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TJBA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

17/04/2023

Número: 8001465-25.2023.8.05.0150
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA
Órgão julgador: 2ª V DE FAZENDA PÚBLICA DE LAURO DE FREITAS
Última distribuição : 19/01/2023
Valor da causa: R$ 20.779,22
Assuntos: Indenização por Dano Material
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
IONE SILVA MARTINS DOS SANTOS REIS (REQUERENTE) SAMIA ROCHA GADELHA (ADVOGADO)
MUNICIPIO DE LAURO DE FREITAS (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
37826 30/03/2023 08:31 Contestação Contestação
9863
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DA FAZENDA
PÚBLICA DA COMARCA DE LAURO DE FREITAS – BAHIA.

Processo nº 8001465-25.2023.8.05.0150

O MUNICÍPIO DE LAURO DE FREITAS, pessoa jurídica de


direito público interno, inscrito no CNPJ sob o 13.927.819/0001-40, com sede
funcional no Centro Administrativo de Lauro de Freitas (CALF), na Avenida
Brigadeiro Alberto Costa Matos, s/n, Aracuí, Térreo, Lauro de Freitas/BA, CEP
42.702-010 (rua lateral do Parque Shopping), neste ato representado por sua
procuradora que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
apresentar

CONTESTAÇÃO

à ação proposta por proposta por IONE SILVA MARTINS DOS SANTOS
REIS, devidamente qualificado(a) na petição inicial, nos termos do artigo 335 e
seguintes do Código de Processo Civil (CPC), pelas razões de fato e de direito que
passa a expor.

1. DA TEMPESTIVIDADE.

O artigo 335 do CPC estabelece o prazo de 15 (quinze) dias para a


apresentação de contestação. No entanto, a Fazenda Pública possui prazo em dobro
para todas as suas manifestações processuais, conforme determina o artigo 183
deste Código.

Desse modo, o prazo para apresentar contestação pelo Município de


Lauro de Freitas é de 30 (trinta) dias úteis, considerando o artigo 219 do mesmo
diploma legal, que computa somente os dias úteis na contagem de prazo em dias.

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Levando-se em conta que a intimação foi encaminhada para o portal
eletrônico em 30/01/2023, foi registrada a ciência em 09/02/2023 (quinta-feira), de
modo que o prazo para contestar se iniciou no dia 10/02/2023 (sexta-feira).

Assim, considerando a suspensão do expediente forense entre os dias 16


e 22 de fevereiro de 2023, vide Decreto Judiciário nº 31, de 17 de janeiro de 2023, o
termo final ocorre no dia 30 de março de 2023 (quinta-feira).

Portanto, tempestiva a presente contestação.

2. DOS FATOS.

Alega a parte autora que o município réu moveu ação judicial, Processo
0014769-32.2006.4.01.3300/JFBA, tendo obtido provimento favorável para receber
da União repasse da diferença paga a menor decorrente do Valor Mínimo Nacional
por Aluno (VMNA) dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), desde a data de
dezembro de 1998 até dezembro de 2006.

Assim, foi determinada a expedição do competente precatório, de nº


0117522- 41.2017.4.01.9198, na 14ª Vara Federal Seção Judiciária da Bahia, do valor
incontroverso de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais), em favor da
municipalidade, numerário que já se encontra depositado em conta judicial para
levantamento pelo exequente, ora promovido.

O referido montante refere-se a valores pretéritos, a título de


complementação do FUNDEF que, por imposição legal (art. 2º e 7º, da Lei nº
9.424/96) e, sobretudo, constitucional (Art. 60, do ADCT, com a redação dada pela
EC nº 14/96), somente podem ser destinadas à manutenção e desenvolvimento da
educação básica e na valorização dos profissionais do magistério com a destinação
de, no mínimo, 60% do valor para os professores.

