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■ 6.1.5. Constitucionalidade e inconstitucionalidade superveniente?
REGRA EXCEÇÃO
A) CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE
Constitucionalidade superveniente significa o fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que tenha
“nascido” com algum vício de inconstitucionalidade, seja formal ou material, e se constitucionaliza. Esse fenômeno é
inadmitido na medida em que o vício congênito não se convalida. Ou seja, se a lei é inconstitucional, trata-se de ato
nulo (null and void), írrito, natimorto, ineficaz e, assim, por regra, não pode ser “corrigido”, pois o vício de
inconstitucionalidade não se convalida, é um vício insanável, “incurável”.
Como exceção a essa regra, lembramos o julgamento da ADI 2.240 e da ADO 3.682, pelas quais se possibilitaria,
artificialmente, a “correção” do processo de criação do município Luís Eduardo Magalhães, conforme estudamos
no item 6.7.1.9. Estaríamos diante do fenômeno da constitucionalidade superveniente por decisão judicial, o que não
se verificou, pois o prazo fixado na ADO 3.682, para se corrigir o vício congênito da lei estadual que criou o novo
município, transcorreu in albis.
Como se sabe (e, como se disse, o tema poderá ser compreendido no item 6.7.1.9), a convalidação dos
extraordinários vícios de inconstitucionalidade se deu pela EC n. 57/2008, que, então, poderia ser um “triste”, porque
flagrantemente “inconstitucional”, exemplo de constitucionalidade superveniente por emenda constitucional e, assim,
decisão política do parlamento, sempre passível, nesse caso específico, de controle judicial.
B) INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE
Inconstitucionalidade superveniente, por sua vez, seria o fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que
“nasceu” “perfeita”, sem nenhum tipo de vício de inconstitucionalidade, vem a se tornar inconstitucional.
Em regra, esse fenômeno não é observado. A seguir, dois exemplos clássicos, na visão da jurisprudência do STF,
que afastam essa possibilidade em razão da caracterização de outros institutos específicos e próprios:
■ lei editada antes do advento da nova Constituição (fenômeno da recepção): se a lei foi editada antes do
advento de uma nova Constituição, duas situações surgem: ou a lei é compatível e será recepcionada, ou a lei é
incompatível e, então, nesse caso, será revogada por não recepção (cf. item 4.8.1).
Não se pode falar em inconstitucionalidade superveniente nesse caso, pois não haverá preenchimento da regra da
contemporaneidade. Ou seja, para se falar em controle de constitucionalidade, a lei tem que ter sido editada na
vigência do texto de 1988 e ser confrontada (parâmetro de controle) perante a CF/88 ou toda normatividade que
tenha status de Constituição, dentro de uma perspectiva de “bloco de constitucionalidade” (cf. item 6.7.1.3).
■ lei editada já na vigência da nova Constituição e superveniência de emenda constitucional futura que
altere o fundamento de constitucionalidade da lei: o STF entende que, se a lei foi editada já na vigência da nova
Constituição sem nenhum tipo de vício, eventual emenda constitucional que mude o parâmetro de controle pode
deixar de assegurar validade à referida norma, e, assim, a nova emenda constitucional revogaria a lei em sentido
contrário. Não se trata, portanto, do fenômeno de inconstitucionalidade superveniente.
A regra da impossibilidade de inconstitucionalidade superveniente, contudo, apresenta duas exceções: a) mutação
constitucional; b) mudança no substrato fático da norma.
No primeiro caso (mutação constitucional), a redação do dispositivo da Constituição não é alterada, mas o seu
sentido interpretativo muda, surgindo, então, uma nova norma jurídica. As mutações constitucionais, portanto,
exteriorizam o caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas, por meio de processos informais. Informais
no sentido de não serem previstos dentre aquelas mudanças formalmente estabelecidas no texto constitucional, como,
por exemplo, as alterações por emendas constitucionais (cf. item 3.1).
Vamos imaginar uma lei que proibia a união estável homoafetiva e que, durante muito tempo, encontrou
fundamento na CF/88, especialmente na hoje ultrapassada (literal) leitura do art. 226, § 3.º, que dispõe, para efeito da
proteção do Estado, ser reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.
Assim, no exemplo, em um primeiro momento, a referida lei, que só admitia a união estável entre o homem e a
mulher, era considerada constitucional.
Com a evolução da sociedade e do entendimento da Corte, passou-se a admitir a união estável entre pessoas do
mesmo sexo, especialmente ao se fazer uma releitura do art. 226, § 3.º, à luz da dignidade da pessoa humana (art. 1.º,
III) e do art. 3.º, IV, que prescreve, dentre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, o de
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
A lei, então, que nasceu constitucional, tornar-se-ia inconstitucional em razão da mudança no sentido
interpretativo do parâmetro de constitucionalidade.
