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O que é a partilha de bens?

A partilha de bens é o processo no qual a herança é dividida entre seus


herdeiros ou pessoas de direito. Esse processo pode ou não ser
legalmente conduzido, já que a partilha pode ser feita mediante acordo
fora dos tribunais — caso todas as partes concordem. Pensar no
processo de partilha é especialmente necessário se você tem uma
fortuna ou um bom acúmulo de bens em geral, como imóveis ou um
negócio, garantindo o sucesso do procedimento futuro.

Como é feita a partilha?


Para ser feita a partilha, o primeiro passo é a identificação da existência
ou não de um testamento. Isso vai definir como será parte do processo
de partilha.

Caso não haja testamento e todos os herdeiros estejam de comum


acordo — e sejam legalmente responsáveis —, a partilha de bens pode
acontecer por acordos fora de juízo. Caso um dos herdeiros seja incapaz,
menor de idade ou esteja ausente em lugar desconhecido, entretanto, é
necessário fazer um inventário judicial, que é o levantamento de todos
os bens do falecido. A existência de inventário é necessária em todos os
casos, inclusive quando os herdeiros entram em disputa pela divisão de
bens ou quando existe testamento. Quando os herdeiros estão de
acordo, o inventário é feito de maneira extrajudicial.

De maneira simplificada, portanto, a partilha de bens pode ser feita de


três modos nas seguintes situações:

Não há testamento e todos os herdeiros estão de comum


acordo sobre a partilha
Nos casos em que todos os herdeiros estão de comum acordo, a divisão
de bens pode ser feita internamente. É necessário assinar um Contrato
Particular de Compromisso de Divisão e Partilha Amigável, indicando a
concordância de todas as partes com o acordo firmado.

Não há testamento e a partilha não pode ser feita de


comum acordo
Caso por qualquer motivo a partilha não possa ser feita de comum
acordo e não haja testamento, após o levantamento do inventário é
definida a partilha de bens seguindo as regras correspondentes.

Há testamento
Havendo testamento, também é preciso fazer o inventário, deixando
parte dos bens disponível para os herdeiros legais e outra parte pode ser
usada para as condições do testamento.

Para fazer o inventário e o processo de partilha, em geral, é necessário


contratar um advogado, que cobrará uma porcentagem da herança. A
partir daí, os passos que se seguem para a partilha são:

 Identificar existência de testamento, o que pode ser feito


obtendo certidão negativa no Colégio Notarial;
 Levantamento de patrimônio, identificando todos os bens e
dívidas;
 Regularização de documentação relativa aos bens patrimoniais;
 Escolha da via processual, que pode ser judicial ou
extrajudicial,
 Escolha do inventariante, em caso de inventário judicial e que é
a pessoa responsável por representar a herança em juízo;
 Negociação das dívidas com credores;
 Definição da partilha de bens, que deve ser feita com o
testamento, caso exista, ou que pode ser feita de acordo
comum, quando aplicável;
 Pagamento de impostos, que possui porcentual estabelecido por
cada Estado e é limitado a 8%;
 Autorização da Fazenda, que permitirá que a partilha ocorra;
 Finalização do processo.

Qual o prazo para realizar o inventário?


O prazo para fazer o levantamento de inventário é de até 60 dias após o
falecimento do indivíduo detentor da herança. Caso aquele prazo não
seja cumprido, a Fazenda competente é obrigada a aplicar multa de
20% sobre o valor da herança, mais 1% por mês de atraso.

Quais são as regras da partilha de herança?


A partilha de bens baseia-se na divisão dos bens entre os herdeiros de
direito e deve ser feita seguindo algumas regras específicas:

 O cônjuge só será considerado herdeiro se não estiver


legalmente divorciado ou então separado judicialmente,
inclusive dos bens;
 Os descendentes, que são os filhos ou filhos dos filhos que já
tenham morrido, serão os únicos herdeiros caso não haja
cônjuge;
 Na inexistência de cônjuge ou descendentes e de testamento,
os herdeiros serão os ascendentes, como pais e avós;
 Caso não haja cônjuge, descente ou ascendente, nem
testamento, os irmãos serão os herdeiros;
 Em caso de inexistência dessas pessoas e de testamento, os
herdeiros serão parentes de até 4º grau;
 Na impossibilidade de encontrar herdeiros, a herança fica para
a União;
 Os herdeiros estabelecidos em testamento só poderão herdar
determinada quantia da herança, e se não houver herdeiros
para a outra parte, o valor também fica para a União;
 A partilha de bens entre os herdeiros deverá seguir critérios de
divisão estabelecidos pela lei.

