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DIREITO CONSTITUCIONAL

C APÍ TULO VI : CONTROLE DE


CONSTI TUCIONALI DAD E

Por: Juliana Figueiredo

- Pontos gerais
 A maioria da doutrina brasileira (Rui Barbosa, Alfredo Buzaid, Castro Nunes e Francisco
Campos) acatou, inclusive por influência do direito norte-americano, a caracterização da
teoria da nulidade ao se declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo (plano
da validade). Trata-se, nesse sentido, de ato declaratório que reconhece uma situação
pretérita (vício congênito, de nascimento, de origem);
 Contra o entendimento anterior, destaca-se a teoria da anulabilidade da norma
inconstitucional defendida por Kelsen e que influenciou a Corte Constitucional austríaca,
caracterizando-se como constitutiva a natureza jurídica da decisão que reconhece. Para
esse sistema, a Corte Constitucional não declara nulidade, mas anula, cassa uma lei que,
até o momento em que o pronunciamento da Corte não seja publicado, é válida e
eficaz. No BR, em sede doutrinária minoritária, destacam-se Pontes de Miranda e Regina
Nery Ferrari.

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 Cappelletti observa que tanto o sistema austríaco como o sistema norte-americano


tiveram de ser reavaliados, visto que insubsistentes;
 A regra geral da nulidade absoluta da lei inconstitucional vem sendo, casuisticamente,
afastada pela jurisprudência brasileira e repensada pela doutrina. Ao lado do princípio da
nulidade, que adquire, certamente, o status de valor constitucionalizado, tendo em vista o
princípio da Supremacia da Constituição, outros valores, de igual hierarquia, destacam-se,
por exemplo, o princípio da segurança jurídica e o da boa-fé;
 Mitigação do princípio da nulidade no controle concentrado: o Brasil ―legalizou‖ a
tendência jurisprudencial que já vinha sendo percebida, muito embora lentamente, a
flexibilizar a rigidez do princípio geral (e que ainda é a regra) da nulidade da lei declarada
inconstitucional no controle concentrado  art. 27 da Lei nº 9.868/99  modulação dos
efeitos;
 Mitigação do princípio da nulidade no controle difuso: a regra do citado art. 27 tem sido
aplicada, por analogia, ao controle difuso. O STF, a luz do princípio da segurança jurídica,
do princípio da confiança, da ética jurídica, da boa-fé, todos constitucionalizados, em
verdadeira ponderação de valores, vem, casuisticamente, mitigando os efeitos da
decisão que reconhece a inconstitucionalidade das leis também no controle difuso,
preservando-se situações pretéritas consolidadas com base na lei objeto do controle.

- Constitucionalidade e inconstitucionalidade superveniente


 Em regra, não se admite ambas;
 Constitucionalidade superveniente: fenômeno pela qual uma lei ou ato normativo que
tenha ―nascido‖ com algum vício de inconstitucionalidade, seja formal ou material, se
constitucionaliza  inadmitido, uma vez que vício congênito não se convalida. Lenza
aponta como exceção a ADI 2.240 e ADO 3.682 (caso Luís Eduardo Magalhães); e a EC nº
57/2008 (correção de vício congênito por decisão política do parlamento);
 Inconstitucionalidade superveniente: seria o fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo
que ―nasceu‖ perfeita, sem nenhum vício de inconstitucionalidade, vem a se tornar
inconstitucional. O STF afasta a possibilidade em razão da caracterização de outros
institutos específicos e próprios:
- lei editada antes do advento da nova Constituição (fenômeno da recepção): se surgiu
antes será recepcionada ou não recepcionada. Não se pode falar em
inconstitucionalidade superveniente nesse caso, pois não haverá preenchimento da regra
da contemporaneidade;
- lei editada já na vigência da nova Constituição e superveniência de emenda
constitucional futura que altere o fundamento de constitucionalidade da lei: revogação,
haja vista que se tornou incompatível.
Entretanto, Lenza aponta como exceções: a) mutação constitucional (mudança no
sentido interpretativo); e a b) mudança no substrato fático da norma (não se tem uma
alteração no parâmetro da Constituição, mas nos novos aspectos de fato que surgem e
que não eram claros no momento da primeira interpretação  situação do amianto).

- Evolução do controle de constitucionalidade no Brasil

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 Constituição de 1824: a constituição imperial não estabeleceu nenhum sistema de


controle; existia o dogma da soberania do parlamento (influência do direito francês), ou
seja, somente o Órgão Legislativo poderia saber o verdadeiro sentido da norma; e, para
Clèmerson Merlin Clève, a existência do Poder Moderador também inviabilizava a
fiscalização jurisdicional da constitucionalidade do Império.
 Constituição de 1891: a partir da Constituição Republicana de 1891, sob a influência do
direito norte-americano, consagra-se, no direito brasileiro, mantida até a CF/88, a técnica
de controle de constitucionalidade de lei ou ato com indiscutível caráter normativo, por
qualquer juiz ou tribunal; tratava-se do controle difuso de constitucionalidade, repressivo,
posterior, ou aberto, pela via de exceção ou defesa, pelo qual a declaração de
inconstitucionalidade se implementa de modo incidental, prejudicialmente ao mérito.
 Constituição de 1934: manteve o controle difuso; estabeleceu, além da ação direta de
inconstitucionalidade interventiva, a denominada cláusula de reserva de plenário e a
atribuição ao Senado Federal de competência para suspender a execução, no todo ou
em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional por decisão definitiva.
 Constituição de 1937: denominada de Polaca (elaborada sob a inspiração da Carta
ditatorial de 1935); manteve o sistema difuso de constitucionalidade, mas estabeleceu a
possibilidade de o Presidente da República influenciar as decisões do Poder Judiciário;
implicou em um desproporcional fortalecimento do Executivo.
 Constituição de 1946: furto do movimento de redemocratização e reconstitucionalização;
restaurou a tradição do sistema de controle de constitucionalidade; através da EC nº
16/1965, criou-se no Brasil uma nova modalidade de ação direta de inconstitucionalidade,
de competência originária do STF, a ser proposta exclusivamente pelo Procurador-Geral
da República; também se estabeleceu a possibilidade de controle concentrado em
âmbito estadual.
 Constituição de 1967 e EC nº 1/69: a possibilidade de controle concentrado em âmbito
estadual foi excluída, mas a EC nº 1/69 acabou prevendo o controle de
constitucionalidade de lei municipal, em face da Constituição Estadual, para fins de
intervenção no Município.
 Constituição de 1988: elaborada pela Assembleia Nacional Constituinte convocada pela
EC nº 26/1985; trouxe 04 (quatro) principais novidades no sistema de controle de
constitucionalidade (i. no âmbito federal, ampliou a legitimação para a propositura da
representação de inconstitucionalidade, acabando com o monopólio do PGR; ii.
estabeleceu a possibilidade de controle de constitucionalidade das omissões legislativas –
ADO; iii. nos termos do art. 125, § 2º, os Estados poderão instituir a representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da
Constituição Estadual; iv. pela primeira vez no ordenamento jurídico brasileiro, facultou-se
a criação da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), no § único
do art. 102); posteriormente, com a EC nº 3/93, estabeleceu a ação declaratória de
constitucionalidade (ADC); para José Afonso da Silva, o BR seguiu o sistema norte-
americano, evoluindo para um sistema misto e peculiar que combina o critério difuso por
via de defesa com o critério concentrado por via de ação direta de
inconstitucionalidade.

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- Espécies de inconstitucionalidade e o ―estado de coisas inconstitucional‖

 Inconstitucionalidade por ação (positiva ou por atuação) e por omissão (inércia);


 A inconstitucionalidade por ação pode-se dar: I) do ponto de vista formal
(nomodinâmica); II) do ponto de vista material (nomoestática); e, segundo Lenza, III) por
vício do decoro parlamentar.

 Vício formal:
- Verifica-se quando a lei ou ato normativo infraconstitucional contiver algum vício em sua
forma, ou seja, em seu processo de formação, no processo legislativo de sua elaboração,
ou, ainda, em razão de sua elaboração por autoridade incompetente;
- São subespécies da inconstitucionalidade formal:
I) inconstitucionalidade formal orgânica:
 decorre da inobservância da competência legislativa para a elaboração do
ato;
II) inconstitucionalidade formal propriamente dita;
 decorre da inobservância do devido processo legislativo. Podemos falar,
então, além de vício de competência legislativa (inconstitucionalidade
orgânica), em vício no procedimento de elaboração da norma, verificado em
momentos distintos: na fase de iniciativa ou nas fases posteriores;
a) vício formal subjetivo: verifica-se na fase de iniciativa (lei que é de iniciativa
exclusiva do PR, mas um Deputado Federal inicia);
b) vício formal objetivo: será verificado nas demais fases do processo legislativo,
posteriores à fase de iniciativa (lei complementar sendo votada por um quorum
de maioria relativa, já que a lei complementar deve ser aprovada por maioria
absoluta, nos termos do art. 69 da CF);
III) inconstitucionalidade formal por violação a pressupostos objetivos do ato:
 segundo Canotilho, ―hoje se põe seriamente em dúvida se certos
elementos tradicionalmente não reentrantes no processo legislativo não

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poderão ocasionar vícios de inconstitucionalidade. Estamos a referir-nos aos


chamados pressupostos, constitucionalmente considerados como elementos
determinantes de competência dos órgãos legislativos em relação a certas
matérias‖. Canotilho aponta que ―... são elementos externos ao
procedimento de formação das leis...‖, e a sua falta gera a
inconstitucionalidade formal, já que os pressupostos do ato legislativo devem
ser atendidos como ―elementos vinculados do ato legislativo‖;
 transportando a teoria supracitada de Canotilho para o direito brasileiro,
Clèmerson Merlin Clève menciona como exemplo a edição de medida
provisória sem a observância dos requisitos da relevância e da urgência (art.
62, caput) ou a criação de Municípios por lei estadual sem a observância dos
requisitos do art. 18, § 4º.

