PRESUMIDA E AUSÊNCIA

3.1. Capacidade e Personalidade

Pessoa é o ser humano ou entidade com personalidade e aptidão para a titularidade de direitos
e deveres. Nesse sentido, em relação à pessoa natural, é necessário distinguir:

● CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: Necessária para o indivíduo ser sujeito de direitos e


deveres na ordem privada. Todas as pessoas têm esta capacidade, sem distinção.
● CAPACIDADE DE FATO OU DE EXERCÍCIO: Aptidão para pessoalmente praticar atos da vida civil.
● CAPACIDADE CIVIL PLENA: É a reunião das capacidades de direito e de fato em relação a uma
pessoa.

CAPACIDADE DE GOZO + CAPACIDADE DE EXERCÍCIO = CAPACIDADE PLENA

A capacidade NÃO se confunde com personalidade:


Enquanto a personalidade tende ao exercício de relações existenciais, a
capacidade diz respeito ao exercício de relações patrimoniais. Exemplificando,
ter personalidade é titularizar os direitos da personalidade, enquanto ter
capacidade é poder concretizar relações obrigacionais, como o crédito e o
débito. (Nelson Rosenvald)

● PERSONALIDADE: Está atrelada à tutela e promoção da dignidade da pessoa humana, pela qual
se deve reconhecer ao ser humano um conjunto mínimo de atributos, direitos e garantias sem as quais
não será possível a vida com dignidade.

25
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

▪ AQUISIÇÃO DE PERSONALIDADE: nos termos do art. 2º do CC, ocorre com o nascimento


com vida, quando há a separação do ventre materno e o ar entra nos pulmões (tópico
específico sobre as teorias do nascituro abaixo).
▪ EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE: ocorre com a morte, conforme art. 6º, do CC/02.

Nascituro: É o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. Algumas teorias
tentam explicar a proteção jurídica do nascituro. Vejam:

- Teorias Sobre a Personalidade Jurídica do Nascituro:

a) Teoria natalista (Negativista): a personalidade jurídica se inicia com o nascimento com vida
(momento da primeira respiração). O nascituro não teria direitos, mas apenas expectativa de
direitos.

b) Teoria concepcionista (Afirmativista): a personalidade jurídica se inicia com a concepção.


Logo, o nascituro teria personalidade jurídica. (Prevalece entre os doutrinadores
contemporâneos).

c) Teoria da Personalidade Condicional: a personalidade civil começa com o nascimento com


vida, mas o nascituro titulariza direitos submetidos à condição suspensiva (ou direitos eventuais).

d) Teoria da Personalidade Mista: Segundo essa teoria a personalidade se divide em material


e formal. A material refere-se a direitos patrimoniais e a formal a direitos da personalidade. Dessa
forma, para essa teoria, o nascituro só tem personalidade formal (direito a vida, imagem, alimentos
etc.). Já a personalidade material do nascituro só se adquire com o nascimento com vida
- Qual teoria prevalece?
O CC/02 não deixou clara a teoria adotada, pois o art. 2º menciona tanto o termo “nascimento”,
quanto “concepção”. Porém, a TEORIA CONCEPCIONISTA guarda maior compatibilidade a partir

26
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

de uma interpretação sistemática e vem sendo adotada pela Jurisprudência, a exemplo da lei de
alimentos gravídicos e de recentes decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro e
até mesmo pagamento de DPVAT pela morte de nascituro.

A beneficiária legal de seguro DPVAT que teve a sua gestação interrompida em razão de
acidente de trânsito tem direito ao recebimento da indenização pela morte do feto (STJ, REsp
1.415.727)

Obs. DPE/AL anulou questão que considerava como correta a assertiva no sentido de que o
Código Civil teria adotado a Teoria Natalista.

ATENÇÃO: Não confundir Personalidade com os conceitos de Legitimação e Legitimidade.

- Legitimação: Capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico. Como exemplo, cite-se
a necessidade de outorga conjugal para vender imóvel, sob pena de anulabilidade do contrato (arts.
1.647, I, e a.649 do CC).

- Legitimidade: É a capacidade processual, uma das condições da ação (art. 17 do CPC/2015).

- Personalidade jurídica formal: é aquela relacionada com os direitos da personalidade, o que o


nascituro já tem desde a concepção, conforme defendido pela Teoria Concepcionista.

- Personalidade jurídica material: mantém relação com os direitos patrimoniais, e o nascituro só a


adquire com o nascimento com vida.

3.2 Incapacidade

A ausência da capacidade de fato (e não a capacidade de direito) gera a incapacidade civil. Pode
ser desdobrada em absoluta e relativa.
É importante conhecer as alterações promovidas na TEORIA DAS INCAPACIDADES com o
advento do Estatuto da pessoa com deficiência (Lei 13.146/2015).

27
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

ANTES DO EPD:
Absolutamente incapazes (art. 3º do CC) Relativamente incapazes (art. 4º do CC)
Os menores de 16 anos Os maiores de 16 e menores de 18 anos
Os que, por enfermidade ou deficiência Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e
mental, não tiverem o necessário os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento para a prática desses atos. discernimento reduzido
Os excepcionais, se desenvolvimento mental
Os que, mesmo por causa transitória, não
completo
puderem exprimir sua vontade
Os pródigos

DEPOIS DO EPD:

Absolutamente incapazes (art. 3º do CC) Relativamente incapazes (art. 4º do CC)


Os maiores de 16 e menores de 18 anos
Os ébrios habituais e os viciados em tóxico
Aqueles que, por causa transitória ou
Os menores de 16 anos
permanente, não puderem exprimir sua
vontade
Os pródigos

ATENÇÃO: Note que a deficiência deixa de ser considerada como uma causa de incapacidade, sendo a
pessoa com deficiência, portanto, plenamente capaz. Deste modo, é perfeitamente possível que a
pessoa com deficiência contraia matrimônio, bem como seja testemunha em igualdade de condições
com as demais pessoas (arts. 228, § 2º e 1.550, § 2º do CC) – CAI MUITO!

Art. 228 (...)


§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições
com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia
assistiva. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)

Art. 1550 (...)


§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá
contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
28
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

IMPORTANTE:
▪ Os atos praticados pelos absolutamente incapazes são NULOS, não podendo ser ratificados, pois
tal vício não convalesce, podendo o juiz assim declará-los de ofício. Protege-se, entretanto, a boa-fé de
terceiros. Os atos civis de seu interesse deverão ser exercidos por seus representantes – pais, tutores
ou curadores.
▪ Absolutamente incapazes devem ser REPRESENTADOS por quem de direito.
▪ Mesmo em se cuidando de pessoas absolutamente incapazes, a ordem jurídica reconhece a
possibilidade de que sua vontade seja considerada, nos casos em que envolvidas escolhas existenciais.
▪ A vontade dos relativamente capazes tem relevância jurídica, o que possibilita sua atuação
direta nos atos civis, desde que acompanhados de ASSISTENTE, com algumas exceções (ser
mandatário, testemunhar). É causa de ANULABILIDADE dos atos jurídicos.
▪ Essa alteração feita pelo Estatuto da Deficiência substitui o caráter médico por um critério de
autodeterminação relevante (pessoas que não possam manter seu autogoverno independente do
motivo; retira-se o critério de deficiência para defini-las).
▪ O Estatuto da Deficiência não retirou do ordenamento a teoria das incapacidades apenas a
relativizou para adequá-las a regra da razoabilidade: o juiz deverá estabelecer um projeto terapêutico
individualizado para cada pessoa (em cada situação da vida).
▪ Serão curateladas como relativamente incapazes (e não interditadas) - Art. 1677, I.
▪ O art 85 da Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência - CPID - estabelece
restrição de atos patrimoniais e não de atos existenciais. (capacidade é medida de valor; personalidade
não).
▪ Aos que tem reduzido discernimento surgiu a Tomada de decisão apoiada.

Vejam como isso já foi cobrado em prova:

(DPE/BA – 2016) João, atualmente com 20 anos de idade, foi diagnosticado com esquizofrenia. Em
razão desta grave doença mental, João tem delírios constantes e alucinações, e apresenta
dificuldades de discernir o que é real e o que é imaginário, mesmo enquanto medicado. Em razão
deste quadro, em 2014, logo após completar 18 anos, sofreu processo de interdição, que culminou
29
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

no reconhecimento de sua incapacidade para a prática de todos os atos da vida civil, sendo-lhe
nomeado curador na pessoa de Janice, sua mãe. Entretanto, ele é apaixonado por Tereza e deseja
com ela se casar. Afirmou que em sinal de seu amor, quer escolher o regime da comunhão total de
bens. Levando em consideração o direito vigente, João:4

a-) não poderá contrair matrimônio de forma válida e nem celebrar pacto antenupcial para a escolha
do regime de bens ainda que tenha o consentimento de sua genitora, pois o casamento seria
inexistente em razão de vício da vontade.

b-) poderá contrair matrimônio de forma válida independentemente do consentimento de sua


curadora, mas depende da sua assistência para celebrar validamente pacto antenupcial para a
escolha do regime de bens.

c-) poderá contrair matrimônio de forma válida e celebrar pacto antenupcial para a escolha do
regime de bens, independentemente do consentimento de sua curadora.

d-) não poderá contrair matrimônio de forma válida e nem celebrar pacto antenupcial para a escolha
do regime de bens, ainda que contasse com o consentimento de sua curadora, pois o casamento será
nulo de pleno direito por ausência de capacidade.

e-) poderá contrair matrimônio de forma válida independentemente do consentimento de sua


curadora, mas não poderá celebrar validamente pacto antenupcial para a escolha do regime de bens
no caso, pois a lei impõe o regime da separação obrigatória à espécie.

OBS: Note que o estabelecimento de curador em razão da impossibilidade permanente ou


temporária de expressão da vontade, só poderá tratar de questões patrimoniais, uma vez que não
existe mais a incapacidade absoluta nestes casos.

ATENÇÃO aos seguintes dispositivos legais:

Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o


testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da
capacidade.

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de
uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido
pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios

4 GABARITO: letra B.

30
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá


ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem.

Súmula 358 STJ: o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a


maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que
nos próprios autos.

LEMBREM: O adolescente com 16 anos de idade (relativamente incapaz) pode


ser: testemunha, mandatário e testar (arts, 228, I, 666 e 1.860, p.ú do CC)

Tema Quente!

Rafael Henrique Renner, examinador nos últimos dois concursos, tem diversos artigos publicados. Em um
deles, ele trata especificamente do tema da capacidade civil da pessoa com deficiência - Capacidade Civil à luz
do Estatuto do Portador de Deficiência e do Novo Código de Processo Civil.

Além deste examinador, a Defensora Marina Magalhães Lopes, que também foi examinadora
no último concurso, é atualmente coordenadora do núcleo especializado de atendimento à
pessoa com deficiência. Portanto, é necessário estudar temas relativos ao Estatuto da
Capacidade Civil, como os atos que podem ser tomados pela pessoa com deficiência, a decisão
apoiada e os atos com e sem curador.

3.3 Emancipação

Trata-se de uma antecipação da capacidade de fato e NÃO da maioridade, pela qual um


relativamente incapaz torna-se plenamente capaz. Podendo ser VOLUNTÁRIA ou JUDICIAL.

▪ VOLUNTÁRIA (inc.I): Decorre de ato unilateral dos pais, ou de um deles na falta do outro, sendo
ato irrevogável. Nessa hipótese, os pais continuam respondendo pelos atos ilícitos dos filhos.
▪ JUDICIAL (inc.I): Concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16
anos completos (cessa a responsabilidade dos pais).
▪ LEGAL (inc.II a V): Decorre de previsão legal (é automática), vejamos as hipóteses:

31
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

II. Casamento
Divórcio, morte do cônjuge ou a anulação do casamento, para o cônjuge de boa-fé, não geram retorno
à menoridade (PEGADINHA RECORRENTE EM PROVAS!)

III. Exercício de cargo ou emprego público efetivo;


IV. Colação de grau em curso de ensino superior;
V. Estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego do maior de 16
anos que gerem economia própria.

CONCURSO PÚBLICO: Ainda que o requisito da idade mínima de 18 anos conste


em lei e no edital de concurso público, é possível que o candidato menor de
idade aprovado no concurso tome posse no cargo de auxiliar de biblioteca
no caso em que ele, possuindo 17 anos e 10 meses na data da sua posse, já
havia sido emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses. STJ. 2ª
Turma. REsp 1.462.659-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1º/12/2015
(Info 576)

4. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

O Código Civil de 2002, em sintonia com a Constituição Federal de 1988, privilegiou a Dignidade
da Pessoa Humana em detrimento do patrimônio, fenômeno denominado de
DESPATRIMONIALIZAÇÃO ou REPERSONIFICAÇÃO DO DIREITO CIVIL. Os direitos da personalidade são
expressões da própria dignidade da pessoa humana; compreendem o conjunto de atributos físicos,
psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais, com o fim de proteger a essência e a
existência do ser humano.

● Técnica da ponderação:
ENUNCIADO 274 DA IV JORNADA DE DIREITO CIVIL: Os direitos da
personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são
expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º,
inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de
colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a
técnica da ponderação.

32
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

● Término dos Direitos da Personalidade


o Tutela Jurídica dos Direitos da Personalidade após a Morte;

Destaca-se, aqui, o instituto denominado DANO EM RICOCHETE: O Direito da Personalidade tem como
característica a intransmissibilidade, contudo, a ofensa ao direito de imagem e honra, por exemplo, de
pessoa morta pode afetar reflexamente também seus ascendentes, descentes, colaterais e cônjuge ou
companheiro. Os exemplos são da biografia do jogador Garrincha (as filhas entraram com ação por
conta de afirmações feitas na publicação) e de uma ofensa feita por Zeca Camargo contra o falecido
cantor Cristiano Araújo (esta última ainda está em sede recursal).

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da


personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a


medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em
linha reta, ou colateral até o quarto grau. (proteção post mortem).

A legitimação dos lesados indiretos é autônoma, ordinária. O que quer dizer que não se trata
de substituição processual, isso significa que irão ajuizar ação em nome próprio, defendendo interesse
próprio.
Ocorre aqui o chamado dano reflexo (ou em ricochete), que consiste no prejuízo que atinge
reflexamente uma pessoa próxima à vítima direta do ato danoso. Esse dano ocorre quando a ofensa é
dirigida a uma pessoa, mas quem sente os efeitos dessa ofensa, dessa lesão é outra.

