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Luigi Ferrajoli
Universidade de Roma III
ABSTRATO. Neste artigo, o autor apresenta as diferenças mais relevantes entre neoconstitucionalismo e
constitucionalismo garantidor. Em primeiro lugar, afirma que o constitucionalismo pode ser concebido de
duas formas opostas: como superação do positivismo jurídico em sentido tendencialmente natural ou como
sua ampliação ou aperfeiçoamento, realizando uma revisão terminológica para realizar este trabalho. Em
segundo lugar, o autor considera que se as constituições incorporam princípios de justiça de natureza ético-
política, desaparece o principal traço distintivo do positivismo jurídico: a separação entre Direito e moral ou
entre validade e justiça. Em seguida, considera o constitucionalismo garantista como um iuspositivismo
reforçado, completando o Estado de Direito porque implica submissão ao Direito e controle constitucional.
Em quarto lugar, o autor afirma que a tese de que todo ordenamento jurídico satisfaz objetivamente algum
“mínimo ético” nada mais é do que a velha tese do direito natural, que acaba se tornando a versão atual do
legalismo ético, que é o constitucionalismo ético, em virtude do qual os princípios constitucionais pretendem
ser objetivamente justos. Quinto, o autor critica a oposição entre princípios e regras, na qual se baseia uma
concepção de constituição e constitucionalismo, oposta à concepção positivista e garantista. Em sexto lugar,
o autor afirma que a ideia de que os princípios constitucionais são sempre ponderados e não aplicados cria
um perigo para a independência da jurisdição e para a sua legitimidade política. Por fim, o autor considera
que o constitucionalismo acarreta um enfraquecimento e praticamente um colapso da normatividade dos
princípios constitucionais, bem como uma degradação dos direitos fundamentais neles estabelecidos a
meras recomendações genéricas de natureza ético-política.
RESUMO. Neste artigo, o autor apresenta e discorre sobre as diferenças mais relevantes entre o
neoconstitucionalismo e uma versão do constitucionalismo que se define essencialmente em termos de
garantismo. Em primeiro lugar, argumenta que o constitucionalismo pode ser concebido de duas formas
opostas: como forma de superação do positivismo jurídico, portanto com certa tendência ao iusnaturalismo,
ou como ampliação ou aperfeiçoamento do primeiro; para esses fins, ele se compromete a uma revisão da
terminologia padrão. Em segundo lugar, o autor sustenta que se a Constituição incorporasse princípios de
justiça de natureza ético-política, desapareceria o principal traço distintivo do positivismo jurídico: a
separação entre Direito e moral ou a separação entre validade e justiça. Ele considera que o
constitucionalismo essencialmente garantista é uma versão reforçada do positivismo jurídico: completa um
sistema de Estado de Direito, pois implica tanto submissão ao Direito quanto controle judicial. Em quarto
lugar, o autor sustenta que o argumento de que qualquer sistema jurídico atende objetivamente a algum
“mínimo ético” nada mais é do que a antiga pretensão iusnaturalista. O constitucionalismo ético, para o qual
os princípios constitucionais devem ser objetivamente justos, é, portanto, a versão atual do legalismo ético.
Quinto, o autor se opõe à distinção entre princípios e regras que subjaz a uma concepção de constituição e
de constitucionalismo oposta à positivista e garantista. Em sexto lugar, o autor afirma que o fato de os
princípios constitucionais serem sempre ponderados e não apenas aplicados ameaça a independência da
jurisdição e sua legitimidade política.
16 Luigi Ferrajoli
E, por fim, o autor destaca que o constitucionalismo de alguma forma implica tanto o enfraquecimento
e virtual colapso da normatividade dos princípios constitucionais quanto a desvalorização dos
direitos fundamentais a recomendações ético-políticas meramente genéricas.
1 Luis Prieto Sanchís apontou as diferenças mais relevantes entre essas duas concepções de
constitucionalismo em «A teoria do direito dos Principia Iuris», em G. Marcilla Córdoba (ed.), Constitucionaÿ
Id . _ _ _ _ _ e democracia constitucional. Uma discussão do Principia iuris de Luigi Ferrajoli , em Doxa,
n. 31, 2008, 325-
353. A essas intervenções de Prieto —bem como ao convite de Luis Streck para desenvolver um discurso
sobre constitucionalismo no Congresso Brasileiro de Direito Constitucional, realizado em Curitiba de 20 a
22 de maio de 2010— devo o incentivo para escrever este ensaio . Agradeço a Tecla Mazzarese por suas
críticas penetrantes e seus valiosos conselhos, alguns dos quais me levaram a fazer esclarecimentos
relevantes, enquanto outros foram omitidos por serem a expressão de uma verdadeira dissidência.
2 Assim, H. Kelsen, Teoria Geral do Direito e do Estado (1945), tr. it., Teoria generale del diritto e
dello Stato, Milano, Edizioni di Comunità, 1959, primeira parte, X, B, a, 115 (trad. elenco. de E. García
Máynez, Teoria geral do direito e do Estado, México, UNAM, 1949): a "positividade" do Direito "está no
fato de ser criado e anulado por atos de seres humanos"; Id., Reine Rechtslehre (1960), tr. Item. por MG
Losano, La dottrina pura del diritto, Turim, Einaudi, 1966, cap. V, § 34, i, 247 (trad. elenco. de RJ
Vernengo, Teoria Pura do Direito, México, UNAM, 1979): «A validade de um sistema jurídico positivo
não pode ser negada pelo conteúdo de suas normas. Este é um elemento essencial do positivismo jurídico'; HLA Hart,
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Antes, porém, parece oportuno propor uma revisão terminológica. Nos dois
sentidos que acabo de distinguir, constitucionalismo «jurídico» ou, se preferirem, «ius-
constitucionalismo», designa um sistema jurídico e/ou uma teoria do Direito, ambos
ligados à experiência histórica do constitucionalismo do século XX .xx, como se
afirmava com as rígidas constituições do segundo pós-guerra. Algo completamente
diferente é o constitucionalismo «político» —moderno mas também antigo— como
prática e como concepção dos poderes públicos visando a sua limitação, em garantia
de certas esferas de liberdade 3 : nesse sentido, tanto os limites aos poderes
O Conceito de Direito (1961), tr. Item. por MA Cattaneo, Il concetto di diritto, Torino, Einaudi, 1965, cap. IX, §
1, 217 (trad. elenco. de GR Carrió, O conceito de direito, Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1968): «Entendemos
por positivismo jurídico a simples tese segundo a qual não é em nenhum sentido um verdade necessária que
as leis reproduzem e satisfazem certos requisitos de moralidade, ainda que na realidade o tenham feito”;
Id., Positivismo e a separação do direito e da moral (1958), tr. it., Il positivismo e la separazione tra diritto e
morale (1958), in Contributi all'analisi del diritto, ed. de V. Frosini, Milano, Giuffrè, 1964, § 2, 119-120, nota,
onde se descobre o segundo dos cinco sentidos possíveis do positivismo como a "afirmação de que não há
conexão necessária entre direito e moral". Lembre-se também da máxima hobbesiana, citada infra na nota 37,
«authoritas non veritas» —que equivale a dizer a forma de produção e não o conteúdo produzido— «facit
legem», em oposição à máxima iusnaturalista «veritas, non authoritas facit legem». Por outro lado, a noção
aqui formulada corresponde apenas em parte ao primeiro e segundo significados, e não corresponde de forma
alguma ao terceiro significado de "positivismo jurídico", do qual N. Bobbio distingue em Giusnaturalismo e
positivismo giuridico, Milano, Edizioni di Comunità, 1965, cap. V, 103-114. Precisamente: a) corresponde
apenas em parte à noção de positivismo como «abordagem ao estudo do Direito», com a qual tem em comum
a tese de que o jurista deve tratar apenas do «Direito tal como é», e não do «Direito como deve ser» moral ou
politicamente, mas afasta-se dele porque exige também o estudo do «Direito como deve ser» juridicamente, o
que, nos actuais sistemas dotados de rígidas constituições, é parte da “Lei como ela é”; b) não corresponde
inteiramente à noção de "positivismo jurídico" como uma "teoria", que descreve o "Direito como fato", ou seja,
como o conjunto de regras "direta ou indiretamente fixadas pelos órgãos do Estado", das quais sua
«identificação comum [...] com a teoria estatista do Direito» é retirada, como não pode ser aceita hoje, com o
fim do monopólio estatal da produção jurídica; c) enfim, não corresponde em nada ao terceiro sentido atribuído
por Bobbio, o do positivismo como «ideologia», segundo o qual o Direito existente, só por isso, é também
«justo»: uma concepção que, na realidade, , não é de todo positivista jurídico, contrasta com os dois primeiros
e nunca foi defendido, mas, ao contrário, foi firmemente rejeitado por todos os clássicos do positivismo jurídico:
de Bentham a Austin, Kelsen, Hart e o próprio Bobbio.
3 Este é o sentido, por exemplo, de Maurizio Fioravanti, que identifica o constitucionalismo com um
«movimento de pensamento» que «se afirma no contexto do processo de formação do Estado moderno» e,
ao mesmo tempo, com «o segunda face», a «segunda face do Estado europeu moderno», juntamente com a
«concentração do poder do imperium sobre o território» [M. Fioravanti, Constitucionalismo. Percorsi della storia
e tendenze attuali, Roma-Bari, Laterza, 2009, 5, 90, 149; videira. também Id., Costituzione, Bologna, Il Mulino,
1999 (tradução espanhola de M. Martínez Neira, Constitución. Da antiguidade aos nossos dias, Madrid, Trotta, 2001)].
Análoga é a caracterização do constitucionalismo oferecida por G. Rebuffa, Costituzioni e costituzionalismi,
Torino, Giappichelli, 1990, e a de M. Troper, «Il concetto di costituzionalismo e la Moderno teoria del diritto»,
em Materiali per una storia della cultura giuridica, XVIII, 1, 1988, 61-62, e retomada por T. Mazza rese, «Diritti
fondamentali e neocostituzionalimo», em Id. (ed.), Neocostituzionalismo e tutela (sovra)nazionale dei diritti
fondamentali, Turim, Giappichelli, 2002, 11. Ainda mais difundida é a noção de constitucionalismo proposta por
Mario Dogliani, que sublinha a continuidade do constitucionalismo moderno com «um conjunto de institutos [...]
espalhados ao longo dos séculos em experiências políticas muito diversas» , tanto para que seja legítimo «ligar
o constitucionalismo antigo ao moderno, como várias formas históricas [...] de uma tradição antiga que nunca
deixou de reelaborar e experimentar o seu núcleo normativo» (M. Dogliani , ti fondamentali”, em M. Fioravanti
(ed.), Il valore della Costituzione. L'experienza della democrazia republicana, Roma-Bari, Laterza, 2009, 42).
