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PROCESSO DE CONHECIMENTO – UN 01

1.0 Formação do processo e petição


inicial
Neste tópico, abordaremos o ato inicial de instauração do processo
representado pelo protocolo da petição inicial. Trata-se da peça de ingresso
que expõe do que se trata a demanda sobre a qual versará o processo. É a
petição que fundamenta juridicamente o direito pleiteado e expõe qual o
direito que a parte pretende que seja satisfeito com aquela demanda. No
Código de Processo Civil (CPC), Lei nº 13.105/2015, a formação do processo é
tratada no artigo 312, enquanto a petição inicial é tratada nos artigos 319 a
331.

1.1 Petição inicial e demanda


O processo é, sinteticamente, um conjunto de normas aplicáveis a
procedimentos judiciais. Estas normas têm o objetivo de dirimir conflitos
gerados no âmbito de uma relação jurídica entre sujeitos.
O processo se inicia com o protocolo da petição inicial, que representa a
propositura da demanda naquela data específica, conforme artigo 312 do
CPC, que diz: “Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for
protocolada. Todavia, a propositura da ação só produz os efeitos
mencionados quanto ao réu no art. 240 depois que for validamente citado”.
A propositura da demanda inaugura uma série de atos processuais que se
seguirão, formando a relação processual entre as partes do processo, bem
como entre estas e aquela jurisdição.

A petição inicial não se confunde com a demanda, mas é a forma pela qual a
demanda se materializa no mundo jurídico, como se a petição inicial fosse um
recipiente e a demanda o líquido que o preenche.

A partir da propositura da ação, o processo passa a produzir efeitos para o


autor, gerando litispendência. No entanto, ele só passa a produzir efeitos
para o réu a partir da citação.
A propositura da demanda induz litispendência e torna litigiosa a coisa em
relação ao autor, enquanto que os efeitos do artigo 240 do CPC, que incluem
também a constituição de mora do devedor, apenas fazem efeito em relação
ao réu depois da citação válida.
Desses efeitos é muito importante destacar a litispendência, que é o efeito
verificado quando se repete ou reproduz uma ação que esteja em curso ou
que foi anteriormente ajuizada. Nesse caso, nos termos do § 2º do artigo 337
do CPC, consideram-se idênticas as ações que possuírem mesmas partes,
mesma causa de pedir e mesmo pedido. Sendo assim, ao inaugurar uma
demanda judicialmente, é importante verificar se a ação idêntica está – ou já
esteve – em curso, uma vez que a propositura da demanda é o momento em
que se verifica se há litispendência ou não.

Nos dizeres de Fredie Didier Jr. (2015, p. 548):


“A demanda é o conteúdo da petição inicial. Forma é o meio pelo qual a vontade se
expressa, se exterioriza. Ao tempo em que serve para exteriorizar a vontade, a
forma serve de prova para o ato jurídico. Para maior segurança, a lei às vezes impõe
que determinados atos jurídicos se revistam de determinada forma. A demanda é
deles. O estudo dos requisitos da petição inicial (...) não passa de estudo dos
requisitos formais do ato jurídico demanda. Como a demanda tem a função de
bitolar a atividade jurisdicional [...] costuma-se dizer que a petição inicial é um
projeto de sentença: contém aquilo que o demandante almeja ser o conteúdo da
decisão que vier a acolher seu pedido.”

Desse modo verifica-se que a demanda expressa por meio da petição inicial
é a delimitação daquilo que poderá ser objeto da tutela jurisdicional. Desta
forma, a decisão proferida futuramente só poderá alcançar os limites
daquele direito que foi contemplado na petição inicial, sem poder aumentar
ou reduzir o seu alcance.

1.2 Requisitos da petição inicial


Conforme dito, a petição inicial é a forma que a demanda toma, o que
significa que o conteúdo deve ser expresso conforme determinados
requisitos para que seja considerado juridicamente válido.
Tais requisitos encontram-se expressos nos artigos 319 a 321 do CPC e
indicam as informações básicas que a petição inicial deve conter, bem como
as medidas tomadas pelo autor ou pelo magistrado caso não se verifique o
cumprimento de tais regras. É importante ressaltar que a petição deve ser
apresentada de forma escrita, com sua autoria identificada e data de
assinatura, sendo a postulação oral medida de exceção prevista em
legislação específica.
Conforme o artigo 319, são pressupostos básicos da petição inicial:
(i) o juízo a que a petição é dirigida

(ii) a qualificação das partes, composta pelos nomes, prenomes, estado civil,
a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no CPF
ou no CNPJ, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e
do réu

(iii) o fato e os fundamentos jurídicos do pedido

(iv) o pedido com suas especificações

(v) o valor da causa

(vi) as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados

(vii) a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou


mediação

O juízo a que a petição é dirigida é o foro identificado como competente para julgar
aquela demanda, e deve ser indicado no cabeçalho da petição inicial designando-se
a unidade territorial (comarca ou seção judiciária), bem como a qualidade do
magistrado que receberá originariamente a demanda. Como exemplo: Exmo. Sr.
Juiz de Direito da __ Vara da Fazenda Pública da Comarca de Florianópolis/SC; ou
Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Cível da Seção Judiciária de São Paulo/SP.

