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Parte II- Constituição

321

1:oã0 da lei pelo legislador, a nao ser


que se trate de omissões
parciais e relativas e seja possível ao tribunal
tivas (). emitir sentenças adi-

§2.°
A aplicação das normas
constitucionais no tempo
70. A superveniÁncia das normas constitucionais

I 0 postulado geral básico no domínio da aplicação das


normas constitucionais no tempo é o postulado da função genética
ou modeladora do ordenamento jurídicoestatal que possui a Cons
tituição. Asnormas constitucionais projectam-se sobre todo o sis
tema jurídico, sobre as normas e os actos que o dinamizam, sobre
o poder e acomunidade política, impregnando-os dos seus valores
e critérios e trazendo-lhes um novo fundamento de validade e de
autoridade.
Mas os efeitos da superveniência dessas normas constitucionais
Constituição
recortanm-se em termos diversos consoante se trate de
considerem as
nova ou de modificação constitucional; consoante se normas
constitucionais ou com
relações das normas Com normas
aqui); con
ordinárias anteriores (relações horizontais ali, verticais

segs. e 318.
() V. Manual.., VI, cit., págs. 305 e segundoa
de JoRGE PEREIRA DA SILVA (op.cit., págs. 167 e segs.),
Cfr. atese
adquiriria a natureza, a função e os efeitos de uma
yual ainércia do legislador implícita desencadeada pela conjugação de umaCom dis
norma negativa uma norma fundamental a
exequível atributiva de um direito recusando
posição constitucional não
confira a exequibilidade necessária; e, uma
ausência de uma norma legal que Ihe implícita, daí resultaria
dessa norma
então o tribunal da causa a aplicação expressa por incons
resulta da não aplicação de uma norma
una (análoga à que pelotribunal.
titucionalidade) - uma lacuna a integrar cit., págs. 85 e segs.
entendimento (na linha do Manual..., VI, da igualdade e que
Aceitamos este parciais, violadoras do princípio quanto às omissões
e 310) no tocante às omissões aditiva. Não o
aceitamoS utiliza-
podem ser ultrapassados por sentença sérias reservas quanto à
continuamos a ter abstracta de
totais e às omissões absolutas e passagem àfiscalização
a
ção do art. 281.°, n.° 3, da Constituição para 283 o
omissão do art.
inconstitucionalidade por
1
21 - Manual de Dircito Constitucional,
Manual de Direito Constitucional
122

ord1náras sejam ou náo conformes ou


sOante as noTT)AS
veis coom as nOmas COnstitICionais e consoarnte elas seam normas decompatí-
intermacional
Direito Interno ou de Direito
gerais sobre
aplicação das
Por Isso. embora os cánones
no temp) caibam
plenamente neste domínto desde logo, onormas
prin o
cipo scgundo o qual uma norma nova se destina a valer para
há uma inclutável complexidade, derivada da
futuro )
específica
posção da Constituição no sistema e da diversidade de vicissitudes
quc a afectam ().
Tratc-se de Constituição nova ou de revisão constitucional. todon
as novas normas constitucionais entram em Vigor na mesma data
salvo quando d1sponham em contrário ou fixem. para algumas, diver
sOs efeitos juridicos.

II Os fenómenos jurídicos decorrentes da superveniência de


normas constitucionais podem sintetizar-se do seguinte modo:
Acção da Constituição nova sobre a Constituição anterior
revogação globale, em certos casos, caducidade;:
- Acção de normas constitucionais novas (provenientes de
mod1ficação constitucional) sobre normas constitucionais anteriores
revogaço;
- Acçao de Constituição nova sobre normas ordinárias anteriores
não desconformes com ela novação;
- Acção de normas constitucionais novas (provenientes de
Constituição nova ou de modificação constitucional) sobre normas
ord1narias anteriores desconformes caducidade por inconstitucio
nalidude superveniente.

) Voacórdão n° 138/90 do Tribunal Constitucional, de 2 de Maio, in Diu


rio da Republhca, 2* série, n.° 207, de 7 de Setembro de 1990.
() Cir. por todos, MARIA HELENA DINIZ. Vigencia e eficácia das normas
consTiluC ionats, in TERCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR. MARIA HELENA DINIZe
NHA A. STEENSON GEORGAKILOS, A Constiuicão de l988.... cit., págs. 85e ses
CARMEN LuCIA ANTUNES ROCHA, 0 princípio do direito adquirido no
Consttucional, in Revista de Informução Legislativa, n.° 103, Julho-Setembro dee
1989, págs. 147 c segs., MIGUEL GALVÁO TELES, Temporalidade..., cit.,loc. cit.,
pág. 44.
Parte II - Constituição 323

Podem ainda ocorrer:


Subsistência de normas constitucionais anteriores - recep
ção material;
Subsistência de normas ordinárias contrárias às novas normas
constitucionais, com a força de normas constitucionais - constitu
cionalização e recepção material;
Subsistência de normas constitucionais anteriores, com a
forca de normas de direito ordinário - desconstitucionalização.

71. Direito constitucional novoe Direitoconstitucional ante


rior

I - Antes de mais, uma Constituição nova revoga a Constitui


Constituição
ção anterior. Por definição, não pode haver senão uma cada
e em
em sentido material e enm sentido formal; em cada país
poder consti
momento, sópode prevalecer certa ideia de Direito; o anterior acto
partir de
tuinte substitui a ordem constitucional criada a
constitucional.
constituinte por uma diferente ordem
global ou de sistema (), e
Esta revogação éuma revogação recepção individualizada,
sensu ou uma
não uma revogação stricto ou não de
norma a norma. Não cabe indagar da compatibilidade
constitucional anterior com a correspondente norma
qualquer norma Constituição no seu conjunto;
constitucional nova ou com a nova
anterior Constituição para que automaticamente
basta a sua inserção na fique ou se entenda revogada
pela
-expressa ou tacitamente
Constituição posterior. revolucionários que, na maior parte das expe
acontecimentos
Os
põem fim a um regime e abrem ou preparam
Tiências históricas, pouco esta verificação. Todavia,
obnubilar um
Ouro regime podem revolução se carrega de Direito, e Direito
qualquer global: a
la medida em que mesmo aí, hárevogação
constitucional, deve dizer-se que,

Civil,
MONCADA, Lições de Direito cit.,
conceito. v. CABRAL DE O Direito,
() Sobre este nota; e OLIVEIRA ASCENS
105-106,
2. ed., Coimbra, 1954, págs.
págs. 314-315.
Manual de Direito Constitucional
324

não tanto pela revolução


Constituição é revogada quanto pelo Direito
revolucionário ().

I| Ao invés, revogação (individualizada) dá-se em caso de


Constituição.
modificação parcial da
constitucional faz-se sempre na
Arevisão especialidade. nunca
édemais repetir; e, por isso, modificação
cada que determine
vai agir sobre uma (oualgumas) normas preexistentes apenas
sem prejuízo,
sistemática e de
claro está, da sua repercussão eventual
recta de outra Ou outras nornmas.
revisão indi-
I - Em algumas circunstâncias, normas constitucionais anteriores
nova Constituição podem continuar em vigor nessa qualidade. se
hem aue atítulo secundário. A par das normas que são directa expres.
são da nova ideia de Direito e que ficam sendo onúcleo da Consti.
tuicão formal (em regra, sob a veste da Constituição instrumental)
perduram, então, por referência a elas, outras normas constitucionais.
Éo fenómeno da recepção material, atrás descrito.

