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ANOTAÇÕES DE AULA 3 DIREITO CIVIL I

PROF. MARCO CRUZ

ESTA AULA:
- LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO - LINDB

LINDB
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), Decreto-Lei nº
4.657, de 4 de setembro de 1942, é um conjunto de normas que disciplina
outras normas jurídicas, de todos os ramos do direito [público ou
privado].

É um conjunto de norma de sobredireito e é chamada de lex legum, ou seja,


a lei das leis.

É a fonte legal, por excelência, do direito internacional privado brasileiro.

Abrange outros assuntos além do direito internacional privado, como


definições, regras sobre publicação, interpretação e aplicação das leis.

O Código Civil, promulgado em 1916, continha uma “Introdução”,


substituída por uma Lei de Introdução de 1942.

No Portal da Câmara dos Deputados está disponível o texto do CC 1916:


<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1910-1919/lei-3071-1-
janeiro-1916-397989-publicacaooriginal-1-pl.html>

Modernas legislações tratam desta matéria em leis autônomas e não como


introdução aos códigos civis. Assim, em 1942, o Decreto-Lei n° 4.657
revogou a primitiva Introdução ao Código Civil, modificando vários princípios
que inspiraram o legislador de 1916.

Era designada Lei de Introdução do Código Civil (LICC). A ementa foi


alterada pela Lei n° 12.376, de 30 de dezembro de 2010; passou a ser
denominada Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).

Em 2018, a Lei nº 13.655, de 25 de abril de 2018, incluiu diversos artigos que


trazem disposições sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na
aplicação do direito público.
OBJETO DA LINDB é a lei:

- vigência, eficácia e revogação => artigos 1° e 2°;


- impossibilidade de alegar desconhecimento => art. 3°;
- lacunas e integração => art. 4°;
- interpretação => art. 5°;
- eficácia no tempo => art. 6°;
- eficácia no espaço => art. 7° e seguintes.

VIGÊNCIA, EFICÁCIA E REVOGAÇÃO DA LEI => artigos 1° e 2°, LINDB

Matéria de Direito Constitucional > processo legislativo - CF, arts. 59 e


seguintes.

Fases do processo legislativo para a produção de lei ordinária:


Iniciativa; discussão/votação/aprovação; sanção ou veto; promulgação;
publicação.

Quando a lei passa a vigorar?

LINDB, art. 1° Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o


país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

§1° Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando


admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

O intervalo de tempo compreendido entre a data de publicação da lei e a data


em que ela entra em vigor tem o nome de vacatio legis.

Adota-se o prazo de vigência único ou sincrônico, ou simultâneo, segundo o


qual a lei entra em vigor de uma só vez em todo o país, com a vigência
geral e imediata.

LINDB, art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
PRINCÍPIO DA VIGÊNCIA GERAL E IMEDIATA
OBS.: Lembrar da Lei Complementar n° 95/98 quanto ao prazo de entrada
em vigor:
Art. 8° A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a
contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis
de pequena repercussão.
§ 1° A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam
período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do
último dia do prazo, ENTRANDO EM VIGOR NO DIA SUBSEQUENTE à
sua consumação integral.
§ 2° As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula
‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação
oficial’.

E se houver uma nova publicação do texto da lei, para corrigir eventual


erro detectado?
LINDB, art. 1°.:
§3° Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação.

§4° As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

PERGUNTA: Conforme o art. 1° da LINDB, a lei, salvo disposição em


contrário, começa a vigorar em todo território nacional 45 (quarenta e
cinco) dias depois de oficialmente publicada. Este é o termo inicial da
vigência da lei. Até quando, entretanto, vigorará?

Após a entrada em vigor, vale o PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DAS LEIS,


ou seja, em regra, as leis são editadas para vigorar por prazo indeterminado.
Uma lei só é revogada por outra lei, salvo o caso de temporárias e
excepcionias.

Princípio que está disposto no art. 2° da LINDB:

Art. 2° Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.

Leis temporárias têm o prazo de vigência previsto expressamente. Exemplo


é a Lei n° 12.663, de 5 de junho de 2012, que dispõe sobre as medidas
relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014
e à Jornada Mundial da Juventude - 2013. A lei criou alguns tipos penais com
validade definida: “Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão
vigência até o dia 31 de dezembro de 2014.”
Leis excepcionais vinculam o prazo de vigência a determinadas
circunstâncias. Exemplo: dispositivos do Código Penal Militar que preveem os
crimes militares em tempos de guerra.

A revogação é a supressão da eficácia de uma lei por outra lei.