No segundo caso (mudança no substrato fático da norma), não se tem uma alteração no parâmetro da
Constituição, mas nos novos aspectos de fato que surgem e que não eram claros no momento da primeira
interpretação.
Como exemplo, lembramos o precedente do amianto (cf. item 7.11.1). Em um primeiro momento, o STF
pronunciou-se no sentido de se declarar a constitucionalidade da lei federal que admitia o uso controlado de uma das
modalidades do amianto (asbesto branco). Em momento seguinte, em razão da mudança no substrato fático da norma,
referida disposição se tornou inconstitucional, passando a norma por um processo de inconstitucionalização.
Percebam, seja na primeira interpretação, seja 22 anos depois quando houve a mudança de entendimento, a
Constituição sempre proibiu substâncias que fizessem mal à saúde ou ao meio ambiente. O que se observou foi um
novo diagnóstico do potencial de violação à saúde, inclusive em razão dos avanços tecnológicos e de pesquisa. Por
esse motivo é que estamos fazendo uma distinção com o fenômeno da mutação constitucional, quando a alteração é do
sentido da própria Constituição.
Conforme anotou o Min. Dias Toffoli em seu voto proferido no julgamento da ADI 3.937, “as percepções dos
níveis de consenso e dissenso em torno da necessidade ou não do banimento do amianto não são mais os mesmos
observados quando da edição da referida norma geral (Lei n. 9.055/95, acrescente-se). Se, antes, tinha-se notícia dos
possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente ocasionados pela utilização da crisotila, falando-se naquela época
na possibilidade do uso controlado dessa substância, hoje (22 anos depois, acrescente-se), o que se observa é um
consenso em torno da natureza altamente cancerígena do mineral e da inviabilidade de seu uso de forma
efetivamente segura, sendo esse o entendimento oficial dos órgãos nacionais e internacionais que detêm autoridade
no tema da saúde em geral e da saúde do trabalhador” (Pleno, j. 24.08.2017, fls. 15 do voto do Min. Dias
Toffoli, DJE de 01.02.2019, pendente o julgamento dos embargos de declaração com a possibilidade de efeitos
infringentes em relação à declaração incidental de inconstitucionalidade — vide voto da Min. Cármen Lúcia).
Além de toda a argumentação destacando os documentos internacionais de proteção a direitos humanos, o Min.
Dias Toffoli ainda observa: “quando da edição da Lei federal, o país não dispunha de produto qualificado para
substituir o amianto crisotila. No entanto, hoje já existem materiais alternativos. Além de ser importado desde 2003,
o PVA, por exemplo, passou a ser produzido no Brasil a partir de matéria-prima nacional, o fio de polipropileno,
possibilitando a substituição da crisotila. Ressalte-se que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o
Ministério da Saúde já recomendaram a substituição do amianto pelas fibras de poliálcool vinílico (PVA) ou de
polipropileno (PP), conforme Nota Técnica elaborada por Grupo de Trabalho dessa autarquia federal (fl. 1068)...” (fls.
24 do voto).
Finalmente, conclui: “esse conjunto de fatores — quais sejam, (i) o consenso dos órgãos oficiais de saúde geral e
de saúde do trabalhador em torno da natureza altamente cancerígena do amianto crisotila; (ii) a existência de materiais
alternativos à fibra de amianto e (iii) a ausência de revisão da legislação federal, que já tem mais de 22 (vinte e dois
anos) anos — revela a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei Federal n. 9.055/95, por
ofensa, sobretudo, ao direito à saúde (arts. 6.º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos inerentes ao
trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7.º, XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art.
225, CF/88)” (fls. 25).
■ 6.6.5.4. Controle incidental em controle concentrado abstrato e o seu efeito “erga omnes” — eficácia da
decisão do STF — ADI 4.029, j. 08.03.2012 — perspectivas para a mutação constitucional do art. 52, X
Como se sabe, no controle difuso a declaração de inconstitucionalidade se dá de modo incidental e se caracteriza
como questão prejudicial incidental. Ou seja, julga-se procedente ou improcedente o pedido formulado tendo em
vista a inconstitucionalidade ou constitucionalidade de uma lei ou ato normativo. A inconstitucionalidade, nesse caso,
não é o pedido, mas a causa de pedir. Dessa forma, na sentença a ser proferida, o dispositivo contém a “resposta”
(julgamento) ao pedido, e a análise da constitucionalidade dar-se-á na fundamentação.
Por outro lado, no controle concentrado a declaração de inconstitucionalidade se dá de modo principal e é o
próprio pedido formulado na ação (ADI) que se fundamenta em violação formal ou material à Constituição. Por
exemplo, uma lei que cria cargo sem a observância do princípio do concurso público é inconstitucional por violar o
art. 37, II, da CF/88.