As regras para determinar qual foro é o competente para julgar determinada


demanda estão insculpidas nos artigos 42 a 66 do CPC, e estabelecem qual juízo
poderá julgar aquela demanda específica em razão do território, da matéria a ser
julgada, da qualidade das partes envolvidas no processo ou do valor da causa.

A qualificação das partes é o simples preenchimento das informações


pessoais das partes, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas.
Conforme o § 1º do artigo 319 do CPC, caso o autor não possua tais
informações, poderá requerer ao juiz as diligências judiciais necessárias para
a obtenção dos dados do réu. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o réu
tem moradia incerta ou seu nome é desconhecido.
Como tratado acima, o objetivo da qualificação das partes é a adequada
citação do réu de modo que, conforme o § 2º do artigo 319 CPC, mesmo que
alguma das informações não esteja presente, a petição inicial não será
indeferida caso as informações ali contidas sejam suficientes para o sucesso
na citação do réu.
A terceira exceção é aquela prevista no § 3º do artigo 319 do CPC, a qual
determina que a inicial será aceita, mesmo sem os dados necessários,
quando a obtenção das informações se tornar impossível ou excessivamente
custosa. Um exemplo para esse caso é quando o réu é indeterminado ou
numeroso, como nos casos de ocupação irregular de uma aglomeração de
pessoas, em ações possessórias, em que pode ser impossível para o autor
precisar quantas e quais pessoas deveriam compor o polo passivo da ação.
O fato e os fundamentos jurídicos são também conhecidos como causa de
pedir. Conforme define Didier (2015, p. 551),
“A causa de pedir é o fato ou o conjunto de fatos jurídicos (fato(s) da vida
judicializado(s) pela incidência da hipótese normativa) e a relação jurídica, efeito
daquele fato jurídico, trazidos pelo demandante como fundamento do seu
pedido.[...] Tem, assim, o autor de, em sua petição inicial, expor todo o quadro fático
necessário à obtenção do efeito jurídico perseguido, bem como demonstrar como
os fatos narrados autorizam a produção desse mesmo efeito (deverá o autor
demonstrar a incidência da hipótese normativa no suporte fático concreto).”

Isso significa que o autor deverá narrar o fato e descrever qual a


consequência jurídica dele que gerou o direito que se está postulando por
meio da demanda, ou seja: qual fato e qual a relação jurídica consequente.
Desse modo não poderá haver demanda genérica, mas apenas uma
demanda que se amolde a uma situação, ou a uma pluralidade de situações
concretas fáticas vividas pelo autor de modo concreto e individualizado.
Situação essa que produziu efeitos no mundo jurídico e que gerou o litígio
objeto da proposição judicial. Importante destacar que todo os fatos
alegados deverão ser passíveis de prova, seja já constituída na petição inicial
por meio de documentos, ou por meio de outras provas admitidas que serão
produzidas ao longo do processo como oitiva de testemunhas ou perícia
técnica.
É interessante citar a reprodução de esquema gráfico elaborado por Didier
(2015, p. 554), por meio da qual são descritas as etapas que levarão à
formação da causa de pedir, que culminará no pedido:
#PraCegoVer: Tabela com organograma: o primeiro quadrado possui a
palavra "Incidência". Dele sai uma seta que passa por dois quadrados um ao
lado do outro: "Fato ou conjunto de fatos" e "Hipótese normativa". A seta
passa por eles e chega ao quadrado com o dizer: "Fato jurídico (causa de
pedir)". Deste, uma seta liga ao quadrado com "Relação jurídica substancial
deduzida", do qual saem duas setas. A da esquerda vai até o quadrado
"Situação jurídica passiva (dever jurídico legal, obrigação, etc.). A seta da
direita vai para o quadrado "Situação jurídica ativa (direitos subjetivos,
interesses juridicamente tutelados etc.). Destes dois quadrados da esquerda
e direita, saem setas que se unem e vão ao final, que indica "Pedido (efeito
jurídico pretendido)".
Seguindo os requisitos da petição inicial, após delineada a causa de pedir,
conforme descrito acima, é necessário que se realize o pedido que é a
delimitação do que se quer por fim.
Ainda, conforme os artigos 291 a 293 do CPC, é necessário que se indique o
valor da causa em número certo e expresso em moeda nacional, o qual
deverá exprimir o real proveito econômico envolvido em discussão, ou
evidenciar tal impossibilidade caso não haja conteúdo econômico
imediatamente aferível, conforme parâmetros estimativos previstos no
artigo 292 do CPC. O valor da causa será importante fator para o cálculo de
despesas judiciais e honorários sucumbenciais, motivo pelo qual se faz
importante que seja preciso, podendo inclusive ser impugnado pelo réu em
preliminar de contestação, conforme artigo 293 do CPC.

O inciso V do artigo 292 determina que, na ação indenizatória, o valor da causa


corresponderá ao valor pretendido. Isso não significa, contudo, que o autor da
causa não possa fazer pedido genérico, requerendo que o juiz arbitre o valor da
indenização. Conforme entendimento do STJ (REsp 693.172/MG, 12/9/2005 e REsp
1321219 de 04/05/2017) o pedido de indenização pode ser genérico. Apenas
quando o valor pretendido for expressamente indicado pelo autor, ele deverá ser
idêntico e vinculado ao valor da causa.