IV Tendo havido recepção material (e, porventura, recepção for


mal), se a Constituição que a opera vem a ser substituída por outra, as
normas constitucionais recebidas descontíguas, dalguma sorte, em
face da nova Constituição cessam necessariamente de vigorar tam
bêm. Cessam de vigorar, não por revogação verdadeira e
mas por caducidade ou, quando muito, por revogação
propra,
consequel.
Como as normas objecto de recencaão não tinham virtualidade
autonoma de subsistência. e anenas uma subsistência deriVada
Constituição agora revogada, e como só a revogaçao global desta é
efeito directo eimediato da entrada enm Vigor da nova Constituição, jus-
tifica-se falar em caducidade, porquanto tais normas constitucionais
tinham já um carácter man
ou subordinado, não podiam
subsidiáriocondições Ou de determinadotempo.
ter-se para além de determinadas

() Oque se verifica ento é não haver contiguidade entre a nova Constitui-


ção formal
em caso de (definit
eaiva)
anterior
transição. Cir.
Contiguidade
Constituição formal. sóse verifica
supra.
Parte Il-Constituição 325

V- Por último, certas normas


constitucionais anteriores podem
no deixar de vigorar com a entrada em vigor da nova
Constitui
ção: podem, simplesmente, passar da categoria de
ionais a normas de direito ordinário. Nisto consistenormas constitu-
a desconstitu
cionalização.
Arecepção material e a
desconstitucionalização ostentam de
comum uma transmutaçaão intrínseca de preceitos. Distintos são os
resultados e. portanto, a qualidade: na primeira, ficam sendo ainda pre
ceitos constitucionais, sÓque assentes, doravante, em actos normati
vOS que se reportam ànova Constituição; na segunda. nem isso, ape
nas fica a haver preceitos legais.
Adesconstitucionalização (tal como a recepço material) tem
de ser prevista por uma norma. Não pode estribar-se em mera
concepção teórica ou doutrinal; não é por certos preceitos formal
mente constitucionais não o serem materialmente ou pertencerem a
outro ramo de Direito que ela se verifica ou pode verificar-se até
porque, como dissemos na altura própria, toda a Constituição em
sentido formal é Constituição em sentido material, qualquer pre
ceito formalmente constitucional é, desde logo, materialmente cons
titucional. O que pode aventar-se é oobjecto da desconstitucio
nalização: normas cujo escopo de regulamentação se encontre
sedimentado e seja independente deste ou daquele regime; normas
Construtivas ou t¿cnicas: normnas ligadas a uma extensão do trata
mento constitucional a matérias antes não abrangidas e que não se
Conserve na nova Constituição, sem que haja, depois, lei ordinária
sobre elas.
estabelecer a des
Mas, se tem de haver norma constitucional a
Constitucionalização, não tem de ser norma expressa ou norma cons
consuetudinária;
uucional formal; poderá tratar-se de norma de origem
ser explicados os
Sera, por exemplo, através de costume que poderão
atenuando ainstabi
Varios casos havjdos em Franca no século XIX,
jurídico-política produzida por sucessivas revoluções e Cons
ade
tituições (!') e).
cil., I,
Sobre a desconstitucionalização em França, cfr. A. EsMEIN, op.
? WALINE,
DUEZ, oD. cit., págs. 234-235; MARCEL
ES. S80 e 581: J. BARTHÉI FMYe P
Manual de Direito Constitucional
326

Direito constitucional novo e Direito ordinário


72.

|- Uma Constituiçãonova não faz nunca tábua anterior


rasa do Direito
sequer isso acontece aquando da
ordinário anterior. Nem
originária dos Estados () ou na
sequência
de revoluções
muito exten-o
sas e profundas, de revoluções silimitadas>, porque constituir formação
reconstituir tudo desde a base seria esforço
impossível em curto tempO e,
entretanto, demasiado
seria gravementepesado ou
a segurança jurídica. Hásempre
factores de
continuidade - até na
que sobrelevam OS de
afectada
internacional ()
vida
Oque a superveniência de uma descontinuidade.
Constituição provoca énovação
do Direito ordinário interno anterior (3). Como todas e cada
normas legislativas, regulamentares e outras
uma das
retiram a sua vali
dade, directa ou indirectamente, da Constituição ("), a mudanca de
Constituição acarreta mudança de fundamento de validade: as
normas,
ainda que formalmente intocadas, são novadas, no seu título ou nasua
força jurídica,pela Constituição; e sistematicamente deixam de ser as
mesmas ().

Les conséquences juridiques..., cit., loc. cit., pág. 200; GEORGES


cit., IV, págs. 625 e segs. BURDEAU, Traité.
() Por outro lado, se aqui se trata de uma
também pode haver hipóteses de heterodesconstitucionalização,
Carta Constituinte, a seu tempo autodesconstitucionalização, como no art. 144. da
examinado.
() V., por exemplo, oDecreto da Assembleia
Imperador de 20 de Outubro de 1823, o art. 126.° daConstituinte brasileira e do
e Príncipe ou art. 140.° da Constituição de S. lOie
(9 Aliás, o Direito Constituição da Namíbia.
ordem interna. internacional aplica-se cada vez mais, e directament,
() Eatese que hámuito
Sentdo, por todos, acórdão n.° 446 defendem0s:
da Comissão
v. Decreto, cit.. pág. 94. No mei
(in apêndice ao
n.° 474/2005 do Diário da
Constitucional, de 6 de Maio e
República de 20 de Maio de 1982), Ou acórdão
2." série, n.° 99, deTribunal
()
Constitucio2006).
23 de Maio de nal, de 21 de Setembro (in Diário da República,

MORTATI, Sigam-se as concepções kelsenianas ou não. C)r., por todos, CoSTANTINO


da Abrogazi
sucessão de one legislativa.. in Scritti.., cit., II, págs. 67 e 71; ou, do ângulo
()
Tambémordenament os jurídicos, KARL ENGISCH, op. CII.,
se fala em págs. 263 e segs.
cabilidade.. , cit.,pág. 204. eficácia construtiva: JosÉ AFONS0 DA SILVA, A
apli-
Parte ll Constituição
327

Há, assim, uma nítida diferença entre a situação do Direito cons


titucionalanterior o qual cessa com a entrada em vigor da nova
Constituição do Direito ordinário anterior
0 qual conti
nua, cOm novO fundamento da validade e sujeito aos princípios mate-
riais da nova Constituição e que somente em caso de contradição
deixará de vigorar. E, enquanto que as normas constitucionais que
subsistam são recebidas pelas novas normas constitucionais, as nor
mas ordinárias são simplesmente novadas ().
Arecepção (a recepção material, de que há pouco falámos) equi
vale à regulamentaço de certas matérias constitucionais não ime
diatamente pela nova Constituição, mas sim por outras normas;
implica, de certa sorte, uma autocontenção do trabalho do poder
constituinte e, aO mesmo tempo, uma inserção de todas as normas num
sistema constitucional único. Já no tocante ao Direito ordinário
interno a Constituição não assume, nem tem de assumir a regula
mentação; a Constituição tem apenas de o penetrar, de o envolver dos
énesta
seus valores, de o modular e, se necessário, de o transformar; e
medida que ele pode dizer-se recriado ou novado.
designadamente,
II Essa ideia de recriação ou novação tem,
três corolários principais que não custa apreender:
ramos de Direito passam a
a) Os princípios gerais de todos os
constem da Constituição ou os que dela se infiram, directa
Ser os que
indirectamente, enquanto revelações dos valores fundamentais da
Ou ():
ordem jurídica acolhidos pela Constituiçãovigentes àdata da entrada
b) Asnormaslegais e regulamentares
da nova Constituição têm de ser reinterpretadas em face
em vigor conformes com as suas normas
e os
se
desta e apenas subsistem
Seus princípios; Constituição não podem
anteriores contrárias à
c) As normas interpretaro fenómeno da con
subsistir seja qual for omodo de

conceito de recepção (Teoria pura, cit., , pág. 36).


) KELSEN adopta aquio I, pag. 110.
CRISAFULLI. Lezioni..., cit., princípios
Ir. a críticade VEZIO (recordando PELLEGRINO ROssi), os actuais,
chapitres monmento, são os
) Como têtes de Contam, em cada
constitucionais também mudame os que
e não os passados.
328 Manual de Direito Constitucional

tradição e ainda que scja necessário distinguir consoante a contradi.