Agora, imaginemos que em determinado controle concentrado e em abstrato, ao verificar os fundamentos para
nulificar ou não uma lei, entenda o STF que outro ato normativo, que não fazia parte do pedido, é inconstitucional.
É como se estivéssemos diante do procedimento de cisão previsto para o controle difuso, no qual, diante de
questão de ordem suscitada, paralisa-se o julgamento, cinde-se o processo e encaminha-se a análise da
inconstitucionalidade para o Pleno do Tribunal (art. 97 — cláusula de reserva de plenário).
Avançando, vamos supor que essa questão de ordem a ser resolvida seja suscitada não no controle difuso, mas em
determinada ADI (controle concentrado).
Estamos diante da problemática que surgiu no julgamento da ADI 4.029, que tinha por objeto a Lei n.
11.516/2007, fruto de conversão da MP n. 366/2007 e que dispôs sobre a criação do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público,
autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.
Dentre os vários argumentos discutidos na referida ADI, estava a tese do vício formal, por violação ao art. 62, §
9.º, da CF/88, que estabelece ser atribuição de comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas
provisórias e sobre elas emitir parecer, de caráter opinativo, acrescente-se, antes de serem apreciadas, em sessão
separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
No caso concreto, referida MP foi convertida na lei objeto da ADI sem a apreciação pela comissão mista de
Deputados e Senadores, havendo apenas a emissão de parecer individual de seu relator, nos termos do art. 6.º, §
2.º,93 da Res. n. 1/2002-CN.
Segundo ficou estabelecido na ementa do acórdão, “as comissões mistas e a magnitude das funções das mesmas
no processo de conversão de medidas provisórias decorrem da necessidade, imposta pela Constituição, de assegurar
uma reflexão mais detida sobre o ato normativo primário emanado pelo Executivo, evitando que a apreciação pelo
Plenário seja feita de maneira inopinada, percebendo-se, assim, que o parecer desse colegiado representa, em vez de
formalidade desimportante, uma garantia de que o Legislativo fiscalize o exercício atípico da função legiferante
pelo Executivo. O art. 6.º da Resolução 1 de 2002 do Congresso Nacional, que permite a emissão do parecer por meio
de relator nomeado pela Comissão Mista, diretamente ao Plenário da Câmara dos Deputados, é inconstitucional”
(ADI 4.029, Rel. Min. Luiz Fux, j. 08.03.2012, Plenário, DJE de 27.06.2012).
Dessa forma, embora a lei objeto da ADI tivesse seguido o procedimento de tramitação das medidas provisórias
previsto na Res. n. 1/2002-CN, entendeu o Tribunal que referido procedimento não se conforma ao art. 62, § 9.º, da
CF/88.
Decidiu então a Corte declarar incidentalmente a inconstitucionalidade dos arts. 5.º, caput, e 6.º, caput, e §§ 1.º
e 2.º, da Res. n. 1/2002-CN.
Por consequência, todas as medidas provisórias já convertidas em lei ou mesmo em tramitação que não tivessem
observado o procedimento do art. 62, § 9.º (necessidade de apreciação pela comissão mista, não bastando
manifestação unipessoal de relator), seriam inconstitucionais.
O interessante é que a declaração incidental de inconstitucionalidade (muito embora em controle concentrado e
em ADI genérica) produziria efeitos erga omnes, ex tunc e vinculante, acarretando a inconstitucionalidade de centenas
de medidas provisórias que não observaram o citado procedimento constitucional, apesar de não serem objeto na ação
direta de inconstitucionalidade em julgamento.
É como se houvesse a ampliação de efeitos da decisão, a partir de declaração incidental, atingindo vários atos
normativos que não eram objeto da ADI, em nítido privilégio da eficácia da decisão da Corte. Ou seja, o efeito erga
omnes, ex tunc e vinculante decorria da declaração incidental (e, repita-se, apenas para deixar bem claro,
em CONTROLE CONCENTRADO E EM ABSTRATO, e não em controle difuso — apesar de estarmos tratando
desse assunto em seção do livro que cuida do controle difuso).
O que estamos procurando mostrar é essa tendência de ampliação dos efeitos da decisão. Seria como se a
decisão que estabeleceu a imprescindível necessidade de análise pela comissão mista estivesse sendo veiculada em
súmula vinculante e acarretando a nulificação de diversos atos normativos que não eram o objeto da ADI genérica.
Diante dessa consequência do resultado da declaração incidental, que repercutiria sobre os mais diversos setores
da vida do País, decidiu o Tribunal, aplicando o art. 27 da Lei n. 9.868/99, 94 modular os efeitos da decisão,
dando eficácia ex nunc em relação à pronúncia de nulidade dos dispositivos da resolução do Congresso Nacional,
passando a exigir o respeito ao art. 62, § 9.º, somente a partir daquela decisão. Assim, todas as leis aprovadas de
acordo com o procedimento da Res. n. 1/2002 que dispensaram a emissão de parecer pela comissão mista foram
declaradas, por esse aspecto, constitucionais.
