Você está na página 1de 33

Direito Constitucional

Prof. Mateus Silveira

1
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ...................................................... 3


Supremacia da Constituição ............................................................................ 3
Declaração de Inconstitucionalidade ................................................................ 6
Inconstitucionalidade formal ............................................................................. 7
Inconstitucionalidade material .......................................................................... 8
Controle difuso ................................................................................................. 9
Controle concentrado ..................................................................................... 11
Ação direta de inconstitucionalidade .............................................................. 13
Ação declaratória de constitucionalidade ....................................................... 22
Ação direta de inconstitucionalidade por omissão ......................................... 24
Arguição de descumprimento de preceito fundamental ................................. 26
QUESTÕES ..................................................................................................... 29

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
Concursos Públicos e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso,
recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.

2
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Prof. Mateus Silveira


@professormateussilveira

A ideia de controle da constitucionalidade está intimamente ligada à SUPREMACIA da


Constituição sobre todas as leis e normas jurídicas e, ainda, à sua RIGIDEZ.
Realizar o controle de constitucionalidade das leis significa verificar a adequação
(compatibilidade) de uma lei ou de um ato normativo com a Constituição, conferindo seus
requisitos formais e materiais. A efetivação do controle desenlaça-se na conclusão de
constitucionalidade ou de inconstitucionalidade submetido à comparação como texto
constitucional.
Caso a percepção final seja pelo antagonismo e contrariedade do ato normativo inferior
frente aos vetores constitucionais, estaremos diante da inconstitucionalidade, que poderá ser
classificada segundo alguns critérios que serão analisados.

Supremacia da Constituição

Segundo as classificações das constituições, a nossa é denominada RÍGIDA, pois


estabelece um processo especial, bem mais difícil do que aquele previsto para a alteração das
demais leis. Assim, dessa rigidez emana, como primordial consequência, o princípio da
supremacia da constituição. Assim, na medida em que a Constituição está no vértice do sistema
jurídico do país, todos os poderes estatais somente são legítimos na medida em que compatíveis
com ela.

* Para todos verem: esquema sobre o princípio da supremacia da Constituição.

Supremacia material Supremacia formal

• Deriva do fato admitido de que a • Apoia-se na ideia de rigidez constitucional.


Constituição organiza e distribui as diferentes Deriva, por sua vez, da forma que lhe foi
formas de competências, hierarquizando-as. dada a lei suprema de um Estado.

3
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

As espécies ou tipos de inconstitucionalidades a partir dos Poderes Constituintes são:

* Para todos verem: esquema sobre espécies ou tipos de inconstitucionalidades a partir dos Poderes Constituintes.

Originária Derivada

• O STF não admite. Corresponderia afirmar • Emendas: o poder de emendar a CF


que a própria Constituição (originária de encontra limites estabelecidos pela própria
1988), em si mesma, seria inconstitucional. CF. Portanto, as emendas constitucionais
podem ser declaradas Inconstitucionais.
• Constituições Estaduais: a possibilidade
de os Estados possuírem Constituições
Estaduais decorre da CF. Portanto, é
possível declarar dispositivo de Const.
Estadual inconstitucional.

O Controle da Constitucionalidade poderá ocorrer em diversos momentos, bem como,


poderá ser realizado por meios extrajudiciais e/ou judiciais.
De acordo com o tempo, podermos ter os seguintes controles:

1. Preventivo: a função do controle preventivo é impedir que uma norma inconstitucional


ingresse no ordenamento jurídico. Assim, esse controle acontece em dois momentos
distintos e fora da via judiciária:
a) COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA: as duas casas do Congresso Nacional
têm este órgão, e a função é analisar os aspectos constitucionais do projeto de lei ou
de emenda constitucional no seu aspecto formal e material.
b) VETO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA: poderá vetar projeto por entendê-lo
inconstitucional, mas em relação a emenda não há participação do executivo. A
exceção do controle preventivo será no caso de projeto que pretenda abolir cláusulas
pétreas, quando nesta hipótese, poderá haver o controle preventivo por parte do poder
judiciário, mediante a interposição de mandado de segurança.
2. Repressivo: Este será exercido por via jurisdicional, ante o papel de guardião da
Constituição. Essa espécie de controle se dará pela via difusa ou pela via do controle
concentrado. Duas exceções em que o controle repressivo poderá ser exercido pela via
do legislativo:
a) Art. 49, V, que trata da competência do Congresso Nacional sustar os atos normativos
do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
legislativa.
b) Outra hipótese, é a medida provisória que poderá ser editada com força de lei, em
caso de relevância, mas deve ser submetida ao Congresso Nacional.

Em relação às espécies de vício, pode-se dizer que a inconstitucionalidade pode se dar:

4
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

* Para todos verem: esquema sobre as espécies de vícios/inconstitucionalidades.

Subjetivos: relacionam-se com a iniciativa


do processo legislativo (conduta dos
agentes responsáveis pela propositura –
art. 61, § 1º, II, “c”)
Formais (art. 5º,
II e 59 a 69)
Objetivos: relacionados com as demais
fases do processo legislativo, que será
determinado pela CF para cada espécie
de ato normativo

Pode ser decorrente de


vício de
constitucionalidade
Materiais: voltados à ação do
expresso;
legislador, bem como
relacionados aos seus valores
(interesses e direitos eleitos pela
sociedade) e os aspectos
Espécies de
relativos à distribuição de poderes Excesso de poder
vícios
e estrutura do Estado legislativo, violador do
Democrático de Direito. princípio da
proporcionalidade/
razoabilidade.

Comissão: edição de um ato


estatal que não se coaduna com a
Carta Magna

Por omissão: o agente


responsável pela integração
concretizadora dos interesses,
valores e direitos inscritos nas
normas constitucionais fica inerte

5
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Declaração de Inconstitucionalidade

A declaração de inconstitucionalidade pode ser:


a) Total: declaração de inconstitucionalidade de todo o diploma legal questionado.
b) Parcial: a declaração de nulidade parcial, hipótese em que somente os dispositivos
inconstitucionais serão declarados nulos e não a totalidade da lei.
c) Ainda: interpretação conforme a Constituição. Interpretação conforme a Constituição:
Destina-se à preservação da validade de determinadas normas, suspeitas de
inconstitucionalidades, assim como à atribuição de sentido às normas infraconstitucionais.
Configurando-se em uma técnica de interpretação e um mecanismo de controle de
constitucionalidade.

Em geral, o efeito da declaração de inconstitucionalidade será ex tunc.


POSSIBILIDADE DE MODULAÇÃO TEMPORAL DE EFEITOS – ASPECTO
TEMPORAL, O ARTIGO 27 DA LEI DE N. 9.868/99, MAS STF JÁ DECIDIU QUE É APLICADO
AO CONTROLE DIFUSO:
O Supremo Tribunal Federal terá a opção de declarar a inconstitucionalidade apenas a
partir do trânsito em julgado da decisão (declaração de Inconstitucionalidade ex nunc). Poderá,
ainda, declarar a inconstitucionalidade, com a suspensão dos efeitos por algum tempo a ser
fixado na sentença (declaração de inconstitucionalidade com efeito pro futuro). Nessa hipótese,
por motivo de segurança jurídica ou de interesse social, a lei continuará sendo aplicada por um
determinado prazo, a ser determinado pelo próprio Tribunal.
A regra geral é quanto ao controle difuso e concentrado a eficácia ex tunc do proferimento
acerca da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei, contudo, em caso de existir razões
de segurança jurídica e relevante interesse público, poder-se-á, então, aplicar a modulação
temporal dos efeitos (art.27), para atribuir a decisão os efeitos anteriormente citados. Também,
ressalta-se, que é posição doutrinária consolidada a aplicação em se tratando de controle difuso
de constitucionalidade (o que significa sua possibilidade de aplicação no caso concreto).

