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DIREITO CIVIL

LINDB: LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO


DIREITO BRASILEIRO
ATUALIZADO EM 05/06/2017

1. INTRODUÇÃO

A antiga Lei de Introdução ao Código Civil é o Decreto-lei 4.657, de 1942,


conhecida anteriormente nos meios jurídicos pelas iniciais LICC (hoje LINDB – Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). Trata-se de uma norma de
sobredireito, ou seja, de uma norma jurídica que visa a regulamentar outras normas
(leis sobre leis ou lex legum).

A antiga “LICC” (hoje LINDB) nada introduz ao CC, na verdade, não mantém
qualquer relação com ele.

Enquanto o Código Civil se ocupa de estudar a tutela da pessoa humana, a


LINDB preocupa-se com a própria norma jurídica, sendo essa o seu o objeto de
estudo. Há, portanto, uma diversidade de objetos e, sendo assim, a “LICC” não era
e não é um diploma legal introdutório do CC apesar desse antigo nome.

Em outras palavras, o seu conteúdo interessa mais à Teoria Geral do Direito


do que ao Direito Civil propriamente dito. A LINDB, na verdade, é um diploma legal
multidisciplinar que se aplica universalmente a qualquer ramo do direito. É, portanto,
um código geral sobre a elaboração e aplicação das normas jurídicas; tem como
objetivo, então, a elaboração, vigência e aplicação de leis.

#OLHAOGANCHO Assim, a LINDB é autônoma e independente do CC. Prova


disso é que o CC foi alterado e a LINDB continuou a mesma.

Na expressão de Arruda Alvim, a “LICC” é um código de normas e não um


apêndice ao CC. Vê-se, então, que o nome LICC era indevido, tanto que foi
modificado para Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).

2. ESTRUTURA DA LINDB

A estrutura da LINDB pode ser dividida em 07 tópicos para a sua melhor


compreensão.

1. Vigência das normas: art. 1º e 2º.


2. Obrigatoriedade da norma: art. 3º.

3. Integração da norma: art. 4º.

4. Interpretação da norma: art. 5º.

5. Aplicação da lei no tempo: art. 6º.

6. Aplicação da lei no espaço: artigos 7º a 19.

3. VIGÊNCIA DAS NORMAS: ART. 1º E 2º

*#OUSESABER: Qual o momento em que o projeto de lei se transforma em lei?


A corrente majoritária entende que o projeto de lei se torna lei com a sanção ou
com a rejeição do veto. Segundo esta posição, a promulgação apenas promulga
uma lei já existente. Neste sentido, Gilmar Mendes afirma que “com a promulgação
se atesta a existência da lei, que passou a existir com a sanção ou com a rejeição
do veto, e se ordena a sua aplicação”. Pedro Lenza conclui da seguinte forma: “tanto
é que o art. 66, §7º, fala, expressamente, em promulgação da lei, e não do projeto
de lei. Portanto, para as provas objetivas leve esta posição.

*#OUSESABER: “Apenas leis de pequena repercussão estão autorizadas a utilizar


a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação”. Resposta: CERTO. Não
obstante possa-se notar, atualmente, uma verdadeira generalização do uso da
referida cláusula, há previsão legal expressa LIMITANDO sua utilização às normas
de ‘pequena repercussão’. Trata-se do art. 8º da Lei Complementar 95/98, o qual
prevê que: 'a vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar
prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, RESERVADA A
CLÁUSULA "ENTRA EM VIGOR NA DATA DE SUA PUBLICAÇÃO" PARA AS
LEIS DE PEQUENA REPERCUSSÃO'. A regra, portanto, é que seja estabelecido
um prazo de vacatio legis, a fim de que a população possa tomar conhecimento
da norma jurídica que entrará em vigor.

Vigência e existência são conceitos diversos.


A existência da norma se dá no momento da sua promulgação. Mas ao existir
não significa que a lei tenha vigência, mas sim que formalmente é um fato jurídico
(não possui coercibilidade).

O momento da existência não se confunde com a vigência. Isso porque, depois


de promulgada, a lei precisa de um iter legislativo para que as pessoas tenham
conhecimento da norma para, somente depois, passar a ter vigência: publicação →
lapso temporal → vigência.

A lei só ganha vigência depois da vacatio legis (lapso temporal para que as
pessoas tenham conhecimento de sua existência).

Então, há uma grande diferença entre a EXISTÊNCIA da lei e sua VIGÊNCIA.


Há a promulgação, publicação, vacatio legis e vigência.

Art. 1º, LINDB → salvo disposição contrária, a lei começa


a vigorar em todo o país

QUARENTA E CINCO DIAS depois de oficialmente


publicada.

§1º → nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei


brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois
de oficialmente publicada.

§3º → se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova


publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo
deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a
correr da nova publicação.

§4º → as correções a texto de lei já em vigor consideram-


se lei nova.

Neste período de vacatio legis a lei já existe, mas ainda não tem vigência. A LC
95/98, no seu art. 8º, modificou o art. 1º da LINDB, de modo que a partir de agora
toda norma legal deve, obrigatoriamente, cumprir um período de vacatio legis.

Art. 8º, LC 95/98 → a vigência da lei será indicada de


forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável
para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a
cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para
as leis de pequena repercussão.
E o prazo de vacatio legis deve corresponder ao número de dias necessário
para que todas as pessoas conheçam a lei. Assim, toda norma legal deve ter um
período de vacatio legis que deve ser expresso em um número de dias.

A fórmula que se conhecia, “esta lei entra em vigor na data de sua publicação”,
só poderá ser utilizada para as leis de pequena repercussão.

Exemplo: A Lei 11.280/06 criou a possibilidade de conhecimento de ofício da


prescrição. Esta lei não é de pequena repercussão com certeza. Assim, esta lei não
poderia entrar em vigor no momento de sua publicação. Ela teve, então, um período
de vacatio legis de 90 dias, pois este foi o prazo que o legislador entendeu necessário
para que todos dela tomassem conhecimento.

Mas essa é uma NORMA IMPERFEITA, pois não há sanção para o seu
descumprimento. Ou seja, como é o próprio legislador quem tem que dizer se a lei é
de pequena repercussão ou não, ele mesmo não criou sanções para quando fosse
dito, na nova lei, que ela entraria em vigor no momento de sua publicação, apesar
de esta não ser de pequena repercussão.

Exemplo: lei que determinou que a separação e o divórcio poderiam ser feitos
em Cartório entrou em vigor na data de sua publicação, apesar de ser de extrema
importância e grande repercussão.

Regra: toda lei tem que ter um prazo de vacatio legis, e este prazo tem que
estar expresso em dias.

Contagem do prazo de vacatio legis (art. 8º, §1º, LC 95/98): a contagem do


prazo da vacatio legis possui uma regra autônoma/própria, incluindo-se o primeiro
e o último dia, entrando a lei em vigor no dia subsequente a consumação
integral do prazo.

Art. 8º, §1º, LC 95/98 → a contagem do prazo para entrada em


vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á
com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação
integral.
Na prática, o resultado é idêntico ao encontrado na contagem dos prazos
processuais. Esta regra de contagem justifica a razão de toda vacatio legis ser
contada em dias.

Segundo a doutrina, não importa se o ultimo dia for feriado ou final de semana,
entrando em vigor a norma mesmo assim, ou seja, a data não é prorrogada para o
dia seguinte (Tartuce, p. 05).

Nem sempre a vacatio legis é estabelecida em dia, de modo que nesses casos
não será possível a aplicação da regra do §1º do art. 8º da LC 05/98. Exemplo:
CC/02.

Art. 2044, CC → este Código entrará em vigor 1 (um) ano


após a sua publicação.

Dessa forma, se o prazo de vacatio legis for fixado em mês ou ano,


indevidamente, já que de ordinário ele deveria ser expresso em dias, utiliza-se a
regra do art. 132, CC que estabelece que prazo em mês ou ano é contado de “data
a data”, pouco interessando quantos dias existam entre as datas.

