Você está na página 1de 13

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Cível nº __________________________________

Embargos de Declaração nº _____________________________________

_______ª Câmara de Direito Privado

NOME vem, por intermédio dos Defensores Pú blicos que


subscrevem o presente, com fundamento no artigo 102, III, alínea ‘a’, da Constituiçã o
Federal de 1988, e artigos 26 e ss. da Lei Federal nº 8.038/1990, interpor RECURSO
EXTRAORDINÁRIO contra v. acó rdã o proferido pela 4ª Câ mara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, amparado pelas razõ es inclusas.

Anota-se, desde logo, a tempestividade do presente recurso,


tendo em vista o disposto no artigo 128, I, da Lei Complementar nº 80/1994, que prevê a
contagem em dobro dos prazos processuais como prerrogativa dos membros da
Defensoria Pú blica. Requer, ainda, seja o presente recurso recebido e processado,
remetendo-se os autos ao C. Supremo Tribunal Federal para revisã o da matéria
debatida.

Termos em que, Pede deferimento.

Sã o Paulo, xxxxxxxxxxxxxxxxx

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


1
RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Recorrente:

Recorrido:

Embargos de Declaraçã o nº

– Açã o de Obrigaçã o de Fazer c.c. Indenizaçã o por Danos Morais

Origem: Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo – ___ª Câ mara de Direito Privado

Colendo Tribunal,

Eméritos Ministros,

I – DO CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

a) Da ofensa a dispositivos da Constituição Federal.

Por disposiçã o expressa contida no art. 102, inciso III, alínea ‘a’
da Constituiçã o Federal, caberá Recurso Extraordiná rio ao Supremo Tribunal Federal
quando a decisã o recorrida ofender disposiçõ es constitucionais.

Em resumo e tendo em vista que a matéria será melhor


analisada no mérito do presente recurso, o v. acó rdã o recorrido, da 4ª Câ mara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, contrariou expressas disposições
contidas nos artigos 5º, incisos IV, V, X, e 220, da Constituição Federal, bem como
no art. 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos.

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


2
b) Da repercussão geral

O presente caso se reveste de repercussã o geral na medida em


que se trata de matéria relativa à liberdade de expressã o e de imprensa, essencial para
que, num regime democrá tico, as autoridades pú blicas se sujeitem ao controle pú blico
de suas açõ es e omissõ es. Neste sentido, pessoas com conhecimento direto de
ilegalidades cometidas no exercício de funçã o pú blica devem estar cientes dos limites de
suas denú ncias, mas também da possibilidade de trazer a pú blico os fatos sobre os quais
tenham conhecimento sem que sejam indevidamente ameaçados e condenados por tal
atitude. Ademais, a matéria já foi apreciada neste E. STF (AI 675276 / RJ - RIO DE
JANEIRO, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Julgamento:
13/05/2010), havendo impactos relevantes do presente recurso no reconhecimento dos
limites de tais liberdades. Ainda, há repercussã o geral na discussã o sobre o
reconhecimento do status constitucional da Convençã o Americana de Direitos Humanos,
com implicaçõ es políticas e sociais de longo alcance, nã o apenas na seara interna, mas
também no cená rio internacional.

II – SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de açã o de obrigaçã o de fazer cumulada com


indenizaçã o por danos morais, com pedido de tutela antecipada proposta por NOME,
julgada parcialmente procedente pela r. sentença de fls. 320/329, em que o Juízo a quo:
a) acolheu os pedidos de obrigaçã o de fazer e nã o fazer, confirmando a antecipaçã o de
tutela, determinando a exclusã o do texto “Excelência precisamos de sua atençã o”,
publicado no blog “Infanciaurgente”, determinando, inclusive, que os réus se abstenham
de publicar o texto neste site ou em qualquer outro, seja ou nã o administrado pela ré

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


3
Google do Brasil Internet Ltda.; e b) acolheu o pedido de reparaçã o de danos morais em
face de NOME, condenando-o ao pagamento de indenizaçã o no valor de R$ 10.000,00,
com correçã o e juros de mora contados da ciência da sentença.

Inconformada, a ré Google do Brasil Internet Ltda. apelou da


r. sentença sustentando que: a) a mesma é extra petita, uma vez que, na petiçã o inicial
nã o foi formulado pedido de obrigaçã o de nã o fazer; b) nã o tem condiçõ es de fiscalizar
previamente os conteú dos divulgados por usuá rios em plataformas disponibilizadas por
ela; e c) a remoçã o de conteú dos deve ser precedida de indicaçã o da respectiva URL e de
sua aná lise pelo Poder Judiciá rio, nã o podendo ela ser compelida a retirar do ar todo e
qualquer conteú do que mencione o nome do autor. Requer, assim, o provimento do
recurso para que seja anulada a sentença e, subsidiariamente, para que seja reformada a
decisã o quanto à obrigaçã o que lhe foi imposta de inibir a veiculaçã o de conteú dos
relacionados ao autor de toda a internet.