 Vício material:
- Chamado de vício de conteúdo, substancial ou doutrinário, tal defeito diz respeito à
matéria, ao conteúdo do ato normativo. A inconstitucionalidade material também é
conhecida como nomoestática.

 Vício de decoro parlamentar:


- O vício em questão foi mencionado na ADI 4.887 (o vício não maculou a EC em um
todo), tendo sido denominada como ―vício na formação da vontade no procedimento
legislativo‖, a ensejar a violação aos princípios democráticos e do devido processo
legislativo, implicando, necessariamente, a inconstitucionalidade do ato normativo. Nas
palavras de Barroso: ―a inconstitucionalidade por violação ao devido processo legislativo
também pode decorrer da prática de atos ilícitos que ocasionem vícios na vontade do
povo. Naqueles casos em que houve flagrante violação da moralidade legislativa através
de evidências concretas da compra e venda de votos para a prevalência de interesses
particulares, o Judiciário possui o dever de intervir e invalidar a norma nascida sob tais
circunstâncias.‖
Ex.: compra e venda de votos para conseguir apoio político: feriu o art. 55, § 1º da CF.

 O ―estado de coisas inconstitucional‖: terminologia usada pelo Min. Marco Aurélio, no


julgamento da cautelar na ADPF 347. Segundo o Min., ―presente quadro de violação
massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência
de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza
normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema o sistema penitenciário nacional
ser caracterizado como ‗estado de coisas inconstitucional‘‖.

- Momentos de controle

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 Controle prévio ou preventivo: antes do projeto virar lei, impedindo a entrada no sistema
normativo de normas que já possuem vícios.
Controle posterior ou repressivo: já sobre a lei, geradora de efeitos (potenciais ou efetivos);
 Controle prévio/preventivo: realizado durante o processo legislativo de formação do ato
normativo, podendo ser feito pelo:
 Legislativo: através de suas comissões de constituição e justiça (se for
inconstitucionalidade parcial, a CCJ poderá oferecer uma emenda corrigindo o vício, no
entanto, quando a CCJ emitir parecer pela inconstitucionalidade e injuridicidade de
qualquer proposição, será esta considerada rejeitada e arquivada definitivamente, por
despacho do Presidente do Senado, salvo, desde que não unânime o parecer, se houver
recurso interposto nos termos do art. 254 do RI (correspondente: art. 54, I, do RI da Câmara
dos Deputados);
 Executivo: caso o Chefe do Executivo entenda ser inconstitucional o projeto de lei
poderá vetá-lo1, exercendo, desta feita, o controle de constitucionalidade – podendo ser
por considerar inconstitucional (veto jurídico) ou contrário ao interesse público (veto
político);
 Judiciário2: o controle a ser realizado pelo Judiciário sobre a PEC ou projeto de lei em
trâmite na Casa Legislativa busca garantir ao parlamentar o respeito ao devido processo

1 O Referido veto, necessariamente, nos termos do art. 66, § 4º, da CF/88, será apreciado em sessão
conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal dentro de 30 dias a contar de seu
recebimento, podendo, pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em votação
ostensiva, ou seja, por voto ―aberto‖, ser rejeitado (afastado), produzindo, nesse caso, os mesmo
efeitos que a sanção. Derrubado o veto, o projeto deverá ser enviado ao Presidente da República
para promulgação no prazo de 48 horas e, se este não o fizer, caberá ao Presidente do Senado
Federal a promulgação, em igual prazo, e, caso este não a promulgue, caberá ao Vice-Presidente
do Senado fazê-lo.
2 Limites do controle jurisdicional  Nos termos da jurisprudência do STF, o controle a ser exercido

pelo Judiciário durante o processo legislativo abrange somente a garantia de um procedimento

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legislativo, vedando a sua participação em procedimento desconforme com as regras da


Constituição. A legitimação para impetração do MS é exclusiva do parlamentar, na
medida em que o direito público subjetivo de participar do processo legislativo hígido
pertence somente aos membros do Poder Legislativo 3. Ressalte-se que a perda
superveniente do mandato parlamentar desqualifica a legitimação ativa do congressista.

 Controle posterior/repressivo: será realizado sobre a lei, e não mais sobre o projeto de lei,
como ocorre no controle preventivo.
 Político: verifica-se em Estados onde o controle é exercido por um órgão distinto dos três
Poderes, órgão esse garantidor da Supremacia da Constituição. Tal sistema é comum em
países da Europa. No BR, Barroso sustenta que o veto do Executivo a projeto de lei, por
entendê-lo inconstitucional (veto jurídico), bem como a rejeição de projeto de lei na CCJ
seriam exemplos de controle político;
 Jurisdicional: é realizado pelo Poder Judiciário, tanto por um único órgão (controle
concentrado) como por qualquer outro juiz ou tribunal. O BR adotou o sistema jurisdicional
misto (difuso e concentrado), porque é realizado pelo Poder Judiciário tanto de forma
concentrada como por qualquer juiz ou tribunal;
 Híbrido: temos uma mistura dos outros dois sistemas acima noticiados. Assim, algumas
normas são levadas a controle perante um órgão distinto dos três Poderes (controle
político), enquanto outras são apreciadas pelo Poder Judiciário (controle jurisdicional).

 Controle prévio ou preventivo realizado pelo Poder Judiciário e a perspectiva das ―normas
constitucionais interpostas‖ (Zagrebelsky): o tema mencionado no MS 22.503 (pela total
não apreciação e interpretação de normas do Regimento Interno do Parlamento) é a
regra (ADOTAR NAS PROVAS), mas, de acordo com Lenza, poderia ser visto com
temperamentos quando se tratar de normas constitucionais interpostas. A tese foi
discutida por Gilmar Mendes no MS 26.915, Mendes, trazendo em pauta o estudo de
Gustavo Zagrebelsky, asseverou que ―... se as normas constitucionais fizerem referência
expressa a outras disposições normativas, a violação constitucional pode advir da
violação dessas outras normas, que, muito embora, não sejam formalmente
constitucionais, vinculam os atos e procedimentos legislativos, constituindo-se normas
constitucionais interpostas.‖
 Exceções ao controle posterior/repressivo  em regra exercido pelo Poder Judiciário
(concreta ou difusa):
 Realizado pelo Legislativo

em total conformidade com a Constituição, não lhe cabendo, contudo, a extensão do controle
sobre aspectos discricionários concernentes às questões e aos interna corporis, vedando-se, desta
feita, interpretações das normas regimentais.
*a) em relação a projeto de lei, o controle judicial não analisará a matéria, mas apenas o processo
legislativo; b) em relação à PEC, o controle será mais amplo, abrangendo não apenas a
regularidade de procedimento, mas, também, a matéria, permitindo o trancamento da tramitação
de PEC que tenda a abolir cláusula pétrea.
3 A perda superveniente do mandato parlamentar desqualifica a legitimação ativa do congressista

 STF

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I. Art. 49, V, da CF: ―É da competência exclusiva do Congresso Nacional sustar os


atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do Poder regulamentar ou dos
limites de delegação legislativa‖;
- O controle será realizado através do decreto legislativo a ser expedido pelo Congresso
Nacional;
- Controle de legalidade;
II. Art. 62 da CF: ―Em caso de relevância e urgência, o PR poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional‖;
- Entendendo-a inconstitucional, o CN estará realizando controle de
constitucionalidade  exceção a regra geral (controle jurisdicional misto);

 Realizado pelo Executivo


- Antes do advento da CF88 a doutrina e a jurisprudência consolidaram o entendimento
de que o Chefe do Poder Executivo poderia deixar de aplicar uma lei por entendê-la
inconstitucional, cabendo-lhe, ainda, baixar determinação na condição de superior
hierárquico, para que os seus subordinados também não cumprissem a lei  antes da
CF88 o único legitimado para propor ações de (in)constitucionalidade era o PGR;
- Entendimento após do CF88 ampliou a legitimação para ajuizamento da ADI, não mais
se admitiria o descumprimento de lei inconstitucional pelo Chefe do Executivo. A tese
ganhou alguns adeptos na doutrina, outros, porém alertaram para uma realidade: de
fato, pela nova regra, são legitimados o PR (art. 103, I) e os Governadores do Estados e do
DF (art. 103, V). E quanto aos Prefeitos?
Em virtude dessa situação, buscou a doutrina a aplicação da tese do descumprimento da
lei com base no princípio da supremacia da Constituição e da regra de que a aplicação
de lei inconstitucional é o mesmo que a negativa de aplicação da própria Constituição 
Portanto, tese adotada: possibilidade de descumprimento da lei inconstitucional pelo
Chefe do Poder Executivo.