Art. 132, CC → salvo disposição legal ou convencional em


contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do
começo, e incluído o do vencimento.

§3º → os prazos de meses e anos expiram no dia de igual


número do de início, ou no imediato, se faltar exata
correspondência.

Assim, o CC/02, que foi publicado em 11/01/02, entrou em vigor no dia


11/01/03. É importante perceber que todas essas regras, que emanam do art. 8º, LC
95/98, fizeram com que o art. 1º, LINDB, se tornasse subsidiário. Isto, porque só
utilizaremos o prazo do art. 1º quando o legislador não tiver estabelecido um
prazo de vacatio legis expresso e não se tratar de uma lei de pequena
repercussão.

Além disso, essas regras somente se aplicam às normas legais.

As normas jurídicas administrativas (portarias, decretos, regulamentos,


resoluções) sempre entrarão em vigor na data de sua publicação (Decreto nº
572/1890).
Durante o prazo de vacatio, a lei, que já existe, mas não tem vigência, pode
ser modificada?

Ora, se ela existe, só pode ser modificada através de lei nova, mesmo no
período de vacatio legis. Sendo assim, a modificação de uma lei dentro do seu
período de vacatio legis só pode ocorrer através de uma nova lei.

Porém, a correção de erros materiais ou inexatidões pode ser feita através da


simples republicação da lei com as devidas correções.

No caso de republicação da lei, o prazo de vacatio legis volta a correr do zero


somente para a parte que foi corrigida.

O prazo de vacatio legis, portanto, reinicia SOMENTE para a parte que foi
retificada e não para as demais, que continuam contando o prazo normalmente.

Art. 1º, §3º, LINDB → se, antes de entrar a lei em vigor,


ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação.

Art. 1º, §4º, LINDB → as correções a texto de lei já em


vigor consideram-se lei nova.

Revogação: uma vez cumprida a vacatio legis e entrando em vigor, a lei


continuará vigendo até que venha outra e, expressa ou tacitamente, a revogue
princípio da continuidade.

Já podemos notar, então, que a revogação de uma lei pode ser expressa ou
tácita, bem como que no sistema brasileiro só se admite a revogação de uma lei
através de outra lei.

Art. 2º, LINDB → não se destinando à vigência temporária, a


lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

§1º → a lei posterior revoga a anterior quando expressamente


o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

O art. 9º da LC 95/98 estabeleceu uma novidade no que tange a revogação das


normas, dispondo que a revogação das normas preferencialmente deve ser
expressa. Sendo assim, toda vez que for editada uma nova lei, essa deverá indicar
de forma expressa quais os dispositivos legais revogados por ela.

Art. 9º, LC 95/98 → a cláusula de revogação deverá


enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais
revogadas.

Deve-se evitar, então, aquela velha e inútil fórmula “revogam-se todas as


disposições em contrário”, pois esta leva a crer que estaria revogando
expressamente quando não está.

Esta regra não se aplica às leis temporárias, pois estas cessam ao alcançar o
termo indicado.

E, quando o legislador não revogar expressamente os dispositivos legais, será


aplicada a regra de que fica revogado tudo aquilo que for contrário à nova regra.

O Direito Brasileiro não admite o dessuetudo, que é a revogação da lei pelos


costumes (uma lei que não conseguiu “pegar”, por exemplo).

O STJ é firme neste sentido, mesmo quanto às leis que não são respeitadas ou
observadas. Este é o caso observado quanto às casas de prostituição, que não
deixaram de ser crime, apesar de serem toleradas em todo o Brasil.

A revogação necessariamente se dará por outra lei, que revogará expressa ou


tacitamente, no todo ou em parte a lei antiga.

NEVER EVER FORGET!

A revogação é gênero da qual ab-rogação e derrogação são espécies.

a) ab-rogação: é a revogação total da lei.

b) derrogação: é a revogação parcial da lei.

Sobre revogação de lei devemos ter cuidado com a redação do §2º do art. 2º
da LICC.
Art. 2º, § 2º, LINDB → a lei nova, que estabeleça
disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.

Esse dispositivo estabelece que uma lei nova, que trate da mesma matéria de
lei anterior, e que traga disposições que estejam ao lado (a par) da outra lei, não
revoga a lei anterior, mas sim que será utilizada juntamente com aquela.

Repristinação: é o restabelecimento dos efeitos de uma lei que foi revogada


pela revogação da lei revogadora.

A revogação da lei revogadora não restabelece os efeitos da lei revogada.

Ex.: Lei A → Lei B → Lei C. A Lei C revoga a Lei B, os efeitos da Lei A não
serão restabelecidos.

Art. 2º, § 3º → salvo disposição em contrário, a lei


revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido
a vigência.

Porém, o próprio § 3º do art. 2º da LINDB abre uma exceção à repristinação ao


dizer que pode haver efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição
neste sentido na lei.

Ou seja, o Direito Brasileiro não admite a repristinação como um instituto, mas


aceita que existam efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição neste
sentido. Atente-se que isso não é tecnicamente repristinação, pois o que existe é a
vigência de nova lei que traz efeitos repristinatórios, trazendo de volta os efeitos de
uma lei anterior.

O art. 27 da Lei 9.868/98 estabelece a possibilidade de efeitos repristinatórios


no controle concentrado de constitucionalidade. Isto, porque, a lei revogada será
tratada como se nunca tivesse existido nem nunca tivesse produzido efeitos. Sendo
assim, a lei revogada volta a surtir efeitos.

Art. 27, Lei 9868/98 → ao declarar a inconstitucionalidade de


lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo
Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só
tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado.

No exemplo dito acima, se a Lei B fosse declarada inconstitucional, ela passaria


a ser tratada como se nunca tivesse existido e nunca tivesse produzido efeitos;
sendo assim, a Lei A poderia surtir seus efeitos normalmente.

CUIDADO: isso é exclusivo do controle concentrado. No controle difuso não é


possível, pois este gera efeitos inter partes tão-somente.

A jurisprudência do STF tem entendido que, ao declarar a inconstitucionalidade


de uma lei em controle concentrado, pode ser modulada a eficácia desta decisão a
fim de preservar a segurança jurídica. Isso porque, quando as leis são submetidas
ao controle de constitucionalidade, já estão em vigor por certo lapso temporal e a
sua retirada do ordenamento jurídico sem qualquer ressalva pode trazer mais
prejuízos.

Desta maneira, o STF pode declarar a inconstitucionalidade sem efeitos


retroativos. Isto, na prática, leva à perpetuação dos efeitos já ocorridos pela lei
inconstitucional, revogando as leis anteriormente existentes e vigentes.

Assim, se o STF imprimir eficácia ex nunc a decisão do controle de


constitucionalidade, não haverá efeito repristinatório, pois a lei revogadora,
declarada inconstitucional, produziu efeitos, implicando na revogação da anterior a
si.

Dessa forma, nem toda declaração de inconstitucionalidade implica


efeitos repristinatórios.

Isso porque eventualmente admite-se uma declaração de inconstitucionalidade


sem efeitos retroativos, assim se mantendo a revogação da lei.

4. OBRIGATORIEDADE DA NORMA: ART. 3º

Art. 3º, LINDB → ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando


que não a conhece.
O art. 3º da LINDB traz presunção de que todas as pessoas conheçam a lei.
Por isso, a LINDB cria uma proibição de desconhecimento da lei para que ninguém
possa se furtar à sua incidência.1

Ninguém pode se escusar de cumprir a lei, alegando o desconhecimento dela.


Ou seja, toda lei traz consigo uma presunção de conhecimento por todos.

Princípio da Obrigatoriedade Relativa/Mitigada: a presunção de


conhecimento da lei não é absoluta, uma vez que se existem situações excepcionais
expressamente previstas em lei em que se admite a alegação de erro de direito.