***Art. 2°da LINDB:

§1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,


quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que tratava a lei anterior.

A primeira situação se refere à revogação expressa; ex.: CC, art. 2.045

As duas outras, à revogação tácita.


LINDB - regula inteiramente a matéria
CC, art. 1.723 cf Leis n° 8971/94 e 9278/96 - incompatível

REVOGAÇÃO:
-> Quanto à abrangência:
Ab-rogação (total) e derrogação (parcial);

-> Quanto ao modo:


Expressa - indica os dispositivos;
Tácita - lei posterior incompatível com a anterior ou lei posterior regula
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior

OBS.: o art. 9° da LC n° 95/98 determina que “a cláusula de revogação


deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”.
Se ocorrer a revogação expressa, não será possível o uso de expressões
como “revogam-se as disposições em contrário”.

Nem sempre a lei nova revoga a anterior, §2° do art. 2° da LINDB:

A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já


existentes,
A par = ao lado de, junto de
não revoga nem modifica a lei anterior.

ULTRATIVIDADE é a capacidade que uma lei tem de, após ter sido
revogada, continuar regulando situações consolidadas durante o período em
que esteve em vigência.
Exemplo: CC, art. 2.038. Fica proibida a constituição de enfiteuses e
subenfiteuses, subordinando-se as existentes, até sua extinção, às
disposições do Código Civil anterior, Lei n° 3.071, de 1° de janeiro de 1916, e
leis posteriores.
CC 1916, arts. 678 a 694 - DA ENFITEUSE
REPRISTINAÇÃO é a restauração de uma lei revogada devido à perda de
vigência de sua lei revogadora. A regra é que não haja efeito repristinatório. A
exceção é no caso de a nova lei (a lei que revogou a lei revogadora)
reestabelecer expressamente a lei revogada anteriormente.

§3° Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por


ter a lei revogadora perdido a vigência.

Hipótese:
Lei n° 2.432 ===> Lei n° 3.567 ===> Lei n° 4.890

****OBS.: Não confundir REPRISTINAÇÃO com EFEITO


REPRISTINATÓRIO DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE,
matéria de Direito Constitucional.
O efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade se refere ao
restabelecimento da lei anterior porque a lei revogadora foi submetida a
controle de constitucionalidade e foi considerada inconstitucional, de modo
que ela é nula, assim, nunca teve eficácia e nem revogou lei nenhuma.

ANTINOMIA é o conflito existente entre duas normas, aplicáveis ao mesmo


caso, mas que oferecem soluções incompatíveis.
Três critérios devem ser utilizados para solucionar o conflito:

- CRITÉRIO HIERÁRQUICO - a norma superior prevalece sobre a inferior.


- CRITÉRIO CRONOLÓGICO - a norma posterior prevalece sobre a anterior.
- CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE - a norma especial prevalece sobre a
geral - obs.: CC, arts. 593 e 732.

IMPOSSIBILIDADE DE ALEGAR DESCONHECIMENTO DA LEI => art. 3°

Após a entrada em vigor, é obrigatório o cumprimento das leis, não podendo


ninguém descumpri-la alegando o desconhecimento. A força coercitiva da lei,
por isso que ela é um preceito geral, vincula todos. O legislador presume que
todas as pessoas conhecem a lei.

LINDB, art. 3° Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a


conhece.

Nemo jus ignorare censetur = Ninguém se julgue justificado por ignorar a lei.

Este é o princípio da obrigatoriedade das leis.

* ERRO DE DIREITO: CC, ART. 139, III

LACUNAS E INTEGRAÇÃO DA LEI => ART. 4°


O legislador não consegue prever todas as situações. O Estado-juiz não se
pode negar a proferir decisão sob pretexto de que a lei é omissa. Deve
utilizar os mecanismos para suprir as lacunas das leis.
É o chamado princípio da plenitude da ordem jurídica.

LINDB, art. 4° Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

OBS.: como o ordenamento jurídico brasileiro consagra a supremacia da lei,


os mecanismos devem ser aplicados nesta ordem:
1° ANALOGIA,
2° COSTUMES,
3° PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.

ANALOGIA

A Analogia consiste em aplicar a caso não previsto a norma legal


concernente a caso análogo, ou seja, a situações semelhantes deve-se
aplicar a mesma regra do direito, não havendo lei que se subsuma à
hipótese, aplica-se a lei de caso análogo.

Analogia é diferente da interpretação extensiva, pois essa última consiste na


ampliação do conteúdo da lei, efetivada pelo aplicador do direito, quando a
norma disse menos do que deveria, como no caso do art. 422 do Código
Civil.