Ao analisarmos a conduta praticada pelo poder público temos a inconstitucionalidade por


Ação e por Omissão.

IMPORTANTE: A modulação temporal apesar de estar prevista na Lei 9.868/99 é aplicada ao


controle difuso segundo jurisprudência do STF.

a) Ação: ocorre quando o desrespeito à Constituição resulta de um ato positivo que não se
compatibiliza com os preceitos constitucionais. Por isso, também é chamada de
inconstitucionalidade positiva.
b) Omissão:
▪ Total (absoluta): corresponde à ausência total de normas regulamentadoras.
▪ Parcial (relativa): ocorre na hipótese de cumprimento imperfeito ou insatisfatório do
dever de legislar.

6
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Inconstitucionalidade formal

Também chamada de nomodinâmica, quando o vício que afeta o ato inconstitucional


decorre da inobservância de algum rito do processo legislativo constitucionalmente fixado ou da
incompetência do órgão que o editou. Pode ser dividida em:

Para todos verem: esquema sobre inconstitucionalidade formal.

relativamente ao processo
Objetiva
legislativo;

Inconstitucionalidade relativamente às iniciativas


Subjetiva
formal constitucionais;

relativa à divisão constitucional de


Orgânica
competências.

Podemos estabelecer uma Inconstitucionalidade formal por violação de pressuposto


objetivo do ato normativo, que ocorre quando o vício atinge pressuposto obrigatório para
realização do ato como por exemplo: editar MP sem relevância e urgência; criar estados e
municípios sem respeitar as regras constitucionais do Art. 18, § 3º e § 4º da CF.

1.3.1.1. ADI Nº 5017 e EC Nº 73/13 – Discussão de Inconstitucionalidade Formal Subjetiva

O ponto de discussão entre os setores do Poder Judiciário e Legislativo, a Emenda


Constitucional nº. 73 de 2013 ocasionou - normativamente - a expansão organizacional do
judiciário federal brasileiro.
Em suma, sua inovação consiste na criação de 4 (quatro) novos Tribunais Regionais
Federais: Sexta Região - TRF 6 (com jurisdição no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do
Sul, e sede em Curitiba-PR); Sétima Região - TRF 7 (com jurisdição em Minas Gerais, e sede
em Belo Horizonte-MG); Oitava Região - TRF 8 (com jurisdição na Bahia e Sergipe, e sede em
Salvador-BA); e Nona Região - TRF 9 (com jurisdição no Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre,
com sede em Manaus-AM).
Todavia, a supramencionada emenda teve sua constitucionalidade questionada na Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5017, ajuizada no Supremo Tribunal Federal (STF).
Tal demanda foi proposta pela Associação Nacional dos Procuradores Federais (ANPAF),
entidade de classe de âmbito nacional que extrai sua legitimidade do art. 103, inciso IX, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), e do art. 2º, inciso IX, da Lei
9.868 de 1999.

7
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

O ponto argumentativo de relevo reside na tese inerente a violação (incompatibilidade


vertical) ao artigo 96, inciso II, alíneas 'c' e 'd' da CF/88, que o assegura ao Supremo Tribunal
Federal (e tribunais superiores) a competência privativa de iniciativa legislativa dirigida a criação
ou extinção de tribunais inferiores, e - outrossim - alteração da organização e da divisão da
Justiça.
Portanto, "in casu", estaríamos diante de um vício de inconstitucionalidade formal
subjetivo (ou, na dicção de Luis Roberto Barroso, vício formal orgânico), já que desrespeitou-se
a forma (ou modo) fixada na órbita constitucional quanto ao "sujeito" ou "órgão" competente para
a iniciativa da Proposta de Emenda Constitucional (PEC).
Por tal razão, a ANPAF pleiteou a concessão de medida liminar (com base no art. 10 da
Lei 9.868 de 1999) para suspender os efeitos a EC nº. 73 de 2013: pedido que foi deferido em
17/07/2013, por decisão monocrática do Presidente do STF, Ministro Joaquim Barbosa.
Entretanto, tal "decisum" deverá (posteriormente) ser referendado em plenário, pela
maioria absoluta dos ministros (conforme interpretação dos artigos 10 e 22 da Lei nº 9.868 de
1999). Tal assertiva se dá pelo dado de que a liminar monocraticamente concedida tem
legitimidade temporária ("pro tempore"), fundando-se no artigo 13, inciso VIII, do Regimento
Interno do STF: dispositivo que atribui ao presidente da corte a competência para decidir sobre
questões urgentes no período de recesso ou férias (como ocorreu no caso).
Importante o registro de que a suspensão concedida "in limine" possui eficácia geral ("erga
omnes"), produzindo (via de regra) efeitos temporais ultrativos ("ex nunc"), de modo a ensejar
vinculação apenas da data da publicação da decisão em diante.
No mérito, a ADI 5017 (que tem como relator o Ministro Luiz Fux) objetiva que o STF
declare a inconstitucionalidade total da EC nº. 73 de 2.013, visto que a mesma apresenta integral
incompatibilidade com o artigo artigo 96, inciso II, alíneas 'c' e 'd' da CF/88.

Inconstitucionalidade material

Nesta inconstitucionalidade o conteúdo da norma é contrário ao conteúdo constitucional.


Também intitulada de nomoestática, deriva daquelas situações em que há incongruência entre
o previsto na lei e aquilo que dispõe o texto constitucional. Ela será analisada em dois sentidos:

Para todos verem: esquema sobre inconstitucionalidade material.

São as leis editadas antes da


vigência da CF/88. Quando houver
Direito pré-
colisão com a atual, serão
constitucional
consideradas normas REVOGADAS
(não recepcionadas).
Inconstitucionalidade
material

São as leis editadas já na vigência da


Direito pós-
CF/88. Quando houver colisão, será o
constitucional
caso de INCONSTITUCIONALIDADE.

8
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Controle difuso

O controle difuso é caracterizado por permitir que todo e qualquer juiz ou tribunal possa
realizar no caso concreto a análise sobre a compatibilidade da norma infraconstitucional com a
Constituição Federal.
Não é objeto central da lide, logo, a inconstitucionalidade é o aspecto secundário da
demanda. Nesse sentido, a alegação de (in)constitucionalidade da norma se daria de forma
incidental ou prejudicial, pois a centralidade da demanda é o que ensejou o pedido no caso
concreto (seja como inicial, como contestação, como recurso, etc), sendo a discussão sobre a
declaração de (in) constitucionalidade apenas uma elemento para apreciação do caso concreto
– fundamental para a decisão da lide.
Em havendo declaração de inconstitucionalidade da norma a ser aplicada no caso
concreto pela via difusa, a norma contestada não será excluída do sistema jurídico, surtindo seus
efeitos apenas as partes envolvidas na lide em questão.

* Para todos verem: esquema sobre os efeitos do controle difuso.