A alegação de erro de direito só pode ser feita em casos previstos em lei.

Esses casos previstos em lei são muito mais numerosos no Direito Penal.
Exemplos: art. 21, CP (erro de proibição); art. 65, II, CP (atenuante da pena); art. 8º,
Lei de Contravenções Penais.

No Direito Civil há apenas DOIS casos em que se permite a alegação de erro


de direito, quais sejam:

a) Casamento putativo (art. 1.561, CC): no caso de casamento nulo ou anulável


celebrado com boa-fé, os efeitos do ato serão ser preservados em relação aos filhos

Art. 1561, CC → embora anulável ou mesmo nulo, se contraído


de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a
estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da
sentença anulatória.

Exemplo: casamento de A com B, sua irmã.

Erro de fato: A não sabia que B era sua irmã.

Erro de direito: A sabia que B era sua irmã, mas não sabia quer era proibido o
casamento entre irmãos. O que é necessário aqui é que as pessoas estejam de BOA-
FÉ.

1
A seguinte assertiva foi considerada incorreta (TJPR/2017): Consoante a LINDB, há uma presunção absoluta
de que todos conhecem as leis brasileiras.
Erro como vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC): esse erro
pode ser alegado para o desfazimento do negócio jurídico.

Art. 139, III, CC → o erro é substancial quando sendo de


direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o
motivo único ou principal do negócio jurídico.

Exemplo: compra de terreno em Petrópolis/RJ em área que fora considerada


de uso público por Lei Municipal.

Obrigatoriedade “simultânea”: antigamente, a lei se tornava obrigatória por


etapas: primeiro na capital federal, depois nas zonas litorâneas e depois ia se
interiorizando. Agora, ela entra em vigor em todos os locais do país ao mesmo
tempo.

5. INTEGRAÇÃO DA NORMA: ART. 4º

Integrar significa colmatar, preencher lacunas. A integração da norma é a


atividade pela qual o juiz complementa a norma. E essa necessidade de
complementação da norma surge porque o legislador não tem como prever todas as
situações possíveis no mundo fático.

A lacuna nunca irá se referir ao ordenamento, mas sim apenas à legislação.


Assim, mesmo que exista lei lacunosa, o ordenamento é completo, pois existem
mecanismos de integração, de colmatação.

O ordenamento jurídico vedou o “non liquet”, que significa que o juiz não pode
se eximir do dever de julgar alegando lacuna ou desconhecimento da norma.

Art. 4º, LINDB → quando a lei for omissa, o juiz decidirá o


caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
Para lembrar: ordem alfabética: A,C,P.

Esse dispositivo traz um rol TAXATIVO e preferencial de integração da norma.


Sendo assim, o juiz deve se valer dessa ordem e somente dos critérios integrativos
colocados neste dispositivo.
Havendo lacuna, o juiz está obrigado a promover a integração da norma;
colmatará o vazio.

Além disso, como se presume que o juiz conhece todas as leis, basta que a
parte narre o fato (narra-se o fato que eu te darei o direito – iura novit curiae).

Exceções: o juiz pode determinar à parte interessada que faça prova da


EXISTÊNCIA e VIGÊNCIA da lei alegada em 4 hipóteses:

- Direito municipal.
- Direito estadual.
- Direito estrangeiro.
- Direito consuetudinário.

Alexandre Câmara alerta que o juiz só pode mandar a parte fazer prova de
direito municipal e estadual que não seja de sua jurisdição. Caso contrário, ou seja,
se o direito municipal ou estadual for do local de sua jurisdição, o juiz não poderá
determinar que a parte faça prova porque se presume que ele conheça a lei.

E quando o juiz for utilizar direito estrangeiro, ele poderá mandar a parte fazer
prova.

No entanto, o Protocolo de Las Leñas determina que o juiz não pode mandar a
parte fazer prova das leis de países integrantes do MERCOSUL, pois, neste caso,
se presume que o juiz conheça a legislação.

Isto se aplica também a documentos estrangeiros oriundos de países do


MERCOSUL. Assim, quando vier o documento de um país do MERCOSUL, o juiz
não pode mandar fazer a tradução juramentada, pois igualmente se presume que
ele conhece a tal língua.

Espécies de Lacunas, conforme Maria Helena Diniz:

Lacuna normativa: ausência total de norma para um caso concreto;

Lacuna ontológica: presença de norma para o caso concreto, mas que não
tenha eficácia social;
Lacuna axiológica: presença de uma norma para o caso concreto, mas cuja
aplicação seja insatisfatória ou injusta;

Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas ou mais normas válidas,


pendente de solução no caso concreto.

Presente uma lacuna, deverão ser utilizadas as formas de integração da norma


jurídica.

2.3.1. Métodos de Colmatação

Na integração da norma, o juiz deverá se valer da analogia, dos costumes e


dos princípios gerais de direito, devendo utilizar esses métodos nesta ordem porque
o art. 4º da LINDB estabeleceu um rol taxativo e preferencial.

OBS: a doutrina moderna contesta a obrigatoriedade de aplicar os métodos de


colmatação na exata ordem do art. 4º, principalmente no que concerne aos princípios
constitucionais (Nesse sentido: Flávio Tartuce).

Analogia: é primeiro mecanismo de integração. É o preenchimento da lacuna


através da comparação. Por meio da analogia, compara-se uma determinada
hipótese, não prevista em lei, com outra, já contemplada em lei. O seu fundamento
é a igualdade jurídica.

A analogia pode ter duas formas:

b1) analogia legis: se concretiza pela comparação de um caso não previsto com
outro já previsto em lei. Assim a lacuna será integrada comparando-se uma situação
atípica (não tratada na norma) com uma outra situação especificadamente prevista
em lei (típica).

b2) analogia iuris: o juiz preenche a lacuna com a comparação do caso com o
sistema como um todo. Dessa forma, compara-se a situação não prevista em lei com
os valores do sistema e não com um dispositivo legal.

Exemplo: união homoafetiva, que não está prevista em lei, e os conflitos


jurídicos decorrentes destas uniões também não têm previsão legal, sendo que o juiz
não pode se negar a resolvê-los. O juiz poderá solucionar tais casos com regras
semelhantes, como as regras da união estável, por exemplo, se valendo de analogia
legis, portanto. Foi o que decidiu o STF.

Porém, será caso de analogia iuris, se, em vez de comparar com a legislação
de união estável, comparar com os princípios constitucionais.

OBS: não se admite analogia em sede de direito penal nem direito tributário, salvo
em favor da parte (ou seja, não existe analogia para prejudicar o réu ou o
contribuinte).

ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA


Rompe-se com os limites do que está Apenas amplia-se o sentido da norma,
previsto na norma. (Integração). havendo a subsunção. (Conhecimento).
Parte da comparação entre dois casos Não há comparação entre casos
É forma de integração É forma de interpretação

(Procurador do Município – Fortaleza/CE – CESPE) A seguinte alternativa foi


considerada incorreta: Utiliza a analogia o juiz que estende a companheiro(a) a
legitimidade para ser curador conferida a cônjuge da pessoa ausente.

OBS: normas de exceção não admitem analogia ou interpretação extensiva.


Exemplo: um pai pode hipotecar um imóvel a um filho sem a autorização dos demais,
pois a lei somente exige autorização para a venda, sob pena de anulabilidade. A
norma, assim não pode ser aplicada por analogia à hipoteca, salvo para proteger um
filho incapaz, por exemplo.

b) Costumes: são os usos cotidianos locais, ou seja, os usos reiterados


de uma comunidade. Os costumes podem ser de 3 espécies:

b1) costumes contra legem: materializam uma prática cotidiana atentatória à


lei. No Direito Brasileiro não se admitem os costumes contra legem, pelo simples
motivo de que isto, na prática, implicaria admitir o dessuetudo, o que não é possível.

b2) costumes secundum legem: são os costumes determinados na lei. A sua


utilização vem expressa na própria lei.