Exemplo: ofensa dirigida a um morto, que apesar de não ser ofendido em sua personalidade, pois os
direitos da personalidade surgem com a concepção e se extinguem com a morte, portanto, não são
transmitidos aos herdeiros, que só poderão entrar com ação de indenização em razão de sofrerem o
dano reflexo da ofensa (é como se o dano transcendesse a esfera da personalidade do morto e passasse
a atingir os direitos de personalidade dos familiares).

33
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Ressalte-se que, se o de cujus foi ofendido enquanto ainda era vivo, houve uma lesão aos seus
direitos da personalidade, e o direito à reparação por esse dano moral é transmitido dentro da herança
(CC , Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança. ),
ou seja, os herdeiros serão os substitutos processuais do de cujus ou sucessores em eventual ação
movida ainda em vida pelo ofendido.

ATENÇÃO: quando tratar-se de direito à imagem, os legitimados na condição de lesados indiretos NÃO
SÃO os do art. 12, parágrafo único, mas sim os do art. 20, parágrafo único, vejam:

Art. 12, parágrafo único, do CC Art. 20, parágrafo único, do CC


Lesão a direitos da personalidade do morto Lesão à imagem do morto
Legitimados pela norma: ascendentes, Legitimados pela norma: ascendentes,
descendentes, cônjuge e colaterais até quarto descendentes e cônjuge
grau

Enunciado 275 da CJF: “o rol dos legitimados de que tratam os arts. 12,
parágrafo único e 20, parágrafo único, também compreende o companheiro”.

4.1 Características dos Direitos da Personalidade

MUITO IMPORTANTE! AS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE PRECISAM ESTAR


MUITO BEM FIXADAS! DESPENCAM EM PROVAS!

1) Absolutos: são oponíveis erga omnes, o que NÃO significa que são ilimitáveis.
Nesse aspecto, são relativos, devendo ser ponderados em caso de colisão.
2) Intransmissíveis: não se admite a cessão do direito de um sujeito para outro
3) Irrenunciáveis: ninguém pode dispor de sua vida, sua intimidade, sua imagem.
4) Extrapatrimoniais: ausência de conteúdo patrimonial direto, aferível
objetivamente, a exemplo dos danos morais (a violação pode implicar em efeito
patrimonial).
5) Impenhoráveis: o direito da personalidade não pode ser penhorado (mas o
crédito dele decorrente sim).
34
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

6) Inatos: inerentes à pessoa humana.


7) Imprescritíveis (exceto no que tange à reparação do dano): Não existe prazo
para seu exercício, não se extinguindo pelo não-uso.

Obs. Não se esqueçam, entretanto, que a reparação por dano moral decorrente de tortura no regime
militar é imprescritível.

O titular pode restringir voluntariamente os direitos da personalidade, DENTRO de determinados


parâmetros, sendo estes:
1) O ato não pode ser permanente;
2) O ato não pode ser genérico;
3) Não pode violar a DIGNIDADE do titular.

Enunciado 4 do CJF – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode


sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.

Enunciado 139 do CJF – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer


limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser
exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva
e aos bons costumes.

● Direitos da Personalidade da Pessoa Jurídica;

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos
da personalidade. (Tutela-se: imagem – atributo -, nome e honra objetiva)

Súmula nº 227 do STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Gustavo Tepedino entende que dano moral é lesão à dignidade humana. Dessa feita, a pessoa jurídica
não sofreria dano moral. Razão pela qual ele criou uma nova classificação jurídica (dano
institucional).
No entendimento de Tepedino, Barboza e Moraes (2004, p. 134), para as “pessoas jurídicas sem fins
lucrativos deve ser admitida a possibilidade de configuração de danos institucionais, aqui conceituados
como aqueles que, diferentemente dos danos patrimoniais ou morais, atingem a pessoa jurídica em

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

sua credibilidade ou reputação.”5


Como regra, segundo jurisprudência do STJ, "a pessoa jurídica de direito público não é titular de direito
à indenização por dano moral relacionado à ofensa de sua honra ou imagem, porquanto, tratando-se
de direito fundamental, seu titular imediato é o particular e o reconhecimento desse direito ao Estado
acarreta a subversão da ordem natural dos direitos fundamentais". (Informativo nº 125 do
Jurisprudência em Teses do STJ)
No entanto, ao analisar o REsp nº 1.722.423/RJ, a segunda turma do STJ, por unanimidade, decidiu que
é cabível indenização por danos morais em face de pessoa jurídica de direito público quando o que
está em discussão é a própria credibilidade da instituição.
Colhe-se do voto do relator a seguinte passagem: "Embora haja no STJ diversas decisões em que se
reconheceu a impossibilidade da pessoa jurídica de Direito Público ser vítima de dano moral, o exame
dos julgados revela que essa orientação não se aplica ao caso dos autos. (…) O que se extrai é que a
credibilidade institucional da autarquia previdenciária foi fortemente agredida e o dano reflexo sobre
os demais segurados da Previdência e os jurisdicionados em geral é evidente, tudo consubstanciado
por uma lesão de ordem extrapatrimonial praticada por agentes do Estado, que não pode ficar sem
resposta judicial".
Então, ATENÇÃO! IMPORTANTE! Recentemente, destoando da jurisprudência até então dominante, o
STJ decidiu que pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais
relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente
agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente. (REsp 1.722.423-RJ,
Informativo 684)

4.2 Classificação dos Direitos da Personalidade

SOBRE O TEMA, É MUITO IMPORTANTE SEMPRE ESTAR EM DIA COM A JURISPRUDÊNCIA, CASOS
NOVOS SEMPRE SURGEM!

5 https://jus.com.br/artigos/25004/sobre-dano-e-responsabilidade-civil
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Os direitos da personalidade tutelam:

a) INTEGRIDADE FÍSICA;

b) INTEGRIDADE PSÍQUICA;

c) INTEGRIDADE INTELECTUAL

4.2.1 Direitos Relacionados à Integridade Psíquica

(i) honra; (ii) imagem; (iii) privacidade; e (iv) nome

Sobre o tema, merecem destaque dois julgados recentes e muito importantes:

O DIREITO DOS TRANSEXUAIS À RETIFICAÇÃO DO PRENOME E DO SEXO ∕


GENÊRO NO REGISTRO CIVIL NÃO É CONDICIONADO À EXIGÊNCIA DA CIRURGIA
DE TRANSGENITALIZAÇÃO. 4ª TURMA. RESP 1.626.739-RS, REL. MIN. LUIS
FELIPE SALOMÃO, JULGADO EM 9∕5∕2017.
OS TRANSGÊNEROS, QUE ASSIM O DESEJAREM, INDEPENDENTEMENTE DA
CIRURGIA DE TRANSGENITALIZAÇÃO, OU DA REALIZAÇÃO DE TRATAMENTOS
HORMONAIS OU PATALOGIZANTES, POSSUEM O DIREITO À ALTERAÇÃO DO
PRENOME E DO GÊNERO (SEXO) DIRETAMENTE DO REGISTRO CIVIL. STF.
PLENÁRIO. ADI 4275∕DF, REL. MIN. MARCO AURÉLIO, RED. P∕ ACÓRDÃO MIN.
EDSON FACHIN, JULGADO EM 28∕2 E 1∕3∕2018

Se a genitora, ao se divorciar, volta a usar seu nome de solteira, é possível que


o registro de nascimento dos filhos seja retificado para constar na filiação o
nome atual da mãe. É direito subjetivo da pessoa retificar seu patronímico no
registro de nascimento de seus filhos após divórcio. A averbação do
patronímico no registro de nascimento do filho em decorrência do casamento
atrai, à luz do princípio da simetria, a aplicação da mesma norma à hipótese
inversa, qual seja, em decorrência do divórcio, um dos genitores deixa de
utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 8.560/1992). Em
razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos
atos jurídicos até então praticados, o nome de casada não deve ser suprimido
dos assentamentos, procedendo-se, tão somente, a averbação da alteração
requerida após o divórcio. STJ. 3ª Turma. REsp 1279952-MG, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

37
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Quanto ao direito de imagem, merece atenção esse julgado super recente, no qual o STJ
reconheceu o direito ao “lucro de intervenção”:

Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz


Giovanna Antonelli, sem a sua autorização, em propagandas de um remédio
para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por danos morais e
materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios
econômicos que a ré obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro
da intervenção”). Lucro da intervenção é uma vantagem patrimonial obtida
indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não
autorizada, de um direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção
é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que foi auferido mediante
indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa. A
obrigação de restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do
enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). A ação de enriquecimento sem
causa é subsidiária. Apesar disso, nada impede que a pessoa prejudicada
ingresse com ação cumulando os pedidos de reparação dos danos
(responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente auferido (lucro da
intervenção). Para a configuração do enriquecimento sem causa por
intervenção, não se faz imprescindível a existência de deslocamento
patrimonial, com o empobrecimento do titular do direito violado, bastando a
demonstração de que houve enriquecimento do interventor.
O critério mais adequado para se fazer a quantificação do lucro da intervenção
é o do enriquecimento patrimonial (lucro patrimonial). A quantificação do lucro
da intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de
liquidação de sentença, devendo o perito observar os seguintes critérios:
a) apuração do quantum debeatur com base no denominado lucro patrimonial;
b) delimitação do cálculo ao período no qual se verificou a indevida intervenção
no direito de imagem da autora;
c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes e
d) distribuição do lucro obtido com a intervenção proporcionalmente à
contribuição de cada partícipe da relação jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1698701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 02/10/2018 (Info 634).

Ainda sobre o direito de imagem:

Lembrem: quando se tratar do direito de imagem, o parágrafo único do art. 20 retira a legitimidade
dos colaterais como lesados indiretos. Isso costuma cair como pegadinha em provas objetivas!

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Enunciado 275 da CJF: “o rol dos legitimados de que tratam os arts. 12,
parágrafo único e 20, parágrafo único, também compreende o companheiro”.

O uso não autorizado da imagem de atleta em cartaz de propaganda de evento


esportivo, ainda que sem finalidade lucrativa ou comercial, enseja reparação
por danos morais, independentemente da comprovação de prejuízo. A
obrigação da reparação pelo uso não autorizado de imagem decorre da própria
utilização indevida do direito personalíssimo. Assim, a análise da existência de
finalidade comercial ou econômica no uso é irrelevante. O dano, por sua vez,
conforme a jurisprudência do STJ, apresenta-se in re ipsa, sendo desnecessária,
portanto, a demonstração de prejuízo para a sua aferição.
STJ. 3ª Turma. REsp 299832-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/2/2013 (Info 516).

Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação


não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
A ofensa ao direito à imagem materializa-se com a mera utilização da imagem
sem autorização, ainda que não tenha caráter vexatório ou que não viole a
honra ou a intimidade da pessoa, e desde que o conteúdo exibido seja capaz de
individualizar o ofendido.
A obrigação de reparação decorre do próprio uso indevido do direito
personalíssimo, não sendo devido exigir-se a prova da existência de prejuízo ou
dano. O dano é a própria utilização indevida da imagem. STJ. REsp 794.586/RJ,
Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 15/03/2012.

Info 921: DIREITO À IMAGEM


Inexistência do direito à indenização em razão da divulgação, no jornal, de
imagem do cadáver morto em via pública Jornal divulgou a foto do cadáver de
um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública. Os familiares do morto
ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o jornal alegando que
houve violação aos direitos de imagem. O STF julgou a ação improcedente
argumentando que condenar o jornal seria uma forma de censura, o que
afronta a liberdade de informação jornalística. STF. 2ª Turma. ARE 892127
AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Info. 549 STJ: Configura dano moral indenizável a divulgação não autorizada da
imagem de alguém em material impresso de propaganda político-eleitoral,
independentemente da comprovação de prejuízo.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Info. 546 STJ: Configura dano moral a divulgação não autorizada de foto de
pessoa física em campanha publicitária promovida por sociedade empresária
com o fim de, mediante o incentivo à manutenção da limpeza urbana,
incrementar a sua imagem empresarial perante a população, ainda que a
fotografia tenha sido capturada em local público e sem nenhuma conotação
ofensiva ou vexaminosa. O dano moral decorre do simples uso não autorizado
da imagem.

4.2.2 Direitos da Personalidade Relativos à Integridade Física

(i) tutela jurídica do corpo vivo; (ii) tutela jurídica do corpo morto; e (iii) autonomia do paciente ou livre
consentimento informado.

É permitido o ato de disposição do corpo vivo, desde que não gere diminuição permanente da
integridade física. Ex.: tatuagens e piercings. A disposição do corpo vivo que gere diminuição
permanente da integridade física só é permitida se houver exigência médica. Ex.: imputação.

Enunciado 533 CJF: O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos
os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de
vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso
de procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos.

Atenção: Conforme estabelece a Resolução nº 1995/12 (CFM) é admitido o testamento vital ou


obstinação terapêutica ou morte digna (diretivas antecipadas, ou “living will”). Trata-se de um ato
jurídico por meio do qual o paciente manifesta prévia e expressamente o desejo de querer ou não
receber determinado tratamento médico no momento em que estiver incapacitado para manifestar
livremente a sua vontade.

4.2.3 Temas Atuais

I. Consenso afirmativo: Direito de a pessoa dispor gratuitamente do seu corpo, no todo ou em parte,
para depois de sua morte, com objetivo científico ou terapêutico.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

II. Consentimento Informado: Prevê que só pode haver a diminuição permanente da integridade física
se houver exigência médica, que pode ser por motivo de saúde física ou psíquica, o que abrange as
cirurgias plásticas e cirurgias de transgenitalização. Inclusive, especificamente no tocante à submissão
a tratamento médico, o paciente tem direito de saber qual é o tratamento ou a cirurgia e quais as suas
consequências. Conclui-se, portanto, que a responsabilidade do médico é TÉCNICA + DEVER DE
INFORMAÇÃO.

III. Direito ao esquecimento: É o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda
que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral,
causando-lhe sofrimento ou transtornos. Há um conflito entre a privacidade, honra e intimidade x
informação. Veja a definição dada por Anderson Schreiber:
“(...) o direito ao esquecimento é, portanto, um direito (a) exercido
necessariamente por uma pessoa humana; (b) em face de agentes públicos ou
privados que tenham a aptidão fática de promover representações daquela
pessoa sobre a esfera pública (opinião social); incluindo veículos de imprensa,
emissoras de TV, fornecedores de serviços de busca na internet etc.; (c) em
oposição a uma recordação opressiva dos fatos, assim entendida a recordação
que se caracteriza, a um só tempo, por ser desatual e recair sobre aspecto
sensível da personalidade, comprometendo a plena realização da identidade
daquela pessoa humana, ao apresenta-la sob falsas luzes à sociedade.”
(Anderson SCHREIBER. Direito ao esquecimento e proteção de dados pessoais
na Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO, G; FRAZÃO, A; OLIVA, M.D. Lei geral de
proteção de dados pessoais e suas repercussões no direito brasileiro. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 376).