O próximo requisito trata da indicação das provas que se pretende produzir.


Entretanto, essa não é a indicação definitiva das provas que serão de fato
produzidas no processo, tendo em vista que o juiz pode determinar a
produção de provas nos termos do artigo 370 do CPC. Desta forma, é na fase
de saneamento do processo que as partes serão intimadas a indicar as
provas que pretendem produzir.
Por fim, a petição inicial deverá conter a opção por realizar ou não a
audiência de conciliação ou mediação. Sendo facultativa, ela ocorrerá caso o
autor assim opte, antes da oportunidade de defesa por parte do réu, com o
objetivo oportunizar que o litígio se finalize em uma composição amigável.
Caso o autor não indique sua vontade, ela será presumida e o juiz agendará
a audiência, independentemente de emenda à inicial.
Além dos requisitos inerentes ao conteúdo da petição inicial, o artigo 320 do
CPC determina que esta deverá ser instruída com os seguintes documentos
indispensáveis à propositura da ação: os documentos que comprovam a
qualificação da parte autora, conforme indicado na inicial; a procuração que
outorga poderes ao advogado do autor (art. 287 do CPC), que a lei
expressamente exige; e documentos que sejam aptos a provar o direito, já
que o momento para produção de prova documental é, em regra, no
momento da propositura.
A produção documental deve provar, quando suficiente, todos os fatos
alegados, já que o ônus de provar o que alega, em regra, é do autor da
demanda.
Entretanto, é importante observar que a petição inicial não é o único
momento de produção de prova no processo, já que é possível ao autor: (i)
produção de prova documental posterior, após a fase de saneamento do
processo; (ii) requerer que o juiz diligencie para a obtenção de documentos
necessários a provar o direito; e (iii) requisitar que o réu exiba documentos
dos quais tem posse, e que são necessários ao deslinde da demanda.

1.3 Emenda da petição inicial


Vimos, portanto, o que uma petição inicial deve conter para que seja deferida
pelo juiz e para que se dê prosseguimento à demanda. Entretanto, pode
acontecer de algum dos requisitos formais não ser observado pela parte
autora, mas se tratar de algo que possa ser corrigido ou sanado, não
justificando que o juiz cancele todo o processo por este motivo, já que ele
pode ser consertado pelo autor.
Diante de tal situação, o artigo 321 do CPC determina que quando o juiz
verificar que algum dos requisitos dos artigos 319 e 320 está faltando ou
apresenta irregularidades capazes de prejudicar o julgamento futuro da
demanda, deverá determinar que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias,
emende ou complete a petição.
Neste caso, o juiz deverá indicar e descrever de modo pormenorizado qual
requisito entende estar omisso ou incompleto na petição inicial,
demonstrando objetivamente ao autor o que deve ser corrigido para que a
petição seja deferida.
Emendar a inicial é, portanto, corrigir um vício apontado pelo juiz como
essencial para a solução da lide. Essa determinação pode ser feita quantas
vezes o juiz entender necessário, sempre que entender que o defeito é
sanável, com o objetivo de evitar que o processo se perca em razão de
requisitos formais, os quais são importantes para o processo mas não
podem prejudicar a solução de conflitos.
Caso o autor não cumpra a diligência requerida pelo juiz, a petição inicial será
indeferida, conforme prescreve o parágrafo único do artigo 321 do CPC.

1.4 Indeferimento da petição inicial:


considerações gerais e hipóteses

Conforme já tratado, a petição inicial deve obedecer a uma determinada


forma. A demanda deve possuir pertinência e determinados documentos
deverão compor a petição. Caso não sejam cumpridas tais premissas, a
petição inicial será indeferida, conforme autoriza o artigo 321 do CPC,
impedindo de modo liminar o prosseguimento da causa, antes que o réu seja
ouvido. O momento do indeferimento da inicial é muito importante, pois
mata a causa antes mesmo que ela exista e produza efeitos no mundo
jurídico. Após a praticar outros atos processuais, como a citação do réu, já
não é mais possível que se indefira a inicial, pois a demanda já terá iniciado
a produção de efeitos no mundo jurídico.
Isso não significa que o juiz não possa extinguir posteriormente o processo
por outros motivos processuais verificados após o prosseguimento válido do
feito (conforme art. 485 do CPC). Significa apenas que esse é o único
momento que o feito poderá ter fim com fundamento no indeferimento da
petição inicial.
Conforme lição de Didier (2015, p. 558):
“É o indeferimento [da petição inicial] uma hipótese especial de extinção do
processo por falta de um “pressuposto processual”. A petição inicial válida é um
requisito processual de validade, que, se não preenchido, implica extinção do
processo sem exame do mérito. Se o defeito se revelar macroscopicamente, é o
caso de indeferimento; se o magistrado tiver ouvido o réu para acolher a alegação
de invalidade, não é mais o caso de indeferimento, mas sim de extinção com base
no art. 485, IV do CPC. A distinção é importante, pois o regramento do art. 331 do
CPC somente se aplica à decisão que indefira a petição inicial, bem como, sendo
liminar a sentença, não se condenará o autor ao pagamento de honorários
advocatícios em favor do réu ainda não citado.”

