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Disciplina: Direito Constitucional I Período: 2DI

Professora: Ana Virgínia Gabrich

NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO

1 REVOGAÇÃO

 Pressuposto: normas dotadas de semelhante densidade normativa e produzidas


pelo mesmo órgão. Assim, a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria
de que tratava a lei anterior.
 Revogação expressa: quando a norma posterior enumera os dispositivos por ela
revogados.
 Revogação tácita: quando há incompatibilidade material entre duas normas
produzidas pelo mesmo órgão, ou quando uma norma posterior regula inteiramente a
matéria tratada pela norma anterior.
 Revogação total (ab-rogação): abrange toda a lei ou dispositivo.
 Revogação parcial (derrogação): atinge apenas parte da lei ou do dispositivo.
 OBS.: Uma nova Constituição revoga totalmente (ab-roga) a antiga, salvo nos casos
de expressa disposição em sentido contrário.

2 RECEPÇÃO

 Quando uma Constituição é revogada, todas as demais normas do ordenamento


jurídico perdem seu fundamento de validade e, portanto, sua vigência. Assim, pelo
princípio da continuidade do direito, as normas infraconstitucionais cujo conteúdo
seja materialmente compatível com a nova Constituição serão recepcionadas
(novação legislativa), ou seja, a norma materialmente recepcionada ganha um novo
fundamento de validade.
 Já nos casos em que há incompatibilidade material superveniente entre a norma
legal e a constitucional (originária ou derivada) ocorre a não recepção. Ou seja,
deve haver incompatibilidade entre a norma legal anterior e a norma constitucional
posterior (ATENÇÃO! Não se trata de revogação, pois esta pressupõe normas com
semelhante densidade normativa e emanadas do mesmo poder).
 Quando a incompatibilidade for formal superveniente não há, em regra, impedimento
para sua recepção, que receberá novo status. (Ex.: O CTN foi originalmente criado
como lei ordinária, de acordo com os dispositivos da Constituição de 1946; a
Constituição de 1967 o recepcionou com o status de lei complementar. Já a CR/88
manteve o status de lei complementar em relação às normas compatíveis com o
novo sistema tributário nacional, nos termos do art.. 34, §5º, ADCT).
 ATENÇÃO! “A exceção ocorre com o deslocamento de competências federativas do
ente menor para o maior, hipótese na qual a legislação anterior não é recepcionada,
como por exemplo, no caso de uma competência legislativa municipal atribuída aos
Estados pela nova constituição. Na hipótese inversa, ou seja, de alteração de
competência legislativa de um ente maior (União) para um ente menor (Estados ou
Municípios), a recepção deve ser admitida de modo a evitar o vácuo legislativo”.
(NOVELINO, 2018, p. 157).
 OBS¹.: A teoria da recepção (ou novação) é tradicionalmente admitida no direito
brasileiro, independentemente de determinação expressa.
 OBS².: Para que uma norma seja recepcionada, ela precisa ser constitucional (formal
e materialmente) perante a Constituição da época em que ela foi editada.
 OBS³.: A ação própria para levar ao STF a discussão sobre a recepção ou não de
uma norma é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). A
ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) não é cabível, pois essa ação só cabe
para leis editadas após a CR/88;
 OBS4.: A análise da recepção é feita dispositivo por dispositivo. Assim, pode uma lei
ter alguns artigos, incisos ou parágrafos recepcionados, e outros não.
 Lei em período de vacatio legis: não pode ser recepcionada pela nova Constituição
(posição doutrinária dominante).
 No caso de Emenda à Constituição, a mesma regra deve ser seguida (isto é, de
recepção ou não de normas infraconstitucionais).