A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade


de expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e
honra, passando por recente evolução jurisprudencial. Veja:
O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi”
(REsp 1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que tal direito que deveria ser exercido
de forma compatível com a intimidade e da honra das pessoas. Ressalta-se, contudo, que o

41
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

deferimento ou não do direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da


ponderação dos interesses envolvidos.

O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em


paz” ou o “direito de estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let
alone e, em países de língua espanhola, é alcunhado de derecho al olvido. É o
caso, por exemplo, da apresentadora Xuxa que, no passado fez um
determinado filme do qual se arrepende e que ela não mais deseja que seja
exibido ou rememorado por lhe causar prejuízos profissionais e transtornos
pessoais. Sem dúvida nenhuma, o principal ponto de conflito quanto à
aceitação do direito ao esquecimento reside justamente em como conciliar
esse direito com a liberdade de expressão e de imprensa e com o direito à
informação.

Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um


enunciado defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma
expressão da dignidade da pessoa humana. Veja: “Enunciado 531: A tutela da
dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento.”

Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento no sentido de que, quando os registros
da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise
desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento:

Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, como


no presente caso, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em
aplicação à teoria do direito ao esquecimento. Não se pode tornar perpétua a
valoração negativa dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso
para fins de aplicação da reprimenda, pois a transitoriedade é consectário
natural da ordem das coisas. Se o transcurso do tempo impede que
condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento - o
lapso temporal - deve ser sopesado na análise das condenações geradoras, em
tese, de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.

No entanto, recentemente, o tema passou por uma evolução jurisprudencial. Isso porque o STJ
passou a relativizar o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua
incompatibilidade com a Constituição Federal. Confira:
42
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

O chamado direito ao esquecimento, apesar de ser reconhecido pela


jurisprudência, não possui caráter absoluto.
Em caso de evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva
de delito notório, não se pode proibir a veiculação de matérias jornalísticas
relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de censura
prévia, vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica
o direito ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

Atenção ao recente (11/02/2021) julgado do STF, Plenário. Repercussão Geral


– Tema 786
É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento,
assim entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a
divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em
meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou
abusos no exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser
analisados caso a caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente
os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade
em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e
cível. STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021
(Repercussão Geral – Tema 786) (Info 1005).

Explicação via dizer o direito:


A previsão ou aplicação de um “direito ao esquecimento” afrontaria a
liberdade de expressão.
O “direito ao esquecimento” caracteriza restrição excessiva e peremptória às
liberdades de expressão e de manifestação de pensamento e ao direito que
todo cidadão tem de se manter informado a respeito de fatos relevantes da
história social, bem como equivale a atribuir, de forma absoluta e em abstrato,
maior peso aos direitos à imagem e à vida privada, em detrimento da liberdade
de expressão, compreensão que não se compatibiliza com a ideia de unidade
da Constituição.

A liberdade de expressão não é absoluta, no entanto, a sua restrição pela


mera passagem do tempo não encontra ampara no ordenamento jurídico
O ordenamento jurídico brasileiro está repleto de previsões constitucionais e
legais voltadas à proteção da personalidade, com repertório jurídico suficiente
a que esta norma fundamental se efetive em consagração à dignidade humana.
Em todas essas situações legalmente definidas, é cabível a restrição, em alguma
medida, à liberdade de expressão, sempre que afetados outros direitos
fundamentais, mas não como decorrência de um pretenso e prévio direito de
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

ver dissociados fatos ou dados por alegada descontextualização das


informações em que inseridos, por força da passagem do tempo. A existência
de um comando jurídico que eleja a passagem do tempo como restrição à
divulgação de informação verdadeira, licitamente obtida e com adequado
tratamento dos dados nela inseridos, precisaria estar prevista, de modo
pontual, em lei.

Mesmo se reconhecendo que não existe direito ao esquecimento, a honra,


privacidade e direitos da personalidade permanecem protegidos por outros
instrumentos
A ordem constitucional protege a honra, a privacidade e os direitos da
personalidade e oferece, pela via da responsabilização, proteção contra
informações inverídicas, ilicitamente obtidas ou decorrentes do abuso no
exercício da liberdade de expressão. Essa proteção se estende tanto para o
âmbito penal como cível.

TEMA QUENTE!

No webinário em comemoração aos 20 anos do Código Civil de 2002, o examinador


José Augusto Garcia comenta que, embora haja um entendimento do STF sobre o Direito ao
Esquecimento, esse entendimento é bastante abstrato. Na prática, isso sempre resultará na
necessidade de estudar o caso concreto e possíveis decisões caso a caso.

IV. Direito à imagem e Danos morais

CF. Art. 5º V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem;

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais


e materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de
direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.

Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o


falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para
ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.

Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação


não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

#DDEXPLICA: Ex: empresa utiliza, sem autorização, a imagem de uma pessoa


em um comercial de TV. Desse modo, com a edição da Súmula 403, o STJ firmou
o entendimento de que a publicação da imagem de terceiro, sem a sua
autorização, configura dano moral in re ipsa, quando esta utilização for feita
com fins econômicos ou comerciais. O fundamento para esta súmula é o art. 20
do Código Civil. Exceção: A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de
divulgação de imagem vinculada a fato histórico de repercussão social. Caso
concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela
Perez, tendo realizado, inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua,
condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia autorização da família,
fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia relevância nacional na
reportagem, não se aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo direito à
indenização. STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).

Jurisprudência relevante sobre o tema:

Informativo 621, STJ: A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação


da imagem de pessoa como coadjuvante em documentário que tem por
objeto a história profissional de terceiro.
Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em virtude da
veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional contratado), sem
prévia autorização, em cenas do documentário “Pelé Eterno”.O autor alegou
que a simples utilização não autorizada de sua imagem, ainda que de forma
indireta, geraria direito a indenização por danos morais, independentemente
de efetivo prejuízo. O STJ não concordou. A representação cênica de episódio
histórico em obra audiovisual biográfica não depende da concessão de prévia
autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes. O STF, no
julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a autorização de pessoa
biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem
como desnecessária a autorização de pessoas nelas retratadas como
coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da
imagem de pessoa como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem
por objeto a história profissional de terceiro. STJ. 3ª Turma.REsp 1454016-SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
12/12/2017

Informativo 674 STJ: O uso da imagem de torcedor inserido no contexto de


uma torcida não induz a reparação por danos morais quando não configurada
a projeção, a identificação e a individualização da pessoa nela representada

45
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a


depender das circunstâncias, especialmente quando se trata de imagem de
multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, há julgados do STJ
em que se admite o consentimento presumível, o qual deve ser analisado com
extrema cautela e interpretado de forma restrita e excepcional. De um lado, o
uso da imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes -
associada à partida de futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores,
porque costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado, quem comparece a um
jogo esportivo não tem a expectativa de que sua imagem seja explorada
comercialmente, associada à propaganda de um produto ou serviço, porque,
nesse caso, o uso não decorre diretamente da existência do espetáculo. A
imagem é a emanação de uma pessoa, a forma com a qual ela se projeta, se
identifica e se individualiza no meio social. Não há violação ao direito à imagem
se a divulgação ocorrida não configura projeção, identificação e
individualização da pessoa nela representada. No caso concreto, o autor não
autorizou ainda que tacitamente a divulgação de sua imagem em campanha
publicitária de automóvel. Ocorre que, pelas circunstâncias, não há que se falar
em utilização abusiva da imagem, tampouco em dano moral porque o vídeo
divulgado não destaca a sua imagem, mostrando o autor durante poucos
segundos inserido na torcida, juntamente com vários outros torcedores. STJ. 3ª
Turma. REsp 1772593-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2020

Informativo 672, STJ: Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o


rosto da vítima não estar evidenciado de maneira flagrante é irrelevante para
a configuração dos danos morais
Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de
Letícia em que ela aparece de biquini, em poses sensuais, mas sem aparecer
seu rosto. Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança,
publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as
publicações por meio dos canais disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a
plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando que não são fotografias
pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar
sendo exposto de forma evidente. O STJ não concordou com os argumentos do
Facebook e o condenou a pagar indenização por danos morais em favor da
autora. A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de
vingança” é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de
personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma
grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma
contundente pelos meios jurídicos disponíveis. Não há como descaracterizar
um material pornográfico apenas pela ausência de nudez total. Neste caso
concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte
apelo sexual. O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de
maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais na
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que
sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição
não autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de
personalidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1735712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 19/05/2020

Informativo 549 STJ: Configura dano moral indenizável a divulgação não


autorizada da imagem de alguém em material impresso de propaganda
político-eleitoral, independentemente da comprovação de prejuízo.

Informativo 546 STJ: Configura dano moral a divulgação não autorizada de foto
de pessoa física em campanha publicitária promovida por sociedade
empresária com o fim de, mediante o incentivo à manutenção da limpeza
urbana, incrementar a sua imagem empresarial perante a população, ainda que
a fotografia tenha sido capturada em local público e sem nenhuma conotação
ofensiva ou vexaminosa. O dano moral decorre do simples uso não autorizado
da imagem.

Informativo 921, STF: Inexistência do direito à indenização em razão da


divulgação, no jornal, de imagem do cadáver morto em via pública.
Jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido
em via pública. Os familiares do morto ajuizaram ação de indenização por danos
morais contra o jornal alegando que houve violação aos direitos de imagem. O
STF julgou a ação improcedente argumentando que condenar o jornal seria
uma forma de censura, o que afronta a liberdade de informação jornalística.
STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
23/10/2018 (Info 921).

CESPE/2019 - Embora o direito à honra seja personalíssimo, o direito de exigir sua reparação
econômica, no caso de dano moral, se transmite aos sucessores do ofendido, caso este tenha falecido.
Item correto.

V. Direito ao nome: É o direito à individualização da pessoa. Subdivide-se em:

● Prenome: Identifica a pessoa e pode ser simples ou composto. Ex: José ou José Maria.
● Sobrenome (ou patronímico) – identifica a origem ancestral, familiar. Ex: Silva.
● Agnome: Partícula diferenciadora que serve para distinguir pessoas pertencentes à
mesma família e com o mesmo nome: Júnior, Filho, Neto, Sobrinho;

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

● Hipocorístico: É um apelido, uma alcunha que designa alguém pessoal e


profissionalmente. Ex: Xuxa. Não é elemento do nome, embora mereça proteção.
● Pseudônimo: É o nome que identifica alguém tão-somente em sua esfera profissional.
Ex: Bruna Marquezine, embora seu nome verdadeiro seja Bruna Reis Maia. Pelo art.
19 do CC, o pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá
ao nome. Não é elemento do nome, embora mereça proteção.

É admissível o retorno ao nome de solteiro do cônjuge ainda na constância do


vínculo conjugal. Exemplo hipotético: Regina Andrade Medina casou-se com
João da Costa Teixeira. Com o casamento, ela passou a ser chamada de Regina
Medina Teixeira. Ocorre que, após anos de casada, Regina arrependeu-se da
troca e deseja retornar ao nome de solteira. Ela apresentou justas razões de
ordem sentimental e existencial. O pedido deve ser acolhido a fim de ser
preservada a intimidade, a autonomia da vontade, a vida privada, os valores e
as crenças das pessoas, bem como a manutenção e perpetuação da herança
familiar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1873918-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
02/03/2021 (Info 687).

É possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo


patronímico do marido ao nome da mulher durante a convivência
matrimonial. O cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art.
1.565, do Código Civil). Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido
no momento do matrimônio, sendo essa providência requerida no processo de
habilitação do casamento. A despeito disso, não existe uma vedação legal
expressa para que, posteriormente, no curso do relacionamento, um dos
cônjuges requeira o acréscimo do outro patronímico do seu cônjuge por meio
de ação de retificação de registro civil, especialmente se o cônjuge apresenta
uma justificativa. Vale ressaltar que o art. 1.565, §1º do CC não estabelece
prazo para que o cônjuge adote o apelido de família do outro, em se tratando,
no caso, de mera complementação, e não alteração do nome. Assim, é possível
a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido
ao nome da mulher durante a convivência matrimonial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1648858-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 20/08/2019 (Info 655).

Imutabilidade relativa do nome. Em regra, o nome é imutável. É o chamado


princípio da imutabilidade relativa do nome civil. A regra da inalterabilidade
relativa do nome civil preconiza que o nome (prenome e sobrenome),
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

estabelecido por ocasião do nascimento, reveste-se de definitividade,


admitindo-se sua modificação, excepcionalmente, nas hipóteses
expressamente previstas em lei ou reconhecidas como excepcionais por
decisão judicial (art. 57 da Lei nº 6.015/73), exigindo-se, para tanto, justo
motivo e ausência de prejuízo a terceiros. STJ. 4ª Turma. REsp 1138103/PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 06/09/2011.

No mesmo sentido: A regra no ordenamento jurídico é a imutabilidade do


prenome (art. 58 da Lei nº 6.015/73). Todavia, sendo o nome civil um direito da
personalidade, por se tratar de elemento que designa o indivíduo e o identifica
perante a sociedade, revela-se possível, nas hipóteses previstas em lei, bem
como em determinados casos admitidos pela jurisprudência, a modificação do
prenome. Para que haja, contudo, a retificação de registro civil é necessário
que exista uma circunstância excepcional apta a justificar a alteração do
prenome. Ex: nome que gere constrangimento. Caso concreto: mulher
ingressou com ação pedindo para trocar seu nome de Tatiane para Tatiana, sob
a alegação de que é “popularmente” conhecida como Tatiana. O STJ não
aceitou e disse que isso não é suficiente para afastar o princípio da
imutabilidade do prenome, sob pena de se transformar a exceção em regra.
STJ. 3ª Turma. REsp 1728039/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
12/06/2018

Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do abandono pelo genitor. (...).


O princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico
brasileiro. Além disso, a referida flexibilização se justifica pelo próprio papel
que o nome desempenha na formação e consolidação da personalidade de uma
pessoa. Desse modo, o direito da pessoa de portar um nome que não lhe
remeta às angústias decorrentes do abandono paterno e, especialmente,
corresponda à sua realidade familiar, sobrepõe-se ao interesse público de
imutabilidade do nome, já excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos.
Sendo assim, nos moldes preconizados pelo STJ, considerando que o nome é
elemento da personalidade, identificador e individualizador da pessoa na
sociedade e no âmbito familiar, conclui-se que o abandono pelo genitor
caracteriza o justo motivo de o interessado requerer a alteração de seu nome
civil, com a respectiva exclusão completa dos sobrenomes paternos. STJ. 3ª
Turma. REsp 1304718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
18/12/2014 (Info 555).

CESPE/2019 (Adaptada): O nome da pessoa pode ser utilizado em propaganda comercial, mesmo sem
a sua autorização. Item incorreto.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

VI. Transexuais
Define-se a orientação sexual como a expressão individual da sexualidade, que mostra qual o
objeto da atração sexual e afetiva do indivíduo. Já no tocante ao conceito de identidade do gênero,
importa a identificação do indivíduo com o sexo, ou melhor, como a pessoa se sente ao nascer, homem
ou mulher, independente do sexo biológico.
A transexualidade diz respeito à condição do indivíduo que possui uma identidade de gênero
diferente da designada no nascimento, o que faz surgir o desejo de viver e ser aceito como sendo do
sexo oposto. Desta forma, fica claro que em relação aos transexuais, o sofrimento causado pela
inadequação do nome e do gênero no registro de nascimento e demais documentos da vida civil, toma
grandes proporções.

Transexuais e direito à mudança no registro civil:


No Brasil, não há legislação que regulamente e determine a alteração imediata do registro civil.
Assim, resta ao transexual pleitear judicialmente a alteração.
Anteriormente, doutrina e jurisprudência entendiam, majoritariamente, pela negação na
retificação do registro civil do transexual, porém hoje o não acolhimento violaria o art. 8º da Convenção
de Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, isto porque toda pessoa tem
o direito à vida privada e familiar e à identidade pessoal. Assim, para os Tribunais Superiores, o
transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de
transgenitalização e mesmo sem autorização judicial

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome


e de sua classificação de gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto,
nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal
faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa
alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a
inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do registro não constará
nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão
de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por
determinação judicial. Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao
magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado a expedição
de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos
públicos ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

origem dos atos. STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
15/8/2018 (repercussão geral) (Info 911).

Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de


transgenitalização, ou da realização de tratamentos hormonais ou
patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e do gênero (sexo)
diretamente no registro civil. O direito à igualdade sem discriminações abrange
a identidade ou expressão de gênero. A identidade de gênero é manifestação
da própria personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado apenas
o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa transgênero que
comprove sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi designada
ao nascer por autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua
vontade dispõe do direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e da
classificação de gênero no registro civil pela via administrativa ou judicial,
independentemente de procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se
tratar de tema relativo ao direito fundamental ao livre desenvolvimento da
personalidade. STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28/2 e 1º/3/2018 (Info 892).

O direito dos transexuais à retificação do prenome e do sexo/gênero no registro


civil não é condicionado à exigência de realização da cirurgia de
transgenitalização. Trata-se de novidade porque, anteriormente, a
jurisprudência exigia a realização da cirurgia de transgenitalização. STJ. 4ª
Turma.REsp 1626739-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/5/2017
(Info 608).

Transexuais e travestis com identificação com gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino:
Em 19.03.2021, o ministro Luís Roberto Barroso ajustou os termos de medida cautelar deferida
em junho de 2019, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 527, de modo a
determinar que presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por
cumprir penas em estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas devem
ser mantidas em área reservada, como garantia de segurança.
Segundo Barroso, essa evolução de tratamento dado à matéria no âmbito do Poder Executivo
decorre do diálogo institucional ensejado pela judicialização da matéria, que permitiu uma “saudável
interlocução” com associações representativas de interesses desses grupos vulneráveis, o Executivo e
o Judiciário.
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Ele acrescentou não haver “dúvida” de que a solução sinalizada por ambos os documentos se
harmoniza com o quadro normativo internacional e nacional de proteção das pessoas LGBTI, no sentido
de ser dever dos Estados zelar pela não discriminação em razão da identidade de gênero e orientação
sexual, bem como de adotar todas as providências necessárias para assegurar a integridade física e
psíquica desses grupos quando encarcerados.
No Brasil, disse ele, o direito das transexuais femininas e travestis ao cumprimento de pena
em condições compatíveis com a sua identidade de gênero decorre, em especial, dos princípios
constitucionais do direito à dignidade humana, à autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da
vedação à tortura e ao tratamento degradante e desumano. Decorre também da jurisprudência
consolidada no STF no sentido de reconhecer o direito desses grupos a viver de acordo com a sua
identidade de gênero e a obter tratamento social compatível com ela.
O ministro ressaltou ainda que, dentre os Princípios de Yogyakarta, documento aprovado em
2007 pela comunidade internacional com o objetivo de produzir standards específicos para o
tratamento da população LGBTI, o de número 9 recomenda que, caso encarceradas, essas pessoas
possam participar das decisões relacionadas ao local de detenção adequado à sua orientação sexual e
identidade de gênero.
Fonte: Site do STF

4.3 MORTE PRESUMIDA E AUSÊNCIA

4.3.1 Morte Presumida

Ocorre nas seguintes hipóteses:

● Ausência, nas ocasiões em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6º), e;
● Se for extremamente provável a morte para quem estava em perigo de vida e, se alguém,
desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o
término da guerra (art. 7º).

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

A legislação civil brasileira admite o reconhecimento de morte sem a existência de cadáver e sem a
necessidade de declaração de ausência. A declaração de morte presumida somente poderá ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do
falecimento.

COMORIÊNCIA: Se não for possível precisar a ordem cronológica das mortes dos comorientes
(pessoas que morreram em uma mesma OCASIÃO), a lei prevê a presunção de haverem falecido
no mesmo instante. Se forem parentes, NÃO sucedem um ao outro, abrindo-se cadeias sucessórias
distintas.
ATENÇÃO – NÃO CONFUNDA MESMA OCASIÃO COM MESMO EVENTO. Não se exige que a morte
tenha ocorrido no mesmo local (EVENTO), mas ao mesmo tempo! #PEGADINHA

4.3.2 Ausência

É o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem dar notícias de onde se encontra, sem
deixar procurador para administrar seus bens. Necessita de declaração judicial. Quanto à tutela dos
bens, possui três fases:

● 1ª Fase - Curadoria dos bens do ausente: inicia-se com a petição inicial de qualquer interessado
ou do MP. O juiz deverá arrecadar os bens abandonados e nomear curador.
- O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge do ausente, desde que não separado
judicialmente ou de fato, por mais de dois anos. Subsidiariamente, serão nomeados os
ascendentes e, em seguida, os descendentes.
- Se não houver nenhuma dessas pessoas, o juiz escolherá um curador, responsável pela
administração e conservação do patrimônio do ausente.

● 2ª Fase - Sucessão provisória: Ocorre após 01 ano da arrecadação ou, caso o ausente tenha
deixado procurador, passados 03 anos. Consiste em uma administração para preservar os bens
do ausente. Principais características:
▪ Depende de pedido dos interessados.
▪ Se não houver interessados, o MP pode requerer a sucessão provisória.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

▪ A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de sua publicação, mas tão
logo transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do inventário, como se o
ausente fosse falecido.
▪ Se o herdeiro ou interessado não pleitear a abertura do inventário, após 30 dias do trânsito
em julgado, a massa de bens do ausente será considerada como herança jacente.
▪ Os herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou
hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes.
▪ Reaparecendo o ausente e provado que a ausência foi injustificada e voluntária, ele perderá
os frutos em favor do sucessor. Não se poderá alienar os imóveis do ausente.

● 3ª Fase - Sucessão definitiva: Ocorre após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que
concedeu a abertura da sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias
prestadas. Principais características:
▪ Pode ocorrer em menor prazo, se o ausente tinha 80 anos e o seu desaparecimento tenha
ocorrido há pelo menos cinco anos.
▪ Após o trânsito em julgado da sentença que concede a sucessão definitiva dos bens, declara-se
a morte presumida.
▪ Retornando o desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos
seguintes à abertura da sucessão definitiva, receberá os bens no estado em que se
encontrarem, os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido.

5. DAS PESSOAS JURÍDICAS

Aqui o mais importante é a letra da lei! Cuidado somente com a parte Doutrinária DO TEMA
“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA”, alvo de recentes alterações.

5.1 Breves Considerações

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

● A pessoa jurídica é o grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade jurídica
própria, para a realização de fins comuns.
● Pode-se subdividir a classificação das pessoas jurídicas em 3 grandes grupos:

▪ Critério da Nacionalidade
▪ Critério do Regime Jurídico a que estão submetidas
▪ Critério da estrutura interna

● De acordo com o art. 40 do CC, as pessoas jurídicas DE DIREITO PÚBLICO se dividem em:
▪ Externa e interna
▪ Da Administração Pública Direta e Indireta (temas de Direito Administrativo)
▪ Empresas estrangeiras possuem restrições de atuação em território nacional (167, §
1º, art. 190 e 220, todos da CF/88)
▪ Enquadram-se no perfil do § único, do art. 41 das Empresas Públicas e as Sociedades
de Economia Mista que prestem serviços públicos.

STJ Súmula 333: cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação
promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

STF: Pessoa Jurídica pode figurar como IMPETRANTE de Habeas Corpus em


favor dos sócios, porém NUNCA poderá figurar como PACIENTE.

● Pessoas jurídicas de Direito Privado (art. 44 do Código Civil):


Associações;
Sociedades;
Fundações;
Organizações religiosas;
Partidos políticos;
EIRELI -> ATENÇÃO!! O INCISO VI (as empresas individuais de responsabilidade limitada) FOI
REVOGADO PELA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.085/2021;

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

5.2 Teorias que explicam a existência da Pessoa Jurídica


a- Corrente negativista (Brinz, Planiol, Duguit): Negava ser a pessoa jurídica sujeito de
direito.
b- Corrente afirmativista: aceitava a teoria da pessoa jurídica, ou seja, reconhecia a
pessoa jurídica como sujeito de direito. Ela se subdivide em:
▪ Teoria da ficção (Savigny);
▪ Teoria da realidade objetiva ou organacionista (Clóvis Beviláqua);
▪ Teoria da realidade técnica ou jurídica (Ferrara; adotada pelo art. 45 do CC);

● O CC em seu art. 45, afirma a natureza CONSTITUTIVA do registro da pessoa jurídica, com
eficácia EX NUNC (Caio Mário). Daqui para frente, ela passa a ser uma PJ com existência
legal.

● Nascimento da PJ: inscrição do registro do ATO CONSTITUTIVO no sistema do registro


público respectivo. As que não têm são chamadas de sociedades despersonificadas (art.
986, CC).
● Ato constitutivo: o estatuto ou o contrato social.
● Registro respectivo: junta comercial (registro público de empresa) ou CRPJ - cartório de
registro de pessoa jurídica.
STJ Súmula 227: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

● O art. 44 do CC fora desdobrado, acrescentando-se as organizações religiosas e os


partidos políticos, para permitir em sequência, a alteração do art. 2.031 eximindo estas
entidades de se adaptarem ao novo código civil. O prazo de adaptação ao novo código
civil foi modificado várias vezes, findando em onze de janeiro de 2007. Sabe como o
examinador vai chamar esse prazo? Drama existencial.

Obs: Algumas pessoas jurídicas têm registro em sistema especial, a exemplo da sociedade de
advogados, que tem registro na OAB. Os partidos políticos que depois de adquirirem a personalidade
jurídica na forma da lei civil, deverão registrar seus estatutos no TSE (CF, art. 17§2º), as entidades
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

sindicais obterão a personalidade também com o simples registro civil, mas deverão comunicar sua
criação ao Ministério do Trabalho, não para efeito de reconhecimento, mas para o simples controle do
sistema de unicidade sindical, ainda vigente no Brasil, de acordo com o art. 8º, I e II da CF/88.

- O que se entende por personificação anômala?

Há entidades que não podem ser subsumidas ao regime legal das PJ do CC por lhes faltarem requisitos
à subjetivação, embora possam agir ativa ou passivamente. São entes que se formam
independentemente da vontade dos seus membros ou em virtude de ato jurídico que vincula pessoas
físicas em torno de bens que lhe interessam, sem lhes traduzir o affectio societatis, de onde se infere
que os grupos (entes) despersonalizados ou com personificação anômala constituem um conjunto de
direitos e obrigações, de pessoas e de bens sem personalidade jurídica e com capacidade processual
mediante representação. O art. 75 do CPC traz alguns exemplos: o condomínio, massa falida, herança
jacente/vacante, espólio; todos têm capacidade processual, todavia não são PJ’s

5.3 Lei n. 13.874 de 2019 (Liberdade Econômica): a Desconsideração da Personalidade Jurídica e a Vigência
do Novo Diploma6

⮚ O art. 49-A do Código Civil


Propositalmente, antes da disciplina jurídica da desconsideração, o legislador inseriu, no Código
Civil, o art. 49-A:
Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores.
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com
a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos,
tributo, renda e inovação em benefício de todos.

Com isso, reafirma uma premissa básica do nosso sistema: a autonomia jurídico-existencial da
pessoa jurídica em face das pessoas físicas que a integram.
Vai mais além, aliás, ao estabelecer, em seu parágrafo único, o próprio elemento teleológico da
autonomia patrimonial, qual seja, o de “estimular empreendimentos, para a geração de empregos,

6 Pablo Stolze, https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760054174/artigo-do-professor-pablo-stolze-gagliano-sobre-a-


lei-13784-2019-lei-da-liberdade-economica
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

tributo, renda e inovação em benefício de todos”, dialogando, inclusive, com o princípio da função
social da empresa.
Por via oblíqua, portanto, realça o caráter excepcional da desconsideração da personalidade
jurídica.
Nessa linha, aliás, a doutrina do jurista FLÁVIO TARTUCE:

A regra é de que a responsabilidade dos sócios em relação às dívidas sociais


seja sempre subsidiária, ou seja, primeiro exaure-se o patrimônio da pessoa
jurídica para depois, e desde que o tipo societário adotado permita, os bens
particulares dos sócios ou componentes da pessoa jurídica serem executados.

Partindo dessa premissa deve o intérprete guiar a bússola do instituto da desconsideração.

