Você está na página 1de 13

Questões – Seminário III

1. Que é sistema? Há diferença entre sistema e ordenamento jurídico? Pode-se


dizer que o direito positivo se caracteriza como um sistema?
Definido no dicionário sistema é reunião dos elementos que, concretos ou abstratos,
se interligam o modo a formar um todo organizado. Ou reunião dos preceitos que,
sistematicamente relacionados, são aplicados numa área determinada, teoria ou
doutrina.
Para definir sistema é preciso definir qual premissa adotar. Levando em
consideração o pensamento de Paulo de Barros Carvalho que utiliza a perspectiva do
construtivismo semântico, pode-se definir sistema como sendo o conjunto formado por
partes, elementos, unidades que se reúnem sob um princípio unificador.
A reunião de todos os textos do direito positivo forma um conjunto integrado por
elementos que se inter-relacionam, formando um sistema. As normas jurídicas são
unidades desses sistemas que são retiradas dos textos e se interligam mediante
vínculo vertical ou horizontal. A constituição é o fundamento de todo o sistema jurídico.
O sistema jurídico é utilizado para designar o sistema prescritivo do direito posto e o
sistema descritivo da Ciência do Direito.
Segundo Paulo de Barros Carvalho:
“... surpreendido no seu significado de base, o sistema
aparece como o objetivo formado de porções que se
vinculam debaixo de um princípio unitário ou como a
composição de partes orientadas por um vetor comum.
Onde houver um conjunto de elementos relacionados
entre si e aglutinados perante uma referência determinada,
teremos a noção fundamental de sistema... é a partir
daquela idéia elementar de sistema que se reflete para
buscar outros desdobramentos com as operações lógicas
de dividir, classificar e definir.”¹
A doutrina diverge muito sobre ter ou não diferença entre sistema e ordenamento
jurídico, para alguns o ordenamento jurídico é o direito posto e o sistema é a

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
interpretação do ordenamento feito pela ciência do direito. Para PBC sistema e
ordenamento jurídico são sinônimos, porque onde há texto existe uma linguagem, de
modo que mesmo no texto bruto ou enunciados prescritivos há um mínimo de substrato
linguístico independente da atividade hermenêutica do cientista do direito. Sendo
assim, o termo sistema poderia ser usando tanto para se referir ao sistema prescritivo
do direito posto e ao sistema descritivo da Ciência do Direito.
Utilizando as premissas mencionadas acima, a respeito da existência da norma
hipotética e fundamental, definida por Kelsen, que é considerada um axioma e como
norma pressuposta, já que está fora do sistema, mas que confere validade a ele.
Abaixo dela todas as normas se organizam seguindo uma estrutura hierárquica, diante
da qual as normas superiores servem de fundamento de validade para as normas
inferiores. Compondo o sistema jurídico podem ser compostos diversos subsistemas,
sendo um deles o sistema jurídico.
O direito positivo pode se caracterizar como sistema pois porque não podem existir
normas incompatíveis. Segundo BOBBIO “um ordenamento jurídico constitui um
sistema porque nele não podem existir normas incompatíveis. Nessa acepção,
“sistema” equivale à validade do princípio que exclui a incompatibilidade das normas”
(BOBBIO, 2011, p.86). Somente é possível caracterizar sistema se houver
compatibilidade entre as normas.
2. Que se entende por “sistema constitucional tributário”? Qual sua função no
direito tributário?
O sistema constitucional tributário é um conjunto de normas e princípios tocante ao
direito tributário, com base na Constituição Federal.
O sistema deve partir da Constituição Federal de forma sintética e genérica. Como a
constituição federal é rígida, fez-se necessário subdividir em diversos subsistemas,
sendo um deles o tributário. Não há sistema semelhante ao brasileiro, no que diz
respeito a matéria tributária.
O legislador constituinte ao tratar da matéria tributária repartiu em competências,
classificação de tributos, estabeleceu o direito fundamental dos contribuintes, fixou
conceitos, repartiu a receita tributária e vinculou o produto arrecadado, levando como
base parâmetros, limites e mecanismos de controle advindos da constituição.

