Introdução Joaquim de Fiore (1135) nos conduz a Trindade pela via da História. Ao pensar a Trindade historicamente e trinitariamente a história. Neste trabalhamos queremos adentrar aos reinos do Pai que se caracteriza como Criador de tudo, no segundo o Filho, que se designou assumir o nosso barro. E o terceiro ao Espírito Santo, de quem diz Paulo; ”onde se acha o Espírito do Senhor, ai está a liberdade”(2Cor 3,17). Adentrar o pensamento de Fiore é mergulhar também nos limites da visão eclesiológica do seu tempo. Onde seu pensamento não foi tão bem aceito. Todavia infelizmente nossas fontes bibliográficas a respeito de Fiore são escassas. Mas queremos instigar nossos colegas e a nós mesmo a estudar a Trindade sobre outro ângulo que é da história num viés teológico. Dados biográficos:
Joaquim de Fiore, nasceu na Calábria, Itália
pelo ano de 1135, falece Cosenza em 1202. Era da ordem monástica dos Cistercienses, onde foi abade. Viveu num contexto da baixa Idade Média, numa Europa que via, de um lado, nascer o ideal de estado autônomo e, de outro, o pontificado romano realizar o sonho de dominar o mundo. O Abade Joaquim de Fiore da Calábria foi um monge cisterciense do século XII. Ele se retirou da Ordem de Cister, para fundar outra ordem de monges beneditinos no Mosteiro de San Giovanni in Fiore, na Calábria. Ele se tornou famoso por sua capacidade exegética, tendo escrito muitos livros que tiveram uma repercussão imensa na História do Ocidente. A obra joaquimita foi investigada, censurada e/ou condenada pelo Concílio Lateranense IV de 1215 . O quarto Concílio do Latrão (1215) contra o abade Joaquim de Fiore (1202) reafirmou a unidade divina, própria da Trindade, pois nas palavras do Concílio, o referido abade “confessava não ser esta unidade própria e verdadeira, senão coletiva e por semelhança, à maneira como muitos seres humanos se dizem um povo e muitos fieis uma igreja”. Influenciou movimentos religiosos, inclusive o iniciado por São Francisco de Assis. Escreveu diversas obras teológicas. Expôs em seus escritos fundamentais um simbolismo numérico e uma profunda interpretação alegórica e tipológica da Sagrada Escritura. Seus tratados culminam na profecia da última idade do Espírito Santo, próxima a realizar-se que teria levado a Igreja secularização e uma reforma radical. Com sua doutrina utopista espiritualista, Fiore influencia grandes nomes do mundo secular, com os seus messianismos religiosos, políticos e culturais, como tais: Lessing, Comte, Marx, Nietzsche, Foucault, Engels, Arendt. Joaquim de Fiore, no século XII, pensou historicamente a Trindade e trinitariamente a história, ou seja, o dinamismo da revelação das divinas pessoas no devir do tempo da vida imanente. Ao Pai a Lei - Antigo testamento
Ao Filho a graça - Novo Testamento
Ao Espírito Santo a liberdade plena no amor,
na Ecclesia Essas três tradições procedem igualmente de toda a Trindade. São inseparáveis e, com efeito, obras da Trindade. Deus é uno sem confusão das pessoas, é trino nas pessoas sem divisão da substância. Pensando historicamente a Trindade, Joaquim também pensa trinitariamente a história: é onde talvez esteja o aspecto mais original da sua mensagem. Ele vê o desenrolar do tempo à imagem do desenrolar da vida intradivina: há três tempos, à semelhança das três pessoas. Três estados do mundo em razão das três pessoas da divindade. À luz da vida trinitária, desenvolvem-se assim os tempos da história. O primeiro é aquele em que estivemos sob a lei, na busca do conhecimento.
