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Coordenadores

Mila Gouveia
COLEÇÃO Adriano Camargo Patussi
ROTEIROS DE PROVA ORAL

MAGISTRATURA
ESTADUAL
4ª edição
revista, atualizada
e ampliada

Autores
Adriano Camargo Patussi
Larissa Cerqueira de Oliveira
Marco Aurélio da Silva Adania
Renato Augusto Ercolin

2022
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DIREITO CONSTITUCIONAL

1. O que é o neoconstitucionalismo e qual a sua relevância para a prestação


jurisdicional?

r O neoconstitucionalismo, também denominado constitucionalismo pós-mo-


derno ou pós-positivismo é uma doutrina desenvolvida a partir do início do
século XXI, cujo enfoque é a força normativa da constituição e a máxima
eficácia dos direitos fundamentais, a partir da ideia da supremacia material
axiológica da carta magna.
Nessa perspectiva, o Poder Judiciário tem papel relevante como realizador do
conteúdo da Constituição, reconhecendo que esta não contém meras reco-
mendações, mas prescrições impositivas e vinculantes, inclusive, decorrentes
de princípios.

2. Quais são as características essenciais do Poder Constituinte Origi-


nário?

r Trata-se de um poder inicial, por inexistir poder anterior ou acima dele; au-
tônomo e ilimitado, pois cabe ao seu titular, a nação, a escolha do conteúdo
da Constituição, não tendo que observar limites de ordenamento jurídico
anterior, ressalvando-se que, na concepção do Abade Sieyés, haveria limitação
aos princípios do direito natural; incondicionado, por não estar submetido
a forma ou conteúdo.

3. Quais são os limites do Poder Constituinte Reformador?

r As limitações do Poder Constituinte Reformador são estipuladas pelo


constituinte originário, podendo ser: a) limitações temporais, as quais
vedam a alteração do texto constitucional durante determinado perío-
do de tempo. Atualmente não subsiste no sistema constitucional, mas
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já houve previsão expressa na Constituição do Império de 1824, que


proibiu a reforma nos quatro primeiros anos após a sua promulgação;
b) limitações circunstanciais, decorrentes de situações de anormalidade
e instabilidade, tal qual a proibição de reforma durante o estado de
sítio e a intervenção federal; c) limitações materiais ou substanciais,
consistentes na proibição de reforma para abolir ou suprimir determi-
nadas matérias, cujo conteúdo mínimo foi erigido à condição de núcleo
imutável, podendo, no entanto, ser expandido – as cláusulas pétreas;
d) limitações procedimentais ou formais, que se referem a necessária
observação do procedimento legislativo para aprovação das propostas de
emendas constitucionais.

4. Existe alguma limitação material implícita ao Poder Constituinte Refor-


mador? Exemplifique

r Sim, é possível afirmar que existe uma cláusula pétrea implícita, que é a
vedação à modificação do art. 60 da Constituição quando tal alteração se
dê para retirar os limites do Poder Constituinte Reformador. Tal limita-
ção material implícita impede o que se denomina de “dupla revisão”, que
consistiria na alteração do art. 60 da Constituição para retirar dele uma
cláusula pétrea e, em seguida, modificar o conteúdo antes tido como cláu-
sula pétrea. Exemplificando, o legislador constituinte não pode apresentar
proposta de emenda tendente a abolir o voto direto, secreto, universal e
periódico, pois se trata de uma cláusula pétrea (art. 60, § 4º, II). Então,
para superar essa vedação, o legislador constituinte, por meio do poder de
reforma, suprimiria o inciso II, § 4º, do art. 60, da Constituição e, num
segundo momento, atingiria, por meio de outra emenda, o voto direto,
secreto, universal e periódico, pois agora não haveria impedimento consti-
tucional. Apesar de preponderar o entendimento sobre a impossibilidade da
dupla revisão, há posições em sentido contrário (Jorge Miranda e Manoel
Gonçalves Ferreira Filho).

5. Quais as características do Poder Constituinte Derivado?

r a) é derivado, porque é poder de direito, fundado no Poder Constituinte


Originário; b) é limitado, estando adstrito as limitações impostas pela Cons-
tituição; c) é condicionado, porque só pode manifestar-se em conformidade
com as formalidades previstas na Constituição.
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6. O que é Poder Constituinte Difuso?

r É o poder de fato que atua de forma a alterar informalmente a Constituição.


Não há modificação no texto da Constituição, mas há alteração quanto a
compreensão do conteúdo e alcance do texto constitucional em razão de mu-
danças sociais, políticas e econômicas. A mutação constitucional é expressão
do Poder Constituinte Difuso.

7. O que é Poder Constituinte Supranacional?

r É o poder que cria uma Constituição a partir da mitigação da soberania de


Estados, que cedem uma parcela dela a fim de que exista uma Constituição
comunitária, ultrapassando fronteiras domésticas, alcançando uma comuni-
dade de nações. O titular do Poder Constituinte Supranacional não é um
povo determinado, mas o cidadão universal.

8. O que se entende por retroatividade mínima, média e máxima da Cons-


tituição?

r Em regra, normas jurídicas novas (constitucionais e legais) se aplicam


para o futuro, não alcançando fatos pretéritos. No entanto, excepcional-
mente, a eficácia no tempo do novo texto pode se voltar a fatos passados.
A classificação da retroatividade se dá conforme a intensidade ou grau,
podendo ser: a) retroatividade mínima: a nova norma alcança os efeitos
futuros de atos ou fatos pretéritos. Não havendo norma constitucional
expressa determinando a retroatividade, o novo texto só alcançará os efei-
tos futuros de negócios celebrados no passado; b) retroatividade média: a
nova norma não atinge os atos ou fatos anteriores, mas atinge os efeitos
ainda não ocorridos; c) retroatividade máxima: a nova norma atinge os
atos ou fatos já consumados (direito adquirido, ato jurídico perfeito ou
coisa julgada).

