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TEORIA DA NORMA

CONSTITUCIONAL: A
NORMA NO ESPAÇO E NO
TEMPO
PROF. ESP. HWDSON CHAVES DOS SANTOS
LIMA
■ O Poder Constituinte Originário, ao se manifestar, elaborando uma nova Constituição,
está, na verdade, inaugurando um novo Estado, rompendo com a ordem jurídica anterior
e estabelecendo uma nova.

■ Como consequência disso, são três os efeitos da entrada em vigor de uma nova
Constituição:

■ A) A Constituição anterior é integralmente revogada; ela é inteiramente retirada do


mundo jurídico, deixando de ter vigência e, consequentemente, validade.

■ B) As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição pretérita que


forem materialmente compatíveis com a nova Constituição são por ela recepcionadas.

■ C) As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição pretérita que


forem materialmente incompatíveis com a nova Constituição são por ela revogadas.
TEORIA DA
DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
■ No Brasil, não se aceita a tese da desconstitucionalização que, entretanto, é
adotada em vários outros países mundo afora. Por essa teoria, a nova
Constituição recepciona as normas da Constituição pretérita, conferindo-
lhes “status” legal, infraconstitucional.
■ Embora não houvesse óbice para que a CF/88 adotasse a
desconstitucionalização, ela não o fez, nem de forma genérica, nem quanto a
algum dispositivo específico. Cabe destacar, nesse sentido, que a
desconstitucionalização é fenômeno que somente ocorrerá quando houver
determinação expressa do Poder Constituinte Originário.
TEORIA DA
INCONSTITUCIONALIDADE

SUPERVENIENTE
Com a entrada em vigor de uma nova Constituição, as normas infraconstitucionais com ela
materialmente incompatíveis são revogadas (retiradas do mundo jurídico), deixando de ter
vigência e, consequentemente, validade.
■ Alguns autores entendem que, no caso de entrada em vigor de uma nova Constituição, as
normas legais com ela incompatíveis se tornam inconstitucionais, pelo fenômeno da
inconstitucionalidade superveniente.
■ Essa não é a posição do STF, que considera que o controle de constitucionalidade somente é
cabível quando uma norma é contemporânea à Constituição, isto é, editada sob a sua
vigência.
■ Assim, uma lei editada em 1982, sob a égide da Constituição de 1967, não poderá ter sua
constitucionalidade examinada face à Constituição de 1988; a constitucionalidade dessa lei
somente poderá ser aferida frente à Constituição de 1967, que lhe é contemporânea .
■ Ou seja,
■ Com a entrada em vigor de uma nova Constituição, as normas
infraconstitucionais com ela materialmente incompatíveis são revogadas
(retiradas do mundo jurídico), deixando de ter vigência e,
consequentemente, validade.
■ Essa revogação (assim como também a recepção das normas materialmente
compatíveis) é tácita e automática: a nova Constituição não precisa dispor
que os dispositivos incompatíveis serão expurgados do ordenamento
jurídico.
■ Enfatizamos, então, mais uma vez, que no Brasil não se reconhece a
inconstitucionalidade superveniente. A entrada em vigor de uma nova
Constituição não torna inconstitucionais as normas infraconstitucionais com
ela materialmente incompatíveis; o direito pré-constitucional incompatível
será, ao contrário, revogado.
O FENÔMENO DA REPRISTINAÇÃO
■ Art. 2°, §3° - LINDB
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
vigência.
■ É o fenômeno jurídico pelo qual uma lei volta a vigorar após a revogação da lei que a revogou. No entanto, há
entendimentos diversos sobre sua validade. Enquanto alguns doutrinadores sustentam que a lei revogada passa
automaticamente a vigorar com a abolição da lei que a revogou, outros entendem que tal fenômeno é vedado
em nosso ordenamento, em razão do art. 2º, § 3º, da LINDB. Desta forma, para que a lei anteriormente abolida
se restaure, é necessário que o legislador expressamente a revigore.
■ Imagine que uma lei, materialmente incompatível com Constituição de 1967, tenha sido por ela revogada. Com
o advento da Constituição Federal de 1988, essa mesma lei torna-se compatível com a nova ordem
constitucional.
■ Diante disso, pergunta-se: essa lei poderá ser “ressuscitada”? Poderá ocorrer a repristinação?
■ Sim, pode. A repristinação, contudo, só é admitida excepcionalmente e quando há disposição expressa nesse
sentido, em virtude da necessidade de se resguardar a segurança jurídica.
■ Somente existe a possibilidade de repristinação expressa (jamais de repristinação tácita!).