 E quanto aos ―órgãos administrativos autônomos de controle‖ (TCU, CNJ e CNMP)


exercem controle de constitucionalidade?
- Os referidos órgãos não exercem controle de constitucionalidade, seja o difuso ou o
concentrado, entretanto, no caso concreto, poderão reconhecer a desconformidade
formal ou material de normas jurídicas, incompatíveis com a manifestação constituinte
originária.  os ditos órgãos, com a função constitucional de controlar a validade de atos
administrativos, poderão afastar a aplicação de lei ou ato normativo violador da

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Constituição, mas que fique claro: isso não é controle de constitucionalidade (existe
diferença entre afastar e declarar).
 Súmula 347-STF4: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.
- Aprovada em 13/12/1963.
- Existe divergência se essa súmula está superada.
- Manifestaram-se expressamente pela superação da súmula: Ministros Alexandre de
Moraes e Gilmar Mendes.
- Manifestaram-se expressamente pela manutenção da súmula: Ministros Roberto Barroso
e Edson Fachin.
- A Min. Rosa Weber afirmou que o Tribunal de Constas pode ―pelo voto da maioria
absoluta de seus membros, afaste a aplicação concreta de dispositivo legal reputado
inconstitucional, quando em jogo matéria pacificada nesta Suprema Corte‖.

- Sistemas e vias de controle judicial

 Via incidental: também chamada de via de exceção ou defesa;


 Via principal: abstrata ou pela via de ―ação‖;
 Via de regra, o sistema difuso é exercido pela via incidental, destacando-se, aqui, a
experiência norte-americana, que, inclusive, influenciou o surgimento do controle difuso
no Brasil;
 Por outro lado, o controle concentrado é exercido pela via principal, como decorre da
experiência austríaca e se verifica no sistema brasileiro  regra que comporta exceções
(podemos pensar em situação na qual o controle será concentrado [em órgão de
cúpula, com competência originária], mas incidental, discutindo-se a questão de
constitucionalidade como questão prejudicial ao objeto principal da lide)  ex.: art. 102, I,

https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/690bb330e5e7e3e07867fafc4d3
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―d‖, que estabelece ser competência originária do STF processar e julgar o HC, sendo
paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores;

* A exceção fica por conta da representação interventiva (art. 36, III, CF/88), na qual
temos uma espécie de controle concentrado-concreto.

- Técnica de decisão:
Que tipo de técnica de decisão o STF pode utilizar em uma ADI/ADC/ADPF?
a) Declaração de Nulidade (Inconstitucionalidade) com redução total de texto: A
declaração de nulidade atinge toda a lei, ato normativo ou todo o dispositivo. (Fazendo
uma analogia, é como se o legislador tivesse revogando a lei).
b) Declaração de nulidade com redução parcial de texto: Apenas uma parte da lei ou de
dispositivo é considerada inconstitucional. Contudo, a impugnação parcial de uma norma
só é admissível no controle abstrato quando se puder presumir que o restante do
dispositivo (não impugnado) seria editado independentemente da parte supostamente
inconstitucional - STF ADI (MC) 2.645/TO.
c) Declaração de Nulidade sem redução de texto: Ocorre quando um determinado texto
possui mais de uma interpretação (normas polissêmicas ou plurissignificativas) sendo que
uma delas é incompatível com a CF. Nestes casos, o texto da lei permanece inalterado,
mas as possibilidades de sua abrangência sofrem uma redução. Logo, quando se fala
em declaração de nulidade sem redução de texto significa que o texto da lei permanece
com a mesma redação (não se exclui uma parte do texto/lei, mas sim uma determinada
interpretação que aquele dispositivo/ lei pode ter).
Diferenças sobre a declaração de nulidade sem redução de texto e o Princípio da
interpretação Conforme.
A declaração de nulidade sem redução de texto: exclui uma interpretação e permite as
demais. Só pode ser aplicada no controle ABSTRATO.
O Princípio da interpretação Conforme: permite uma interpretação e exclui as demais.
Pode ser aplicado em todos os controles.
 Melhor explicando, as duas técnicas de decisão são aplicadas diante de normas
polissêmicas (normas que admitem várias interpretações). Assim, na declaração de

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nulidade sem redução de texto, há restrição de determinada interpretação (declarando a


inconstitucionalidade de uma interpretação), admitindo diversas outras (o leque
interpretativo continua amplo). Já no caso da interpretação conforme a Constituição,
diante de diversas interpretações possíveis, uma é indicada como certa (declarando a
constitucionalidade de uma interpretação), e isso restringe o leque interpretativo a uma
interpretação somente5.

Técnica de decisão Declaração de nulidade sem Interpretação conforme a


redução de texto Constituição
Consequência Declara inconstitucionalidade Declara a constitucionalidade
de uma interpretação de uma interpretação

 Controle Difuso
 Origem histórica: Marbury versus Madison;
 O controle difuso, repressivo, ou posterior, é também chamado de controle pela via de
exceção ou defesa, ou controle aberto, sendo realizado por qualquer juízo ou tribunal do
Poder Judiciário;
 No tribunal competente, distribuído o processo para a turma, câmara ou seção, arguida,
em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, o
relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão ao referido órgão
fracionário ao qual competir o conhecimento do processo, que poderá proferir duas
decisões: 1) rejeitar a arguição (o julgamento prosseguirá) ou 2) acolher a arguição (a
questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial, onde houver 
art. 97 da CF88  voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do
respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo do Poder Público  cláusula de reserva de plenário  também chamada
de full bench);
 Segue o procedimento do art. 950 do CPC:
- Após o julgamento da questão incidental de inconstitucionalidade pelo pleno ou órgão
especial do tribunal, o órgão fracionário, vinculado à decisão, seja em que sentido for,
julgará a questão principal de mérito. Ressalte-se, portanto, a lavratura de 03 acórdãos:
I) arguida a questão incidental de inconstitucionalidade, após o julgamento da questão
incidental de inconstitucionalidade, a primeira decisão será tomada pelo órgão
fracionário no sentido de acolher ou não o incidente. Acolhido, cinde-se o julgamento e
se remetem os autor para o órgão especial ou plenário analisar o incidente de
inconstitucionalidade; II) submetida a questão ao órgão especial ou plenário, haverá,
com o julgamento, um segundo acórdão, declarando a constitucionalidade ou não da lei
ou do ato normativo; III) finalmente, julgada a questão incidental, o órgão fracionário,
vinculado à decisão, julgará a questão principal e será lavrado o terceiro acórdão.

5Direito constitucional / Rodrigo Padilha. - 5. ed., rev., atual. e ampl.– Rio de Janeiro:Forense, São
Paulo: MÉTODO, 2018, p. 231.

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 Diante desses 03 acórdãos, qual será o momento para a interposição do eventual recurso
extraordinário?
Súmula 513 do STF  A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário ou
extraordinário não é a do plenário, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas
a do órgão (câmaras, grupos ou turmas) que completa o julgamento do feito.
 A regra do art. 97 destaca-se como verdadeira condição de eficácia jurídica da própria
declaração de inconstitucionalidade dos atos do Poder Público (SV 10: viola a cláusula de
reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte). Diferentemente: não viola a
cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que deixa de
aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda,
que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem
potencial ofensa direta à Constituição6;
 Exceção: enaltecendo o princípio da economia processual, da segurança jurídica e na
busca da desejada racionalização orgânica da instituição judiciária brasileira, a
jurisprudência do STF desenvolveu-se no sentido de se dispensar o procedimento do art. 97
toda vez que já houvesse decisão do órgão especial ou pleno do tribunal, ou do STF, o
guardião da Constituição sobre a matéria;
 A mitigação da regra de reserva de plenário vem sendo observada em outras situações:
1. Art. 949, § ú, do CPC
2. Se o tribunal mantiver a constitucionalidade do ato normativo, ou seja, não
afastar a sua presunção de validade
3. Nos casos de normas pré-constitucionais, porque a análise do direito editado no
ordenamento jurídico anterior em relação à nova Constituição não se funda na
teoria da inconstitucionalidade, mas, como já estudado, em sua recepção ou
revogação
4. Quando o Tribunal utilizar a técnica da interpretação conforme a Constituição,
pois não haverá declaração de inconstitucionalidade7;

6 Min. Cármen Lúcia, "é possível que dada norma não sirva para desate do quadro submetido ao
crivo jurisdicional pura e simplesmente porque não há subsunção" (Rcl 6944). Em palavras mais
simples, a lei ou ato normativo não se enquadra no caso concreto.
7 Deve ser aplicada a cláusula de reserva de plenário se o órgão fracionário faz apenas uma

interpretação conforme?
Existe divergência sobre o tema:
1ª corrente: não se exige o cumprimento da cláusula de reserva de plenário se o órgão fracionário
se utiliza da técnica de interpretação conforme a constituição. Isso porque, neste caso, não haverá
declaração de inconstitucionalidade  corrente majoritária.
2ª corrente: a interpretação conforme constitui-se técnica de decisão no controle de
constitucionalidade, devendo assim observar o art. 97 da CF (reserva de plenário) (STF. 2ª Turma. Rcl
14872, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 31/05/2016).
(https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/251bd0442dfcc53b5a761e050f8
022b8?categoria=1&subcategoria=3&ano=2020&forma-exibicao=apenas-com-
informativo&ordenacao=data-julgado&criterio-pesquisa=e)