Nesse contexto, a autora, na condição de professor(a) contratado(a) em


Regime de Regime Especial de Direito Administrativo – REDA, entende fazer jus a
parcela desse recurso, o que foi negado administrativamente pelo município réu, sob
o fundamento de que não havia Lei que regulasse a matéria à época.

No entanto, Excelência, os pedidos formulados na presente ação devem


ser julgados improcedentes, pelas razões a seguir expostas.

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3. PRELIMINARMENTE.

3.1. DA COISA JULGADA. ACORDO HOMOLOGADO NA AÇÃO


CIVIL PÚBLICA Nº 0504053-60.2018.8.05.0150.

Em abril de 2018, a APLB - SINDICATO DOS TRAB EM


EDUCACAO DO ESTADO DA BAHIA ajuizou ação civil pública contra o
Município de Lauro de Freitas, com o intuito de vincular os recursos oriundos do
Precatório nº 0117522-41.2017.4.01.9198, decorrente de condenação judicial da
União ao pagamento de diferenças devidas ao FUNDEF, a título de
complementação do VMNA, à promoção da manutenção e desenvolvimento da
educação básica e à valorização dos profissionais da educação, devendo ser
observada a regra de aplicação de proporção não inferior a 60% dos recursos ao
pagamento dos professores, como determinado no art. 60 do ADCT e no art. 7º da
Lei nº 9.424/96.

Não obstante o pedido formulado na referida ACP tenha sido julgado


improcedente, perante o juízo de 2º grau foi firmado acordo entre o Município de
Lauro de Freitas, a APLB e a ASPROLF, para destinação de uma parte dos 60%
(sessenta por cento) do valor recebido no precatório 0117522-41.2017.4.01.9198,
aos representados dos sindicatos anuentes, no valor total de R$ 18.000.000,00
(dezoito milhões de reais).

O termo de acordo foi devidamente homologado por decisão judicial


exarada pelo Des. José Cícero Landin Neto, já transitada em julgado, conforme
certidão ora juntada.

De acordo com o art. 337, § 1º do Código de Processo Civil, verifica-se a


litispendência ou coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada. Já
o § 4º estabelece que:

§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão
transitada em julgado.

No caso dos autos, resta claro que a autora pretende obter parcela de
recursos os quais já foram destinados pelo réu aos associados da APLB e a
ASPROLF por meio de acordo homologado por sentença já transitada em
julgado.

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Do exposto, requer seja acatada a preliminar de coisa julgada, com base
no art. 337, inciso VII do CPC, nos termos da fundamentação retro expendida, com
a extinção do processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, inciso V do
CPC.

4. MÉRITO.

4.1. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 0504053-60.2018.8.05.0150.


SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. ACORDO JUDICIAL
ENVOLVENDO O OBJETO DESTA AÇÃO.

Em abril de 2018, a APLB - SINDICATO DOS TRAB EM


EDUCACAO DO ESTADO DA BAHIA ajuizou uma ação civil pública contra o
Município de Lauro de Freitas, com o intuito de vincular os recursos oriundos do
Precatório nº 0117522-41.2017.4.01.9198, decorrente de condenação judicial da
União ao pagamento de diferenças devidas ao FUNDEF, a título de
complementação do VMNA, à promoção da manutenção e desenvolvimento da
educação básica e à valorização dos profissionais da educação, devendo ser
observada a regra de aplicação de proporção não inferior a 60% dos recursos ao
pagamento dos professores, como determinado no art. 60 do ADCT e no art. 7º da
Lei nº 9.424/96.

