Você está na página 1de 4

Hermenêutica Constitucional

A interpretação constitucional pode ser feita a partir de muitos critérios como o


textual, o histórico, estrutural, ético-moral, entre outros. Não há um único método
hermenêutico passível de ser aplicado e, portanto, de acordo com cada caso concreto
e com o intérprete que o julga, será escolhido o método de interpretação mais
adequado.

As normas constitucionais são dotadas de grande densidade e subjetividade,


logo, a abstração presente nas diversas normas da lei fundamental acarreta na
necessidade da adoção de critérios hermenêuticos específicos e diversos daqueles
adotados para a legislação infraconstitucional. A grande quantidade de princípios no
texto legal também contribuem para que a interpretação constitucional se torne mais
complexa, podendo variar consideravelmente dependendo do critério que se adota.

Os critérios de hierarquia, especialidade e cronologia são inúteis na


interpretação constitucional, já que as normas constitucionais não possuem hierarquia
entre si, formam juntas uma unidade e, além disso, são estabelecidas em um mesmo
momento, até mesmo as emendas constitucionais não são consideradas posteriores.

Os métodos hermenêuticos mais tradicionais para interpretação constitucional


são o textual ou gramatical; o histórico; o teleológico e o sistemático.

O método textual tenta extrair do texto da norma a sua interpretação, a partir do


significado, tanto jurídico-formal como informal, das palavras contidas nela. É um
método restrito àquilo que o legislador expôs no texto da norma. Este é o método que
primeiro se recorre e que, apesar de determinar um limite para o intérprete, também o
oferece diferentes possibilidades interpretativas.

O segundo critério é o histórico, que busca a interpretação jurídica conforme a


vontade do legislador na época em que a norma foi criada, tenta extrair a intenção do
legislador relacionando-a com o elemento histórico. Entretanto, se configura como um
método fraco, pois a Constituição é um instrumento dinâmico que deve sempre se
adaptar à realidade social e aos seus valores.

O método sistemático busca interpretar cada norma relacionando-a com as


demais normas constitucionais e não apenas isoladamente, uma vez que se considera
a Constituição como uma unidade.

Por fim, o método teleológico é aquele que busca a finalidade da norma e do


seu preceito a ser interpretado.

Há, ainda, critérios como o consequencialismo, no qual o intérprete busca


interpretar a norma baseado nas suas consequências, prevendo o impacto social da
sua decisão. O critério ético-moral busca aproximar o direito e a moral, no entanto,
este método representa o risco de imposição dos valores morais pessoais do juiz na
interpretação.
No processo de interpretação constitucional, além dos critérios hermenêuticos
dispostos, há, como base e guia para o intérprete, alguns princípios, os quais possuem
a função de nortear a forma como as normas constitucionais devem ser interpretadas.

Princípios de Interpretação Constitucional

1. Supremacia da Constituição

Este princípio determina que a lei fundamental está hierarquicamente acima


das demais normas infraconstitucionais e, portanto, deve ser sempre preferida quando
em descompasso com estas últimas. A Constituição configura a base de todo o
ordenamento jurídico, de forma que nenhuma norma, portanto, pode contrariar as suas
disposições normativas, sob pena de nulidade da norma inconstitucional.

2. Interpretação conforme a Constituição

Decorre do princípio da supremacia da constituição e prevê que, havendo mais


de uma possibilidade de interpretação, o intérprete sempre deve preferir aquela que
mais for compatível com a Constituição.
No caso de normas com várias significações possíveis, deverá ser encontrada
a significação que apresente conformidade com as normas constitucionais, evitando a
sua declaração de inconstitucionalidade e consequente retirada do ordenamento
jurídico. É uma forma de preservação das normas infraconstitucionais em relação a
possíveis declarações de inconstitucionalidade, tendo em vista a presunção relativa de
constitucionalidade.
Se há uma norma com vários significados possíveis (normas
plurissignificativas), deve-se extrair a significação em conformidade com a
Constituição, não havendo a necessidade de retirar a norma do ordenamento jurídico
e declará-la inconstitucional se é possível interpretá-la conforme a CF. É viável a
preservação do texto normativo neste caso.

3. Presunção de Constitucionalidade das Normas Infraconstitucionais

Determina que as leis e atos normativos gozam de presunção relativa de


constitucionalidade e somente perdem a sua eficácia e validade mediante declaração
judicial em contrário. Trata-se de uma presunção iuris tantum. Esta presunção é
relativa vez que pode ser derrubada através do controle judicial de constitucionalidade,
ou seja, é uma presunção que admite prova em contrário.
O fundamento deste princípio é a existência de um controle prévio de
constitucionalidade, que afere a adequação desta norma à Constituição, quando
editada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo.