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5. Nas hipóteses de decisão em sede de medida cautelar, já que não se trata de


decisão definitiva
 A cláusula de reserva de plenário aplica-se às Turmas do STF no julgamento do RE?
De acordo com as normas regimentais (o julgamento do RE é de competência da Turma
no STF, e o encaminhamento do RE ao Plenário depende do preenchimento das hipóteses
regimentais, e não, simplesmente, de requerimento da parte), a cláusula de reserva de
plenário não se aplica às Turmas do STF no julgamento do RE, seja por não se tratar de
―tribunal‖ no sentido fixado no art. 97, seja, tendo em vista ser função primordial e
essencial da Corte a declaração de inconstitucionalidade, a possibilidade de afetação
dessa atribuição aos seus órgãos fracionários, no caso, as Turmas.
 A cláusula de reserva de plenário aplica-se às Turmas Recursais dos Juizados Especiais?
Não. O art. 97 da CF se refere ao art. 92 e ao art. 93, XI. Assim, as Turmas Recursais poderão
declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de uma lei ou afastar a sua incidência
no todo ou em parte sem que isso signifique violação do art. 97 da CF ou a SV 10 (STF).
 A cláusula de reserva de plenário aplica-se à decisão de juízo monocrático de primeira
instância?
Não. Como visto, a regra do art. 97 é estabelecida para ―tribunal‖, não estando, portanto,
direcionada para o juízo monocrático, mesmo que, incidentalmente, no controle difuso,
declare inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo.
 Efeitos da decisão: em regra geral, os efeitos de qualquer sentença valem somente para
as partes que litigaram em juízo, não extrapolando os limites estabelecidos na lide. No
momento em que a sentença declara a lei inconstitucional (controle difuso realizado
incidentalmente), produz efeitos pretéritos, atingindo a lei desde a sua edição, tornando-a
nula de pleno direito. Produz, portanto, efeitos retroativos.
Assim, no controle difuso, para as partes os efeitos serão (regra): 1) inter partes (entre as
partes); e 2) ex tunc (consagra a regra da nulidade; vício congênito; retroativo).
Entretanto, essas regras abarcam exceções. No que se refere ao “ex tunc‖, o STF tem
admitido a técnica de modulação dos efeitos da decisão também no controle difuso,
aplicando-se, por analogia, o art. 27 da Lei nº 9.868/99.
Já em relação ao efeito inter partes, a perspectiva de expansão da tese de julgamento
começa a ganhar adeptos  transcendência dos motivos determinantes da sentença em
controle difuso ou de abstrativização do controle difuso, ou de objetivação do controle
difuso (temática já enfrentada pelo STF no julgamento da Rcl 4.335, j. 20.03.2014, DJE de
21.10.2014, e, com profundas alterações, no debate do julgamento das ADIs 3.406 e 3.470,
j. 29.11.2017.
 Sobre o art. 52, X, da CF:
Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF,
incidentalmente, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato,
também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes. Assim, se o Plenário
do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato
normativo, ainda que em controle incidental, essa decisão terá os mesmos
efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Houve mutação constitucional do art 52, X, da CF/88. A nova interpretação
deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em

13
DIREITO CONSTITUCIONAL

sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o


STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa
Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido. STF. Plenário. ADI 3406/RJ e
ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886).8
Comentários do Márcio do Dizer o Direito:
- Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle difuso?
SIM. Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no
julgamento, o certo é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a
abstrativização do controle difuso.
Em uma explicação bem simples, a teoria da abstrativização do controle difuso preconiza
que, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei
ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do
controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional e, portanto,
deve ser reinterpretado. Dessa forma, o papel do Senado, atualmente, é apenas o de dar
publicidade à decisão do STF. Em outras palavras, a decisão do STF, mesmo em controle
difuso, já é dotada de efeitos erga omnes e o Senado apenas confere publicidade a isso.
- Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos
determinantes?
NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além do
dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam
vinculantes.
Com a decisão acima explicada, o STF chega mais próximo à teoria da transcendência
dos motivos determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que esta passou a
ser adotada pelo Tribunal. Penso que não seja uma posição segura para se adotar em
provas, considerando que não houve afirmação expressa nesse sentido.
- Ressalva do prof. Márcio: ―vale, por fim, fazer uma observação: Pedro Lenza, em sentido
contrário à posição por mim defendida, entende que, se o STF, em uma ação direta de
inconstitucionalidade, declara incidentalmente uma lei ou ato normativo inconstitucional,
essa declaração não pode ser considerada como controle difuso. Nesse sentido: Direito
Constitucional esquematizado. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2014, p. 326. Trata-se de uma
divergência quanto à nomenclatura‖.

 Controle Concentrado
 O controle concentrado de constitucionalidade de lei ou ato normativo recebe tal
denominação pelo fato de ―concentrar-se‖ em um único tribunal. Pode ser verificado em
cinco situações:
Ação Fundamento Regulamentação
Constitucional

8Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8dd291cbea8f231982db0fb1716
dfc55?categoria=1&subcategoria=3&assunto=26&palavra-chave=art.+52%2C+X&criterio-
pesquisa=e&forma-exibicao=apenas-com-informativo&ordenacao=data-julgado

14
DIREITO CONSTITUCIONAL

ADI – Ação Direta de Art. 102, I, ―a‖ Lei nº 9.868/99


Inconstitucionalidade Genérica
ADC – Ação Declaratória de Art. 102, I, ―a‖ Lei nº 9.868/99
Constitucionalidade
ADPF – Arguição de Art. 102, § 1º Lei nº 9.882/99
Descumprimento de Preceito
Fundamental
ADO – Ação Direta de Art. 103, § 2º Lei nº 12.063/2009
Inconstitucionalidade por Omissão
IF – Representação Interventiva Art. 36, III, c/c, art. 34, VII Lei nº 12.562/2011
(ADI Interventiva)

 ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica


- O que se busca: expurgar do sistema lei ou ato normativo viciado;
- Objeto: lei ou ato normativo que se mostrarem incompatíveis com parâmetro ou
paradigma de confronto;
- Não se admite o controle de constitucionalidade jurisdicional preventivo e abstrato (ADI)
de meras proposições normativas (projetos), já que estas não ensejam inovação formal na
ordem jurídica;
- Lei ou ato normativo em vacatio legis pode ser objeto de controle concentrado via ADI?
Doutrina entende que sim, tendo em vista que a lei ou o ato normativo já existe e, por isso,
encontra-se formalmente incorporado ao sistema de direito positivo. Ademais, se a lei em
vacatio legis pode ser revogada (HC 72.435), poderá, também, ser objeto de ADI;
- O que se entende por lei? Todas as espécies normativas do art. 59 da CF;
- O que se entende por ato normativo para efeitos de controle? Ato normativo que
pressupõe, além da autonomia jurídica da liberação estatal, a constatação de seu
coeficiente de generalidade abstrata, bem assim sua impessoalidade;
- Súmula pode ser objeto de controle? Não. Não possui o grau de normatividade
qualificada. Nem a vinculante por não ser marcada pela generalidade e abstração  o
que existe é um procedimento de revisão;
- Regulamentos subordinados ou de execução e decretos poderiam ser objeto de
controle? Os regulamentos ou decretos regularmente expedidos pelo Executivo (art. 84, IV,
da CF) e demais atos normativos secundários, em regra, não poderiam ser objeto de
controle concentrado de constitucionalidade, pois não estão revestidos de autonomia
jurídica. Trata-se, em verdade, de questão de legalidade. O STF chamou de crise de
legalidade. Frise-se que, nessas hipóteses, o objeto não seria ato normativo primário, com
fundamento de validade diretamente na Constituição, mas ato secundário, com base na
lei. Não se admitindo, portanto, controle de inconstitucionalidade indireta, reflexa ou
oblíqua. Entretanto, o STF admite o controle de constitucionalidade na hipótese de
decretos autônomos;
- Não se admite controle concentrado ou difuso de constitucionalidade de normas
produzidas pelo poder constituinte originário;
- Não se admite constitucionalidade superveniente:

15
DIREITO CONSTITUCIONAL

Imagine que seja ajuizada ADI contra determinada lei alegando que ela viola o
art. XX da CF/88. Ocorre que, antes de a ação ser julgada, é editada uma
emenda constitucional alterando o referido art. XX. Mesmo assim, a ADI deverá
ser julgada. Isso porque em nosso ordenamento jurídico, não se admite a figura
da constitucionalidade superveniente. Desse modo, a lei deve ser reconhecida
como nula em face do dispositivo constitucional que vigorava na época da sua
edição. Trata-se do chamado princípio da contemporaneidade. STF. Plenário.
ADI 2158, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/09/2010.