A decisão que afasta o ato inconstitucional não


beneficia a quem não for parte da demanda em
Inter partes que se reconhecer a inconstitucionalidade.
OBS: quando for no RECURSO
EXTRAORDINÁRIO SERÁ ERGA OMNES!

Efeitos do
controle difuso

Da declaração de inconstitucionalidade extrai-


se efeito retroativo, ou seja, anula todos os
Ex tunc atos regidos pela lei considerada inválida, vez
que incompatibilidade com a Constituição.
OBS: Art. 27 da Lei nº 9.868/99

• Processo de abstrativização
O processo de abstrativização do controle difuso, à luz da nova orientação consolidada
no sistema de Corte Constitucional, evidencia uma mudança paradigmática, abrangente e efetiva
no que tange a atuação jurisdicional e legislativa, corolário lógico do processo de uniformização
e objetivação da Ordem normativa Constitucional. A mudança da acepção constitucional implica,
sobretudo, na redefinição do papel constitucional do STF em sede de controle difuso de
constitucionalidade, assumindo feição de estabilizador definitivo da Ordem Constitucional
Brasileira.

9
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

• Papel recursal do STF


O art. 103 da CF dispõe que compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
guarda da Constituição, cabendo-lhe (...) julgar, mediante recurso extraordinário, as causas
decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida
▪ contrariar dispositivo desta Constituição;
▪ declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
▪ julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;
▪ julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

O STF não funciona nesse sentido, como uma terceira ou quarta instância eventualmente,
antes pelo contrário, exerce o papel de guarda da Constituição, manifestando-se sorrateiramente
sobre ela. Motivo pelo qual, não se pode dizer que os recursos extraordinários são meios de
reforma e conserto dos julgados pelas instâncias inferiores, em verdade, sua preocupação deve
ser com questões objetivas, extraídas da subjetividade da causa.

A repercussão geral é um dos requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário que


tem por objetivo restringir o acesso ao STF, restringindo-o analisar casos de flagrante cunho
constitucional e que tenham a relevância econômica, jurídica e social.

Art. 102 da CF § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a


repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a
fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros.

Mas qual seria o objetivo?


a) Diminuição dos números de recurso extraordinário;
b) Ampliar seus efeitos em nome da concretização constitucional;
c) Reservar a atuação da Corte apenas para os casos detenham relevância para a ordem
constitucional.

As críticas da Repercussão geral: estabelecem que não há critérios e nem controle do


que é declarado como repercussão geral. Criou-se uma chamada jurisprudência defensiva- o
STF seleciona as matérias que ele quer apreciar.

Recente mudança de posicionamento do STF a partir do julgamento da ADI 3406/RJ e


ADI 3470/RJ, o Supremo entendeu que os efeitos das decisões do pleno do STF nos recursos
extraordinários serão erga omnes, ou seja, uma verdadeira abstrativização do controle difuso de
constitucionalidade!
PAPEL DO SENADO - NOVA INTERPRETAÇÃO DO ART 52, X: A suspensão da
execução pelo Senado Federal do ato declarado inconstitucional pela Excelsa Corte foi a forma
definida pelo constituinte para emprestar eficácia erga omnes às decisões definitivas sobre
inconstitucionalidade nos recursos extraordinários. Contudo, o STF em decisão recente, mudou
seu posicionamento para firmar que a suspensão por parte do Senado tem função de publicizar
a decisão do STF e está vinculada a ela, ou seja, assumiu a abstrativização do controle difuso
para emprestar efeito erga omnes as decisões emanadas pelo STF nos recursos extraordinários!

10
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Resumidamente: com a mudança de postura, se o Plenário do STF decidir a


constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo em controle difuso terá
efeito erga omnes, ocorrendo o que podemos chamar de mutação constitucional (uma vez que
no controle concentrado já é erga omnes os efeitos). Informativo 886- STF. Plenário DO STF ADI
3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017

Cláusula de reserva de plenário


Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do
respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo do Poder Público.
"(...) A exigência, conhecida como cláusula de reserva de plenário, deve ser observada
não apenas no controle difuso, mas também no concentrado, sendo que neste a Lei n.
9.868/99 exigiu o quórum de maioria absoluta também para a hipótese de declaração de
constitucionalidade. (...) A observância da cláusula da reserva de plenário não é
necessária na hipótese de reconhecimento da constitucionalidade (princípio da presunção
de constitucionalidade das leis), inclusive em se tratando de interpretação conforme, e não
se aplica às decisões de juízes singulares, das turmas recursais dos juizados especiais,
nem ao caso de não-recepção de normas anteriores à Constituição. A inobservância desta
cláusula, salvo no caso das exceções supramencionadas, acarreta a nulidade absoluta da
decisão proferida pelo órgão fracionário."

Controle concentrado

Essa modalidade de controle de constitucionalidade, desenhada por Hans Kelsem, é


realizada em abstrato e pela “via principal”, isto é, a questão de constitucionalidade configura o
pedido principal da ação, sendo que a Corte Constitucional analisa, em tese, se há (ou não)
contrariedade à Constituição.
O controle concentrado abstrato surgiu no Brasil na Constituição democrática de 1946,
que manteve o controle difuso e instituiu a representação de inconstitucionalidade, de
legitimidade do PGR, por meio da EC nº 16, de 1965.
Com o advento da CF/88, o controle concentrado foi fortalecido e aperfeiçoado. De início,
foi aumentado o rol de ações, uma vez que antes só contávamos com a representação de
inconstitucionalidade (que com a nova Constituição foi denominada Ação direta de
inconstitucionalidade – ADI), a partir de 1988 foram criadas a ADPF e a ADO. A ADC surgiu
posteriormente, no ano de 1993 com a EC nº 3/1993.
Na mesma senda, a CF ampliou o leque dos legitimados à propositura das ações do
controle concentrado como se pode verificar pelo art. 103 da CF/88.
1) O controle concentrado de constitucionalidade defere atribuição para julgamento das
questões constitucionais a um órgão jurisdicional superior ou a uma Corte. Por meio desse
controle, procura-se obter a declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo
em tese, independentemente da existência de um caso concreto, visando a obtenção da
invalidação da lei.
2) O controle concentrado caracteriza-se pela competência exclusiva do STF em apreciar a
questão constitucional.
3) Tem por objetivo expelir do ordenamento jurídico a lei ou ato normativo inconstitucionais.

11
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

4) É realizado em abstrato, sem que haja um caso concreto sob análise (ADI e ADC).
Contudo, importa uma análise mais detalhada a questão da ADPF, pois trata-se de ato do
poder público, abrangendo tanto ato normativo quanto ato concreto.
5) Natureza objetiva - o processo não tem partes, e, exatamente por isso, não está sujeito a
princípios constitucionais como ampla defesa e contraditório.
6) Seus efeitos são peculiares, quais sejam: eficácia erga omnes, efeito ex tunc e vinculantes
das decisões proferidas pelo STF, ou seja, são contra todos. A decisão ainda vincula os
órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública em todas as esferas, conforme
parágrafo 2º, do artigo 102, da Constituição Federal.

* Para todos verem: esquema sobre as peculiaridades do controle concentrado.

Autores legitimados
Foro competente é o estão previstos Não existe lide no
STF (ORIGINÁRIA); taxativamente na caso concreto;
Constituição;

Não se admite
Não se admite
desistência, pois
intervenção de Efeito erga omnes;
vigora o princípio da
terceiros;
indisponibilidade.

