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DIREITO CONSTITUCIONAL

Prof. Luciana Leal


UNIDADE 4 – Controle de
Constitucionalidade
Controle de Constitucionalidade
 A ideia de controle de constitucionalidade está ligada à
Supremacia da Constituição sobre todo o ordenamento jurídico e,
também, à de rigidez constitucional e proteção dos direitos
fundamentais.
 Controlar a constitucionalidade significa verificar a adequação
(compatibilidade) de uma lei ou de um ato normativo com a
constituição, verificando seus requisitos formais e materiais.
 No sistema constitucional brasileiro somente as normas
constitucionais positivadas podem ser utilizadas como paradigma
para a análise da constitucionalidade de leis ou atos normativos
estatais (bloco de constitucionalidade)
Controle de Constitucionalidade
 A análise da constitucionalidade das espécies
normativas (art. 59 da CF) consubstancia-se em
compará-las com determinados requisitos formais e
materiais, a fim de verificar-se sua compatibilidade com
as normas constitucionais.
 A superioridade hierárquica da norma constitucional
em relação às demais normas do ordenamento jurídico
é a sustentação do controle de constitucionalidade.
Pressupostos
Supremacia, rigidez e força vinculante da
Constituição. ž
Pressupõe uma constituição formal e escrita, com
supremacia hierárquica.
Constituição rigida: somente poderá ser alterada se
e somente se for observado um processo legislativo
especial, notadamente complexo e mais dificultoso,
exercido pelo poder constituinte derivado.
 Atribuição de controle a um órgão supremo
Controle
O controle de constitucionalidade pode
ser preventivo (aquele realizado durante o
processo legislativo de formação do ato
normativo e antes do projeto de lei ingressar no
ordenamento jurídico) ou repressivo, que será
realizado sobre a lei e não mais sobre o projeto
de lei, após o término de seu processo legislativo
e seu ingresso no ordenamento jurídico.
Controle pelo Executivo
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação
enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que,
aquiescendo, o sancionará.
§ 1º Se o Presidente da República considerar o projeto,
no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao
interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no
prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito
horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do
veto.
Controle pelo Executivo
O entendimento do chefe do poder executivo
não é definitivo, tendo em vista o §4º do art.
66:
§ 4º O veto será apreciado em sessão
conjunta, dentro de trinta dias a contar de
seu recebimento, só podendo ser rejeitado
pelo voto da maioria absoluta dos Deputados
e Senadores.
Controle pelo Legislativo
1) Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
(...)
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem
do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
2) Medida provisória expedida pelo Presidente é submetida ao
Congresso Nacional (art. 62)
3) Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: (...)
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal;
Controle pelo Judiciário
Exerce a função jurisdicional no controle de
constitucionalidade.
O controle jurisdicional – judicial review – é o sistema
que entrega aos órgãos do Poder Judiciário essa defesa
da Constituição, é o sistema adotado no Brasil.
Existem dois sistemas de controle repressivo:
a) controle concentrado, abstrato ou reservado ou de
via de ação;
b) controle difuso, concreto ou aberto ou de via de
exceção.
Controle Difuso
Aquele que qualquer juiz, no exercício jurisdicional, pode
realizar quando provocado a respeito, por exemplo, de uma lei ou
ato. Atinge somente aos envolvidos no processo, sendo que o juiz,
a reconhecendo, afastará a incidência da norma assim
considerada no caso concreto
O controle de constitucionalidade difuso acontece no âmbito da
proteção subjetiva dos direitos, sendo exercido por qualquer juiz
ou tribunal, caracterizando-se sempre pela via da exceção.
Será arguida em uma outra ação cujo objetivo seja distinto da
inconstitucionalidade, isto é, em outra relação jurídica de direito
material.
Controle Difuso
O processo em que é arguida a inconstitucionalidade da norma
pode, através de recursos, especialmente do recurso extraordinário
disciplinado no art. 102, III da CF, chegar ao Supremo Tribunal
Federal. Se o STF declarar inconstitucional aquela norma, em
decisão definitiva, comunicará essa decisão ao Senado Federal que,
nos termos do art. 52, X da CF poderá suspender a sua execução.
Com essa suspensão de execução pelo Senado Federal, aí sim a
norma dada por inconstitucional e assim declarada no método
difuso não mais terá eficácia. A decisão que antes tinha
incidência inter partes passa a tê-la erga omnes. Essa incidência,
entretanto, se dá ex nunc, isto é, a partir da suspensão procedida
pelo Senado Federal.
Controle Difuso
O Código de Processo Civil (CPC) regula a matéria no
âmbito dos Tribunais, ao prever que, arguida a
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder
público, o relator, ouvido o representante do Ministério
Público, submeterá a questão à turma ou câmara a que
tocar o conhecimento do processo (CPC, art. 480).
Nos termos do art. 481, “se a alegação for rejeitada,
prosseguirá o julgamento; se for acolhida, será lavrado o
acórdão, a fim de ser submetida a questão ao tribunal
pleno”
Controle Difuso
Pelo comando do artigo 97 da CF/88, os tribunais só poderão
declarar a inconstitucionalidade das leis e dos demais atos do Poder
Público pelo voto da maioria absoluta dos seus membros ou pela
maioria absoluta dos membros do respectivo órgão especial4 . Essa
regra específica para a declaração de inconstitucionalidade pelos
tribunais denomina-se “Reserva de Plenário”.