Podemos afirmar, dessa forma, que o modelo de apreciação da medida provisória fixado na resolução do
Congresso Nacional foi declarado “ainda constitucional” até o julgamento da referida ADI 4.029, e, a partir de
então, o STF declarou inconstitucional qualquer inobservância ao art. 62, § 9.º, da CF/88, ficando, por
consequência, preservadas a validade e a eficácia de todas as medidas provisórias convertidas em lei até aquela data,
bem como daquelas que estavam tramitando no Legislativo nos termos do procedimento fixado nos arts. 5.º, caput, e
6.º, caput, e §§ 1.º e 2.º, da Res. n. 1/2002-CN, que permitiam a continuidade do iter procedimental de apreciação da
medida provisória mesmo na hipótese de não haver parecer emitido pela comissão mista no prazo rígido de 14 dias
contados da sua publicação.
■ 6.6.5.5. ADIs 3.406 e 3.470, j. 29.11.2017, DJE de 1.º.02.2019 — mutação constitucional do art. 52, X (7 x 2)
■ Gilmar Mendes
■ Celso de Mello
■ Dias Toffoli
■ Rosa Weber
■ Edson Fachin ■ Ricardo
■ Luiz Fux ■ Marco Aurélio Lewandowski
■ Cármen Lúcia ■ Alexandre de Moraes ■ Roberto Barroso
■ NÃO
■ SIM ■ preservação da regra estabelecida no art. 52,
■ art. 52, X — reconhecimento X — não acolhimento da tese da mutação
de mutação constitucional constitucional ■ NÃO SE
■ o Senado Federal daria ■ a maneira de se dar efeito vinculante seria MANIFESTARAM
simplesmente publicidade à decisão de apenas nos termos da Constituição, qual seja, ■ Impedido o Min.
inconstitucionalidade declarada de modo em processo abstrato e concentrado ou em Barroso e ausente o
incidental pelo STF razão de edição de súmula vinculante Min. Lewandowski
ADIs 3.406 e 3.470, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29.11.2017, DJE de 1.º.02.2019 (pendente o julgamento dos
embargos declaratórios)
As ações em análise enfrentaram a problemática do amianto e, para o conhecimento do tema, remetemos o nosso
querido leitor para o item 7.11.1.
Nesta parte do trabalho vamos apresentar a perspectiva de mutação constitucional do art. 52, X, estabelecida
pelo STF na parte final do referido julgamento. Muito embora a pronunciação da nova interpretação tenha sido dada
em um processo de controle concentrado, ao que parece, essa será a nova linha da Corte, apesar de tecermos críticas e
sustentarmos tratar-se de proposta de inadmitida mutação inconstitucional, conforme apresentamos no item 6.6.5.1.
As ações em análise tinham por objeto lei estadual do Rio de Janeiro que proibiu a extração do asbesto/amianto
em todo território daquela unidade da federação, estabelecendo, ainda, a progressiva substituição da produção e da
comercialização de produtos que contivessem amianto.
Conforme explicamos no item 7.11.1, no fundo, a questão era saber se a lei estadual teria invadido o campo de
competência da lei federal (normas gerais) e, assim, por se tratar de matéria de competência concorrente, se teria ou
não infringido o disposto no art. 24, §§ 1.º ao 4.º.
Em julgamento anterior, o STF já havia declarado, incidentalmente, a inconstitucionalidade da lei federal que
disciplina o amianto, em ação cujo objeto era uma lei do Estado de São Paulo (ADI 3.937, j. 24.08.2017).
Como a declaração de inconstitucionalidade se deu incidentalmente e não houve pronunciamento de nulidade com
efeito erga omnes95 diferente, então, da discussão travada na ADI 4.029 (cf. item 6.6.5.4), nesse caso do Rio de Janeiro
(ADIs 3.406 e 3.470 em análise), a Corte debruçou-se, novamente, sobre a problemática da lei federal e foi além, não
só reafirmando a sua inconstitucionalidade como, também, dando efeito erga omnes e vinculante a essa decisão sobre
a questão prejudicial (o item 8 da ementa do acórdão publicado em 1.º.02.2019 é explícito nesse sentido).
A declaração de inconstitucionalidade se deu incidentalmente em um processo de controle concentrado e abstrato
que tinha como objeto principal a lei estadual do Rio de Janeiro. Para apreciar o pedido formulado na ADI, a Corte
teve que analisar a constitucionalidade da lei federal, que, contudo, não era objeto da ação. Ou seja, a declaração de
inconstitucionalidade se deu incidentalmente, como questão prejudicial, em processo objetivo de controle
abstrato.