Atualmente o controle concentrado abstrato de constitucionalidade no Brasil é realizado


exclusivamente pelo STF, com o objetivo de tutelar a CF, possuindo os seguintes instrumentos:
▪ a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI - art. 102, I, “a”, CF/88);
▪ a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC - art. 102, I, “a”, CF/88);
▪ a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO – art. 103, § 2º, CF/88);
▪ a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF – art. 102, § 1º, CF/88);
▪ ADI Interventiva – (Art. 36, III c/c Art. 34, VII e Lei nº 12.562/11).

12
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Ação direta de inconstitucionalidade

É a primeira ação de controle concentrado abstrato instituída no direito brasileiro, a ADI


visa tutelar a ordem constitucional objetiva por meio da instauração, no STF, de um processo de
fiscalização abstrata.

Particularidades interessantes da ADI:

• Amicus Curie x Intervenção de Terceiros:


Lei nº 9.868/99, Art. 7º: Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação
direta de inconstitucionalidade. § 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a
representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo
fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades. OBS: o terceiro é
aquele que tem interesse direto na causa e aparece no processo brasileiro em diferentes
modalidades.

• Inconstitucionalidade por ‘arrastamento’:


Conhecida também por inconstitucionalidade sequencial ou por atração, nos casos em
que a inconstitucionalidade de outro dispositivo legal com estrita relação de dependência com o
preceito impugnado é declarado como inconstitucional, sem que haja requerimento nesse
sentido na petição inicial.

• Liminares:
A função da medida de urgência, a liminar, em uma ação direta de inconstitucionalidade
não tem por finalidade assegurar um determinado direito subjetivo à efetividade do processo ou
à antecipação dos efeitos da tutela, mas sim, a suspensão DA EFICÁCIA DA LEI; IMPORTANTE:
As liminares atribuem-se efeito ex nunc.

• Efeitos dúplices ou ambivalentes:


Art. 24 da Lei nº 9.868/99: Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a
ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade,
julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória. O caráter
dúplice ou ambivalente dessas modalidades de controle abstrato restou inequivocamente
demonstrado neste dispositivo. Convém notar que a jurisprudência do STF já acenava com essa
possibilidade.

13
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Legitimados

A legitimidade Ativa na ADI está no art. 103 da CF.


Os legitimados dos incisos I a VII possuem capacidade postulatória, o que significa que
estão aptos a ajuizar a ação no STF independentemente de se fazerem representar por
advogado. Somente o partido político com representação no CN e a confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional não possuem capacidade postulatória.
Embora não haja nenhuma discriminação no texto constitucional, o STF, em construção
jurisprudencial, diferenciou os legitimados em dois grupos: os universais e os especiais.
Sendo assim, segundo o art. 103 da CF, podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:

* Para todos verem: esquema sobre os legitimados para propor ADI e ADPF.

a Mesa de Assembléia
Legislativa ou da Câmara
Legislativa do Distrito Federal;

Especiais: precisam
o Governador de Estado ou do
demonstrar a pertinência
Distrito Federal;
temática

confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito
nacional.

Legitimados o Presidente da República;


(Art, 103 da CF)

a Mesa do Senado Federal;

a Mesa da Câmara dos


Deputados;
Universais: não precisam
demonstrar nenhuma
pertinência
o Procurador-Geral da
República;

o Conselho Federal da Ordem


dos Advogados do Brasil;

partido político com


representação no Congresso
Nacional;

14
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

PERTINÊNCIA TEMÁTICA:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 8º, 9º E 10 DA LEI
COMPLEMENTAR ESTADUAL 125/2012, DE MINAS GERAIS. LEGITIMIDADE ATIVA
DAS ENTIDADES DE CLASSE. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 42, §§ 1º E
2º, E 142, § 3º, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EXIGÊNCIA DE LEI ESTADUAL
ESPECÍFICA. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA O ESTABELECIMENTO DE NORMAS
GERAIS. ARTIGO 22, XXI E XXIII. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
estabelece os seguintes requisitos a serem atendidos pelas entidades de classe no
ajuizamento de ação de controle concentrado: a) abrangência nacional; b) delimitação
subjetiva da associação; c) pertinência temática; e d) compatibilidade entre a abrangência
da representação da associação e o ato questionado.

“O requisito da pertinência temática – que se traduz na relação de congruência que


necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais
da entidade autora e o conteúdo material da norma questionada em sede de controle
abstrato – foi erigido à condição de pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa
ad causam para efeito de instauração do processo objetivo de fiscalização concentrada
de constitucionalidade. (, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-12-94, Plenário, ADI
1157-MC DJ de 17-11-06)”

A maioria dos legitimados para a propositura da ADI tem capacidade postulatória, à


exceção de:
▪ partido político com representação no Congresso Nacional;
▪ confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Capacidade postulatória na ADI

• Art. 103, V da CF:

“Descabe confundir a legitimidade para a propositura da ação direta de


inconstitucionalidade com a capacidade postulatória. Quanto ao governador do Estado,
cuja assinatura é dispensável na inicial, tem-na o procurador-geral do Estado.” (ADI 2.906,
rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 1º-6-2011, Plenário, DJE de 29-6-2011.)

“O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer em sede de controle normativo


abstrato. O Estado-membro não dispõe de legitimidade para interpor recurso em sede de
controle normativo abstrato, ainda que a ação direta de inconstitucionalidade tenha sido
ajuizada pelo respectivo governador, a quem assiste a prerrogativa legal de recorrer contra
as decisões proferidas pelo relator da causa (Lei 9.868/1999, art. 4º, parágrafo único) ou,
excepcionalmente, contra aquelas emanadas do próprio Plenário do STF (Lei 9.868/1999,
art. 26).” (ADI 2.130-AgR, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 3-10-2001, Plenário, DJ
de 14-12-2001.) No mesmo sentido: RE 658.375-AgR, rel. min. Celso de Mello, julgamento
em 25-3-2014, Segunda Turma, DJE de 24-4-2014.

15
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

• Art. 103, VIII da CF - partido político com representação no Congresso Nacional:

"Partido político. Legitimidade ativa. Aferição no momento da sua propositura. Perda


superveniente de representação parlamentar. Não desqualificação para permanecer no
polo ativo da relação processual. Objetividade e indisponibilidade da ação." (ADI 2.618-
AgR-AgR, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 12-8-2004, Plenário, DJ de 31-3-2006.)
No mesmo sentido: ADI 2.427, rel. min. Eros Grau, julgamento em 30-8-2006, Plenário,
DJ de 10-11-2006.

“Legitimidade de agremiação partidária com representação no Congresso Nacional para


deflagrar o processo de controle de constitucionalidade em tese. Inteligência do art. 103,
VIII, da Magna Lei. Requisito da pertinência temática antecipadamente satisfeito pelo
requerente." (ADI 3.059-MC, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 15-4-2004, Plenário, DJ
de 20-8-2004.)

“Ilegitimidade ativa ad causam de Diretório Regional ou Executiva Regional. Firmou a


jurisprudência desta Corte o entendimento de que o partido político, para ajuizar ação
direta de inconstitucionalidade perante o STF, deve estar representado por seu Diretório
Nacional, ainda que o ato impugnado tenha sua amplitude normativa limitada ao Estado
ou Município do qual se originou.” (ADI 1.528-QO, rel. min. Ellen Gracie, julgamento em
24-5-2000, Plenário, DJ de 23-8-2002.)