Nessa espécie, o próprio o ordenamento jurídico diz que o juiz deve julgar
pelos costumes naqueles casos determinados. Assim, vê-se que não são hipóteses
de lacunas no sistema, pois o próprio ordenamento é que remete aos costumes.
Nesses casos, portanto, não há integração, mas sim subsunção.

Exemplo: art. 445, § 2º, CC/02, que traz prazo para a ação sobre vício redibitório
sobre animal, como o caso de um touro que se descobriu estéril, estabelecendo que
o prazo é determinado pelos usos locais.

Art. 445, §2º, CC → tratando-se de venda de animais, os


prazos de garantia por vícios ocultos serão os
estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos
usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo
antecedente se não houver regras disciplinando a
matéria.

b3) costumes praeter legem: são aqueles costumes que não foram previstos
em lei, sendo utilizados para preencher lacunas. É a única forma de costumes que
serve como forma de colmatação. Exemplo: eficácia do cheque pós-datado (juiz se
vale dos costumes para aceitar a indenização por dano moral quando do depósito
do cheque antes da data - STJ).

Requisitos para aplicação dos costumes:

- Continuidade;
- Uniformidade;
- Diuturnidade;
- Moralidade;
- Obrigatoriedade.

Assim, é necessário que o costume esteja arraigado na consciência popular


após a sua prática durante um tempo considerável, e, além disso, goze da reputação
de imprescindível norma costumeira.

Por fim, vale lembrar que existe o COSTUME JURISPRUDENCIAL OU


JUDICIÁRIO, cujo maior exemplo são as súmulas dos Tribunais Superiores.

c) Princípios gerais de direito: são, na verdade, postulados universais.


Vejamos:
1. Não lesar a ninguém;
2. Dar a cada um o que é seu;
3. Viver honestamente.

Os princípios possuem um papel quaternário: só se decide com base neles se


o juiz não conseguiu decidir com base na lei, na analogia e nos costumes.

Alguns doutrinadores entendem que o art. 4º 2da LINDB foi revogado porque o
princípio possui densidade normativa, não podendo ter papel quaternário.

Canotilho nos transmitiu a regra de que a norma jurídica é igual a norma-


princípio mais norma-regra.

Norma jurídica = norma-princípio + norma-regra.

E esta fórmula revela que todo princípio tem força normativa.

Sendo assim, como se poderia dizer que os princípios têm papel


secundário, e pior, quaternário?

Em verdade, o que precisamos perceber é que existem dois diferentes tipos de


princípios: princípios fundamentais e princípios informativos (ou gerais).

Princípios fundamentais ou institucionais: correspondem às opções do


sistema, ou seja, a opção do sistema por este ou aquele valor. Logo, os princípios
fundamentais possuem força normativa, exatamente na medida em que os princípios
fundamentais obrigam. Os princípios fundamentais são as opções valorativas de
cada sistema.

Princípios gerais/informativos: são meras recomendações, têm caráter


propositivo, e são universais. Portanto, não possuem força normativa porque só
servem para desempate.

2Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
Enquanto os princípios fundamentais correspondem a uma opção de um
sistema, os princípios informativos são universais.

Diante dessas considerações, devemos ler o art. 4º com algumas modificações:


onde está escrito quando a lei for omissa, deveríamos escrever quando a NORMA
JURÍDICA FOR OMISSA, pois a norma jurídica pode ser a norma-regra ou a norma-
princípio, e este princípio dito aqui é o princípio fundamental.

Art. 4º, LINDB → quando a lei for omissa (=quando a


norma jurídica for omissa), o juiz decidirá o caso de
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.

Além disso, os princípios referidos no dispositivo seriam os princípios


INFORMATIVOS apenas. E sendo assim, o art. 4º da LINDB não violaria a força
normativa dos princípios fundamentais.

Este art. 4º deixa clara a inexistência de regra de subsunção, pois o juiz realiza
a atividade de interpretação tão somente, e não mais a subsunção.

*Equidade: excepcionalmente o ordenamento jurídico admite a utilização da


equidade como meio de integração. A equidade é a busca do bom/equilibrado/ justiça
equitativa (nem tanto o mar, nem tanto a terra).

O direito brasileiro só admite a equidade quando houver previsão em lei.

Equidade é um conceito aberto, vago, altamente subjetivista, não podendo ser


utilizada em qualquer caso.

A equidade surge da “Ética a Nicômaco”, na qual Aristóteles diz que a


equidade era o justo, o bom, o equilíbrio. O autor consagrou nesta obra a ideia de
que a virtude está no meio, na equidade. Mas o juiz somente poderá se valer da
equidade quando a lei assim determinar.

Às vezes, é a própria lei que estabelece o critério de equidade (equidade


legal), mas poderá também o juiz estabelecê-lo (equidade judicial).

Exemplos:
Art. 7º, CDC → os direitos previstos neste código não excluem
outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais
de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária,
de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais
do direito, analogia, costumes e equidade.
NCPC/2015
Art. 85, § 8o Nas causas em que for inestimável ou irrisório o
proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for
muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação
equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2o.
§ 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o
máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do
proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para
o seu serviço.

Uso de equidade quando o juiz fixar os honorários advocatícios nas causas em


que não há estimativa patrimonial.

A CLT também permite o uso de equidade.

Na lei de alimentos o juiz fixará o percentual de alimentos por equidade.

Exemplos de equidade no CC:

Redução equitativa da cláusula penal (multa), quando o devedor já cumpriu em


parte a obrigação ou quando a cláusula se apresenta abusiva.

Art. 413, CC → a penalidade deve ser reduzida


equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver
sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade
for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a
natureza e a finalidade do negócio.
O juiz também pode reduzir equitativamente o quantum indenizatório sempre
que perceber um desequilíbrio entre o grau de culpa e a extensão do dano (isto não
poderá ocorrer nos casos de responsabilidade objetiva, pois nestes não se discute
culpa).

Art. 944, §único, CC → se houver excessiva


desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá
o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

6. INTERPRETAÇÃO DA NORMA: ART. 5º

Art. 5º, LINDB → na aplicação da lei, o juiz atenderá aos


fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum.

A interpretação não se confunde com integração. Integrar é preencher uma


lacuna. Já interpretar é buscar o alcance e o sentido. Logo, a atividade interpretativa
é a atividade de buscar o sentido e o alcance de uma norma que já existe.

O art. 5º consagra que em toda interpretação devem ser respeitados os fins


sociais a que se dirige a norma. Assim, toda interpretação é sociológica e
teleológica. Isto é dizer que, em toda interpretação, deve se ter presente o impacto
que a norma terá em uma comunidade.

Toda e qualquer interpretação da norma deve ser sociológica/teleológica, isto


é, deve atender aos fins sociais a que a norma se destina.

A prova do tempo de serviço de atividade rural deve ser feita através de


documentos e não por meio exclusivamente testemunhal. Contudo, nos casos em
que o trabalhador rural não tem como provar através da prova documental, irá se
admitir a prova exclusivamente por testemunha desde que esta seja idônea.

Ao realizar a interpretação da norma, podemos chegar a um resultado


ampliativo, restritivo ou declarativo.

1 - Interpretação ampliativa: a norma que diga respeito aos direitos


fundamentais individuais ou sociais (art. 5º e 7º da CF/88) se submete à interpretação
ampliativa.
2 - Interpretação declaratória: as normas de Direito Administrativo se submetem
a uma interpretação declarativa, por conta do princípio da legalidade.

3 - Interpretação restritiva: as normas que estabeleçam privilégio, sanção,


renúncia, fiança e aval se submetem a interpretação restritiva.

A propósito, veja-se o art. 819, CC/02:

Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite


interpretação extensiva.

E mais, a Súmula 214, STJ dispõe que o fiador, na locação, não responde por
obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

STJ Súmula 214 O fiador na locação não responde por


obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

PROVA ORAL DPE/RS/2011: O que é “interpretação integrativa”?