Essa pronúncia de nulidade com efeito erga omnes e vinculante da questão prejudicial gerou ampla discussão na
Corte, e, ao final, por 7 x 2, o STF entendeu ter havido mutação constitucional do art. 52, X, sustentando que o papel
do Senado Federal seria apenas o de dar publicidade à decisão judicial. 96
Em razão da importância do tema, estamos trazendo dados do Inf. 886/STF, assim como transcrevendo ou
descrevendo parte dos votos que podem ser analisados a partir da página do Youtube da TV Justiça, lembrando que o
Min. Lewandowski esteve ausente e o Min. Barroso não participou do julgamento por estar impedido. Ou seja,
tivemos 7 x 2 acatando a tese da mutação constitucional do art. 52, X. Vejamos:
■ Min. Marco Aurélio: não admite a tese da mutação constitucional do art. 52, X. Entende que, para afastar a
atribuição que foi dada pelo constituinte originário ao Senado Federal, haveria a necessidade de emenda constitucional
e não de simples atuação do STF, que, da maneira como agiu, violou a independência e harmonia entre os poderes.
A atuação do Senado Federal caracteriza provimento constitutivo de suspensão da execução da lei em todo território
nacional e não meramente declaratório.
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Uma observação importante: o item 9 da ementa do acórdão proferido neste julgamento da ADI 3.937 expressamente estabelece que
a declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 2.º da Lei n. 9.055/95 se deu com efeito erga omnes e vinculante. Contudo, no
julgamento dos embargos declaratórios, a Min. Cármen Lúcia, ao esclarecer que essa questão dos efeitos não foi discutida no
julgamento da referida ação, votou no sentido de acolher, neste ponto, os embargos para, “com efeitos infringentes, declarar a
inconstitucionalidade incidental do art. 2.º da Lei nacional n. 9.055/1995, sem atribuição de efeitos vinculantes e erga omnes no
ponto”, com o que concordamos após a leitura do acórdão. De fato, foi somente no julgamento das ADIs 3.406 e 3.470 que a
Corte expressamente assim se pronunciou em relação à questão (j. 13.10.2020 — voto da Min. Cármen Lúcia nos embargos
declaratórios com efeitos infringentes na ADI 3.937, pendente o julgamento final, tendo havido pedido de vista pelo Min. Alexandre de
Moraes).
96
Nesse sentido, o Min. Gilmar Mendes destacou, em decisão monocrática proferida no MS 25.888, o caráter de força cogente da
declaração de inconstitucionalidade ainda que proferida na via incidental (fls. 26): “É inegável que o ordenamento jurídico vigente
confere eficácia ampla e expansiva às decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, mesmo em sede de controle incidental de
constitucionalidade. A esse respeito, destaca-se a nossa tese, adotada no julgamento das ADIs 3.406/RJ e 3.470/RJ (Rel. Min. Rosa
Weber, Plenário, j. 29.11.2017, DJE 1.º.02.2019), no sentido de que a fórmula relativa à suspensão de execução da lei pelo Senado há de
ter simples efeito de publicidade. Ou seja, se o Supremo, em sede de controle incidental, declarar definitivamente que determinada lei é
inconstitucional, essa decisão terá eficácia erga omnes, fazendo-se a comunicação àquela Casa legislativa apenas para que publique a
decisão no Diário do Congresso”.
Em suas palavras, transcritas de seu voto na sessão, ele manifesta repúdio ao entendimento da mutação
constitucional: “tempos estranhos, aonde vamos parar. Somos 11 Presidente, a integrar o Supremo e temos, realmente,
a última palavra sobre o direito positivo. Mas temos a última palavra sobre o direito positivo considerado o grande
sistema revelado pela Carta da República. E aí, não posso ignorar o que se contém nessa mesma Carta da República;
não posso desconsiderar que 81 são os Senadores e 513 os Deputados, eleitos representantes do povo brasileiro” (...).
“Recuso-me, Presidente, a dizer que o Senado da República é um verdadeiro diário oficial; que simplesmente deve
publicar as decisões do Supremo formalizadas no controle concreto de inconstitucionalidade, formalizadas no âmbito
do controle difuso de inconstitucionalidade” (...). “O art. 52, X, atende à independência e harmonia entre os poderes;
que sinaliza que o sistema nacional é um sistema equilibrado, ao prever, e ao prever em bom vernáculo, que compete
ao Senado não simplesmente publicar a decisão, mas suspender a execução...”