Ver também, de M. Dogliani, Introduzione al diritto costituzionale, Bolog na, Il Mulino, 1994, onde se analisam
os vários significados de «constituição» e se reconstroem as raízes antigas e os itinerários históricos do
«constitucionalismo» político. Em suma, trata-se do «constitucionalismo» como um conjunto de princípios
políticos que remontam ao pensamento grego e à experiência romana, posteriormente afirmados na Idade
Média e, em particular, no direito inglês: lembre-se do clássico ensaio sobre os de CH McIlwain ,
Constitucionalismo: Antigo e Moderno (1947), tr. it., Costituzionalismo antico
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18 Luigi Ferrajoli
Como garantias das liberdades, são limites e garantias reivindicados e talvez realizados
como limites e garantias políticas externas aos sistemas jurídicos, e não, certamente, como
limites e garantias jurídicas internas . No entanto, é em oposição a essa noção política de
constitucionalismo que a expressão «neoconstitucionalismo» tem se afirmado no léxico e no
debate jurídico-filosófico, referindo-se à experiência jurídica das atuais democracias
constitucionais.
Pela mesma razão, acredito que a terminologia atual é, em vários aspectos, enganosa
e enganosa. Em primeiro lugar, é a expressão «constitucionalismo», cujo uso para designar
uma ideologia, mesmo quando realizada de fato em sistemas dotados de sólidas tradições
liberal-democráticas, faz dela um termo do léxico político e não do léxico jurídico, e não
permite evidenciar a mudança de paradigma produzida na estrutura do direito positivo com a
introdução da rigidez constitucional. Mas a expressão «neoconstitucionalismo» é ainda mais,
pois, ao referir-se —no plano empírico— ao constitucionalismo jurídico de sistemas jurídicos
dotados de constituições rígidas, é assimétrico em relação ao já referido constitucionalismo
político e ideológico, que não designa nem um sistema jurídico nem uma teoria do direito,
mas é pouco mais que um sinônimo do estado liberal de direito. Além disso, dado que, a
nível teórico, a expressão «neo constitucionalismo» é geralmente identificada com a
concepção de constitucionalismo de direito natural, não capta os seus traços essenciais que
a distinguem da sua concepção jurídica positivista, que, aliás, é ignorada 4
e moderno, com introdução de Nicola Matteucci, Bolonha, Il Mulino, 1990 (trad. elenco. JJ Solozábal, Constitucionalismo
antigo e moderno, Madrid, Centro de Estudos Políticos e Constitucionais, 1991).
4 El termo «neoconstitucionalismo» --como recuerda Tecla Mazzarese, Direitos fundamentais e neocos-
tituzionalimo, cit., 2, nota 2— foi introduzido no léxico jurídico-filosófico por alguns filósofos jurídicos genoveses: S.
Pozzolo, «Neoconstitucionalismo e especificidade da interpretação constitucional», in Doxa, 21, 1998, 355-370; Id.,
Neocostituzionalismo e positivismo giuridico, Torino, Giappichelli, 2001; P.
Comanducci, «Il positivismo giuridico: un tentativo di bilancio», em Studi em homenagem a Franca De Marini, Milano,
Giuffrè, 1999, 123-124; M. Barberis, «Neocostituzionalismo, democrazia e imperialismo della morale», in Ragion
pratica, 8, 2000, 147-162; Id., Filosofia do Direito. Un'introduzione teorica (2003), 2ª ed., Torino, Giappichelli, 2005, §
1.5, 27-41. É o resultado de uma dupla —e, na minha opinião, duplamente discutível— operação terminológica, que é
ilustrada pelas obras acima mencionadas e, mais amplamente, por P. Comanducci, «Forme di neo costituzionalismo:
una ricognizione metateorica», em T Mazzarese (ed.), Neocostituzionalismo , cit., 71-94. A primeira operação é a
identificação do «constitucionalismo moderno» como uma «ideologia orientada para a limitação do poder e a defesa
de uma esfera de liberdades naturais» que «tem como pano de fundo habitual, embora não necessário, o direito
natural» (P. Comanducci , Forme, cit., 78): enfim, com o constitucionalismo político no sentido ilustrado na nota
anterior. Nesse sentido, porém, o constitucionalismo não é um modelo de direito nem uma abordagem teórica distinta
do positivismo jurídico. De resto, a referência empírica que Comanducci aponta (ibid., 71-77) está nas constituições
europeias dos séculos XVIII e XIX e , em particular, nas pré-unitárias italianas e no Estatuto Albertine de 1848, que
eram constituições flexíveis, sem qualquer diferença formal com as leis ordinárias, o que, portanto, não alterava o
paradigma do Estado de Direito legislativo, muito menos a teoria iuspositivista do Direito a ele associada. A segunda
operação consiste em designar por “neoconstitucionalismo” todas —e somente— as concepções de constituição e de
constitucionalismo que se expressam nas formas do neoconstitucionalismo teórico, ideológico e metodológico,
conforme a distinção proposta por Bobbio para o positivismo jurídico, e engloba , mesmo quando empiricamente
referido às rígidas constituições vigentes, pela tese da "conexão necessária entre direito e moral" (ibid., 78-94).
Identificando assim o «constitucionalismo» com a ideologia política liberal e o «neoconstitucionalismo» com a tese
antipositivista da ligação entre direito e moral —no plano teórico «concomitante ao positivista» ou «alternativo» a ele
(ibid. , 79) — o constitucionalismo positivista jurídico não tem lugar nessa classificação, claramente muito menos
descritiva, pois resulta da sobreposição do velho confronto entre o direito (neo) natural e os positivistas (paleo)
jurídicos à reflexão sobre o constitucionalismo.
Muito diferente tem sido a caracterização (não de "neoconstitucionalismo", mas simplesmente) da "constituição
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A expressão «positivismo jurídico», no sentido que lhe está associado, é utilizada para sublinhar
a sua oposição ao (neo) constitucionalismo. Com efeito, enquanto se adota uma noção ampliada
de constitucionalismo, de positivismo, ao contrário, propõe-se uma noção restrita, por meio de
sua identificação —mais do que com a ideia da positividade do Direito— com a ideia da primazia
do direito. lei estadual e parlamentos e, portanto, com o modelo paleopositivista do Estado
Legislativo de Direito5 .
Dessa forma, o (neo)constitucionalismo é concebido, mais do que um novo e mais desenvolvido
paradigma positivista jurídico, como uma superação do próprio positivismo, em sentido
antipositivista.
É por isso que julgo oportuno adotar e propor uma terminologia diversa e uma tipologia
correlativa, que faça uso de termos homogêneos, todos referentes à experiência jurídica. Assim,
será conveniente utilizar a expressão «ius-constitucionalismo» ou «constitucionalismo legal», ou
melhor ainda «Estado Constitucional de Direito» ou simplesmente «constitucionalismo», para
designar —em oposição ao «Estado Jurídico» ou «Estado Legislativo» Estado de Direito”,
desprovidos de constituição ou dotados de constituição flexível – ao rígido constitucionalismo das
atuais democracias constitucionais, qualquer que seja sua concepção filosófica e metodológica.
Nesse sentido, o traço distintivo do constitucionalismo será a existência positiva de uma lex
superior
à legislação ordinária, independentemente das diversas técnicas adotadas para garantir sua
superioridade: se é estadunidense e, mais geralmente, americana, de controle difuso, mediante
a não aplicação de leis constitucionalmente inválidas, em razão da estrutura federal dos Estados
Unidos Estados 6 , ou o europeu de controle
concentrado, por meio de sua anulação, gerado, em vez disso, no século passado pelo "nunca
mais" formulado diante da experiência do totalitarismo fascista.
Então, podemos chamar de constitucionalismo do direito natural e constitucionalismo jurídico
positivista às duas concepções do constitucionalismo jurídico atual, antes com
nalismo» proposto por Luis Prieto Sanchís em Constitucionalismo e garantismo, México, Fontamara, 1997.
Prieto também havia distinguido, paralelamente à distinção de Bobbian dos três tipos de iuspositivismo, entre
constitucionalismo "ideológico", "teórico" e "metodológico", pronunciando, no cap. V, § 2º, “a favor de uma teoria
do direito e de um constitucionalismo positivista”. Uma leitura em termos jurídico-positivistas do (neo)
constitucionalismo também foi oferecida por T. Mazzarese, Diritti fondamentali e neocostituzionalisÿ
mo, cit., § 1.4, 14-22; Id., "Para uma leitura positivista do neoconstitucionalismo", em Associações. Journal of Legal
and Social Theory, 6(2), 2002, 233-260; Id., «Juspositivismo e globalização do direito. Que modelo teórico», em JI
Moreso e MC Redondo (eds.), Um diálogo com a teoria do direito de Eugenio Bulygin, Madrid, Marcial Pons, 2007,
61-71; E. Bulygin, Tecla Mazzarese sobre o positivismo e a globalização do Deÿ
à direita, ibid., 185-186; V. Giordano, Il positivismo e la sfida dei principi, Napoli, Esi, 2004, 20-22. Não obstante, a
expressão «neoconstitucionalismo», no sentido substancialmente iusnaturalista ilustrado acima e aceita
passivamente também por aqueles que defendem uma leitura iuspositivista do constitucionalismo, entrou em uso
corrente, a ponto de gerar uma literatura abundante que cresceu sobre si mesma , e ainda deu título a uma série
de volumes importantes: além de T. Mazzarese (ed.), Neocostituzionalismo,
cit., M. Carbonell (ed.), Neoconstitucionalismo(s), cit.; Id. (ed.), Teoría del neoconstitucionalismo. Ensayos
escogidos, Madrid, Trotta, 2007; R. Quaresma, M. L. De Paula Oliveira y F. Martins Riccio de Oliveira
(eds.), Neoconstitucionalismo, Rio de Janeiro, Editora Forense, 2009.
