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Aula II - Direito

Constitucional
Mutação Constitucional. Regras e Princípios. Derrotabilidade.
Métodos e princípios da Interpretação constitucional. Limites
da Interpretação constitucional. Teoria dos Poderes Implícitos.
Sociedade aberta dos intérpretes da Constituição.

Professor: Patrick de Oliveira


Mutação constitucional
● Consiste em uma alteração do significado de
determinada norma da Constitucional;
● Não observa o mecanismo constitucionalmente
previsto às emendas;
Dica
● Não há qualquer modificação de seu texto A Constituição é a lei

(alteração formal).
fundamental de um país,
estabelecendo as bases
do Estado e garantindo
os direitos fundamentais
dos cidadãos
Exemplo
Valendo-nos do Código Penal
brasileiro, apenas para ilustrar:
antes do advento da Lei n.
11.106/2005, os arts. 215, 216
e 219 do CP traziam a
expressão “mulher honesta”
Mecanismos de
Mutação
Constitucional
Como se define cada um?
Interpretação Judicial Interpretação Atuação do legislador
administrativa
Evolução da Ato normativo primário,
jurisprudência da Corte A evolução interpretativa procura alterar o sentido
poderá ser verificada, já dado a alguma norma
também, no âmbito constitucional
administrativo
Regras e Princípios
● Ambos são espécies de normas;

● Não guardam entre si hierarquia.


Dica
A Constituição é um
texto uno, portanto
deve ser entendida a
partir da ideia de
unidade.
A problemática dos
sistemas
Um sistema só de princípios seria demasiado
flexível, pela ausência de guias claros de
comportamento, ocasionando problemas de
coordenação, conhecimento, custos e
controle de poder.

Dica Um sistema só de regras, aplicadas de modo


Cada espécie formalista, seria demasiado rígido, pela
normativa ausência de válvulas de abertura para o
desempenha amoldamento das soluções às
funções diferentes e
complementares
particularidades dos casos concretos.
Principais diferenças
Grau de
Natureza normogenética
determinabilidade Grau de abstração
Regras são susceptíveis de Princípios são fundamentos Princípios têm elevado grau
aplicação direta de regras de abstração

Princ
Regras
ípios
“Proximidade” da Carácter de
ideia de direito fundamentalidade
Os princípios constitucionais
Os princípios são padrões
são normas com um papel
juridicamente vinculantes
fundamental no ordenamento
radicados nas exigências
jurídico devido à sua posição
de ‘justiça’
hierárquica
A divisão qualitativa
ou estrutural entre
princípios e regras
Cada caso concreto deverá ser analisado para
que o intérprete dê o exato peso entre os
eventuais princípios em choque. Assim, a
aplicação dos princípios não será no esquema
Dica “tudo ou nada”, mas graduada à vista das
circunstâncias representadas por outras
Regras se excluem
ao colidirem. normas ou por situações de fato.
Princípios adotam
grau de relevância. Diante do conflito entre regras, apenas uma
prevalece dentro da ideia do “tudo ou nada”.
Derrotabilidade
É um conceito relacionado à
mutação constitucional que se
refere à possibilidade de que as
normas constitucionais sejam
derrotadas por outras normas
constitucionais ou por princípios
constitucionais superiores.
Exemplo
A EC n. 107/2020 pode ser um
interessante exemplo de
derrotabilidade de regra. Isso
porque, em razão da pandemia da
Covid-19, adiou as eleições
municipais de outubro de 2020 e
os prazos eleitorais respectivos,
afastando a aplicação do art. 16,
CF/88.
Métodos de
interpretação
Constitucional
Interpretação de Normas
Constitucionais
● É um conjunto de métodos, desenvolvidos pela
doutrina e pela jurisprudência com base em
critérios ou premissas (filosóficas, metodológicas,
epistemológicas) diferentes mas, em geral,
reciprocamente complementares.
Método jurídico ou
Hermenêutico
Clássico
A Constituição deve ser encarada como uma
lei e, assim, todos os métodos tradicionais de
hermenêutica deverão ser utilizados na
tarefa interpretativa a partir de elementos de
análise que podem estar relacionados com a
origem da norma, análise literal, harmonia
lógica, análise do todo, análise histórica,
finalidade, a participação popular, doutrinária
e evolutiva.
Método tópico-
problemático
Parte-se de um problema concreto para a
norma, atribuindo-se à interpretação um
caráter prático na busca da solução dos
problemas concretizados.
Método hermenêutico-
concretizador
Parte da Constituição para o problema,
destacando-se os seguintes pressupostos
interpretativos: subjetivos (pré-
compreensões sobre o tema para obter o
sentido da norma); objetivos (atua como
mediador entre a norma e a situação
concreta, tendo como “pano de fundo” a
realidade social); círculo hermenêutico (é o
“movimento de ir e vir” do subjetivo para o
objetivo).
Método científico-
espiritual
A análise da norma constitucional não se fixa
na literalidade da norma, mas parte da
realidade social e dos valores subjacentes do
texto da Constituição. Assim, a Constituição
deve ser interpretada como algo dinâmico e
que se renova constantemente, no compasso
das modificações da vida em sociedade.
Método normativo-
estruturante
A doutrina que defende esse método
reconhece a inexistência de identidade entre
a norma jurídica e o texto normativo. Isso
porque o teor literal da norma (elemento
literal da doutrina clássica), que será
considerado pelo intérprete, deve ser
analisado à luz da concretização da norma em
sua realidade social. A norma terá de ser
concretizada não só pela atividade do
legislador, mas, também, pela atividade do
Judiciário, da administração e do governo.
Método da
comparação
constitucional
A interpretação dos institutos se
implementa mediante comparação nos
vários ordenamentos. Estabelece-se,
assim, uma comunicação entre as várias
Constituições.
Limites da interpretação
constitucional
● Ao lado dos métodos de interpretação, a doutrina
estabelece alguns princípios específicos de
interpretação.
Limites da
interpretação
constitucional
Princípio da unidade da
Constituição
A Constituição deve ser sempre
interpretada em sua globalidade, como
um todo, e, assim, as aparentes
antinomias deverão ser afastadas.