• Art. 103, IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional:

"Os conselhos de fiscalização profissional têm como função precípua o controle e a


fiscalização do exercício das profissões regulamentadas, exercendo, portanto, poder de
polícia, atividade típica de Estado, razão pela qual detêm personalidade jurídica de direito
público, na forma de autarquias. Sendo assim, tais conselhos não se ajustam à noção de
entidade de classe, expressão que designa tão somente aquelas entidades vocacionadas
à defesa dos interesses dos membros da respectiva categoria ou classe de profissionais."
(ADPF 264-AgR, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 18-12-2014, Plenário, DJE de 25-2-
2015.)

“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual que fixa prazos máximos, segundo a
faixa etária dos usuários, para a autorização de exames pelas operadoras de plano de
saúde. Encontra-se caracterizado o direito de propositura. Os associados da requerente
estão unidos pela comunhão de interesses em relação a um objeto específico (prestação
do serviço de assistência suplementar à saúde na modalidade autogestão). Esse elemento
caracteriza a unidade de propósito na representação associativa, afastando a excessiva
generalidade que, segundo esta Corte, impediria o conhecimento da ação.” (ADI 4.701,
rel. min. Roberto Barroso, julgamento em 13-8-2014, Plenário, DJE de 25-8-2014.)

16
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

• Associações Fracionárias:

“A Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (ANAMAGES) não tem legitimidade


para propor ação direta de inconstitucionalidade contra norma de interesse de toda a
magistratura. É legítima, todavia, para a propositura de ação direta contra norma de
interesse da magistratura de determinado Estado-membro da Federação.” (ADI 4.462-
MC, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 29-6-2011, Plenário, DJE de 16-11-2011.)

As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para
instaurar controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo
de seus representados. Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão de
julgamento e por maioria, desproveu agravo regimental em arguição de descumprimento
de preceito fundamental, na qual se discutia a legitimidade ativa da Associação Nacional
dos Magistrados Estaduais (Anamages). Na espécie, a referida associação questionava
dispositivo da LC 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional). A Corte assentou a
ilegitimidade ativa da mencionada associação. Manteve o entendimento firmado na
decisão agravada de que, se o ato normativo impugnado repercute sobre a esfera jurídica
de toda uma classe, não seria legítimo permitir-se que associação representativa de
apenas uma parte dos membros dessa mesma classe impugnasse a norma, pela via
abstrata da ação direta. O Ministro Barroso acompanhou a conclusão do relator, porém,
com fundamentação diversa. Assentou que as associações que representam fração de
categoria profissional seriam legitimadas apenas para impugnar as normas que afetassem
exclusivamente seus representados. Dessa forma, a sub-representação de grupos
fracionários de categorias profissionais estaria evitada, ao mesmo tempo em que se
respeitaria a restrição constitucional de legitimação ativa. Vencido o Ministro Marco
Aurélio, que dava provimento ao recurso. Apontava não ser possível o monopólio da
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) quanto à legitimidade para o processo
objetivo de controle de constitucionalidade. ADPF 254 AgR/DF, rel. Min. Luiz Fux,
18.5.2016. (ADPF-254)

17
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Parâmetro e objeto da ADI

As normas constitucionais de referência para a realização da análise de compatibilidade


são todas aquelas que constam do documento constitucional, independentemente de seu
conteúdo e desde que não revogadas ou, em se tratando das normas constitucionais constantes
do ADCT, desde que não exaurida sua eficácia.
Quanto ao objeto, o art. 102, I, “a”, CF/88, determina que somente as leis (e os demais
atos normativos) federais e estaduais poderão ser discutidos no STF em sede de ADI.
Deste modo, as leis e outros atos normativos municipais não poderão ser avaliados pelo
STF por meio da interposição de ADI. Contudo, as leis do DF editadas no exercício da
competência legislativa estadual podem ser objeto de ADI no STF. Já as leis do DF editadas na
competência municipal não (Súmula 642, STF).
No direito pátrio não se admite a inconstitucionalidade superveniente. Nesse sentido, as
leis ou atos normativos anteriores à norma constitucional eleita como referência não poderão ser
objeto da ação direta. Destarte, somente diplomas pós-constitucionais é que podem ser objeto
de ADI.

Procedimento da ADI

O procedimento da ADI encontra-se regulado na Lei nº 9.868/99. Não há iniciação da


jurisdição constitucional pelo STF de ofício, deve a Corte ser devidamente provocada por um dos
legitimados enunciados no art. 103, CF/88.
A petição inicial, segundo o art. 3º da Lei nº 9.868/99 trará o dispositivo da lei ou do ato
normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada uma das
impugnações, além do pedido, com suas especificações.

* Para todos verem: esquema sobre a petição inicial da ADI.

Pedido
• Não vale à regra da adstrição, ou
seja, o STF não se vincula aos
fundamentos jurídicos apresentados • Além da tutela principal (declaração
na peça inaugural (a causa de pedir de inconstitucionalidade dos
pode ser considerada aberta). dispositivos), pode conter também a
tutela de urgência (suspensão
imediata dos dispositivos).
Fundamentos

Proposta a ação direta, não


se admitirá desistência.

18
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

* Para todos verem: esquema sobre a inépcia da petição inicial.

A petição inicial inepta, não fundamentada


Cabe agravo da decisão que indeferir a
e a manifestamente improcedente serão
petição inicial.
liminarmente indeferidas pelo relator.

Admitida a ADI, o relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades das quais
emanou a lei ou o ato normativo impugnado. As informações serão prestadas no prazo de trinta
dias contado do recebimento do pedido.
Segundo o art. 8º da Lei nº 9.868/99, decorrido o prazo das informações, serão ouvidos,
sucessivamente, o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, que deverão
manifestar-se, cada qual, no prazo de quinze dias.
O PGR além de ser um dos legitimados universais para a propositura da ADI, deverá ser
previamente ouvido em todas as ações que tramitam perante o STF. Sua participação deverá
ser imparcial, na defesa da Constituição, podendo se manifestar tanto pela constitucionalidade
quanto pela inconstitucionalidade da norma, a depender das circunstâncias do caso.
É importante se destacar que o PGR não poderá desistir da ação direta por ele proposta,
bem como, está autorizado a opinar até mesmos nas ADI’s e nas ADC’s por ele propostas.
No tocante a atuação do AGU, o mesmo deverá ser citado para defender o ato ou texto
impugnado, desempenhando, pois, o papel de curador da presunção de constitucionalidade da
norma, vale dizer, de defensor legis. O AGU tem certa autonomia na atuação, existindo casos
que justifiquem sua opção pela inconstitucionalidade da lei, de acordo com a sua livre percepção
jurídica do assunto. Por exemplo: se a lei contrariar os interesses da União ou quando a própria
Corte já se manifestou pela inconstitucionalidade.
Na ADI, segundo o art. 7º, não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação
direta de inconstitucionalidade. A lei da ADI não admite intervenção de 3ºs, porém o parágrafo
2º do art. 7º da Lei abre a possibilidade do Amicus Curiae.
O Amicus Curiae solicita o seu ingresso para fornecer ao juiz ou tribunal elementos que
melhor fundamentem sua decisão. São dois os elementos (e cumulativos) os requisitos legais
para admissão do amicus:
▪ relevância da matéria;
▪ a representatividade dos postulantes.