Ou seja, é justamente pelo fato de a petição inicial não produzir qualquer


efeito jurídico em relação a qualquer pessoa que ela pode ser indeferida sem
quaisquer ônus à parte autora, como se o processo não houvesse sido
iniciado para o mundo jurídico. Isso não acontece quando outros atos
processuais são praticados, o que envolve o réu na demanda e passa a
produzir efeitos, gerando consequências processuais, como é o caso do
pagamento de honorários advocatícios conforme exemplo supracitado pelo
doutrinador.
Observe-se que o indeferimento da inicial não resolve o mérito,
possibilitando que a demanda seja novamente proposta caso corrigidos os
vícios que motivaram o indeferimento, quando possível. A decisão que
indefere a petição inicial apenas declara que aquela demanda, do modo
como foi apresentada, não poderá nem mesmo ser apreciada pelo juízo,
tendo em vista o fato jurídico que impede o prosseguimento do feito.
Outro efeito do modo de indeferimento da petição inicial é o recurso cabível
diante da decisão proferida. Quando a demanda versar sobre diversas
causas de pedir, o indeferimento da inicial pode ser parcial, ou seja, em
relação a apenas parte da pretensão jurídica, seguindo o feito em relação à
parte que o juiz entende como apta de prosseguimento, cabendo agravo (nos
termos do art. 1015 do CPC) face à decisão, que será interlocutória. Quando
se tratar de uma causa de pedir indivisível, o indeferimento da inicial
implicará na prolação de uma sentença que extinguirá o feito sem resolução
de mérito, contra a qual poderá ser interposto o recurso de apelação.
Caso a decisão seja proferida em tribunal, monocraticamente ou em
instância colegiada, a decisão também terá características diferentes,
cabendo outros recursos.
Conforme lição de Didier (2015, p. 560):
“Com base nisso, pode-se estabelecer o sistema recursal da decisão que indefere a
petição inicial:

a) se se tratar de um indeferimento parcial feito por juízo singular (decisão


interlocutória), o recurso cabível é o agravo de instrumento (art. 354, par. Ún, CPC;);

b) se se tratar de indeferimento total do feito por juízo singular, será apelação;

c) contra indeferimento total ou parcial feito por decisão do relator, caberá agravo
interno;

d) contra indeferimento total ou parcial feito por acórdão, caberão, conforme o


caso, recurso ordinário constitucional, recurso especial ou recurso extraordinário.”

As hipóteses de indeferimento da petição inicial estão contidas no artigo 330


do CPC, e seus efeitos no artigo 331 do CPC.
Conforme o Código de Processo Civil a petição inicial será indeferida quando:
(i) for inepta; (ii) a parte for manifestamente ilegítima; (iii) o autor carecer de
interesse processual; (iv) não forem atendidas as prescrições dos arts. 106 e
321.
O Artigo 331 trata dos efeitos jurídicos do indeferimento da petição inicial
que são: (i) o cabimento do recurso de apelação; (ii) a possibilidade de que o
juiz se retrate no prazo de 5 (cinco) dias contados da apelação. O réu deverá
ser citado para responder à apelação, caso não haja retratação por parte do
juiz, ou intimado do trânsito em julgado quando não houver interposição de
apelação.
Caso, em sede de recurso, o tribunal reforme a decisão, o novo prazo para
contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos à primeira
instância.
Para a compreensão das hipóteses elencadas no artigo 330 é necessário o
entendimento de determinados conceitos que não se encontram explícitos
no texto da lei, exceto pela petição inepta, que é definida no § 1º do citado
artigo.
1.5 Inépcia da inicial
Conforme o § 1º do artigo 330 do CPC, a inicial será considerada inepta
quando faltar pedido ou causa de pedir; quando apresentar pedido
indeterminado não albergado pelas hipóteses legais que permitirem pedido
genérico; quando a narração dos fatos não levar logicamente à conclusão ou
contiver pedidos incompatíveis entre si.
Observe que os defeitos elencados pelo CPC estão todos ligados a vícios que
impedem ou obstaculizam o julgamento do feito, tendo em vista que não é
possível que se julgue uma demanda que não explicite o que se pretende, ou
que não haja fatos e fundamentos que justifiquem o pedido, ou que formule
pedidos que se anulem ou que sejam contraditórios.
A inépcia da inicial decorre da ausência da identificação dos limites e
fundamentos da demanda, impossibilitando ao magistrado delimitar a
respeito do que, de fato, versa a demanda. Desta forma, torna-se impossível
alcançar o mérito da questão, que não pode ser identificado naquela petição
inicial inepta. A inépcia é, portanto, uma ausência de possibilidade de
identificação e de reconhecimento do que deve ser julgado.
A ausência de pedido ou de causa de pedir impede a delimitação da
demanda. O juiz não consegue verificar até onde pode julgar, tendo em vista
que diversas informações essenciais estão ausentes ou incompletas,
tratando-se de uma demanda obscura.
O pedido e seus requisitos serão melhor abordados no tópico seguinte,
mesmo assim é importante destacar que o pedido deverá ser certo e
determinado, sendo que o pedido indeterminado, quando a lei não autorizar
pedido genérico, é outra das causas de inépcia da inicial. Isso se justifica
porque a decisão de mérito oferta uma resposta a um pedido. Se não é
possível identificar precisamente qual é o pedido, não é possível também
conferir-lhe uma resposta adequada.
A terceira hipótese de inépcia da inicial trata do pedido, abordando a
coerência da demanda. Não é possível que a narração dos fatos e
fundamentos verse sobre um determinado tema enquanto o pedido seja a
respeito de outro. Por exemplo: em uma ação possessória em que se discute
a desocupação de determinado imóvel, o pedido não pode versar sobre
demarcação de terras. Outro exemplo é quando a demanda versa sobre
descumprimento contratual e o autor requer anulação do contrato,
enquanto deveria pedir resolução do contrato.
Por fim, também a respeito do pedido, a quarta hipótese legal é a de que,
quando há mais de um pedido cumulativamente, estes não podem ser
incompatíveis entre si, pois um pedido anula o que é pretendido no outro. É
importante lembrar que nesse caso os pedidos são válidos, mas não
poderiam estar na mesma petição inicial por se tratar de pedidos
contraditórios, o que leva à conclusão de que, nesse caso, é adequado que o
juiz intime a parte a optar por um dos dois pedidos e não simplesmente
indefira a inicial de plano.
Além das hipóteses dos incisos do artigo 330, o CPC traz outra hipótese de
inépcia da inicial em seu § 2º, que elenca requisitos específicos para ações
que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo,
de financiamento ou alienação de bens. Nesse caso, o autor deverá
descrever quais das obrigações contratuais está contestando
especificamente, além de demonstrar e quantificar qual valor discutido é
incontroverso e qual está sendo objeto de discussão. Assim como no caso
anterior, trata-se de vício sanável, em que é mais adequado que o juiz intime
a parte a completar o pedido do que indefira a inicial.
O § 3º apenas determina que, nas hipóteses do § 2º, o autor deverá
permanecer adimplindo as eventuais parcelas incontroversas, regra de
direito material.