5 Ver, por exemplo, M. Fioravanti, Constitutionalism, cit., 90-104; G. Zagrebelsky, A lei mansa. Lei-
ge, diritti, giustizia, Torino, Einaudi, 1992, cap. II, § 6, 38 (tradução espanhola de M. Gascón Abellán, O direito
dúctil, Madrid, Trotta, 1995).
6 A. Barbera, "As bases filosóficas do constitucionalismo", en Id. (Ed.), As bases filosóficas da constituição-
nalismo, Roma-Bari, Laterza, 1997, 11, que lembra que a imutabilidade do pacto federal pelo Congresso foi a
verdadeira razão pela qual, no famoso caso Marbury vs. Madison em 1803, o juiz Marshall decidiu a primeira não
aplicação de uma lei em contraste com a Constituição.
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20 Luigi Ferrajoli
Por isso, juntamente com a distinção entre constitucionalismo do direito natural (ou
não positivista) e constitucionalismo jurídico positivista, será necessário formular e discutir
uma segunda e mais importante distinção, coincidindo apenas em parte com a primeira,
entre o que chamamos de constitucionalismo argumentativo ou principialista e que pode
9
ser chamado de constitucionalismo normativocaracterizada
ou garantidor . A primeira orientação é
7 Vid., infra, nota 50, na qual são lembrados os autores, todos estudiosos do direito natural, que mantêm uma
distinção qualitativa entre princípios e regras e os autores, preferencialmente o direito positivista, que mantêm, em
vez disso, uma distinção apenas quantitativa ou de grau.
8 Devo essa precisão a Tecla Mazzarese. Esta, aliás, mesmo sendo a favor de uma leitura ius positivista do
(neo) constitucionalismo, mantém a indeterminação intrínseca dos direitos fundamentais, semelhante àquela
geralmente associada aos princípios em oposição às regras: cf. T. Mazzarese, Diritti fondamentali e
neocostituzionalismo, cit., § 3.1, em particular 38-39; Id., «Raciocínio judicial e direitos fundamentais. Observações
lógicas e epistemológicas”, em Doxa, 26, 2003, 687-716, e, mais amplamente,
Id., «Ancora su ragionamento giudiziale e diritti fondamentali. Spunti per una posizione “politicamente scor retta”, no
prelo em Ragion pratica, n. 35, 2010, § 5. Neste último ensaio, ele destaca uma «tríplice fonte de indeterminação do
conjunto dos direitos fundamentais [...] que, justamente pela íntima conotação axiológica dos direitos fundamentais,
parece incontornável ( § 5.2): indeterminação em seus “critérios de individualização”, em seus “critérios de
interpretação” e em seus critérios para a solução de seus possíveis conflitos. Nesta “conotação axiológica intrínseca”
de que “a noção de direitos fundamentais [ ... ] tanto isso como de qualquer outro conceito da teoria do Direito [Diritti
fondamentali. A dibattito teoÿ
rico (2001), 3ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2008, 5 ss. (edição espanhola de A. de Cabo e G. Pisarello, Os fundamentos
dos direitos fundamentais, Madrid, Trotta, 2001); Principia iuris. Teoria do direito e democracia. EU
Teoria de Diritto e II. Teoria della democrazia (doravante, PiI e PiII), Roma-Bari, Laterza, 2007, Introduzione e § 11.1,
725-726] (tradução espanhola de P. Andrés Ibáñez, JC Bayón, M. Gascón Abellán, L. Prieto Sanchis
e A. Ruiz Miguel, Principia iuris. Teoria do direito e democracia. I Teoria do Direito e II Teoria da Democracia, Madrid,
Trotta, 2001)— reside a minha principal discordância com Mazzarese, que se reflete também na concepção diversa
dos princípios que enunciam os direitos fundamentais.
9
Extraio as expressões «principalismo» e «principalista» de L. Prieto Sanchís, Constitucionalismo y
positivismo, México, Fontamara, 1997, 65, e especialmente de A. García Figueroa, Princípios e positivismo jurídico.
O não-positivismo principialista nas teorias de Ronald Dworkin e Robert Alexy, Madrid, Centro de Estudos Políticos
e Constitucionais, 1998, § 1.2.4, 69, onde o «principalismo» é denominado «não-positivismo» que concebe «as
normas constitucionais referindo-se aos direitos” como “princípios considerados instrumentos adequados para
vincular o direito à moral, particularmente por meio da argumentação”; Id., Criaturas da moralidade. Uma abordagem
neoconstitucionalista do Direito pelos direitos, Madrid, Trotta, 2009, passim. Expressões análogas, mas em sentido
crítico, são utilizadas por LL Streck, Verdade e Consenso. Constituição, Hermenêutica e Teorias Discursivas. Da
possibilidade de necessidade de respostas corretas em direito, 3ª ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2009, que dedica
um longo parágrafo (§ 13.5, 475 s.) à crítica de «panprincipiologismo em Terrae brasilis», ou seja, à crítica à
tendência da jurisprudência brasileira (sobre a qual vide nota infra 73) de elaborar princípios não formulados na
constituição, mas fruto unicamente de argumentos morais. A expressão «constitucionalismo guarantista» para
designar a «teoria jurídica dos limites do poder político» é utilizada, em vez disso, por A. Pace, «Le sfide del
costituzionalismo nel xxi secolo», in Diritto pubblico, 2003, n. 3.900.
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pela configuração dos direitos fundamentais como valores ou princípios morais estruturalmente
diferentes das regras, como dotados de uma normatividade mais fraca, confiada não à subsunção,
mas, antes, à ponderação legislativa e judicial.
A segunda orientação caracteriza-se, por outro lado, por uma forte normatividade, de tipo
normativo, ou seja, pela tese de que a maioria (se não todos) dos princípios constitucionais e, em
particular, os direitos fundamentais, se comportam como regras. , uma vez que implicam a
existência ou impõem a introdução das regras que consistem nas proibições de lesão ou
obrigações de prestação, que são as suas respectivas garantias. Nesta segunda caracterização,
o constitucionalismo será definido como um sistema jurídico e/ou uma teoria do direito que
estabelece —em garantia do que está constitucionalmente estipulado como obrigatório e
inderrogável— a sujeição (também) da legislação às normas sobre a produção não só formal, ou
seja, relativo à forma (a «quem» e «como»), mas também substancial, isto é, relativo ao conteúdo
das normas produzidas (ao «o que» não deve ou não deve ser decidido), cuja violação gera
antinomias por ação ou lacunas por omissão.
Nas páginas seguintes, irei ilustrar, em primeiro lugar, as características que, mesmo com
acentos diferentes, têm em comum as concepções dos principais expoentes do constitucionalismo
não positivista e/ou principialista. Em primeiro lugar, a crítica que a maioria deles dirige ao
positivismo jurídico, baseado na tese da ligação entre Direito e moral, gerada pela formulação de
princípios morais nas constituições; segundo, o contraste entre princípios e regras, como normas
estrutural e qualitativamente diversas; em terceiro lugar, o papel central atribuído à ponderação
dos princípios na atividade jurisdicional (§ 2º). Em seguida, indicarei as características opostas do
constitucionalismo positivista e garantista que, a meu ver, fazem do constitucionalismo um novo
paradigma do Direito positivo e a base empírica de uma nova teoria do Direito e da democracia (§
3º). Por fim, com base nisso, abordarei três ordens de críticas —no plano jurídico-filosófico (§ 4),
no plano teórico-conceitual (§ 5) e no plano epistemológico (§ 6)— às teses do princípio
principialista. constitucionalismo, destacando os perigos de um retrocesso pré-moderno do Direito
e da cultura jurídica, gerado por suas implicações pragmáticas (§ 7º).
22 Luigi Ferrajoli
11 «Nos sistemas constitucionais», escreve Habermas, «a moral não está mais suspensa no ar, acima
do Direito, como sugere a construção do Direito Natural em termos de um conjunto supra-positivo de normas;
agora a moralidade entra no próprio coração do direito positivo» [J. Habermas, Recht und Moral (Tanner
Lectures) (1988), Diritto e morale, tr. Item. de L. Ceppa, Morale, diritto e politica, Torino, Einaudi, 1992, 36].
12 «Agora é claro que o positivismo, nos três sentidos desta palavra» —que distingue Norberto Bobbio
— «é completamente incompatível com o constitucionalismo», que «parece estritamente ligado às doutrinas
do direito natural» (M. Troper, Il concetto di costituzionalismo , cit., 63). Análoga é a posição de Comanducci
aqui lembrada na nota 4, que retoma a noção de “constitucionalismo” de direito político e natural expressa por
Matteucci e Troper.
13 Cf. M. Atienza, «Tese sobre Ferrajoli», in Doxa, n. 31, 2008, § 6, 215. Mais amplamente, as mesmas
teses são desenvolvidas por M. Atienza, «Sobre Ferrajoli e a superação do positivismo jurídico», em L.
Ferrajoli, JJ Moreso e M. Atienza, A teoria do direito em o paradigma constitucional, Madrid, Fundación
Colloquio Jurídico Europeo, 2008, §§ 5 e 6, 144-164; veja minha resposta, “Constitucionalismo e teoria
jurídica. Resposta a Manuel Atienza e José Juan Moreso”, ibid., §§ 2 e 3, 173-195; cf. Também meu Garanÿ
tismo. Uma discussão sobre direito e democracia, Madrid, Trotta, 2006, cap. 2, 23-38, em resposta às
críticas de A. García Figueroa e M. Iglesias Vila, em M. Carbonell e P. Salazar Ugarte (eds.), Garantismo.
Estudos sobre o pensamento jurídico de Luigi Ferrajoli, Madrid, Trotta, 2005, 267-284 e 77-104.
14 M. Atienza, «Tesis sobre Ferrajoli», cit., § 6, 215. O termo «valores», como Atienza observou
criticamente , não aparece entre meus termos teóricos e nem mesmo no índice analítico dos argumentos do
autores, dois volumes do meu Principia Iuris (ibid.).