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
A ideia de sistema conduz a noção de limite. Dentre os limites tratados pela Lei
maior está a competência legislativa tributária. Quanto maior o rol de prescrições
constitucionais, maior a possibilidade de uma definição estrutural do sistema já no
plano constitucional.
Diante da breve explanação acima, a função do sistema constitucional tributário é
dispor sobre princípios e normas gerais do direito tributário, competência dos entes
tributantes e repartição de receitas, e sobretudo limitar o poder tributar.
3. Que é princípio, como é e para que serve? Há diferença entre regras e
princípios? No caso de conflito, qual deve prevalecer? E no caso de conflito
entre princípios, qual critério deve informar a solução? (Vide anexos I e II).
Segundo Paulo Ayres, “Princípios são enunciados prescritivos, dotados de elevada
carga axiológica, que informam a produção legislativa (normas de estrutura) e a
compostura das normas jurídicas reguladoras de condutas intersubjetivas (normas de
conduta).”
O posicionamento mais acatado da doutrina é o de Carlos Ari Sundfeld, ao afirmar que
“princípio jurídico é norma de hierarquia superior à das
regras, pois determina o sentido e alcance destas, que não
podem contrariá-lo, sob pena de pôr em risco a
globalidade do ordenamento jurídico. Deve haver
coerência entre os princípios e regras, no sentido que vai
daqueles para estas.”²
Seguindo a linha de raciocínio de Paulo de Barros Carvalho, os princípios podem ser
gerais ou específicos e explícitos ou implícitos. Podem também denotar regra, mas
também pode apontar normas, além de ser usada para significar próprio valor. Deste
modo, o termo princípio ora pode ser usado como norma e ora como valor ou critério
objetivo.
“a) como norma jurídica de posição privilegiada e portadora
de valor expressivo; b) como norma jurídica de posição
privilegiada que estipula limites objetivos; c) como os
valores insertos em regras jurídicas de posição
privilegiada, mas considerados independentemente das
estruturas normativas; e d) como limite objetivo estipulado

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
em regra de forte hierarquia, tomado, porém, sem levar em
conta a estrutura da norma.”
Não há definição precisa no discurso científico para norma jurídica, o que gera vício
de ambiguidade. Mas não há como conhecer a norma sem conhecer o sistema a qual
está integrada.
As normas jurídicas podem ser de estrutura ou de conduta. E para evitar confusões
Paulo de Barros Carvalho utiliza-se das expressões “norma jurídica no sentido amplo” e
“normas jurídicas em sentido estrido”, a primeira tem suporte no direito posto, na lei, e
a segunda é construída a partir dos enunciados do direito positivo.
Há diferença entre regra e princípio, apesar de ambos serem espécies de normas.
Os princípios definem finalidades a serem alcançadas sem especificar condutas
necessárias. Enquanto as regras são condutas determinadas, executáveis e
compreensíveis.
As regras possuem conteúdo deontológico, expressam uma hipótese que acarretará
consequência precisa, são objetivas e determinadas. Já os princípios tem conteúdo
axiológico, é mais indeterminado e abre margem para que o intérprete manifeste
fundamentalmente a sua preferência.
Em caso de conflito entre regra e princípio dever-se-á ponderar a situação específica
na qual cabe a aplicação da norma-regra ou norma-princípio. Onde se aplicar uma, a
outra não será aplicada e onde vale uma, a outra não valerá.
No caso de conflito entre princípios, deve ser ponderado o caso concreto. Parte-se
do princípio que esses nunca estarão em conflito, não se sobrepõem e não se
diferenciam hierarquicamente. Sendo assim, o que possuir maior valor ou importância
ao caso concreto em análise deverá preponderar, não há exclusão de um princípio
em detrimento de outro, mas uma flexibilização de um princípio a luz do caso
concreto.
4. Identificar, nas situações a seguir, se algum princípio foi desrespeitado e, em
caso afirmativo, indicar qual:
a) instituição e regulamentação de dever instrumental por meio de instrução
normativa (vide anexo III);
A criação do dever de consolidação do balancete mensal na declaração de ajuste