Proferida sentença, o Juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública de Freitas


julgou improcedente o pedido, dentre outros, com base nos seguintes fundamentos:

a) que o crédito constituído judicialmente em favor do Município não é


dotado de caráter compensatório ou indenizatório, consubstanciando
mera complementação de verba pública para investimento nos objetivos
constitucionais e legais previamente estabelecidos;

b) que o Supremo Tribunal Federal, em decisão monocrática exarada


pelo Ministro Luís Roberto Barroso, alertou que a condenação da União
ao complemento do FUNDEF/FUNDEB dos Municípios não conduz
necessariamente ao surgimento de direito subjetivo dos professores ao
recebimento de cota-parte desta parcela, nem à automática subvinculação
aos 60% (sessenta por cento) previstos no art. 22 da Lei nº 11.494/2007;

c) que há plena vinculação das verbas do FUNDEF/FUNDEB à


educação pública, mas tal fato, por si só, não autoriza a distribuição dos

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recursos do fundo para a remuneração dos docentes, na forma
pretendida pelo Sindicato.

Não obstante a sentença de improcedência, foi firmado acordo entre o


Município de Lauro de Freitas, a APLB e a ASPROLF, perante o juízo de 2º grau,
para destinação de uma parte dos 60% (sessenta por cento) do valor recebido no
precatório 0117522-41.2017.4.01.9198 aos representados do sindicato anuente
(ASPROLF), no valor total de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais).

O termo de acordo foi devidamente homologado em 12/04/2022 por


decisão judicial exarada pelo Des. José Cícero Landin Neto, já tendo transitado em
julgado, conforme certidão ora juntada.

Importante ressaltar que o acordo entabulado abrange somente os


substituídos pela ASPROLF, que representa somente os servidores professores
concursados, como resultado de uma ampla negociação realizada ao longo de 04
(quatro) anos.

Nesse contexto, não há como se deferir à autora o direito a parcela de


verba que já fora destinada aos substituídos da ASPROLF por meio de acordo
homologado por sentença transitada em julgado, vez que os termos da transação
delimitaram o quantitativo de professores com vínculo efetivo ativos e inativos, que
teriam direito ao recurso, cuja lista se encontra juntada no processo judicial.

4.2. DA IRRETROATIVIDADE DA LEI. RECURSOS


RECEBIDOS ANTES DA EDIÇÃO DA LEI 14.325/2022 QUE
ALTEROU A LEI Nº 14.113/2020 E DA EC 114/2021.
REGRAMENTO DO TCM/BA.

Inicialmente, cumpre registrar que a ação foi movida pelo sindicato em


2018, data anterior ao ingresso dos recursos financeiros nos cofres públicos, que
ocorreu somente em 2019.

Observe-se que havendo a incorporação patrimonial do precatório, o


Município deve seguir o regramento estabelecido pelo Tribunal de Contas dos
Municípios da Bahia – TCM/BA, cuja regulamentação consta da Resolução
1346/2016, alterada pela Resolução 1387/2019, que expressamente evidencia a
impossibilidade de pagamento de remuneração ou rateio de tal recurso aos
profissionais do Magistério. Senão, veja-se:

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RESOLUÇÃO Nº 1.387/2019
Altera dispositivos da Resolução TCM nº 1.346/2016, que dispõe sobre
a contabilização e aplicação dos créditos decorrentes de precatórios,
oriundos de diferenças das transferências do FUNDEF de exercícios
anteriores, e estabelece outras providências.

Art. 2º. O caput do Art. 1º da Resolução TCM nº 1.346/2016 passa a


vigorar com a seguinte redação:
Art. 1º. Os recursos recebidos em decorrência de ação ajuizada contra a
União, objeto de precatórios, em virtude de insuficiência dos depósitos
do FUNDEF ou FUNDEB, referentes a exercícios anteriores, somente
poderão ser aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino
básico, em conformidade com o disposto nas Leis Federais nº
9.394/1996 e 11.494/2007, vedada a utilização para pagamento de
remuneração dos profissionais da educação, não se aplicando a
tais recursos a vinculação prevista no art. 22 da Lei nº 11.494/2007
e, no que diz respeito à remuneração, o inciso I do art. 70, da Lei
nº 9.394/1996.