15 M. Atienza, «Tesis sobre Ferrajoli», cit., § 6, 215.
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Moreso considera que a argumentação moral é essencial à ciência jurídica, sendo "óbvio
que as constituições muitas vezes incluem conceitos e considerações morais" e que,
portanto, "incorporam a moralidade ao direito" 16.
Assim, esse constitucionalismo principialista e argumentativo, de clara matriz anglo-
saxônica, caracteriza-se, por um lado, pelo ataque ao positivismo jurídico e à tese da
separação entre Direito e moral; depois, pela tese de que os direitos constitucionalmente
constituídos não são regras, mas princípios em virtual conflito e, por isso mesmo, objeto de
ponderação e não de subsunção; e, por fim, pela conseqüente concepção do Direito como
uma "prática social" confiada, sobretudo, à atividade dos juízes. Sob este último aspecto,
registra-se uma singular convergência do constitucionalismo principialista ou argumentativo
com o realismo e também com o que poderíamos chamar de «neopandectismo», na medida
em que minam a normatividade do Direito em relação aos operadores do direito. Com efeito,
então, segundo essas três orientações, o Direito é, na verdade, o que fazem os tribunais e,
de modo mais geral, os operadores do direito, e consiste, em última instância, em suas
práticas interpretativas e argumentativas 17.
Certamente, esta tese registra a fenomenologia do Direito como um fato; mas ignora
seu possível contraste com o direito como norma. Por isso, é geralmente assumida não
apenas como descritiva, mas também de fato prescritiva, ou seja, como representação da
prática jurídica não apenas "como ela é", mas também "como ela é justa" e, em todo caso, ,
como “não pode deixar de ser” 18. Dessa forma, eficácia se confunde com validade. É
nessa constante referência à prática judiciária, não apenas como critério de identificação,
mas também como base principal da legitimidade do Direito, que reside o outro elemento
que o constitucionalismo argumentativo e principialista compartilha não apenas com o
realismo, mas também com o neopandectismo. que também enfatiza o papel da práxis, isto
é, «o direito como fato» e não «como norma» 19, e propõe, como alternativa à crise do
direito —que se julga irreversível 20—, um renovado «papel dos juristas» 21, inspirado
numa opção clara de direito natural 22.
16
J. J. Moreso, «Ferrajoli o el constitucionalismo optimista», en Doxa, núm. 31, 2008, § 4, 285.
17 Esta é a tese já sugerida no título do livro de M. Atienza, El Derecho como Argumentación. Conceito-
ns da argumentação, Barcelona, Ariel, 2006: cfr., ibid., 33, 52-56, 214 e 222.
18 A concepção do Direito como «atividade» ou como «prática social», escreve Atienza, por exemplo, «significa,
de alguma forma, questionar a distinção entre o que é e o que deveria ser, entre discurso descritivo e prescritivo» (O
direito como argumentação, cit., 53).
19 É a orientação expressa, exemplarmente, por Paolo Grossi, que interpreta as mudanças no Direito provocadas
pela globalização como um retorno a «um Direito privado dos indivíduos»: «aqui não é a validade que domina, mas o
seu contrário, este é o eficácia [...] Eficácia significa precisamente isto: um facto é de tal forma adequado e de acordo
com os interesses dos operadores económicos, que o repetem e observam, não porque seja um espelho fiel de algo
que está no mas porque tem em si uma força (e, se quisermos, uma capacidade persuasiva) que a torna digna de ser
observada e, portanto, de vida duradoura. Aqui o filtro não existe e não deveria existir: são os fatos econômicos que
contam; e contam como são: brutos, informes, carregados da escória que as práticas cotidianas depositam neles e
que devem ser considerados respeitáveis porque, em sua informalidade e plasticidade, podem responder
extraordinariamente às variações do mercado segundo os tempos e os lugares » (P. Grossi, «Globalizzazione, diritto,
scienza giuridica», em Id., Società, Diritto, Stato. Un recovery per il diritto, Milano, Giuffrè, 2006, § 5, 288-290).
20 «Código», escreve Grossi com acentos que lembram a polêmica pandectista contra a codificação, «significa
a grande utopia e a grande presunção de um legislador (um legislador que a legolatria iluminista fez
(Ver notas 21 e 22 na página seguinte)
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24 Luigi Ferrajoli
Nesse aspecto, é possível falar de um vínculo entre democracia e positivismo jurídico, que
se consuma com a democracia constitucional. Essa ligação entre democracia e positivismo
jurídico é geralmente ignorada. No entanto, é preciso reconhecer que somente a rígida disciplina
positiva da produção jurídica é capaz de democratizar suas formas e conteúdos. O primeiro
iuspositivismo do Estado de Direito legislativo equivale à positivação do «ser» jurídico do Direito,
que permite
presunçoso) de poder conter o universo jurídico em um texto, mesmo quando muito articulado e sensato; raspando
um pouco mais fundo revela qual é o nó oculto de toda a operação, o exercício de um controle rigoroso sobre a
produção do Direito» (ibid., § 7, 291).
21 P. Grossi, “Il diritto tra potere e ordenamento”, in Id., Società, cit. § 12, 195: "Acredito firmemente que
estamos entrando em um momento histórico em que o papel dos juristas só pode crescer". Este papel também se
desenha no modelo pandectista: «Mas o jurista, quer como cientista quer como juiz, pode também considerar-se no
dever de ser herdeiro daquele fecundo personagem que, na Roma antiga, na civilidade sapiencial do segunda Idade
Média, na longa experiência do direito consuetudinário até hoje, tornou-se leitora de exigências objetivas, cumpriu a
missão de ordená-las de acordo com um senso de responsabilidade ética e as traduziu em princípios e regras de
convivência ” (ibid., 196).
22 P. Grossi, «Aspetti giuridici della globalizzazione economica», em Id., Società, cit., § 7. 311-312: «Será
necessário» que os juristas desenvolvam «a consciência dos homens da ciência e da práxis unidos pela a posse
de um certo pensamento, de certos saberes, de certas técnicas e também pela certeza do valor ôntico do Direito
para a vida de uma comunidade local ou global». De onde fica claro o traço de direito natural de uma concepção
semelhante: “Ontic é uma palavra imponente, que pode até soar obscura; ele só quer enfatizar que a Lei não é um
artifício nem uma limitação para a comunidade humana; ela pertence, ao contrário, à sua própria natureza e deve,
portanto, expressá-la devidamente” (ibid., 312).
23 Refiro-me ao PiI, § 9.2, 493, ao PiIII, § 13.8, 42-43, e à Garantia. Uma discussão, cit., § 2.1, 28.
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26 Luigi Ferrajoli
25 Por isso fiz referência, no que diz respeito ao paradigma constitucional e de garantia, ao «positivismo
jurídico crítico» em oposição ao «positivismo jurídico dogmático», em Diritto e ragione, cit., cap. XIII, § 58.2,
912-922. O papel crítico da ciência jurídica diante do Direito juridicamente ilegítimo —decorrente do fato da
divergência entre o que deveria ser e o que é o próprio Direito, gerada pela supraordenação hierárquica de
constituições rígidas em relação à legislação ordinária— tem sido estranhamente considerado por alguns em
contraste com o positivismo jurídico: nesse sentido, ver V. Giordano, Il positivismo, cit., 42-49, e A. Amendola, I
confini del diritto. A crise do sovranità e l'autonomia del giuridico, Napoli, Esi, 2003, 93-95.
Tal equívoco explica-se, a meu ver, por um lado, pela identificação do paradigma do constitucionalismo rígido,
indicado na nota 4, com a sua interpretação, sob o rótulo ambíguo «neoconstitucionalismo», em chave de direito
natural; de outro, pela ideia de que a avaliação é uma exigência do positivismo jurídico e equivale, se associada
à "teoria do direito", ao seu caráter "puro" (no sentido kelseniano) ou "formal" (no sentido bobbiano). sentido).
Para uma crítica positivista da tese do valor da ciência jurídica, com referência ao atual paradigma constitucional,
remeto ao meu «La pragmatica della teoria del diritto», em Anaÿ
lise e lei. 2002-2003. Pesquisas jurisprudenciais analíticas, em P. Comanducci e R. Guastini (eds.), Turim,
Giappichelli, 2003, 351-375, trad. elenco. en Epistemología jurídica y garantia, México DF, Fontamara, 2004,
109-139; a PiI, Introdução, § 6, 26-32; to "Democracia constitucional e ciência jurídica", en Legge public, 2009,
1, 1-20.
26
PIII, § 13.16, 82-86. Véase también mi «Por uma Carta dos Bens Fundamentais», in T. Mazzarese y P.
Parolari (eds.), Direitos fundamentais. Os novos desafios. Com um apêndice de mapas regionais, Turim, Giappi
chelli, 2010, 65-98.
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27 Sobre estes dois sentidos da tese da «separação entre o direito e a moral», ou entre o direito e a justiça, ou
entre o direito e a razão, refiro-me ao meu «La separazione tra diritto e morale», em Sulla modernità, Problemi del
socialismo , 5, mag.-ag. 1985, 136-160; Diritto e ragione, cit., cap. IV, §15, 203-210; PilII, cap. XV, §2, 309-321. Por
outro lado, devido às implicações dessas teses em relação aos problemas do aborto e da proteção do embrião, refiro-
me a «Aborto, morale e diritto penale», em Prassi e teoria, 1976, 3, 397-418 , e «La questione dell'embrione tra diritto
e morale», em Politeia, XVIII, 65, 2002, 153-168, trad. elenco. em Democracia e garantias, Miguel Carbonell (ed.),
Madrid, Trotta, 2008, 153-172.
28 É do "constitucionalismo" de que falam Matteucci, Troper, Comanducci e Barberis nos escritos citados
acima. Recordemos, por exemplo, entre as suas teorizações clássicas, B. Constant, «Principes de politique», in Cours
de politique constitutionnelle (1818-1819), tr. it., Principi di politica, Roma, Editori Riuniti, 1970, 55 (trad. elenco. de MA
López, Curso de política constitucional, Madrid, Imprenta de la Compañía, 1820): «A soberania existe apenas de
forma limitada e relativa. Onde começa a independência e a existência individual, termina a jurisdição dessa soberania.