■ No Brasil, em regra, somente pode haver recepção de dispositivos legais que estejam em vigor no momento da
promulgação da nova Constituição.

■ Exemplo:

Consideremos a lei A, que é revogada pela lei B.

Depois, surge a lei C, revogando a lei B.

Nesse caso, a norma A volta a valer, uma vez que a B também foi revogada?

 Art. 2° LINDB

Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

§ 1° A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

§ 2° A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

§ 3° Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.”
■ Com isso nós vemos que, no direito brasileiro, não existe repristinação automática. Ou seja, no nosso exemplo, a lei A só
voltará a ter validade caso haja disposição expressa nesse sentido.

■ Exemplo:

Observemos o artigo 122 da Lei 8.213/91 que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e outras providências.

Art. 122. Ao segurado em gozo de aposentadoria especial, por idade ou por tempo de serviço, que voltar a exercer atividade
abrangida pelo Regime Geral de Previdência Social, será facultado, em caso de acidente do trabalho que acarrete a invalidez,
optar pela transformação da aposentadoria comum em aposentadoria acidentária. (Revogado pela Lei no 9.032, de 1995).

Art. 122. Se mais vantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do
cumprimento de todos os requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço,
se homem, ou trinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade.” (Restabelecido com nova redação pela Lei no
9.528, de 1997).

Veja que, nesse caso, nós temos ao final a informação de que o artigo primeiramente foi “revogado pela Lei no 9.032 de
1995”. Hoje, temos ao final que ele foi “restabelecido com nova redação pela Lei no 9.528 de 1997”. Ou seja,
primeiramente o artigo foi revogado, depois ele foi restabelecido, mas só pôde “ressuscitar” no ordenamento porque
houve uma lei estabelecendo isso.
REPRISTINAÇÃO E EFEITO
REPRISTINATÓRIO
■ A repristinação trata de aferir validade a norma que se encontrava inválida, enquanto o efeito repristinatório é
diferente. Nesse caso, a norma anterior nunca perdeu sua eficácia. Isso porque se a norma posterior é inconstitucional,
ela não produziu efeitos, visto que nunca possuiu validade.

■ No caso de uma norma surgir com a intenção de revogar a norma anterior, se ela for inconstitucional, a revogação não
terá efeito. Logo, a norma anterior nunca terá perdido seu efeito.

■ Portanto, o efeito repristinatório é a sequência no tempo da vigência de uma lei, sem interrupção real.

■ Ou seja, o Efeito Repristinatório significa que a norma declarada inconstitucional não foi apta para revogar a norma
anterior que tratava da mesma matéria, uma vez que nasceu nula, logo não surte efeitos no mundo jurídico. Neste caso
entende-se que, declarada a inconstitucionalidade de norma revogadora (ora nula), a norma pretensamente revogada se
mantém em vigor.
O que é repristinação tácita?
■ Quando falamos em repristinação temos duas correntes de análise. Ela pode ser tácita ou expressa. A repristinação
tácita acontece quando a lei revogada por uma lei nova automaticamente retorna possuindo seus efeitos após
revogação desta por outra norma. Vamos simplificar:

■ Considere a vigência da Lei A.

■ Surge a Lei B que a revogada.

■ Fica valendo, então, a Lei B.

■ Depois surge a Lei C que revoga a Lei B.

■ Revogada a Lei B, volta a valer a Lei A, de forma automática.

■ No entanto, como vimos, esta corrente não é aceita no Brasil, que só permite a repristinação expressa. Ou seja, como
estamos estudando, no Brasil só há repristinação quando a norma expressamente dispõe que a lei voltará a valer.

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