O réu NOME também inconformado, interpô s recurso de


apelaçã o, alegando que: a) houve cerceamento de defesa e prejulgamento da demanda;
b) nã o há prova dos danos morais alegados; c) é protegido o direito à liberdade de
informaçã o; d) a carta publicada no blog ostenta cará ter informativo e crítico e,
inclusive, o blog tem cará ter jornalístico; e) o autor é pessoa pú blica e os fatos
divulgados referem-se ao exercício da sua funçã o, razã o pela qual existe interesse
pú blico na sua divulgaçã o; f) nã o há no texto ataque pessoal ao autor; g) o autor nã o quis
exercer o direito de resposta, deixando de apresentar sua versã o dos fatos; e, h) caso
mantida a condenaçã o, seja reduzida indenizaçã o para R$1.00,0, bem como que os
honorá rios advocatícios devem ser fixados no percentual de 10% sobre o valor da
condenaçã o. Assim, requer o provimento do recurso para que seja anulada a sentença e,
subsidiariamente, seja a demanda julgada improcedente ou, ainda, reduzidos os valores
da indenizaçã o e da verba honorá ria.

Em acó rdã o proferido pela 4ª Câ mara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, nos termos do voto do Relator, negou provimento à

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


4
apelaçã o do réu NOME e deu parcial provimento a apelaçã o da ré Google, para
reconhecer sua nã o obrigaçã o de exercer controle ou fiscalizaçã o prévia sobre o
conteú do inserido pelos usuá rios nas pá ginas dos blogs.

NOME opô s Embargos de Declaraçã o, os quais foram


rejeitados. Contudo, pelos argumentos que seguem, nã o pode prevalecer a decisã o
proferida pelo E. Tribunal de Justiça Estadual, razã o de afronta a dispositivos
constitucionais (art. 102, III, “a”, da Constituiçã o Federal).

III– NO MÉRITO - DA AFRONTA AS EXPRESSAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS

a) Da afronta aos artigos 5º, incisos IV, V, X, e 220, da Constituição Federal

Quando se trata de liberdade de expressã o, é imperativo


ressaltar a ampla proteçã o constitucional conferida a ela, sendo estes os principais
dispositivos constitucionais que permeiam o tema:

“Art. 5º Todos sã o iguais perante a lei, sem distinçã o de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
(...)
IV - é livre a manifestaçã o do pensamento, sendo vedado o
anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenizaçã o por dano material, moral ou à imagem; 
(...)
X - sã o inviolá veis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizaçã o pelo
dano material ou moral decorrente de sua violaçã o;
(...)
Art. 220. A manifestaçã o do pensamento, a criaçã o, a expressã o
e a informaçã o, sob qualquer forma, processo ou veículo nã o
sofrerã o qualquer restriçã o, observado o disposto nesta
Constituiçã o.”

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


5
Como visto, a Constituiçã o Federal consagra em diversos de
seus dispositivos a liberdade de expressã o do pensamento e a liberdade de crítica,
liberdades estas que, aliadas à possibilidade de utilização do direito de resposta,
sã o os mecanismos que permitem o livre trânsito de ideias em nossa sociedade,
permitindo à s pessoas que formem sua convicçã o sobre os mais variados temas, tudo
a fim de garantir o pluralismo democrá tico, base de nossa Repú blica.

Sendo esta liberdade de expressã o do pensamento crítico tã o


fundamentado em nossa Constituiçã o Federal, e tã o importante para a democracia, é
imperativo que se dê preferência ao direito de resposta frente à via cerceadora
do dano moral. Neste sentido a Constituiçã o Federal dispô s do direito de resposta no
inciso V do art. 5º, logo apó s tratar do direito de manifestaçã o do pensamento,
deixando clara sua conexã o em qualquer caso.

Dessa forma, o meio mais eficiente para manutençã o do regime


democrá tico, bem como para promover um debate saudá vel acerca de ideias tã o
essenciais na vida cotidiana, é o direito de resposta, devendo este ser preconizado
frente ao dano moral, a censura ou medidas criminais.

Assim, nã o se pode admitir violaçã o frontal aos dispositivos


constitucionais que dispõ em sobre este direito fundamental, que é o de manifestaçã o
do pensamento.