- A superveniência da revogação – total (ab-rogação) ou parcial (derrogação) – do ato


impugnado em sede de fiscalização normativa abstrata faz instaurar, ante a decorrente
perda do objeto, situação de prejudicialidade, total ou parcial, da ação direta de
inconstitucionalidade. Entretanto, temos exceções: 1) fraude processual (quando a
revogação visa frustrar o julgamento) – ADI 3.232; 2) inexistência de alteração substancial
da norma (continuidade normativa) – ADI 2.501; e 3) comunicação tardia de revogação
da lei objeto da ADI (após o STF ter julgado o mérito da ação reconhecendo a
inconstitucionalidade da lei) – ADI 951 ED;
- Elementos essenciais do controle de constitucionalidade (ADI 595-ES, info. 258/STF): 1)
elemento conceitual; 2) elemento temporal:
1) consiste na determinação da própria ideia de Constituição e na definição
das premissas jurídicas, políticas e ideológicas que lhe dão consistência. A ideia
é identificar o que deve ser entendido como parâmetro de
constitucionalidade. Trata-se de nítido processo de aferição da
compatibilidade vertical. Nesse sentido, 02 posições podem ser encontradas:
1.1) ampliativa (englobando não somente as normas formalmente
constitucionais como, também, princípios não escritos da ―ordem constitucional
global‖ e, inclusive, valores suprapositivos); e outra 1.2) restritiva (o parâmetro
seriam somente as normas e princípios expressos da Constituição escrita e
positivada);
2) Elemento temporal: constatar se o padrão de confronto, alegadamente
desrespeitado, ainda vige, pois, sem a sua concomitante existência,
descaracterizar-se-á o fator de contemporaneidade.

- Teoria da transcendência dos motivos determinantes (efeitos irradiantes ou


transbordantes) – “Ratio decidendi – holding” versus “obter dictum – dictum”:

16
DIREITO CONSTITUCIONAL

- O STF rejeita a aplicação da teoria da transcendência dos motivos determinantes aos


seus julgados (vide Rcl 4448 AgR; Rcl 9778 AgR; Rcl 6204 AgR; e Rcl 11473 AgR, entre
outros). Para o STF, a ―eficácia vinculante dos acórdãos proferidos em processos de
controle concentrado de constitucionalidade abrange apenas o objeto da ação‖ (STF,
Rcl 4.454 AgR, Rel. min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe de 17/3/2015).
- Teoria da transcendência dos motivos determinantes e a reclamação constitucional:
- A Constituição Federal, em seu art. 102, § 2º, estabelece os efeitos da decisão proferida
pelo STF no controle abstrato de constitucionalidade. Tais efeitos são:
1) Quanto ao aspecto SUBJETIVO (quem é atingido pela decisão?).
• Eficácia contra todos (erga omnes)
•Efeito vinculante
2) Quanto ao aspecto OBJETIVO
(que partes da decisão produzem eficácia erga omnes e efeito vinculante?)
1ª corrente: teoria restritiva
Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante.
Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.
2ª corrente: teoria extensiva
Além do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também são
vinculantes. Admite-se a transcendência dos motivos que embasaram a decisão.
O STF não admite a ―teoria da transcendência dos motivos determinantes‖.
Segundo a teoria restritiva, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão
produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação)
não são vinculantes.
A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão
ou ato:
• usurpou competência do STF; ou
• desrespeitou decisão proferida pelo STF.
Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou
os motivos (fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha
caráter vinculante. Isso porque apenas o dispositivo do acórdão é que é
vinculante.

17
DIREITO CONSTITUCIONAL

Assim, diz-se que a jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de


reclamação fundada na transcendência dos motivos determinantes do
acórdão com efeito vinculante.
STF. Plenário. Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 19/11/2015 (Info 808).
STF. 2ª Turma. Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 12/9/2017 (Info 887).

- Teoria da inconstitucionalidade por ―arrastamento‖ ou ―atração‖ ou


―inconstitucionalidade consequente de preceitos não impugnados‖ ou
inconstitucionalidade consequencial, ou inconstitucionalidade consequente ou derivada,
ou ―inconstitucionalidade por reverberação normativa‖:
- Para essa teoria, se em determinado processo de controle concentrado de
constitucionalidade for julgada inconstitucional a norma principal, em futuro
processo, outra norma dependente daquela que foi declarada inconstitucional
em processo anterior – tendo em vista a relação de instrumentalidade que
entre elas existe – também estará eivada pelo vício de inconstitucionalidade
―consequente‖, ou por ―arrastamento‖ ou ―atração‖;
- Arrastamento no plano vertical  reverberação entre normas interconectadas
por uma relação hierárquica;
- A teoria/instituto é, sem dúvidas, exceção à regra de que o juiz deve ater-se
aos limites da lide fixados na exordial (regra da congruência ou correlação
decorrente do princípio dispositivo), especialmente em virtude da correlação,
conexão ou interdependência dos dispositivos legais e do caráter político do
controle de constitucionalidade realizado pelo STF.
- Lei ―ainda constitucional‖, ou ―inconstitucionalidade progressiva‖ ou ―declaração de
constitucionalidade de norma em trânsito para a inconstitucionalidade‖:
- A inconstitucionalidade progressiva é técnica de flexibilização do controle de
constitucionalidade, aplicada pelo Supremo Tribunal Federal, em situações onde
circunstâncias fáticas vigentes sustentam a manutenção das normas questionadas dentro
do ordenamento jurídico. Exemplos:
1) prazo em dobro para a Defensoria Pública no processo penal (HC 70.514);
2) ação civil ex delicto ajuizada pelo MP (Lenza defende que, na verdade, é lei
ainda constitucional e em trânsito para a revogação por não recepção  CPP
é anterior a CF/88);
- Inconstitucionalidade circunstancial: diante de uma lei formalmente constitucional,
busca-se identificar que circunstancialmente a sua aplicação caracterizaria uma
inconstitucionalidade que poderíamos chamar de axiológica.
- Ao analisar a possibilidade de vinculação também para o Legislativo, entende-se que é
inconcebível, uma vez que resultaria no fenômeno da fossilização da Constituição.
Portanto, o Legislativo poderá, inclusive, legislar em sentido diverso da decisão dada pelo
STF, ou mesmo contrário a ela;
- A reversão legislativa da jurisprudência da Corte ocorre mediante manifestação do
poder constituinte derivado, mas no caso de manifestação do poder normativo

18
DIREITO CONSTITUCIONAL

infraconstitucional esta nasce com presunção iuris tantum de inconstitucionalidade, de


forma que caberá ao legislador ordinário o ônus de demonstrar, argumentativamente,
que a correção do precedente faz-se necessária, ou, ainda, que as premissas fáticas e
axiológicas não mais se subsistem;
- ―Atalhamento constitucional‖ e do ―desvio de poder constituinte‖ (utilização de meio
aparentemente legal buscando atingir finalidade ilícita):
- Diz respeito à impossibilidade de que sejam suprimidos ou reduzidos,
decotados ou ―atalhados" os efeitos de princípios constitucionais pela atuação
do legislador ou do constituinte derivado. Foi tratado pelo Supremo ao
enfrentar pedido declaratório de inconstitucionalidade da Emenda
Constitucional que extinguiu a verticalização eleitoral para as coligações
partidárias – caso: a tentativa de burlar o princípio da anualidade do processo
eleitoral, em que foi promulgada EC 52/2006, a qual dispôs que a regra da
obrigatoriedade da vinculação das coligações partidárias em âmbito nacional,
estadual e municipal não se aplicaria às eleições de 2002, numa tentativa de
dar efeito retroativo à mencionada emenda constitucional, que visava, em
verdade, que a norma não fosse aplicada às eleições de 2006. O STF, então,
cuidou de proibir tal expediente, que cuidava-se visivelmente de um desvio de
poder por parte do constituinte reformador.
- Inconstitucionalidade ―chapada‖, ―enlouquecida‖, ―desvairada‖: a evidente, clara,
flagrante, escancarada. Foi utilizada pelo Min. Sepúlveda Pertence;
- Início da eficácia da decisão que reconhece a inconstitucionalidade ou a
constitucionalidade de lei em processo objetivo de controle abstrato: o STF entende que a
decisão passa a valer a partir da publicação da ata de julgamento no DJE, sendo
desnecessário aguardar o trânsito em julgado, salvo casos excepcionais a serem
analisados pelo Presidente do Tribunal;
- Competência: será definida em conformidade com a natureza do objeto da ação, qual
seja, lei ou ato normativo federal, estadual, municipal ou distrital e o parâmetro ou
paradigma de confronto, no caso, a Constituição Federal, a Constituição Estadual, a Lei
Orgânica do Distrito Federal ou qualquer preceito com força normativa constitucional
Lei ou ato normativo Parâmetro/paradigma Competência
Federal/estadual Constituição Federal STF (art. 102, I, ―a‖)
Estadual/municipal Constituição Estadual TJ local (art. 125, § 2º, da CF)
Silêncio eloquente: ausência
de expressa previsão
constitucional  Não cabe
Municipal Constituição Federal ADI no STF, nem no TJ local.
Exceção: pode existir o
controle no TJ local quando
se tratar de normas de
reprodução obrigatória pelos
Estados-mebros (ADI 5.647)9

