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1 A NORMA CONSTITUCIONAL
1.1 Espécies
Princípios e regras - Dworkin argumenta que, ao lado das regras jurídicas, há também os
princípios. Estes, ao contrário daquelas que possuem apenas a dimensão da validade, possuem também uma
outra dimensão: o peso. Assim, as regras ou valem, e são, por isso, aplicáveis em sua inteireza, ou não valem,
e portanto, não são aplicáveis. No caso dos princípios, essa indagação acerca da validade não faz sentido. No
caso de colisão entre princípios, não há que se indagar sobre problemas de validade, mas somente de peso.
Tem prevalência aquele princípio que for, para o caso concreto, mais importante, ou, em sentido figurado,
aquele que tiver maior peso.1
Segundo Alexy, princípios são normas que estabelecem que algo deve ser realizado na maior
medida possível, diante das possibilidades fáticas e jurídicas presentes. Por isso são eles chamados de
mandamentos de otimização.2 A realização completa de um determinado princípio pode ser - e freqüentemente
é - obstada pela realização de outro princípio (O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos
princípios e regras colidentes). Essa ideia é traduzida pela metáfora da colisão entre princípios, que deve ser
resolvida por meio de um sopesamento, para que se possa chegar a um resultado ótimo. 3
As regras, ao contrário dos princípios, expressam deveres e direitos definitivos, ou seja, se uma
regra é válida, então deve se realizar exatamente aquilo que ela prescreve, nem mais, nem menos. 4
1.2 Eficácia
1.2.1 Norma de eficácia plena
A norma de eficácia plena é aquela em que a Constituição Federal prevê um direito desde logo
aplicável. Não há a necessidade de nenhuma regulamentação. Isso não quer dizer que esse direito seja
absoluto, intangível ou que não possa ser modificado ou reduzido por previsão da própria Constituição. Norma
de eficácia plena: aplicabilidade direta, imediata e integral. Exs.: Art. 18, §1º, da CF; 2. Art. 5º, III, da CF; Art.
230, § 2º; art. 2º; 14, § 2º; 17, § 4º; 19; 20; 21; 22; 24; 30.
1.2.4 Classificação de Maria Helena Diniz5 – Toma por critério a questão da intangibilidade e da produção dos
efeitos concretos das nomas constitucionais:
a) Normas com EFICÁCIA ABSOLUTA ou SUPEREFICAZES – São normas intangíveis,
insuscetíveis de emenda constitucional. Integram o núcleo duro da constituição. Cláusulas pétreas. São
providas de: Eficácia Positiva – Têm incidência imediata, não havendo contra elas nem mesmo poder de
emendas; Eficácia Negativa – Vedam qualquer lei que lhes seja contrária.
b) Normas com EFICÁCIA PLENA – Podem ser modificadas por emenda, mas independem
de regulamentação para surtirem efeitos. Podem ser imediatamente aplicadas.
c) Normas com EFICÁCIA PLENA RESTRINGÍVEL – Têm eficácia plena e aplicação
imediata, até que sobrevenha legislação restritiva.
d) Normas com EFICÁCIA RELATIVA COMPLEMENTÁVEL ou DEPENDENTES DE
COMPLEMENTAÇÃO – Não têm eficácia plena, carecendo de complementação legislativa, mas tem eficácia
paralisante de efeitos de normas precedentes incompatíveis ou impeditivas de qualquer conduta contrária ao
que estabelecerem. Podem ser: De Princípio Institutivo – depende de lei para dar corpo a
instituições/pessoas/órgãos; De Princípio Programático – determinam o procedimento legislativo, fixadoras de
programas constitucionais a serem implementados.
Jurisprudência - STF
5
CUNHA JR., Dirlei Da. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2022. 179-180.
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2. VUNESP - 2023 - TJ-RJ - Juiz Substituto - Assinale a alternativa correta no que concerne às
normas constitucionais.
A) As normas constitucionais de eficácia redutível ou restringível são aquelas que têm
aplicabilidade imediata, integral, plena, mas que podem ter reduzido seu alcance pela atividade
do legislador infraconstitucional.
B) As normas constitucionais de eficácia contida ou prospectiva têm aplicabilidade direta,
mediata e possivelmente integral.
C) Normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação
legislativa dependem exclusivamente de lei complementar para o exercício do direito ou
benefício consagrado. Sua possibilidade de produzir efeitos é imediata.
D) As normas constitucionais de eficácia restringível são as que receberam do constituinte
normatividade suficiente à sua incidência mediata.
E) Normas constitucionais de eficácia plena contêm todos os elementos imprescindíveis para
que haja a possibilidade da produção imediata dos efeitos previstos, já que, apesar de
suscetíveis de emendas, requerem normação subconstitucional subsequente.
1.3.1 Métodos
1.3.1.1 Método Hermenêutico-Clássico (Ernest Forsthoff): a Constituição não difere substancialmente das
leis, razão por que deve ser interpretada conforme a métodos tradicionais (genético, literal, lógico, sistemático,
histórico, teleológico). Apesar de o intérprete, inegavelmente, ter que se valer sempre de uma análise lógica,
literal e sistemático do texto que se busca interpretar, os problemas políticos, sociais e econômicos surgidos no
curso do Século XX mostraram que o método jurídico clássico não proporcionava, por si só, respostas
adequadas às demandas. Assim, foram concebidos outros métodos de interpretação, caracterizados em geral
por trazerem fatores “meta-jurídicos” à arena dos debates constitucionais.