9. O que é a inconstitucionalidade superveniente?

r Trata-se do fenômeno em que uma lei, até então constitucional, vem a se


tornar inconstitucional em razão da promulgação de texto constitucional
que conflita com a sua disposição. Prepondera o entendimento de que esse
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fenômeno jurídico não se aplica no ordenamento jurídico brasileiro, pois


a nova norma constitucional revoga a lei anterior incompatível. Assim a
análise da constitucionalidade de uma lei deve se dar em confronto com a
Constituição de sua época.

10. O que é constitucionalidade superveniente?

r É o fenômeno jurídico segundo o qual uma norma inconstitucional ao tem-


po de sua edição vem a se tornar constitucional a partir da promulgação de
novo texto constitucional. A depender do entendimento quanto à natureza
da norma inconstitucional (se é ato nulo ou anulável) a constitucionalidade
superveniente pode ou não ser admitida. Prepondera o entendimento de que
a norma que nasce com vício é nula desde a sua origem. Assim, a alteração
do parâmetro superior não pode torná-la constitucional.

11. Caso haja uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) em curso pe-
rante o STF e o parâmetro constitucional seja alterado, haverá a perda
do objeto?

r Não, pois o STF não adota a teoria da constitucionalidade superveniente.


Assim, “a alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda
está em curso, não prejudica a ação.”. Isso porque essa alteração não tem o
condão de convalidar o vício da lei. (STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 – Informativo 907).

12. O que se entende por transconstitucionalismo?

r Trata-se de conceito proposto por Marcelo Neves, a partir do reconheci-


mento de que há problemas de natureza constitucional que transcendem
os limites territoriais do Estado. Nesse sentido, há o entrelaçamento de
ordens jurídicas diversas, tanto estatais como transnacionais, internacionais
e supranacionais, sobre os mesmos problemas de natureza constitucional.
Por haver identidade ou semelhança entre as questões constitucionais
enfrentadas pelas diversas cortes do mundo, este autor sugere um diálogo
sobre estas questões comuns.
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13. O que se entende por mutação constitucional?

r É uma alteração da interpretação do texto constitucional sem que haja a


mudança formal do texto. Assim, diante da evolução das relações sociais, bem
como em face do conteúdo aberto e dinâmico da Constituição, promove-se
a releitura do seu conteúdo a fim de se adaptar as novas necessidades e ex-
pectativas da sociedade. Trata-se de um processo informal, que caracteriza o
poder constituinte difuso.

14. O Poder Judiciário pode determinar que a Administração Pública realize


obras para permitir o acesso de pessoas com restrição locomotora à
escola pública?

r Sim. “É dever do Estado-membro remover toda e qualquer barreira física, bem


como proceder a reformas e adaptações necessárias, de modo a permitir o acesso
de pessoas com restrição locomotora à escola pública”. O direito das pessoas
com deficiência ao acesso a prédios públicos está assegurado pela Convenção
Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, se tratando de política
pública de natureza constitucional, pois a Convenção foi internalizada seguin-
do o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição. A omissão
estatal, assim, viola normas definidoras de direitos e garantias fundamentais,
que, segundo a Constituição, deveriam ter aplicação imediata (STF. 1ª Turma.
RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013 (Info 726)).

15. O Poder Judiciário pode determinar que a Administração Pública realize


obras emergenciais em estabelecimento prisional?

r Caso o estabelecimento prisional se encontre em situação precária e haja


disponibilidade orçamentária no Fundo Penitenciário Nacional, não há como
a Administração Pública invocar a cláusula da reserva do possível para não
cumprir esta obrigação de fazer, sendo lícito ao Poder Judiciário impor a
execução de obras emergenciais. Tal imposição visa assegurar efetividade ao
princípio da dignidade da pessoa humana e o respeito a integridade física e
moral do preso, prestigiando a sua ressocialização.
A Administração Pública não pode aduzir ofensa ao princípio da separação
dos poderes, pois, evidenciado um “não fazer” comissivo ou omissivo por
parte das autoridades estatais que coloque em risco, de maneira grave e
iminente, os direitos dos jurisdicionados, violando normas constitucionais,
infraconstitucionais e internacionais, caberá ao Judiciário intervir, de acordo
com o postulado da inafastabilidade da jurisdição.
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Nesse caso o magistrado não estará substituindo o gestor público, mas


determinando o cumprimento de um programa constitucional vinculante,
assegurando o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, espe-
cialmente relacionado a uma minoria sem direitos políticos e sem capacidade
de vocalizar as próprias pretensões (STF. Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 13.08.2015, informativo 794).

16. Qual é a origem e o que se entende por estado de coisas inconstitucional?

r O mencionado instituto se originou na Corte Nacional da Colômbia, a qual


identificou um quadro insuportável e permanente de violação de direitos
fundamentais a exigir a intervenção do Poder Judiciário de caráter estrutural
e orçamentário.
O estado de coisas inconstitucional é caracterizado quando há uma violação
generalizada e contínua de direitos fundamentais decorrente da inércia ou
incapacidade das autoridades públicas, que não se articulam para modificar
essa situação, sendo necessárias transformações estruturais da atuação do
Poder Público.
Assim, verificado esse cenário, cuja superação requer a atuação conjunta de
diversos órgãos, ensejando mudanças estruturais, que podem depender de
realocação de recursos públicos, implementação e reformulação de políticas
públicas, dentre outras medidas, a Corte Constitucional pode adotar uma
postura de ativismo judicial. Trata-se de uma intervenção mais ampla sobre
o campo das políticas públicas, que se dá em virtude da reiterada omissão
estatal para sanar situações de séria e generalizada afronta aos direitos humanos.