■ Min. Alexandre de Moraes: sustentou que a perspectiva de mutação constitucional do art. 52, X, não foi
formalmente votada por não ter sido levantada como questão de ordem. Assim, a proposta de se atribuir o efeito erga
omnes e vinculante se mostrava extremamente delicada. Ainda, não admitia a proposta de mutação, pois as hipóteses
de efeito vinculante foram revistas pela EC n. 45, que introduziu a súmula vinculante e o instrumento da repercussão
geral. Assim, não poderia o STF alterar o sentido do art. 52, X, pois, no caso, estaria legislando.
■ Min. Gilmar Mendes: há tempos sustenta a proposta de mutação constitucional do art. 52, X (cf. item 6.6.5.1).
A sua proposta ganha força com o advento do CPC/2015, destacando-se os arts. 525, § 12, e 535, § 5.º, que
aproximam o controle difuso do controle concentrado, evitando-se, assim, anomias e fragmentação da unidade. Dessa
forma, a sua leitura seria a seguinte: a Corte comunica ao Senado a decisão de declaração de inconstitucionalidade,
para que ele faça a publicação, intensificando a publicidade. O efeito erga omnes e vinculante decorre da própria
decisão judicial.
■ Min. Celso de Mello: evoluindo o seu entendimento já apresentado neste nosso trabalho, “considerou se estar
diante de verdadeira mutação constitucional que expande os poderes do STF em tema de jurisdição constitucional.
Para ele, o que se propõe é uma interpretação que confira ao Senado Federal a possibilidade de simplesmente,
mediante publicação, divulgar a decisão do STF. Mas a eficácia vinculante resulta da decisão da Corte. Daí se
estaria a reconhecer a inconstitucionalidade da própria matéria”.
■ Min. Dias Toffoli: sustentou a eficácia geral plena, para todo território nacional, da decisão tomada
incidentalmente, evitando que o STF tenha que aguardar eventual atuação discricionária do Senado Federal e seja
forçado a agir burocraticamente, tendo que falar em inúmeros processos o que já decidiu.
É interessante observar, ao assistirmos à sessão do dia 29.11.2017, que, depois de um aparte ao final do Min.
Marco Aurélio dizendo que, com aquela transmudação, passaria a ser possível, agora, o cabimento de RCL
constitucional, o Min. Dias Toffoli “temperou” o seu pensamento dizendo que se tratava de declaração de
inconstitucionalidade em controle concentrado (ADI estadual), nulificando incidentalmente a lei federal. Contudo, ao
que parece, o STF, por maioria de 7 x 2, não fez distinção entre processo objetivo e eventual processo subjetivo,
sugerindo, de modo geral, a mutação constitucional do art. 52, X.
■ Min. Rosa Weber: admitiu a tese da mutação constitucional.
■ Min. Edson Fachin: sustentou que “a declaração de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera
uma preclusão consumativa da matéria. Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem
fim”.
■ Min. Luiz Fux: adotou a proposta de equivalência entre o controle difuso e o controle concentrado,
sustentando, então, que o art. 52, X, CF/88 apenas permitiria a chancela formal do Senado Federal, que não poderia
alterar a essência da declaração de inconstitucionalidade pelo STF.
■ Min. Cármen Lúcia: sustentou que a Corte, seguindo o modelo dos países de common law, está caminhando
no sentido de não ter que declarar inconstitucionalidade de cada ato normativo, mas, no fundo, da própria matéria da
discussão.
Diante do exposto, podemos afirmar que o STF admitiu a mutação constitucional do art. 52, X, prescrevendo,
então, que o papel do Senado Federal é apenas para dar publicidade à decisão. O efeito erga omnes e vinculante
decorreria da própria decisão judicial.
Esse entendimento foi fixado em controle concentrado de lei estadual, como questão prejudicial. Contudo, apesar
das particularidades, entendemos que o STF evoluiu a questão e não terá mais volta.
Teremos que aguardar agora a problemática do cabimento da reclamação constitucional, com algumas discussões
no item seguinte.
Diante do exposto, apesar de o tema ser bem recente no STF e não ter tido um destaque específico, nem mesmo
ter sido tomado em controle difuso puro, temos uma proposta de interpretação a ser feita.
Em nossa opinião, para que a declaração de inconstitucionalidade incidental de lei ou ato normativo produza
efeitos erga omnes e vinculante, independentemente de resolução do Senado Federal, partindo do pressuposto de que,
de fato, houve mutação constitucional do art. 52, X (com o que não concordamos, mas é a posição do STF por 7 x 2),
entendemos que o STF tem 3 medidas a fazer:
■ formalmente deliberar sobre a questão, destacando-a como questão prejudicial;
■ alcançar o quórum de no mínimo 6 Ministros (art. 97, CF/88) no sentido da inconstitucionalidade;
■ fazer integrar a questão resolvida na ementa do acórdão, deliberando sobre os efeitos e podendo, se acharem
conveniente, inclusive, modular os efeitos da decisão, observando, naturalmente, o quórum de 2/3, previsto no art. 27
da Lei n. 9.868/99.
