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DIREITO CONSTITUCIONAL

Controle de inferiores devem estar em consonância com a


Constituição.
Constitucionalidade A exigência de uma maior estabilidade
constitucional é refletida então no conceito de
Dirley da Cunha Júnior: “O controle de
rigidez constitucional, que sujeita a alteração
constitucionalidade, enquanto garantia de
do texto constitucional a um procedimento
tutela da supremacia da constituição, é uma
mais complexo que do que o estabelecido para
atividade de fiscalização da validade e
a criação ou modificação das demais espécies
conformidade das leis e atos do poder público
de normas jurídicas.
à vista de uma Constituição Rígida,
desenvolvida por um ou vários órgãos E como visto, quando conceituamos o
constitucionalmente designados”. controle de constitucionalidade, este é um
mecanismo de garantia, de tutela da
Conceito supremacia e da rigidez constitucional,
visando impedir que o Estado pretendido pelo
“Aferir a compatibilidade vertical das normas
constituinte seja desconfigurado ou que dele
infraconstitucionais primárias, inclusive
emendas, perante a Constituição e tratados a se afaste.
ela equivalentes (bloco de A supremacia da Constituição impõe então
constitucionalidade) invalidando-as no uma compatibilidade vertical das normas do
controle concentrado (que é ex tunc1 e erga ordenamento jurídico, fiscalizada por órgãos
omnes2), afastando-lhe a incidência no encarregados de impedir a criação ou
controle difuso, ou mesmo impedindo seu manutenção de atos normativos em desacordo
nascedouro, no controle preventivo.” Samuel com o seu fundamento de validade.
Fontenelles.
Parâmetros de
• Controle concentrado há uma análise
objetiva realizada apenas pelo STF. Inconstitucionalidade –
• Controle difuso há uma análise formais e materiais
subjetiva realizada por juízes em Pode-se dizer que a constituição estabelece
qualquer instância, sendo necessário parâmetros materiais (de conteúdo) e formais
um caso concreto. (de produção) para as normas inferiores, as
quais, só serão válidas quando produzidas em
Supremacia da Constituição consonância com a forma e/ou conteúdo
A Constituição Federal é o ponto de partida de constitucionalmente determinados.
todo ordenamento jurídico. Logo, todo O estudo da inconstitucionalidade pode ser
arcabouço jurídico deve com ela se visto sob dois prismas:
conformar.
O procedimento de feitura da norma
Toda norma jurídica, tira seu fundamento de previsto na Constituição (formal) – o rito, o
validade de outra superior e nos ordenamentos procedimento do devido processo legislativo.
modernos este, no ápice da pirâmide
normativa, é a Constituição. Assim, as normas

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Ex tunc – desde o início. Ex nunc – desde então. Contra todos (vale para todos)

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O teor da Constituição (material) - a norma
editada possui conteúdo incompatível com os
ditames constitucionais.
Essa análise de compatibilidade deve ser feita
com cautela, em razão da necessidade de
respeito à separação dos poderes. Os poderes
instituídos retiram suas competências da
própria Constituição, daí presumir-se que sua
atuação seja compatível com ela. Além das normas primárias, as emendas
constitucionais também podem sofrer controle
Assim, toda norma produzida tem uma de constitucionalidade.
presunção relativa de constitucionalidade e
gozam de imperatividade, até que se declare o *O texto original de 1988 da Constituição não
contrário. sofre controle de constitucionalidade em
nenhuma hipótese (neste caso não há
Hierarquia das Normas depende).
O critério para aferir a hierarquia de uma Logo, emendas constitucionais, leis
norma é o seu fundamento de validade, quem complementares, leis ordinárias, leis
dita seu conteúdo e forma. delegadas, medidas provisórias, decretos
legislativos e resoluções são as únicas normas
Pelo princípio da unidade da Constituição,
que podem ser dispostas ao controle de
entende-se que entre normas constitucionais
constitucionalidade.
não há hierarquia, sejam elas originárias ou
derivadas (decorrentes de emenda à Transição entre ordens
Constituição).
constitucionais
Em nosso ordenamento jurídico existe dois
tipos de normas, a título de hierarquia, são Quando há a promulgação de uma nova
elas, primárias e secundárias. Constituição Federal, em via de regra, a
Constituição anterior é revogada inteiramente
Normas primárias são as que dialogam e as normas infraconstitucionais são
diretamente com a Constituição Federal, ou recepcionadas pelo novo ordenamento
seja, leis que são criadas por determinação jurídico estabelecido pela Constituição.
constitucional por estarem previstas a criação
na norma constitucional. A título de exemplo, A recepção, trata-se do recebimento de
legislação tributária federal. normas infraconstitucionais anteriormente
existentes, desde que estas sejam
Normas secundárias são as derivadas de leis materialmente compatíveis com a
infralegais, ou seja, as que regula direitos que Constituição. (neste caso a forma de produção
são postulados em normas primárias. A título dessas leis são irrelevantes)
de exemplo, regulamento de como procederá
o pagamento de imposto. Nestes casos, as normas anteriores a nova
constituição, não serão objeto de análise de
Elencado isso, deve-se destacar que normas constitucionalidade, mas sim de recepção ou
secundárias não podem ser objeto de análise não-recepção.
de constitucionalidade, pois essas não
derivam diretamente da constituição, mas
podem passar por controle de legalidade.