Se a sociedade ultrapassa esse limite, torna-se tão culpada quanto o déspota cujo título é apenas a espada
exterminadora; a sociedade não pode ultrapassar a sua competência sem ser usurpadora, a maioria sem ser facciosa”;
ibid., 60: «A soberania do povo não é ilimitada; está circunscrita nos limites que a justiça e os direitos dos indivíduos
lhe impõem”; A. de Tocqueville, De la Démocratie en Amérique (1835-1840), tr. it., "La democrazia in America", em
Id., Scritti politici, ed. por N. Matteucci, vol. II, Turim, Utet, 1968, I, parte II, cap. VII, 297 (trad. elenco. e ed. crítica de
E. Nolla, La democracia na América, Madrid, Trotta, 2010): «Há uma lei geral que foi feita, ou pelo menos foi adotada,
não apenas por a maioria deste ou daquele povo, mas pela maioria dos homens.
Esta lei é a justiça. Assim, a justiça representa o limite da Lei de todos os povos [...] Portanto, quando me recuso a
obedecer a uma lei injusta, não nego à maioria o direito de mandar; Apelo apenas da soberania do povo à soberania
do gênero humano”. Sobre a transformação, devido às rígidas constituições, desses limites iusnaturalistas em limites
iuspositivistas, refiro-me ao PiIII, § 13.6, 32-35.
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28 Luigi Ferrajoli
29 Na ausência dessa alegação, observa Alexy, um sistema normativo não é nem mesmo um sistema jurídico
[Begriff und Geltung des Rechts (1992), tr. Item. Concetto e validità del diritto, Turim, Einaudi, 1997, cap. I, § 3.2, 33 e
§ 4.1, 34; indivíduo. II, § 4.2.2, 64-65; indivíduo. III, § 2.1, 94; indivíduo. IV, 130 (tradução espanhola de J. Malen
Seña, O conceito e validade do direito, Barcelona, Gedisa, 1994)]. É a pretensão de correção, afirma, que distingue,
como critério classificatório, uma «ordem de bandidos» de uma «ordem de dominadores», ainda que injusta (ibid.,
32). É claro que esta tese não contradiz em nada a tese positivista jurídica da separação; assim como não a contradiz,
ao contrário do que considera Alexy (ibid., 80), a tese também banal e substancialmente equivalente da chamada
«ligação fraca», segundo a qual «existe uma ligação necessária entre o Direito e alguns moral» (ibid., capítulo II, §
4.3.2, 78): esta é, pelo menos, a moral do legislador. «Este aspecto», reconhece Alexy, «tem pouca relevância prática.
De facto, os sistemas jurídicos concretamente existentes têm regularmente uma pretensão de correcção, embora por
vezes com pouca justificação» (ibid., 130-131). A tese muito mais comprometida de Alexy é a tese claramente
antipositivista da chamada «conexão forte», segundo a qual haveria «uma conexão necessária entre o Direito e a
moral justa» (ibid., § 4.3.2 ). , 78 e § 4.3.3, 80-85).
30 R. Alexy, Concetto e validità del diritto, cit., cap. IV, 132-133; cf. também, ibid., cap. II, § 4.2.1, 39 e seguintes,
e § 4.2.2, 65; indivíduo. III, § 1.2, 92-93. É, em essência, a fórmula clássica enunciada após os horrores do nazismo
por Gustav Radbruch e retomada por Alexy (op. cit., cap. II, § 4.2.1, 39 e segs.), segundo a qual o direito positivo
perde validade quando sua injustiça atinge uma "medida intolerável" [Gesetzliches Unrecht und übergesetzliches
Rechts (1946), tr. it., in AG Conte, P. di Lucia, L. Ferrajoli e M. Jori, Filosofia del diritto, Milano, Cortina, 2002, 157-158].
Relembre também a passagem de Habermas transcrita na nota 11.
31 G. Zagrebelsky, «Introduzione a R. Alexy», Concetto e validità del diritto, cit., XIX; Id., Il diritto mite cit, § 4,
162: "Na presença de princípios, a realidade expressa valores e o Direito vale como se regesse um Direito Natural [...]
O Direito por princípios atende ao Direito Natural "; Id., La legge e la sua giustizia.
Tre capitoli di giustizia costituzionale, Bolonha, Il Mulino, 2008, cap. I, § 2, 24: "A relação com a justiça é constitutiva
do próprio conceito de direito".
32 R. Dworkin, A Matter of Principle (1985), tr. it., Questioni di Principe, Milano, Il Saggiatore, 1990, 211-215.
Daí a famosa tese normativa da «única solução correcta», defendida por R. Dworkin, No right Answer? (1978), trad.
it., "Non c'è soluzione corretta?", em Materiali per una storia della cultura giuridica, 1983, no. 2, 469-501, por outro
lado, em singular contraste com a ampliação da discricionariedade judicial promovida, como se verá no § 6º, pela
centralidade atribuída à ponderação na aplicação dos princípios. Limito -me a recordar, entre as muitas críticas a esta
tese: R. Guastini, «Soluzioni dubbie. Lacuna e interpretação segundo Dworkin. Com apêndice bibliográfico”, ibid.,
449-467; E. Bulygin, «Normas, proposições normativas e declarações legais» (1982), em CE Alchourron e E. Bulygin,
Análise Lógica e Direito, Madrid, Centro de Estudos Constitucionais, 1991, § 4, 186 e 189, que mostra como "
proposições de lei" discutidas por Dworkin (por exemplo, "o contrato de Peter é válido", "a conduta de John em tal
ocasião constitui um crime") "não são regras nem declarações externas", mas "têm propriedades de ambos", sendo
"normativas ( prescritivo) mas ao mesmo tempo verdadeiro ou falso”, embora “essas propriedades sejam
incompatíveis”; com a consequência de que "são ininteligíveis"; A. Pintore, Il diritto senza verità, Torino, Giappichelli,
1996, 167-172, que vê na tese dworkiniana «um excelente exemplo de versão ontológica e metafísica de uma teoria
coerentista do Direito»; V. Giordano, Positivismo, cit., 148-176.
33
JJ Moreso, «O reino dos direitos e a objetividade da moral» (2002), in Diritti umani e oggettiÿ
vità della morale, E. Diciotti (ed.), Siena, DiGips, 2003, 9-40. Ver, neste ensaio, as críticas pontuais de B. Celano,
Commenti a José Juan Moreso, ibid., 41-85.
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30 Luigi Ferrajoli
Mas, por sua vez, uma concepção objetivista da moralidade refere-se a uma concepção
cognitiva dela. Em poucas palavras, supõe o cognitivismo ético 35.
"Quanto mais extrema a injustiça", escreve Alexy, "mais seguro é o seu conhecimento" 36.
Desta forma, o critério para reconhecer normas válidas é mais uma vez, pelo menos em
parte, aquele expresso pela velha máxima da Common Law inglesa : veritas, non auctoritas
facit legem, em oposição à máxima hobbesiana autorictas non veritas facit legem37.
mune of England, en Id., Opere, N. Bobbio (ed.), Bologna, Utet, 1959, I, 397, 395 y 417 (traduzido cast. de MA
Rodilla, Diálogo entre um filósofo e um jurista e escritos autobiográficos, Madrid, Tecnos, 1992)]. Por outro
lado, «Direito», segundo a concepção iuspositivista de Hobbes, é apenas «o que aqueles que têm o poder
supremo ordinário sobre seus súditos, proclamam em público, ordenando em palavras claras o que podem e
não podem fazer» (ibid . ., 418).
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38 Para uma crítica mais profunda do caráter ideológico e/ou antiliberal do objetivismo e do cognitivismo moral,
manifestado, em particular, na concepção do universalismo dos direitos humanos como um universalismo ontológico
(por «natural») ou, pior ainda, , consensual (para "compartilhados" por todos, ou aqueles que é legítimo reivindicar
ser compartilhado por todos), refiro-me ao PiIII, § 13.11, 57-61, § 15.2, 309-314 e § 16.18, 567-572 . Sobre o
fundamento liberal e, portanto, ético de uma metaética não cognitiva, cf. U. Scarpelli, L'etica senza verità, Bolonha, Il
Mulino, 1982.
39 É o que aponta L. Prieto, Constitucionalismo y positivismo, cit., 27 e 28. Vid. também a convergência de
natureza estrutural entre o direito natural e o legalismo ético, de que fala Hart e que, como ele lembra (Il positivismo,
cit., § 1, 113-114), foi retirado do pensamento de Blackstone por J. Bentham , "A Fragment on Government, or a
Comment on the Commentaries" (1776), em Works of Jeremy Bentham, J. Bowring (ed.), New York, Russell and
Russell, 1962, vol. Eu, cap. V, 221, 294.
40 Al respeito, recuérdense las clásicas formulaciones en H. Kelsen, Teoria Geral do Direito, cit., Parte I, cap.
I, A, 3-14 anos cap. III, By C, 53-54; en HLA Hart, Positivismo e a separação entre lei e moral, cit., 105-166; y en N.
Bobbio, Direito natural e positivismo jurídico, Milão, Community Editions, 1965.
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32 Luigi Ferrajoli
a primeira negação, eles podem ser reivindicados como objetivamente justos apenas
porque tais: pode muito bem haver normas constitucionais (que alguns de nós
consideram) injustas (por exemplo, o direito de «manter e portar armas», previsto na
segunda emenda da Constituição dos Estados Unidos). Estados Unidos, ou artigo 7
da Constituição italiana sobre a regulação por concordata das relações entre o Estado
e a Igreja Católica) e que como tal são (por alguns de nós) questionadas moral e politicamente.
Inversamente, em virtude da segunda negação, uma solução (considerada) justa de
um caso difícil, se não for baseada em normas de direito positivo, mas apenas em
princípios morais, não é uma solução juridicamente válida.