O segundo é aquele em que estamos sob a graça e está
na posse da sabedoria. O terceiro, que esperamos com próximo, em que estaremos sob uma graça ainda maior. Está na plenitude da inteligência. Em termos crítico-dogmáticos, sobre Joaquim de Fiore foi-nos transmitida apenas a sentença de Tomás de Aquino, o qual afirma que Joaquim teria dissolvido a doutrina trinitária na história, por aguardar uma era especial do Espírito. Mas tal sentença é injusta. Os seus escritos autênticos nunca foram condenados como heréticos, embora tenha sido e continuem sendo mais do que revolucionário. “O procedimento do pensamento não se funda na tentativa de explicar a Trindade partindo do mundo, mas na tentativa contrária de explicar o mundo partindo da Trindade, para poder falar da Trindade no quadro deste mundo”(Karl Barth). Pode-se dizer que na Idade Média há um uso pedagógico das imagens, pois elas são vistas como a mediação estética entre o mundo sensível e o inteligível. Não obstante, na Baixa Idade Média houve um processo de depreciação das imagens em função do conceito, figurando como claro exemplo disto o uso metodológico que os escolásticos fizeram na quaestio disputata a partir da qual eram explicadas as questões referentes aos mistérios da fé e da existência de Deus etc. Pai - Primeiro Filho - Segundo Espirito Santo - Terceiro Sob o império da lei Estamos na graça Estamos numa graça muito mais rica Servidão de escravos Sujeição de filhos Liberdade Medo Fé Amor Escravos Livres Amigos
Jovens Adultos Anciãos
Na luz das estrelas Na luz do alvorecer Plena luz do dia Relaciona-se com o Pai Relaciona-se com o Filho Relaciona-se com o Espírito Reino do Pai Reino do Filho Reino do Espírito Criação e conservação Redenção pela submissão ao Renascimento pela força do Filho Espírito Governo pelo poder e Anúncio do Evangelho Revelação e conhecimentos providência imediatos Domínio pela lei e pelo amor Somos filhos e confiança total Amigos/carismas e liberdade em Deus Poder de Deus Vida espiritual em Deus Do céu Abrange a criação e a governa Impera a Igreja, a palavra e os Domina pela visão beatifica de Sacramentos. sua face Fiore defendia que a história, em seus estágios e períodos, correspondia aos reinos do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O reino do Espírito Santo é o período último da história, o dia sabático da história do mundo. É a perfeição da história, mas não ainda o fim da história. As formas e os períodos dos reinos do Pai, do Filho e do Espírito Santo apontam para além de si mesmos, ou seja, para o reino da glória, que substituirá essa história. Então, Fiore desenvolve a doutrina de um quádruplo reino:
Reino do Pai
Reino do Filho
Reino do Espírito Santo
Reino da Glória Reino do Pai consiste:
Na criação de um mundo que se abre para o
futuro; Na manutenção da sua permanência e abertura para o futuro do reino da glória; Objetivo da criação do mundo é a glorificação do Deus uno e trino; Somente no reino da glória é que a criação ficará consumada. A concepção da providência deve ser ampliada: pela providência e pelo governo geral do mundo por parte de Deus não se entende apenas a constante preservação do mundo da sua destruição, mas também abertura para o seu verdadeiro futuro. Quando entendemos a criação do mundo trinitariamente, ela representa o primeiro estágio do caminho para a liberdade. Onde reina não o “grande Senhor do mundo” mas o Pai de Jesus Cristo, é aberto o espaço para a liberdade das criaturas. O Pai governa através da criação dos seres e da abertura aos tempos. O reino do Filho consiste:
No domínio libertador do Crucificado;
Na comunhão com o Primogênito entre muitos irmãos e irmãs; No Filho se dá a libertação dos seres humanos da escravidão do pecado, mediante a sua própria servidão, da morte pela sua morte; Consuma a paciência do Pai; Conduz o gênero humano à gloriosa liberdade dos filhos e filhas de Deus; Antecipa o reino do Espírito. A libertação daquele fechamento sobre si mesmo para alcançar a abertura original não pode ocorrer por uma força superior ou pela coação, mas unicamente pelo sofrimento vicário. Por esse motivo é que Fiore e os dogmáticos designaram também o reino do Filho como o reino da forma de servo. Na história do pecado e da morte, o reino da liberdade assume a forma do Crucificado, tornando-se um reino cristiforme. Assim, como o reino do Pai, o reino do Filho está voltado para o reino escatológico da glória.
O Filho libertará para a liberdade. O Filho governa
para o seu abandono ao sofrimento e à morte, que representam a sua ação mediadora, e pela sua ressurreição para o reino da glória que há de vir. Ele reina na medida em que nos ‘liberta para a liberdade’(Gl 5,1). O reino do Espírito:
É experimentado pelos seres humanos
libertados pela ação do Filho e dotados das forças do Espírito Santo; Está ligado ao reino do Filho como o reino do Filho ao reino do Pai; Com base na intermediação de Cristo, experimenta-se no Espírito uma espécie de ‘imediatez divina’: Deus em nós – nós em Deus; Nasce a nova comunidade, sem privilégios e sem sujeições, ou seja, a comunidade dos livres;
O reino do Espírito antecipa a nova criação,
está orientado para o reino da glória, mas não é ainda a sua consumação;
O reino do Espírito é histórico: pressupõe o
reino do Pai e o do Filho, e, juntamente com o reino do Pai e do Filho, aponta a seu modo para o reino da glória. Reino da glória consiste:
A consumação da criação do Pai, como
implantação da liberdade do Filho e como a plenitude da habitação do Espírito; A criação é a promessa real da glória; O reino do Filho é a promessa histórica da glória; O reino do Espírito é o despertar da glória, embora ainda com os condicionamentos da história e da morte. Conclusão:
Fiore entendia a história do reino trinitariamente
e a consumação do reino escatologicamente. A doutrina trinitária do reino reúne assim as obras da Trindade: criação, libertação e glorificação, preparando-as para a sua integração na morada do Deus uno e trino.