Na vigência de um contrato podem surgir situações imprevistas pelas partes que


não serão solucionadas através de uma simples interpretação das cláusulas ou
disposições do contrato. Nessas situações, passa a existir então uma atividade psíquica
diferente da do hermeneuta, ou seja, surgem a interpretação integrativa e a integração
propriamente dita do contrato.
Na interpretação integrativa, mesmo havendo pontos omissos no contrato, a
intenção dos contratantes deve surgir da ideia geral, ou seja, do espírito do contrato,
obedecendo, os princípios da boa-fé, dos usos sociais, do que já foi cumprido pelas
partes. Assim, o intérprete poderá concluir, de acordo com as entrelinhas do contrato,
o que foi desejado pelos contratantes.
Desse modo, exemplificando, se os contratantes estabeleceram para os
pagamentos parcelados, um índice de correção monetária, e esse índice deixou de
existir, o intérprete pode encontrar outro índice substitutivo ou próximo daquele que
deixou de existir, para ser aplicado no contrato, ainda que assim não esteja. Expresso
no contrato, porque a equidade e o princípio da boa-fé regem os contratos e determinam
que não haja enriquecimento ilícito ou injusto, diante da desvalorização da moeda.
Custódio Miranda estudando sobre o trabalho mental de interpretação integrativa
diz: “não se cuida, como é bem de ver, a investigação da vontade hipotética, presumível
ou real, que jamais existiu, mas da reconstrução de uma declaração incompleta, na
medida em que se disse menos do que a ideia que se presidiu à elaboração do
conteúdo”.

7. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO: ART. 6º

Art. 6º, LINDB → a Lei em vigor terá efeito imediato e geral,


respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.

Art. 5º, XXXVI, CRFB → a lei não prejudicará o direito


adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

É certo que toda lei se destina aos fatos presentes e futuros, mas não aos
passados. No Direito Brasileiro, portanto, consagrou-se a regra da irretroatividade
das leis, de modo que as leis novas não alcançam os fatos pretéritos. A regra da
irretroatividade é aplicável inclusive às normas jurídicas de ordem pública.

(FCC – PGE-MT – Procurador do Estado/2016) A seguinte assertiva foi considerada


correta: De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, a lei
nova possui efeito imediato, por isto atingindo os fatos pendentes, mas devendo
respeitar a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, incluindo o
negócio jurídico sujeito a termo ou sob condição suspensiva.

Exceção: admitem-se, excepcionalmente, efeitos retroativos na lei quando


presentes dois requisitos, quais sejam:

a) Expressa disposição neste sentido: é preciso que a lei diga que produzirá
efeitos retroativos, e,

b) que a retroação não prejudique o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o


direito adquirido.
Direito adquirido: é aquele que se incorporou ao patrimônio do particular. É
uma concepção exclusivamente patrimonialista, de modo que não há direito
adquirido personalíssimo. Todo direito adquirido é patrimonial. A nova lei deverá
respeitar o negócio jurídico celebrado sob termo ou condição suspensiva.

Art. 6º, §2º, LINDB → consideram-se adquiridos assim os


direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo,
ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Além disso, não existe direito adquirido em face do Poder Constituinte, pois
ele instala uma nova ordem jurídica, sendo que tudo que lhe é incompatível é
repelido. Porém, no Brasil, esta tese sofreu uma mutação, decorrente de
interpretação do STF acerca das reformas previdenciárias estabelecidas pelo Poder
Legislativo.

Olha o gancho:
O STF disse que não há direito adquirido nem em face do Poder Constituinte Originário,
nem em face do Poder Constituinte Derivado. Ou seja, emenda constitucional não precisa
respeitar direito adquirido, mas isto é só no Brasil, por conta da Reforma da Previdência.

#APROFUNDAMENTO Daniel Sarmento (citado pelo Tartuce, p. 30):

Ademais, verifica-se hoje uma mitigação da ideia de direito adquirido. Tal direito não pode
ser levado ao extremo, sob pena de gerar injustiças. A segurança jurídica é um valor
importante no Estado Democrático de Direito, mas não é o único valor e nem mesmo o
mais importante. Se a segurança jurídica for protegida ao máximo, provavelmente o preço
que se terá de pagar será um comprometimento na tutela da justiça e da igualdade
substancial.

Assim, a segurança jurídica, que no Estado Liberal era mais identificada com a proteção
da propriedade e dos direitos patrimoniais em face do arbítrio estatal, caminha para uma
segurança contra os infortúnios da vida; para uma segurança como garantia de direitos
sociais básicos para os excluídos; e até para a segurança em face das novas tecnologias
e riscos ecológicos da chamada “sociedade de risco”.

Coisa julgada: é a qualidade que reveste os efeitos decorrentes de uma


decisão judicial contra a qual não cabe mais impugnação dentro dos mesmos autos.
Art. 6º, §3º, LINDB → chama-se coisa julgada ou caso julgado
a decisão judicial de que já não caiba recurso.

Pode haver coisa julgada de decisão interlocutória, desde que ela aprecie o
mérito e não seja impugnada (exemplo: concessão de tutela de parcela incontroversa
do pedido).

A coisa julgada não pode violar outra questão em que já se decidiu pela
inconstitucionalidade. Hoje já se fala, inclusive, na relativização da coisa julgada –
investigação de paternidade (DNA).

Ato jurídico perfeito: é o ato pronto e acabado, já tendo exaurido seus efeitos.
O ato jurídico perfeito não mais produz efeitos. Ele é a antítese das relações
continuativas, pois estas são as que perpassam no tempo (iniciam sob a égide de
uma lei e continuam após o início de uma nova lei).

Art. 6º, §1º, LINDB → reputa-se ato jurídico perfeito o já


consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

O ato jurídico perfeito não pode ser atingido pelos efeitos de uma lei nova, pois
ele não mais produz efeitos.

As relações continuativas podem ser atingidas pela lei nova? O


casamento, assim como o contrato, são exemplos de relações continuativas.

O casamento celebrado sob a égide do CC/16, que atravessou o tempo, está


sob a égide do CC/02 ou continua sofrendo os efeitos do CC/16?

No que tange às relações continuativas a regra é de que a sua existência e a


sua validade ficam submetidas à lei em que foi celebrado o ato, mas a eficácia
submete-se à regra da lei nova. Assim, a existência e a validade ficam na lei de
origem (lei da data de celebração) e a eficácia submete-se à lei nova.

Exemplo: as pessoas que casaram sob a égide do CC/16 não podiam mudar
seu regime de bens, mas quem casa agora pode.
Art. 2039, CC → O regime de bens nos casamentos
celebrados na vigência do Código Civil anterior, Lei no
3.071, de 1º de janeiro de 1916, é o por ele estabelecido.

Como a mudança do regime diz respeito a eficácia do ato, podemos concluir


que as pessoas casadas sob a égide do CC/16 podem sim alterar seu regime de
bens (Maria Berenice Dias; STJ, REsp 821.807/PR, rel. Min. Fátima Nancy Andrighi).

A única voz discrepante é a da professora Maria Helena Diniz, que defende a


impossibilidade de alteração de regime de bens, mas sozinha nesta posição.

Ultratividade: é o fenômeno através do qual uma lei, já revogada, produz


efeitos mesmo após a sua revogação.

Inúmeros são os exemplos de ultratividade vindos do Direito Penal, como é o


caso da norma penal mais benéfica. No Direito Civil é bem mais rara a hipótese de
ultratividade, mas ocorre isto, por exemplo, no direito de sucessão.

*O princípio da saisine é um exemplo de ultratividade. Sendo assim, a pessoa


que morreu à época do CC/16, mas tendo a abertura do inventário se dado após a
vigência do CC/02, não terá a sucessão regulada pelas novas regras da lei civil.