Sobre o tema, o Tribunal de Contas dos Municípios – TCM/BA já


emitiu parecer jurídico acerca da aplicação da norma, a saber:

TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA


BAHIA
AJU: ASSESSORIA JURÍDICA
ORIGEM: PREFEITURA MUNICIPAL DE SOUTO SOARES
PROCESSO Nº 05421e21
PARECER Nº 00620-21
EMENTA: CONSULTA. APLICABILIDADE DO ART. 7º, §
ÚNICO DA LEI Nº 14.057. EFEITOS EX NUNC DA NORMA.
POSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DO ABONO AOS
PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO, COM RECURSOS
ADVINDOS DOS PRECATÓRIOS DO FUNDEF, SOMENTE AOS
MUNICÍPIOS QUE RECEBERAM TAIS VERBAS APÓS O INÍCIO
DA VIGÊNCIA DA LEI. CÔMPUTO NO CÁLCULO DO LIMITE
DE DESPESAS COM PESSOAL DA LRF. ENTENDIMENTO
PELA NECESSIDADE DE DESCONTO DE IR NA FONTE.
RECOMENDAÇÃO DE EDIÇÃO DE LEI DISCIPLINADORA DO
PAGAMENTO DO ABONO.
a) Conclui-se pela aplicabilidade da Lei nº 14.057/20, somente à
hipótese de o município ter sido agraciado com os precatórios
após o marco inicial da vigência da aludida norma, caso contrário,
haja vista não possuir tal norma característica de retroatividade em
ações julgadas antes da sua vigência datada de 11/09/2020, bem
como entende esta Unidade Jurídica pela prevalência até o
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momento, do entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal Federal
e Tribunal de Contas da União sobre a vinculação das referidas verbas
apenas em ações de desenvolvimento da educação básica, concluindo-se
por fim, a eficácia dos termos postos na Resolução nº 1.346/2016,
alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017 e nº 1.387/2019, deste TCM.
b) Tendo em vista tratar-se, o abono a ser destinado aos profissionais do
magistério público, em virtude do quanto disposto no artigo 7º, § único,
da Lei nº 14.057/2020, de parcela de caráter remuneratório, tal montante
deve ser incluído no cálculo do limite de despesas com pessoal previsto
na LRF
c) Entende esta Assessoria Jurídica que o pagamento do abono previsto
no artigo 7º, §º único, da Lei nº 14057/2020, por se revestir de natureza
remuneratória, deve compor a base de cálculo, para efeito da incidência
de Imposto de Renda. No entanto, considera-se prudente levar tal
questionamento ao conhecimento da Secretaria da Receita Federal, órgão
que possui competência para apreciação da matéria.

No mesmo sentido, transcreve-se recente parecer da AGU, emitido em


05/01/2022, ipsi litteris::

PARECER n. 00133/2021/DICAD/PFFNDE/PGF/AGU
NUP: 23034.038908/2021-37
INTERESSADOS: COORDENAÇÃO DE
OPERACIONALIZAÇÃO DO FUNDEB – COPEF ASSUNTOS:
CONSULTA E ORIENTAÇÃO DE ATUAÇÃO - OUTROS
ASSUNTOS

CONSULTA. FUNDEB. QUESTIONAMENTOS. ALTERAÇÃO


LEGISLATIVA. LEI 14.276/21. APLICAÇÃO. DIREITO
INTERTEMPORAL. REGRA GERAL.
IRRETROATIVIDADE. ART. 5º, XXXVI DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. ARTIGO 6º DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS
DO DIREITO BRASILEIRO. DOGMAS E PRINCÍPIOS
JURÍDICOS. OBSERVAÇÕES.
...
II.4 -ANÁLISE JURÍDICA EM TESE DAS QUESTÕES
19. Da leitura da citada Nota Técnica, verifica-se que foram realizadas
quatro perguntas que envolvem a alteração legislativa em apreço, com
dúvidas, basicamente, a respeito da aplicação ou não da lei nova às
situações anteriormente constituídas. Assim, essa análise será realizada
com a resposta abaixo de cada pergunta transcrita.