A admissão do amicus no processo não lhe assegura o direito de interpor recursos da


decisão. Assim, a decisão de ingresso do amicus compete ao relator do processo, porém o STF
entende que se a decisão for denegatória, se sujeitará a recurso de agravo ao Pleno do STF
(ADI 3.706-MS).

19
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Medidas cautelares

É possível a concessão de medida cautelar em ADI. O STF exige para a sua concessão
que esteja, presentes os pressupostos legitimadores do fumus boni iuris e do periculum in mora.
Normalmente a medida cautelar é concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do
tribunal, desde que presentes na sessão pelo menos oito Min. Todavia, no período de recesso,
a cautelar poderá ser concedida pelo relator e referendada, posteriormente, pelo Tribunal Pleno.
Quanto aos efeitos da decisão concessiva da cautelar, temos:

* Para todos verem: esquema sobre os efeitos da decisão concessiva da cautelar.

Erga omnes e vinculantes de forma que a suspensão da norma


(e também dos processos que envolvam sua aplicação) produza
eficácia contra todos e vincule todos os demais órgãos do Poder
Judiciário e Administração Pública;

Os efeitos serão, em regra, não retroativos (ex nunc), tendo em


vista que a Corte prolata um decisão precária e que a segurança
Efeitos jurídica precisa ser preservada. Há, todavia, possibilidade
excepcional de a decisão ser concedida com efeitos retroativos
(ex tunc);

Efeito represtinatório: segundo a lei, salvo expressa


manifestação em sentido contrário do STF, a concessão da
medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso
existente.

Os arts. 10 a 12 da Lei nº 9.868/99 regula a concessão da medida cautelar:

Art. 10. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por
decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, observado o disposto no art. 22,
após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo
impugnado, que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.
§ 1º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Advogado-Geral da União e o Procurador-
Geral da República, no prazo de três dias.
§ 2º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos
representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela
expedição do ato, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.
§ 3º Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a medida cautelar sem a
audiência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo
impugnado.

20
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção
especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da
decisão, no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver
emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I
deste Capítulo.
§ 1º A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex
nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.
§ 2º A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente,
salvo expressa manifestação em sentido contrário.

Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da relevância da matéria e
de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá, após a
prestação das informações, no prazo de dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral
da União e do Procurador-Geral da República, sucessivamente, no prazo de cinco dias,
submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar
definitivamente a ação.

A decisão e seus efeitos na ADI

As decisões de mérito proferidas pelo STF nas ADIs produzirão eficácia contra todos e,
em regra, com efeito ex tunc (retroativo). Este último deve-se a adoção da tese da nulidade, pois
o ato declarado inconstitucional é considerado nulo, e não meramente anulável, de forma que
nunca terá produzido nenhum efeito válido no ordenamento desde a sua edição.
Contudo, o art. 27 da Lei nº 9.868/99 autoriza o STF a modular temporalmente os efeitos
de sua decisão, desde que haja razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social e
que a decisão seja prolatada pela maioria qualificada de 2/3, ou seja, 8 ministros.
No tocante ao efeito vinculante que a decisão possui, pode-se dizer que atinge os demais
órgãos do Poder Judiciário e a administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal (art. 102, § 2º, CF/88).
A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo
somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.
Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade
da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo
menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação
declaratória de constitucionalidade.
Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento,
este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se
atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.
Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente
eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação
direta ou improcedente eventual ação declaratória.
Julgada a ação, far-se-á a comunicação à autoridade ou ao órgão responsável pela
expedição do ato.
A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato
normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de
embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.

21
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de


segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que
ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser
fixado.
Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal
Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte
dispositiva do acórdão.
A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação
conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto,
têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública federal, estadual e municipal.

Ação declaratória de constitucionalidade

A ADC foi introduzida no texto constitucional pela EC nº 3/1993, tendo sido sua
constitucionalidade questionada e confirmada pelo STF na ADC (QO) 1-DF. Trata-se de uma
ação objetiva integrante do controle concentrado de constitucionalidade que proporciona a
provocação da jurisdição constitucional exercida com exclusividade pelo STF e é regulamentada
pela Lei nº 9.868/99.

* Para todos verem: esquema sobre a ADC.

É a mesma da ADI, conforme o


Legitimidade ativa
disposto no art. 103 da CF/88

Leis e demais atos normativos


federais

ADC Objeto
Apenas normas pós-
constitucionais podem ter sua
constitucionalidade discutida em
sede de ADC

Compete ao STF, com


Competência exclusividade, processá-la e julgá-
la originariamente

22
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Há grande similitude entre o procedimento da ADI e ADC, no entanto, vamos destacar


algumas distinções.
A existência de um requisito formal peculiar para a propositura da ADC, qual seja, a
relevante controvérsia judicial. Este requisito de admissibilidade para ADC é decorrência direta
do princípio da presunção de constitucionalidade das leis e se torna patente quando o legitimado
ativo, na petição inicial, logra demonstrar a presença de controvérsia comprometedora dessa
presunção, o que se alcança com a juntada de decisões de 1º e 2º graus de jurisdição que
divergem na conclusão acerca da constitucionalidade da norma, acarretando grave incerteza e
um estado de intranquilidade.
Outra distinção procedimental entre ADI e ADC refere-se à ausência de previsão de
prazo para prestação de informações pelas autoridades responsáveis pelo ato, assim como
a inexistência de menção à participação do AGU.
Quanto à participação do amicus curiae, é perfeitamente possível, por analogia, à
autorização legal existe para a ADI.
Em relação à medida cautelar em ADC, o art. 21 da lei nº 9.868/99 dispõe que o Supremo
Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de
medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de
que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação
da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.
Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial
do Diário Oficial da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o
Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda
de sua eficácia.
A decisão em ADC produz eficácia erga omnes, efeito vinculante e retroativos (ex tunc em
regra), sendo admissível a modulação dos efeitos temporais quando houver a declaração de
inconstitucionalmente da norma.

23
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Ação direta de inconstitucionalidade por omissão

O objeto da ADO são as normas constitucionais de eficácia limitada não regulamentadas.


Essa ausência de regulamentação que enseja a propositura da ADO pode ser uma omissão total
ou parcial, ou derivada de omissão legislativa ou administrativa.
Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade por omissão os legitimados à
propositura da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade.

* Para todos verem: esquema sobre a petição inicial da ADO.

Inépcia
• A omissão inconstitucional total ou
parcial quanto ao cumprimento de dever
constitucional de legislar ou quanto à • A petição inicial inepta, não
adoção de providência de índole fundamentada, e a manifestamente
administrativa, e o pedido, com suas improcedente serão liminarmente
especificações. indeferidas pelo relator.
• Cabe agravo da decisão que indeferir a
petição inicial.
A petição inicial indicará

Proposta a ação direta, não


se admitirá desistência.

Caso o relator da ADO receba a petição:

Art. 6º, lei nº 9.868/99. O relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades das
quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.
Parágrafo único. As informações serão prestadas no prazo de trinta dias contado do
recebimento do pedido.