3 DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO

 Trata-se da perda do status das normas da Constituição antiga diante da nova


Constituição. Assim, “as normas materialmente constitucionais (direitos e garantias
fundamentais, estrutura do Estado e organização dos poderes) são revogadas, mas
as normas apenas formalmente constitucionais (demais dispositivos contemplados
no texto da constituição), cujo conteúdo for compatível com o da nova constituição,
são por ela recepcionadas como normas infraconstitucionais”. (NOVELINO, 2018, p.
156).
 O Brasil, tradicionalmente, não adota essa teoria, pois a nova Constituição revoga
totalmente a anterior. A teoria da desconstitucionalização somente será admitida se
houver expressa previsão no texto constitucional, como ocorreu com o art. 147 da
Carta Paulista de 1967, ao considerar “vigentes, com o caráter de lei ordinária, os
artigos da Constituição promulgada em 9 de julho de 1947” que com ela não fossem
contrários.

4 REPRISTINAÇÃO

 Ocorre quando uma norma restaura sua vigência em virtude da revogação da norma
que a revogou. Ou seja, é o retorno da vigência de uma lei revogada, em razão da
revogação da lei revogadora.
 No Brasil, como regra, somente é admitida a repristinação expressa (em decorrência
da segurança jurídica e estabilidade das relações sociais).
 Âmbito infraconstitucional: Art. 2º, §3º, Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro: § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter
a lei revogadora perdido a vigência.
 ATENÇÃO!!! Efeito repristinatório: ocorre nas ações diretas de
inconstitucionalidade em duas situações. A) no caso de concessão de medida
cautelar1 suspendendo a vigência e eficácia da lei revogadora, a legislação
aparentemente revogada volta a ser aplicada novamente, salvo determinação
expressa em sentido contrário. B) nas decisões definitivas de mérito, nos casos de
declaração de insconstitucionalidade com efeitos ex tunc (retroativos), a legislação
anterior pode repristinar se compatível com a constituição. (NOVELINO, 2018, p.
158).

5 MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

 Processo informal de modificação do conteúdo da constituição sem alteração de seu


texto.

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Busca assegurar uma futura atuação jurisdicional. Requisitos: fumus boni iuris e periculum in mora.
 Em regra, a nova interpretação “é implementada com o intuito de compatibilizar o
conteúdo da constituição às transformações políticas, sociais e econômicas
ocorridas na sociedade”. (NOVELINO, 2018, p. 159). Entrentanto, deve-se respeitar
os limites textuais contidos no dispositivo interpretado.

6 CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE

 Ocorre quando uma norma originalmente incompatível com a constituição é


constitucionalizada ante a alteração do parâmetro constitucional (advento de nova
constituição, promulgação de emenda ou via mutação constitucional). Na ausência
de previsão expressa, sua admissibilidade depende do entendimento adotado em
relação à natureza da norma inconstitucional. Assim, há duas possibilidades:
 Se a norma inconstitucional for considerada um ato anulável: admite-se a
constitucionalidade superveniente no caso de inexistência de decretação da
inconstitucionalidade do ato. Ou seja, caso a incompatibilidade da norma com
a constituição não tenha sido reconhecida, quando da mudança do
parâmetro, convalida-se e continua vigente.
 Se a lei inconstitucional for considerada um ato nulo: a modificação do
parâmetro constitucional não tem o condão de convalidar a norma, por se
tratar de um vício de origem insanável. (É o entendimento adotado pelo STF):

CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE - ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718, DE 27


DE NOVEMBRO DE 1998 - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15 DE DEZEMBRO
DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade
superveniente. TRIBUTÁRIO - INSTITUTOS - EXPRESSÕES E VOCÁBULOS -
SENTIDO. A norma pedagógica do artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a
impossibilidade de a lei tributária alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
consagrados institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou
implicitamente. Sobrepõe-se ao aspecto formal o princípio da realidade, considerados os
elementos tributários. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - PIS - RECEITA BRUTA - NOÇÃO -
INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.718/98. A jurisprudência
do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal anterior à Emenda
Constitucional nº 20/98, consolidou-se no sentido de tomar as expressões receita bruta e
faturamento como sinônimas, jungindo-as à venda de mercadorias, de serviços ou de
mercadorias e serviços. É inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98, no que
ampliou o conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por
pessoas jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da
classificação contábil adotada.

(STF - RE: 346084 PR, Relator: ILMAR GALVÃO, Data de Julgamento: 09/11/2005,
Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 01-09-2006 PP-00019 EMENT VOL-02245-06 PP-
01170)

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