O art. 220 da Constituiçã o, transcrito anteriormente, é claro ao


dispor que a lei nã o conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena
liberdade de informaçã o jornalística em qualquer veículo de comunicaçã o social, aqui
abarcada a internet. Nesse sentido, o § 2º, deste mesmo artigo, dispõ e que é vedada
toda e qualquer censura de natureza política, ideoló gica e artística.

Tendo em vista tal constataçã o, é clara a violaçã o, aos referidos


dispositivos constitucionais, promovida pelo v. acó rdã o proferido pelo Juízo ad quem,

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


6
dispositivos estes que compõ e juntos este direito basilar de um Estado Democrá tico
de Direito.

Assim, vejamos o que dispô s o v. acó rdã o, que se valeu da


argumentaçã o do Juízo a quo:

“Por isso, irretocá veis as conclusõ es lançadas pelo Magistrado a


quo: Ainda que esteja sendo investigado e processado, poderia
o réu fazer apenas mençã o deste processo, com intuito
informativo, por se tratar de procedimento pú blico, mas,
jamais, atribuí-lo com certeza a prá tica destes fatos sem a
existência de sentença transitada em julgado.
(...)
Nesse passo, ainda que o texto tivesse cará ter jornalístico que,
nem de longe deve se encarado desta forma, posto a ausência
da ausência de comprovaçã o do exercício desta atividade pelo
autor, a responsabilidade pelo conteú do da informaçã o
também é de rigor.”

O disposto no v. acó rdã o demonstra sua total afronta aos


dispositivos constitucionais aqui citados, nã o apenas pela argumentaçã o, mas por
manter nã o a indenizaçã o por danos morais bem como a obrigaçã o de retirada do
conteú do e a proibiçã o de nova veiculaçã o do conteú do por parte do ora recorrente.

Em caso semelhante, já decidiu este E. Supremo Tribunal


Federal o seguinte:

AI 675276 / RJ - RIO DE JANEIRO


AGRAVO DE INSTRUMENTO
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 13/05/2010
Publicaçã o
DJe-095 DIVULG 26/05/2010 PUBLIC 27/05/2010
Partes
AGTE.(S) : RICARDO TERRA TEIXEIRA
ADV.(A/S) : JOSÉ MAURO COUTO DE ASSIS FILHO
AGDO.(A/S) : JOSÉ CARLOS AMARAL KFOURI

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


7
ADV.(A/S) : MÁ RCIO MARÇAL FERNANDES SOUZA E
OUTRO(A/S)LIBERDADE DE INFORMAÇÃ O. DIREITO DE
CRÍTICA. PRERROGATIVA POLÍTICO-JURÍDICA DE ÍNDOLE
CONSTITUCIONAL. MATÉ RIA JORNALÍSTICA QUE EXPÕ E
FATOS E VEICULA OPINIÃ O EM TOM DE CRÍTICA.
CIRCUNSTÂ NCIA QUE EXCLUI O INTUITO DE OFENDER. AS
EXCLUDENTES ANÍMICAS COMO FATOR DE
DESCARACTERIZAÇÃ O DO “ANIMUS INJURIANDI VEL
DIFFAMANDI”. AUSÊ NCIA DE ILICITUDE NO
COMPORTAMENTO DO PROFISSIONAL DE IMPRENSA.
INOCORRÊ NCIA DE ABUSO DA LIBERDADE DE
MANIFESTAÇÃ O DO PENSAMENTO. CARACTERIZAÇÃ O, NA
ESPÉ CIE, DO REGULAR EXERCÍCIO DO DIREITO DE
INFORMAÇÃ O. O DIREITO DE CRÍTICA, QUANDO MOTIVADO
POR RAZÕ ES DE INTERESSE COLETIVO, NÃ O SE REDUZ, EM
SUA EXPRESSÃ O CONCRETA, À DIMENSÃ O DO ABUSO DA
LIBERDADE DE IMPRENSA. A QUESTÃ O DA LIBERDADE DE
INFORMAÇÃ O (E DO DIREITO DE CRÍTICA NELA FUNDADO)
EM FACE DAS FIGURAS PÚ BLICAS OU NOTÓ RIAS.
JURISPRUDÊ NCIA. DOUTRINA. JORNALISTA QUE FOI
CONDENADO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃ O CIVIL POR
DANOS MORAIS. INSUBSISTÊ NCIA, NO CASO, DESSA
CONDENAÇÃ O CIVIL. IMPROCEDÊ NCIA DA “AÇÃ O
INDENIZATÓ RIA”. CONVERSÃ O DO AGRAVO DE
INSTRUMENTO EM RECURSO EXTRAORDINÁ RIO, QUE,
PARCIALMENTE CONHECIDO, É , NESSA PARTE, PROVIDO.