⮚ Relembrando a Teoria da Desconsideração (Disregard Doctrine)

Segundo a doutrina clássica, o precedente jurisprudencial que permitiu o desenvolvimento da


teoria ocorreu na Inglaterra, em 1897.
Trata-se do famoso caso Salomon v. Salomon & Co.
Aaron Salomon, objetivando constituir uma sociedade, reuniu seis membros da sua própria
família, cedendo para cada um apenas uma ação representativa, ao passo que, para si, reservou vinte
mil.
Pela desproporção na distribuição do controle acionário já se verificava a dificuldade em
reconhecer a separação dos patrimônios de Salomon e de sua própria companhia.
Em determinado momento, talvez antevendo a quebra da empresa, Salomon cuidou de emitir
títulos privilegiados (obrigações garantidas) no valor de dez mil líbras esterlinas, que ele mesmo cuidou
de adquirir.
Ora, revelando-se insolvável a sociedade, o próprio Salomon, que passou a ser credor
privilegiado da sociedade, preferiu a todos os demais credores quirografários (sem garantia),
liquidando o patrimônio líquido da empresa.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Apesar de Salomon haver utilizado a companhia como escudo para lesar os demais credores, a
Câmara dos Lordes, reformando as decisões de instâncias inferiores, acatou a sua defesa, no sentido
de que, tendo sido validamente constituída, e não se identificando a responsabilidade civil da
sociedade com a do próprio Salomon, este não poderia, pessoalmente, responder pelas dívidas sociais.
“Mas a tese das decisões reformadas das instâncias inferiores repercutiu”, assevera RUBENS
REQUIÃO, pioneiro no Brasil no estudo da matéria, “dando origem à doutrina do disregard of legal
entity, sobretudo nos Estados Unidos, onde se formou larga jurisprudência, expandindo-se mais
recentemente na Alemanha e em outros países europeus”.
Em linhas gerais, a doutrina da desconsideração pretende o afastamento temporário da
personalidade da pessoa jurídica, para permitir a satisfação do direito violado diretamente no
patrimônio pessoal do sócio que praticou o ato abusivo.
⮚ Teoria Maior e Teoria Menor da Desconsideração
Por óbvio, não é o meu objetivo, aqui, longa digressão acerca dessas teorias.
Todavia, é recomendável relembrar que, em torno da desconsideração, gravitam duas
importantes teorias:
a) a teoria maior;
b) a teoria menor.
O Código Civil, em seu art. 50, adotou a denominada teoria maior da desconsideração, por
exigir, além da insuficiência patrimonial, pressuposto lógico, a demonstração do abuso caracterizado
pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.
Contrapõe-se, pois, à denominada teoria menor da desconsideração, de aplicação mais
facilitada, que exige, apenas, a insuficiência patrimonial, consagrada no Direito Ambiental e no Direito
do Consumidor, bem como na Justiça do Trabalho.
Em síntese, para relações jurídicas civis ou estritamente empresariais, a desconsideração,
regulada pelo art. 50 do Código Civil, tem a sua aplicação mais dificultada, tendo em vista os requisitos
exigidos por lei, dispensados na teoria menor.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

ATENÇÃO – MODERNAS TEORIAS SOBRE DESCONSIDERAÇÃO:

● Desconsideração Inversa: Vem sendo aplicada pelo STJ, sobretudo em casos de direito de
família, permitindo ao juiz que autorize a desconsideração da pessoa natural para atingir o
patrimônio da pessoa jurídica da qual ele seja sócio e tenha se utilizado para ocultar bens
pessoais:

CFJ, Enunciado 283 – Art. 50. “É cabível a desconsideração da personalidade


jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da
pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a
terceiros”.

● Desconsideração expansiva da pessoa jurídica: Possibilidade de desconsideração para


alcançar um sócio eventualmente oculto da sociedade, comumente escondido na empresa
controladora. Muito comum nos casos em que pessoa jurídica se vale de “sócio laranja”.
● Desconsideração indireta da personalidade jurídica: Possibilidade de responsabilização da
empresa controladora que utiliza abusivamente a personalidade da empresa controlada
para causar prejuízos a terceiros ou para obtenção de vantagens indevidas.

CJF, Enunciado 406: “A desconsideração da personalidade jurídica alcança os


grupos de sociedade quando presentes os pressupostos do art. 50 do Código
Civil e houver prejuízo para os credores até o limite transferido entre as
sociedades”.

⮚ A Desconsideração na Nova Lei n. 13.874, de 20 de setembro de 2019

O caput do art. 50 do Código Civil, que já estava alterado pela MP 881/19, não experimentou
mudanças com a nova Lei:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio


de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
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DIREITO CIVIL
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obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou


de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

Elogiável, no final do texto legal, a expressão “beneficiados direta ou indiretamente pelo


abuso”, porquanto a desconsideração é instrumento de imputação de responsabilidade, não podendo,
por certo, sob pena de se ignorar a exigência do próprio nexo causal, atingir sócio que não
experimentou nenhum benefício (direito ou indireto) em decorrência do ato abusivo perpetrado por
outrem.
Passo, então, à análise dos seus parágrafos.
O § 1º do art. 50 do Código Civil experimentou uma pequena, posto significativa, mudança, em
virtude da conversão da Medida Provisória no novo diploma legal.
Para a sua melhor compreensão, colocarei, lado a lado, ambos os dispositivos:

MP 881/19, art. 50, § 1º, CC. Para fins do disposto neste artigo, desvio de
finalidade é a utilização dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar
credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (grifei)

Lei n. 13.874/19, art. 50, § 1º, CC. Para os fins do disposto neste artigo, desvio
de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores
e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.

Este parágrafo, como se pode notar, conceitua o desvio de finalidade.


A versão atual, consagrada pela Lei n. 13.874/19, com razoabilidade, retirou a exigência do dolo
para a caracterização do desvio.
A desnecessidade de se comprovar o dolo específico - a intenção, o propósito, o desiderato -
daquele que, por meio da pessoa jurídica, perpetrou o ato abusivo, moldou a teoria objetiva, mais
afinada à nossa realidade socioeconômica e sensível à condição a priori mais vulnerável daquele que,
tendo o seu direito violado, invoca o instituto da desconsideração.
O Professor FÁBIO KONDER COMPARATO afirmava que

61
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

“a desconsideração da personalidade jurídica é operada como consequência de


um desvio de função, ou disfunção, resultando, sem dúvida, as mais das vezes,
de abuso ou fraude, mas que nem sempre constitui um ato ilícito”.

Ora, a exigência do elemento subjetivo intencional (dolo) para caracterizar o desvio, como
constava na redação anterior, colocaria por terra o reconhecimento objetivo da tese da disfunção.
Com efeito, andou bem o legislador, nesta supressão!
Os demais parágrafos, outrossim, não sofreram mudanças:

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato


entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto
os de valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

O inciso III, deste § 2º, ao mencionar, genericamente, que caracterizam a confusão patrimonial
“outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial”, resultou por tornar meramente
exemplificativos os incisos anteriores.
Podem traduzir confusão patrimonial, por exemplo, a movimentação bancária em conta
individual do sócio para as operações habituais da sociedade, o lançamento direto como despesa da
pessoa jurídica de gastos pessoais do sócio ou administrador etc.

§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1o e 2o deste artigo também se


aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa
jurídica.

Em minha visão, acolheu-se, aqui, a desconsideração inversa ou invertida, o que significa ir ao


patrimônio da pessoa jurídica, quando a pessoa física que a compõe esvazia fraudulentamente o seu
patrimônio pessoal.
Trata-se de uma visão desenvolvida notadamente nas relações de família, de forma original, em
que se visualiza, com frequência, a lamentável prática de algum dos cônjuges ou companheiros que,
62
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

antecipando-se ao divórcio ou à dissolução da união estável, retira do patrimônio do casal bens que
deveriam ser objeto de partilha, incorporando-os na pessoa jurídica da qual é sócio, diminuindo, com
isso, o quinhão do outro consorte.
Nesta hipótese, pode-se vislumbrar a possibilidade de o magistrado desconsiderar a autonomia
patrimonial da pessoa jurídica, buscando bens que estão em seu próprio nome, para responder por
dívidas que não são suas e sim de seus sócios, o que tem sido aceito pela força criativa da
jurisprudência:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA.


CONVERSÃO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. COBRANÇA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. TERCEIROS. COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DA
SOCIEDADE. MEIO DE PROVA. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. OCULTAÇÃO DO PATRIMÔNIO DO SÓCIO. INDÍCIOS
DO ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. EXISTÊNCIA. INCIDENTE
PROCESSUAL.
PROCESSAMENTO. PROVIMENTO.
1. O propósito recursal é determinar se: a) há provas suficientes da sociedade
de fato supostamente existente entre os recorridos; e b) existem elementos
aptos a ensejar a instauração de incidente de desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
2. A existência da sociedade pode ser demonstrada por terceiros por qualquer
meio de prova, inclusive indícios e presunções, nos termos do
art. 987 do CC/02.
3. A personalidade jurídica e a separação patrimonial dela decorrente são véus
que devem proteger o patrimônio dos sócios ou da sociedade, reciprocamente,
na justa medida da finalidade para a qual a sociedade se propõe a existir.
4. Com a desconsideração inversa da personalidade jurídica, busca-se impedir
a prática de transferência de bens pelo sócio para a pessoa jurídica sobre a qual
detém controle, afastando-se momentaneamente o manto fictício que separa
o sócio da sociedade para buscar o patrimônio que, embora conste no nome da
sociedade, na realidade, pertence ao sócio fraudador.
5. No atual CPC, o exame do juiz a respeito da presença dos pressupostos que
autorizariam a medida de desconsideração, demonstrados no requerimento
inicial, permite a instauração de incidente e a suspensão do processo em que
formulado, devendo a decisão de desconsideração ser precedida do efetivo
contraditório.
6. Na hipótese em exame, a recorrente conseguiu demonstrar indícios de que
o recorrido seria sócio e de que teria transferido seu patrimônio para a
sociedade de modo a ocultar seus bens do alcance de seus credores, o que
63
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

possibilita o recebimento do incidente de desconsideração inversa da


personalidade jurídica, que, pelo princípio do tempus regit actum, deve seguir
o rito estabelecido no CPC/15.7. Recurso especial conhecido e provido.
(STJ, REsp 1647362/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 03/08/2017, DJe 10/08/2017)

O Código de Processo Civil de 2015 expressamente contemplou a possibilidade jurídica desta


modalidade de desconsideração, conforme se verifica do § 2.º do seu art. 133.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de
que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade
da pessoa jurídica.

Nada demais é dito aqui.


Nenhuma desconsideração poderá ser decretada, se os requisitos legais não forem obedecidos.
Um detalhe, todavia, deve ser salientado.
Se, por um lado, a mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos legais
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, por outro, nada impede que, uma
vez observados tais pressupostos, o juiz decida, dentro de um mesmo grupo, pelo afastamento de um
ente controlado, para alcançar o patrimônio da pessoa jurídica controladora que, por meio da primeira,
cometeu um ato abusivo.
Trata-se da denominada desconsideração indireta, segundo MARCIO SOUZA:

A desconsideração da personalidade jurídica para alcançar quem está por trás


dela não se afigura suficiente, pois haverá outra ou outras integrantes das
constelações societárias que também têm por objetivo encobrir algum
fraudador.(…)

§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da


finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.(NR)

Lamentavelmente, aqui, o legislador perdeu a oportunidade de aperfeiçoar o texto normativo.


Ao dispor que não constitui desvio de finalidade a “alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica”, o legislador dificultou sobremaneira o seu reconhecimento:
aquele que “expande” a finalidade da atividade exercida - como pretende a primeira parte da norma -
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

pode não desviar, mas aquele que “altera” a própria finalidade original da atividade econômica da
pessoa jurídica, muito provavelmente, desvia-se do seu propósito.
⮚ Algumas Palavras Sobre a Vigência da Lei n. 13.874, de 20 de setembro de 2019

A vigência de um diploma normativo é tema que sempre desperta o interesse da doutrina,


rendendo ensejo a polêmicas.
Até mesmo a entrada em vigor do próprio Código Civil - ocorrida, segundo firme entendimento
predominante, em 11 de janeiro de 2003 - rendeu debates.
Conforme consta no seu art. 20, a Lei n. 13.874/19 entrou em vigor:

I - (VETADO);
II - na data de sua publicação, para os demais artigos.

Ora, se, de acordo com o inc. II, a vigência seria imediata “para os demais artigos”, os artigos
contemplados no inciso vetado (arts. 6º ao 19), por consequência lógica, somente começariam a
vigorar após a vacatio de 45 dias, conforme preceitua a regra geral constante no art. 1º da Lei de
Introdução às Normas do Direito brasileiro - LINDB.
Este panorama, todavia, é, no mínimo, esquisito, sobretudo se passarmos em revista as razões
do veto ao inc. I:

A propositura legislativa, ao estabelecer o prazo de noventa dias para a entrada


em vigor dos arts. 6º ao 19 do projeto de lei, contraria o interesse público por
prorrogar em demasia a vigência de normas que já estão surtindo efeitos
práticos na modernização do registro público de empresas, simplificação dos
procedimentos e adoção de soluções tecnológicas para a redução da
complexidade, fragmentação e duplicidade de informações, entre outros.
Nestes termos, deve prevalecer a norma do inciso II do art. 20, que estabelece
a vigência imediata do projeto de lei, na data de sua publicação[8].

Com efeito, a afirmação, na parte final das razões, no sentido da prevalência da “vigência
imediata do projeto de lei”, conduz-me à ideia de que esta foi a intenção do Governo Federal.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

E talvez esta linha de entendimento, por ser mais prática, prevaleça, a despeito de a redação
do texto legal (art. 20), poder conduzir o intérprete, como visto acima, a conclusão diversa.

5.4 Administração da Pessoa Jurídica

Os atos dos administradores obrigam a pessoa jurídica, quando exercidos nos limites de seus
poderes definidos no ato constitutivo.

Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos
dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. O direito de anular as decisões
referidas decai em 3 anos, quando violarem a lei ou o estatuto, ou forem eivados de erro, dolo,
simulação ou fraude.

Atenção à inclusão recente do Código Civil, promovida pela Medida Provisória nº 1.045/2021:
Art. 48-A. As pessoas jurídicas de direito privado, sem prejuízo do previsto
em legislação especial e em seus atos constitutivos, poderão realizar suas
assembleias gerais por meios eletrônicos, inclusive para os fins do disposto
no art. 59, respeitados os direitos previstos de participação e de
manifestação. (Incluído Pela Medida Provisória nº 1.085, de 2021)

6. DO DOMICÍLIO

Domicílio é o lugar onde a pessoa se fixa com ânimo definitivo.