ção se dê com normas preceptivas ou con normas programáticas
(como Vimos).

III Na hipótese de reviso constitucional, não se opera nova


ção. A revisão sÓ tem cfeitos negativos sobre as normas ordiná
rias anternores contrárias não positivos sobre as não descon
formes.
Revisão constitucional supõe precedência e permanência da
Constituição. Se as normas decretadas por revisão extraem asua
validade da Constituição (ou dos princípios constitucionais), dela
hão-de também extraí-la as normas da lei ordinária, por maioria de
razão. Mudando a norma constitucional sem que se afecte a norma
legislativa antecedente (que com ela continua conforme), nenhum
efeito se regista: a norma legislativa era válida e válida continua
- àface da Constituição como um todo. Inversamente, se a norma
legislativa era contrária à Constituição antes da revisão (embora não
declarada inconstitucional) e agora fica sendo conforme com a nova
norma constitucional, nem por isso é convalidada ou sanada: ferida
de raiz. não pode apresentar-se agora como se fOSse uma nova norma,
sob pena de se diminuir a função essencial da Constituição (') (2).

() Contra este entendimento pronunciaram-se, porém, oTribunal Constitucional


(no acórdãon° 408/89,de 31 de Maio, in Diário da República, 2. série, n.° 26, de 31
de Janeiro de 1990) e RUI MEDEIROs (Valoves jurídicos negativos da lei inconstitu
cional, in 0 Direito, 1989. págs. 522 e 523).
Segundo o Tribunal, uma revisão constitucional tanto pode ter efeitos negati
Vos como efeitos positivos sobre as normas infraconstitucionais anteriores, ainda
que estes efeitos só valham para ofuturo, não para o passado (a revisão não con
valhda essas nornmas desde a sua origem, apenas as valida para o futuro). Não se jus
ufica continuar ad aeternum a considerar inconstitucionais normas que, tendo nascido
contrárias à Constituição, passam a ser com ela conformes.
De resto, pode a Lei Fundamental vir a incluir uma norma de teor exacta
mente idéntico ao da norma legal, que era materialmente inconstitucional antes da
Tevisão. Ora (disse ainda o Tribunal, criticando a nossa opinião), a referida normà
legal deveria continuar a ser considerada materialmente inconstitucional, mesmo
para o futuro, devendo. por isso, ser desaplicada pelos tribunais, os quais, todavla,
cm vez dessa norma, seriam levados a aplicar directamente a norma constitucio
nal. Ocontra-senso estaria àvista: não se pode considerar materialmente incons
Parte II - Constituição 329

Relacão especifica entre norma constitucional nova e norma


ordinária velha que verse sobre a mesma matéria apenas se dá
haja contradição. E aqui, sim, não pode deixar de se suscitar quando
incons-
titucionalidade superveniente como quando a
Constituição acaba de
nascer.

13, Asubsistência do Direito ordinário não contrário àCons


tituição

|-Asubsistência de quaisquer normas ordinárias anteriores à


nova Constituição depende de um único requisito: que não sejam

titucional uma norma infraconstitucional de conteúdo idéntico auma norma


constitucional.
Também mais recentemente (no acórdão n.° 246/2005,de 10 de Maio, in Diá
rio da República, 1 série-A, n.° 117, de 21 de Agosto de 2005), o Tribunal Cons
titucional defendeu aconstitucionalização superveniente emn caso de inconstitucio
nalidade material
Quanto a RUI MEDEIROS, ele invoca a economia legislativa que aconselharia a
convalidação da anulabilidade com eficácia ex nunc e a circunstância de a fiscali
zação jurisdicional visar, unicamente, expurgar do ordenamento os efeitos produzi
dos por normas inconstitucionais.
Estes argumentos não nos convencemn. Nenhuma razão de pragmatismo ou de
cconomia legislativa pode prevalecer sobre as funções relativas da Constituição e da
revisão constitucional ou eliminar o risco de «revisões antecipadas» em fraude às nor
mas constitucionais (cfr. GoMES CANoTILHO eVITAL MOREIRA, op. cit., II, pág. 503).
Por outro lado, não háqualquer contra-senso na não aplicação para o futuro
(prove
e uma norma legal de conteúdo idêntico ao da nova norma constitucional
hiente de revisão). Para quê recorrer a cla, precisamente, quando existe agora uma
antes da rev
oma constitucional de conteúdo idêntico? ASSim como para trás (para
norma constitucional,
Sao) a norma legal não pode ser aplicada por contrariar a
lambém para a frente (para o futuro) não precisa de ser aplicada, porque se aplica,
omesmo sentido.
desde logo, a norma constitucional que, por coincidéncia, possui que sustentou o
ea
() Uma postura intermédia entre a que defendemos(Inconstitucionalidade
Tribunal Constitucional - é a de MIGUEL GALV TELESLisboa, I987. págs. 335
colectiva,
rerta, In Nos dez anos da Constituição, obra vigência
e 336). Em geral, não aceita a convalidação do acto nulo pelotermo da
admite a possibilidade de uma especí
Oma constitucional desrespeitada, mas da vontade do legis-
fica intenção convalidatória a apurar através de interpretação
certas normas ordinárias, jul-
«salvar»
lador
Ladas
constitucional (que poderáter em vista
necessárias ou úteis).
Constitucional
Manual de Direito
330

desconformes com ela. Se forem desconformes, só poderão even-


tualmente, sobreviver se elevadas elas próprias então à categoria de
normas constitucionais, quer dizer, se constitucionalizadas.
Por isso, o único juízo a estabelecer é ojuízo da conformidade
Constituição, a Co
(ouda correspondência) material com anova
nem qualquer juízo sobre afor
tituição actual. Não équalquer outro:
macão dessas normas de acordo Com as novas normas de compe.
tência e de forma (as quais só valem para o futuro), nem, muito
menos, qualquer juízosobre o seu conteudo ou sobre a sua formacâo
constitucionais ().
de acordo com as antigas normas
Não importa que as leis fossem inconstitucionais material. oroâ.
nica ou formalmente antes da entrada em Vigor da Constituicão.
Importa apenas que não disponham Contra esta. E iss0, não porque
a norma constitucional se reduza a mero limite externo da norma
legislativa cujo desaparecimento lhe restitua plena eficácia jurídica;
não porque o exercício de poder constituinte em certo momento con
suma o exercício de todo opoder do Estado em momentos anterio
res; mas, simplesmente, porque o exercício do poder constituinte
revela nova ideia de Direito e representa novo sistema. A Constituição
não convalida, nem deixa de convalidar; simplesmente dispõe ex novo.
Não importa sequer discutir da qualificação das normas ou dos
actos donde emanam à face da Constituição anterior; ela é, pelos
mesmoS motivos, tomada como um dado: e apenas os actos vao ser
reportados aos novos tipos constitucionais, como diplomas equl
paráveis (), sujeitos, doravante, aos regimes jurídicos que Ihes cou
berem ().
De resto, mesmo que assim não fosse. uma barreira insuperavel
se colocaria sempre: estabelecer quais os
órgãos equais os

() Neste sentido, acórdão n.° 234/97 do Tribunal Constitucional, de 12


de Março, in Diário du República, 2.* série, n.° 144, de 25 de Junho de 1997.
(2) Na
() Um expressão
do
acto legislativoart.à282.°,
sombran.° da1, Constituição
do texto inicial da Constituição.
de 1933, em princípio,terá
de ser
revogado por
zação; e uma lei da acto legislativo segundo a nova Constituição, salvo
deslegali-
Assembleia revogado pela
Assembleia da República se versarNacional
sobre matéria
ou um adecreto-lei
esta reservada
terá (reservada
de ser pelanova
Constituição, obviamente).
Parte II-Constituição
331

de fiscalização da
constitucionalidade
àà
1ö0 nodendo ser os órgaoS e os meios luz da Constituição anterior.
destinados a garantir a Cons
tituicão actual (arts. 277. esegs.), nenhuma forma haveria, na prá
eg de levar a cabo tal fiscalização ()