Qual a importância de um testamento?


O testamento é importante nos casos em que se deseje deixar parte da
herança para parentes distantes, um desconhecido ou mesmo para uma
instituição de caridade, é preciso deixar isso claro em testamento. Além
disso, o testamento também permite que seja deixada uma parte maior
a um dos herdeiros, como para o cônjuge ou um dos filhos, além da
parte que lhes é de direito.

O que é permitido em testamento e o que não


é?
O testamento também possui algumas regras e é permitido estabelecer
quaisquer divisões de bens para outras pessoas desde que se respeite o
limite de 50% em caso de herdeiros diretos. Isso significa que, no caso
da existência de cônjuge ou de filhos, somente 50% da herança pode
ser deixada em testamento e os outros 50% devem ser divididos
apropriadamente.

Também não é possível excluir herdeiros de receber sua parte de direito,


exceto em raríssimos casos de deserdação por indignidade, como em
caso de tentativa de homicídio dos pais, desonra do falecido ou casos
semelhantes.

O que é meação?
Apesar de haver essa confusão, meação e herança não são a mesma
coisa, já que meação diz respeito ao regime de bens estabelecido pelo
casal. Quando uma das partes falece e o casamento era em regime de
comunhão total ou parcial de bens, a outra parte tem direito a metade
do patrimônio não por herança, mas sim por meação, já que isso já era
seu por direito graças ao regime de divisão.

O cônjuge, então, passa a ser um meeiro e só será herdeiro se a outra


parte tiver bens particulares adquiridos antes do casamento. Imagine
um casal que possua comunhão parcial de bens e que a parte falecida
possuía uma empresa ou um imóvel comprado antes de se casar. Ao
morrer, o cônjuge sobrevivo terá direito à metade do patrimônio
adquirido de maneira individual e antes do casamento, dividindo em
partes iguais entre os descendentes.

A partilha de bens é um processo bastante complexo e caso você possua


bens a serem deixados após sua morte, é preciso garantir desde já que
o processo dê certo. Conversar com os herdeiros legalmente
responsáveis para garantir que o acordo seja o mais amigável possível e
deixar um testamento detalhado e com valor legal são duas coisas que
ajudam muito no processo. Contratar um assessor de investimentos
também é fundamental para que ele possa guiá-lo e diminuir os gastos
com advogados, impostos e outros processos.

Se você tem dúvidas sobre essas questões, como a divisão de bens ou


os direitos de cada um em uma herança, é importante saber que
existem profissionais especializados em fazer o planejamento sucessório
para a sua família. Tudo é calculado adequadamente, sem que você ou
sua família precisem ter dores de cabeça.
Cálculo da legítima: sugestões teórico-práticas

 DIREITO DAS SUCESSÕES


 GERAL (DIREITO DAS SUCESSÕES)

O cálculo da legítima não é tão singelo quanto se poderia imaginar, mas é de


suma importância para se verificar a adequação da liberdade de disposição
frente aos limites legalmente impostos.
Sumário:1. Idéias iniciais – 1.1 Problemática - 2. Legítima – 3. A
legítima e a liberdade de disposição – 4. Importância do cálculo – 5. Cálculo
passo a passo – 5.1 Testamento redutível - 5.2 Doação inoficiosa e partilha-
doação iníqua - 5.3 Fórmula prática sugerida - 5.3.1 Ilustração com análise
teórico-prática - 5.3.1.1 Testamento redutível - 5.3.1.2 Doação inoficiosa e
partilha-doação iníqua – 6. Conclusão – 7. Referências.

1. IDÉIAS INICIAIS
Embora o Código Civil não tenha, essencialmente, inovado essa
questão, parece-me oportuno tratá-la, pois a matéria não é tão óbvia quanto
aparenta, principalmente aos olhos dos menos iniciados no direito sucessório.

Nossos acadêmicos acham oportuna essa iniciativa, mas estão sob


suspeição (porque são nossos). Pude ver, entretanto, em singela palestra que
proferimos, no final de 2006, na Escola Superior de Advocacia, em Campo
Grande-MS, que houve boa receptividade do tema, pelo que me animo a esta
abordagem.

Em ritmo, portanto, de colaboração, dirigimo-nos aos noviços e,


eventualmente, àqueles profissionais que buscam alguma referência nessa
temática, sem serem useiros e vezeiros dela. Enfim, não temos a pretensão de
ensinar pai nosso a vigário.