-Pergunta: Com a recente sanção presidencial e publicação da Lei nº


14.276, de 2021 (SEI nº 2706773), a norma teria aplicação retroativa em
todo o exercício financeiro, ou seja, a partir de 1º de janeiro de 2021? Ou
teria validade para adequações contábeis e financeiras e atos
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administrativos somente após a sua publicação no Diário Oficial da
União (28/12/2021)?
R: No ordenamento jurídico existem determinados dogmas, sendo que
os primordiais relacionados ao direito intertemporal são a coisa julgada,
o ato jurídico perfeito e o direito adquirido. Inclusive protegidos
constitucionalmente (artigo 5º, inciso XXXVI). A razão principal destes
dogmas é a busca da segurança jurídica das situações, conferindo a
estabilização do direito.

O texto constitucional ao prescrever que “a lei não prejudicará o direito


adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (CF, art. 5º, XXXVI),
consagra o princípio geral de irretroatividade da lei.

Em complemento, o artigo 6º "caput" da Lei de Introdução às


normas do Direito Brasileiro dispõe:

"Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o


ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada."

Assim, em regra, a norma jurídica é criada para valer no futuro. As leis,


em face do caráter prospectivo de que se revestem, devem, desta forma,
dispor para o futuro A irretroatividade da norma é a regra e a
retroatividade a exceção. Para que se dê a retroatividade, necessária o
requisito de previsão em lei, ou seja, que o Estado edite e prescreva atos
normativos com efeito retroativo e sem ofensa aos dogmas versados.

Na lição do doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (in Direito Civil,


Parte Geral, 18ª Ed., Saraiva, pg. 29): "A Constituição Federal de 1988
(art. 5º, inciso XXXVI) e a Lei de Introdução ao Código Civil, afinadas
com a tendência contemporânea, adotaram o princípio da
irretroatividade das leis como regra, e o da retroatividade como exceção.
Acolheu-se a teoria de Gabba, de completo respeito ao ato jurídico
perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada. Assim, como regra, aplica-
se a lei aos casos pendentes e futuros, só podendo ser retroativa (atingir
fatos pretéritos) quando: a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e à coisa julgada; b) quando o legislador, expressamente,
mandar aplicá-la a casos pretéritos, mesmo que a palavra "retroatividade"
não seja usada. Na doutrina, diz-se que é justa a retroatividade quando
não se depara, na sua aplicação, qualquer ofensa ao ato jurídico perfeito,
ao direito adquirido e à coisa julgada; e injusta, quando ocorre tal ofensa.
"

No caso concreto, a Lei 14.276, de 27 de dezembro de 2021 (publicada


no DOU em 28 de dezembro de 2021), que alterou a Lei 14.113, de 25
de dezembro de 2020, que regulamenta o Fundo de Manutenção e

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Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação (Fundeb), dispôs em seu artigo 2º:

Lei 14.276, de 27 de dezembro de 2021


"(...)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação."
A vigência estipulada, na data de sua publicação, a torna obrigatória neste
termo. Não foram previstas disposições transitórias (que são elaboradas
pelo legislador, no próprio texto normativo, para conciliar a nova norma
com as relações já definidas pela anterior), nem comando próprio ou
disposição sugestiva para aplicação a casos pretéritos.

Com o intuito de assegurar a certeza e a segurança das relações


constituídas, preservando-se os atos jurídicos praticados sob o império
da norma anterior, entende-se que se aplica à hipótese, deste modo, a
regra geral da irretroatividade, a permitir a estabilidade do direito.

As alterações legislativas marcam uma das características do direito que é


o seu seu dinamismo, sua capacidade de se aperfeiçoar, acompanhando a
evolução social, sem se descuidar da estabilidade das relações jurídicas.

Logo, "a irretroatividade das leis deve se ajustar à tensão entre a solidez
das relações jurídicas preestabelecidas e às novas exigências sociais"
(PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil : vol. I. Rio de
Janeiro: Forense, 2005, pg. 138).