Poderá, ainda, solicitar a manifestação do AGU com prazo de 15 dias e também se o PGR
não for autor da demanda, deverá ter vista dos autos para manifestação no mesmo prazo de 15
dias. No tocante ao voto o relator o fará na presença de no mínimo 8 ministros e a Corte decidirá
sobre a ADO por maioria absoluta.
Os demais titulares referidos no art. 2º da lei nº 9.868/99 poderão manifestar-se, por
escrito, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados úteis para o exame
da matéria, no prazo das informações, bem como apresentar memoriais.
O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá ser
encaminhada no prazo de 15 dias.
O Procurador-Geral da República, nas ações em que não for autor, terá vista do processo,
por 15 dias, após o decurso do prazo para informações.

24
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Medida liminar na ADO

A lei nº 12.063/09 trouxe a possibilidade expressa de concessão da medida cautelar, tanto


em se tratando de ADO por omissão total quanto ADO por omissão parcial.
Quanto aos efeitos, a medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei
ou ato normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de
processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser
fixada pelo Tribunal.
O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da República, no prazo de 3
dias.
No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos
representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela omissão
inconstitucional, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.
Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar, em seção
especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União, a parte dispositiva da decisão
no prazo de 10 dias, devendo solicitar as informações à autoridade ou ao órgão responsável pela
omissão inconstitucional.

Efeitos da decisão definitiva da ADO

A procedência da ADO segundo o STF importa na reconhecimento judicial de que há


inaceitável inércia por parte do Poder Público, possuindo a Corte, tão somente, a atribuição de
noticiar (ou cientificar) o legislador ou órgão administrativo que incorre em mora para que o
responsável adote as medidas necessárias à concretização do texto constitucional.
Não está o STF autorizado, em razão dos próprios limites fixados pela CF a produzir um
provimento normativo no intuito de superar a letargia do órgão inadimplente e, com isso, resolver
de vez o estado de inconstitucionalidade.
A separação dos Poderes, valor que nos é muito caro, impede que a Corte atue como
legislador positivo. A ADO deste modo, possui pouco efeito prático. Se a mora é de algum dos
Poderes, este será cientificado de que a norma precisa ser elaborada, não podendo a Corte,
sequer, fixar prazo para que a norma seja editada e a inconstitucionalidade vencida.
Por outro lado, se for atribuída a um órgão administrativo, é possível ao STF determinar a
elaboração da norma em até 30 dias ou outro prazo que entender razoável.

Art. 12-H. Declarada a inconstitucionalidade por omissão, com observância do disposto no


art. 22, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências
necessárias.
§ 1º Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser
adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado
excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o
interesse público envolvido.
§ 2º Aplica-se à decisão da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, no que
couber, o disposto no Capítulo IV desta Lei.

25
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Além disso, aplicam-se ao procedimento da ação direta de inconstitucionalidade por


omissão, no que couber, as disposições sobre admissibilidade e procedimento da ação direta de
inconstitucionalidade, da lei nº 9.868/99.

Arguição de descumprimento de preceito fundamental

A ADPF foi instituída no texto da atual Constituição e regulamentada pela Lei nº 9.882/99.
Os legitimados para propor a ADPF, são os mesmos da ADI, conforme estipula o art. 2º, I, da Lei
nº 9.882/99. A ADPF possui um parâmetro mais restrito que o das demais ações de controle
concentrado. Isso porque a arguição será manejada para, unicamente, a tutela dos preceitos
fundamentais, ou seja, para a defesa de somente alguns dispositivos constitucionais que possam
ser abarcados por este título.
Como não há indicação de quais são, efetivamente, os preceitos fundamentais, o STF
determinou, no julgamento da ADPF 1-RJ competir a Corte esta definição.
A ADPF é um instrumento de controle concentrado cujo manejo é extraordinário e
supletivo, autorizado unicamente naquelas situações de inexistência de outro meio apto a sanar
a lesividade. Assim, sendo cabível ADI ou ADC, não será admissível a propositura da ADPF. O
STF reconhece a Fungibilidade entre a ADI e a ADPF, logo se a ADPF for equivocadamente
utilizada, pode a Corte determinar o aproveitamento do feito como ADI.
Quanto ao cabimento de ADPF nos caos relativos ao controle de legitimidade:
▪ Direito pré-constitucional (normas anteriores da CF/88); ou então posteriores a 1988,
todavia anteriores à norma constitucional invocada como parâmetro modificada por
emenda constitucional);
▪ Do direito municipal em face da CF;
▪ Controvérsias sobre direito pós-constitucional já revogado ou cujos efeitos já se
exauriram;
▪ Haverá também cabimento de ADPF diante de decisões judiciais construídas a partir de
interpretações violadoras de preceitos fundamentais.

26
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

* Para todos verem: esquema sobre a petição inicial da ADPF.

a indicação do preceito fundamental que se


considera violado;

a indicação do ato questionado;

A petição inicial deverá a prova da violação do preceito fundamental;


conter:

o pedido, com suas especificações;

se for o caso, a comprovação da existência de


controvérsia judicial relevante sobre a aplicação
do preceito fundamental.

A petição inicial, acompanhada de instrumento de mandato, se for o caso, será


apresentada em duas vias, devendo conter cópias do ato questionado e dos documentos
necessários para comprovar a impugnação.
Além disso, ela será indeferida liminarmente, pelo relator, quando não for o caso de
arguição de descumprimento de preceito fundamental, faltar algum dos requisitos prescritos
nesta Lei ou for inepta.
Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitará as informações às autoridades
responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de dez dias. Se entender necessário,
poderá o relator ouvir as partes nos processos que ensejaram a arguição, requisitar informações
adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou
ainda, fixar data para declarações, em audiência pública, de pessoas com experiência e
autoridade na matéria.
Decorrido o prazo das informações, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os
ministros, e pedirá dia para julgamento.
O Ministério Público, nas arguições que não houver formulado, terá vista do processo, por
cinco dias, após o decurso do prazo para informações.
A decisão sobre a arguição de descumprimento de preceito fundamental somente será
tomada se presentes na sessão pelo menos dois terços dos Ministros.
Julgada a ação, será comunicado às autoridades ou órgãos responsáveis pela prática dos
atos questionados, fixando-se as condições e o modo de interpretação e aplicação do preceito
fundamental.
O presidente do Tribunal determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o
acórdão posteriormente.

27
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

Dentro do prazo de dez dias contado a partir do trânsito em julgado da decisão, sua parte
dispositiva será publicada em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União.
A decisão terá eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos
do Poder Público.
Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de arguição de
descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de
seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a
partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
A decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido em arguição de
descumprimento de preceito fundamental é irrecorrível, não podendo ser objeto de ação
rescisória.
Caberá reclamação contra o descumprimento da decisão proferida pelo Supremo Tribunal
Federal, na forma do seu Regimento Interno

28
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

QUESTÕES

1) (CESPE/CEBRASPE – SEFAZ/RS – 2019)


Julgue os itens a seguir, acerca da supremacia da Constituição Federal de 1988 (CF) e do
controle de constitucionalidade.
I. O sistema de controle de constitucionalidade adotado no Brasil é o misto: as leis federais, além
de realizar exame sobre a inconstitucionalidade tanto material quanto formal das normas, ficam
sob o controle político do Congresso Nacional, e as estaduais e municipais, sob o controle
jurisdicional.
II. O controle de constitucionalidade está ligado à supremacia da CF sobre todas as leis e normas
jurídicas.
III. A supremacia material deriva do fato de a CF organizar e distribuir as formas de
competências, hierarquizando-as. Já a supremacia formal apoia-se na ideia da rigidez
constitucional.
IV. Sob o prisma constitucional, o governo federal, os governos dos estados da Federação, os
dos municípios e o do Distrito Federal são soberanos, pois estão investidos de poderes e
competências governamentais absolutas.