Se eventualmente o STF não pronunciar o efeito erga omnes e vinculante, por algum motivo, pensamos que o
Senado Federal continuará com a sua missão prevista no art. 52, X. Mas isso, naturalmente, é um pensamento e
teremos que acompanhar como a Corte irá enfrentar essa nova realidade (pendente).
Finalmente, apenas em relação à questão específica do amianto e do efeito erga omnes e vinculante da decisão que
reconheceu a inconstitucionalidade do art. 2.º da lei federal, a Min. Rosa Weber, em 19.12.2017, deferiu, “forte no
poder geral de cautela e nos moldes dos arts. 297, 932, II, 995, parágrafo único, e 1.026, § 1.º, do CPC/2015, o pedido
de tutela de urgência para suspender, em parte, os efeitos da decisão, apenas no ponto em que se atribuiu
eficácia erga omnes à declaração de inconstitucionalidade do art. 2.º da Lei n. 9.055/1995, até a publicação do
acórdão respetivo e fluência do prazo para oposição dos aventados embargos de declaração” (pendente o julgamento
dos embargos de declaração com o objetivo de modulação dos efeitos da decisão).
Nacionais “possuem legitimidade ativa para a propositura de ações diretas de inconstitucionalidade, pois são entidades de alcance
nacional e atuação transregional dotadas de expresso mandato para representação de interesses de setores econômicos,
comportando diversas classes” (ADI 3.870, j. 27.09.2019, DJE de 24.10.2019).
Contudo, essa nossa proposta de aplicação do art. 10 do CPC/2015 parece não vir a ser reconhecida pela Corte.
De fato, muito embora o art. 3.º, I, da Lei n. 9.868/99 exija a indicação dos “fundamentos jurídicos do pedido em
relação a cada uma das impugnações”, o STF tem afirmado, conforme vimos, que essa fundamentação não vincula
a Corte (causa petendi aberta), que poderá, inclusive, “examinar a questão por fundamento diverso daquele alegado
pelo requerente” (nesse sentido, ADI 1.749, Rel. p/ o ac. Min. Nelson Jobim, j. 25.11.1999, Pleno; ADI 2.728; ADI
2.213 e, já na vigência do CPC/2015, ADI 3.796, j. 08.03.2017, DJE de 1.º.08.2017).
E um alerta deve ser feito: a perspectiva de julgamento além do pedido deve ocorrer somente se admitida a
técnica de julgamento da nulificação por arrastamento, havendo conexão com o objeto da ação. Isso porque, “embora
no controle abstrato de constitucionalidade a causa de pedir seja aberta, o pedido da inicial deve ser certo e
determinado. Impossibilidade de o julgador ampliar o objeto da demanda de ofício” (ADPF 347 TPI-Ref, j.
18.03.2020).
■ inexistência de impedimento ou suspeição: “não há impedimento, nem suspeição de Ministro, nos
julgamentos de ações de controle concentrado, exceto se o próprio Ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua
não participação” (tese fixada no julgamento da ADI 6.362, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 02.09.2020,
ratificando o posicionamento firmado em questão de ordem quando da apreciação da ADI 2.238, j. 24.06.2020.
Precedente: ADI 3.345).
Conforme destacou o Min. Celso de Mello, “a diretriz jurisprudencial ora referida encontra fundamento na
circunstância de que os institutos do impedimento e da suspeição restringem-se ao plano dos processos subjetivos, em
cujo âmbito discutem-se situações individuais e interesses concretos, não se estendendo nem
incidindo, ordinariamente, no processo de fiscalização abstrata, que se define como típico processo de caráter objetivo
destinado a viabilizar ‘o julgamento não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese (...)’ (RTJ
95/999, Rel. Min. Moreira Alves)” (ADI 2.238, fls. 19). (O tema poderá ser retomado no julgamento da ADI 5.953,
que tem por objeto o art. 144, VIII, CPC/2015 — pendente).
Atualização fl. 370
■ 6.7.1.16.9. “AMICUS CURIAE” PODE INTERPOR RECURSO?
Sim, mas apenas em relação à decisão que indefere o pedido de ingresso do amicus curiae. A decisão do relator
que defere o ingresso é irrecorrível.
O amicus curiae, por se tratar de terceiro estranho à relação processual, não pode interpor recurso,
impugnando o acórdão proferido nas ações de controle concentrado, para discutir a matéria em análise no processo
objetivo perante o STF (apenas deixamos a informação que o art. 138, § 3.º, do CPC/2015 estabelece que o amicus
curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas — IRDR).
E em face da decisão que admite ou rejeita a sua intervenção?