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Da mesma forma, com o advento de uma 1. São atos inexistentes, já que uma
emenda à constituição, a legislação norma somente existe quando pertence
infraconstitucional que com ela seja a um ordenamento jurídico, neste caso
incompatível, será tida como não- é considerado que a norma
recepcionada. inconstitucional, por ser contrária a
constituição, ela nunca entrou no meio
Ex.:
jurídico.
1988 - Constituição.
2. São atos anuláveis, ou seja, são
2000 - Lei A, plenamente constitucional. validos e produzem eficácia até ser
decretado inconstitucionalidade.
2005 - Emenda constitucional B, que
conflita com a Lei A. 3. São atos nulos, sendo a decisão
judicial meramente declaratória, ou
2005 - Lei A não foi recepcionada a partir seja, é declarado que a norma é
da data de vigência da emenda B. inconstitucional desde sua origem por
Com isso, as normas anteriores a promulgação não ser compatível com a
da constituição não podem ser objeto de Constituição.
controle de constitucionalidade, já que, se
materialmente for incompatível, serão não- Formas de
recepcionadas. Inconstitucionalidade
Bloco de Constitucionalidade Quanto ao tipo de conduta:

Louis Favoreu cunhou a expressão de bloco de Inconstitucionalidade por ação decorre da


constitucionalidade para designar tudo que criação de normas contrárias a Constituição.
pode ser invocado para invalidar uma norma.
Inconstitucionalidade por omissão ocorre
Bloco de constitucionalidade é então a junção quando o Legislativo ou Executivo não realiza
do: ações previstas no texto Constitucionais. Ex.:
o legislativo não cria a lei de greve dos
• Corpo permanente da Constituição; servidores públicos, conforme prevê a
• Atos das Disposições Constitucionais constituição.
Transitórias (ADCT); Quanto à norma Constitucional
• Tratados internacionais de matéria ofendida:
sobre os Direitos Humanos que sejam
Inconst. Formal/Nomodinâmica - ocorre
aprovados conforme o rito de
quando não é seguido o rito de criação de atos
elaboração de emenda constitucional.
normativos previstos na constituição.
Ex.: Se a Constituição prevê a criação da Lei
A pelo poder Executivo e o Legislativo cria a
Natureza da Norma Lei A, está Lei A feita pelo Legislativo é
formalmente inconstitucional.
Inconstitucional
Inconst. Material - ocorre quando o conteúdo
Três são os posicionamentos a respeito: de atos normativos contraria a Constituição.

Quanto à extensão:

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Inconst. Total – ocorre quando ato normativo
afronta inteiramente a Constituição.
Inconst. Parcial – ocorre quando somente
parte do texto da lei afronta a Constituição.

Formas de Controle de
Constitucional
Quanto ao momento: Controle Concentrado/Abstrato/Objetivo é
voltado precipuamente a assegurar a
O controle pode ser preventivo ou supremacia da Constituição. Trata-se de
repressivo, levando em conta a data da processo constitucional de índole objetiva,
publicação da lei ou ato normativo. sem partes, formais, passível de ser instaurado
Preventivo – quando o controle opera independentemente de um interesse subjetivo.
antes da promulgação da lei, ou seja, quando Quanto à competência:
ainda está em discussão.
De acordo com o órgão jurisdicional, pode ser
Repressivo – quando o controle opera por meio do controle difuso ou concentrado.
após a promulgação da lei.