1.1 Problemática

Não é novidade dizer que os estudiosos do direito, em geral, não são


dados a cálculo. Claro, se fossem deveriam estar noutras ciências.

Nem por isso, entretanto, devemos ficar na obviedade que faz


transparecer o cálculo da legítima, ao vermos o enunciado da lei de que
metade da herança constitui a legítima, ou seja, se a herdade tem 100, 50 é a
legítima.
Afinal, essa metade é sobre o patrimônio bruto ou líquido? Sobre o
patrimônio considerado em que momento, na abertura da sucessão ou no
momento em que se fez o testamento? Ou, ainda, seria no momento do
registro do testamento (para cumprimento)? Eventuais colações devem ocorrer
antes da divisão por metade, ou depois? Se depois, sobre a quota disponível
ou indisponível? Se a doação foi excessiva (inoficiosa), mas há dispensa de
colação, haverá redução? Se o de cujus resolveu repartir, em vida, seu acervo,
mas feriu a legítima, como proceder ao cálculo para verificar se realmente
houve lesão a direito?

2. LEGÍTIMA
É a quota indisponível da herança, em razão da presença de herdeiros
necessários.

Herdeiros necessários, como se sabe, são aqueles sucessores que,


eleitos em lei como privilegiados, não podem ser afastados da herança ao bel
prazer do hereditando.

O princípio da indisponibilidade da legítima (art. 1.789, CC) é a garantia


criada (art. 1.846, CC) em favor dos tais herdeiros (art. 1.845, CC), que além
de descendentes e ascendentes, favorece, com o novo Código, o cônjuge.

São também chamados de legitimários e de reservatários. A primeira


expressão é predileta do Código Civil português (arts. 2.156 e seguintes, CC),
e, bem sugestiva, se refere à legítima, que é essa quota-ideal de metade,
consagrada aos tais herdeiros [01].

Não se pode confundir legítima com sucessão legítima. Sucessão


legítima é classificação da sucessão quanto à fonte [02], e se refere à sucessão
que opera por força de lei, onde os herdeiros acorrem ao acervo, em ordem
preferencial. A legítima, por sua vez, é aquela garantia em prol de
determinados sucessores legítimos, os herdeiros necessários.

Conclui-se, portanto, nesse primeiro passo, que em toda herança com


herdeiros necessários há uma quota indisponível: é a legítima, parte da
herança gravada com cláusula legal (art. 1.846, CC) de indisponibilidade.

3. A LEGÍTIMA E A LIBERDADE DE DISPOSIÇÃO


Respaldada na garantia do direito de propriedade (art. 5º, XXII, da
Constituição Federal), que é das estacas fundamentais do Estado democrático,
e no princípio da autonomia da vontade (art. 5º, II, da Constituição Federal, e
arts. 421 e 425, CC), a pessoa dispõe de seus bens inter vivos (negócios
jurídicos em geral) e causa mortis (testamentos e codicilos [03]).

Com vistas, porém, à preservação da legítima, as disposições causa


mortis encontram limites, e até as disposições in vita, estas quando gratuitas.

Essa garantia da legítima limita, portanto, a liberdade testamentária


ativa [04], que deve respeitar metade do acervo hereditário (art. 1.789, CC); mas
não é só: além de respeitar a reserva legal, o testador está impedido, em regra,
de impô-la gravames, como se vê do art. 1.848 do Código Civil.

A exceção a essa proibição, diz a norma, é a presença de justa causa,


que deve constar expressamente do testamento, e sobre a qual entendemos
conveniente não deitarmos raízes no presente terreno.

Na continuação daquele raciocínio, além da limitação à liberdade de


disposição testamentária, também o legislador impõe à pessoa que observe,
nas doações que faz (naturalmente em vida), o referido princípio da
indisponibilidade da legítima, sob pena de se tornar inoficiosa a doação (art.
549, CC).

A doação inoficiosa é uma ofensa antecipada à legítima, logo o art. 549


do Código Civil é norma de ordem pública que age preventivamente, pois, do
contrário, haveria uma porta tão escancarada à fraude, que pouco adiantaria a
garantia da legítima aos herdeiros necessários.

Dessarte, se não houver ação para redução, em vida do doador, com


sua morte haverá a redução da liberalidade, se não há o dever de
colacionar [05] (por dispensa do doador ou por não se tratar de descendente nem
cônjuge).