Estão certos apenas os itens

(A) I e II.
(B) I e IV.
(C) II e III.
(D) I, III e IV.
(E) II, III e IV.

2) (CESPE/CEBRASPE – TJ/AM – 2019)


Órgão fracionário de tribunal de justiça que, por razões de segurança jurídica, deixar de aplicar
lei estadual, sem declarar expressamente a sua inconstitucionalidade, terá violado a cláusula de
reserva de plenário.

( ) Certo
( ) Errado

3) (CESPE/CEBRASPE – Polícia Federal – 2021)


Para o efeito do conhecimento da reclamação constitucional, o STF admite o uso da teoria da
transcendência dos motivos determinantes das ações julgadas em sede de controle concentrado.

( ) Certo
( ) Errado

29
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

4) (CESPE/CEBRASPE – MPE/SC - 2021)


Ação direta de inconstitucionalidade cujo objeto seja a discussão acerca da recepção, pela CF,
de determinada lei ou ato normativo pode ser admitida como arguição de descumprimento de
preceito fundamental, uma vez preenchidos seus respectivos requisitos, com base na
fungibilidade.

( ) Certo
( ) Errado

5) (CESPE/CEBRASPE – TC/DF – 2021)


O controle exercido pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania das casas legislativas
é meramente político e preventivo, visto que a legislação aprovada poderá, posteriormente, ser
objeto de demanda judicial de caráter constitucional.

( ) Certo
( ) Errado

6) (FCC – TRF4 – 2019)


Em consonância com o sistema de controle de constitucionalidade albergado pelo ordenamento
brasileiro, caberá

(A) arguição de descumprimento de preceito fundamental, perante o Supremo Tribunal


Federal, em face de lei estadual promulgada com teor idêntico ao de outra anteriormente
declarada inconstitucional em sede de controle concentrado.
(B) reclamação, perante o Supremo Tribunal Federal, em face de lei federal promulgada com
teor contrário ao de súmula vinculante vigente.
(C) concessão de medida cautelar, em sede de ação direta de inconstitucionalidade, com
produção, salvo entendimento contrário do Tribunal, de eficácia retroativa e aplicação da
legislação anterior acaso existente.
(D) decisão de órgão fracionário de Tribunal que, sem prévia submissão ao respectivo
Plenário ou Órgão Especial, afaste a incidência de lei com fundamento em jurisprudência
consolidada em súmula do Supremo Tribunal Federal.
(E) recurso extraordinário, presumida a existência de repercussão geral, em face de acórdão
que tenha reconhecido a constitucionalidade de tratado ou lei federal.

30
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

7) (FCC – AL/AP – 2020)


Uma emenda inconstitucional à Constituição brasileira

(A) não pode ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade, pois não se insere no conceito
de ato normativo federal, mas pode ser de arguição de descumprimento de preceito
fundamental.
(B) não pode ser objeto de controle de constitucionalidade pela via difusa.
(C) não pode ser objeto de controle de constitucionalidade, pois se amalgama à Constituição
e eventuais antinomias devem ser consideradas meramente aparentes, solucionadas
pelos princípios de hermenêutica constitucional aceitos.
(D) pode ser objeto de controle difuso e concentrado de constitucionalidade e o parâmetro de
controle são as limitações procedimentais, materiais e circunstanciais impostas ao
constituinte derivado.
(E) pode ser objeto de controle difuso e concentrado de constitucionalidade por meio de
arguição de descumprimento de preceito fundamental e o parâmetro de controle são as
limitações procedimentais e circunstanciais impostas ao constituinte derivado.

8) (FCC – TJ/MS – 2020)


A cláusula de reserva de plenário (regra do full bench), nos termos da Constituição Federal e da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), tem aplicabilidade à decisão
I. das Turmas Recursais dos Juizados Especiais, consideradas como tribunais para o propósito
de reconhecimento da inconstitucionalidade de preceitos normativos.
II. fundada em jurisprudência das Turmas ou Plenário do STF, não se aplicando, contudo, na
hipótese de se fundar em entendimento sumulado do órgão de guarda constitucional.
III. que declara a inconstitucionalidade de lei, ainda que parcial, inexistindo violação à referida
cláusula na decisão de órgão fracionário quando houver declaração anterior proferida pela
maioria absoluta do órgão especial ou Plenário do Tribunal respectivo.
IV. que deixa de aplicar lei ou ato normativo a caso concreto, ainda que não fundada em sua
incompatibilidade com norma constitucional, uma vez que a negativa de vigência equivale à
declaração de inconstitucionalidade.

Está correto o que se afirma APENAS em

(A) I, II e III.
(B) I, II e IV.
(C) III.
(D) IV
(E) II, III e IV.

31
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

9) (FCC – AFAP – 2019)


Diante do sistema de controle de constitucionalidade estabelecido pela Constituição da
República Federativa do Brasil e consideradas a legislação e a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal pertinentes,

(A) a ação direta de inconstitucionalidade constitui meio de controle de constitucionalidade


prévio realizado pelo Poder Judiciário.
(B) por conta do princípio da separação de Poderes, o Presidente da República não realiza
controle de constitucionalidade.
(C) não é admitida a fungibilidade entre ação direta de inconstitucionalidade e arguição de
descumprimento de preceito fundamental.
(D) não será admitida arguição de descumprimento fundamental quando houver qualquer
outro meio eficaz capaz de sanar a lesividade.
(E) a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade não
possuem os mesmos legitimados para a sua proposição.

10) (FCC – TJ/MS – 2020)


A Constituição Federal estabelece que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF), dela decorrente, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na forma da lei.
A esse propósito, considerada a regulamentação da matéria à luz da jurisprudência da referida
Corte,

(A) em sede de medida liminar, pode ser determinada a suspensão dos efeitos de decisões
judiciais relacionadas com a matéria objeto da ADPF, admitida a relativização dos
decorrentes de coisa julgada, por decisão de maioria qualificada do STF, diante de
circunstâncias de excepcional interesse social.
(B) admite-se o ingresso de amici curiae na ADPF, pela aplicação, por analogia, do
estabelecido em lei relativamente à ação direta de inconstitucionalidade, desde que
demonstradas a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes.
(C) considerado seu caráter subsidiário, não pode a ADPF ser conhecida como ação direta
de inconstitucionalidade, acaso manejada em hipótese de cabimento desta, sendo
inaplicável o princípio da fungibilidade entre ações de controle concentrado.
(D) não se admite a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade em sede
de ADPF, por ausência de previsão legal, diferentemente do que ocorre em relação às
ações direta de inconstitucionalidade e declaratória de constitucionalidade.
(E) as normas processuais destinadas a resguardar os interesses da Fazenda Pública, a
exemplo da exigência de intimação pessoal dos entes públicos para início da contagem
de prazos, são aplicáveis no âmbito da ADPF, embora não o sejam nos demais processos
de controle concentrado, por sua natureza objetiva.

GABARITO: 1) C | 2) Certo | 3) Errado | 4) Certo | 5) Certo | 6) D | 7) D | 8) C | 9) D |10) B.

32
Direito Constitucional
Prof. Mateus Silveira

33

Você também pode gostar