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
anual por meio de instrução normativa viola o princípio da legalidade. Uma vez que
quem deve regulamentar são as normas e não as instruções normativas, essas têm
apenas função de orientar. As instruções normativas somente podem regular se houver
previsão legal, expressamente me lei
b) estipulação de graus de risco da atividade laborativa (para o SAT) por meio
de decreto (vide anexo IV);
Não há violação ao princípio da legalidade, uma vez que não houve criação de
tributo, apenas decretos que regulamentam a aplicação. O STF julga também a
desnecessidade de decreto para instituição do SAT. Foi respeitado o princípio da
isonomia, garantindo diferentes graus de riscos para situações desiguais.
c) multas sancionatórias na percentagem de 75% (vide anexos V e VI);
Analisando o caso concreto seria declarada inconstitucional as multas sancionatórias
que ferem ao princípio do não confisco, ao princípio da proporcionalidade e ao princípio
da razoabilidade.
É necessária a previsão de sanções distintas relativamente a fatos ilícitos que geram
tributos devido, considerando as respectivas causas e a fatos ilícitos que representam
mero descumprimento de obrigação acessória. Quando tem natureza formal é
irrazoável a fixação de multas sobre o valor informado ao fisco, sendo dever de
colaboração com o fisco e não o direito de crédito público.
d) imposto de importação com alíquota de 150%;
A priori não há vedação a princípio no que tange a aplicação de alíquota de 150% a
título de imposto de importação, uma vez que está expressamente definido em lei.
Contudo, não pode deixar de observar a capacidade contributiva, o princípio da
proporcionalidade, o princípio da isonomia e o princípio da igualdade.
e) lei municipal ou distrital que institui responsabilidade pelo crédito tributário
a terceira pessoa;
Conforme previsto no art. 6° da LC 116/2003 poderão os municípios, mediante lei,
atribuir responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa. Respeitando o que
determina a norma não há que se falar em desrespeito a algum princípio. Haverá
violação a princípio de legalidade se o município estabelecer ou responsabilizar terceiro

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
por tributos que fogem de sua reponsabilidade, além de ofender ao princípio de
capacidade contributiva, não confisco, proporcionalidade, finalidade e outros.
f) elaboração, pelo CONFAZ, de lista de produtos semielaborados sujeitos à
incidência do ICMS (vide anexo VII);
A elaboração de uma lista contendo produtos que terão ou não a incidência de ICMS
não fere nenhum princípio. Somente feriria algum princípio caso tivesse caráter taxativo
ou instituísse arrecadação de tributo, que poderia ofender ao princípio da legalidade.
Se levado em consideração que a criação da lista não foi mera regulamentação do
dispositivo legal e que o CONFAZ não possui competência normativa, haveria ofensa
ao princípio da legalidade.
g) penhora, em execução fiscal, de automóvel de pequeno valor utilizado para
transportar portador de necessidades especiais (vide anexo VIII).
A penhora de bem de pequeno valor utilizado para transporte de portador de
necessidade especial estaria infringindo o princípio da dignidade humana e ao seu
direito de locomoção. Ainda que este bem não esteja elencado no art. 640 do CPC,
deve-se analisar as peculiaridades do caso, de modo a adequar tutela aos direitos
fundamentais.
h) quebra do sigilo bancário em favor da fiscalização.
Desde 2016 os fiscos podem requisitar diretamente as informações bancárias,
conforme previsto no art. 6° da LC 105/ 2001, julgado constitucional pelo STF. Somente
haveria ofensa ao princípio à liberdade individual do contribuinte se a quebra de sigilo
não garantisse os direitos fundamentais e não houvesse efetivamente a prática de atos
ilícitos. A prática de sigilo bancário está protegida pelos princípios da intimidade e vida
privada, mas o contribuinte deve prestar informações ao fisco quanto a licitude de suas
informações.
i) a imposição da desistência das discussões judiciais e administrativas
para adesão a parcelamento de débitos.
Não fere nenhum princípio o fisco deixar a cargo do contribuinte decidir seguir com
discussões judiciais e administrativas em detrimento de aderir ao parcelamento. Pois
neste caso não é uma obrigação e sim uma faculdade que o contribuinte tem, havendo

