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INSTITUTO CENECISTA DE ENSINO SUPERIOR DE SANTO ÂNGELO


DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I
CURSO: CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – DIREITO – 2º PERÍODO
PROFESSOR: ADRIANO NEDEL DOS SANTOS.
PONTO 3 – APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
1) NOÇÕES BÁSICAS:
1.1) VALIDADE: Ocorre quando a norma foi elaborada por órgão competente e com observância dos procedimentos
legais norteadores de sua criação. Podemos dividir a validade da norma em duas espécies:
a) FORMAL: A validade formal diz respeito à competência e ao procedimento.
b) MATERIAL: A validade material diz respeito à matéria que está dentro da Constituição.
PROMULGAÇÃO: Esta fase é a chamada fase da existência da norma e culmina na promulgação desta. A partir deste
momento a norma existe, mas para ser obrigatória depende da publicação.
1.2) VIGÊNCIA: É o período que vai desde a entrada em vigor da norma até a sua revogação. É a qualidade da norma
que a faz existir juridicamente e a torna de observância obrigatória.
PUBLICAÇÃO: Esta fase é a chamada fase da vigência da norma e culmina na publicação desta.

1.3) EFICÁCIA: É a aptidão da norma para produzir efeitos. A lei deve ser válida, estar vigendo para produzir efeitos. A
norma eficaz apresenta:
a) Eficácia Social: É o acatamento espontâneo das pessoas à norma.
b) Eficácia Técnico-jurídica: É a indicação que a norma tem possibilidade de ser aplicada aos destinatários.
(Plenamente eficaz)
INCIDÊNCIA: A norma, para ser considerada um fato jurídico, deve incidir em um suporte fático. Em outras palavras, a
norma deve incidir em um fato da vida para este fato ser considerado jurídico. É a partir da incidência da norma que
ocorre o plano da eficácia.
2) CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS:
A) Classificação de Rui Barbosa:
- AUTO EXECUTÁVEIS
- NÃO AUTO-EXECUTÁVEIS Doutrina
B) Classificação de Pontes de Miranda: Clássica
- NORMAS BASTANTES EM SI
- NORMAS NÃO BASTANTES EM SI
C) Classificação de José Afonso da Silva:
- NORMAS DE EFICÁCIA PLENA (com aplicabilidade direta, imediata e integral): São as normas que não
precisam de qualquer integração legislativa infraconstitucional. Ex: Arts. 1º, par. único; 14, § 2º; 19; 20; 21; 22; 24; 28;
37, III; 69; 153; 155, etc. Segundo José Afonso da Silva: “São aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição,
produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e
situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente quis regular”. 1
- NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA (com aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral):
São aquelas que possuem eficácia total e imediata, porém o próprio texto faz com que haja uma restrição ao seu alcance,
de modo que a eficácia não é integral. Ex: art. 5º, XIII; VIII; XI; XII; XIV; XVI; XXIV; LX; LXI; LXVII; Art. 14; art. 84
(XXVI), art. 139; art. 170, par. único; art. 184, etc. Conforme José Afonso da Silva: “Normas de eficácia contida,
portanto, são aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada
matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do Poder Público, nos termos
que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados” 2.
Características3:
1
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3. ed. 3. tir. São Paulo : Malheiros, 1999, p. 101.
2
SILVA, José Afonso da. Op cit, p. 116.
3
SILVA, José Afonso da. Op. cit. P. 104.
2
1) São normas que, em regra, solicitam a intervenção do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma
legislação futura; mas o apelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhes a plenitude da eficácia,
regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidadãos, indivíduos ou grupos.
2) Enquanto o legislador não expedir a normação restritiva, sua eficácia será plena.
3) São de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legislador constituinte deu normatividade suficiente aos
interesses vinculados à matéria de que cogitam.
4) Algumas dessas normas já contém um conceito ético juridicizado (bons costumes, ordem pública, etc.), como
valor societário ou político a preservar, que implica a limitação de sua eficácia.
5) Sua eficácia por ser afastada pela incidência de outras normas constitucionais, se ocorrerem certos pressupostos
de fato (estado de sítio, por exemplo)
- NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA (com aplicabilidade mediata ou indireta): São
aquelas não reguladas de modo completo pela Constituição, por isso dependentes de norma infraconstitucional
regulamentadora. Conforme Bester: “São as que, para a sua aplicação, dependem de legislação complementar ou de
atuação estatal sob forma de programas de governo, tendo, porém desde o início, eficácia ab-rogante ou paralisante da
legislação infraconstitucional incompatível, isto é, contrária ao seu conteúdo” 4. Dividem-se em:
1) Norma de princípio institutivo: É a norma que depende de lei posterior para dar efetividade, vida (corpo) às
instituições, pessoas ou órgãos previstos na constituição. Ex: arts: 17, IV; 25, § 3º; 43, § 1º, inc. I e II; 98; 127, §2º; 148, I
e II; 165, § 9º, 224, etc. Conforme José Afonso da Silva: “São, pois, normas constitucionais de princípio institutivo
aquelas através das quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades
ou institutos, para que o legislador ordinários os estruture em definitivo, mediante lei”. 5
2) Norma de princípio programático: É a que estabelece um compromisso do estado, um programa de ação, seja do
executivo, legislativo ou judiciário. Ex: arts.: 3º; 21, IX; 23; 40, §2º; 170; 196; 205; 211; 215; 218; 226, §6º, 227, etc.
Segundo José Afonso da Silva: “...podemos conceber como programáticas aquelas normas constitucionais através das
quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os
princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como
programas das respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado”. 6
D) Classificação de Celso Ribeiro Bastos:
1) NORMAS DE APLICAÇÃO: “...normas de aplicação são as normas “cheias”, que não demandam complementação
e, muito pelo contrário, se forem complementadas, deverão sê-lo com muita cautela, já que sua estrutura basta a si
mesma...”7
- Normas Irregulamentáveis: Trata-se de normas que não comportam regulamentação pela própria natureza da matéria
tratada. Ex: art.60 §4º. Conforme Bastos: “Estas são as normas que, a par de sua incidência direta sobre os fatos ou
realidades que regulam, são também insuscetíveis de tratamento outro que não o constitucional. A vedação de
regulamentação dessas normas pode decorrer de preceito explícito, mas no mais das vezes deflui de forma tácita. Tal
apreende-se por um processo interpretativo lógico e sistemático...” 8
- Normas regulamentáveis: São regras que aceitam uma regulamentação por parte da legislação infraconstitucional,
necessitando de uma melhor conformação do preceito. Há uma particularização, ou seja, a norma regulamentadora melhor
explicita o conteúdo da norma regulamentada e, às vezes, acaba por alargar a sua incidência.
2) NORMAS DE INTEGRAÇÃO: Padecem de uma deficiência instrumental originária, não sendo exeqüíveis, senão
através do legislador ordinário. Ao contrário das normas de aplicação, aqui a legislação infraconstitucional integra o
núcleo da norma constitucional. Dividem-se em dois tipos:
- Normas completáveis: Há a necessidade de um aditamento, de uma soma de conteúdo.
- Normas restringíveis: Restrição ou redução do campo de incidência pela regulamentação legislativa.
E) Classificação de Maria Helena Diniz:
- NORMAS SUPEREFICAZES OU COM EFICÁCIA ABSOLUTA: “As normas constitucionais com eficácia são as
intangíveis; contra elas nem mesmo há o poder de emendar. Daí conterem uma força paralisante total de toda a legislação