6
TRF - 3ª REGIÃO - 2022 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Substituto - Sobre a seguinte tese: “São sempre necessárias leis específicas e
expressas para efetivar e concretizar normas programáticas ou sociais da Constituição brasileira de 1988”, assinale, segundo o Direito
Constitucional brasileiro, a alternativa CORRETA:
A) se trata de uma livre opção interpretativa, podendo tal exigência ser invocada legitimamente para evitar as dificuldades advindas
de uma Constituição social extremamente custosa para uma economia periférica.
B) decorre da impossibilidade de aplicação direta de “princípios constitucionais” por decisões judiciais.
C) é a base, historicamente falando, de uma teoria de bloqueio, especialmente quanto ao Estado Social, e reforça uma visão
legicêntrica do sistema jurídico.
D) autoriza o cabimento da ação popular, respeitada a condicionante de que se trate de omissão que tone inviável o exercício dos
direitos constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania.
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1.3.1.2 Método Tópico-Problemático (Theodor Viehweg): parte da premissa de que, como as normas
constitucionais são indeterminadas (altamente genéricas e abstratas) e fragmentadas (não abrangem todos os
problemas da realidade), não podem ser aplicadas mediante simples subsunção. Assim, a interpretação deve
ter um caráter prático, no qual a discussão do problema passa a ter preferência sobre a discussão da norma
em si. Uma vez centrado o debate no problema, elegem-se critérios e princípios (topoi) para a sua solução
adequada. A grande limitação desse método consiste na possibilidade de criação de um casuísmo sem limites,
pois a interpretação não deveria partir do problema, mas da norma em si. O método hermenêutico que concebe
a Constituição como um sistema aberto de regras e princípios é o método tópico-problemático.
1.3.1.5 Método normativo-estruturante: o texto normativo não se confunde com o conteúdo da norma,
cabendo ao intérprete a concretização da norma diante da realidade em que se apresenta. O método
Normativo-Estruturante (Müller) parte da distinção entre “texto constitucional”, “norma constitucional” e “norma
de decisão”. O texto constitucional é a base linguística que contém as proposições a serem interpretadas. A
“norma constitucional” é o resultado da interpretação. Sendo ainda genérica e abstrata, ela é formada por não
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apenas por um programa normativo, mas por um âmbito normativo. Já a “norma de decisão” é a norma
constitucional concretizada ao caso, pelo legislador, pelo juiz ou pela autoridade administrativa.
1.3.1.6 Método Concretista da Constituição Aberta - Peter Haberle - Interpretação realizado por diversos
sujeitos constitucionais.
1.3.1.7 Método Comparativo - Peter Haberle – Interpretação se realiza levando em consideração os sentidos
atribuídos a outras ordens constitucionais.
1.3.2 Princípios
1.3.2.1 Princípio da unidade da constituição – Como acentua J. J. Gomes Canotilho: "O princípio da unidade
da Constituição obriga o intérprete a considerar a Constituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os
espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar. 9
7
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
8
Extradição de cidadão colombiano. 2. Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e a Colômbia, Decreto
6.330/40. 3. Alegação de prescrição do delito no Brasil. Inocorrência. Interrupção do prazo prescricional pela prática de novos delitos
no território brasileiro, conforme confessado pelo próprio extraditando. (Ext 1560 AgR-2ºJULG, Relator(a): GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 18-04-2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 13-06-2023 PUBLIC 14-06-2023).
.
9 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra, Almedina, 1993, pág. 226.
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1.3.2.2 Princípio da concordância prática - Formulado por Konrad Hesse, esse princípio impõe ao intérprete
que "os bens constitucionalmente protegidos, em caso de conflito ou concorrência, devem ser tratados de
maneira que a afirmação de um não implique o sacrifício do outro, o que só se alcança na aplicação ou na
prática do texto."10
1.3.2.3 Princípio do efeito integrador - Canotilho ensina que na resolução dos problemas jurídico-constitucionais
deve dar-se primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço
da unidade política.
1.3.2.5 Princípio da força normativa - esse princípio estabelece que, na interpretação constitucional, deve-se
dar primazia às soluções ou pontos de vista que, levando em conta os limites e pressupostos do texto
constitucional, possibilitem a atualização de suas normas, garantindo-lhes eficácia e permanência.
10 COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação constitucional. Porto Alegre, Sérgio A. Fabris Editor, 1997, p. 91.
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- Necessidade: a restrição a determinado direito apenas é possível se não houver outra medida
menos gravosa;
- Adequação: o meio escolhido deve ser apto a atingir o fim perseguido.
- Proporcionalidade em estrito sentido: os benefícios devem ser superiores às restrições.
A interpretação conforme à Constituição tem sido a seara mais atacada nos debates acerca
dos limites da atividade interpretativa exercida pelo Judiciário. Riccardo Guastini trata da técnica na seguinte
sistematização:
Decisões interpretativas em sentido estrito – de rechaço: elimina-se os sentidos contrários à
constituição; - de aceitação: aceita-se a interpretação que conforma com a constituição.
Sentenças manipuladoras: há um ajuste que promove adição ou substituição à norma
impugnada para adequá-la à Constituição: Sentença aditiva – a lei é declarada inconstitucional porque omite
algo, uma categoria ou benefício e por consequência o julgador alarga o seu âmbito de incidência incluindo ou
substituindo categoria ou benefício. Exemplos da realidade brasileira: direito de greve servidores, reajuste dos
servidores civis quando apenas os militares receberam o aumento, fidelidade partidária, demarcação Raposa
Serra do Sul e antecipação terapêutica feto anencefálico.
Sentenças substitutivas: há a substituição da norma impugnada por outra criada pelo Tribunal.
O STF assim procedeu na ADI 2332 (juros na ação desapropriação).