Súmula 112, STF → o imposto de transmissão "causa mortis"


é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da
sucessão.
8. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO: ART. 7º A 19º

A regra geral de aplicação da lei no espaço é de que, dentro do território


brasileiro, é aplicada a lei brasileira. Ou seja, a lei brasileira se aplica no espaço
territorial brasileiro.

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como


quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil,
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os
bons costumes.

Porém, existem situações excepcionais em que a própria LINDB admite a


aplicação da lei estrangeira no território brasileiro.
Dessa forma, o Brasil adotou a teoria da territorialidade moderada/mitigada,
uma vez que no espaço territorial brasileiro aplica-se a lei brasileira em respeito à
soberania nacional.

Regra de Conexão: para que haja a aplicação da lei estrangeira no território


brasileiro é preciso que haja uma regra de conexão, sendo ela chamada de estatuto
pessoal em que se aplica a lei do domicilio do interessado.

Aplicação do Estatuto Pessoal: lei do domicílio do interessado: a LINDB


prevê 07 hipóteses de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro:

- Nome.
- Personalidade.
- Capacidade.
- Direito de família.
- Bens móveis que o interessado traz consigo.
- Penhor.
- Capacidade sucessória.

Art. 7º, LINDB → a lei do país em que DOMICILIADA a pessoa


determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade,
o nome, a capacidade e os direitos de família.
§1º → realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei
brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às
formalidades da celebração.
§2º → o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante
autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os
nubentes.
§3º → tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de
invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§4º → o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei
do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for
diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§5º → o estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode,
mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz,
no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao
mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens,
respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao
competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os
cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil
depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido
antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que
a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as
condições estabelecidas para a eficácia das sentenças
estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma
de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento
do interessado, decisões já proferidas em pedidos de
homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos
legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009).
§7º → salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da
família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não
emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua
guarda.
§8º → quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á
domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se
encontre.

Nestes sete casos, teremos a aplicação do estatuto pessoal, hipótese na qual


será aplicada a lei estrangeira, qual seja, a lei do domicílio do interessado.

(Delegado PC/AC – 2017) A seguinte alternativa foi considerada correta: As


regras sobre os direitos de família são determinadas pela lei do país em que a pessoa
for domiciliada.

Mas a aplicação do estatuto pessoal pressupõe a filtragem interna ou filtragem


constitucional. Essa é uma necessidade para o respeito da soberania do Estado.
Sendo assim, só se pode aplicar uma lei estrangeira ao território nacional se ela
passar pelo crivo constitucional, pois poderia até mesmo atentar contra a soberania
nacional se assim não fosse.

Exemplo: o árabe não pode casar mais de 1 vez no Brasil ainda que no seu
país de origem se admita 3 casamentos.

Existem 3 casos em que a LINDB admite a aplicação da lei estrangeira sem a


aplicação do estatuto pessoal, ou seja, a aplicação da lei estrangeira tem regra
especifica que não obedece o domicilio do interessado.
1- Conflito sobre bens imóveis: aplica-se a lei do lugar em que está situado o
imóvel.

Exemplo: juiz na fronteira do Brasil com Uruguai, que vai julgar uma execução
hipotecária e é um bem que está no Uruguai, julgando a execução com base na lei
uruguaia, pois é local e que está o imóvel.

NCPC/2015

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com


exclusão de qualquer outra:

I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no


Brasil;

2- lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos.

Exemplo: estrangeiro que faleceu deixando bens no Brasil. Estes bens situados
no Brasil só podem ser partilhados pela Justiça Brasileira. Como Portugal tem leis
mais favoráveis no Direito Sucessório, utilizar-se-á a lei portuguesa, e assim seria se
fosse mexicano.

3- lugar da obrigação: no caso de contratos internacionais se aplica a lei de


residência do proponente.

Art. 9º, §2º, LINDB → a obrigação resultante do contrato


reputa-se constituída no lugar em que RESIDIR o proponente.
Já em relação aos contratos internos aplica-se a lei do lugar onde foi feita a
proposta.

Art. 435, CC → reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em


que foi PROPOSTO.

A decisão judicial estrangeira, a carta rogatória ou laudo arbitral estrangeiro


também podem ser cumpridos no Brasil desde que se submetam a homologação no
STJ. Assim, essas medidas, para que sejam cumpridos no Brasil, pressupõem o
exequatur do STJ, que irá determinar o cumprimento delas no Brasil. E uma vez
homologado pelo STJ, o cumprimento das medidas será feito por um juiz federal de
1º grau.

Para que o STJ homologue a decisão judicial estrangeira, a carta rogatória ou


o laudo arbitral estrangeiro, é preciso que estejam presentes três requisitos:

a) prova do trânsito em julgado.

Súmula 420, STF → não se homologa sentença proferida


no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.
Filtragem constitucional: só podem ser cumpridas as sentenças que sejam
compatíveis com o nosso ordenamento jurídico.
Cumprimento das formalidades processuais dos artigos 963 do NCPC,
dentre as quais se encontra a necessidade de oitiva do MP.
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no
estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente
verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. (Leia-
se Superior Tribunal de Justiça).

NCPC/2015

Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à


homologação da decisão:
I - ser proferida por autoridade competente;
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a
revelia;
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição
que a dispense prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas
rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no
caput deste artigo e no art. 962, § 2o.
O STJ poderá homologar essas medidas de forma monocrática; somente a
denegação da homologação que não pode ser feita de forma monocrática.

Dispensa de Homologação: Ressalta-se que, com o NCPC, a sentença


estrangeira de divórcio consensual produzirá efeitos no Brasil, independentemente,
da homologação pelo STJ.

Art. 961, § 5o A sentença estrangeira de divórcio consensual


produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação
pelo Superior Tribunal de Justiça.

Ademais, como novidade, o NCPC afirma que, após a concessão do


exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça – decisão estrangeira
não definitiva pode ser executada no Brasil por carta rogatória sem necessidade de
homologação pelo STJ.

Art. 962. É passível de execução a decisão estrangeira


concessiva de medida de urgência.

1o A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira


concessiva de medida de urgência dar-se-á por carta rogatória.

2o A medida de urgência concedida sem audiência do réu


poderá ser executada, desde que garantido o contraditório em
momento posterior.

3o O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente


à autoridade jurisdicional prolatora da decisão estrangeira.

4o Quando dispensada a homologação para que a sentença


estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão concessiva de
medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter
sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente
para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo
Superior Tribunal de Justiça.

O NCPC/2015 traz um capítulo próprio acerca da homologação de sentença


estrangeira.
09. ANTINOMIAS JURÍDICAS OU LACUNAS DE COLISÃO

Antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de


autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em
determinado caso concreto.

CRITÉRIOS BÁSICOS DE SOLUÇÃO DOS CHOQUES ENTRE NORMAS

3.1.1. Critério Cronológico

Norma posterior prevalece sobre a anterior.

3.1.2. Critério da Especialidade

Norma especial prevalece sobre a geral.

3.1.3. Critério Hierárquico

Norma superior prevalece sobre a inferior

O critério cronológico é o mais fraco, após, vem o da especialidade e o da


hierarquia é o mais forte, ante a importância do texto constitucional.

9.1. CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS

Antinomia de 1º Grau

Conflito entre normas que envolve apenas UM dos critérios acima expostos.

Antinomia de 2º Grau
Choque de normas válidas que envolve DOIS dos critérios analisados, ou,
quando não houver a possibilidade de solucionar um conflito pelos critérios acima,
haverá uma antinomia de 2º grau.

Antinomia Aparente

Aquela que pode ser resolvida pelos critérios da especialidade, hierarquia e


cronológico. Quando a própria lei tiver critério para a solução do conflito.

Antinomia Real

Não pode ser resolvida pelos critérios acima. Não houver na lei critério para a
solução do conflito.

ANTINOMIAS DE 2º GRAU
Norma especial e anterior X norma geral posterior (especialidade x
cronológico)
Prevalece a primeira, em razão da especialidade.