1.6 Ilegitimidade da parte


A ilegitimidade da parte, nos termos do inciso II do artigo 330, verifica-se
quando o sujeito indicado como parte na petição inicial não é o titular
daquela relação jurídica que está sendo discutida na demanda, seja como
autor ou como réu.
É o caso, por exemplo, de uma pessoa pleitear em nome próprio o direito de
outrem, ou quando indica-se um réu que não praticou nenhuma ação contra
o autor, o que acontece muito quando, na existência de grupo econômico de
conhecimento notório, indica-se empresa do grupo que não foi exatamente
aquela que estabeleceu a relação jurídica com o autor.
Nesse caso, por se tratar de vício sanável, o ideal é que o juiz determine a
emenda da petição inicial, intimando o autor para que indique corretamente
a parte que compôs a relação jurídica que está sendo discutida.

1.7 Ausência de interesse processual por


parte do autor
O interesse processual diz respeito à relação entre o autor da demanda e o
objeto da demanda: o bem pretendido. É a definição entre o que está sendo
pedido e o direito e necessidade que o autor tem de pedir aquele bem
jurídico.
Também diz respeito à relação da parte com o processo. Não há interesse
processual, nos termos do inciso III do artigo 330, quando o processo não
seria necessário para a obtenção do pedido ou quando o procedimento
adotado não é o meio adequado para fazer aquele pedido.

1.8 Não atendimento das prescrições dos


artigos 106 e 321
Por fim, o último motivo de indeferimento da petição inicial, previsto no
inciso IV do artigo 330, é o descumprimento dos requisitos insculpidos nos
artigos 106 e 321 do CPC.
O artigo 106 trata dos requisitos para que advogados postulem em causa
própria. No caso, além de observar todos os requisitos dos artigos 319 e 320,
o advogado deverá também indicar seu número de inscrição na Ordem dos
Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa,
ou outro endereço para recebimento de intimações. Conforme o § 1º do
artigo 116, caso o advogado não cumpra os requisitos do inciso I, deverá ser
intimado para completar as informações no prazo de 5 (cinco) dias.
As prescrições do artigo 321, conforme já tratadas, dizem respeito à
possibilidade de que o juiz determine a emenda da inicial de modo que, caso
o autor não cumpra as determinações contidas na decisão, a petição inicial
deverá ser indeferida.
2.0 Pedido
As regras relativas ao pedido, tais como requisitos, possibilidades, vedações
e exceções estão previstas na Seção II, do Capítulo II, Livro I, do CPC,
compreendendo os artigos 322 a 329.
Por ser um dos requisitos da petição inicial, conteúdo este apresentado no
tópico acima, o pedido deve estar em total consonância com o quanto foi
previsto no CPC, sob risco de indeferimento da petição inicial (art. 330,
§ 1º, incisos I, II e IV, CPC).