Por fim, e com a mesma natureza, lembra Gonçalves [06] que, haverá
redução da liberalidade feita com iniquidade na chamada partilha-doação (art.
2.018, CC), aquela divisão antecipada da herança pelo ascendente, em forma
de doação, que, afinal, é exceção permitida e não fere a proibição de pacto
sucessório (art. 426, CC).

Exemplo ilustrativo desta última possibilidade, seria a partilha em que o


ascendente doasse a maior parte de seu patrimônio aos descendentes,
esquecendo-se do cônjuge (com direito de concorrência com descendentes [07])
ou mesmo deixando a descoberto algum dos descendentes, como um filho
por adoção ou um filho extramatrimonial não reconhecido.

4. IMPORTÂNCIA DO CÁLCULO
Aberta a sucessão, o cálculo se faz necessário sempre (e unicamente)
que aparecer, além do requisito herdeiro necessário, um dos seguintes:
testamento, doação e partilha-doação. Ou seja, havendo herdeiro necessário,
se houver testamento, doação ou partilha-doação, haverá o cálculo da legítima.

Esquematicamente:

- herdeiro necessário + testamento = cálculo da legítima;

- herdeiro necessário + doação = cálculo da legítima;

- herdeiro necessário + partilha-doação = cálculo da legítima.

Em todas essas hipóteses, o cálculo é imprescindível para se conferir a


legítima e, eventualmente, operar as reduções, pois só por meio do cálculo é
possível identificar eventual excesso e o quantum das reduções pertinentes.

Feito o cálculo, se este indicar excesso, significa que o de


cujus extrapolou sua liberdade de disposição, produzindo doação inoficiosa,
partilha-doação iníqua ou testamento redutível. Os dois primeiros, negócios
jurídicos inter vivos, o último, causa mortis.

Há uma distinção digna de nota: o momento referencial para o cálculo


da legítima é o momento da abertura da sucessão (art. 1.847 e art. 1.784, CC),
se o de cujus dispôs do acervo em testamento, mas será o momento da
doação (art. 549 e art. 2.007, CC), para o caso de doação e de partilha-doação.

Em miúdos: no caso de testamento redutível a base de cálculo é o


patrimônio do momento da morte; no caso de doação inoficiosa e de partilha-
doação iníqua, a base é o patrimônio no momento da consumação do contrato
de doação.

No tocante à doação inoficiosa, a expressão contrato de doação, nesse


contexto, deve ser tomada em sentido amplo, nela ínsitas quaisquer
liberalidades, como o perdão de dívidas, a reforma de um imóvel e o custeio de
um Curso de Mestrado no exterior.

5. CÁLCULO PASSO A PASSO


1º passo: o art. 1.847 do Código Civil é o centro desse cálculo, mas
não diz tudo: diz sobre que bens (bens existentes na abertura da sucessão);
manda abater as dívidas (do de cujus) e as despesas do funeral [08].

Essas dívidas são: tributo de transmissão causa mortis, custas judiciais


e débitos do de cujus (art. 1.997, CC), ou seja, as dívidas por ele contraídas em
vida [09], além dos dispêndios com a operação de transmissão.
É necessário, no entanto, cuidar da recomendação contida no
parágrafo único do art. 1.987, segundo o qual se houver despesa com vintena,
deve ser paga à conta da quota disponível.

Sendo assim, deixa-se essa despesa de lado até que se encontre o


valor da legítima e da quota disponível. Desta última sairá o montante para o
pagamento daquela obrigação.

2º passo: não se pode olvidar, porém, de que a legítima equivale à


metade desse valor encontrado (art. 1.846, CC).

E os bens sujeitos à colação (parte final do art. 1.847, CC)? Que são
bens sujeitos à colação ou colacionáveis? [10]

Com base na Lei (arts. 2.002 e 2.003, CC), Maria Helena explica que
é uma conferência dos bens da herança com outros transferidos pelo de cujus,
em vida, aos seus descendentes quando concorrerem à sucessão do
ascendente comum, e ao cônjuge sobrevivente, quando concorrer com
descendente do de cujus [11].

É isso. Doação a descendente, ou de um cônjuge a outro, vale por


adiantamento de herança (art. 544, CC), daí a exigência legal de colacionar,
para que seja equalizada a divisão da legítima.

3º passo: após encontrar aquele valor (1º passo) e dividi-lo ao meio (2º
passo), devem-se acrescentar eventuais bens colacionados, em atenção à
parte final do art. 1.847, CC, que traz a expressão em seguida, que está
alinhada com o parágrafo único do art. 2.002, CC: os bens colacionados são
computados na legítima, sem aumentar a parte disponível do acervo. O valor
encontrado é a legítima.