17. Qual a sua relação com o sistema penitenciário nacional?

r O STF reconheceu o estado de coisas inconstitucional ao julgar ADPF que


versava sobre a situação do sistema penitenciário brasileiro, reconhecendo a
violação de preceitos fundamentais da Constituição Federal, bem como uma
falha estrutural, atribuída aos três Poderes, resultando na aplicação de penas
cruéis e desumanas. Diante dessa constatação, o plenário do STF concedeu
parcialmente medida cautelar, determinando medidas voltadas a superar esse
quadro de ofensa generalizada aos direitos dos presos, quais sejam: a imple-
mentação, no prazo de 90 dias, da audiência de custódia, bem como que a
União liberasse o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para
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a sua aplicação no sistema prisional (ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 09.09.2015, Informativo 798).

18. O Poder Legislativo pode editar lei em sentido contrário a uma decisão
proferida pelo STF em sede controle de constitucionalidade concen-
trado?

r As decisões oriundas do julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia


contra todos e efeito vinculante, todavia, tal vinculação não se aplica ao Poder
Legislativo. Nesse sentido, é possível que o Poder Legislativo edite lei em
sentido contrário ao que foi decidido pelo STF, contudo, tal lei nascerá com
presunção relativa de inconstitucionalidade, salvo se o Congresso Nacional
demonstrar que os fatos e fundamentos jurídicos que subsidiaram a decisão
do STF não existem mais, caso em que ocorrerá mutação constitucional
pela via legislativa.

19. E quanto à edição de emenda constitucional em sentido contrário a uma


decisão proferida pelo STF em sede de controle de constitucionalidade
concentrado ou abstrato? Aplica-se a mesma presunção de inconstitu-
cionalidade?

r A hipótese em comento é denominada reação legislativa, cuja finalidade é


superar a jurisprudência. Nesse caso não haverá a presunção de inconstitucio-
nalidade, pois a modificação é sobre o próprio parâmetro utilizado pelo STF
para embasar o julgamento no âmbito de controle concentrado. Ressalta-se,
todavia, que o Poder Legislativo sempre estará adstrito ao devido processo
legislativo para edição de emendas constitucionais, bem como às cláusulas
pétreas, sob pena de inconstitucionalidade (STF. Plenário, ADI 5105/DF,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01.10.2015, Informativo 801)

20. Haverá violação do sigilo bancário caso o Tribunal de contas da União


determine ao BNDES que encaminhe documentos relativos a operações
financeiras realizadas com grupo empresarial?

r Não. O Tribunal de Contas da União ostenta condição de órgão independente


na estrutura do Estado, lhe incumbindo a fiscalização do correto emprego
de recursos públicos. A determinação do TCU, nessa hipótese, visa controlar
as operações financeiras do BNDES, que é uma empresa pública federal,
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buscando-se informações da própria instituição, que contratou com terceiro


com o emprego de recursos de origem pública. O BNDES atua como ban-
co de fomento econômico e social, sofrendo intensa influência do regime
de Direito Público, não obstante ter natureza de pessoa de direito privado.
Será legítima, portanto, a requisição dos documentos sigilosos, pois o ato
é destinado a permitir o controle financeiro da Administração Pública por
órgão constitucionalmente previsto e dotado de capacidade institucional
para tanto. (STF, 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
26.05.2015, Informativo 787)

21. Qual Tribunal de Contas tem competência para fiscalizar a aplicação


de recursos federais que tenham sido repassados ao Distrito Federal?

r Nesse caso, além de ser feita pelo Tribunal de Contas da União, a fiscalização
também pode ser feita pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal, pois há
previsão na Lei Orgânica do Distrito Federal sobre a competência do Tribunal
de Contas distrital para fiscalizar recursos repassados ao Distrito Federal.
“A Constituição Federal em seu art. 75 determina que a competência do
Tribunal de Contas da União não afasta a competência dos Tribunais de
Contas dos Estados ou do Distrito Federal na hipótese em que esta vem
delineada nas Constituições Estaduais ou na Lei Orgânica do Distrito
Federal.” (STJ. RMS 61.997-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, por unanimidade, julgado em 16/06/2020, DJe 18/06/2020 – In-
formativo 674).

22. É necessária a autorização prévia do biografado para que seja publicada


uma biografia?

r É inexigível o consentimento prévio da pessoa biografada, bem como das


demais pessoas retratadas na biografia, pois constituiria uma forma de cen-
sura, cerceando a liberdade de expressão e à informação. Vale ressaltar que
os direitos do biografado e dos demais retratados não ficarão desprotegidos,
pois o uso abusivo da liberdade de expressão está sujeito a mecanismos de
reparação a posteriori, como a retificação, o direito de resposta, a indenização
e até mesmo a responsabilização penal (STF, Plenário. ADI 4815/DF, Rel.
Min Cármen Lúcia, julgado em 10.06.2015, Informativo 789).
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23. O que se entende pela teoria do limite dos limites?

r Trata-se de teoria que delimita a extensão das restrições que podem ser feitas
a direitos e garantias fundamentais. É cediço que os direitos e garantias
fundamentais não são absolutos, podendo sofrer restrições pelo legislador
ou pelo Poder Judiciário, num caso concreto. A teoria do limite dos limi-
tes se volta ao legislador, preceituando que há limites para o exercício da
limitação dos direitos fundamentais. Assim, pode haver restrição desses
direitos, desde que seja preservado o seu núcleo essencial, parte intocável,
insuscetível de limitação, sob pena de seu desvirtuamento.

24. O que é a Cláusula Miranda (“Miranda Rights”)?

r Também denominada de Aviso de Miranda, esta cláusula se refere a neces-


sidade de advertir o acusado sobre o direito de não ser obrigado a depor
contra si mesmo, nem a confessar-se culpado. É um direito fundamental
de advertência relacionado ao princípio da não autoincriminação. A origem
dessa expressão se deve a um caso ocorrido no Arizona, em 1963, em que
Ernesto Miranda foi preso, não teve seus direitos esclarecidos, e acabou
condenado com base em sua confissão. Tal fato suscitou amplo debate na
Suprema Corte Americana, que o absolveu e decidiu pela obrigatoriedade de
informar os direitos do preso, especialmente o de permanecer em silêncio,
ser assistido por advogado e não se autoincriminar, sob pena da ilicitude
do teor das declarações e das provas que dela decorrerem.