2.1 Conceito

O pedido é a pretensão objetivada pelo autor. É o bem jurídico ao qual se


busca a proteção, ou seja, é o objeto final da ação e, consequentemente, guia
a atuação jurisdicional ao limitar os parâmetros da sentença a ser proferida.
Ainda, é com base no pedido formulado pelo autor que o réu exercerá o seu
contraditório.
Nos dizeres de Roque (2016, p. 22-23):
“O pedido é um dos elementos da demanda e revela o que o autor veio buscar em
juízo. Como visto em comentários ao art. 319, item 7, classifica-se em imediato
(espécie de providência jurisdicional postulada) e mediato (bem da vida que o autor
pleiteia). A razão de ser do processo é justamente sobre o qual recairá a atividade
jurisdicional, acolhendo-o ou rejeitando-o. Sob a perspectiva do réu, será exercido
o contraditório tendo por parâmetro especialmente o que foi pedido pelo autor. O
pedido, em regra, bitola, a atividade jurisdicional, que não deve ser exercida além
de seus limites, pela exigência de congruência entre o pedido e a sentença (arts. 141
e 492). Apesar disso, em determinadas situações, expressamente reguladas em lei,
o órgão jurisdicional pode conceder tutela diversa da pedida, de maneira a
assegurar a efetividade da prestação jurisdicional (por exemplo, arts. 497, 536 e 537,
que se referem à tutela específica ou à obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente ou, ainda, a conversão superveniente em perdas e danos, na forma do
art. 499).”

O pedido pode ter natureza declaratória, constitutiva/desconstitutiva ou


condenatória. O pedido declaratório é aquele em que se pretende o
reconhecimento de forma declarada de algo, como por exemplo o pedido
para que seja reconhecida a paternidade. O pedido
constitutivo/desconstitutivo é aquele que pretende a criação, extinção ou
alteração de uma relação jurídica. Como exemplo tem-se a invalidação de
uma cláusula contratual. Por sua vez, o pedido condenatório consiste na
imputação de uma obrigação, pecuniária ou não, ao réu, como por exemplo
o pagamento de alimentos.
Como será abordado em tópico específico, é possível a cumulação de
pedidos, inclusive a cumulação de um pedido declaratório com um
condenatório. Por exemplo: declaração do reconhecimento da
paternidade com a condenação em pagamento de pensão alimentícia.
Existem duas subdivisões do pedido: o pedido mediato e o pedido imediato.
Nos dizeres de Alvim (2017, p. 749):
“O pedido imediato (...) é aquele que, desde logo, diretamente se deseja; é o pedido
dirigido ao Poder Judiciário, no sentido de que outorgue a tutela jurisdicional
especificamente solicitada.

Já o chamado pedido mediato representa o bem jurídico material (bem da vida)


subjacente ao pedido imediato. O pedido mediato, portanto, representa o que o
autor deseja (interesse do autor), em detrimento do interesse do réu e o imediato
“como” o autor deseja. O pedido mediato evidencia o objeto litigioso, ou a lide
(terminologia do Código), ou ainda, o mérito.”

A título de exemplo, o pedido imediato é a condenação no pagamento de um


determinado valor, enquanto que o pedido mediato é o reconhecimento da
dívida.

2.2 Requisitos
Os requisitos estão previstos nos artigos 322 e 324 do CPC, que estabelecem
que o pedido deve ser certo e determinado.
Por certo, tem-se a ideia de expresso, claro e definido. À exceção das regras
previstas no § 1º do artigo 322 do CPC, o ordenamento jurídico não admite
pedido implícito (o pedido implícito será estudado no subtópico
correspondente).
Nos dizeres de Roque (2016, p. 23) “tal exigência serve para que o juiz possa
delimitar o âmbito de sua atuação”.
Ainda, o pedido deve ser determinado, traduzindo-se em liquidez, qualidade
e/ou quantidade. Tal como ocorre com a certeza do pedido, o artigo 324, §
1º, CPC, traz as hipóteses legais em que o pedido pode ser genérico (que será
abordado em tópico específico).
O pedido deve estar expresso na petição inicial e definido quanto à
quantidade e à qualidade, ou seja, deve ser uma pretensão precisa, porém
isso não determina a necessidade de uma expressão econômica definida.
2.3 Cumulação de Pedidos
Como narrado anteriormente, é lícito ao autor cumular os pedidos, desde
que eles sejam compatíveis entre si, o juiz da causa seja competente para
julgar todos os pedidos formulados, e o procedimento escolhido seja
compatível para todos os pedidos formulados. Essa autorização está prevista
no artigo 327 do CPC.
Nessa esteira, a compatibilidade entre os pedidos implica necessariamente
que eles sejam coexistentes no mundo jurídico, ou seja, que não se excluam
nem se anulem (com exceção do pedido alternativo que será analisado mais
à frente). Podemos citar como exemplo uma ação revisional de aluguel
cumulada com ação de despejo, em que o autor busca a revisão do valor do
aluguel e, ao mesmo tempo, quer despejar o inquilino. Neste caso, ou o autor
pretende a revisão do aluguel ou o despejo do inquilino: as duas situações
juntas não se mostram cabíveis.
Caso os pedidos sejam incompatíveis, o juiz não deve indeferir a petição
inicial de plano, mas deve determinar a intimação do autor para que
opte por um dos pedidos, em nome da economia processual.
Ainda, o juiz deve ser competente para apreciar todos os pedidos. Isso
significa que um pedido de competência estadual não pode ser cumulado
com um pedido de competência federal. Ou, ainda, um pedido cível não pode
estar junto de um pedido criminal.
No entendimento da súmula 170/STJ quando o juízo for competente
apenas para apreciar alguns dos pedidos formulados, ele deverá decidir
a causa no limite da sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de uma
nova ação, no juízo competente, para apreciação dos demais pedidos.
Por fim, o fato de um procedimento ser compatível com os pedidos implica
em dizer que uma ação de rito especial somente pode conter pedidos
pertinentes ao seu rito. Caso o autor busque cumulação de pedidos que
possuem ritos incompatíveis, deve optar pela ação de rito ordinário. Por
exemplo: uma ação declaratória de paternidade não pode ser cumulada com
uma ação de despejo, na qual o autor pretende que seja declarada a
paternidade do réu e ao mesmo tempo que este também desocupe um
imóvel que pertence ao autor.
Atendidos os requisitos da cumulação de pedidos, cumpre analisar as
espécies de cumulação, que são divididas em: simples; sucessiva;
subsidiária/eventual; e alternativa.
As cumulações simples e sucessivas são consideradas cumulações próprias,
pois exigem a compatibilidade entre os pedidos. Por sua vez, as cumulações
subsidiárias/eventuais, bem como as alternativas, são classificadas como
impróprias, pois permitem a cumulação de pedidos incompatíveis uma vez
que apenas um deles será acolhido.
A cumulação simples de pedido é a formulação de tanto pedidos quanto o
autor desejar (desde que atendidos os requisitos para tal cumulação), sendo
que um é independe do outro, ou seja, é possível deferir apenas um deles,
todos eles, ou alguns deles, sem que um afete o outro. Por exemplo:
requerer a condenação do autor em danos morais, materiais e estéticos.