Moradia, residência e domicílio: Necessária distinção:
• Moradia: lugar em que a pessoa física se estabelece temporariamente.
• Residência: lugar onde a pessoa física se estabelece com habitualidade. Uma pessoa pode ter
mais de uma residência.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

● Domicílio: é o lugar em que a pessoa física fixa residência com ânimo definitivo,
transformando-¬o em centro de sua vida jurídica e social. O que diferencia domicílio de residência é
o ânimo de permanência, a definitividade.

6.1 Espécies de domicílio


● CONVENCIONAL: É aquele que se fixa por ato de vontade própria, ou seja, a pessoa fixa por
ato de vontade, ao se mudar.
● LEGAL OU NECESSÁRIO: Determinado por lei e previsto no art. 76:
o Incapaz: Domicílio de seu representante ou assistente;
o Preso: Onde cumpre pena;
o Servidor público: Onde exerce permanentemente as suas funções;
o Militar: Onde está servindo;
o Marítimo: Local da matrícula do navio.
● DE ELEIÇÃO OU ESPECIAL (art. 78, CC): É o domicílio previsto em um contrato.

7. DOS BENS

São todas as coisas com interesse econômico e/ou jurídico.

7.1 Classificação

7.1.1 Bens corpóreos e incorpóreos


Os primeiros têm existência física, concreta. Os últimos não são percebidos pelos sentidos.
7.1.2 Bens móveis e imóveis (arts. 79 a 84)
● Móveis: São os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia,
sem alteração de sua substância ou da destinação econômico-social, o que pode ser por
força própria (semovente) ou por força alheia.
o Pela própria natureza: semoventes e os sem movimento próprio

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

o Por antecipação: “atualmente” são imóveis, mas possuem finalidade última


como móveis, de modo que se antecipa sua mobilidade (ex: plantações para
corte).
“Venda de safra futura. Bens móveis por antecipação. A venda de frutos, de
molde a manifestar o intuito da separação do objeto da venda em relação ao
solo a que adere, impõe a consideração de que tais coisas tenham sido, pela
manifestação de vontade das partes contratantes, antecipadamente
mobilizadas.” (STJ, AgRg 174.406)

o Por determinação legal: São considerados bens móveis para efeitos legais (artigo
83):
▪ Energias que tenham valor econômico;
▪ Direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
▪ Direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

* ATENÇÃO: O PENHOR AGRÍCOLA não é considerado bem móvel, mas direito real sobre objetos
imóveis, porque a colheita e a safra se agregam ao solo e por definição de lei é considerado bem imóvel.

* ATENÇÃO: Os navios e aeronaves, embora sejam móveis pela natureza ou essência, são tratados pela
lei como imóveis.

● Imóveis: são os que não podem ser mobilizados, transportados ou removidos sem a sua
destruição.

No que tange à extensão dos bens imóveis, o direito brasileiro adota o CRITÉRIO DA
UTILIDADE. Ou seja: o bem imóvel abrange o espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
profundidade que sejam úteis ao seu exercício.

Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo


correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não
podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por

68
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse
legítimo em impedi-las.

Cuidado! Mesmo havendo tal extensão, a propriedade do solo NÃO ABRANGE: jazidas, minas
e demais recursos minerais, dentro outros, pois tais bens são de propriedade da União (art. 176, CF/88),
sendo propriedade distinta da do solo.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais
recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os


potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo,
para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida
ao concessionário a propriedade do produto da lavra.

o Por natureza (art.79): Não podem ser movimentados sem ruptura, são o solo e
tudo que lhe agregue naturalmente;
ATENÇÃO: Os navios e aeronaves, embora sejam móveis pela natureza ou
essência, são tratados pela lei como imóveis.

o Por acessão física: Plantações e construções, que se prendam ao solo;


ATENÇÃO: Não perdem também o caráter de imóveis:
1- As edificações que, separadas do solo, forem removidas para outro local,
desde que tenham conservado sua unidade. (art. 81, inc. I)

Obs: tais edificações devem servir a instalação definitiva, de modo que as


construções transitórias (destinadas a uma finalidade própria e efêmera), não
são consideradas bens imóveis em questão. Ex.: circos, stands em feiras, etc.

2- Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se


reempregarem. (art. 81, inc. II).

69
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

o Por acessão intelectual: são coisas móveis que são imobilizadas, por exemplo, o
maquinário na fazenda agrícola. O artigo 79 afirma que são bens imóveis o solo
e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

ATENÇÃO: O PENHOR AGRÍCOLA não é considerado bem móvel, mas direito


real sobre objetos imóveis, porque a colheita e a safra se agregam ao solo e por
definição de lei é considerado bem imóvel.

o Por determinação legal: O artigo 80 afirma que se consideram imóveis para


efeitos legais(sendo irrelevante seu aspecto naturalístico):

▪ Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram


Entenda: no raciocínio legislativo, a natureza do bem compreende a
qualidade do direito real e da ação. Dessa forma, se o bem é imóvel, o direito
real sobre ele (ex.: propriedade) e a ação que o protege, será igualmente
“imóvel”.

▪ O direito à sucessão aberta


Nessa hipótese, pouco importa o objeto sucessório. Ou seja: o direito à
sucessão aberta será considerado bem imóvel, ainda que o falecido tenha
deixado em herança apenas bens móveis (ex. automóveis)

⮚ Consequências diversas para bens móveis e imóveis:

BENS IMÓVEIS BENS MÓVEIS


Adquiridos mediante escritura Adquiridos pela tradição da
FORMA DE AQUISIÇÃO pública + registro em cartório coisa, ou seja, pela efetiva
onde estiver situado o bem entrega. Não há necessidade
de registro.

Prazos maiores: Prazos menores:


PRAZO PARA USUCAPIÃO ● 15 anos ● 5 anos
● 10 anos ● 3 anos
● 5 anos

70
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

NECESSIDADE DE Em regra, sua alienação Não é necessário


CONSENTIMENTO DO depende do consentimento do consentimento do cônjuge
CÔNJUGE PARA ALIENAÇÃO cônjuge

Comodato Mútuo
NATUREZA JURÍDICA DO
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO

DIREITO DE GARANTIA Hipoteca Penhor (exceto navios e


aeronaves)

* ATENÇÃO: Não perdem também o caráter de imóveis os materiais provisoriamente separados de um


prédio, para nele se reempregarem, inciso II, do artigo 81.

7.1.3 Bens fungíveis e infungíveis


Estão ligados à possibilidade de substituição por outro igual.
● Fungíveis: Podem ser substituídos por outros de mesma qualidade, quantidade e espécies
(artigo 85)
● Infungíveis: NÃO podem ser substituídos, seja por ato de vontade do titular ou em função
do valor histórico do bem.
Obs. Em regra, a fungibilidade decorre da natureza do bem. No entanto, nada impede que a vontade
das partes torne um bem essencialmente fungível, em bem infungível.
Ex.: um relógio que, em tese, seria fungível, mas por uma particularidade qualquer torna-se infungível
(como no caso de ter sido presenteado pelo falecido pai do atual proprietário).

7.1.4 Bens consumíveis e inconsumíveis (art. 86)

● Materialmente consumíveis: são os fisicamente consumíveis e que perdem substância


logo em seu primeiro uso;
● Juridicamente consumíveis: são os bens de consumo, ou seja, são os destinados à
alienação.
● Inconsumíveis: são os bens cuja utilização não implica em perda da substância ou
impossibilidade de futura alienação.
71
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Obs.: se tais bens, naturalmente inconsumíveis, forem destinados à venda, serão


considerados juridicamente consumíveis. Ex.: venda de um carro.

QUESTÃO DE PROVA: Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens,
julgue os itens a seguir.
Uma garrafa de vinho de 1.830 da reserva especial, clausulada com inalienabilidade por testamento
é um bem classificado como consumível fático e, ao mesmo tempo, como bem inconsumível do
ponto de vista jurídico. Resposta: Correto

7.1.5 Bens divisíveis e indivisíveis (arts. 87 e 88)

Relacionados à possibilidade ou não de fracionamento do bem sem a perda do seu valor


econômico ou de sua finalidade. A indivisibilidade pode ser:
● Física: Não poderão ser fracionados em várias partes;
● Legal: Bens podem ser materialmente divisíveis, mas, em virtude de lei não podem
ser divididos;
● Convencional: Divisibilidade por acordo entre as partes;

7.1.6 Bens singulares e coletivos (arts. 89 a 91)

● Singulares: Analisados isoladamente, mesmo estando em uma coletividade ou em uma


universalidade de fato. São considerados individualmente.
● Coletivos: Considerados em sua coletividade:
o Universalidade de fato: É a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à
mesma pessoa, tenham destinação unitária. Ex: Biblioteca ou rebanho.
o Universalidade de direito: É o conjunto de relações jurídicas dotadas de valor
econômico de uma pessoa. Ex: sucessão aberta.

7.2. Bens Acessórios (bens reciprocamente considerados)

O art. 92 diferencia os bens principais e acessórios.

72
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

▪ Principais – são aqueles que existem sobre si e não dependem de nenhum outro. Ex.:
imóvel.
▪ Acessórios – é o bem cuja existência pressupõe a existência de um bem principal. Ou
seja: o bem acessório existe em função do principal.

Os bens acessórios podem ser classificados em:

Frutos
ACESSÓ

Produtos
BENS

RIOS

Pertença
Benfeito
Partes
integrant

7.2.1 Frutos

São bens acessórios com origem no bem principal, mantendo a integridade desse último, sem a
diminuição da sua substância ou quantidade.

● Quanto à origem:
o Naturais: decorrentes da essência da coisa principal, como as frutas de uma árvore;
o Industriais: decorrentes de uma atividade humana, caso de um material produzido por
uma Fábrica;
o Civis: decorrentes de uma relação jurídica e econômica, de natureza privada, também
chamados de rendimentos. Ex: aluguéis.
● Quanto ao estado:
o Pendentes: são aqueles que estão ligados à coisa principal, e que não foram colhidos;
o Percebidos: são os colhidos do principal e separados;
o Estantes: são aqueles que foram colhidos e encontram-se armazenados;
o Percipiendos: são os que deveriam ter sido colhidos, mas não foram;
73
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

o Consumidos: são os que já foram colhidos e já não existem mais.

7.2.2 Produtos
São os bens acessórios que saem da coisa principal, diminuindo a sua quantidade e substância.
Ex: Diamante extraído de uma mina.

7.2.3 Pertenças
São bens destinados a servir um outro bem principal, por vontade ou trabalho intelectual do
proprietário. São bens que se acrescem, como acessórios à coisa principal. Embora sejam acessórios,
conservam sua individualidade e autonomia, tendo apenas como principal uma subordinação
econômico-jurídica, pois sem qualquer incorporação vinculam-se ao principal para que atinja suas
finalidades. Ex: Armários em uma cozinha.
Embora sejam acessórios, conservam sua individualidade e autonomia, de modo que sua
subordinação ao bem principal se dá apenas por motivos socioeconômicos: uso serviço ou
aformoseamento do bem principal. Dessa forma, pode-se dizer que não há uma incorporação da pertença
ao bem principal, mas sim uma independência.

7.2.4 Partes integrantes


São bens acessórios unidos ao bem principal, formando com este último um todo
independente, sendo desprovido de existência material própria, embora mantendo cada um
sua integridade. Ex: lente de máquina fotográfica.

7.2.5 Benfeitorias
Acessórios introduzidos pelo homem em um bem móvel ou imóvel já existente. Podem ser:
● Necessárias: Objetivam conservar o bem ou evitar que se deteriore;
● Úteis: Facilitam o uso do bem;
● Voluptuárias: NÃO aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais
agradável. São de mero embelezamento ou deleite.

74
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Vamos ver a relação dos frutos e das benfeitorias com o possuidor de boa-fé e má fé?

POSSUIDOR DE BOA-FÉ POSSUIDOR DE MÁ-FÉ


Desconhece o vício que paira sobre a coisa Conhecedor do vício que paira sobre a coisa.
Frutos Frutos
✔ Tem direito aos frutos percebidos enquanto durar ✔ Responde pelos frutos colhidos e
a boa-fé percebidos
✔ Restituição dos frutos pendentes ao tempo em que ✔ Responde pelos frutos que deixou de
cessou a boa-fé deduzidos os custos. perceber por sua culpa
✔ Restituição dos frutos colhidos por antecipação ao ✔ Tem direito as despesas de produção e
tempo que cessou a boa-fé custeio.

Indenização de benfeitorias Indenização de benfeitorias


✔ Necessárias – direito à indenização e direito de ✔ Necessárias – direito à indenização e sem
retenção direito à retenção
✔ Úteis - direito à indenização e direito de retenção ✔ Úteis – sem direito à indenização
✔ Voluptuárias – direito à indenização e direito de ✔ Voluptuárias – sem direito à indenização e
levantá-las, quando puder sem detrimento da sem direito à levantamento.
coisa.
Casos especiais
(1) STJ - Quando irregularmente ocupado o bem
público, não há que se falar em direito de retenção
pelas benfeitorias realizadas, tampouco em direito
a indenização pelas acessões, ainda que as
benfeitorias tenham sido realizadas de boa-fé. Isso
porque, nesta hipótese não há posse, mas mera
detenção, de natureza precária.
(2) Na lei de locações – possuidor de boa-fé só terá
direito as benfeitorias úteis se houver previa
autorização do locador.
(3) No comodato – a benfeitoria útil não é indenizável
e não há direito de retenção

7.3 Bem de família

75
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Há duas espécies: voluntário e legal.

7.3.1 Voluntário

Aquele instituído por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou até mesmo de terceiro,
mediante:
(a) registro no Cartório de Imóveis,
(b) por escritura pública ou
(c) testamento.
Para evitar fraudes, o bem de família voluntário não pode ultrapassar o limite de 1/3 do
patrimônio líquido dos seus instituidores.

A instituição do bem de família voluntário acarreta 2 efeitos fundamentais:

● Impenhorabilidade(CC, 1715): “O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores a


sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de
condomínio.”
● Inalienabilidade(CC, 1717): “O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família,
não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o
consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.”

Essas características não são absolutas, podendo ser afastadas em casos excepcionais ou
eventualmente extinto o bem de família. Vejamos a redação dos dispositivos legais:

Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família


nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos
interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o
constituem em outros, ouvidos o instituidor e o Ministério Público.

Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.

76
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos


cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o
único bem do casal.

Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos


os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.

Vale acrescentar, a teor do art. 1712, que o bem de família voluntário poderá compreender
valores mobiliários (renda), aplicados na conservação do imóvel e no sustento da família, podendo
essa renda, inclusive, ser administrada por instituição financeira (art. 1713, §3º do CC) (em caso de
liquidação dessa entidade, os valores serão transferidos para outra instituição congênere, art. 1718 -
trust).

7.3.2 Legal

O bem de família legal, instituído pela Lei 8009/90, concretiza o direito constitucional à
moradia e a noção de patrimônio mínimo (FACHIN), decorrente do valor superior da dignidade da
pessoa humana. Anote-se que, em razão de tal caráter protetivo, a Lei 8009/90 aplica-se a penhora
realizada antes de sua vigência, nos termos da súmula 205 do STJ.
Ademais, também privilegiando a proteção constitucional do direito à moradia, o STJ entendeu
que a impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato
de o imóvel pertencer à sociedade empresária. (Info 579/STJ)

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos
pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e
todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitados.

77
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de


arte e adornos suntuosos.
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos
bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de
propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-


se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar
para moradia permanente.
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de
vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre
o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no
Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.

Se houver 2 imóveis residenciais em que a família alternadamente viva, nos termos do art. 5º
da Lei 8009/90, a proteção legal recai no de menor valor, salvo se o imóvel mais valioso houver sido
inscrito como bem de família voluntário. Com relação aos bens MÓVEIS, o art. 2º da Lei 8009 exclui
de sua proteção veículos de transporte, obras de arte e adorno suntuosos. Ademais, o locatário tem
a proteção dos bens móveis quitados que guarnecem a residência, desde que não sejam suntuosos.

7.3.2.1 Exceções à impenhorabilidade do bem de família legal


Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil,
fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I- (Revogado pela Lei Complementar nº 150, de 2015)
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção
ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em
função do respectivo contrato;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem,
do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal,
observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;

O STF entendeu que a pensão alimentícia pode decorrer tanto de relações familiares, quanto
de obrigação de reparar danos. Assim, a impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta ao
credor de pensão alimentícia decorrente de indenização por ato ilícito (REsp 1.186.225).

78
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições


devidas em função do imóvel familiar;

STF já assentou o entendimento no sentido de que TAXA DE CONDOMÍNIO também


excepciona a proteção do bem de família (RE 439003-SP).

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo
casal ou pela entidade familiar;

STJ já decidiu que todas as hipóteses de afastamento da impenhorabilidade do bem de família devem
ser interpretadas restritivamente. Assim, tal exceção abrange apenas as hipotecas constituídas em
razão de dívidas do casal ou da entidade familiar, não podendo ser oposta por credores de terceiros.
Ex.: José dá seu imóvel em garantia de dívida de João. prevalece a impenhorabilidade. (Resp
1.115.265/RS)

A ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de
impenhorabilidade do bem de família dado em garantia hipotecária na hipótese de dívida constituída
em favor de entidade familiar. A ausência de registro da hipoteca não a torna inexistente, mas apenas
válidas inter partes (Info 585/STJ).

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de


locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991) -> STF já disse que esse
dispositivo é constitucional.

Súmula 549/STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de


contrato de locação.

Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se


insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência
familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga.

STJ: Em se tratando de bem de família oferecido como caução imobiliária em


contrato de locação, não se aplica a exceção prevista no artigo 3º, VII, da Lei
8.009/1990.

79
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

7.3.2.2 Súmulas e Jurisprudências sobre bem de família


⮚ SÚMULAS
Súmula 364/STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas de viúvas.

Súmula 486/STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que


esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida
para a subsistência ou moradia de sua família.

Súmula 449/STJ: A vaga de garagem, que possui matrícula própria no Registro


de Imóveis, não constitui bem de família, para efeito de penhora.

Súmula 549/STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de


contrato de locação.

⮚ JURISPRUDÊNCIAS:

A exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista para o crédito


decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, estende-se ao imóvel adquirido com os recursos oriundos da venda
daquele bem
Exemplo hipotético: João contraiu empréstimo para a aquisição de um
apartamento. Ele conseguiu obter o dinheiro com o Banco e se comprometeu
a pagar o mútuo em 60 prestações mensais. Com os recursos obtidos, João
comprou o referido apartamento e nele passou a viver com a sua família. Algum
tempo depois, João alienou o apartamento e, com o dinheiro, comprou uma
casa. Se o devedor atrasar as parcelas, será possível que o banco execute o
contrato e consiga a penhora da casa com base na autorização excepcional
prevista no inciso II do art. 3º da Lei nº 8.009/90.
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil,
fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:(...) II -
pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou
à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em
função do respectivo contrato;
STJ. 3ª Turma. REsp 1935842-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
22/06/2021 (Info 702).

É possível a penhora de fração ideal do bem de família?

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

É possível a penhora de fração ideal de bem de família, nas hipóteses legais,


desde que possível o desmembramento do imóvel sem sua descaracterização.
Isto é, torna-se possível a penhora de fração ideal de bem de família, desde que
o imóvel possa ser desmembrado sem ser descaracterizado (não inviabilize a
residência da família).
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1704667/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
22/03/2021.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1655356/SPS, Rel. Min. Ricardo Villas Boas
Cueva, julgado em 19/04/2021.

É possível a penhora de parte do imóvel caracterizado como bem de família,


quando desmembrável, e desde que o desmembramento não prejudique ou
inviabilize a residência da família.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1679373/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
30/11/2020.

Admite-se, excepcionalmente, a penhora de parte do imóvel quando for


possível o seu desmembramento em unidades autônomas, sem descaracterizá-
lo, levando em consideração, com razoabilidade, as circunstâncias e
peculiaridades do caso. Situação não demonstrada no caso dos autos.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1146607/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado
em 04/05/2020.

Não se pode penhorar o bem de família com base no inciso IV do art. 3º da Lei
8.009/90 se o débito de natureza tributária está relacionado com outro
imóvel que pertencia ao devedor.
Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no
art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja
proveniente do próprio imóvel que se pretende penhorar. (Info. 665/STJ –
2020)

Proprietário que aceita que seu bem de família sirva como garantia de um
contrato de alienação fiduciária em garantia não pode, posteriormente, alegar
que esse ato de disposição foi ilegal (Info 664/STJ – 2019)

Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão


do seu valor econômico, da proteção conferida pela Lei nº 8.009/90
aos bens de família (AgInt no AREsp 1199556/PR - 2018)

Constitui bem de família o único imóvel residencial do devedor em que resida


seu familiar, ainda que o proprietário nele não habite. (Info 543/STJ)

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Tratando-se de bem de família que constitua imóvel rural, é possível que se


determine a penhora da fração que exceda o necessário à moradia do devedor
e sua família. (Info 521/STJ)

A impenhorabilidade do bem de família é matéria de ordem pública, dela


podendo conhecer o juízo a qualquer momento, antes da arrematação do
imóvel, desde que haja prova nos autos. (REsp 981.532/RJ)

O simples fato de ter sido decretada a desconsideração da personalidade


jurídica, ainda que por fraude à massa falida, por exemplo, não implica, por si
só, a possibilidade de penhora do bem de família dos sócios, salvo se os atos
fraudulentos se encaixarem nas exceções do art. 3º da Lei 8.009/90. (Info
549/STJ)

Regra: proteção do bem de família é norma cogente, não podendo o devedor


abrir mão de tal benesse.

Exceção: em acordo homologado judicialmente, o executado pactuou a


prorrogação do prazo para pagamento e a redução do valor da dívida que
contraíra em benefício da família, dando em garantia o bem de família: arguir
a impenhorabilidade seria venire contra factum proprium. (Info 558/STJ)

Referências Bibliográficas:
Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil.
Nelson Rosenvald. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB.
André Santa Cruz Ramos. Direito Empresarial Esquematizado.

TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO

01. Explique cada uma das formas de integração da lei:

ANALOGIA

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

COSTUMES

PRINCÍPIOS
GERAIS DO DIREITO

02. O que se entende por “silêncio eloquente”?

03. Diferencie:

ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

83
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

04. Quais são os critérios utilizados para a solução de antinomias?

05. O que é repristinação?

06. Diferencie as três espécies de parecer:

FACULTATIVO

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

OBRIGATÓRIO

VINCULANTE

07. O que é vacatio legis?

08. Quais são os valores que permeiam o Código Civil de 2002?

09. Diferencie:
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

CAPACIDADE DE FATO CAPACIDADE DE DIREITO

10. Explique as teorias sobre a personalidade jurídica do nascituro:

NATALISTA

CONCEPCIONISTA

DA PERSONALIDADE CONDICIONAL

DA PERSONALIDADE MISTA

11. Quais foram as alterações promovidas no CC/02 com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência?
ANTES DO EPD DEPOIS DO EPD

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

12. Quais são as hipóteses de emancipação legal?

13. O que é o dano por ricochete?

14. Quais são as características dos direitos da personalidade?

15. De acordo com o STJ, a pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais?
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

16. O que é “lucro de intervenção”?

17. O que é o “direito ao esquecimento”? Qual o entendimento do STF sobre sua compatibilidade com a
CF/88?

18. Em que hipóteses ocorre a morte presumida?

19. Conceitue “ausência” e explique como ocorre a tutela dos bens.

88
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

20. O que é a “personificação anômala”?

21. Sucintamente, explique a teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

22. Diferencie:

Moradia

Residência

Domicílio

23. Diferencie:

Frutos

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Produtos

Pertenças

Partes integrantes

Benfeitorias

24. Cite 03 exceções à impenhorabilidade do bem de família.

25. Sobre os bens, complete as tabelas abaixo:

- Bens imóveis

FORMA DE AQUISIÇÃO

PRAZO PARA USUCAPIÃO

NECESSIDADE DE
CONSENTIMENTO DO
CÔNJUGE PARA ALIENAÇÃO

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

NATUREZA JURÍDICA DO
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO

DIREITO DE GARANTIA

- Bens móveis

FORMA DE AQUISIÇÃO

PRAZO PARA USUCAPIÃO

NECESSIDADE DE
CONSENTIMENTO DO
CÔNJUGE PARA ALIENAÇÃO

NATUREZA JURÍDICA DO
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO

DIREITO DE GARANTIA

QUESTÕES PROPOSTAS

01 – 2022 - FCC - DPE-PB - Defensor Público


Luiza, maior e capaz, é travesti e gostaria de alterar seu nome e sexo no registro civil de nascimento. De acordo
com a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 4275, a alteração é possível sem a necessidade de cirurgia
de transgenitalização :

a) judicialmente, apenas, mediante a realização de perícia psicossocial.


b) extrajudicialmente, mediante a realização de terapia hormonal.
c) extrajudicialmente, independentemente de tratamento hormonal ou perícia psicossocial.
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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

d) judicialmente, apenas, independentemente de tratamento hormonal ou perícia psicossocial.


e) extrajudicialmente, mediante a realização de perícia psicossocial.

02 - 2022 - CESPE/CEBRASPE - DPE-SE - Defensor Público


Francisco tem 15 anos de idade, é órfão de pai e mãe, não possui tutor constituído e vive em companhia de sua
irmã Raimunda, de 22 anos de idade. Em decorrência do seu estado de necessidade, Francisco pretende ajuizar
ação de alimentos em face de seus avós paternos.
Nessa situação hipotética, para o ajuizamento da ação, Francisco:

a) não necessita de representação processual.


b) deve ser representado por sua irmã Raimunda.
c) deve ser representado por qualquer um de seus avós maternos e, na falta desses, por irmão ou irmã maior de
idade.
d) pode ser representado por qualquer parente de segundo grau, na linha reta ao colateral.
e) deve ser representado por curador especial.

03 - 2022 - CESPE/CEBRASPE - DPE-SE - Defensor Público


De acordo com a classificação dos bens móveis e imóveis disposta no Código Civil Brasileiro, assinale a opção
correta.

a) As edificações, quando separadas do solo e removidas para outro local, mesmo conservando a sua unidade,
perdem o caráter de bem imóvel.
b) Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para serem nele reempregados, adquirem o caráter
de bem móvel.
c) Os materiais provenientes da demolição de algum prédio adquirem a condição de bens móveis.
d) Direito à sucessão aberta é considerado bem móvel para os efeitos legais.
e) Consideram-se bens imóveis as energias que tenham valor econômico.

04 - 2022 - CESPE/CEBRASPE - DPE-SE - Defensor Público


Assinale a opção correta acerca da desconsideração da personalidade jurídica.

92
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

a) A simples existência de grupo econômico autoriza a desconsideração da personalidade jurídica.


b) A desconsideração inversa da personalidade jurídica não encontra respaldo no ordenamento jurídico
brasileiro.
c) Constitui desvio de finalidade a expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica
específica da pessoa jurídica.
d) O encerramento irregular da sociedade aliado à falta de bens capazes de satisfazer o crédito exequendo
constituem motivos suficientes para a desconsideração da personalidade jurídica.
e) A confusão patrimonial caracteriza-se pela ausência de separação de fato entre o patrimônio do sócio e o da
pessoa jurídica.

05 - 2022 - CESPE/CEBRASPE - DPE-SE - Defensor Público


Acerca do domicílio da pessoa jurídica e do domicílio necessário, assinale a opção correta.

a) O domicílio do município é o do lugar onde reside o prefeito.


b) O domicílio da pessoa jurídica que tenha diversos estabelecimentos em lugares diferentes é o de sua matriz.
c) O domicílio necessário exclui o voluntário.
d) O domicílio necessário do incapaz é aquele no qual ele reside.
e) O domicílio necessário do servidor público é o lugar em que exercer permanentemente suas funções.

06 - 2022 - INSTITUTO AOCP - DPE-PR - Defensor Público


Josefa procura a Defensoria Pública afirmando que seu companheiro, José, foi diagnosticado com mal de
Alzheimer. Narra também que José tem um filho, João, criança que está sob a guarda de fato da mãe, Maria.
Diante dessa situação hipotética e com base no Código Civil, no Estatuto da pessoa com deficiência (Lei nº
13.146/2015) e na jurisprudência do STJ sobre o tema, analise as assertivas e assinale a alternativa correta.