Quanto à natureza do órgão:


O controle político é realizado por órgãos
sem poder jurisdicional, criados Controle Jurisdicional Difuso pode ser
especificamente para este fim. exercido por qualquer órgão do Poder
Judiciário.
O controle jurisdicional é o exercido por
órgão do Poder Judiciário, Controle Jurisdicional Concentrado é
preponderantemente. atribuído exclusivamente a determinado
Tribunal, STF.
O controle misto ocorre quando os dois são
adotados simultaneamente, a depender do tipo Controle Jurisdicional Difuso
de lei ou ato normativo. (para lei local um e
para lei nacional outro) Esta forma de controle possui a finalidade de
defender direitos subjetivo podendo ser
Quanto à finalidade: realizado por qualquer juiz ou Tribunal dentro
do âmbito de sua competência.
Controle
Difuso/Concreto/Subjetivo/Incidental a Aqui a inconstitucionalidade é tratada como
pretensão é deduzida em juízo através de uma questão incidental analisada na
processo constitucional subjetivo, exercido fundamentação da decisão, podendo neste
com a finalidade principal de solucionar caso, a inconstitucionalidade ser reconhecida,
controvérsia envolvendo direitos subjetivos. inclusive de ofício, ou seja, sem provocação
das partes. Isso resulta no afastamento da
norma inconstitucional no caso concreto que
está em análise.

Efeitos da decisão no controle difuso

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• Eficácia “interpartes” – não atinge • Processo AA chega no tribunal e é
terceiros que não participam da direcionado ao órgão fracionário
relação processual. competente (normalmente com 5 ou 6
juízes).
• Efeito “ex tunc” – é retroativo, por
prevalecer o entendimento que o ato • Estes analisam o processo AA,
inconstitucional é um ato nulo (nasceu inclusive se a norma questionada é o
errado). não inconstitucional.
o Se estes decidirem que a
norma não é inconstitucional,
resolvem ali mesmo e
sentenciam.
o Se estes decidirem que a
norma é inconstitucional,
lavrarão acórdão e
encaminharão para o pleno
Cláusula de Reserva de Plenário (todos os juízes do tribunal
terão que discutir sobre isso.).
Art. 97 da CF/88. Somente pelo voto da maioria
absoluta de seus membros ou dos membros do o O pleno se reunirá e analisará
respectivo órgão especial poderão os tribunais apenas se a norma questionada
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público.
é ou não inconstitucional.

A cláusula de reserva de plenário deve ser o Depois da decisão do pleno, é


respeitada tanto no controle difuso quanto no encaminhado o processo AA
concentrado. para o órgão fracionário e este
sentencia, utilizando o
Se o órgão fracionário (uma das seções do entendimento do pleno, o caso
tribunal) entender pela inconstitucionalidade, concreto.
não julgará de imediato o caso. Lavrará
acordão firmando sua posição neste sentido e ▪ Somente cabe recurso a
remeterá ao pleno (Totalidade do tribunal). terceira sentença
prolatada pelo órgão
O pleno tratará somente da questão da fracionário.
inconstitucionalidade e poderão pedir para
manifestarem-se neste momento os
responsáveis pela edição da norma
questionada, os legitimados para ADI e os
interessados.
Ademais, é dispensada a observância da
O pleno lavrará acórdão firmando sua posição reserva de plenário:
quanto ao tema e devolverá os autos ao órgão
• Declarar a constitucionalidade no ato;
fracionário que julgará o caso concreto,
aplicando a posição do pleno sobre a • Já houver pronunciamento sobre a
inconstitucionalidade, e é deste terceiro questão do plenário do próprio
acórdão que cabe recurso. tribunal ou pelo STF;
EXEMPLIFICANDO:

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• Para decisão de juízes e juizados
especiais.
• Normas pré-constitucionais
(recepção).
• Interpretação conforme a
Constituição, pois aí a
inconstitucionalidade estaria na
interpretação incompatível com a
Constituição, e não na lei passível de
ser interpretada em harmonia com a
Constituição.

Suspensão da Execução de Lei pelo


Senado
No controle difuso as decisões do STF têm
efeito interpartes. Porém, o STF deve
comunicar o Senado, sobre a decisão de
inconstitucionalidade, e este tem a faculdade,
nos termos do art. 52, inc. X da CF/88 de
editar resolução para suspender a execução
da norma declarada inconstitucional pelo
STF, o que alcançaria toda a sociedade, com
eficácia “erga omnes” e efeito “ex nunc”.

É um mecanismo de conversão desses efeitos


interpartes em erga omnes.

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