Conforme visto, a lei (art. 7.º, § 2.º, da Lei n. 9.868/99 e art. 138 do CPC/2015) estabelece que o relator
poderá, por despacho irrecorrível (na verdade é uma decisão), admitir a manifestação de outros órgãos ou
entidades. Duas correntes surgiram: a) a irrecorribilidade prevista na lei seria apenas se a decisão fosse no sentido de
“admitir”; b) a irrecorribilidade seria tanto se a decisão admitisse ou não o ingresso do amicus curiae.
Em um primeiro momento, vários precedentes no STF admitiam a interposição do recurso de agravo
interno (art. 1.021 do CPC/2015) na hipótese de indeferimento do ingresso (cf.: ADI 3.105 ED, ADI 3.934 ED-AgR,
ADI 3.615 ED, ADI 2.591 ED, ADI 5.022 AgR).
A matéria começou a ser revista no julgamento da ADI 3.396-ED (empate em 5 x 5 quando, em 25.05.2016, o
processo foi suspenso para o voto de desempate da Min. Cármen Lúcia). Em 17.10.2018, contudo, verificou-se
verdadeira viragem jurisprudencial, passando a Corte a não mais admitir a interposição de recurso tanto no caso de
admissão como no de indeferimento (RE 602.584).
Dentre os argumentos a justificar o novo posicionamento podemos destacar a própria essência de colaborador da
Corte, assim como a dita vontade democrática exposta na legislação processual que disciplina a matéria. Conforme
vimos, o art. 138 do CPC/2015 “é explícito no sentido de conferir ao juiz competência discricionária para admitir ou
não a participação, no processo, de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, e de não admitir
recurso contra essa decisão” (Inf. 920/STF).
Outro ponto a justificar a nova orientação seriam os “possíveis prejuízos ao andamento dos trabalhos da Corte
decorrentes da admissibilidade do recurso, sobretudo em processos em que há um grande número de requerimentos de
participação como amicus curiae”.
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CUIDADO: em 06.08.2020, o STF mudou, novamente, o seu entendimento, havendo o julgamento final da ADI
3.396-ED, que estava pendente. Por 6 x 5, a Corte passou a admitir a interposição de recurso contra a decisão
que nega ingresso de amicus curiae em ação direta de inconstitucionalidade.
Devemos alertar que desse julgamento o Min. Alexandre de Moraes não participou, pois já havia voto proferido
pelo Min. Peluso, o seu antecessor. Portanto, devemos acompanhar o tema de perto, lembrando, ainda, a substituição
do Min. Celso de Mello (que admitiu o agravo) pelo Min. Kássio Nunes, que tomou posse em 05.11.2020.
Muito embora tenha sido fixado o prazo de 120 dias para que o Congresso Nacional elaborasse a lei, de maneira
extremamente complicada, pois não se respeitou a ordem judicial que fixava o prazo mais do que razoável, somente
em 26.06.2017 foi editada a Lei n. 13.460, estabelecendo as normas básicas para participação, proteção e defesa dos
direitos do usuário dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela administração pública.
A lei é bastante avançada e traz importantes conquistas. Contudo, algo nos chamou muito a atenção: o art. 25 do
dispositivo legal estabelece os seguintes prazos, a contarem da publicação, para sua vigência (vacatio legis):
■ 360 dias para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios com mais de quinhentos mil habitantes;
■ 540 dias para os Municípios entre cem mil e quinhentos mil habitantes; e
■ 720 dias para os Municípios com menos de cem mil habitantes.
Realmente, lamentável essa previsão de vacatio legis extremamente desarrazoada! A EC n. 19/98, há 19 anos,
fixou um prazo de 120 dias para que a lei fosse elaborada. Passados não 120 dias, mas 19 anos, ou seja, quase 7.000
dias (e não 120, insista-se), a lei foi publicada. Curiosamente, os Parlamentares fixaram novos prazos para sua
vigência, totalmente inaceitáveis. Em nosso entender, o art. 25 da lei, que estabelece referidos prazos, tendo como
parâmetro o de 120 dias a contar da promulgação da EC n. 19/98, ou seja, a contar de 04.06.1998, é flagrantemente
inconstitucional.
Essa questão, pensamos, poderia ter sido discutida na referida ADO em análise, sob a perspectiva de que o
desproporcional prazo de vacatio legis significou afronta ao prazo de 120 dias fixado na liminar, que foi proferida no
ano de 2013. Em 20.12.2017, contudo, o processo foi extinto em razão do advento da lei e, assim, eventual discussão
somente poderá ser travada em ação individual ou mediante a propositura de eventual ADI.
Agora passamos a analisar o segundo precedente, qual seja, o julgamento da ADO 25, que se deu pelo Plenário
do STF e, assim, sem dúvida, trouxe novas e avançadas perspectivas.