Portanto, o positivismo jurídico e o constitucionalismo garantista, mesmo
teorizando a dimensão estática enxertada no positivismo jurídico pelas normas
substanciais das constituições, rejeita a tentação de mais uma vez confundir Direito e
moral, mesmo na forma de constitucionalismo ético. Admitirá sempre, como ponto de
vista autônomo do Direito e sobre o Direito, o ponto de vista externo da moral e da
política, que é o ponto de vista crítico de cada um de nós, também diante das normas
constitucionais. Mas é precisamente esta separação que constitui o fundamento de
todo o liberalismo e da própria democracia constitucional. Precisamente porque o
constitucionalismo democrático reconhece e procura proteger o pluralismo moral,
ideológico e cultural que permeia toda sociedade aberta e minimamente complexa, a
ideia de que ele se baseia em alguma objetividade da moralidade ou que expressa
alguma reivindicação de justiça objetiva colide com sua própria princípios, a começar
pela liberdade de consciência e de pensamento. O não-cognitivismo ético e a
separação entre Direito e moral, que constituem o pressuposto do constitucionalismo
de garantia, são, portanto, o pressuposto e ao mesmo tempo a principal garantia do
pluralismo moral e do multiculturalismo, ou seja, da convivência pacífica. culturas que
concorrem na mesma sociedade. Mas são também o pressuposto e a principal garantia
da sujeição dos juízes à lei e da sua independência, face à cognosciÿ
visão ético-judicial, decorrente da estranha ideia dworkiniana de que há sempre uma
solução “apenas justa” ou “correta”, identificada de fato com a mais verificada e
difundida na prática jurisprudencial.
Por outro lado, a alternativa ao cognitivismo ético não é o emotivismo puro. Não
devemos confundir objetivismo e cognitivismo com argumentação racional: a solução
de uma questão ética ou política que argumentamos ser racional não é mais
"verdadeira" do que a solução oposta. Por exemplo, a tese hobbesiana que vê a base
racional da limitação da liberdade selvagem, própria do estado de natureza, na
salvaguarda da vida e da paz, não é mais "verdadeira" do que a tese defendida por
Max Stirner, que, em pelo contrário, baseia a ausência de limites à liberdade selvagem
no valor da lei do mais forte, mesmo à custa da violência e da guerra. Da mesma
forma, os princípios ético-políticos positivados nas constituições podem muito bem ser
argumentados racionalmente e reivindicados e defendidos como “justos” – porque, em
hipótese, na maioria dos casos garantem a
A tese remonta a Bentham e Austin: cf. J. Bentham, A Fragment, cit., 227-238, que em polêmica com Blackstone
distingue entre o Direito "como é" e o Direito "como deveria ser"; J. Austin, A Província de Jurisÿ
Prudência Determinada (1832), Londres, Biblioteca de Ideias, 1954, Lect. V, 184: «Uma coisa é a existência do direito;
seu mérito ou demérito é outro».
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igualdade, dignidade da pessoa e convivência pacífica 41—, sem que isso pretenda
que sejam considerados ou aceitos por todos como "justos" por serem "objetivos" ou
"verdadeiros". E o argumento de que sem um fundamento objetivo lhes faltaria
qualquer fundamento (obviamente objetivo), não é um argumento, mas uma questão
de princípio.
Por outro lado, a separação entre Direito e moral, longe de ignorar o ponto de
vista moral e político sobre o Direito, permite alicerçar nele não apenas a autonomia,
mas também a primazia sobre o ponto de vista jurídico interno, como ponto de vista
do direito. crítica externa, projeção e transformação institucional, e ainda, se a lei é
considerada intoleravelmente imoral, como fundamento do dever moral da
desobediência civil 42. Por trás da ideia de inadmissibilidade da lei intoleravelmente
injusta existe, na realidade, 43 .
Por outro lado, a tese da separação, ao manter não só a distinção, mas também
a divergência entre justiça e validade, ajuda a evitar que incorram nas falácias
opostas decorrentes de sua confusão: a falácia do direito natural, que consiste na
identificação ( e na confusão) da validade com a justiça, em algum sentido objetivo
deste segundo termo, e a falácia ético-legalista, que consiste, também na variante
do constitucionalismo ético, na identificação (e confusão) oposta da justiça com a
validade. Ao mesmo tempo, apenas a abordagem iuspositivista serve para evidenciar
o caráter juridicamente normativo da constituição, como supra ordenou a qualquer
outra fonte, e, portanto, as outras duas divergências deônticas virtuais —entre
validade e validade e entre validade e eficácia —, cujo desconhecimento está na
origem de duas outras falácias graves: a falácia normativista, que impede —como na
teoria de Kelsen— reconhecer a existência de normas inválidas embora estejam em
vigor, e a falácia realista, que, por outro Por outro lado, impede o reconhecimento da
existência de normas válidas mas ineficazes, ou de normas inválidas ainda que eficazes.
41 Propus um argumento racional para “que direitos” justifica-se estipular como fundamento
mentales pt "Os fundamentos dos direitos fundamentais", en Direitos fundamentais, cit., 279-370.
42 Em Diritto e ragione, cit., § 60.1, sustentei «o primado axiológico do que chamei de ponto de vista externo»,
ou seja, o ponto de vista da moral e da política, «em relação ao ponto de vista interno de vista do sistema político»
43
PiIII, § 13.20, 101-102. Lembre-se, sobretudo, das palavras de HLA Hart, Il positivismo e la separazione, cit.,
cap. IV, que, a propósito da fórmula de Radbruch , vê "uma boa dose de ingenuidade em considerar que a
insensibilidade às exigências da moralidade e servilismo para com o poder do Estado, num povo como o alemão,
pode ser fruto da crença de que " a lei é a lei" [...] Além disso, há algo mais perturbador do que a simples ingenuidade
na maneira de Radbruch apresentar as questões a que dá origem a existência de leis moralmente iníquas", e é "a
enorme supervalorização da importância que ele dá à questão» da qualificação de uma lei «como norma jurídica
válida», quase como se a validade da lei dispensasse a obrigação moral de desobediência e resistência (146-147). E
ainda mais: «Se adotarmos o ponto de vista de Radbruch [...] acabamos por confundir uma forma de crítica moral que
deve a sua maior eficácia à sua simplicidade. Se queremos falar com clareza [...] devemos dizer que as leis podem
ser legalmente válidas, mas se forem iníquas, não devem ser observadas. E esta é uma forma de protesto moral
compreensível por qualquer pessoa e que exige uma adesão pronta e segura da consciência moral» (ibid., 151). De
forma incisiva, R. Guastini, «Diritto mite, diritto incerto», in Materiali per una storia della cultura giuridica, 1996, 2, 515:
«Não há obrigação moral de obedecer às normas jurídicas, nem obrigação legal de obedecer às normas jurídicas.
padrões".
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34 Luigi Ferrajoli
44 Lenio Luiz Streck considera que o constitucionalismo democrático é incompatível com o ativismo
judicial desvinculado de dispositivos legais, pois os juízes são obrigados a aplicar a lei a menos que a
considerem total ou parcialmente inconstitucional. A sujeição do juiz à lei, acrescenta, é um direito fundamental
do cidadão (Verdade e Consenso, cit., 561-562).
45 R. Dworkin, Levando os direitos a sério (1977), tr. it., I diritti presi sul serio, ed. de G. Rebuffa, Bolonha,
Il Mulino, 1982, 90-121 (trad. elenco. M. Guastavino, Direitos sérios, Barcelona, Ariel, 1984).
46 R. Alexy, Theorie der Grundrechte (1985), tr. cast., Teoria dos direitos fundamentais, Madrid, Centro
de Estudos Constitucionais, 1997, cap. III, § 1, 82, onde "norma" é adotado como termo de gênero e "princípios"
e "regras" como termos de espécie (ibid., 83).
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As leis constitucionais que formulam objetivos políticos e/ou valores morais e/ou
direitos fundamentais, têm a forma de princípios e não de regras. E enquanto as
regras são aplicadas aos casos por elas previstos, os princípios - geralmente
caracterizados não só por maior importância, mas também por maior indeterminação
e por um caráter mais genérico - são respeitados, ponderados e comparados entre
si, tanto mais se, como geralmente acontece, eles entram em conflito entre si. As
regras, escrevem Manuel Atienza e Juan Ruiz Manero, descrevem os casos em que
são plenamente aplicáveis e são "motivos peremptórios de ação"; os princípios são
concebidos, por outro lado, de forma aberta e são razões de ação, não peremptórias,
mas ponderáveis com outras razões ou princípios 47. De maneira diferente do que
acontece com as regras, acrescenta Gustavo Zagrebelsky, que prevêem fatos neles,
os princípios carecem de pressupostos de fatoponderáveis.
mas apenas 48 e, portanto, não são aplicáveis,
Parece-me que esta distinção tem sido associada a um âmbito empírico e explicativo
que vai muito além da sua fundamentação teórica, aliás incerta e problemática, uma
vez que tanto a noção de "princípio" como o sentido e a consistência são incertos e
heterogéneos. da própria distinção 49. Com efeito, pois segundo uma primeira
orientação, que reúne os principais expoentes dos princípios do constitucionalismo
47 M. Atienza e J. Ruiz Manero, As peças de direito. Teoria dos enunciados jurídicos, Barcelona, Ariel, 1996,
cap. YO; cf. Também Id., "Tre approcci ai principi del diritto", em P. Comanducci e R. Guastini
(eds.), Análise e direito. 1993, Turim, Giappichelli, 1993, 9-29.
48 G. Zagrebelsky, Il diritto mite, cit., cap. VI, 149; Id., «Introduzione a R. Alexy», Concetto e validità del diritto,
cit., XX; Id., La legge e la sua giustizia, cit., cap. VI, 205-236. Uma tese análoga, segundo a qual a aplicação das
regras, ao contrário da dos princípios, consiste na «subsunção de um conceito de espécie (suposição concreta) em
um conceito de gênero (suposição abstrata)» foi defendida por Letizia Gianforma ggio, «L'interpretazione della
Costituzione tra applicazione di regole ed argomentazione basata su principi» (1984), em Id., Studi sulla giustificazione
giuridica, Torino, Giappichelli, 1986, agora em Id., Filosofia del diritto e ragionamento giuridico, ed. por E. Diciotti e V.
Velluzzi, Torino, Giappichelli, 2008, § 3, 178. Mas essa diferença, acrescentou Gianformaggio, «surge exclusivamente
no momento da interpretação-aplicação [...] quero dizer que a distinção entre regras e os princípios pertencem à lógica
jurídica como lógica dos juristas, e não à lógica jurídica como lógica do Direito; isto é, à problemática das relações
entre os elementos de um raciocínio jurídico, e não entre os elementos de um sistema jurídico” (ibid., 179).