II- Compreende-se perfeitamente a proposição quando esteja


am causa
inconstitucionalidade material. Se, apesar desta, as normas
de Direito anterior não tinham cessado a sua
vigência ao tempo da
Constituição velha, porquê impedir que sobrevivam àface da Cons
tituicão nova quando se harmonizam com ela e querem omesmo
que ela? Por que razão, da perspectiva da Constituição nova, have
ria de se pôr em causa a lei que agora éconforme com a lei cons
titucional?
Mais dúvidas talvez pudessem oferecer-se a respeito da incons
titucionalidade orgânica ou formal anterior, por se pensar que o prin
cípio de aplicação da norma constitucional para o futuro implica o res
peito das normas constitucionais de competência e de forma passadas,
donde anecessidade de não considerar as leis que tivessem preterido
os seus requisitos. A solução não pode, contudo, ser diferente, pois
não é diverso o interesse da ordem jurídica em manter em vigor nor
mas anteriores materialmente conformes com a nova Constituição.
admitindo algu
Tal a posição que há muito defendemos, apenas
actos através
mas dúvidas nas hipóteses de inexistência jurídica dos
produzido (). Ea maior
dos quais o Direito anterior tenha sido
constitucional (4) têm igual
parte da doutrina ()e a jurisprudência
algumas oscilações ou reser
mente seguido este entendimento, com

Milão,
problema, cfr. ALDO SANDULL, l giudizio sulle leggi,
() Sobre o
1967, págs. 33 e segs. Ordinário Anterior, in Estudos sobre a Cons
Constitucional e Constituiço
(9 ODireito págs. 363 e segs. e 355, nota; A 256, nota.
colectiva, 1. Lisboa. 1977,
içao, obra
segs.; Manual..., I, 2." ed., págs.244 e segs. e CANOTI
770, CIt., págs. 122 e cit., loc. cit., págs. 517 e
segs.; GOMES
MEDEIROS, op.
7CIT. RuI Fundamentos..., cit., pág. 269.
uHOe VITAL MOREIRA, Tribunal Constitucional n.° 261/86, de 23
V,por exemplo, os acórdãos do 274, de 27 de Novembro de 1986;
Repiblica. 2 série. n.°
Ono, inDiário da Março de 1988;
ibidem. 2," série, n.° 62, de 15 de
1992;
O ð , e 13 de Janeiro, 2." série, n.° 78, de 2 de Abril de
Novembro. ibidem.
O l , de 28 de
Constitucional
Manual ade Direito
332

GALV TELES
criticado por MIGUEL na base da
ele é relativos ao Direito
vas. Mas dois
fenómenos anterior: asobre-
distinção entre
atendibilidade (') (2).
vigencia e a
da fundamentação originária
pela nova Constituj-
postulado
III Do MIGUEL GALVÃO TELES - não se segue a necessária irrele-
escreve
ção
normas
constitucionais precedentes. Segue-se apenas que estas
vância das
de e que qualquer relevância no
vaaler proprio vigore reconduzível universo
noImas cessam à
jurídico
pós-constitucional terá de ser Constituição.
Aquilo
que há a determinar é
qual a posição que a nova Constituição toma quanto
vigência passada, e isso representa um problema de
à atendibilidade da
interpretação e integração (). inicial de 1g76
Torma-se impossível aplicar o art. 293.° (do texto
algumas normas constitn.
agora 290.°, n.° 2) sem recorrer, pelo menoS, aidentificadoras
normas das fonter
cionais anteriores, que mais não seja às
decreto-lei, um decreto sim.
Como pode saber-se o que era antes uma lei, um
Não
ples sem apelar às normas constitucionais que definiam esses tipos?
é possível conceber noma desligada da fonte e, por consequência, das nor
mas sobre as fontes (4).
éexacto que com a substituição constitucional, de todo.
Tão-pouco
perca sentido a defesa, como tal, dos esquemas de repartição anterior de pode
res e dos processos de agir precedentes. Na medida em que tais esquemas
ou processos correspondam, ainda que de forma extremamente imperfeita,
mínima, hipócrita até,àprotecção de valores que a nova ordem constitucional
tutela, continua a possuir significado defendê-los. Além disso, faz sempre
sentido defender o princípio de constitucionalidade qua tale (). Por maio

n. l64/95, de 29 de Março, ibidem, 2." série,n.° 299, de 29 de Dezembro de 1995;


Ou n.° 415/2002, de 10 de Outubro, ibidem, 2, série. n.° 291. de 17 de Dezembro
de 2002.
() lnconstitucionalidade pretérita, cit.. loc. cit. págs. 272 e segs., maxime Zo+
CZ03; e intervenço na comissão eventual da 2 revisão constitucional, in Diarto
a Assembleia da República, v legislatura. 1 sessão
acta n.° 53, reunião de 28 de legislativa, 2. série, n." S>-k
Julho de 1988, págs. 1755 e T756.
(9 Cir. também numa referência ao
op. cit., loc. cit., págs. problema em EDUARDO CORREIA DAT
102 e segs., nota.
(()
() Inconstitucionalidade
lbiden, pág. 304. pretérita, cit., loc. cit., pág. 301.
() Ibidem, págs. 305 e 306. Cfr. ainda a constitu-
cionais anteriores, da diferenciação de normas
o
passado, a págs. 317perspectiva
e segs.
de um juízo da
Revolução e da Constituição
sobre
Parte Il -
Constitição 333

ria de razão, deve atender-se às normas constitucionais


(emanadas 1974 e 1976), até porque a Constituiçãopós-revolucionárias
entre
deira da Revolução (). se considera her-
MCUE GALVÃO TELES
io da Constituição actual - reconhece, no entanto, que os órgãos de garan
designadamente, o Tribunal Constitucional
nöO DOdem exercer fiscal+zaçao de normas perante a
Mas 0s tribunaS podem Constituição
recusar-se a apl1car normas contrárias aanterior.
constitucionais pretéritas, porque os tribunais sempre podem julgar daregras
nuli
dade ou ineficácia de actos normativos, no âmbito do
seu
conhecimento do Direito aplicável (fundado nos arts. 205.°genérico poder de
e 206.° da Cons
tituição - hoje 202.°; e não no art. 207.° - hoje 204.°) (2).
IV Esta análise não poderia deixar de nos levar a reflectir, de novo,
sobre o problema ().
Tudo estáno significado a atribuir à atendibilidade do Direito consti
tucionale ordinário anterior. Envolve tal atendibilidade que possa hoje
proceder-se perante um e outro como se se estivesse perante o Direito
actual? Parece-nos claro que não. A vigência do Direito anterior como
vigência jurídica é um pressuposto da sua eventual subsistência à face da
nova Constituição, mas as relações entre normas constitucionais e normas
ordinárias não podem ser sujeitas a qualquer tipo de confronto ou de juízo
hoje, como se se tratasse de normas actuais. Aquelas normas têm de ser acei
tes, atendidas, pura e simplesmente, como dados, tal como se encontravam
antes da emanação da nova Constituição.
Trabalhando com a distinção nos requisitos dos actos jurídico-consti
tucionais entre requisitos de qualificação (ou requisitos de recondução oude
actos estabe
Subsunço de um acto em concreto em qualquer dos tipos de
requisitos de per
lecidos pela Constituição) e requisitos de validade (ou efeitos
dos seus jurídicos),
Ieição ou de plena virtualidade de produção normas constitucionais anteriores
das
yuer 1sto dizer que a atendibilidade primeiros,
poderá - ou deverá mesmo abranger a consideração dos
aspecto, achamos procedentes as
einbora não a dos segundos. Sob este sentido positivo a
resolvemos em
vUservações de MIGUEL GALVÄO TELES e
inexistência jurídica. Entendemos, pois, que
dúvida atrás exposta quanto à
também leis juridicamente inexistentes diante
AO leiS não publicadas mas qualificação (por pro-
da faltar requisitos de
Constituiçãoanterior, por Ihes

() Tbidem, págs. 323 e segs.