25. É cabível o ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade perante


o Tribunal de Justiça Estadual, impugnando lei municipal em face de
norma contida na Constituição Federal?

r Excepcionalmente sim. A Constituição previu no art. 125, § 2º, como


regra, a possibilidade de controle de constitucionalidade concentrado
de leis ou atos normativos estaduais ou municipais, tendo como parâ-
metro norma da Constituição Estadual. Entretanto, excepcionalmente,
o Tribunal de Justiça poderá declarar inconstitucional lei municipal em
face de dispositivo da Constituição Federal, caso o parâmetro utilizado
se tratar de uma norma de reprodução obrigatória pelos Estados. (STF.
Plenário. RE650898/RS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão
Min. Roberto Barroso, julgado em 01.02.2017, repercussão geral – In-
formativo 852)
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26. É possível ao Fisco requisitar informações bancárias sobre contribuin-


tes diretamente das instituições financeiras, sem a intervenção do Po-
der Judiciário?

r Sim, as autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados,


do Distrito Federal e dos Municípios poderão examinar documentos, livros
e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de
depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo
instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente, conforme disposto
em regulamento específico (art. 6º da Lei Complementar nº 105/2001). A
União regulou a matéria por meio de Decreto Federal (3.724/2001), podendo
os Estados e Municípios requisitar tais informações desde que regulamentem
a matéria de forma análoga, observando: a) a pertinência entre as informações
solicitadas e o tributo em apuração; b) a prévia notificação do contribuinte
relativamente à instauração de processo administrativo e demais atos; c)
sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico; d) existência de
sistemas eletrônicos de segurança certificados e com registro de acesso; e, por
fim, e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de
desvios (STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e ADI
2859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 24.02.2016. Informativo 815).

27. O prazo da licença-adotante pode ser inferior ao prazo da licença-ges-


tante?

r Não, o plenário do STF apreciou o tema, declarando a inconstitucionalidade


do art. 210 da Lei nº 8.112/90, que estabelece prazo da licença-adotante
inferior ao da licença-gestante. Na oportunidade, a Corte Constitucional po-
sicionou-se no sentido de que além do prazo da licença concedida à adotante
não poder ser inferior ao prazo da licença-gestante, também não é possível
fixar prazos variados em função da idade da criança adotada (STF. Plenário.
RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10.03.2016, reper-
cussão geral. Informativo 817).

28. É possível aplicar a medida de suspensão de exercício de função pública


(art. 319, VI, CPP) ao detentor de cargo de Deputado Federal?

r Sim, o art. 55, §§ 2º e 3º da Constituição confere às Casas Legislativas do


Congresso Nacional a competência para decidir sobre a perda do mandato, o
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. O Novo Código de Processo Civil traz novidades no campo principiológico?

r O novo CPC dispõe sobre as normas fundamentais do processo civil. In-


corporando ao texto do código a necessidade de observância dos princípios
constitucionais e também elencando princípios fundamentais do processo
civil. Note-se que o art. 1º do CPC, reforça a força normativa da Cons-
tituição, embora não seja uma inovação propriamente dita, visto que não
trata de exclusividade da norma processual exigir que suas disposições sejam
interpretadas de acordo com os valores estabelecidos na CF/88, mas o faz
expressamente tratando da utilização dos princípios e regras com uma rou-
pagem constitucionalizada.

2. Em que consiste o pamprocessualismo?

r A perspectiva pamprocessual indica que o alcance das garantias processuais deve


abarcar muito além da relação autor e réu, mas também o panorama estrutural
e cultural que envolve as relações postas em juízo. De acordo com Vitorelli “a
proposta do pamprocessualismo é trazer para a consideração do processo civil
aspectos que, usualmente, não são por ele estudados, em virtude de constituí-
rem elementos externos ao processo, mas que influenciam e condicionam seu
desenvolvimento”. VITORELLI, Edilson. O devido processo legal coletivo: dos
direitos aos litígios coletivos. 2 ed. São Paulo: RT, 2021, p. 170.

3. Discorra sobre o princípio da inércia da jurisdição, impulso oficial e


exemplifique com ao menos uma exceção ao princípio do impulso oficial
trazido pelo novo CPC.

r De acordo com o art. 2º do CPC, o processo começa por iniciativa da parte


e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Pelo
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princípio da inércia é tarefa do interessado provocar a jurisdição por meio do


processo. Ao passo que pelo princípio do impulso oficial, uma vez iniciado
o processo, ele se desenvolve independente da vontade ou nova provocação
da parte. O novo CPC, em seu art. 513, § 1º, condiciona o início do cum-
primento de sentença nas ações de pagar quantia certa, ao requerimento
da parte interessada, constituindo exceção ao princípio do impulso oficial.

4. Discorra sobre o princípio da congruência e aponte duas exceções à


sua aplicação.

r O princípio da congruência também conhecido como princípio da adstrição


ou correlação impõe ao magistrado a observância do que foi pedido pelo Autor
quando da prolação da decisão, não podendo conceder mais ou diversamente
do que foi pedido. Assim, dispõe o art. 492 do CPC que é vedado ao juiz
proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte
em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Todavia, existem exceções ao princípio, dentre elas os pedidos implícitos e a
fungibilidade nas ações possessórias.