Norma superior anterior X norma inferior posterior (hierárquico x


cronológico)
Prevalece a primeira, pela hierarquia.

Norma geral superior X norma especial inferior (hierárquico x


especialidade)
Não há uma metarregra geral de solução aqui, sendo esta, portanto, uma
antinomia real, segundo Maria Helena Diniz, podendo-se preferir para a solução do
conflito qualquer um dos critérios. Todavia, para Bobbio, deve prevalecer a lei
superior.
Para defender a aplicação da lei especial, deve-se lembrar do princípio da
isonomia, consagrado no art. 5º, CRFB, pelo qual a lei deve tratar de maneira igual
os iguais, e de maneira desigual os desiguais. Na parte destacada está o critério da
especialidade, que, por isso, pode fazer frente ao da hierarquia.

Aparente Real
Quando o conflito normativo puder ser Ocorre quando não é possível
resolvido pelos critérios: cronológicos, reconhecer o conflito de normas pelos
hierárquico ou da especialidade. critérios tradicionais. É antinomia de
segundo grau.
Antinomia de 1º Grau Antinomia de 2º Grau
É o mesmo que antinomia aparente É a antinomia que não pode ser resolvidas
pelos critérios tradicionais. Nesse caso,
diz-se que a antinomia é de 2º, pois que
um conflito de normas tem mesmo um
conflito entre os critérios de resolução da
antinomia. Nesse caso, a doutrina aponta
os meta critérios de resolução de
antinomias:
- Hierárquico x cronológico: prevalece o
hierárquico
- Especialidade x cronológico: prevalece
especialidade.
- Hierárquico x especialidade: deverá ser
decidido à luz da situação concreta.

10. FONTES DO DIREITO

10.1. INTRODUÇÃO

No sentido que interessa a esse estudo, a expressão “fontes do direito” está


relacionada ao aspecto de fonte criadora do direito, servindo para demonstrar suas
formas de expressão.

De início, cabe destacar que a doutrina é bastante divergente no que tange à


classificação das fontes do direito, apresentando-se, no presente resumo, algumas
das várias classificações propostas.

Para VENOSA, as fontes diretas são as que, de per si, têm força suficiente
para gerar a regra jurídica. Segundo o autor, para a doutrina tradicional, as fontes
diretas também podem ser denominadas fontes imediatas ou primárias e, para a
maioria dos doutrinadores, nessa classificação enquadram-se a lei e o costume.

Ao lado dessas, estão as fontes mediatas ou secundárias, que não têm a


força das primeiras, mas esclarecem os espíritos dos aplicadores da lei e servem de
precioso substrato para a compreensão e aplicação global do Direito. Como
exemplos dessas fontes, podem ser citadas, sem unanimidade entre os juristas, a
doutrina, a jurisprudência, a analogia, os princípios gerais de Direito e a
equidade.

Já para TARTUCE, em uma visão civilista clássica, as fontes formais, diretas


ou imediatas são constituídas pela lei, pela analogia, pelos costumes e pelos
princípios gerais de direito, referidos no art. 4ª da Lei de Introdução. São fontes
independentes que derivam da própria lei, bastando por si para a existência ou
manifestação do direito. Para esse doutrinador, a LEI constitui fonte formal, direta ou
imediata primária, enquanto as demais fontes referidas são formais, diretas ou
imediatas secundárias.

A lei, como fonte formal primária, é a principal fonte em nosso ordenamento, já


que o Direito Brasileiro sempre foi filiado à escola da Civil Law, de origem romano-
germânica. Apesar da tendência de valorização dos precedentes jurisprudenciais,
introduzida principalmente através das súmulas vinculantes, é certo que as súmulas
não têm a mesma força das leis, de forma que nosso sistema permanece
essencialmente legal.

As fontes não formais, indiretas ou mediatas, na visão desse autor, são


constituídas pela doutrina e pela jurisprudência, que não geram por si só a regra
jurídica, mas acabam contribuindo para a sua elaboração. Tais institutos não
constam da lei, de forma expressa, como fontes do direito.

Alguns autores, porém, a exemplo de MARIA HELENA DINIZ, entendem que


doutrina e jurisprudência podem ser consideradas partes integrantes do costume,
constituindo também fontes formais, diretas ou imediatas secundárias do direito,
desde que reconhecida a sua utilização pela comunidade jurídica em geral.

TARTUCE entende, ainda, que a equidade, a justiça do caso concreto,


também é fonte não formal, indireta ou mediata, assim como a doutrina e a
jurisprudência.
10.2. LEI

Lei é uma regra geral que, emanando de autoridade competente, é imposta,


coativamente, à obediência de todos (CLÓVIS BEVILÁQUA). É a norma imposta
pelo Estado, devendo ser obedecida, assumindo forma imperativa (TARTUCE).
Prevista a lei para um caso concreto, merece esta aplicação direta, conhecida como
subsunção, conceituada como sendo a incidência imediata ou direta de uma norma
jurídica.

A lei, como fonte principal do Direito, tem as seguintes características básicas:


generalidade (dirige-se a todos os cidadãos, tendo eficácia erga omnes),
imperatividade (é um imperativo, impondo deveres e condutas), permanência
(perdura até que seja revogada por outra ou perca a eficácia), competência (deve
emanar de autoridade competente, com o respeito ao processo de elaboração) e
autorizamento (a norma autoriza ou desautoriza determinada conduta).

No que tange à classificação das leis, a mais relevante delas é a que considera
sua força obrigatória. As normas cogentes (ou de ordem pública) são aquelas que
atendem mais diretamente ao interesse geral, merecendo aplicação obrigatória, eis
que são dotadas de imperatividade absoluta. As partes não podem, mediante
convenção, ilidir a incidência de uma norma cogente. Exemplo: normas relacionadas
com os direitos da personalidade (arts. 11 a 21 do CC), com os direitos pessoais de
família, com a nulidade absoluta dos negócios jurídicos e com a função social da
propriedade e dos contratos (art. 2.035, parágrafo único, CC). Já as normas
dispositivas (também chamadas supletivas, interpretativas ou de ordem privada)
são aquelas que interessam somente aos particulares, podendo ser afastadas por
disposição de vontade. Tais normas funcionam no silêncio dos contratantes,
suprindo a manifestação de vontade porventura faltante. Exemplo: normas que
dizem respeito ao condomínio, ao regime de bens do casamento e à anulabilidade
de um negócio jurídico.

10.3. COSTUMES

Os costumes podem ser conceituados como sendo as práticas e usos


reiterados, com conteúdo lícito e relevância jurídica. Formam-se eles
paulatinamente, de forma quase imperceptível, até o momento em que aquela
prática reiterada é tida por obrigatória. Note-se que nem todo uso é costume, já que
o costume é um uso considerado juridicamente obrigatório. Para tanto, exige-se
que o costume seja geral, ou seja, largamente disseminado no meio social, ainda
que setorizado numa parcela da sociedade. Exige-se, ainda, que o costume tenha
certo lapso de tempo, pois deve constituir-se em hábito arraigado, bem estabelecido.
Por fim, o costume deve ser constante, repetitivo na parcela da sociedade que o
utiliza.

Para converter-se em fonte do direito, dois requisitos são imprescindíveis: um


de ordem objetiva (o uso, a exterioridade do instituto), outro de ordem subjetiva (a
consciência coletiva de que aquela prática é obrigatória). É este último aspecto que
distingue o costume de outras práticas reiteradas, de ordem moral ou religiosa, ou
de simples hábitos sociais.

Exemplos de utilização do costume como fonte subsidiária de interpretação no


CC/02: arts. 569, II; 596; 599; 615; 965, I; 1297, § 1º.