Na cumulação sucessiva, o deferimento de um pedido depende do


acolhimento do anterior. Por exemplo: o pagamento de pensão alimentícia
depende do reconhecimento da paternidade.

A cumulação subsidiária/eventual, como seu próprio nome define, trata da


formulação de dois ou mais pedidos que podem ser incompatíveis entre si,
ou seja, quando o autor pleiteia um pedido principal, e na remota hipótese
de indeferimento desse, um segundo pedido é apresentado. No presente
caso aplica-se o exemplo dado por Roque (2016) em que o autor busca a
revisão de cláusulas contratuais e, na sua impossibilidade, a anulação do
contrato.

Por fim, na cumulação alternativa o autor apresenta dois ou mais pedidos,


sem indicar qual deles tem preferência. Neste caso, o autor pode pedir a
revisão do aluguel ou requerer o despejo do inquilino, se qualquer uma das
opções lhe deixar satisfeito.

Ainda que se mostrem semelhantes, a cumulação subsidiária/eventual


diferencia da cumulação alternativa quanto ao direito de recorrer em face do
pedido que foi rejeitado.
Na cumulação subsidiária/eventual, como autor apresenta uma preferência
em relação aos pedidos, caso o principal seja rejeitado, é possível recorrer
buscando o deferimento do pedido principal.
Por sua vez, na cumulação alternativa, como ambos os pedidos lhe
satisfazem, o autor não pode recorrer buscando o deferimento do pedido
que foi rejeitado.
3.0 Espécies de Pedido
A doutrina e a jurisprudência classificam os pedidos em 3 espécies: (i) pedido
genérico; (ii) pedido alternativo; e (iii) pedido relativo à obrigação indivisível.
Vejamos cada um deles.

3.1 Pedido Genérico


Nos termos do parágrafo 1º do artigo 324 do CPC, a formulação de pedido
genérico pode acontecer em 3 hipóteses:
i) “nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens
demandados”

ii) “quando não for possível determinar, desde logo, as consequências


do ato ou do fato”

iii) “quando a determinação do objeto ou do valor da condenação


depender de ato que deva ser praticado pelo réu”

Na primeira hipótese, trata-se da situação em que o autor desconhece a


totalidade do bem pretendido, como por exemplo a herança. O autor não
tem conhecimento da integralidade do patrimônio, mas tem direito à sua
cota da herança. Se tiver conhecimento da integralidade de bens a serem
inventariados, deve formular pedido certo.
Na segunda hipótese, o autor desconhece a totalidade das consequências do
bem jurídico tutelado, como por exemplo o pagamento de um tratamento.
O autor requer que o Estado custeie um determinado tratamento, porém
não possui elementos para mensurar quanto tempo este durará, e nem
mesmo as providências necessárias para tanto, ou seja, não conhece os
detalhes do tratamento nem o seu custo total.
Por fim, na terceira hipótese, a determinação do objeto ou da condenação
depende de ato a ser praticado pelo réu. Por exemplo: requerer a
condenação do réu nos valores em que recebeu indevidamente por um
serviço parcialmente prestado. Será apurado o quanto foi executado do
serviço, e o réu deverá devolver ao autor o valor pago a mais.
3.2 Pedido alternativo

Com previsão no artigo 325 do CPC, o pedido será alternativo quando, pela
natureza da obrigação a ser cumprida, poderá o devedor cumpri-la de mais
de uma forma, ou seja: a obrigação poderá ser extinta de diversas maneiras
sem que se altere o resultado.
O parágrafo único do mesmo dispositivo legal traz a possibilidade de o juiz
assegurar ao devedor o direito de escolha na forma de cumprimento da
obrigação, ainda que não formulado o pedido alternativo pelo credor,
quando tratar-se de previsão legal ou contratual.
Importante mencionar que o pedido alternativo não se confunde com a
cumulação alternativa. Nos dizeres de Roque (2016, p. 31):

“Essa hipótese não se confunde com a prevista no art. 326, parágrafo único, em que
o autor formula mais de um pedido para que o juiz acolha um deles, sem
estabelecer qualquer preferência (cumulação alternativa de pedidos). Aqui, a
origem da alternatividade está no próprio direito material, que admite o
adimplemento da obrigação de mais de um modo. É exemplo de pedido alternativo
a hipótese do art. 500 do Código Civil, em que se admite que, não sendo possível o
complemento da área na venda de imóvel cujo preço foi estipulado por medida de
extensão, o comprador exija do vendedor a resolução do contrato ou o abatimento
proporcional do preço.”

