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3. HERMENÊUTICA E ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO

■ 3.1. Mutações constitucionais x reformas constitucionais


Reforma constitucional seria a modificação do texto da Constituição por
meio dos mecanismos definidos pelo poder constituinte originário (emendas),
alterando, suprimindo ou acrescentando artigos ao texto original.
Por seu turno, as mutações não seriam alterações “físicas”, “palpáveis”,
materialmente perceptíveis, mas, em realidade, alterações no significado e no
sentido interpretativo do texto. São consideradas mudanças informais
(informais no sentido de não serem previstos dentre aquelas mudanças formalmente
estabelecidas no texto constitucional).

Devemos alertar que muitos autores, assim como a jurisprudência do STF, começam a
reconhecer a derrotabilidade (defeasibility) das regras, superando-se o modelo “tudo
ou nada” de Dworkin. (Pesquisar mais sobre).

■ 3.3. Métodos de interpretação

■ 3.3.1. Método jurídico ou hermenêutico clássico


Para os que se valem desse método, a Constituição deve ser encarada como
uma lei e, assim, todos os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser
utilizados na tarefa interpretativa.
■ 3.3.2. Método tópico-problemático
Por meio desse método, parte-se de um problema concreto para a norma,
atribuindo-se à interpretação um caráter prático na busca da solução dos
problemas concretizados.
A Constituição é, assim, um sistema aberto de regras e princípios.

■ 3.3.3. Método hermenêutico-concretizador


Diferentemente do método tópico-problemático, que parte do caso
concreto para a norma, o método hermenêutico-concretizador parte da
Constituição para o problema.

■ 3.3.4. Método científico-espiritual


A análise da norma constitucional não se fixa na literalidade da norma,
mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da
Constituição.
Assim, a Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que
se renova constantemente, no compasso das modificações da vida em
sociedade.

■ 3.3.5. Método normativo-estruturante


A doutrina que defende esse método reconhece a inexistência de
identidade entre a norma jurídica e o texto normativo.
Isto porque o teor literal da norma (elemento literal da doutrina clássica),
que será considerado pelo intérprete, deve ser analisado à luz da concretização
da norma em sua realidade social.

■ 3.3.6. Método da comparação constitucional


A interpretação dos institutos se implementa mediante comparação nos
vários ordenamentos.

■ 3.4. Princípios da interpretação constitucional


Ao lado dos métodos de interpretação, a doutrina estabelece
alguns princípios específicos de interpretação.
■ 3.4.1. Princípio da unidade da Constituição
A Constituição deve ser sempre interpretada em sua globalidade, como um
todo, e, assim, as aparentes antinomias deverão ser afastadas.

■ 3.4.2. Princípio do efeito integrador


Muitas vezes associado ao princípio da unidade, conforme ensina
Canotilho, “... na resolução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se
primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e
social e o reforço da unidade política. Como tópico argumentativo, o princípio
do efeito integrador não se assenta numa concepção integracionista de Estado
e da sociedade (conducente a reducionismos, autoritarismos,
fundamentalismos e transpersonalismos políticos), antes arranca da
conflitualidade constitucionalmente racionalizada para conduzir a soluções
pluralisticamente integradoras” (2003, p. 227).

■ 3.4.3. Princípio da máxima efetividade


Também chamado de princípio da eficiência ou da interpretação efetiva,
o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais deve ser
entendido no sentido de a norma constitucional ter a mais ampla efetividade
social.

■ 3.4.4. Princípio da justeza ou da conformidade funcional


O intérprete máximo da Constituição, no caso brasileiro o STF, ao
concretizar a norma constitucional, será responsável por estabelecer a força
normativa da Constituição, não podendo alterar a repartição de funções
constitucionalmente estabelecidas pelo Constituinte Originário.
Em outros termos, a interpretação não pode perturbar organização-
funcional (separação dos poderes)

■ 3.4.5. Princípio da concordância prática ou harmonização


Partindo da ideia de unidade da Constituição, os bens jurídicos
constitucionalizados deverão coexistir de forma harmônica na hipótese de
eventual conflito ou concorrência entre eles, buscando-se, assim, evitar o
sacrifício (total) de um princípio em relação a outro em um choque. O
fundamento da concordância decorre da inexistência de hierarquia entre os
princípios.
■ 3.4.6. Princípio da força normativa
Os aplicadores da Constituição, ao solucionarem conflitos, devem conferir
a máxima efetividade às normas constitucionais.

■ 3.4.7. Princípio da interpretação conforme a Constituição


Diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem
mais de uma interpretação), deve-se preferir a exegese que mais se aproxime
da Constituição e, portanto, não seja contrária ao texto constitucional.

■ 3.4.8. Princípio da proporcionalidade ou razoabilidade


Trata-se de princípio extremamente importante, especialmente na situação
de colisão entre valores constitucionalizados.
Como parâmetro, podemos destacar a necessidade de preenchimento de 3
importantes elementos:

■ necessidade (por alguns denominada exigibilidade): a adoção da


medida que possa restringir direitos só se legitima se indispensável
para o caso concreto e se não se puder substituí-la por outra menos
gravosa;

■ adequação (também chamada de pertinência ou idoneidade): quer


significar que o meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido;

■ proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida necessária


e adequada, deve-se investigar se o ato praticado, em termos de
realização do objetivo pretendido, supera a restrição a outros valores
constitucionalizados. Podemos falar em máxima efetividade e mínima
restrição.

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