Art. 569. O locatário é obrigado:


II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em
falta de ajuste, segundo o costume do lugar;
Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo
inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar,
qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode
resolver o contrato.
Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o
costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá,
porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções
recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em
trabalhos de tal natureza.
Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre
os bens do devedor:
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a
condição do morto e o costume do lugar;
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou
tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode
constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação
entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar
marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se
proporcionalmente entre os interessados as respectivas
despesas.

§ 1o Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais


como sebes vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou
banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a
ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de
conformidade com os costumes da localidade, a concorrer,
em partes iguais, para as despesas de sua construção e
conservação.

Os costumem podem ser secundum legem (há referência expressa aos


costumes no texto legal, razão pela qual não se fala em integração, mas sim em
subsunção, eis que a própria norma jurídica é aplicada), praeter legem (costume
integrativo, serve para preencher lacunas quando a lei for omissa) ou contra legem
(opõe-se ao dispositivo de uma lei e, para a maioria dos doutrinadores, não pode ser
admitido, por gerar a instabilidade do sistema).

Mesmo aqueles que admitem o costume ab-rogatório procedem em caráter de


exceção. Clóvis Beviláqua afirma que o costume contra legem seria inconveniente
por tirar do aparelho jurídico a supremacia da lei e a certeza das prescrições legais,
mas conclui que “se o legislador for imprevidente em desenvolver a legislação
nacional de harmonia com as transformações econômicas, intelectuais e morais
operadas no país, casos excepcionais haverá em que, apesar da declaração
peremptória da ineficácia ab-rogatória do costume, este prevaleça CONTRA
LEGEM, porque a desídia ou a incapacidade do poder legislativo determinou um
regresso parcial da sociedade da época, em que o costume exercia, em sua
plenitude, a função de revelar o direito, e porque as forças vivas da nação se
divorciam, nesse caso, das normas estabelecidas na lei escrita”.

10.4. ANALOGIA

Trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um


preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição legal. O juiz
pesquisa a vontade da lei, para transportá-la aos casos que a letra do texto não havia
compreendido. Para que tenha cabimento, portanto, é necessária uma omissão no
ordenamento.

A analogia pode se operar de duas formas: legal ou legis (o aplicador do


Direito busca uma norma que se aplica a casos semelhantes) ou jurídica ou iuris
(não encontrando um texto semelhante para aplicar ao caso em exame, o juiz tenta
extrair do pensamento dominante em um conjunto de normas uma conclusão
particular para o caso).

10.5. PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

Não há consenso, na doutrina, sobre o que seriam os “princípios gerais de


direito”. Para SILVIO

RODRIGUES, trata-se das normas que orientam o legislador na elaboração


da sistemática jurídica, ou seja, aqueles princípios que, baseados na observação
sociológica e tendo por escopo regular os interesses conflitantes, impõem-se,
inexoravelmente, como uma necessidade da vida do homem em sociedade.

Para MARIA HELENA DINIZ, os princípios são cânones que não foram ditados,
explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma
imanente no ordenamento jurídico. Já para NELSON NERY JR, trata-se de regras
de conduta que não se encontram positivadas no sistema normativo, mas norteiam
o juiz na interpretação da norma, do ato ou do negócio jurídico.

Exemplos de princípios gerais implícitos em nosso sistema: “ninguém pode


valer-se da própria torpeza” e “a boa-fé se presume”.

(CESPE – AGU – Advogado da União/2015) A seguinte assertiva foi considerada


correta: Caso a lei a ser aplicada não encontre no mundo fático suporte concreto
sobre o qual deva incidir, caberá ao julgador integrar o ordenamento mediante
analogia, costumes e princípios gerais do direito.

10.6. DOUTRINA
O trabalho dos juristas, dos estudiosos do Direito. Há discussão a respeito de
considerá-las ou não fonte do direito. Hoje, a doutrina não é tão utilizada ou tão citada
nas decisões quanto antes de nossa codificação ou em seus primórdios. Porém, não
restam dúvidas de que na doutrina o Direito inspira-se, ora aclarando textos, ora
sugerindo reformas, ora importando institutos.
10.7. JURISPRUDÊNCIA

O conjunto de decisões dos tribunais, ou uma série de decisões similares sobre


uma mesma matéria. Pode ser considerada o próprio “direito ao vivo”, cabendo-lhe
o papel de preencher lacunas do ordenamento nos casos concretos.

Embora os julgados não tenham força vinculativa, é inegável que um conjunto


de decisões sobre uma matéria, no mesmo sentido, influa na mente do julgador, que
tende a julgar de igual maneira. Outro aspecto importante é que a jurisprudência
orienta o legislador, quando procura dar coloração diversa à interpretação de uma
norma, ou quando preenche uma lacuna. Cumpre à jurisprudência, ainda, atualizar
o entendimento da lei, dando-lhe uma interpretação atual, que atenda às
necessidades do momento do julgamento. Por isso, trata-se de instituto dinâmico.

10.8. EQUIDADE

Pode ser conceituada como sendo o uso do bom-senso, a justiça do caso


particular, mediante a adaptação razoável da lei ao caso concreto. Segundo o art.
140, parágrafo único do NCPC, o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos
em lei.

NCPC/2015
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de
lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos
casos previstos em lei.
Na visão clássica do Direito Civil, a equidade era tratada não como um meio de
suprir a lacuna da lei, mas sim como um mero meio de auxiliar nessa missão.
Todavia, entende TARTUCE que, no sistema contemporâneo privado, a equidade
deve ser considerada fonte informal ou indireta do direito. Isso porque o CC/02 adota
um sistema de cláusulas gerais, pelo qual o aplicador do Direito, por diversas vezes,
é convocado a preencher “janelas abertas” deixadas pelo legislador, de acordo com
a equidade, o bom senso.

Como o assunto foi cobrado em provas?

1. (CESPE – Analista Judiciário – TRT 8ª Região/2016):


Assinale a opção correta, em relação à classificação e à eficácia das leis no tempo e no
espaço.
a) Quanto à eficácia da lei no espaço, no Brasil se adota o princípio da territorialidade
moderada, que permite, em alguns casos, que lei estrangeira seja aplicada dentro de
território brasileiro.
b) De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), em
regra, a lei revogada é restaurada quando a lei revogadora perde a vigência.
c) Por ser o direito civil ramo do direito privado, impera o princípio da autonomia de
vontade, de forma que as partes podem, de comum acordo, afastar a imperatividade
das leis denominadas cogentes.
d) A lei entra em vigor somente depois de transcorrido o prazo da vacatio legis, e não
com sua publicação em órgão oficial.
e) Dado o princípio da continuidade, a lei terá vigência enquanto outra não a modificar
ou revogar, podendo a revogação ocorrer pela derrogação, que é a supressão integral
da lei, ou pela ab-rogação, quando a supressão é apenas parcial.

Gabarito:3

02. (FCC – TJ-PI – Juiz Substituto/2015):


Lei nova que estabelecer disposição geral a par de lei já existente,
a) apenas modifica a lei anterior.
b) não revoga, nem modifica a lei anterior.
c) derroga a lei anterior.

3 A.
d) ab-roga a lei anterior.
e) revoga tacitamente a lei anterior.

Gabarito:4

03. (CESPE – TRE-MT – Analista Judiciário/2015):


Com base no disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, assinale a
opção correta.
a) No tocante aos regramentos do direito de família, adota-se o critério jus sanguinis na
referida lei.
b) A sucessão de bens de estrangeiros situados no território brasileiro é disciplinada
pela lei brasileira em favor do cônjuge ou dos filhos brasileiros, mesmo se a lei do país
de origem do de cujus for-lhes mais favorável.
c) Ao confronto entre uma lei especial e outra lei geral e posterior dá-se o nome de
antinomia de segundo grau.
d) Ocorre lacuna ontológica na lei quando existe texto legal para a solução do caso
concreto, mas esse texto contraria os princípios que regem a própria justiça.
e) O juiz poderá decidir por equidade, mesmo sem previsão legal.

Gabarito:5

4 B. Art.2º, §2º.
5 C.

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