Súmula Vinculante nº 10 STF: “Viola a cláusula de reserva de
plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo
ou em parte”
Controle Concentrado
O art. 102 da CF atribui ao Supremo Tribunal Federal
precipuamente a guarda da Constituição, cabendo-lhe,
dentre outras competências, processar e julgar
originariamente a ação direta de inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação
declaratória de constitucionalidade de lei ou ato
normativo federal (art. 102, I, "a").
Essa ação direta de inconstitucionalidade, também
chamada de ADIN, constitui o efetivo controle
concentrado.
Controle Concentrado
Controle concentrado ou abstrato de
constitucionalidade: procura-se obter a declaração de
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo em
tese, independentemente da existência de um caso
concreto, visando-se à obtenção da invalidação da lei, a
fim de garantir-se a segurança das relações jurídicas, que
não podem ser baseadas em normas inconstitucionais. A
declaração de inconstitucionalidade é, pois, o objeto
principal da ação.
Controle Concentrado
No Brasil temos as seguintes as espécies de controle concentrado
de constitucionalidade contempladas pela CF:
a) Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica – ADI ou ADIn (art.
102, I, a);
b) Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva – ADIn
Interventiva (art. 36, III);
c) Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADIN por
Omissão (art. 103, § 2º);
d) Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADECON ou ADC
(art. 102, I, a)
E) Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF
(art. 102, §1º).
Espécies de Inconstitucionalidade
QUANTO À CONDUTA: Inconstitucionalidade por ação x por
omissão
Por ação: se apresenta por meio de uma conduta positiva do
Poder Público. Ocorre com a edição de uma lei ou resolução,
por exemplo, que afrontem a sistemática constitucional.
Por omissão: advem de uma abstenção. O Poder Púbico, no
momento em que deveria agir, silencia. Ocorre em face das
normas de eficácia limitada, ou seja, aquelas cuja força
normativa depende da edição de ato infraconstitucional. Para
sanar tal inconstitucionalidade há a Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão.
Espécies de Inconstitucionalidade
QUANTO ÀS NORMAS OFENDIDAS: MATERIAL X FORMAL
Material: violação é ao conteúdo da Constituição. Uma norma que, por
exemplo, permitisse a exploração do trabalho em condições próximas à
degradante seria materialmente inconstitucional por afronta ao
conteúdo de um dos fundamentos da República, qual seja o valor social
do trabalho. Tal inconstitucionalidade persistiria mesmo que a norma
seguisse todas as etapas formais do processo legislativo.
Formal: quando algum dos requisitos procedimentais da elaboração
normativa é desrespeitado, seja a competência para disciplinar a
matéria, seja um quórum específico ou mesmo um pressuposto objetivo
para editar o ato normativo. Um exemplo é o pressuposto de relevância
e urgência da Medida Provisória, constantemente desrespeitado
hodiernamente.
Espécies de Inconstitucionalidade
QUANTO ÀS NORMAS OFENDIDAS: MATERIAL X
FORMAL
 A inconstitucionalidade formal pode ser:
Procedimental subjetiva: quando é iniciada ou
emendada por quem não seja legalmente legitimado
para o ato.
Procedimental objetiva: quando não há respeito ao
quorum de votação
Orgânica: quando há vicio na competência legislativa
dos entes públicos.
Espécies de Inconstitucionalidade
QUANTO À EXTENSÃO: TOTAL OU PARCIAL
Neste caso, a classificação é auto-explicativa. A
total atinge a integralidade da norma, enquanto
a parcial atinge um trecho, um artigo ou, até
mesmo, uma expressão ou palavra mal colocada,
eivando a norma de vício constitucional.
Espécies de Inconstitucionalidade
QUANTO AO MOMENTO: ORIGINÁRIA OU SUPERVENIENTE
Nesse caso, há a análise de duas normas: uma, a constitucional,
chamada de parâmetro, a outra, a infraconstitucional, chamada de
objeto. Analisa-se a constitucionalidade da norma objeto de acordo
com a norma parâmetro vigente. Por exemplo: uma lei editada em 1985
deve ter sua constitucionalidade aferida segundo a ordem constitucional
de 1967.
Assim, a inconstitucionalidade originária ocorre quando a norma nasce
inconstitucional em relação ao parâmetro vigente. A superveniente, por
seu turno se apresenta quando uma nova ordem constitucional
desponta, tornando a norma infraconstitucional anterior
inconstitucional.
Espécies de Inconstitucionalidade
QUANTO À APURAÇÃO: DIRETA X INDIRETA
A direta atinge as normas primárias, acima
conceituadas. A indireta, ou reflexa, entretanto
se verifica quando um decreto do Executivo, por
exemplo, exorbita dos limites legais e se torna
indiretamente inconstitucional. Em verdade ele
padece, em primeiro plano, de um vício de
legalidade.
ADIn Interventiva
O art. 18, caput, da CF/88 estabelece que a organização político-
administrativa da República Federativa do Brasil compreende a
União, os Estados, o Distrito Federal- e os Municípios, todos
autônomos. Vale dizer, como regra geral, nenhum ente federativo
deverá intervir em qualquer outro.
Excepcionalmente, no entanto, a CF prevê situações (de
anormalidade) em que poderá haver a intervenção:
■ União nos Estados, Distrito Federal (hipóteses do art. 34) e
nos Municípios localizados em Território Federal (hipótese do art.
35);
■ Estados em seus Municípios (art. 35).
ADIn Interventiva
Nessa modalidade de procedimento, quem decreta a
intervenção não é o Judiciário, mas o Chefe do Poder
Executivo.
ADIn Interventiva
O art. 36, III, da CF/88, primeira parte, estabelece que a
decretação da intervenção dependerá de provimento,
pelo STF, de representação do Procurador-Geral da
República, na hipótese do art. 34, VII, quais sejam,
os princípios sensíveis da Constituição.