Não se olvida, ademais, que o artigo 22 "caput" da Lei de Introdução às


normas do Direito Brasileiro dispôs que "Na interpretação de normas sobre
gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as
exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos
administrados." As dificuldades reais na prática do gestor são consideradas
pela legislação, comportando interpretação de que o legislador se
preocupa, igualmente, com temas de direito intertemporal para que
eventual retroprojeção normativa da lei não gere e nem produza
gravames.

Entende-se, portanto, que os preceitos normativos modificados


têm eficácia prospectiva, não retroagindo.
...

O parecer acima trata do mesmo objeto da lide, qual seja, a


irretroatividade de aplicação de norma de cunho financeiro, sendo explícito ao
estabelecer que, não havendo no texto da norma qualquer menção à retroatividade
da lei, sua aplicação incide tão somente nos casos pendentes e futuros.

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Nesse contexto, o art. 4º da Lei nº 14.325/2022 é expresso ao dispor
sobre a vigência da norma a partir de sua aplicação. Senão veja-se:

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

No caso em tela, o Município incorporou ao seu patrimônio os valores


do precatório em 2019, portanto, antes da edição da Lei nº 14.325/2022, utilizada
pela autora como fundamento de seu direito.

Vale registro, ainda, que caso a gestora municipal realizasse o pagamento


administrativo, com base na Emenda 114 e demais normas posteriores ao ingresso
do numerário, estaria descumprindo dispositivo expresso da Resolução do
TCM/BA, in verbis:

“...
Art. 4º. O Art. 2º da Resolução TCM nº 1.346/2016 passa a vigorar com
a seguinte redação:

Art. 2º. Os recursos de que trata esta Resolução não poderão ser
aplicados para o pagamento de:

I – rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas ou


previdenciários,

II – remuneração e respectivos encargos sociais dos profissionais


de educação;

III – despesas de pessoal referentes a contratos de terceirização de


mão de obra concernentes a substituição de servidores e
empregados públicos, conforme art. 18, § 1º, da LRF;

IV - outras verbas com denominações da mesma natureza aos


contidos nos incisos I e II ou que, após exame da documentação
respectiva pelo Tribunal de Contas dos Municípios, se revelarem
sem amparo da legislação pertinente.
...”

Diante do exposto, verifica-se que as normas trazidas pela Lei nº


14.113/2020 (alterada pela Lei 14.325/2022) e pela Emenda Constitucional
114/2021 não possuem efeito retroativo, sendo, portanto, inaplicáveis aos recursos
financeiros recebidos em 2019, conforme posicionamento do TCM-BA, TCU E
AGU, razão pela qual a autora não faz jus ao recebimento desta verba, impondo-se
a improcedência do pedido.
Procuradoria Geral do Município - PGM | 71 3369-3722
CALF - Centro Administrativo de Lauro de Freitas - Avenida Brigadeiro Alberto Costa Matos,
S/N, Aracuí, CEP: 42.702-010

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5. CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer o Município de Lauro de Freitas, inicialmente,


sejam acolhida(s) a(s) preliminar(es) de mérito suscitada(s), aplicando-se os efeitos
inerentes, e no mérito, requer a IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS, nos
termos da fundamentação supra, condenando a parte autora ao pagamento de custas
e honorários advocatícios, a serem fixados nos termos do art. 85, §8º do CPC.

Por fim, requer a admissão de todos os meios de prova admitidos no


Direito para comprovação do quanto alegado, tais como a juntada de documentos
em contraprova.

Pede deferimento.

Lauro de Freitas (BA), 29 de março de 2023.

LÍVIA MARÍLIA ROCHA MARTINS


Procuradora Municipal
OAB/BA 17.876

Procuradoria Geral do Município - PGM | 71 3369-3722


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S/N, Aracuí, CEP: 42.702-010

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