Frise-se que a liberdade de expressã o e de pensamento nã o se


restringe a profissionais de imprensa com registro profissional, mas respalda qualquer
cidadã o na atividade de noticiar fatos de que tenha conhecimento.

Ora, se é pressuposto à nossa democracia a liberdade de


expressã o, e se a pró pria Constituiçã o Federal prevê a vedaçã o à censura ou licença para
o exercício deste direito, o que o Juízo ad quem fez foi justamente o oposto, mantendo
duas sançõ es ao recorrente NOME, ofendendo dispositivos constitucionais.

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


8
Assim, deve ser reconhecida a afronta ao Art. 5º, inciso IV, pois
é livre a manifestaçã o do pensamento, nã o tendo havido anonimato ou excesso; inciso V,
pois poderia a questã o ser resolvida com o direito de resposta; inciso X, pois inexistiu
ato ilícito, sendo a publicaçã o respaldada por liberdades constitucionais; art. 220, pois a
exclusã o do texto implica em indevida restriçã o, afrontando o texto constitucional.

b) Da afronta ao art. 13 da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos

O art. 13 da Convençã o Americana de Direitos Humanos de


1969 foi recepcionado como texto constitucional devido a sua ratificaçã o pelo Brasil e
pela sua internalizaçã o por meio do Decreto n. 678/92, vejamos:

“Art. 1° A Convençã o Americana sobre Direitos Humanos


(Pacto de Sã o José da Costa Rica), celebrada em Sã o José da
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por có pia ao
presente decreto, deverá ser cumprida tã o inteiramente como
nela se contém.”

Partindo desta premissa, temos que, pelo fato do Pacto de San


Jose da Costa Rica ter sido ratificado em 1992, portanto, entre a promulgaçã o de 1988 e
a EC nº 45/2004, ele se adiciona à Constituiçã o escrita, equivalendo-se à mesma,
conforme já preconizava o art. 5º, §2º, da CF, que dispõ e:

“Os direitos e garantias expressos nesta Constituiçã o nã o


excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repú blica
Federativa do Brasil seja parte.”

Assim, o §3º do art. 5º da CF, acrescentado pela Emenda


Constitucional n. 45/04, endossa que, a partir de sua promulgaçã o, para os tratados de
direitos humanos ratificados pelo país terem hierarquia constitucional, os mesmos

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


9
devem ser votados e aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos. Ou seja, até a promulgaçã o da Emenda Constitucional n. 45/04 os
tratados de direitos humanos nã o precisam passar por votaçã o qualificada para terem
hierarquia constitucional, sendo necessá rio apenas sua ratificaçã o para tanto.

Nesse sentido, o Exmo. Min. Celso de Mello, em seu voto no RE


n. 466.343/SP, entende que:

“Apó s muita reflexã o sobre esse tema, e nã o obstante


anteriores julgamentos desta Corte de que participei como
Relator (RTJ 174/463-465 - RTJ 179/493-496), inclino-me a
acolher essa orientação, que atribui natureza
constitucional às convenções internacionais de direitos
humanos, reconhecendo, para efeito de outorga dessa
especial qualificação jurídica, tal como observa CELSO
LAFER, a existência de três distintas situaçõ es concernentes a
referidos tratados internacionais:
(1) tratados internacionais de direitos humanos celebrados
pelo Brasil (ou aos quais o nosso País aderiu), e regularmente
incorporados à ordem interna, em momento anterior ao da
promulgaçã o da Constituiçã o de RE 466.343 / SP 1988 (tais
convençõ es internacionais revestem-se de índole
constitucional, porque formalmente recebidas, nessa condiçã o,
pelo § 2º do art. 5a da Constituiçã o) ;
(2) tratados internacionais de direitos humanos que venham a
ser celebrados pelo Brasil (ou aos quais o nosso País venha a
aderir) em data posterior à da promulgaçã o da EC nº 45/2004
(essas convençõ es internacionais, para se impregnarem de
natureza constitucional, deverã o observar o "iter"
procedimental estabelecido pelo §3º do art. 5º da
Constituiçã o); e
(3) tratados internacionais de direitos humanos
celebrados pelo Brasil (ou aos quais o nosso País aderiu)
entre a promulgação da Constituição de 1988 e a
superveniência da EC nº 45/2004 (referidos tratados
assumem caráter materialmente constitucional, porque
essa qualificada hierarquia jurídica lhes é transmitida por
efeito de sua inclusão no bloco de constitucionalidade, que
é "a somatória daquilo que se adiciona à Constituição
escrita, em função dos valores e princípios nela
consagrados")”.