3.3 Pedido relativo à obrigação indivisível


O pedido relativo à obrigação indivisível está expresso no artigo 328, CPC,
que assim preceitua: “na obrigação indivisível com pluralidade de credores,
aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as
despesas na proporção de seu crédito”.
Nesse tipo de pedido, o credor de parte de um todo pode ajuizar a demanda
sozinho, mas somente poderá levantar a parte que lhe couber. Os demais
credores que não participaram da demanda podem levantar a sua parte,
mesmo não tendo participado do processo, em decorrência da natureza da
obrigação.

3.4 Interpretação do Pedido e Pedido Implícito


Além das espécies de pedidos narradas, há situações em que o julgador não
deve se ater apenas àquilo que foi expressamente pedido pelo autor,
encontrando respaldo legal para essa interpretação ampliativa.
3.5 Interpretação do Pedido
O CPC prevê situações em que, ainda que não esteja expresso no capítulo
dos pedidos, há pedidos implícitos que devem ser considerados, além da
hipótese de interpretação do pedido.
No antigo Código de Processo Civil, o legislador vedava a interpretação
ampliativa do pedido, atendo-se ao pedido de forma restritiva. Em outras
palavras, apenas o pedido expresso poderia ser considerado. No atual CPC,
o legislador inovou por entender que essa interpretação ampliativa do
pedido confere maior efetividade ao processo.
Nessa linha, o artigo 322, § 2º, CPC, dispõe que se deve interpretar o pedido
em consonância com os fatos e direito narrados na exordial e em
atendimento ao princípio da boa-fé.
Em suma, implica em dizer que os pedidos não devem ser analisados de
forma isolada, mas sob o contexto da petição inicial.
Esse entendimento advém do entendimento sedimentado do Superior
Tribunal de Justiça que assim defendia:
“(...) o pedido não deve ser extraído apenas do capítulo da petição especificamente
reservado aos requerimentos, mas da interpretação lógico-sistemática das
questões apresentadas pela parte ao longo da petição” (STJ, REsp 967.375, 2.ª T., rel.
Min. Eliana Calmon, j. 02.09.2010, v.u., DJ 20.09.2010).”

3.6 Pedido implícito

Por pedido implícito, entende-se aquele que não conste expressamente na


inicial, mas que estará presente por expressa previsão legal, como é o caso
dos honorários advocatícios, correção monetária e juros leais.
Eis os ensinamentos de Roque (2016, p. 23):
Como temperamento à regra geral de que o pedido deve ser expressamente
formulado, são estabelecidas algumas hipóteses de pedidos implícitos, os quais,
sob pena de omissão, devem ser apreciados mesmo não tendo sido pleiteados pelo
autor na petição inicial.

O pedido que envolva prestações de trato sucessivo entende como implícito


as prestações vincendas, conforme expressa previsão legal (artigo 323, CPC).
3.7 Ampliação da Demanda

O CPC, em seu artigo 329, inciso I, prevê a possibilidade de o autor emendar


a inicial antes da citação do réu.
Essa previsão autoriza que o autor amplie os pedidos, formule novos ou os
exclua, bem como amplie ou reduza o objeto da lide, respeitados os
requisitos de cumulação de pedidos já estudados.
Por sua vez, o inciso II do mesmo dispositivo legal autoriza a alteração do
pedido após a citação, desde que o réu concorde com tal alteração. Em caso
de concordância, deverá ser concedido novo prazo para o réu se defender
de tal aditamento.
Didier (2015) defende que, quando se tratar de um novo pedido conexo ao
originário ou de fato constitutivo superveniente, deve ser autorizada a
ampliação da lide em qualquer estágio do processo, sob pena de tornar
inócuas diversas outras previsões do próprio CPC, e que não estão limitadas
à ampliação da lide trazida pelo artigo 329.
Nessa toada, percebe-se que há possibilidade de ampliação da demanda
para além daquelas expressamente previstas no artigo 329, CPC.

3.8 Alteração Objetiva da Demanda

De acordo com o já mencionado artigo 329 do CPC, as alterações objetivas


da demanda somente podem ser feitas até o saneamento do processo. Por
alterações objetivas entende-se o pedido e a causa de pedir.
Nessa linha, não pode haver alteração da demanda em fase recursal, pois
implicaria em supressão de instância.
Essa vedação decorre da necessidade de se estabilizar a demanda e garantir
o contraditório e ampla defesa do réu. Não pode o autor, a qualquer tempo,
alterar a demanda.
No entanto, como o CPC traz uma postura mais mediadora, incentivadora de
acordos, há entendimentos na doutrina de que, em caso de autocomposição,
pode haver a ampliação objetiva da demanda, pois autor e réu estarão
transigindo sobre seus direitos de forma espontânea e a solucionar a lide.

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