9 Como regra geral: cabe ADPF nesse caso.

19
DIREITO CONSTITUCIONAL

Municipal Lei Orgânica do Município O art. 125, § 2º da CF/88 foi


silente e, portanto, entende-
se que não autorizou.
Trata-se de controle de
legalidade.
TJDFT – a Lei Orgânica do
Distrito Federal possui a
Distrital Lei Orgânica do DFT mesma natureza jurídica de
uma Constituição Estadual
(STF. Plenário. RE 577.025, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 11/12/2008)
Distrital de natureza Constituição Federal STF
estadual
Não há controle concentrado
no STF.
Distrital de natureza Constituição Federal Exceção: pode existir o
municipal controle no TJDFT quando se
tratar de normas de
reprodução obrigatória pelo
DF

- Legitimidade: rol taxativo (numerus clausus):

- Necessidade de advogado para: partidos políticos (VIII) e as confederações sindicais ou


entidades de classe de âmbito nacional (IX). O restante  capacidade postulatória
decorre da Constituição;
- “Amicus curiae” (ADI e demais ações) e audiências públicas (―sociedade aberta dos
intérpretes da Constituição‖ – Peter Häberle): Häberle propõe a ideia de que a
interpretação não pode ficar restrita aos órgãos estatais, mas que deve ser aberta para
todos os que ―vivem‖ a norma (Constituição), sendo, assim, esses destinatários, legítimos
intérpretes, em um interessante processo de revisão da metodologia jurídica tradicional de
interpretação;
- Efeitos da decisão (ADI genérica):
- Tem caráter duplice ou ambivalente, pois, conforme art. 24 da Lei nº 9.868/99,
proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou

20
DIREITO CONSTITUCIONAL

procedente eventual ação declaratória e, no mesmo passo, proclamada a


inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente
eventual ação declaratória – sinais trocados;
- A decisão em controle concentrado produzirá efeitos contra todos, ou seja,
erga omnes, e também terá efeito retroativo – ex tunc; e vinculante em relação
aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual,
municipal e distrital. Entretanto, excepcionando-se a regra geral do princípio da
nulidade, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o STF, por maioria qualificada de 2/3 de seus Ministros,
restringir os efeitos da declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir
do seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado
(modulação dos efeitos).
- Princípio da parcelaridade: significa que o STF pode julgar parcialmente procedente o
pedido de declaração de inconstitucionalidade, expurgando do texto legal apenas uma
palavra, uma expressão  trata-se de interpretação conforme com redução de texto;
- Interpretação conforme: só é admitida quando existir um espaço para a decisão do
Judiciário deixado pelo Legislativo. A interpretação não cabe quando o sentido da norma
é unívoco, mas somente quando o legislador deixou um campo com diversas
interpretações, cabendo ao Judiciário dizer qual delas se coaduna com o sentido da
Constituição, pois em hipótese alguma poderá o STF funcionar como legislador positivo;
- Efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade: a declaração de
inconstitucionalidade reconhece a nulidade dos atos inconstitucionais e, por
consequência, a inexistência de qualquer carga de eficácia jurídica. Assim, dentre tantos
efeitos, a declaração de inconstitucionalidade de ato normativo que tenha ―revogado‖
outro ato normativo provoca o reetabelecimento do ato normativo anterior, quando a
decisão tiver efeito retroativo. O STF vem utilizando a expressão ―efeito repristinatório‖ da
declaração de inconstitucionalidade10;
- Qual é o limite temporal de impugnação da cadeia normativa? De acordo
com o Min. Gilmar Mendes (ADI 3.660), limita-se até o advento da nova
Constituição.
 ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade
- Objetivo: transformar a presunção relativa (que toda lei/ato tem) em presunção absoluta
de constitucionalidade;
- Visa: afastar o nefasto quadro de insegurança jurídica ou incerteza sobre validade ou
aplicação de lei ou ato normativo federal, preservando a ordem jurídica constitucional;
- Objeto: lei ou ato normativo federal;
- Competência: STF – art. 102, I, ―a‖, da CF/88;
- Legitimados: os mesmos da ADI genérica;
- Efeitos: erga omnes; ex tunc; e vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública direta e indireta federal, estadual, municipal e distrital;
- Ação dúplice ou ambivalente:

10 Não é o mesmo que ―repristinação da norma‖ constante na LINDB.

21
DIREITO CONSTITUCIONAL

 ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental


- Localização: § 1º do art. 102 da CF + Lei nº 9.882/92;
- Pode ser: 1) arguição autônoma (direta) ou 2) arguição incidental. Percebe-se nítido
caráter preventivo na primeira situação (evitar) e caráter repressivo na segunda (reparar
lesão a preceito fundamental);
- Quando cabe ADPF? evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, mas também pode
ser proposta quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional (art. 1º,
caput c/c § único, da Lei nº 9.882/1999;
- O que seria preceito fundamental? Cássio Juvenal Faria aduz que ―seriam aquelas
normas qualificadas que veiculam princípios e servem de vetores de interpretação das
demais normas constitucionais, por exemplo, os ‗princípios fundamentais‘ do Título I (arts.
1º ao 4º); os integrantes de cláusulas pétreas (art. 60, § 4º); os chamados princípios
constitucionais sensíveis (art. 34, VII); os que integram a enunciação dos direitos e
garantias fundamentais (Título II); os princípios gerais da atividade econômica (art. 170);
etc‖. Já para Bulos, ―qualificam-se de fundamentais os grandes preceitos que informam o
sistema constitucional, que estabelecem comandos basilares e imprescindíveis à defesa
dos pilares da manifestação constituinte originária‖;
- Competência: STF – art. 102, § 1º;
- Legitimidade: os mesmo da ADI genérica;
- Princípio da subsidiariedade: não será admitida arguição de descumprimento de
preceito fundamental quandou houver qualquer outro meio eficaz capaz de sanar a
lesividade – art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99;
- Efeitos: erga omnes; ex tunc; e vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder
Público. Pode, também, existir a modulação dos efeitos;
- ADPF pode ser conhecida como ADI? Sim
- O princípio da fungibilidade teria natureza ambivalente (ADI poderia ser conhecida
como ADPF)? Sim, desde que exista dúvida objetiva e ausência de erro grosseiro;
A ADPF e a ADI são fungíveis entre si. Assim, o STF reconhece ser possível a
conversão da ADPF em ADI quando imprópria a primeira, e vice-versa. No
entanto, essa fungibilidade não será possível quando a parte autora incorrer em
erro grosseiro. É o caso, por exemplo, de uma ADPF proposta contra uma Lei
editada em 2013, ou seja, quando manifestamente seria cabível a ADI por se

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DIREITO CONSTITUCIONAL

tratar de norma posterior à CF/88. STF. Plenário. ADPF 314 AgR, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).
- Segundo o Supremo Tribunal Federal, a ADPF não é a via adequada para se obter a
interpretação, a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante (ADPF 147 AgR, rel. min.
Cármen Lúcia, j. 24/3/2011, Pleno).

 ADO – Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão


- Inovação da CF/88; inspirada no art. 283 da Constituição portuguesa;
- Busca: combater uma ―doença‖ chamada pela doutrina de ―síndrome da inefetividade
das normas constitucionais‖;
- Lembrando que na ADO temos o controle concentrado, já no mandado de injunção
(remédio constitucional), temos o controle difuso;
- Espécies:

1) Total: não houve o cumprimento do dever de normatizar, editando medida para tornar
efetiva a norma constitucional – ex.: art. 37, VII, da CF  prevê direito de greve dos
servidores públicos, mas ainda não regulamentado por lei;
2) Parcial: quando houver a normatização infraconstitucional, porém de forma ineficiente
2.1) Parcial propriamente dita: o ato normativo, apesar de editado, regula de
forma deficiente o texo – ex.: art. 7º, IV, da CF  dispõe sobre o salário mínimo.
A lei fixando seu valor existe, mas o regulamenta de forma deficiente, pois o
valor estabelecido é muito inferior ao razoável para cumprir a garantia da
referida norma;
2.2) Parcial relativa: surge quando o ato normativo existe e outorga
determinado benefício a certa categoria, mas deixa de concedê-lo a outra,
que deveria ter sido contemplada;
- Objeto: o art. 103, § 2º, da CF, fala em ―omissão de medida‖‘ para tornar efetiva norma
constitucional em razão da omissão de qualquer dos Poderes ou de órgão administrativo;
- Competência: STF – art. 103, § 2º, c/c, analogicamente, o art. 102, I, ―a‖;
- Legitimados: os mesmos da ADI genérica;
- Efeitos: art. 103, § 2º, da Constituição c/c o art. 12-H, caput, da Lei nº 9.868/9911;
- A jurisprudência admite a fungibilidade entre ADI e ADO? Sim.