() Tbidem, págs. 307 e 309.
) Desde a 3. edição deste tomo.
Constitucional
Manual de Direito
334

virem de órgãos absolutamente incompetentes ou por não terem sido pro-


aplicadas na vigência da nova
devem
Já no respeitante
mulgadas), não ser Constituição
(').
aos requisitos de validade (ou de constitucionalidade
mantemos, sem hesitar, a nossa postura. 0
em sentido
MIGUEL estrito),
GALVÃO TELES próprio
admite, como se viu, que os órgãos de fiscalização
constitucionalidade instituídos por certa Lei Fundamental não possam
da fiscalização relativamente a uma Lei Funda-
funcionar como órgãos de divisamos Como poderiam os tribunais,
mental anterior. Porém, não menOs
poder judicativo normal, verificar a presença de tais
no exercício do seu
ouefectuar qualquer ponderação dos valores subjacentes a nor
requisitos Constituição passada em nome de.uma nre
de competência e de forma da
firmados na Constituição nova
tensa afinidade ou comunidade com valores
indagar se uma lei
São coisas completamente diversas: um tribunal ainda durante n
revogada ou caducou
feita antes da nova Constituição foi
então existir juridicamente: e
seu período de vigência ou chegou mesmo a pelos órgãos legis
um tribunal emitir um juízo sobre a observância ou não
daquelas normas de
lativos criados pela Constituição precedente destas ou
certos valores. Não
competência e de forma que, porventura, incorporem
constitucionalidade? Não será
será isto,afinal, fazer também apreciação da
actos produzi
isto aplicar retroactivamente aConstituição material nova a
dos àsombra da Constituição velha? E não será incongruente conceder
sistema de
tal poder de apreciação aos tribunais,difusamente, só quando oelementos
fiscalização da constitucionalidade em Portugal, hoje, contém
decisivos de concentração? Não se vulnerarão, assim, gravemente, a certeza
e asegurança jurídicas (2)?
De resto, a afinidade ou comunidade de valores ligados a normas cons
titucionais de competência e de forma é(ou pode ser) mais aparente do
que real. Representam o mesmo a violacão de normas de reserva de COm
petência do actual Parlamento (eleito por sufrágio universal e com comp

521),
() Muito mais longe vai RUI MEDEIROS (op. ccit., loc. cit.,| págs. 520 e
para quem se trataria também de leis nulase ineficazes.
(?) V. já Manual.., I1, 2. ed., pág. 247, e RUI MEDEIROS, op. cit.,loc. cit.,
pág. 519.
Cfr. também o acórdão n.° 261/86 do cit.., loc. cit.,
Tribunal Constitucional, COns
pág. 11030: não se afigura crível que haja estado nas intenções do legislador
exclusivamente à
tituinte
«forma» inconstitucionalizar
aposteriori, por motivos ligados
como foram não é isso crível,
atenta a sua preocupaçãoestabelecidas,quaisquer figurasa tributárias;
de salvaguardar continuidade
do ordenamento

jurídico e atenta, em basicamente Consequências de tal solu-


ção, dados os seus particular, a imprevisibilidade das
imediatos reflexos financeiros.
Parte II -
Constituição 335

sição pluralista) e a violação de análogas normas da Constituição de 1933


(com Assembleia proveniente de eleição não
ção de 1911 (com Congresso da substantiva) ou da Constitui-
República não
versal)? eleito por sufrágio uni-
Finalmente, anote-se que, tirando a
hipótese de
a tese de MIGUELportarias
actos não submetidos a e de outros
promulgação,
oferece grande alcance prático. E o próprio Autor que GALV TELES não
sibilidade de apreciação da faz depender a pos-
is actuais de idêntica constitucionalidade
competência
orgânica e formal pelos tri-
dos tribunais na Constituiçãopassada
(0 que não se verificava, em parte, na Constituição de 1933) (): e
oor outro lado, quanto a Violação de normas que,
hiénio revolucionário de 1974-1976, afirma que constitucionais emitidas no
os actos normativos incons
titucionais eram só ineficazes ou anuláveis, mas não nulos (excepto quando
afectassem direitos individuais), porquanto uma revolução implica um poder
in fieri e vincula-se a um processo de transformação em constante revisão,
para alémdo que corresponda a grandes linhas prospectivasea limites ater
por intocáveis.

74. A inconstitucionalidade superveniente das leis ordiná


rias anteriores contrárias àConstituição
I- A superveniência da nova Constituição ou de uma sua
revisão acarreta ipso facto, pela própria função e força de que
está investida, o desaparecimento das normas de Direito ordinário
anterior com ela desconformes. Como qualificar, porém? Ou (dis
tinguindo as duas coisas, o que nem sempre se faz) como qualificar
superveniência, entre Consti
a relação negativa, produzida por essa
tuição e lei preexistente ()? revogação, os que falam em
A este respeito, háos que falam em escolha não se
Caducidade, os que falam em ineficácia, etc. E a
interesse prático, sobre
queda em mera querela académica; reveste
conhecer ou não possam dec1
tudo quando os tribunais não possam
definitivamente da inconstitucionalidade das leis, embora pos
ur questões de Direito. Mais
conhecer ou decidir das demais
Dam

() Tbidem, pág. 313. e segs.


no essencial A Constituição de 1976, cit., págs. 128
7Seguimos
Constitucional
Manual de Direito
336

distinção de qualificação adquire


discutível é
tocante à
saber se a
posiço de outros órgãoS e
entidades
perante relevância no
o Direito

Jura novit curia. Mas a história e a comparação mostram que


anterior.
consagrado em cada país considerar a
depende do sistema
inconstitucionalidade uma questão de direito como qualquer quest£ooutrade
decisão judicial, subtraí-la a apreciação judicial ou atribuí-
sujeita a
la a órgãos específicos, sejam jurisdicionais ou não. Se se configu-
superveniência de norma constitucional COmo determinante
de
rar a
revogação e não de inconstitucionalidade poderão e deverão sempre
legal; ao invés, se se d
Os tribunais recusar-se a aplicar a norma
cobrir inconstitucionalidade, os tribunais somente estarão habilita.
de garan.
dos a intervir na medida em que as normas constitucionais
tia Ihes derem o necessário poder de apreciação.
Não se trata de mera jurisprudência de conceitos. É preciso
apurar os interesses que se jogam em qualquer das soluções e as
razões, políticas e outras, que presidem ao arquitectar do sistema de
garantia da Constituição em cada país. Se optar por esta ou aquela
conceituação tem consequências lógicas manifestas sobre o modo de
encarar a intervenção dos tribunais e a da Administração - esta,
Competente quanto a revogação, não (em princípio) quanto a incons
titucionalidade em último termo éno campo do Direito positivo
que deve procurar-se a linha definidora de tal competência e da sua
extensão.
Pm tese geral, pronunciamo-nos pela recondução a inconstitu
Cionalidade e pela recondução dos efeitos desta a caducidade. Recusa
mos, poiS, contrapor inconstitucionalidade e caducidade (ou, Pala
quem assim entendesse, revogacão): a distincão é,
sim, enue
titucionalidade
cífico. Eisto originária
e
aplica-se tantosuperveniente
às situaçõescom ou sem reg
advenientes de Constitui-
i.
çao nova como às
advenjentes de revisão constitucional (7
()
dos órgãos Cir.,de
di versamente, ANTONIOcit.,NADAIS, actos
legislativos
gação); GOMESsoberania,
CANOTILHO,Lisboa,
Direito...,
1984, pág.
págs. 18
As relações entre
1290
e
(falando
Segs. em Concuso
(em favor
da rev0-
de tese de revo-
gação e nulidade).
Parte II -
Constituição 337