5. É necessário o prévio requerimento administrativo para a concessão


dos benefícios previdenciários? Como se compatibiliza tal questão com
o princípio da inafastabilidade da jurisdição?

r O art. 3º do CPC, reiterando norma constitucional, afirma que não se


excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão ao direito, consa-
grando o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Por tal princípio,
para que o interessado possa provocar o Judiciário, não deve necessaria-
mente procurar anteriormente a solução do conflito administrativamente.
Ocorre que, no âmbito das ações previdenciárias, existe divergência na
jurisprudência. Embora majoritariamente, o STJ e STF tenham entendi-
mento de que é dispensável o prévio requerimento administrativo, a 2ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça, no Informativo nº 520, firmou
entendimento no sentido de que é indispensável o requerimento, salvo
quando se tratar de matéria em que haja resistência notória do INSS ao
pedido formulado.

6. O que o candidato entende pelo princípio da primazia do julgamento


de mérito?
Cap. 9 • DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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r Pelo princípio da primazia do julgamento de mérito, o juiz e também as partes


devem sempre que for possível contribuir para análise do mérito, evitando o
fim anômalo do processo por meio de sentença terminativa. Assim, dispõe o
novo CPC em diversos dispositivos, como por exemplo, o art. 6º que todos
os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em
tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Do mesmo modo, o art.
282, § 2º prevê que quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem
aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará, nem mandará
repetir o ato ou suprir-lhe a falta.

7. Discorra sobre o contraditório inútil

r O contraditório inútil é terminologia utilizada pela doutrina para apontar


situações em que há a necessidade de se afastar, pontualmente, o contraditó-
rio, sem que haja ofensa ao princípio constitucional. Isso porque, em muitos
casos, não havendo prejuízo para a parte, o fato de não ter sido observado o
contraditório não gera nulidade. Por exemplo, quando a violação do contra-
ditório se deu em ato que foi favorável ao vitorioso na demanda. O próprio
CPC incorpora a ideia de se evitar o contraditório inútil no art. 332, que
trata do julgamento liminar de improcedência.

8. Em que consiste a dimensão formal e material do contraditório?

r De acordo com a doutrina, o contraditório pode ser compreendido em duas


garantias: a de participação e a de possibilidade de influenciar na decisão do
juiz. A dimensão formal do contraditório abarca a garantia de participação
(falar, ter ciência dos atos, ser comunicado). Por sua vez, a dimensão material
ou substancial compreende o poder de influência.
Nota-se, assim, que o contraditório deixou de ser tão somente o dever de
informação e a possibilidade de reação. Hoje o princípio do contraditório
passou a ser analisado sob o prisma também da cooperação, nos termos do
art. 6º do CPC.
Nessa perspectiva, a dimensão substancial do contraditório impede a prolação
de decisão surpresa, qual seja, aquela cujos fundamentos as partes não tiveram
oportunidade de se manifestar.
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9. Qual a natureza jurídica da arbitragem?

r A doutrina diverge quanto ao tema. A parcela majoritária (Humberto The-


odoro Jr., Marinoni, Cassio Scarpinella Bueno, etc.) defende a natureza de
equivalente jurisdicional. Ao passo que outra parte da doutrina entende
que a arbitragem possui natureza de jurisdição, fazendo distinção entre
jurisdição estatal e jurisdição privada, da qual a arbitragem seria parte.

10. Qual corrente o CPC se filia?

r O NCPC no art. 3º, § 1º dispõe que não se excluirá da apreciação jurisdi-


cional ameaça ou lesão a direito e que é permitida a arbitragem, na forma
da lei. Assim, pela redação incorporada ao texto, entende-se que o NCPC
consagra o entendimento majoritário de que arbitragem não é jurisdição.

11. É possível ao Poder Judiciário declarar a nulidade de cláusula compro-


missória, sem requerimento prévio ao juízo arbitral?

r Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, a alegação de


nulidade da cláusula arbitral, bem como do contrato que a contém, deve ser
submetida, em primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo prematura
a apreciação pelo Poder Judiciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel.
Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/08/2016.
Todavia, excepcionalmente, o STJ entende que independentemente do estado
em que se encontre o procedimento de arbitragem, o Poder Judiciário pode
declarar a nulidade de compromisso arbitral quando o vício for detectável prima
facie, diante de clausulas compromissórias patológicas STJ. 3ª Turma. REsp
1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

12. É válida a cláusula arbitral que reserva a solução de determinadas situ-


ações para a via judicial?

r É válida a cláusula compromissória que excepcione do juízo arbitral certas


situações especiais a serem submetidas ao Poder Judiciário. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.331.100-BA, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min.
Raul Araújo, julgado em 17/12/2015 (Info 577).
Cap. 9 • DIREITO PROCESSUAL CIVIL
585

13. Em que consiste o Princípio do Juiz Natural?

r O Princípio do Juiz Natural está previsto no artigo 5º, LIII, CF, que afirma que
“ninguém será processado nem sentenciado, senão pela autoridade competente."
Por este princípio evita-se a escolha de um juiz para a causa, observando-se as
regras de competência estabelecidas em lei. Veda, também, o juízo ou tribunal
de exceção (ad hoc), garantindo segurança jurídica ao litigante.

14. O princípio do duplo grau de jurisdição possui previsão constitucional?

r Parte da doutrina, como Humberto Theodoro Jr, entende que o princípio


do duplo grau de jurisdição está previsto na Constituição, mesmo que não
expressamente. Por outra parte, a doutrina se inclina para o entendimento
de que o princípio não possui previsão constitucional, ainda que implícita
(Barbosa Moreira, Marinoni-Arenhart, Araken de Assis), isso porque, lei
infraconstitucional pode prever a não aplicação do duplo grau de jurisdição,
como por exemplo nos juizados especiais, em que o recurso é julgado pela
Turma Recursal. Por fim, uma terceira posição entende que o mencionado
princípio está previsto implicitamente na CF/88 (Dinamarco).