I. José é absolutamente incapaz.


II. José poderá se casar, exercer direitos sexuais e reprodutivos e exercerá o direito à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
III. Em caso de ação de regulamentação de convivência familiar intentada por Maria nos interesses de João, o
juiz deverá suspender a convivência com José pela segurança da criança.
IV. É possível a José valer-se do processo da tomada de decisão apoiada, pelo qual a pessoa com deficiência

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança,
para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

a) Apenas as assertivas II, III e IV estão corretas.


b) Apenas a assertiva IV está correta.
c) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
d) Apenas as assertivas II e III estão corretas.
e) Todas as assertivas estão corretas.

07 - 2022 - FGV - TJ-MG - Juiz de Direito Substituto


A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro dispõe sobre o conflito de leis no tempo:
“Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica
a lei anterior.
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
Analise as afirmativas a seguir.
I. Como o Código Civil é a “Constituição do homem comum”, emenda à Constituição Federal, editada
posteriormente ao Código Civil de 2002, não revoga regras codificadas, quando conflitantes.
II. A criação dos chamados “microssistemas” não exclui a aplicação do Código Civil às relações jurídicas
abrangidas pelos ditos “microssistemas”.
III. O Código de Defesa do Consumidor se tornou incompatível com o Direito Empresarial, após a vigência do
Código Civil de 2002.
IV. Tendo em vista a necessidade da criação dos chamados “microssistemas”, desde o século XX passou a ser
recomendado evitar a interpretação do Direito como unidade sistemática, a fim de se garantir a supremacia da
Constituição Federal, a centralidade do Código Civil e a segurança jurídica.
Está correto o que se afirma em:

a) I, II, III e IV.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

b) II e IV, somente.
c) II, somente.
d) IV, somente.

08 - 2022 - FAURGS - TJ-RS - Juiz Substituto


Com relação ao direito brasileiro, no tocante aos bens reciprocamente considerados, assinale a afirmativa
correta.

a) O acessório não é alcançado pela sorte do principal.


b) Parte integrante e acessório são vocábulos sinônimos.
c) Os frutos e produtos só podem ser objeto de negócio uma vez separados do bem principal.
d) O tratamento da noção de pertença no Código Civil de 2002, confirma a regra de que o acessório segue o
principal.
e) Segundo o disposto no Código Civil de 2002, o negócio jurídico celebrado a respeito de um bem principal só
abrange as pertenças se houver manifestação expressa ou tácita das partes ou decorrer de dispositivo de lei.

09 - 2022 - CESPE/CEBRASPE - DPE-PI - Defensor Público


Alice, brasileira, casou-se no Brasil com Artur, estrangeiro, sob o regime da comunhão universal de bens, no ano
de 2003. O primeiro e atual domicílio do casal é um país da Europa. Da união adveio um filho, Joaquim, ainda
menor de idade, nascido no país do primeiro domicílio do casal. Durante a união foram adquiridos dois imóveis:
um localizado no Brasil e outro localizado em país da América do Norte, além de um veículo com registro e em
circulação no Brasil.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta.

a) Em caso de morte de Artur, a sucessão obedecerá à lei brasileira.


b) Em caso de morte de Artur, a lei brasileira regulará a capacidade para suceder de Alice.
c) Somente à autoridade judiciária brasileira compete conhecer ação relativa aos bens adquiridos por Alice e
Artur.
d) O regime de bens do casamento de Alice e Artur foi necessariamente convencionado em pacto antinupcial.
e) Em caso de morte de Alice e Artur, a sucessão do veículo será regulada pela lei brasileira em benefício de
Joaquim, em qualquer hipótese.

95
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

10 - 2022 - FGV - DPE-MS - Defensor Público Substituto


Juliano viveu uma vida de excessos e se preocupa em dar um fim útil ao considerável conjunto de bens que
amealhou durante a sua vida. Por isso, deseja que, após a sua morte, 20% dos seus bens sejam destinados à
instituição de uma fundação para fins de defesa, conservação e promoção do meio ambiente dos povos
ribeirinhos.
A partir disso, é correto afirmar que:

a) se insuficientes para instituir a fundação, os bens deixados por Juliano deverão retornar ao monte a ser
inventariado, a fim de que se faça a partilha;
b) para alterar o estatuto da fundação, a reforma deve ser deliberada por 2/3 dos competentes para gerir e
representá-la e não desvirtuar ou contrariar o seu fim;
c) se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, a
incumbência caberá ao Ministério Público;
d) tornando-se inútil, impossível ou ilícita a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo da sua
existência, o juiz lhe promoverá a extinção, incorporando o seu patrimônio a outra fundação.

11 - 2021 - FCC - DPE-AM - Defensor Público


José Ferreira, pescador, mora em comunidade ribeirinha às margens do Rio Purus, no Estado do Amazonas. Ele
habitualmente sai com sua embarcação, sozinho, no início da semana e retorna após alguns dias de pesca.
Todavia, após sua última saída, não retornou como fazia habitualmente. Os familiares procuraram as
autoridades e fizeram buscas nos trechos que ele costumava pescar, mas não foi encontrado nenhum sinal dele
ou de sua embarcação. Depois de quase um ano sem nenhuma notícia do seu paradeiro, os familiares
procuraram a Defensoria Pública para informações sobre como poderiam proceder diante desta situação, pois
ele deixou alguns bens e herdeiros, mas não há nenhum representante ou mandatário. À luz de tais elementos,
o/a defensor/a deverá indicar que haverá a necessidade de:

a) ajuizar ação judicial para a declaração de ausência, mediante arrecadação dos bens e nomeação de curador
neste primeiro momento.
b) instaurar procedimento administrativo para a declaração de ausência, mediante arrecadação dos bens e
nomeação de curador.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

c) ajuizar ação judicial para a declaração da morte presumida, sem necessidade de declaração de ausência,
passando-se desde logo à sucessão, ainda que provisória.
d) ajuizar ação judicial para a declaração de ausência, passando-se desde logo à sucessão, ainda que provisória.
e) ajuizar ação judicial para a declaração de morte presumida, passando-se desde logo à sucessão definitiva.

12 - 2021 - FCC - DPE-SC - Defensor Público


O Código Civil de 1916 teve sua vigência por mais de oito décadas e sofria críticas em razão de seu anacronismo,
sobretudo em suas últimas décadas de vigência, além de um evidente descompasso com os preceitos
constitucionais insculpidos na Constituição de 1988. A proposta do Código Civil de 2002 foi de superar um
modelo extremamente individualista e patrimonialista. Mesmo com base em uma principiologia e valores
diversos daqueles que determinaram a codificação revogada, ainda remanescem espaços para críticas na
legislação em vigor. No que diz respeito ao direito civil:

a) os animais são tratados como bens semoventes e, portanto, ainda que sejam animais de companhia, a única
solução cabível para eventuais disputas a respeito de animais domésticos passa pelos conceitos de posse e
propriedade, sendo inaplicável o estabelecimento do direito de visitas e a consideração do valor afetivo, restrito
às relações familiares e interpessoais.
b) a lei, a doutrina e a jurisprudência apontam que o direito civil não deve se preocupar com a tutela de direitos
dos animais, uma vez que não há qualquer confluência do direito privado para tal objeto, que deve ser tratado
exclusivamente no âmbito do direito ambiental.
c) a lei em vigor ainda trata os animais como coisa, objeto de direito, mas os Tribunais vêm crescentemente
atentando-se às especificidades dos animais de companhia como seres sencientes e, inclusive, já se identifica a
insuficiência dos conceitos de posse e propriedade para tais finalidades.
d) a legislação em vigor no território nacional se encontra absolutamente em compasso com a evolução da
matéria e com as tendências verificadas nas vertentes mais modernas de direito civil, contemplando
expressamente a possibilidade de fixação de guarda de animais domésticos, por aplicação do conceito de família
multiespécie, também contemplada pela lei.
e) o Código Civil de 2002 é pioneiro e vanguardista no estabelecimento de um regime jurídico que protege e
privilegia os animais como seres sencientes e que ostentam o direito à vida e à dignidade.

13 - 2021 - FCC - DPE-SC - Defensor Público

97
DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Em 2018, o Pleno do Supremo Tribunal julgou duas importantes ações, a ADI 4.275 e o RE 670.422, com
repercussão geral (tema 761), ambas envolvendo direitos da personalidade das pessoas transgênero. Na
oportunidade, ficou definido que as pessoas transgênero têm direito à alteração do prenome e do gênero:

a) mediante procedimento administrativo, de modo que fica vedada a discussão judicial.


b) mediante procedimento administrativo ou judicial, desde que comprovem a realização de cirurgia de
transgenitalização.
c) desde que o façam por meio de procedimento judicial, que exige comprovação da situação de transgênero
por todos os meios de prova admitidos em direito.
d) mediante procedimento administrativo, mas o procedimento extrajudicial deve indicar no registro que se
trata de pessoa transgênero, salvo decisão judicial em sentido diverso.
e) mediante procedimento administrativo ou judicial, não se exigindo para tanto nada além da sua manifestação
de vontade.

14 - 2021 - CESPE/CEBRASPE - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


A respeito de fundamentos e noções gerais de direito, julgue o item a seguir.
Com o seu avanço, a doutrina jurídica tornou-se fonte material de direito no caso de falta da lei e passou a ser
assim prevista na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

( ) Certo ( )Errado

15 - 2021 - FCC - TJ-GO - Juiz Substituto


O juiz poderá desconsiderar a personalidade de pessoa jurídica de fins econômicos, a requerimento da parte ou
do Ministério Público:

a) somente quando se verificar a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores ou para a prática
de atos ilícitos.
b) se, cobrada judicialmente, os bens da pessoa jurídica não forem suficientes para o pagamento do credor.
c) se ocorrer a transferência, entre os sócios e a sociedade, de ativos ou de passivos, sem efetivas
contraprestações, salvo se de valor proporcionalmente insignificante.
d) se houver grupo econômico e uma das sociedades que o integra deixar de cumprir obrigação pecuniária.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

e) quando houver expansão ou alteração da finalidade original da atividade específica da pessoa jurídica.

16 - 2021 - FCC - DPE-BA - Defensor Público


Fábio, 16 anos, órfão de pai e mãe, vive com sua irmã em uma pequena casa construída por seu pai. A Secretaria
Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas – Seinfra, de Salvador, acionou a Defensoria Pública do Estado da
Bahia a fim de que o adolescente pudesse se tornar beneficiário de uma das unidades habitacionais das obras
de urbanização integrada. Todavia, em razão de sua incapacidade civil relativa e da ausência de representante
legal para prestar assistência, não preenchia os requisitos para se habilitar no programa residencial. Diante dessa
situação, mostra-se adequado que a Defensoria Pública:

a) represente Fábio em procedimento denominado de tomada de decisão apoiada.


b) nomeie tutor ou curador especial para representá-lo perante a Secretaria Municipal, suprindo a sua
incapacidade relativa.
c) oriente Fábio para que obtenha a sua emancipação por meio de instrumento público, independentemente de
homologação judicial.
d) oriente Fábio que aguarde atingir a maioridade a fim de que possa exercer por si só os atos da vida civil, uma
vez que a emancipação não se mostra possível nas circunstâncias descritas.
e) proponha judicialmente ação para o fim de obter a emancipação de Fábio e, consequentemente, ele passará
a ser absolutamente capaz.

17 - 2021 - FGV - DPE-RJ - Defensor Público


A respeito dos direitos da personalidade, é correto afirmar que:

a) o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, ainda que permanente e geral;
b) as partes destacadas e recuperáveis do corpo humano – como fio de cabelo, saliva, sêmen – merecem a
mesma proteção recebida pelas partes não recuperáveis do corpo;
c) a disposição do próprio corpo, ainda que gratuita, com objetivos exclusivamente científicos, é autorizada;
d) a substituição de um dos patronímicos por ocasião do matrimônio não poderá ser revertida ainda na
constância do matrimônio, sob alegação de que o sobrenome adotado assumiu posição de protagonismo em
detrimento do sobrenome familiar;
e) o uso não autorizado da imagem de torcedor inserido no contexto de uma torcida pode induzir a reparação

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

de danos morais, ainda que não configurada a projeção e a individualização da pessoa nela representada.

18 - 2019 - MPE-SP - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto


Considere as afirmações a seguir.
I. Os direitos da personalidade são extrapatrimoniais, imprescritíveis e vitalícios.
II. Comoriência é o estudo de como funciona a Ciência do Direito.
III. Os direitos da personalidade são absolutos porque não podem sofrer nenhum tipo de limitação.

IV. A incapacidade relativa pode ser suprida com mera assistência, desde que haja autorização judicial,
dispensando a representação.
Dessas afirmações,

a) três são corretas.


b) duas são corretas.
c) todas são corretas.
d) apenas uma é correta.
e) nenhuma é correta.

19 - 2019 – CESPE / CEBRASPE – DPE-DF – Defensor Público


Tendo como referência as disposições do Código Civil a respeito de sucessão provisória, perdas e danos e venda
com reserva de domínio, julgue o item subsecutivo.

Na sucessão provisória, o ascendente, mesmo depois de provada a sua qualidade de herdeiro, deverá dar
garantia mediante penhor ou hipoteca para imitir-se na posse do bem do ausente.
( ) Certo ( ) Errado

20 – 2019 – FUNDEP (Gestão de Concursos) – DPE-MG – Defensor Público


A Lei Federal nº 13.655/2018 acrescentou vários dispositivos à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB), inserindo normas de hermenêutica afetas ao direito público para melhorar a qualidade da atividade
jurídico-decisória na gestão pública. Assegura, assim, máxima efetivação dos princípios da eficiência e,
principalmente, da segurança jurídica.

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DIREITO CIVIL
LINDB, Introdução ao Direito Civil e Parte Geral

Nesse panorama, assinale a alternativa correta.

a) Embora a segurança jurídica seja uma preocupação da norma, as respostas a consultas emitidas não terão
caráter vinculante em relação ao órgão ou à entidade a que se destinam, mas, sim, informativo.
b) Os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo são
irrelevantes quando da interpretação de normas sobre gestão pública, haja vista a indisponibilidade do interesse
público.
c) As instâncias controladora e judicial, embora obrigadas a motivar suas decisões, não devem considerar as
consequências práticas da medida imposta, que é atividade de competência exclusiva da administração pública.
d) A edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser
precedida de consulta pública para manifestação de interessados.

Respostas7

7
01: C 02: E 03: C 04: E 05: E 06: C 07: C 08: E 09: D 10: C 11: A 12: C 13: E 14: E
15: C 16: E 17: B 18: D 19: E 20: D
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