4. Unidade da Constituição

Prevê que esta deve ser sempre interpretada na sua globalidade, as normas
devem ser encaradas como preceitos de um sistema unitário. Este princípio está
ligado ao método sistemático de interpretação, tendo em vista que reza que a
Constituição deve ser interpretada como um todo.
Segundo Canotilho, ele obriga o intérprete a considerar a Constituição na sua
globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão existentes entre as normas
constitucionais a concretizar. O eventual conflito entre duas normas constitucional,
bem como a interpretação de uma norma, deve ser olhado à luz de todo o texto
constitucional.
Portanto, as normas constitucionais devem ser encaradas como uma unidade,
como parte integrante de um todo.

5. Máxima Efetividade das Normas Constitucionais ou Imperatividade

Deve ser entendido no sentido de buscar proporcionar a mais ampla


efetividade social da norma. A uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido
que maior efetividade lhe conceda, ou seja, no momento de interpretar uma norma
constitucional diante do caso concreto, o intérprete deve aprofundar o sentido da
mesma, de modo a maximizar a eficácia da norma presente no texto constitucional.

6. Proporcionalidade e Razoabilidade

Deve-se buscar a solução mais razoável frente ao caso concreto. Este princípio
é muito invocado quando há colisão de direitos fundamentais.
É importante destacar que se tratando de normas constitucionais, as suas
especificidades geram a necessidade de uma atividade hermenêutica mais complexa
pelo aplicador das normas constitucionais. Devido a estas especificidades e à
abstração presente no conteúdo destas normas, o Judiciário ainda se depara com
problemas hermenêuticos, em que muitas vezes mais de uma interpretação torna-se
possível.

7. Princípio do Efeito Integrador

Na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, deverá ser dada maior


primazia aos critérios favorecedores da integração política e social, bem como ao
reforço da unidade política. A Constituição deve ser um elemento de integração e não
de desagregação.
Em outras palavras, a interpretação da Constituição não pode ser dada de
modo a favorecer a desintegração social e política. Pelo contrário, o texto
constitucional deve ser interpretado de modo a integrar os entes federativos, os
poderes que integram a República. Não pode ser dada uma interpretação que gere um
tensionamento ou conflito entre estes entes e órgãos.

8. Princípio da Justeza ou Conformidade Funcional

De acordo com Pedro Lenza, o intérprete máximo da Constituição, no caso


brasileiro o STF, ao concretizar a norma constitucional, será responsável por
estabelecer a força normativa da Constituição, não podendo alterar a repartição de
funções constitucionalmente estabelecidas pelo constituinte originário.
O intérprete deve respeitar a conformidade funcional, a justeza estabelecida pela
CF em relação às funções exercidas pelos poderes. Logo, o STF, ao interpretar a
Constituição, deve entender a sua função constitucional, não podendo extrapolá-la,
não podendo realizar uma opção discricionária de interpretação que venha a superar a
opção legislativa.
O legislador, juntamente com o poder executivo, faz opções políticas, e esta
opção de como concretizar um direito constitucionalmente previsto não pode ser
superada pelo judiciário.

9. Princípio da Concordância Prática ou Harmonização

De acordo com Alexandre de Moraes, por este princípio, exige-se a coordenação


e combinação dos bens jurídicos em conflito, de forma a evitar o sacrifício total de uns
em relação aos outros. Desta forma, este princípio reza que, diante de um conflito
entre bens jurídicos previstos constitucionalmente, não haja a total anulação de um em
detrimento do outro. Deve haver uma interpretação que os harmonize, que viabilize
uma concordância pratica, diante do caso concreto.

10. Princípio da Força Normativa

A Constituição transforma-se em força ativa se existir a disposição de orientar a


própria conduta segundo a ordem nela estabelecida. Este princípio exige que a
realidade social possa ser influenciada pelo texto constitucional. A Constituição não é
apenas um produto social, mas também possui uma força normativa que influencia a
sociedade, que orienta a conduta dos agentes públicos e da sociedade. Não é um
simples texto que reproduz a realidade social, mas é um texto que também influencia
esta realidade, conformando-a aos seus princípios e pressupostos.

Você também pode gostar