Problema sempre posto em face de Constituições novas (),


bém em Portugal foi largamenete discutido na
tam
cional, até que esta se decidiu pela Comissão Constitu-
inconstitucionalidade (2); e seria
essa sempre a orientação jusprudencial, confirmada em 1982 pelo
art.282.°, n.° 1 da Constituição.
II-0fenómeno da inconstitucionalidade surge por causa da
contradição entre normas legais e regras e princípios constitucionais
e. em face de cada situação ou acto, é função do juízo de valor que
se faça com base nos comandos constitucionais vigentes. Para cada
Constituição um juízo de inconstitucionalidade; e, para váias e suces

() Na tália, prevaleceu a doutrina enunciada pelo próprioTribunal em 1956,


declarando-se competente para conhecer do Direito anterior: já na Alemanha foi
oposta a jurisprudência; na Espanha adoptou-se uma posiço mista, de competência
simultânea do Tribunal Constitucional e dos demais tribunais; e no Brasil tem pre
valecido a tese de revogação.
Sobre a discussão na doutrina italiana, v. PAOLO BARILE, LaCostituzione.., cit.,
Costituzione
págs. 61 e segs.; CARLO ESPOSITO, Leggi vecchi e Costituzione nuova, in
Italiana, págs. 283 e segs.; CosTANTINO MORTATI, Abrogazione legislativa.., cit.,
e teoria delle norme
loc. cit., II, págs. 45 e segs.; GiuSEPPE MUSACCHIA, Gerarchia
fonti, in Rivista Tri
sulla produzione giuridica nel sistema constituzionale dellePIERANDREI, Corte Cos
mestrale di Diritto Pubblico, 1970, págs. 612e segs., FRANCO
op. cit., I, págs. 14
tituzionale, cit., loc. cit., págs. 908 e segs.; FRANCO MoDUGNO, costituzionale delle leggi,
di illegititimità
e segs.; FELICE DELFINO, Ladichiarazione exemplo, MANUEL ARAGÓN, La
Napoles, 1970, págs. 31 e segs. Na Espanha, porrelativas al regime local anterior
leys
Sentencia del Tribunal Constitucional sobre
Derecho Constitucional, 1981, págs. 185
a la Constitución, in Revista Española de incompatibles avec
segs. Na França, JÉRÔME
TREMEAU, La caducité Les lois 219
Annuaire International de Justice Constitutionnel, 1990, págs.
Constitution, in Cassation et le
JOEL, Les téchniques de substitution, in La Cour de
voCgS., MICHEL
constitutionnalité, obra colectiva, Aix-en-Provence, 1995, pág. 71.
COTole de la BARROSO, Inter
Brasil, MARCELO NEVES. Teoria.... cit. pág. 96; LUIS ROBERTO Aplicabilidade...,
O DA SLVA,
aplicação..., cit., págs. 64 e segs.; JoSÉ AFONSO
l0e
cit., págs. 216 e segs.
juridictionnelle de la Constitution, in Revue du droit
a ELSEN (em La
garantie inconstitucionalidade superveniente, e
pronunciava pela
public, 1928, pág. 236) se
não pela revogação. Magalhães
Julho de 1977 (relatado por Isabel de págs. 71
Acórdão n° 40, de 28 de Dezembro de 1977,
República de 30 de
Colaço),
e segs.
in Apêndice ao Diário da

22 - Manual de Direito Constitucional, 1l


Constitucional
Manual de Direito
338

juízos. Não cabe, poiS, apelar para


sucessivos
vários e
sivas épocas,
ordem cronológica (lex posterior.) Com autonomia
É
em
de
umcritério critério dito hierárquico(lex
superior...). a própria
relaçãoa um constitutiva do ordenamento jurídico que possui
ou
função genética exclui, jáque a sua relação com a lei ordiná-
que o duas leis
a Constituiçãoser assimilada à relação entre ordinárias.
ria não pode estrutura
jurídico-formal da inconstitucionalidade
Aabstracta produção dos preceitos. Só pode e deve
do tempo de
não dependeinconstitucionalidade originária e em inconstitucionali-
falar-se em norma leoal
superveniente, na medida em que ligadas a uma
dade desconforme com a Constituição originária ou
que, essa, pode ser tratamento
supervenientemente oque implica ou permite um
pode e deve distinguir-se olhando àsubsistência
diferenciado. Só
que não se torna uni
desta norma e atribuindo-Ihe uma qualidade
forme ('). contradiz a Lei Funda
Quando qualquer lei ordinária ab initio mesmo não acon
invalidade. O
mental, elafica desde logo ferida de
lei que fica sendo inconstitucional num momento subse
tece com a
princípio ou regra da
quente ao da sua produção,por virtude de novo deste princípio
Constituição; mas no momento da entrada em vigor subsistência
cessa a sua
ou regra, tal lei ordinária automaticamente
com
(embora o evento tenha ou não de ser declarado pelos órgãos
petentes).
A inconstitucionalidade superveniente exprime uma valoraçao
negativa da ordem jurídica, moldada por novos principios Ou regras
constitucionais, relativamente à lei anterior. Éessa valoraçao que
caducidade
determina a cessação da vigência da lei, e determina-a por
enão por revogação, pois que, em face da sua desconformidade com
adeConstituição, doravante a lei deixa de ter uma condição intrinsea
subsistência, independentemente de qualquer acto de vontade espe-
cificamente dirigido àsua eliminação.
() Afora os actos normativos, também poderão pôr-se questões de ilegalidade
superveniente (reconduzíveis ou não a invalidade) tanto em relação aRoGÉRIO actos admi
nistrativos SOA-
como em relação a actos jurídicos
RES, Interesse Público, Legalidade e Mérito, civis.
cit., pags. 381 eaqueles,
Cfr., sobre segs. e 393 esegs.,e
autores citados.
Parte II - Constituição 339

A ideia de
revogação parece ser de uma substituição de normas
no ordenamento, de uma regulamentação sucessiva da mesma maté
ria, com idêntica tunção, de uma renovação do ordenamento jurídico
Dor obra do legislador ou da autoridade social. Uma norma sucede
a outra, que, amtbas, recaem sobre o mesmo objecto0, embora em sen
tido discrepante. Salvo assunção ou avocação da totalidade da dis
ciplina pela norma de grau superior - rara, mas sempre possível, visto
que ànorma superior cabe definir àsua própria área de regulamen
tação apenas uma norma de igual posição hierárquica substitui,de
ordinário, outra (). Uma norma constitucional revoga uma norma
constitucional,como uma norma legal revoga outra norma legal ().
Não existe revogação quando na economia do ordenamento não
se prescinda das duas normas. O que acontece é que se oferecem dois
graus e normas em cada um; nem anorna superior consome a inte
rior, nem esta arreda o poder regulador traduzido naquela ao dirigir-se
às relações jurídicas. O ordenamento compreende uma pluralidade
de funções normativas e a mesma matéria pode pedir uma disciplina
paralela em vários níveis, designadamente a nível de Constituição e
anível de lei ordinária (3).
Esta conclusão vale, inclusive, para o caso, porventura menos
Corrente, de lei anterior contrária a norma constitucional programática