4
BESTER, Gisela Maria. Direito Constitucional: Fundamentos Teóricos. Vol I. São Paulo : Manole, 2005, p. 129 e 130.
5
SILVA, José Afonso da. op cit. p. 126.
6
Idem, op. cit. P. 138
7
BASTOS, Celso Ribeiro. Hermenêutica e Interpretação Constitucional. 2. ed.São Paulo : Celso Bastos Editor, 1999, p. 42
8
op. cit. P. 42 e 43.
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que, explícita ou implicitamente, vier a contrariá-las” 9. Segundo a autora, seriam exemplos deste tipo de norma as
cláusulas pétreas. CUIDADO!
- NORMAS COM EFICÁCIA PLENA: Incidem imediatamente sem necessidade de legislação complementar posterior,
mas podem ser emendadas.
- NORMAS COM EFICÁCIA RESTRINGÍVEL (EFICÁCIA CONTIDA)
- NORMAS COM EFICÁCIA RELATIVA COMPLEMENTÁVEL OU DEPENDENTE DE
COMPLEMENTAÇÃO LEGISLATIVA

3) EFEITOS PRODUZIDOS ANTES DA COMPLEMENTAÇÃO DAS NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA:


a) Dever para o legislador ordinário;
b) Condicionam a legislação futura, com a consequência de serem inconstitucionais as leis ou atos que as
ferirem;
c) Informam a concepção do estado e da sociedade e inspiram sua ordenação jurídica, mediante a atribuição de
fins sociais, proteção de valores da justiça social e revelação dos componentes do bem comum;
d) Constituem sentido teleológico para a interpretação, integração e aplicação das normas jurídicas;
e) Condicionam a atividade discricionária da administração e do judiciário;
f) Criam situações jurídicas subjetivas de vantagens ou desvantagem;
g) Revogam a legislação infraconstitucional preexistente que fira o programa proposto.

9
DINIZ, Maria Helena. Norma Constitucional e seus Efeitos. São Paulo : Saraiva, 1989, p. 97.

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