15. Quanto ao princípio da legalidade, discorra sobre a sua vertente pro-


cessual e material.

r O art. 8º do CPC determina que, ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz


atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e pro-
movendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. O princípio da lega-
lidade, portanto, apresenta-se como norma processual e material. Processual
na medida em que exige do julgador a aplicação do devido processo legal
e material quando determina que o caso seja decidido conforme o Direito
(precedentes, jurisprudência, Constituição, etc.).

16. Do que trata o princípio da paridade de armas?

r Nos termos do art. 7º, do CPC, é assegurada às partes paridade de tratamento


em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo
ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
MAGISTRATURA ESTADUAL
586

O princípio da paridade de armas ou da igualdade processual orienta a


necessidade de igualdade de tratamento entre as partes do processo, seja
do ponto de vista do acesso às informações, quanto da imparcialidade do
juiz no trato.
O art. 9º do CPC determina que não se proferirá decisão contra uma das
partes sem que ela seja previamente ouvida. Aponte três exceções.
Sim, o CPC consagra o princípio do contraditório, todavia, em determinadas
situações será possível proferir decisão sem a oitiva prévia da outra parte,
como nos casos de tutela provisória de urgência; nas hipóteses de tutela da
evidência previstas no art. 311, incisos II e III; e na decisão prevista no art.
701 (quando evidente o direito do autor na ação monitória).

17. Os juízes e tribunais deverão obedecer a ordem cronológica de conclu-


são ao proferir sentenças e acórdãos?

r Em sua redação originária, o art. 12 do CPC/15 previa que sim. Ocorre que,
em fevereiro de 2016, o dispositivo sofreu reforma pela lei 13.256, de modo
que hoje a redação do art. 12 dispõe que os juízes e tribunais atenderão,
preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença
ou acórdão.

18. Em que consiste a ordem cronológica de julgamento dos processos


trazida no novo CPC?

r Nos termos do art. 12 do CPC/15, os juízes e tribunais atenderão, prefe-


rencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou
acordão. Por sua vez, o art. 1.046, § 5º do CPC/15 dispõe que a primeira
lista de processos para julgamento em ordem cronológica observará a anti-
guidade da distribuição entre os já conclusos na data da entrada em vigor
deste Código. Portanto, a ordem cronológica tem por objetivo criar uma
lista ou fila de processos na conclusão, por antiguidade, que deverá ser ob-
servada quando da prolação da sentença ou acordão, evitando, por exemplo,
que causas de menor complexidade sejam escolhidas em detrimento das de
maior complexidade.

19. A observância da ordem cronológica de julgamento é um dever imposto


ao magistrado?
Cap. 9 • DIREITO PROCESSUAL CIVIL
587

r Na sua redação originária, o art. 12 do CPC previa expressamente que os


juízes e tribunais deveriam obedecer à ordem cronológica, o que implicava
num dever imposto ao juiz, inclusive sob penalidade de natureza administra-
tiva, segundo parte da doutrina. Ocorre que a lei 13.256/2016 acabou com
a discussão sobre o tema, ao alterar a redação o art. 12, passando a incluir
a expressão “preferencialmente”, de modo que a observância do dispositivo
passou a ser uma faculdade e não um dever do magistrado, que pode fun-
damentar sua decisão pela não observância da ordem.

20. Suponha que um processo tenha sido incluído na lista de processos


aptos para julgamento, observando-se a ordem cronológica. Caso uma
das partes peticione nos autos, elaborando requerimento, haverá alte-
ração da ordem?

r Nos termos do art. 12, § 4º do CPC, após a inclusão do processo na lista de


que trata o § 1º, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem
cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução
ou a conversão do julgamento em diligência.

21. Conceitue jurisdição.

r De acordo com a doutrina de Fredie Didier Jr (2017, pg. 173), “a jurisdição é


a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo imperativo
e criativo, reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente
deduzidas, em decisão suscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se
indiscutível”.

22. O que são equivalentes jurisdicionais?

r São formas não jurisdicionais de solução de conflitos, a exemplo da auto-


composição.

23. Quais são os princípios da jurisdição?

r Territorialidade, Indelegabilidade, Inafastabilidade e Juiz Natural.


MAGISTRATURA ESTADUAL
588

24. É admissível ação meramente declaratória?

r Sim, por previsão expressa do CPC, no art. 20, é admissível a ação meramente
declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

25. No âmbito da competência concorrente da autoridade brasileira, quais


as inovações trazidas pelo CPC/15?

r O art. 22 do NCPC passou a dispor que compete, ainda, à autoridade


judiciária brasileira processar e julgar as ações: I – de alimentos, quando: a)
o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos
no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou
obtenção de benefícios econômicos; II – decorrentes de relações de consumo,
quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III – em que
as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. As
inovações ficam por conta da previsão expressa para as ações de alimentos
e consumo, mesmo que o réu não seja domiciliado ou residente no Brasil,
bem como a decorrente de vontade das partes.

26. Discorra sobre o princípio da perpetuatio jurisdictionis.

r Embora a nomenclatura diga respeito à perpetuação da jurisdição, em verdade o


princípio trata de regra sobre competência, e visa evitar que a competência seja
modificada por meras mudanças fáticas ou de direito. Nesse sentido é a redação do
art. 43 do NCPC que trata do tema ao indicar que determina-se a competência
no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes
as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo
quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

27. Qual a diferença entre legitimação ordinária, legitimação extraordinária


e substituição processual, e como o novo CPC tratou do tema?

r De acordo com Fredie Didier Jr. há legitimação ordinária quando houver


correspondência entre a situação legitimante e as situações jurídicas subme-
tidas à apreciação do magistrado, ou seja, legitimado ordinário é aquele que
defende em juízo interesse próprio.
Cap. 9 • DIREITO PROCESSUAL CIVIL
589

Por sua vez, o conceito de legitimação extraordinária não possui consenso


doutrinário, alguns doutrinadores entendem que legitimação extraordinária
e substituição processual são sinônimos, sendo esta a posição adotada pelo
novo CPC (art.18) e já apontada na jurisprudência do STJ, de modo que
legitimado extraordinário é aquele que defende em nome próprio interesse
de outro sujeito de direito.

