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O poder de revisão, uma vez criado pela Constituição e por ela regulada quanto ao modo de
se exercer, sendo um poder constituído, tem necessariamente de se compreender dentro dos
seus parâmetros; não lhe compete dispor contra as opções fundamentais do poder
constituinte originário.
3. Os limites materiais não têm legitimidade nem eficácia jurídica (Marcello Caetano)
Esta posição sustenta-se na inexistência da diferença de raiz entre poder constituinte e poder
de revisão - ambos expressão da soberania do Estado e ambos, num Estado democrático
representativo, exercidos por representantes eleitos; a inexistência de diferença entre normas
constitucionais originárias e supervenientes - umas e outras, afinal, inseridas no mesmo
sistema normativo; e a inexistência de diferença entre matérias constitucionais - todas do
mesmo valor, se constantes da mesma Constituição formal.
Esta teoria afirma a validade dos limites materiais explícitos, mas, ao mesmo tempo, entende
que as normas que os preveem, como normas de Direito positivo que são, podem ser
modificadas ou revogadas pelo legislador da revisão constitucional, ficando, assim, aberto o
caminho para, num momento ulterior, serem removidos os próprios princípios
correspondentes aos limites (tese da dupla revisão).
Jorge Miranda, pese o facto de negar a existencia de uma hierarquia entre disposições
constitucionais, considera que existem enunciados normativos de caráter transcendente
(como os direitos, liberdades e garantias) e imanente (como a soberania e unidade do Estado,
atributos de Estado de Direito, etc) que assumiam o estatuto de limites materiais de primeiro
grau, pelo que, mesmo que fossem eliminado o art. 288º, continuariam a valer como limites
implícitos.
Luís Miguel Nogueira de Brito defende a imanência de limites implícitos intransponíveis, pelo
que o processo de revisão constitucional não poderia eliminar os principios que se reportam à
identidade nuclear da Constituição (são limites implícitos, de hierarquia superior,
independentemente de estarem consagrados no 288º ou não), já que essa identidade, fixada
pelo poder constituinte, não poderia ser questionada pelo poder constituído de revisão
constitucional. Este nunca poderia operar uma transição para outra ordem constitucional, que
ocorreria se forem modificados preceitos relacionados com o núcleo caracterológico da CRP.
Carlos Blanco de Morais defende igualmente que o poder constituído tem que respeitar os
princípios do núcleo que define uma dada ordem jurídica e cuja eliminação ou
descaracterização, por via de revisão, implicaria a transição para uma nova ideia de Direito e
para uma Constituição diferente. A seleção desses princípios (que podem não coincidir
totalmente com os que constam do 288º) deve assumir um caráter restringente, utilizando o
critério de essencialidade e absoluta indispensabilidade para a conservação da fisionomia
singular da ordem constitucional vigente. Concorda com a tese de Jorge Miranda de que a
forma para conhecer esses princípios será “perscrutar o sistema constitucional como um
todo”.