por todos, CARLO


() Sobre o conceito de revogação, em especial da lei, v., PUGLIATTI, Abro
ESPOSITO, La Validitàdelle Leggi, cit., págs. 63 e segs.; SALVATORE MoDUGNO, Pro
FRANCO
gazione,in Enciclopedia del Diritto, 1, págs. 141l e segs.; disposizioni abrogate da
revivescenza di
blemi e pseudo-problemirelativi alle c.d.
memoria di Carlo Esposito, obra
legge dichiarata inconstituzionale, in Studi in MIRANDA, Decreto, cit., págs. 87
colectiva, Pádua, 1972, págs. 647 e segs.; JoRGE
leis reforçadas, Coimbra, 1998, págs. 329
esegs.; CARLOS BLANCO DE MORAIS, As
Temporalidade..., cit., loc. cit., págs. 32 e segs.
e segs., MIGUEL GALVÄO TELES, não análogo, da relação entre lei
(") Cfr., sobre o problema homólogo, mas lei e Constituição não háo nexo
porque entre
nova e regulamento velho (não análogo,regulamento e lei), Decreto, cit., págs. 89-90.
de acessoriedade que existe entre
aí expostas.
Não mantemos hoje a totalidade das opiniões revogar leis anteriores Como a
declaram
() Que haja Constituições que revoga
(art. 117.) ou a espanhola (disposiçãofalava
belga (art. 138.), a luxemburguesaindiferente. o
De resto, em caducidade
toria, § 3.°) -- é relativamente ENTERRIA,
disposição espanhola, cfr. GARCIA DE
art. 293.°, n.° 2, de 1976. Sobre a
La Constitución..,cit., págs. 83 e segs.
Manual de Direito Constitucional
340

expostos
nos moldes mitigados hà pouco em que Se
aliás, mais frisante que se
caducidade
trata de e não de torna,
anorma constitucional
programáica é norma jurídica revogação.
como
Pois
outra: eo seu sentido normativo, coreSpondente a princípins
tem de prevalecer sobre o
qualquer
res da ordem constitucional, sentido pre-
feita depois dela ou vinda
ceptivo de qualquer norma legal do
passado.
II Poderia, no entanto, argumentar-se contra a
de caducidade invocando a possibilidade de qualificação
efeito repristinatório,
qual não se daria na hipótese de revogação e deveria achar-se na de
invalidade ou na de caducidade, Com todas as graves deSvantagens ine-
rentes. A objecção não deveria proceder.
Éverdade que a primeira norma revogada no ressurge com a
revogação daqueloutra que a havia revogado, e isto por evidente
imperativo lógico. A cessação de efeitos opera de uma vez Dara
sempre, a força reguladora de um preceito antigo está exausta e de
per si não pode renascer. E, se circunstâncias houver que aconselhem
a que volte a vigorar (como sejam o exíguo lapso de tempo de inter
valo, a conveniência de atalhar a lacunas e particulares interesses de
ordem política), terão elas de ser expressamente reconhecidas pelo
legislador ao decretar a revogação do preceito posterior (').
Tratando-se de inconstitucionalidade origináia, há, seguramente,
repristinação, a menos que o órgão de fiscalização, tendo o poder

() Em contrapartida, uma disposição que, especificamente , venha revogar


uma disposição revogatória acarreta como efeito natural oefeito repristinatório; e ja
Se tem afirmado que a lei revogatória de precedente lei revogatória assume per
relationem o conteúdo da norma legal primeiramente revogada.
SObre a repristinação (arts. 7,,n.° 4. e 2314.°. n.o2, do Cdigo Civil), V., a
doutrina portuguesa, CUNHA GONCALVES. Tratado de Direito Civil, Coimbra, 1927,
pågs. 156-157; JosÉ ALBERTO DOS REIS,
Competência
de Legislação e de Jurisprudência , ano 76.°, pág. 242; internacional.,
MANUEL DE ANDRADE, Fon-
tes de Direito. Vigência, interpretação e aplicação das leis, in Boletim do Minis-
Terno da Justiça, n.° 102,pág. 149: JosÉ H SARAIVA Anostilhacrítica ao
e Código Civil, Lisboa, 1966. pág, 71: prj
Civil Anotado, 1, PrRES DE LIMA e ANTUNES VARELit.
Coimbra, 1967, pág. 44; MIGUEL GALVÃO
págs. 165e 196, nota; ALEXANDRE SOUSA PINHEIR0, Repristinação,TELES, Eficácia.,Jurl
in Dicionário
dico da Administração Pública, Vil, págs. 234 e segs.; RUI MEDEIROS, Adecisão...,
cit., págs. 651 e segs.;
OLIVEIRA AscENSÃO, Op. cit., págs. 311-312.
Parte II-Constituição 341

de determinar os efeitos da inconstitucionalidade, disponha diferen-


temente (art. 282.°, n.° 4, da Constituição). Já não no caso de incons-
titucionalidade superveniente, visto que a revogação coincide com a
emanação do acto legislativo que fora válido; e hásempre que dis
tinguir o juízo sobre o acto em si do juízo sobre a norma ().
Por outro lado, se o restituir a plena acção o antigo preceito
não poderia levar a destruir ou modificar o cunhoimprimido pela lei
intermédia degradada em inconstitucional, seria estranho submeter
automaticamente factos e relações a constituir no futuro a uma lei mais
velha do que aquela a que ficariam submetidos os anteriores jácon
sumados; não sóessa lei, presumivelmente, teria deixado de corres
ponder à evoluço social como ainda a sua reaplicaçãopoderia pro
vOcar, no limite, perigosas desigualdades.
Os n.os 1e 2 do art. 282,° da Constituição corroboram inteira
mente esta doutrina.

anterior
75. Direito constitucional novo e Direito internacional

I Diferente é o modo como se recortam as relações entre Direito


convencional anterior.
constitucional novo e Direito internacional
o interno
Embora não sejam ordenamentos jurídicos separados fundamento
Constituição não é o
eointernacional (2) decerto a
internacional aplicáveis na esfera
de validade das normas de Direito
produção de efeitos das normas
interma do Estado, e apenas limite de de confor
jurídico-internacionais (). A dinâmica das suas relações
apreciada a essa luz.
midade ou desconformidade deve ser

superveniente envol
Diferentemente, no sentido de a inconstitucionalidade
() 190, nota;
repristinação, MARCELO REBELO DE SOUSA, Ovalor...,cit., pág.
Ver também
se, em caso de revogação tácita por incompatibilidade, não
epondo a dúvida sobre identificação precisa e directa do objecto
poderia haver repristinação, por faltar
da actividade hermenêutica, RUI
MEDEIROS,
revogado, tudo dependendo então
A decisão...,cit., págs. 659-660. 139 e segs.
págs.
(9 V. o nosso Curso.., cit., págs. 88 e 106 e segs., e, sobretudo,
MIGUEL
Decreto, cit.,
) Cfr. jáo nosso cit., págs. 99 e segs. Como escreve este
dos tratados...,
JALVAO TELES, Eficácia normas internacionais não se justifica por
nenhum
eficácia interna das a sua
Autor, a
mas pelo interesse do Estado em harmonizar
Juizo sobre o seu conteúdo,
Constitucional
Manual de Direito
342

II Assim: Constituição näo a


vigor de uma noVa
a) Aentrada em
de determinar novação das normas internacionais vin-
mina, nem deixa
culativas do Estado;
inconstitucionalidade originária de
Em caso de norma con-
b) a modificação da norma constitucional correspondente,
vencional,
implicando a não desconformidade, repõe aquela plenamente em
falar-se em constitucionalização superveniente);
vigor (sem que posSsa
c) Em caso de inconstitucionalidade superveniente, nem seguer
a consequente nãn
se produz a ineficácia de norma convencional, Com
o princípio e princípio de jus
aplicação (),visto que tal ofenderiainternacionais.
Cogens da boa fé nas relações
inconstitucionalidade ori.
Se a própria fiscalização sucessiva da
ginária levanta não poucos problemas em tace desse princípio (embora
intrang
dificuldades
ele esteja até previsto no art. 280.°, n.° 3()),
poníveis provocaria a fiscalização da inconstitucionalidade superve
niente (3).
O Estado deverá, sim, procurar renegociar otratado ou acordo
ou, se tal for possível, denunciá-lo ou exercero recesso. Não lhe é
consentido desvincular-se unilateralmente.