28. É admitido no nosso ordenamento jurídico a legitimação extraordinária


negocial?

r Diferente do CPC/73 que previa que a legitimação extraordinária decorria


da lei (art. 6º), o CPC/15 no art. 18, passou a dispor que ninguém poderá
pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo or-
denamento jurídico.
Assim, se o negócio jurídico faz parte do ordenamento jurídico, surgiria a
possibilidade ao menos em tese dele ser a fonte da legitimação extraordinária,
nesse sentido é a doutrina de Fredie Didier Jr.

29. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como


assistente litisconsorcial?

r Sim, por expressa previsão do parágrafo único do art. 18 do novo CPC.


30. No âmbito do processo eletrônico, é correta a decisão do magistrado
que entendendo pela incompetência absoluta extingue o feito sem re-
solução do mérito?

r Dispõe o art. 64, § 3º do CPC que caso a alegação de incompetência seja


acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente.
Desse modo, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a de-
cisão que, após o reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez
de determinar a remessa dos autos ao juízo competente, extingue o feito sem
exame do mérito, sob o argumento de impossibilidade técnica do Judiciário
em remeter os autos para o órgão julgador competente, ante as dificuldades
inerentes ao processamento eletrônico. De fato, a declaração de incompetência
absoluta do juízo tem por consequência a remessa dos autos àquele competente
para a apreciação da lide, consoante disposto na legislação processual civil.
MAGISTRATURA ESTADUAL
590

Nesse contexto, o legislador reconheceu a necessidade de serem observados os


princípios da celeridade e economia processual, sendo desnecessário o ajuiza-
mento de uma nova ação, com todos os custos a ela inerentes. Diante disso, o
argumento de impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para
o juízo competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico,
não pode ser utilizado para prejudicar o jurisdicionado. STJ. 2ª Turma. REsp
1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

31. O autor da ação tem legitimidade para alegar incompetência relativa?

r Não. Isso porque não haveria lógica em admitir que o autor tivesse legiti-
midade para suscitar a incompetência relativa, quando ele próprio escolheu
aquele juízo para a tramitação do seu feito, estando o ato, portanto, acober-
tado pela preclusão lógica.

32. O Ministério Público é legitimado para suscitar a incompetência relativa?

r Grande era a discussão na vigência do CPC/73 acerca da legitimidade do


Ministério Público para arguir a incompetência relativa. O Novo CPC pa-
cificando o entendimento passou a dispor no art. 65, parágrafo único que a
incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas
em que atuar.

33. Do ponto de vista procedimental, qual a inovação trazida no novo CPC


no âmbito do tema da arguição de incompetência?

r Como é cediço, as regras atinentes à competência absoluta são aquelas que


dizem respeito a questões de ordem pública, ao passo que na competência
relativa as regras que norteiam o instituto são voltadas para a vontade das
partes. Ocorre que, com o advento do CPC/15, ao menos do ponto de vista
procedimental o código aproximou os institutos, de modo que hoje tanto a
incompetência absoluta, quanto a relativa serão alegadas como preliminares
de contestação, nos termos do art. 64, não havendo mais previsão da exceção
de incompetência.

34. O juiz pode reconhecer de ofício a incompetência relativa na nova sis-


temática do CPC/15?
15
HUMANÍSTICA

1. Qual a razão do CNJ ter incluído as matérias de humanísticas como


obrigatórias em concursos da magistratura?

r A razão da introdução de temas ligados à Filosofia do Direito, Psicologia


Jurídica, Teoria Geral do Direito e da Política, além de Ética e Estatuto Ju-
rídico da Magistratura, como novos temas a serem objeto de cobrança nos
concursos para a carreira de magistrado, nos termos da Resolução 75/2009
do Conselho Nacional de Justiça, busca exigir dos candidatos a juízes uma
visão mais científica e humanista da Justiça e do próprio Direito, em decor-
rência do crescente caráter interdisciplinar resultante da quebra de barreiras
entre as diversas áreas do conhecimento humano. O novo milênio exige um
magistrado que não esteja apegado exclusivamente à técnica, numa postura
positivista dentro de um contexto que deixou de sê-lo. Reclama-se um juiz
que, além de dominar a técnica, tenha também uma postura ética e huma-
nista, de pessoas com sensibilidade e sensatez suficientes para solucionar as
contendas humanas, capaz de reconhecer a falência dos compromissos sociais e
a insuficiência dos parâmetros sobre os quais edificou-se a ideia de Democracia
ocidental. O magistrado não pode ater-se a unicamente ao formalismo e ao
cumprimento das leis, sem entender o caráter social, psicológico e humano
que cerca o conflito judicial e as partes. Só um magistrado com formação
humanística poderá atender a esses reclamos.

2. Conceitue sociologia do direito.

r A sociologia do direito é um ramo da sociologia geral que procura estudar as


conexões existentes entre a sociedade e a ordem jurídica. Ela estuda as relações
biunívocas estabelecidas entre o Direito e a sociedade, vale dizer, estuda a
influência que os fatores sociais exercem sobre o direito, assim como estuda
a influência que o direito exerce sobre a sociedade. Importante frisar que o
Direito é muito mais influenciado pela sociedade do que propriamente capaz
MAGISTRATURA ESTADUAL
898

de interferir no desenvolvimento das transformações sociais. Pode-se dizer,


portanto, que fatores econômicos, políticos e ideológicos a todo o momento
interferem na produção da normatividade jurídica. Por isso que os romanos
já diziam: “ubi societatis ibi jus” (Onde há sociedade, aí estará o direito).
Não há como conceber o direito como uma ordem normativa voltada para
a regulação da conduta humana fora da sociedade.