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
poder discricionário entre as partes.

j) desconsideração de negócio jurídico realizado pelo contribuinte mediante


planejamento tributário em razão de ausência de propósito negocial nos atos
praticados pelo contribuinte.
Não haveria violação a nenhum princípio o planejamento tributário em razão de
ausência de propósito negocial nos atos praticados pelo contribuinte com o intuito de
reduzir tributo que seria devido, estando ligado ao princípio a solidariedade social e
justiça fiscal.
O princípio da capacidade contributiva serve para limitar a possibilidade de cada
contribuinte e não para imposição tributária sem fundamento nas regras de
competência previamente estabelecidas pela CF 88. Ainda que seja um dever pagar
tributos, não pode o legislador punir o contribuinte sem que haja previsão legal.
5. Considere as informações a seguir para responder ao final.

Regras de Futebol 2018/2019 CBF


Regra 12
(...)
Se o árbitro aplicar uma vantagem depois de uma falta
punível com cartão amarelo ou expulsão, a advertência deve
ser aplicada quando a bola estiver fora de jogo.
(...)

Num jogo de futebol, um jogador sofre falta, mas segue a jogada e marca o gol.
Analise o caso sob a ótica das regras e princípios e responda:

a) Há regra existente e aplicável à infração (falta)? Qual o papel


desempenhado pela lei da vantagem (regra ou princípio)? Princípios
podem excepcionar regras?

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
No futebol há regra definida e aplicável no caso de falta. O papel de lei da vantagem
é uma regra, já que é uma prescrição específica, que estabelece pressupostos e
consequências determinadas. Não há que se falar em princípios que sobrepõem regra,
uma vez que devem ser analisados casos concretos. No caso, as regras devem
respeitar os princípios.
b) Qual a relação entre a lei da vantagem (futebol) e o brocardo nemo
auditur turpitudinem allegans (ninguém pode se beneficiar da própria
torpeza)?
A lei da vantagem no futebol tem relação com o benefício em prol da própria defesa
se a vantagem for aplicada em favor de quem sofreu a infração, ou seja, reduzindo o
prejuízo da parte que sofreu a falta.
Vale destacar também que, no caso do jogador que sofreu a falta, não seria apenas
se beneficiar da própria torpeza, porque o outro jogador pode agir de má fé e buscar a
falta para atingir benefício pro time.
c) O gol deve ser validado? Com base na regra ou no princípio? Justifique
sua resposta.
O gol deve ser validado levando em consideração o caso concreto. Neste caso, há
uma regra no futebol já definida e aplicada usualmente. Não cabe neste caso aplicar
princípio se a regra foi obedecida.
6. Que é, como é e para que serve a competência tributária? Quais as
características da competência tributária? Qual a diferença entre competência
tributária e capacidade tributária? Analisar a facultatividade do seu exercício
relativamente à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00), que veda a
transferência voluntária de receitas a entes que tenham deixado de instituir
algum tributo de sua competência. (vide anexo IX)
Dentre os assuntos tratados na CF/88 está a competência legislativa tributária.
Competência tributária é o poder conferido pela Constituição aos entes federativos para
instituição de tributos, é possibilidade de legislar para a produção de normas jurídicas
sobre tributos.