76. Direito constitucional novo e actos jurídico-públicos


I Até agora temos falado em normas de Direito ordinário
anterior ou em actos normativos. E que dizer de actos não nornma

ordem juridica com o Direito das Gentes e. sendo diferentes os fundamentos da


eficácia na ordem estadual das fontes de origem interna e internacional, a vigência
da norma proveniente de cada uma delas constitui apenas circunstância impeditiva
da eficácia da outra.
() Algo diferentemente, GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constitui-
ção..., cit., págs. 258-259.
(2) Cfr.
Curso..., cit., pág. 177. que, no acórdão n.° 427/87, de 27 de Outu-
() Recorde-se, significativamente,
bro (in Diário da República, 1: série, de 26 de Novembro de 1987), Tribunal Cons-
titucional, ao ocupar-se do ensino religioso católico nas escolas públicas, nãofoi cha-
mado a sindicar as normas da Concordata de 1940, mas sim as do Decreto-Lei
n.°323/83, de 5de Julho.
Parte II - Constituição 343

rivos e. doutra banda, de actos jurídico-públicos vistos do ângulo da


Sua forma ou da sua formação?
Tempus regit actum (). Nem poderia deixar de ser esse o
princípio também aqui, até porque o contrário ou seja, admitir
que a modificaço de regra de competência ou de forma pudesse
afectar a constitucionalidade de actos praticados antes -- redundaria
em criar problemas, não de inconstitucionalidade superveniente, mas
de inconstitucionalidade retroactiva, das mais graves consequências para
o funcionamento das instituições e para a segurança jurídica geral ().

II Donde, as seguintes inferências:


a) São intocáveis quer a qualificação quer a validade formal
(ou fomal e orgânica) dos actos jurídico-públicos praticados durante
a vigência das normas constitucionais anteriores; e os seus efeitos, que
hajam de perdurar, perduram enquanto tais;
b) Intocável étambém a validade validade material dos
actos jurídico-públicos individuais e concretos (pelo menos, os de
efeitos instantâneos e com características de definitividade), desig
nadamente decisões judiciais e actos administrativos, praticados no
domínio da Constituição anterior segundo o respectivo Direito ordi
náio;
c) Játendo havido revisão constitucional, tal como a inconsti
tucionalidade material também a inconstitucionalidade orgânica ou for
mal ocorrida antes da revisão não fica por esta sanada ();
d) Tratando-se de actos jurídico-públicos de formação suces
SIVa ou procedimental, não têm de voltar a ser percorridas as fases
enquadrar-se na
jåconcluídas, mas as fases ainda a percorrer devem

Código Civil, e na doutrina, por


() V. o princípio geral do art. 12.°, n.° 2, do cit., loc. cit., x, pág. 908; ou
CXemplo,FRANCo PIERANDREI, Corte Costituzionale,
ARMANDO MAROUES GUEDES, op. cit., págs. 355 esegs. Constitucional, de 3
Cfr., por exemplo, parecer n.° 8/77 da Comissão
()
Março, in Pareceres, 1, pág. 150; ou acórdo n.° 447/91do Tribunal Constitucional,
de República, 1. série-A, n.° 3, de |l de Janeiro
de 28 de Novembro, in Diário da
de 1992.
Tribunal Constitucional, de 28 de Outubro,
) Assim, acórdão n.° 344/92 do
16 de Março de 1993.
in Diário da República, 2. série, n.° 63, de
Constitucional
Manualde Direito
344

de competência,
submeter-Se as regras
Constituição nova e reportando a validade dos
parcelares) ooactos
constem, a elas se
dela (Simples ou
forma que seja: OS actos
conjunto. Ou
noseu decorridas à sombra da norma constitucional ante-
restamts
pondentes a fases às
ressalvados, mas os actoS Correspondentes
rior ficam nova norma constitucional e, se não forem
obedecer à
fases têm de
acto complexo final não poderáser consida
conformes com ela, o
rado válido;
especial, quanto àconstitucionalidade orgânica de actos
e) Em não n0 momento em que se
legislativos, esta deve ser
apreciada,
cidados - o da publicacão.
tornam obrigatórias as normas para Os e, sim, nomomento
requisito de eficácia (art. 119.°, n." 2)
tão sÑ chamados a intervir os
intervêm ou são
ou nos momentos em que
diversas fases dos respectivos
órgãos com poderes relativamente às
procedimentos ();
) Se nada obriga nada também impede que os órgãos com
petentes segundo a Constituição publiquem (ou promulguem e publi
quem) actos pendentes de publicação (ou de promulgação e publi
uma: ou os
cação) ao tempo da entrada em vigor daquela. De duas
consideram conformes com as normas da Constituição (e com os
interesses do país) e publicam-nos; ou não os consideram conformes
e, então, exercendo um verdadeiro veto absoluto, não os publi
cam (2).

77. O destino do Direito anterior à face da Constituiçao


de 1976

I0 destino do Direito anterior não foi ignorado nem pela


Assembleia Constituinte de 1975-1976, nem pela Assembleia da
República no exercício do seu poder de revisão, e consta de dois
290,°
preceitos de grande importância o n.° 1 ¬e on.° 2 do art.
actual (correspondentes aos arts. 292°e 293.
primitivOS).
() Cir., quanto aos legislativa,
v,cit.., págs. 318decretos-leis feitos no uso de autorização
Manual..., e 319.
(2) ARevolução de 25
de Abril.., cit., pág. 31.
Parte II - Constituição 345

No texto inicial da Constituição


tomaram-se ainda
mente em consIderação problemas relacionados com a particular
entrada em
funcionamento do sistema de órgãos de soberania, das regiões autó
nomas e do poder local; e nas leis de revisão mas em disposições
transitórias dessas leis, não da Constituição - problemas derivados
de vicissitudes de certos órgãos e da aprovação de certas
normas
constitucionais ().

II - 0art. 292.° de 1976 distinguia entre as disposições da


Constituição de 1933 ressalvadas pela Lei n.° 3/74, de 14 de Maio,
e as normas constitucionais posteriores a 25 de Abril de 1974 (n.0s 1
e 2). As primeiras caducavam com aentrada em vigor da Constitui
ção; não eram propriamente revogadas, porque revogada ou abolida
já fora aquela Constituição com a revolução. As segundas, desde que
não referidas no art. 294.°, nem ressalvadas expressamente, passavam
a ser consideradas disposições de leis ordinárias, ou seja, eram des
constitucionalizadas (2).
Adiferenciação espelhava bem a diversa posição da Constitui
ção formal nova perante a Constituição material precedente e perante
as leis constitucionais emergentes do poder revolucionário: só com

(') Assim, na Lei Constitucional n.° 1/82, disposições concernentes a órgãos


novos ou modificados: art. 238.° (Conselho de Comunicação Social), art. 240.°
(Conselho Superior da Magistratura), arts. 244.° e 246.° (Tribunal Constitucional),
art. 245.° (Conselho de Estado), art. 247.° (competência legislativa respeitante às
Forças Armadas). E disposições diversas: art. 239,° (novo regime de aprovação do
reconhecimento de um
orçamento), art. 241.° (recurso contencioso para obter o
PIDE-DGS e da
direito ou interesse legalmente protegido), art. 242.° (arquivos da
pública).
Legião Portuguesa) e art. 243.° (saneanmento da função
relativas ao Conselho de Comu
Na Lei Constitucional n.° 1/89, disposições
Plano (art. 204.9), ao número
hIcação Social (art. 203.°) e ao Conselho Nacional do
205.*), àratificação dos decretos
de Deputados à Assembleia da República (art. (art. 207.°).
Constitucional
-leis (art. 206.°) e àlei do Tribunal respeitantes àAlta Autoridade para
E na Lei Constitucional n.° 1/97,disposições República (art. 194.°), à dura
gerais da
àComunicação Social (art. 193.), às leis Constitucional (arts. 195,°
juízes do Tribunal
ya0 de mandatos e àdesignação dos
e 196.°) e aos tribunais militares (art. 197.°). constitucionais em vigor nessa
se tratava apenas de leis
() Claro estáque
eficácia se tivesse esgotado ou que já antes
aura, e não de leis constitucionais cuja 1976, cit., pág. l14, nota.
tivessemn sido revogadas. V. A Constituição de

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