Para a aplicação da Analogia é necessário a presença dos requisitos de


inexistência de dispositivo legal, semelhança entre a relação não
contemplada e a outra regulada na lei e a identidade de fundamentos
lógicos e jurídicos.

ESPÉCIES:
Analogia legis (legal ou de lei) ocorre com a aplicação de uma norma
existente, destinada a reger caso semelhante ao previsto.

Analogia juris (jurídica ou de direito) ocorre quando um conjunto de


normas é utilizado para obter elementos que permitam a sua aplicação ao
caso não previsto.

COSTUMES
O juiz poderá recorrer ao costume depois de esgotadas as possibilidades de
suprir a lacuna pelo uso da analogia. Por isso, o costume é fonte subsidiária
ou supletiva.

Segundo Orlando Gomes, o costume consiste na prática uniforme, constante,


pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade.

O costume é composto pelos elementos: prática reiterada de um


comportamento e convicção de sua obrigatoriedade.

A lei se apresenta sob forma escrita, o costume não é escrito, é


consuetudinário.

ESPÉCIES:
Secundum legem: ocorre quando o costume está expressamente previsto
na lei. Ex. Art. 1.297 do CC.

Praeter legem: ocorre quando se destina a suprir a lei nos casos omissos,
conforme o próprio art. 4º da LINDB.

Contra legem: é aquele que se opõe à lei, o costume contrário à lei não tem
poder de revogá-la, não existe a não aplicação de lei em razão de desuso.

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

Se o juiz não conseguir solução para o caso concreto com base na analogia
e nos costumes, deve utilizar os princípios gerais do direito.

Os princípios gerais do direito são regras de caráter genérico, ou vetores de


interpretação, que orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua
aplicação e integração, estejam ou não positivadas, citando, por exemplo, os
seguintes princípios:
“ninguém pode valer-se da própria torpeza”,
“a boa-fé se presume” e
“ninguém pode transferir mais direitos do que tem”.

Essas regras se encontram na consciência das pessoas e são


universalmente aceitas, mesmo não sendo escritas.

EQUIDADE

A Equidade não constitui um dos mecanismos previstos para suprir a lacuna


da lei, representa um recurso auxiliar de aplicação da lei, empregada quando
a própria lei cria espaços ou lacunas para o juiz aplicar a norma mais
adequada ao caso. É utilizada somente quando a lei expressamente permite.

Exemplos:
CC, art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas
por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de
meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem.

CC, art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da
culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

CC, art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns


aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível
com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação.
§ 1° Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

Lei n° 9.307, de 23 de setembro de 1996 que dispõe sobre a arbitragem:


Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:
II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por equidade, se
assim for convencionado pelas partes.

INTERPRETAÇÃO DA LEI => ART. 5°

Interpretação é o processo de definição do sentido e do alcance das


normas jurídicas.

Não se busca saber a vontade do legislador, mas o sentido da norma.

A hermenêutica é a ciência da interpretação das leis, tem por objeto o estudo


das técnicas de interpretação das normas jurídicas.

CLASSIFICAÇÃO:
- Quanto ao sujeito, à origem ou à fonte: autêntica, doutrinária ou
jurisprudencial.
É autêntica quando é produzida uma nova lei para interpretar uma já
existente, e obriga a aplicação da lei.
A doutrinária é aquela realizada pelos estudiosos do direito, não obrigando a
aplicação.
Aquela dada pelos tribunais é a jurisprudencial, que são reiteradas decisões
judiciais, e não obriga a aplicação, exceto no caso das súmulas vinculantes,
que obrigam a aplicação.

- Quanto ao objeto, aos meios ou aos modos: gramatical ou literal, lógica,


sistemática, histórica ou teleológica.
A interpretação gramatical é realizada a partir de elementos da gramática,
como a pontuação, organização das frases, etc.
Na lógica, parte-se do parte-se do raciocínio dedutivo e se estuda a lei como
um todo para verificar o sentido de cada dispositivo.
Na sistemática, a lei é a analisada dentro de um complexo legislativo.
Na histórica, analisa-se os antecedentes da norma.
Por fim, na teleológica, busca-se adaptar o sentido ou a finalidade da norma
às novas exigências sociais.

- Quanto ao resultado: extensiva ou restritiva.


Extensiva quando se amplia o alcance da norma para atingir o seu real
sentido.
Uma interpretação restritiva é aquela em que o texto é extremamente
abrangente, quando a fórmula legislativa é mais ampla do que o verdadeiro
sentido almejado pela norma, havendo necessidade de restringir o seu
alcance.

EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO => ART. 6°

As leis são elaboradas para valer para o futuro e a lei nova modifica leis que
já regularam relações jurídicas. A partir daí surgem dúvidas sobre a aplicação
ou não da nova lei às situações anteriormente constituídas. Para solucionar
tais conflitos são utilizados critérios como o das disposições transitórias e o
da irretroatividade das normas.

As disposições transitórias são colocadas pelo próprio legislador no texto da


nova lei, com objetivo de evitar e solucionar conflitos que podem surgir da
nova lei com a antiga.

O Código Civil contém um livro complementar chamado de “Das disposições


finais e transitórias”, dos artigos 2.028 a 2.046, com disposições para regular
a aplicação no novo Código Civil frente o Código Civil de 1916.

O art. 2.035 trouxe disposições relativas à validade dos negócios jurídicos


celebrados na vigência do código antigo, estabelecendo que a validade dos
negócios jurídicos não se aplica aos contratos celebrados, cumpridos e
extintos antes de sua entrada em vigor, aplicando-se a lei do tempo em que
foram celebrados.

Irretroativa é a lei que não se aplica às situações constituídas anteriormente à


sua vigência.

No ordenamento jurídico brasileiro, incluindo a Constituição de 1988 e a


LINDB, a irretroatividade é a regra, a retroatividade em determinados casos.

Dentre as exceções de retroatividade, aplica-se à lei nova aos casos


pendentes, desde que não ofenda o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada.

CF, art. 5°, XXXVI


Art. 6° A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

§ 1° Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao


tempo em que se efetuou.

§ 2° Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém


por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo
pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

§ 3° Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não


caiba recurso.

EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO => ART. 7° E SEGUINTES.

Os artigos 7º a 19 da LINDB trazem disposições relativas a regras de direito


internacional público e privado, em especial sobre os limites territoriais da
aplicação da lei brasileira e da lei estrangeira.

LEX NON VALENT ULTRATERRITORIUM [medieval]

PESSOA E FAMÍLIA:
Art. 7° A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos
de família.
§ 1° Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2° O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
§ 3° Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do
matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4° O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que
tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio
conjugal.
§ 5° O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do
decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de
comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta
adoção ao competente registro.
§ 6° O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem
brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da
sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual
prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as
condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país.
O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá
reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em
pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
§ 7° Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se
ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos
incapazes sob sua guarda.
§ 8° Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no
lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.

BENS:
Art. 8° Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes,
aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. LEX REI SITAE
§ 1° Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto
aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros
lugares.
§ 2° O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja
posse se encontre a coisa apenhada.

OBRIGAÇÕES:
Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em
que se constituirem.
§ 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de
forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei
estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em
que residir o proponente.

SUCESSÕES:
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em
que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza
e a situação dos bens.
§ 1° A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada
pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de
quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do de cujus.
§ 2° A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para
suceder.

OBS.: COMPETÊNCIA DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu


domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.

§ 1° Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações


relativas a imóveis situados no Brasil.

EXTRATERRITORIALIDADE:
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

Princípio da não ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos


bons costumes.

EXECUÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA:

Conforme o art. 15 da LINDB, as sentenças estrangeiras para serem


executadas no Brasil necessitam dos seguintes requisitos:
a)haver sido proferida por juiz competente;
b)terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;
c)ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias
para a execução no lugar em que foi proferida;
d)estar traduzida por intérprete autorizado;
*****e)ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.

ATENÇÃO: Embora o art. 15 da LINDB tenha previsão de que cabe ao


Supremo Tribunal Federal a homologação da sentença estrangeira para
cumprimento no Brasil, a EC n° 45/04 transferiu essa competência ao
Superior Tribunal de Justiça. Desta forma, prevalece o texto constitucional,
cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a homologação de sentenças
estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias.

NORMAS SOBRE SEGURANÇA JURÍDICA E EFICIÊNCIA DE DIREITO


PÚBLICO:

A Lei nº 13.655/2018 alterou a LINDB com a inclusão dos artigos 20 a 30,


prevendo regras de segurança jurídica e eficiência na criação e
aplicação de direito público.

Até então, o entendimento é que os artigos se aplicam a temas de direito


público, mais especificamente para matérias de Direito Administrativo,
Financeiro, Orçamentário e Tributário, tais regras, portanto não se aplicam
para temas de direito privado, assim não se aplicam diretamente ao direito
civil.

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