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
Segundo Paulo de Barros Carvalho, “A competência tributária, em síntese, é uma
das parcelas entre as prerrogativas legiferantes de que são portadoras as pessoas
políticas, consubstanciada na possibilidade de legislar para a produção de normas
jurídicas sobre tributos.”
Segundo Roque A. Carrazza seriam seis as características da competência
tributária: privatividade, indelegabilidade, incaducabilidade, inalterabilidade,
irrenunciabilidade e facultatividade do exercício. Já para Paulo de Barros carvalho
seriam três indelegabilidade, irrenunciabilidade e incadicabilidade.
A competência tributária vem antes da existência do tributo, estado no plano
constitucional.
No estudo, segundo PBC tomou-se como base que a competência tributária significa
legislar não se confundindo com a capacidade. A diferença entre capacidade e
competência tributária ocorre que na primeira é a aptidão para integrar a relação
jurídica, enquanto que a segunda é instituição de tributos. Além disso, a competência é
intransferível enquanto a capacidade tributária ativa não o é.
Não pode o ente competente transferir a competência a qualquer outro, com base no
princípio da indelegabilidade da competência tributária. Mas há estudo que induz que a
capacidade ativa é transferível.
Apesar de ser facultativo aos entes federativos instituir os tributos de sua
competência tributária, o art. 11 da LC 101/2000 exige a instituição. No entanto, não
pode uma norma infraconstitucional sobrepor a Constituição Federal, obrigando os
entes instituir todos os tributos que lhe foram conferidos por meio de competência.
Como forme de amenizar o disposto no art. 11 da LRF passou-se a defender a
criação de tributos economicamente viáveis, que gerasse uma arrecadação superior ao
custo de cobrança. Atendendo ao que almejava o legislador ao redigir o texto, que seria
a responsabilidade da gestão fiscal.
Desta maneira, para considerar inconstitucional o art. 11, é preciso analisar também
o art. 14 que trata das condições dispensadas de arrecadação.
7. Proposta de Reforma Tributária Nacional que substitua os impostos estaduais
e municipais sobre bens e serviços, por um imposto único de competência da
União por emenda constitucional viola os Princípios do Pacto Federativo e do

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
Federalismo Fiscal? E se esta emenda prever expressamente o repasse
obrigatório da integralidade ou parte do produto da arrecadação desse
imposto único para os estados e municípios?
A reforma tributária Nacional que prevê um imposto único de competência da União
por emenda constitucional é inconstitucional, porque esse tipo de proposta reduz a
autonomia dos entes federados.
A repartição da competência e de receita tributária configura a base da autonomia
dos entes políticos, por isso não poderia uma EC não poderia suspendê-las ou afastá-
las porque ofenderia o pacto federativo.
O sistema deixaria de ser rígido e passaria a ser flexível. O fato de retirar dos
Estados e Municípios a competência de tributar como seja melhor para o ente viola
concretamente ao Pacto Federativo.
Ainda que preveja o repasse da arrecadação viola o pacto federativo e diminui a
autonomia financeira dos estados e municípios, sendo inconstitucional a emenda desde
a sua origem. Cabe ao STF definir sobre a constitucionalidade ou não da emenda
constitucional.
8. A Emenda Constitucional n. 39/02 acrescentou à Constituição o art. 149-A e
parágrafo único, dispondo:
“Art. 149-A. Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma
das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o
disposto no art. 150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura
de consumo de energia elétrica”.
Com fundamento nesse dispositivo, a Prefeitura de Itumambé instituiu o seguinte tributo:
Prefeitura Municipal de Itumambé, Decreto Municipal 3.708 de 10/10/03 (DOM 13/10/03)
Art. 1º Fica instituída contribuição para o custeio do serviço municipal de energia elétrica
que tem como fato gerador a prestação do serviço de energia elétrica pelo Município.
Art. 2º A base de cálculo é o valor da fatura de consumo de energia elétrica.
§ 1º A alíquota é de 0,5%.