Logo:

- se da legítima subtrair os bens colacionados, encontra-se a quota


disponível;

- a "metade" a que se refere a lei, ao falar da legítima (art. 1.846, CC),


será maior que a outra "metade" (disponível – art. 1.789, CC) se houver
colação; e

- se não houver bens colacionáveis, a legítima será igual à quota


disponível, desde que não haja vintena a ser paga [12].

5.2 Doação inoficiosa e partilha-doação iníqua

Para se identificar a legítima frente a eventuais excessos nas


liberalidades por doação, segue-se o mesmo raciocínio, exceto num ponto: é
considerado o patrimônio no momento da consumação da doação.

5.3 Fórmula prática sugerida


Lg (legítima) = {[Hd – (d + f)]:2} + c

Onde:

a) Lg = legítima;

b) Hd = direitos da herança (patrimônio ativo);

c) d = dívidas do de cujus;

d) f = despesas do funeral;

e) c = bens colacionados.

5.3.1 Ilustração com análise teórico-prática

5.3.1.1 Testamento redutível

5.3.1.1.1 1º caso: sem colação

João faleceu solteiro e deixou um patrimônio de R$ 30.000,00. Entre


mensalidades devidas à UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, locação
de um imóvel e contas de água e energia elétrica deixou um total de R$
6.000,00 de débito. Sabendo-se que, com seu funeral foram gastos R$
2.500,00, calcule a legítima.

Lg = {[Hd – (d + f)]:2} + c

Lg = {[30.000 – (6.000 + 2.500)] : 2} + 0

Lg = {[30.000 – 8.500] : 2} + 0

Lg = {21.500 : 2} + 0

Lg = R$ 10.750,00

Observa-se que, como não há bens colacionados, esse é o valor


da legítima, que coincide, nesse caso, com o da quota disponível, por não ter
havido a despesa da vintena.

5.3.1.1.2 2º caso: com bens colacionados

João faleceu solteiro e deixou um patrimônio de R$ 30.000,00. Entre


mensalidades à UCDB, locação de um imóvel e contas de água e energia
elétrica deixou um total de R$ 6.000,00 de débito. Sabendo-se que, com seu
funeral foram gastos R$ 2.500,00, e que fizera, a um de seus filhos, doação no
valor de R$ 5.000,00, calcule a legítima.

Lg = {[Hd – (d + f)]:2} + c
Lg = {[30.000 – (6.000 + 2.500)] : 2} + 5.000

Lg = {[30.000 – 8.500] : 2} + 5.000

Lg = {21.500 : 2} + 5.000

Lg = 10.750 + 5.000

Lg = R$ 15.750,00

O que se observa? Como há bens colacionados, a legítima é maior que


a quota disponível. Para encontrar a quota disponível, basta subtrair o valor
colacionado (R$ 5.000,00), ou seja, legítima menos bens colacionados é igual
à quota disponível, com a fórmula sugerida:

Qd = Lg – c

Onde:

a) Qd = quota disponível;

b) Lg = legítima;

c) c = bens colacionados.

Assim, teremos:

Qd = Lg – c

Qd = 15.750 – 5.000

Qd = R$ 10.750,00

Se houvesse a despesa da vintena, só após a identificação da quota


disponível procederíamos ao seu pagamento, pois é dessa parte que ela deve
sair. Ora, se os bens colacionados são acrescidos somente à legítima e a
despesa da vintena recai apenas sobre a quota disponível, vê-se a
preocupação do legislador em prestigiar a garantia criada em favor dos
herdeiros reservatários, preservando a grandeza da garantia em detrimento da
disponibilidade dos bens.

5.3.1.1.3 3º caso: partindo do valor total de uma sociedade conjugal,


sem colação

João e Maria, casados em regime de comunhão universal de bens,


angariaram patrimônio ativo no valor de R$ 60.000,00. Sabendo-se que as
dívidas do casal totalizavam R$ 12.000,00 (quando João veio a óbito), e que
foram dispendidos R$ 2.500,00 em seu funeral, calcule a legítima.
Há uma premissa básica, imprescindível: os dados que dizem respeito
à sociedade conjugal devem ser transformados, dividindo-os, no presente caso,
ao meio. Ou seja, se o patrimônio é do casal, devo observar que apenas
metade é objeto da herança, assim como, se aquela dívida é da sociedade,
apenas parte dela pertence à herança de João. Vejamos:

Lg = {[Hd – (d + f)]:2} + c

Lg = {[30.000 – (6.000 + 2.500)] : 2 + 0

Lg = {[30.000 – 8.500] : 2} + 0

Lg = {21.500 : 2} + 0

Lg = R$ 10.750,00

5.3.1.1.4 4º caso: bens colacionados + valor total da sociedade


conjugal + doação feita pelo casal

João e Maria, casados em regime de comunhão universal de bens,


angariaram bens no valor de R$ 60.000,00. Sabendo-se que o casal doara R$
10.000,00 ao filho mais jovem, para ajudá-lo a alavancar uma pequena
empresa (lavadouro de carros e motos), e que as dívidas do casal totalizavam
R$ 12.000,00, quando João veio a óbito e, ainda, que foram dispendidos R$
2.500,00 em seu funeral, calcule a legítima.

Não se pode esquecer, repita-se, de que os valores fornecidos dizem


respeito a uma sociedade conjugal e que o cálculo, tão logo, há que incidir
somente sobre o objeto da herança. Assim:

Lg = {[Hd – (d + f)]:2} + c

Lg = {[30.000 – (6.000 + 2.500)] : 2} + 5.000

Lg = {[30.000 – 8.500] : 2} + 5.000

Lg = {21.500 : 2} + 5.000

Lg = 10.750 + 5.000

Lg = R$ 15.750,00

Nesse caso, em que há colação, sabemos que há diferença entre a


legítima e a quota disponível, pois só àquela acrescem os valores
colacionados, que a deixam maior. Para identificar a quota disponível, basta,
portanto, aplicar a fórmula:

Qd = Lg – c

Qd = 15.750 – 5.000
Qd = 10.750,00

Eis a quota disponível, mas não se pode esquecer de perquirir sobre


eventual vintena. Se houvesse vintena, desse valor encontrado ainda seria
abatida referida despesa.

Propositalmente não inserimos essa hipótese na fórmula para


identificação da quota disponível, por se tratar de uma despesa de rara
ocorrência e para não complicar os caminhos do cálculo.

Em todos esses casos, vê-se a pertinência do cálculo, pois se o


testamento extrapola a quota disponível, haverá redução das disposições
testamentárias (art. 1.967, CC).

5.3.1.2 Doação inoficiosa e partilha-doação iníqua

Já tivemos a oportunidade de observar que só muda o momento


referencial para verificação do patrimônio, nada mais. Todo o raciocínio,
dispendido para o cálculo de redução do testamento, é perfeitamente
aproveitável nos casos de conferência da legítima frente à doação inoficiosa e
partilha-doação iníqua, mudando-se apenas o momento de referência: aqui a
referência é o patrimônio no momento da consumação do contrato de doação.

Dessarte, no caso de doação, deve ser considerado o patrimônio


líquido do doador (resultado da soma de todos os direitos, abatidas as
obrigações).

6. CONCLUSÃO
Do breve ensaio, podemos colher as seguintes idéias:

a) legítima é a quota-ideal de metade do acervo, indisponível por força


de norma imperativa, que impõe o gravame em favor dos herdeiros
necessários;

b) o cálculo da legítima não é tão singelo quanto os menos iniciados


poderiam imaginar, mas é de suma importância para se verificar a adequação
da liberdade de disposição frente aos limites legalmente impostos;

c) não só no testamento, como na doação e na partilha-doação, o


disponente corre o risco de extrapolar seu poder de disposição, invadindo a
legítima;

d) o momento referencial para o cálculo varia, conforme se trate se


testamento redutível ou doação inoficiosa (aqui inclusa a partilha-doação
iníqua). Para o caso de testamento, o patrimônio que serve de base para o
cálculo é o do momento da abertura da sucessão, enquanto nos casos de
doação, o do momento em que se consumou a liberalidade;

e) com a fórmula sugerida, procede-se ao cálculo, que enseja a segura


identificação da legítima;

f) legítima e quota disponível só se equivalem se não houver colação


(direito que só acresce à legítima) nem vintena (despesa que só abate à quota
disponível), pois, do contrário, a legítima será sempre maior;

g) mesmo os dispensados de colacionar (por convenção ou por lei),


estão sujeitos à redução bastante para salvar a legítima de eventuais abusos;

h) encontrada a legítima, se há lesão, estamos diante do testamento


redutível, da doação inoficiosa e da partilha-doação iníqua, que terão, como
consequência, a redução das disposições causa mortis e inter vivos, vale dizer,
aquelas disposições feitas por testamento e por doação.

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