Da mesma forma, Paolo Comanducci entende que a consideração de uma norma como regra ou como princípio não
depende de suas conotações ontológicas ou estruturais intrínsecas, mas decorre da interpretação do enunciado que
a expressa ("Principi giuridici e indeterminazione del diritto", in Id., Assaggi di metaetica due, Torino, Giappichelli, 1998,
capítulo VII, § 2.1, 84-85).
49 Riccardo Guastini lista cinco diferentes caracterizações de princípios fornecidas pela literatura, todas reunidas
pela ideia de que “há apenas um tipo de princípios ou que todos eles têm uma ou mais propriedades comuns de
qualquer maneira”, nenhuma das quais “permite a princípios sejam rigorosamente identificados" (Diritto mite, diritto
incerto, cit., 518-520). Uma análise rigorosa dos múltiplos significados associados à noção de «princípio» e uma
tipologia detalhada de princípios é fornecida por R. Guastini, «Sui principi di diritto», em Diritto e società, 1986, n. 4,
601ss; Id., "I principi di diritto", em AA.VV., Il diritto dei nuovi mondi, Padova, Cedam, 1994, 193-207; Id., "Principi di
diritto", em Digest. IV Edição, Civile, Turim, Utet, 1996, vol. XIV, 341-355, em que se propõem múltiplas distinções:
entre princípios gerais e princípios fundamentais; entre princípios de direito positivo e princípios de direito natural; entre
princípios expressos e princípios não expressos; entre princípios constitucionais, princípios legislativos e princípios
supremos. Sobre os "princípios gerais" do direito italiano, limito-me a recordar também V. Crisafulli, La costituzione e
le sue disposizioni di Principle, Milano, Giuffrè, 1952; N. Bobbio, "Principi generali del diritto", em Novissimo Italian
Digest, Torino, Utet, 1966, vol. XIII, 887-896; M. Jori, «I principi no direito italiano», em Sociologia do direito, 1983, 2;
G. Alpa, "I principi generali", in Trattato di diritto privato, ed. de G. Iudica e P. Zatti (1993), 2ª ed., Milano, Giuffrè, 2006;
F. Modugno, "Principi generali dell'ordinamento", na Encyclopedia giuridica, Roma, Treccani, 1991, vol. XXIV; Id.,
«Princípio e norma.
A função limitante dos princípios e dos princípios supremos ou fundamentais », en AA.VV., Experiências jurídicas do
século XX, Milão, Giuffrè, 2000; Id., Escritos sobre interpretação constitucional, Nápoles, Esi, 2008.
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36 Luigi Ferrajoli
Ainda mais discutível é o poder explicativo da distinção. Por exemplo, é duvidoso que
as decisões adotadas nos dois famosos casos analisados por Ronald Dworkin em seu
Taking Rights Serious 52 sejam baseadas em princípios e não em regras.
50 Eles formularam esta distinção entre "distinção forte" e "distinção fraca", entre princípios e regras, R.
Alexy, Theory of Fundamental Rights, cit., cap. III, § 1º, 85; L. Prieto Sanchís, Sobre princípios e normas.
Problemas de raciocínio jurídico, Madrid, Centro de Estudos Constitucionais, 1992, cap. II; R. Guastini, «I
principi nel positive diritto» (1995), in Id., Distinguendo. Studi di teoria e metateoria do direito, Torino,
Giappichelli, 1996, § 2, 116-117 (trad. elenco. de J. Ferrer Beltrán, Distinguindo. Estudos de teoria e metateoria
do direito, Barcelona, Gedisa, 1999) , retomado em Id., Teoria e dogmatica delle fonti, Milano, Giuffrè, 1998,
cap. XV, § 160, 272 e segs.; P. Comanducci, Principi giuridici, cit., 85-87. A primeira orientação é aquela
realizada, nas obras citadas nas notas anteriores, de Ronald Dworkin, Robert Alexy, Manuel Atienza, Juan
Ruiz Manero e Gustavo Zagrebelsky. A segunda, crítica da primeira e consideravelmente mais argumentada,
é formulada —além de Prieto Sanchís, Guastini e Comanducci nos escritos aqui citados— por L. Gianformaggio,
op. último cit.; A. Pintore, Norma e princípios. Uma crítica de Dworkin, Milano, Giuffrè, 1982; M. Jori e A.
Pintore, Manuale di General Theory of Law, Torino, Giappichelli, 1995, 258-
262; JJ Moreso, "Como fazer as peças da lei se encaixarem", em P. Comanducci e R. Guastini (eds.), Analysis
and law 1997, Turim, Giappichelli, 1998, 79-118; E. Diciotti, Interpretação da lei e discurso racional, Turim,
Giappichelli, 1999, cap. V, § 5, 425-435; M. Barberis, Filosofia do direito, cit., 104-116; G. Maniaci, Racionalidade
e equilíbrio reflexivo na argumentação judicial, Turim, Giappichelli, 2008, 300-307; G. Pino, Direitos fundamentais
e raciocínio jurídico, Turim, Giappichelli 2008, 17 ss.; Id., Direitos e interpretação.
Il ragionamento giuridico nello Stato costituzionale, Bologna, Il Mulino, 2010, cap. III, §1, 51-75. Embora com
acentos e argumentos diferentes, todos esses autores excluem que entre princípios e regras se possa fazer
uma distinção clara, de tipo ontológico ou qualitativo, e admitem apenas uma diferença quantitativa no grau
diferente — geralmente maior nos princípios e menor no regras — em que as características dos princípios
identificados pelos expoentes da primeira orientação se encontram em todas as normas, inclusive regras.
A distinção dworkiniana no sentido forte entre regras e princípios é considerada por Ricardo Guastini como
«uma distinção ideológica (latu sensu) , operada com «o propósito inegável de sugerir que os juízes resolvam
casos duvidosos ou difíceis (casos difíceis) aplicando-se a questões éticas- princípios políticos não afirmados
na constituição e na legislação» (Principi di diritto, cit., 342-343).
51 A. García Figueroa, Criaturas de moralidade, cit., cap. IV, 142 e segs., e 145, retomado no mesmo
sentido por JA García Amado, «El Juicio de ponderación y sus parts. Uma crítica”, in R. García Manrique
(ed.), Direitos Sociais e Ponderação, 249-332. Da mesma forma, G. Pino, Diritti fondamentali, cit., 25.
52 Este é o caso Riggs v. Palmer de 1889, em que estava em questão se o assassino do de cuius poderia
herdá-lo, e o caso de Henningsen v. Bloomfield Motors Inc. de 1960, en el cual se ponía en cuestión la responsa
bilidad del fabricante de un automóvil por los daños provocados por un accidente causado por un defecto de
fabricación, aun cuando existía una cláusula contractual que limitaba la garantía —«puesta expresamente no
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Quero dizer que a distinção é infundada; Pretendo apenas salientar que tem um
escopo explicativo muito mais restrito do que comumente lhe é associado, visto
que a maioria dos princípios se comporta como regras. Certamente, existem
princípios que enunciam valores e diretrizes de natureza política, cuja observância
ou inobservância não é fácil de identificar. Mas são normas relativamente marginais
53. Podemos chamá -las de princípios diretivos ou diretivas, em oposição aos
demais princípios, que chamarei de princípios reguladores ou imperativos, como
tais inderrogáveis. As primeiras podem ser caracterizadas como expectativas
genéricas e indeterminadas, não de fatos, mas de resultados, ao contrário dos
princípios reguladores, que expressam expectativas específicas e determinadas, a que correspon
em lugar de outras garantias, obrigações e responsabilidades” – apenas à obrigação de reparar peças defeituosas (R. Dworkin, I
diritti presi sul serious, cit., 90-96). Os dois casos teriam sido resolvidos sem problemas em sistemas de Direito Civil, como o
italiano, com base em regras absolutamente inequívocas: o primeiro com base no art. 463 do Código Civil, que exclui da sucessão
"quem voluntariamente matou ou tentou matar a pessoa de quem é a sucessão"; a segunda baseada no art. 1.490 do mesmo
código, que regulamenta a “garantia pelos defeitos da coisa vendida”, que estabelece no parágrafo segundo que “o contrato pelo
qual a garantia é excluída ou limitada não tem efeito se o vendedor tiver mal ocultado a fé ao comprador os vícios da coisa”,
ditando assim uma solução inteiramente pautada em regras: a) a regra da garantia dos vícios da coisa vendida (art. 1.490 inc. 1);
b) a regra sobre a derrogação dessa garantia por força de acordo em contrário; c) a regra da inderrogabilidade, ainda que haja
acordo em contrário, se os vícios da coisa tiverem sido dissimulados de má-fé pelo vendedor. Neste segundo caso, deveria ter-se
verificado se o vendedor-fabricante tinha conhecimento ou não do defeito do automóvel e se este tinha sido ocultado do comprador
de má-fé.
Nos sistemas de Common Law , ambos os casos são certamente mais problemáticos, e isso explica por que a abordagem
antipositivista e principialista é mais justificada neles do que em sistemas de direito codificado. No entanto, também nesses
sistemas é no mínimo discutível que as mesmas soluções impostas pelas normas do Código Civil italiano tenham sido alcançadas
pelos juízes com base em princípios e não em regras. Isso é verdade, em primeiro lugar, para Riggs v. Palmer. Com efeito, com
base em suas decisões, não parece que os juízes tenham assumido, como afirma Dworkin, o princípio genérico segundo o qual
"ninguém pode obter lucro com seu delito": um princípio, afirma ele, que não impõe uma determinada decisão, segundo a lógica
do “tudo ou nada” que preside à aplicação das regras – “de fato, as pessoas muitas vezes obtêm lucro de maneira perfeitamente
legal de seus erros jurídicos” (ibid., 94) . — mas que se limita a afirmar "uma razão que empurra ou orienta numa certa
direção" (ibid., 95). Em vez disso, a decisão foi baseada - apoiada pela citação de inúmeras máximas de interpretação formuladas
por Rutherford, Bacon, Puffendorf, Smith e Blackstone, e outras máximas substantivas do Direito Comum - em regras de direito
precisas, embora obtidas como implícitas em outras regras: como o respeito à vontade do testador, que certamente não teria
designado seu assassino como herdeiro; à regra da nulidade do negócio realizado por meio de violência ou dolo, uma e outra
reconhecível no homicídio, que certamente o testador não havia previsto no momento de testá-lo; à regra da revogabilidade em
todo o tempo do testamento, impedido por homicídio; ou ao que se obtém da intenção do legislador, que certamente teria resolvido
a questão no sentido adotado pelos juízes se tivesse que resolvê-la. O fundamento dessas interpretações pode ser discutido,
questionado pelo Juiz Gray, que expressou a opinião divergente a) quanto à validade do testamento na ausência de derrogação
explícita à regra de seu caráter absolutamente obrigatório, e, portanto, b) em torno do invalidade, além da justiça, da solução
adotada. Mas em todos os casos tem sido sobre aplicações de regras. O mesmo deve ser dito de Henningsen v. Bloomfield
Motors Inc., cuja decisão poderia muito bem ter se baseado, mais do que nas motivações genéricas formuladas pelos magistrados,
nas regras, também presentes na Common Law, da indenizabilidade do dano injusto pelo causador, colocando em circulação
insegura de automóveis, ou a nulidade de cláusulas contratuais maculadas por fraude ou engano para uma das partes contratantes.