As normas devem ser vistas como


preceitos integrados em um sistema
unitário de regras e princípios.
Princípio do efeito
integrador
Na resolução dos problemas jurídico-
constitucionais deve dar-se primazia
aos critérios ou pontos de vista que
favoreçam a integração política e social
e o reforço da unidade política.
Princípio da máxima
efetividade
Também chamado de princípio da
eficiência ou da interpretação efetiva, o
princípio da máxima efetividade das
normas constitucionais deve ser
entendido no sentido de a norma
constitucional ter a mais ampla
efetividade social.
Princípio da justeza ou
da conformidade
O intérprete máximo da Constituição,
no caso brasileiro o STF, ao concretizar
a norma constitucional, será
responsável por estabelecer a força
normativa da Constituição, não
podendo alterar a repartição de
funções constitucionalmente
estabelecidas pelo constituinte
originário, como é o caso da separação
de poderes, no sentido de preservação
do Estado de Direito.
Princípio da
concordância prática ou
harmonização
Partindo da ideia de unidade da
Constituição, os bens jurídicos
constitucionalizados deverão coexistir de
forma harmônica na hipótese de eventual
conflito ou concorrência entre eles,
buscando, assim, evitar o sacrifício (total)
de um princípio em relação a outro em
choque. O fundamento da ideia de
concordância decorre da inexistência de
hierarquia entre os princípios.
Princípio da força
normativa
Os aplicadores da Constituição, ao
solucionar conflitos, devem conferir a
máxima efetividade às normas
constitucionais. Deve dar-se
prevalência aos pontos de vista que,
tendo em conta os pressupostos da
Constituição (normativa), contribuem
para uma eficácia ótima da lei
fundamental
Princípio da
interpretação conforme
a Constituição
Diante de normas plurissignificativas
ou polissêmicas (que possuem mais de
uma interpretação), deve-se preferir a
exegese que mais se aproxime da
Constituição e, portanto, que não seja
contrária ao texto constitucional
Princípio da
proporcionalidade ou
razoabilidade
Consubstancia uma pauta de natureza
axiológica que emana diretamente das
ideias de justiça, equidade, bom senso,
prudência, moderação, justa medida,
proibição de excesso, direito justo e
valores afins; precede e condiciona a
positivação jurídica, inclusive de âmbito
constitucional; e, ainda, enquanto
princípio geral do direito, serve de regra
de interpretação para todo o
ordenamento jurídico.
Teoria dos poderes
implícitos
● Decorre da doutrina que, tendo como precedente o célebre
caso McCULLOCH v. MARYLAND (1819), da Suprema
Corte dos Estados Unidos.

[...] a outorga de competência expressa a determinado órgão


estatal importa em deferimento implícito, a esse mesmo órgão,
dos meios necessários à integral realização dos fins que lhe
foram atribuídos.
McCulloch v.
Maryland
O Estado de Maryland tentou impor
uma taxa sobre um banco criado pelo
Governo Federal Americano.
McCulloch, então funcionário da filial
daquele banco, entrou com uma ação
de inconstitucionalidade contra o
Estado de Maryland. Deste caso
surgiu importante entendimento:
Teoria dos Poderes Implícitos ou
Interpretação Elástica da
Constituição.
Exemplos
Encontramos alguns precedentes na jurisprudência
pátria:

➔ O STF admitiu a possibilidade de o TJ


estadual conhecer e julgar reclamação
para a preservação de sua competência
e a autoridade de suas decisões.
➔ Em outro julgamento o STF afirmou
que o Ministério Público dispõe de
competência para promover, por
autoridade própria, investigações de
natureza penal.
Sociedade aberta dos
intérpretes da
Constituição
● É uma teoria na qual as leis e a Constituição devem ser
interpretadas de maneira aberta e flexível, levando em
consideração as mudanças sociais e os novos desafios
enfrentados pela sociedade
Sociedade aberta v.
Sociedade fechada
● Na sociedade aberta a interpretação não está adstrita aos órgãos e
entidades estatais por meio de procedimentos formalizados, pois esta deve
ser feita por todos que estão sujeitos à norma Constitucional.
● Dentro de um conceito mais amplo de hermenêutica, “cidadãos e grupos,
órgãos estatais, o sistema público e a opinião pública (...) representam
forças produtivas de interpretação (...); eles são intérpretes constitucionais
em sentido lato, atuando nitidamente, pelo menos, como pré-intérpretes.
Questões
1. O que é mutação constitucional e como ela difere da
emenda constitucional?
2. Quais são os principais exemplos de mutação
constitucional?
3. Qual é a diferença entre regras e princípios na
interpretação constitucional?
4. Qual é a distinção entre regras e princípios?
5. O que é derrotabilidade e como ela se relaciona com a
mutação constitucional?
6. Quais são os principais métodos e princípios da
interpretação constitucional?
7. Como esses métodos e princípios podem ser utilizados
para resolver conflitos constitucionais?
8. O que são poderes implícitos e como eles se
relacionam com a interpretação constitucional?

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