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
§ 2º Os contribuintes que morarem na região central pagarão 50% a mais do valor devido.
Art. 3º Contribuinte é o consumidor de energia elétrica.
Art. 4º Compete à Secretaria de Finanças fiscalizar o abatimento realizado pela
concessionária.
Art. 5º A importância devida a título dessa contribuição deve ser paga até o último dia do
mês subsequente e recolhida pela concessionária de energia elétrica juntamente com a
fatura mensal de consumo, ficando a concessionária responsável pelo abatimento do
montante recolhido da fatura municipal.
Parágrafo único. O não-pagamento da contribuição, ou o não repasse, implica multa de
150 UFIRs.
Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo produzir todos os seus
efeitos a partir do dia 01/11/03.
{...].
Pergunta-se:
a) O sistema constitucional tributário brasileiro admite alterações na faixa de
competência tributária das pessoas políticas? Há alguma vedação à
ampliação da competência tributária municipal por meio de emenda
constitucional? Em caso afirmativo, qual(is)?
Conforme previsto na cláusula pétrea do §4° do art. 60 da CF/88há violação
constitucional na ampliação da competência tributária municipal. Além disso, fere
direito e garantia fundamental a discriminação das competências. Uma vez que é de
responsabilidade do Estado cobrar sobre a energia, acarretaria em restrição da
competência deste ente.
Somente seria possível essa alteração com a criação de uma nova constituição, que
desse poderes/ competência para o município legislar sobre o tributo incidente na
energia.
Vale destacar que o Tema 696 julgado pelo STF que determinou a
constitucionalidade do art. 149-A, não havendo vedação específica a essa ampliação.
Não podendo o município violar a autonomia federativa.

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
b) Os Municípios podem, na criação de tal contribuição, com fundamento no
art. 149-A da CF, utilizar uma das materialidades que lhes foram atribuídas
constitucionalmente para a instituição de impostos? E das materialidades
atribuídas aos Estados, Distrito Federal e União por ocasião da repartição
constitucional das competências para instituição de impostos? Há vedação
constitucional quanto à materialidade eleita: “consumir energia”? Justifique
(vide anexo X).
O município não pode se utilizar de uma das materialidades que lhe forma atribuídas
para instituir impostos, como também não podem usar da materialidade dos Estados e
Distrito Federal. Se for instituído com base de imposto será considerado imposto, deve
ser respeitado o princípio da tipologia dos impostos, com base no art. 150, §3°, 150, III
e 154 da CF/88.
c) Quais princípios tributários não foram observados pela Prefeitura de
Itumambé ao instituir esse tributo? A Prefeitura pode escolher quais
princípios tributários quer aplicar e afastar os outros?
A Prefeitura instituindo imposto que não é de sua competência, que deveria ser por
lei e não por decreto, diferenciar alíquota por região, alterando alíquota fere ao princípio
da tipologia tributária, legalidade, isonomia, uniformidade geográfica, anterioridade e
não confisco.
d) A alteração do prazo de pagamento deve respeitar o princípio da
anterioridade? Em qual o critério da Regra-Matriz de Incidência figura o
prazo para pagamento do tributo?(Vide anexo XI).
A alteração do prazo de pagamento não viola o princípio da anterioridade, com base
na súmula 669 do STF. Nesta caso deve-se observar também o princípio da não-
surpresa.
9. Como a conjugação das noções de sistema, competência e princípios com a
ideia de hierarquia normativa pode significar limitações ao poder de tributar?
Qual o papel do intérprete nessa construção?
Conjugar sistema, competência, princípios e hierarquia é limitar o poder de tributar,
conforme art. 150 da CF.

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.
O intérprete constrói a norma não o texto da lei. Diante disso, ele parte dos textos da
lei como suporte do próprio direito.

¹ Carvalho, Paulo de Barros, “Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência”, SP, Saraiva, 2004, p. 4/5.

Você também pode gostar