 IF – Representação Interventiva
- Surgiu na CF de 1934;

11

https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ae581798565c3b1c587905bff731
b86a: ADO 26 é extremamente importante.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

- Apresenta-se como um dos pressupostos para a decretação de intervenção federal, ou


estadual, pelos Chefes do Executivo, nas hipóteses contempladas na CF/88;
- Nessa modalidade de procedimento  quem decreta a intervenção não é o Judiciário,
mas o Chefe do Poder Executivo;
- O Judiciário exerce um controle da ordem constitucional tendo em vista o caso concreto
que lhe é submetido à análise;
- Portanto, cuida-se de um litígio constitucional, de uma relação processual contraditória,
contrapondo União e Estado-membro, cujo desfecho pode resultar em intervenção
federal;
- Existem 03 fases:

- O art. 36, III, da CF/88, primeira parte, estabeleze que a decretação da intervenção
dependerá de provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da
República, na hipótese do art. 34, VII, quais sejam, os princípios sensíveis da Constituição;
- Objeto:
1) lei ou ato normativo que viole princípios sensíveis;
2) e omissão ou incapacidade das autoridades locais para assegurar o
cumprimento e preservação dos princípios sensíveis, por exemplo, os direitos da
pessoa humana;
3) ato governamental estadual que desrespeite os princípios sensíveis;
4) ato administrativo que afronte os princípios sensíveis;
5) ato concreto que viole os princípios sensíveis.
- A fase judicial da intervenção não se confunde com a fase judicial das demais ações de
inconstitucionalidade, pois, como visto, na ADI Interventiva (ou, por alguns, denominada
de representação interventiva), o Tribunal não nulificará, na hipótese de lei, o ato
normativo;
- Refoçando  cabe o pedido de intervenção quando houver violação aos denominados
princípios sensíveis – art. 34,VII, ―a‖ - ―e‖;
- Legitimidade: o único e exclusivo legitimado ativo para a propositura da representação
interventiva federal é o Procurador-Geral da República, que tem total autonomia e

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DIREITO CONSTITUCIONAL

discricionariedade para formar o seu convencimento de ajuizamento; já o legitimado


passivo é o ente federativo no qual se verifica a violação ao princípio sensível da CF;
- Procedimento  Lei nº 12.562/2011;

 Representação interventiva no caso de recusa à execução de lei federal:


- O art. 36, III, estabelece o cabimento de representação interventiva perante o STF, a ser
ajuizada pelo PGR, no caso de recusa à execução de lei federal por parte do Estado-
membro ou do Distrito Federal (art. 34, VI, 1ª parte);
- Gilmar Mendes prefere falar em ―recusa à execução do direito federal‖;
- O procedimento também está previsto, igualmente, na Lei nº 12.562/2011, e tudo o que
se falou acima se aplica à hipótese;
- A doutrina tem se limitado a tratar como ADI Interventiva a hipótese do art. 34, VII
(violação dos princípios sensíveis).

 ADI Interventiva estadual – Representação interventiva estadual:


- O art. 35, IV, da CF, dispõe que a intervenção estadual, a ser decretada pelo
Governador do Estado, dependerá de provimento do TJ local de representação para
assegurar a observância de princípios indicados na CE, ou para prover a execução de lei,
de ordem ou de decisão judicial;
- As regras vêm previstas nas Constituições estaduais e nos regimentos internos dos
tribunais locais, devendo, em essência, por simetria, seguir o modelo federal;
- Para facilitar:
ADI INTERVENTIVA FEDERAL ADI INTERVENTIVA ESTADUAL
Fase 1 — ―Judicial‖
Lei ou ato normativo, ou Lei ou ato normativo, ou omissão, ou
omissão, ou ato ato governamental municipais que
OBJETO governamental estaduais ou desrespeitem os princípios sensíveis
distritais que desrespeitem os indicados na CE.
princípios sensíveis previstos no
art. 34, VII, ―a‖-―e‖, da CF/88.
COMPETÊNCIA STF — originária TJ — originária
LEGITIMADO PGR — Chefe do Ministério PGJ — Chefe do Ministério Público
ATIVO Público da União (art. Estadual (art. 129, IV, da CF/88).
129, IV, da CF/88).
Ente federativo (Estado ou DF) Ente federativo (Município) no qual se
no qual se verifica a violação verifica a violação ao princípio sensível
LEGITIMADO ao princípio sensível da CF/88, da CE, devendo ser solicitadas
PASSIVO devendo ser solicitadas informações às autoridades ou aos
informações às autoridades órgãos municipais responsáveis pela
ou aos órgãos estaduais ou violação aos princípios sensíveis.
distritais responsáveis pela
violação aos princípios
sensíveis.
Proposta a ação pelo Proposta a ação pelo Procurador-
Procurador-Geral da Geral de
PROCEDIMENTO República, no STF, quando a Justiça, no TJ, quando a lei ou o ato

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DIREITO CONSTITUCIONAL

lei ou o ato normativo de normativo, ou omissão, ou ato


natureza estadual (ou governamental de natureza municipal
distrital), ou omissão, ou ato contrariarem os princípios sensíveis
governamental contrariarem previstos na CE, buscar-se-á a solução
os princípios sensíveis da CF, administrativa:
buscar-se-á a solução ■ Não sendo o caso, nem o de
administrativa: arquivamento, serão solicitadas
■ Não sendo o caso, nem o informações às autoridades municipais
de arquivamento, serão responsáveis e ouvido o PGJ, sendo,
solicitadas informações às então, o pedido relatado e levado a
autoridades estaduais ou julgamento;
distritais responsáveis e ouvido ■ Julgado procedente o pedido
o PGR, sendo, então, o (quorum do art. 97, maioria absoluta),
pedido relatado e levado a o Presidente do TJ imediatamente
julgamento; comunicará a decisão aos órgãos do
■ Julgado procedente o Poder Público interessados e requisitará
pedido (quorum do art. 97, a intervenção ao
maioria absoluta), o Governador do Estado, que, por se
Presidente do STF tratar de ―requisição‖, e não mera
imediatamente comunicará a solicitação, não poderá descumprir a
decisão aos órgãos do Poder ordem mandamental, sob pena de
Público interessados e cometimento tanto de crime comum
requisitará a intervenção ao como de responsabilidade,
Presidente da República, que, inaugurando-se, assim, a fase 2 do
por se tratar de ―requisição‖, procedimento;
e não mera solicitação, não
poderá descumprir a ordem
mandamental, sob pena de
cometimento tanto de crime
comum como de
responsabilidade,
inaugurando-
se, assim, a fase 2 do
procedimento;
Fase 2 — ―Intervenção Branda‖
DECRETO ■ O Presidente da República, ■ O Governador do Estado, nos termos
DO nos termos do art. 36, § 3º, por do art. 36, § 3º, por meio de decreto,
EXECUTIVO meio de decreto, limitar-se-á a limitar-se-á a suspender a execução do
suspender a execução do ato ato impugnado, se essa medida bastar
impugnado, se essa medida para o restabelecimento da
bastar para o normalidade;
restabelecimento da ■ Nessa fase, está dispensada a
normalidade; apreciação pela Assembleia Legislativa
■ Nessa fase, está dispensada (controle político).
a apreciação pelo Congresso
Nacional (controle político).
Fase 3 — ―Intervenção Efetiva‖
DECRETO DO ■ Caso a medida de mera ■ Caso a medida de mera suspensão
EXECUTIVO E suspensão não seja suficiente não seja suficiente para o
CONTROLE para o restabelecimento da restabelecimento da normalidade, aí,

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DIREITO CONSTITUCIONAL

POLÍTICO normalidade, aí, sim, o sim, o Governador do Estado


Presidente da República decretará a efetiva intervenção no
decretará a efetiva Município, executando-a com a
intervenção no Estado ou no nomeação de interventor, se for o
DF, executando-a com a caso, e afastando as autoridades
nomeação de interventor, se responsáveis de seus cargos (art. 84, X,
for o caso, e afastando as da CF/88);
autoridades responsáveis de ■ Nesse caso de intervenção efetiva,
seus cargos (art. 84, X, da haverá controle político pela
CF/88); Assembleia Legislativa no prazo de 24
■ Nesse caso de intervenção horas a contar do decreto
efetiva, haverá controle interventivo. Se a Assembleia
político pelo Congresso Legislativa não estiver funcionando,
Nacional no prazo de 24 horas far-se-á convocação extraordinária;
a contar do decreto ■ Cessados os motivos da intervenção,
interventivo. Se o Congresso as autoridades afastadas de seus
Nacional não estiver cargos a estes voltarão, salvo
funcionando, far-se-á impedimento legal.
convocação Extraordinária;
■ Cessados os motivos da
intervenção, as autoridades
afastadas de seus cargos a
estes voltarão, salvo
impedimento legal.