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


10
Nã o obstante o resultado final do referido julgamento,
reconhecendo como supralegal, e nã o como constitucional o tratado em questã o, certo é
que, por um lado, a questã o pode novamente ser suscitada nesta E. Corte em razã o de
nova composiçã o da mesma e, por outro lado, ainda que se reconheça o status do tratado
como supralegal, caberia a este Supremo Tribunal Federal reconhecer violaçã o a
disposiçã o do tratado.

Assim, vejamos o que dispõ e o art. 13 da Convençã o Americana


sobre os Direitos Humanos:

“Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressã o


1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de
expressã o. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e
difundir informaçõ es e idéias de qualquer natureza, sem
consideraçõ es de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em
forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua
escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente nã o pode
estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades
ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que
se façam necessá rias para assegurar:
a) o respeito dos direitos e da reputaçã o das demais pessoas;
b) a proteçã o da segurança nacional, da ordem pú blica, ou da
saú de ou da moral pú blicas.
3. Nã o se pode restringir o direito de expressã o por vias e
meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou
particulares de papel de imprensa, de frequências
radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na
difusã o de informaçã o, nem por quaisquer outros meios
destinados a obstar a comunicaçã o e a circulaçã o de idéias e
opiniõ es.
4. A lei pode submeter os espetá culos pú blicos a censura
prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para
proteçã o moral da infâ ncia e da adolescência, sem prejuízo do
disposto no inciso 2.
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem
como toda apologia ao ó dio nacional, racial ou religioso que

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


11
constitua incitamento à discriminaçã o, à hostilidade, ao crime
ou à violência.”

O artigo transcrito acima tem redaçã o semelhante ao disposto


na Constituiçã o Federal. Assim, temos que a liberdade de expressã o é direito essencial
para o exercício da democracia, de modo que, toda pessoa tem direito à liberdade de
pensamento e de expressã o, nã o podendo a manifestaçã o deste direito ser considerada
um ato ilícito, devendo sempre haver respaldo legal, claro e pontual, acerca do ilícito
considerado.

Ademais, o conteú do publicado junto ao blog “Infanciaurgente”,


tem claro conteú do de interesse pú blico, nesse sentido, conforme já aduzido no recurso
de apelaçã o, a publicaçã o cumpriu o requisito da “relevâ ncia pú blica” ao dar visibilidade
a fatos havidos em estabelecimento pú blico e destinado a cuidar das novas geraçõ es
deste Estado.

Desta forma, afastada a hipó tese de ataque pessoal do ora


recorrente à pessoa do recorrido, e presente o interesse pú blico dos fatos narrados,
nada de ilegal houve na publicaçã o da referida carta no blog do recorrente. E, neste
ponto, agiu o recorrente dentro do espaço de liberdade que lhe confere a Convençã o
Americana sobre os Direitos Humanos.

Dessa forma, o v. acó rdã o recorrido, em sentido contrá rio ao


disposto no Pacto de Sã o José da Costa Rica, dispô s:

“Assim, ainda que a carta tenha sido veiculada em blog mantido


pelo réu NOME com o intuito de divulgar informaçõ es, deve ele
responder pelos excessos que praticou.”

Ora, nã o houve qualquer excesso por parte do NOME, havendo


embasamento constitucional, por meio do Pacto de Sã o José da Costa Rica ratificado pelo
Brasil, para a sua manifestaçã o acerca de algo que é, claramente, de interesse pú blico.

Assim sendo, o v. acó rdã o do Juízo ad quem fere frontalmente a


liberdade de pensamento e de expressã o preconizada no Pacto de Sã o José da Costa Rica,

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


12
devendo ser reconhecido sua afronta ao art. 13 da Convençã o Americana sobre os
Direitos Humanos, recepcionada no ordenamento brasileiro como texto da Constituiçã o
Federal.

IV – DO PEDIDO

Posto isso e pelo mais que dos autos consta, requer seja o presente
Recurso extraordiná rio conhecido e provido para o fim de declarar a afronta ao artigo
186, do Código Civil, e ao art. 13, da Convenção Americana sobre os Direitos
Humanos, reformando-se a decisão recorrida para julgar improcedentes os
pedidos de danos morais e obrigação de fazer.

Termos em que,

Pede deferimento.

Sã o Paulo, xxxxxxxxxxx

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX

Regional/Unidade – Endereço – Telefone – Cidade - CEP


13

Você também pode gostar