Durante a vigência do texto de 1988, jamais se passou


da fase 1 (judicial) para a fase 2 (decretação pelo Chefe
do Poder Executivo), embora tenham havido alguns
poucos pedidos de intervenção, com base no art. 36, III.
ADIn Interventiva
IF 114 (07.02.1991): pedido de intervenção em razão de omissão do
poder público no controle de linchamento de presos no Estado de Mato
Grosso. No mérito, o STF entendeu que não era caso de intervenção,
indeferindo, portanto, o pedido;
■ IF 4.822 (08.04.2005): pedido de intervenção no Centro de
Atendimento Juvenil Especializado (Caje), com base em deliberação
do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), que
condenou a sua estrutura física e gerencial. A Min. Cármen Lúcia,
“considerando o decurso do tempo, os termos em que apresentado o
pedido de intervenção federal e a notícia, de domínio público, sobre a
desativação e demolição do antigo Centro de Atendimento Juvenil
Especializado do Distrito Federal”, em 02.05.2018, julgou prejudicado o
pedido de intervenção federal por perda superveniente de objeto;
ADIn Interventiva
■ IF 5.129 (05.10.2008): pedido de intervenção formulado pelo PGR
contra o estado de Rondônia, por suposta violação a direitos humanos
no presídio Urso Branco, em Porto Velho, que se encontra em situação
de “calamidade”. Segundo o então PGR, Antonio Fernando Souza, “... nos
últimos oito anos contabilizaram-se mais de cem mortes e dezenas de
lesões corporais [contra presos], fruto de motins, rebeliões entre presos
e torturas eventualmente perpetradas por agentes penitenciários”
(Notícias STF, 08.10.2008) (matéria pendente de julgamento pelo STF);
■ IF 5.179 (11.02.2010): pedido de intervenção por suposto esquema de
corrupção no DF. Conforme relatado a seguir, no mérito, o pedido foi
julgado improcedente.
OBRIGADA

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