- Controle Abstrato de Constitucionalidade nos Estados-membros


- Previsão: art. 125, § 2º, da CF;
- O constituinte consagrou, ao menos na literalidade do referido dispositivo, o controle
abstrato de constitucionalidade estadual, fixando regras claras:
- somente leis ou atos normativos estaduais e municipais poderão ser objeto de
controle;
- o parâmetro ou paradigma de confronto deverá ser a Constituição Estadual;
- apesar de não fixar explicitamente os legitimados, vedou a atribuição da
legitimação para agir a um único órgão;
- o órgão competente para julgamento da ação pela via principal será,
exclusivamente, o TJ local.
- Pelo princípio da simetria, muito embora o art. 125, § 2º, tenha fixado somente a
possibilidade de instituição de representação de inconstitucionalidade (que
corresponderia à ADI), Lenza defende que parece ser perfeitamente possível que, desde
que respeitadas as regras da CF, se implemente os demais meios de controle (ADO, ADPF,
ADC, etc);
- Objeto: exclusivamente leis ou atos normativos estaduais ou municipais;
- Competência: TJ local;
- Legitimados: a CF não especificou, apenas proibiu a atribuição da legitimação para agir
a um único órgão. Assim, cabe às Constituições Estaduais a delimitação da regra.
Destacando-se os legitimados que apresentam simetria com o plano federal:

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ART. 103 — CF/88 — ART. 125, § 2.o — CF/88 — ART. 125, § 2.o — CF/88 —
LEGITIMADOS PARA O LEGITIMADOS PARA O LEGITIMADOS PARA O
CONTROLE CONTROLE CONTROLE CONCENTRADO
CONCENTRADO CONCENTRADO PERANTE O TJ PERANTE O TJ LOCAL —
PERANTE O STF LOCAL — ―PRINCÍPIO DA ―PRINCÍPIO DA SIMETRIA‖ —
SIMETRIA‖ ESPECIALMENTE EM
RELAÇÃO A LEIS OU ATOS
MUNICIPAIS
Presidente da Governador de Estado Prefeito
República
Mesa do Senado Mesa de Assembleia Mesa de Câmara Municipal
Federal; Legislativa
Mesa da Câmara dos
Deputados
Procurador-Geral da Procurador-Geral de Justiça
República
Conselho Federal da Conselho Seccional da OAB
OAB
Partido político com Partido político com Partido político com
representação no representação representação na Câmara do
Congresso Nacional na Assembleia Legislativa Município
Confederação sindical; Federação sindical;
Entidade de classe de Entidade de classe de âmbito
âmbito nacional. Estadual.

- A utilização do recurso extraordinário no controle concentrado e em abstrato estadual:


De modo geral, da decisão do TJ local em controle abstrato (ADI) de lei estadual ou
municipal diante da CE não cabe recurso para o STF, já que este é o intérprete máximo de
lei perante a CF, e não perante a CE. Entretanto, excepcionalmente, pode surgir situação
em que o parâmetro da CE nada mais seja que uma norma de observância obrigatória
ou compulsória pelos Estados-Membros (norma de reprodução obrigatória), ou, conforme
estabelecido pelo STF no julgamento do RE 650.898, a possibilidade de se admitir, no
âmbito do TJ local, o exercício do controle abstrato de constitucionalidade de leis
municipais (ou estaduais, acrescente-se) utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que de reprodução obrigatória pelos Estados.
Nesse caso, se a lei estadual, ou mesmo a municipal, viola a CE ou as normas da CF de
reprodução obrigatória de acordo com o precedente mencionado, no fundo, o que se
terá, em essência, será a violação da CF. Como o TJ não tem essa atribuição de análise –
e evitando que o TJ usurpe a competência do STF –, abre-se a possibilidade de interpor
recurso extraordinário contra o acórdão do TJ em controle abstrato estadual para que o
STF diga qual a interpretação da lei estadual ou municipal perante a CF. Trata-se de
utilização de recurso típico do controle difuso (pela via incidental) no controle
concentrado estadual abstrato.

- Simultaneus processus - fenômeno da simultaneidade de ações diretas de


inconstitucionalidade:

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DIREITO CONSTITUCIONAL

- O mesmo objeto (mesma lei estadual) poderá sofrer controle no TJ e no STF. Nessa
situação, o controle estadual ficará suspenso aguardando o resultado do controle federal,
já que o STF é o interprete máximo da CF.
Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual julgada primeiro
Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante
o tribunal de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira –
estadual – somente prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas
condições cumulativas:
1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e
2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da
Constituição do Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o
parâmetro do controle de constitucionalidade tenha correspondência na
Constituição Federal, subsiste a jurisdição do STF para o controle
abstrato de constitucionalidade. Viola a igualdade a exigência de que o cargo
público seja ocupado por indivíduo com curso de administração pública
mantido por instituição pública credenciada no respectivo Estado É
inconstitucional lei estadual que, ao criar o cargo de administrador público,
exige que ele seja ocupado por profissional
graduado em Curso de Administração Pública mantido por Instituição
Pública de Ensino Superior, credenciada no respectivo Estado. Essa previsão da
lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no acesso a cargos
públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da Constituição
Federal, que proíbe a criação de distinções ilegítimas entre brasileiros. STF.
Plenário ADI 3659/AM, Rel.
Min Alexandre de Moraes, julgado em 13/12/2018(Info 927).

- Decisões importantes:

1. Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo


constituinte reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do
parlamentar no curso do devido processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos
que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia
representativa. STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 10/11/2020 (Info 998).  vício de corrupção da vontade do
parlamentar  Lenza chama de vício de decoro parlamentar
2. É irrecorrível a decisão na qual o relator indefere pedido de ingresso de amicus curiae na
ação.
STF. Plenário. ADO 70 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/07/2022.
É irrecorrível a decisão que indefere o pedido de ingresso na condição de amicus curiae.
A diretriz vigora também relativamente a processos de índole subjetiva (RE 1017365 AgR,
Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, DJe de 24/9/2020).
STF. Plenário. Inq 4888 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/08/2022.
Cabe recurso contra a decisão do Relator que admite o ingresso do amicus curiae?
NÃO. O art. 138 do CPC/2015 expressamente prevê que se trata de decisão irrecorrível.
Veja:
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do

29
DIREITO CONSTITUCIONAL

tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão


irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se,
solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua
intimação.
3. A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de
amigo da Corte em ação direta. STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 6/8/2020 (Info 985).
4. A procuradoria jurídica estadual ou municipal possui legitimidade para interpor recurso
em face de acórdão de tribunal de justiça proferido em representação de
inconstitucionalidade. STF. Plenário. ARE 873804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR/RJ, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 13/10/2022 (Info 1072).
5. É constitucional o dispositivo de constituição estadual que confere ao tribunal de justiça
local a prerrogativa de processar e julgar ação direta de inconstitucionalidade contra leis
e atos normativos municipais tendo como parâmetro a Constituição Federal, desde que se
trate de normas de reprodução obrigatória pelos estados.
Admite-se o controle abstrato de constitucionalidade, pelo Tribunal de Justiça, de leis e
atos normativos estaduais e municipais em face da Constituição da República, apenas
quando o parâmetro de controle invocado for norma de reprodução obrigatória ou
exista, no âmbito da Constituição estadual, regra de caráter remissivo à Carta federal.
STF. Plenário. ADI5647/AP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2021 (Info 1036).
6. Ação de controle concentrado de constitucionalidade não pode ser utilizada como
sucedâneo das vias processuais ordinárias. STF. Plenário. ADPF 686/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 18/10/2021 (Info 1034).
7. Não se admite controle concentrado de constitucionalidade de leis ou atos normativos
municipais em face da Lei Orgânica respectiva. É inconstitucional adoção de lei orgânica
municipal como parâmetro de controle abstrato de constitucionalidade estadual, em face
de ato normativo municipal, uma vez que a Constituição Federal, no art. 125, § 2º,
estabelece como parâmetro apenas a constituição estadual. STF. Plenário. ADI 5548/PE,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 16/8/2021 (Info 1025).
8. Governador de Estado afastado cautelarmente de suas funções — por força do
recebimento de denúncia por crime comum — não tem legitimidade ativa para a
propositura de ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário. ADI 6728 AgR/DF, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 30/4/2021 (Info 1015).
9. Não é admitido o aditamento à inicial da ação direta de inconstitucionalidade após o
recebimento das informações dos requeridos e das manifestações do Advogado-Geral da
União e do Procurador-Geral da República. STF. Plenário. ADI 4541/BA, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 16/4/2021 (Info 1013).
10. Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle
concentrado, exceto se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não
participação. STF. Plenário. ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
2/9/2020 (Info 989).
11. O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam
incluídos novos dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da
nova impugnação: a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e b)

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DIREITO CONSTITUCIONAL

não prejudique o cerne da ação. Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já
está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de novos dispositivos legais que ampliam
o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso exigiria que novos
pedidos de informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como
novas manifestações da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da
República, o que violaria os princípios da economia e da celeridade processuais.
Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta, na medida em
que ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em
20/04/2020.
12. A CF/88 e a lei preveem que a ―entidade de classe de âmbito nacional‖ possui
legitimidade para propor ADI, ADC e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que
apenas as entidades de classe com associados ou membros em pelo menos 9 (nove)
Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação de controle
abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto
ou ato constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou
membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-
membros/DF. Trata-se de um critério objetivo construído pelo STF com base na aplicação
analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei nº 9.096/95).
STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski,
julgado em 05/08/2020 (Info 988 – clipping).
13. Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de
constrição judicial em desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades
Descentralizadas de Execução da Educação UDEs e que recaiam sobre verbas destinadas
à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980).
14. O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento
da eficácia do preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao
Enunciado 10 da Súmula Vinculante. Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou
seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação, permitiu que uma empresa
comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às regras do
Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado expressamente a
inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio
da livre concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88. Ao desobrigar a empresa
de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da livre iniciativa, o
que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido
feito respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de
órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no
todo ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 4/2/2020 (Info 965).

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Referência: LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 25ª ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2021.
Buscador do Dizer o Direito.

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