3. A sociologia do direito trata do fenômeno jurídico a partir de uma pers-


pectiva zetética ou dogmática?

r A sociologia do direito trata do fenômeno jurídico a partir de uma perspec-


tiva zetética. A abordagem zetética enfatiza-se a dimensão de efetividade,
de eficácia social ou mesmo de legitimidade, vale dizer, realização da justiça
na compreensão do direito. Ou seja, quando se estuda o fenômeno jurídico
numa perspectiva zetética, busca-se desenvolver uma reflexão crítica sobre
a norma jurídica. Por sua vez, a abordagem dogmática prioriza a dimensão
normativista do fenômeno jurídico. Quando os juristas estudam o direito
dentro de uma perspectiva dogmática, priorizam o estudo do direito em sua
dimensão, basicamente, de validade, ou seja, em sua dimensão estritamente
normativa, sem que haja espaço para uma dimensão critica. Ou seja, na
abordagem dogmática, a norma é um dogma, uma premissa inquestionável
de raciocínio.

4. Quais são as características da sociologia do direito?

r As principais características da sociologia do direito são:


a) Natureza zetética: que pode ser entendida como crítica ou especulativa;
b) Natureza empírica: a sociologia do direito é um conhecimento construído
a partir da observação da realidade social, e a partir da observação das
efetivas conexões entre direito e os fatos sociais. Ou seja, o tratamento
empírico do plano da teoria do conhecimento busca enfatizar a apreensão
da realidade concreta, fenomênica, passível de apreensão através dos cha-
mados órgãos sensoriais. A sociologia do direito não é um conhecimento
idealista, é um conhecimento que busca estabelecer as relações fáticas e
concretas entre o direito e a sociedade; e
c) Natureza causal: a sociologia do direito apresenta uma natureza causal,
e essa relação de causalidade é conhecida como lógica do “ser”, em
Cap. 15 • HUMANÍSTICA
899

contraposição à lógica do “dever-ser”. Ou seja, a causalidade estabelece


uma relação necessária entre um antecedente e um consequente.
Sintetizando, a sociologia do direito, como ramo da sociologia geral, estuda
as conexões entre o direito e a sociedade dentro de uma perspectiva zetética,
apresentando também como características importantes a sua natureza em-
pírica e a sua natureza causal.

5. Qual o conceito de solidariedade mecânica e orgânica, segundo Emile


Durkheim?

r Para Emile Durkheim, a solidariedade mecânica é característica das socieda-


des ditas “primitivas” ou “arcaicas”, comum as que vivem em agrupamentos
humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos
que a integram compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no
que se refere às crenças religiosas como em relação aos interesses materiais
necessários a subsistência do grupo. É justamente essa correspondência de
valores que assegura a coesão social.
A solidariedade orgânica, por sua vez, é a do tipo que predomina nas sociedades
ditas “modernas” ou “complexas”, do ponto de vista da maior diferenciação
individual e social. Além de não compartilharem dos mesmos valores e cren-
ças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de
cada indivíduo é mais acentuada. Nesta solidariedade, a divisão econômica
do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas diferentes
profissões e variedade das atividades industriais.

6. Segundo Karl Marx, como é estruturada a sociedade?

r Segundo Marx, a sociedade seria estruturada da seguinte forma:


a) Infraestrutura econômica; e
b) Superestrutura político-ideológicagEstado, moral, religião e Direito.
Marx acreditava que a infraestrutura econômica influenciava na superestru-
tura. O Direito compõe a superestrutura marxista. Ou seja, segundo Marx, a
depender do modo de produção e da economia, teríamos uma configuração
diferenciada do Estado, da moral, do Direito e da religião. Ex.: num modo
de produção escravagista, as superestruturas se organizariam no sentido
de justificar a escravidão. Na visão de Marx, nessa constante interferência
entre infraestrutura e superestrutura, sempre seria possível identificar um
MAGISTRATURA ESTADUAL
900

conflito entre as classes sociais. A luta entre as classes sociais seria o motor
da história, porque é ela quem conforma a infraestrutura econômica e,
consequentemente, é transposta para a superestrutura político-ideológica.
Nesse modelo, o Estado aparece como um aparelho institucional de vio-
lência organizada cujos poderes estariam a serviço dos proprietários, em
detrimento dos trabalhadores.

7. O que é o Direito na visão marxista?

r O Direito, na visão marxista, é um conjunto de normas que corporifica


os interesses da classe dominante. A ordem jurídica tutela os interesses
dos proprietários e prescreve sanções aos comportamentos que afrontem a
propriedade privada. Ex.: o Código Napoleônico, ao garantir a propriedade
privada, está a serviço da burguesia dominante. Na visão marxista, o Direito
também é um instrumento de dominação. Ou seja, o Direito, neste caso,
garante a higidez das conquistas das classes dominantes.

8. Quais os tipos de ações sociais para Max Weber?

r Max Weber afirma que é possível detectar a existência de 4 tipos de ações


sociais, quais sejam:
a) Ação tradicional: assentada no costume;
b) Ação afetiva: baseada em sentimentos e emotividade;
c) Ação racional orientada para valores: baseada em uma disposição entre
metas e expectativas antecipadas; e
d) Ação racional orientada para fins: ação definida de acordo com os ob-
jetivos esperados.
Para Weber, não apenas a tradição e a afetividade fornecem justificação para
as atividades humanas, mas, também, a concepção moderna de raciona-
lidade. O capitalismo caracteriza-se pela contínua busca de rentabilidade
através de empreendimentos científicos e racionais, sendo resultado de um
complexo processo sociocultural que só foi possível com o protestantismo,
já que este modificou valores humanos, incitando os homens a dedicarem-se
ao trabalho.

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