53 A prevalência de regras e não de princípios no texto da Constituição italiana e, em particular, a natureza de regras e não
de princípios de direitos fundamentais, foi argumentado por A. Pace, «In terpretazione costituzionale e interpretazione per valori»,
em G. Azzariti (ed.), Interpretazione costituzionale, Turim, Giappichelli, 2006, 86 e segs., onde se defende uma leitura claramente
normativa e positivista da Constituição italiana. No mesmo sentido, cfr. F. Bilancia, Positivism giuridico e study del diritto costituzioÿ
38 Luigi Ferrajoli
54 A distinção, aqui pouco esboçada, entre princípios normativos e princípios diretivos, merece um estudo
mais aprofundado, o que será possível mediante a formalização dos dois conceitos. Pode ser útil lembrar que
no léxico do Principia iuris as regras são caracterizadas, de acordo com os postulados P7 e P8, como
modalidades deônticas (faculdades, obrigações ou proibições) ou como expectativas gerais e/ou abstratas
(positivas ou negativas) de certas comportamentos (PiI, Premise, 92); que os direitos fundamentais, como
todos os direitos, consistem em expectativas de benefício ou não lesão, ou seja, na prática ou omissão de atos
determinados por sua vez (PiI, T11.52-T11.54, 743); que, portanto, pelo menos os princípios constituídos pelos
direitos fundamentais e que se enquadram no que denominei «princípios reguladores», são regras (PiI, T11.16,
729-730). A diferença qualitativa e estrutural não existe, portanto, a meu ver, entre regras e princípios, mas
apenas entre princípios reguladores e aqueles que chamei de "princípios diretivos", que consistem em
expectativas não de atos específicos, mas de resultados, ou seja, , das políticas em condições de realizá-las
por meio de uma pluralidade de atos indeterminados e não normativamente predetermináveis. Uma distinção,
em alguns aspectos análoga à aqui proposta, parece-me a de «princípios em sentido estrito» e «orientações»,
feita por M. Atienza e J. Ruiz Manero, Las peças do direito, cit., cap. . I, §§ 1.3 e 2.2, 5 e 14-15; indivíduo. IV,
§4, 140-141; indivíduo. VI, § 2, 166, e retomada por M. Atienza, Lei como argumentação,
cit., cap. III, § 8, 168-169 y cap. IV, § 5º, 21.
55 R. Alexy, Teoria dos Direitos Fundamentais, cit., cap. III, § 2º, 86.
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56 E isso é aplicado, e não simplesmente respeitado, na sede da garantia secundária, pelo acórdão de inconstitucionalidade.
Expressei essa tese no PiI, § 12.8, 884-885, mostrando, com o teorema T12.78, como as "normas primárias", dentre as quais estão
todas as normas constitucionais substanciais, "quando violadas, se manifestam no ato de verificação jurisdicional de sua
inobservância, como normas secundárias em relação ao ato jurisdicional com o qual são aplicadas (T12.78)». Em suma, todas as
normas, formuladas na forma de regras ou princípios, são respeitadas principalmente se observadas e aplicadas .
40 Luigi Ferrajoli
deveres absolutos (erga omnes) que também consistem em regras. Por exemplo,
o art. 32 da Constituição italiana sobre o direito à saúde, equivale à norma —que,
aliás, nela está explícita— segundo a qual a República “garante [isto é, deve
garantir] tratamentos gratuitos”; a arte. 21 sobre a liberdade de expressão do
pensamento é equivalente à norma segundo a qual é proibido impedir, perturbar
ou limitar a livre expressão do pensamento; a arte. 16 sobre a liberdade de
locomoção, que a mesma Constituição protege dentro dos limites impostos pela
saúde e segurança, equivale à proibição de limitar a liberdade de locomoção,
salvo “por razões de saúde ou segurança”. O Decálogo, por outro lado, é expresso
em regras ("não mate", "não roube" e similares) que têm exatamente o mesmo
significado que os direitos correspondentes (o direito à vida, o direito à propriedade e a Curti).
Compreende-se assim por que não há diferença real de status entre a maioria
dos princípios e as regras: a violação de um princípio sempre o torna uma regra
que enuncia as proibições ou obrigações correspondentes. Portanto, a constituição
é definível, em sua parte substancial, bem como um conjunto de direitos
fundamentais das pessoas (isto é, de princípios), também como um sistema de
limites e vínculos (isto é, de regras) impostos aos detentores do poder. .
Precisamente, os princípios que consistem em direitos de liberdade (universais
ou omnium) correspondem às regras que consistem em limites ou proibições
(absolutos ou erga omnes); Aos princípios constituídos pelos direitos sociais
(universais ou omnium) correspondem as regras constituídas por vínculos ou obrigações (absol
60. Direitos e deveres, expectativas e garantias, princípios sobre direitos e regras
sobre deveres são, em suma, as duas faces da mesma moeda, equiparando a
violação do primeiro — por ação ou omissão — à violação do último.
60
PiI, § 11.9, 772-776, teses D11.24-D11.26, T11.102-T11.103 e T11.107-T11.108.
61 A. García Figueroa, Creaturas de la moralidad, cit., 20. «A derrotabilidade das normas constitucionais»,
acrescenta García Figueroa, «explica-se pela base ética dos ordenamentos jurídicos, particularmente nos
Estados constitucionais».
62 Em inglês «defeasability»; em italiano «defettibilità». Sobre os múltiplos usos e significados nos mais
diversos contextos de «derrotabilidade», vid. P. Chiassoni, «La defettibiltà nel diritto», in Materiali per una storia
della cultura giuridica, 2008, 2, 471-506. Sobre o «caráter derrotável» dos direitos fundamentais em virtude de
seus potenciais conflitos e sobre o «caráter aproximado» de sua interpretação em virtude de sua indeterminação,
cf. T. Mazzarese, Ancora su ragionamento giudiziale, cit., § 5.3.
63 A. García Figueroa, Creaturas, cit., § 4.2, 151.
64 Ibid., § 4.1, 136.
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65 R. Alexy, Teoria dos Direitos Fundamentais, cit., cap. III, §2, 86-87. A mesma passagem é retomada em Id.,
«Sistema jurídico, princípios jurídicos e razão prática», in Doxa, n. 5, 1988, 143-144. Análoga é a distinção feita por
Dworkin, I diritti, cit., 93-95: "A diferença entre princípios jurídicos e regras é de natureza lógica". Um e outro orientam
a adoção de determinadas decisões, mas diferem pela natureza da ordem que sugerem. As regras se aplicam de
uma forma de tudo ou nada. Se os fatos estabelecidos por uma regra são dados, "então são determinadas as
consequências predispostas por ela". Os princípios, por outro lado, expressam "uma razão que empurra em uma
direção, mas não requer uma decisão específica".
No mesmo sentido, G. Zagrebelsky, La legge, cit., 213-214.
66 Ver a análise da indeterminação dos princípios constitucionais desenvolvida por C. Bernal
Pulido, O princípio da proporcionalidade e direitos fundamentais, Madrid, Centro de Estudos Políticos e Constitucionais,
2005, 99-110. Bernal menciona vários tipos de indeterminação que afetariam os princípios constitucionais. Mas na
maioria dos casos exemplificados por ele não me parece que existam indeterminações relevantes ou tipos de
indeterminações não encontrados também nas regras. Por exemplo, não me parece que na norma que prevê o direito
de associação haja uma tal «indeterminação semântica» que duvide seriamente que implique a proibição de o Estado
impor a filiação em determinada associação; ou essa arte. 19 da Constituição argentina apresenta uma «indeterminação
sintática» de tal forma que pode ser interpretada no sentido de que a não punibilidade nela estabelecida de «ações
privadas» «que em nada ofendam a ordem ou a moral pública» e «não prejudiquem terceiros partes» refere-se a
essas três classes de ações consideradas disjuntivamente (entre elas, portanto, paradoxalmente, «ações privadas»)
e não a três características das ações que concorrem juntas; ou, que se possa duvidar que o direito à informação ou
o direito à educação sejam afetados pela «indeterminação estrutural», não sendo claro que as prescrições por eles
impostas se refiram aos resultados que constituem o objeto dos direitos. também os meios para alcançá-los,
obviamente deixados ao arbítrio legislativo; ou que o direito de divulgação de informação carece de «redundância»,
não sendo claro que implique, como é óbvio, também o direito de criar meios de informação, em todo o caso implicado
no direito de livre iniciativa económica.
67 M. Atienza e J. Ruiz Manero, «Três problemas de três teorias da validade jurídica», in J. Malem, J. Orozco e
R. Vázquez, A função judicial. Ética e democracia, Barcelona, Gedisa, § 1.3, 94 e § 2.2, 100. A passagem é retomada
em M. Atienza, «Sobre Ferrajoli e a superação do positivismo jurídico», § 6.1, em L. Ferrajoli, JJ Moreso e M. Atienza,
A teoria do direito no paradigma constitucional, cit., 153-155; cf. minha resposta, ibid., § 4, 195-206. Para uma crítica
à redução —decorrente dessas leituras ético-políticas e antipositivistas do paradigma constitucional— da normatividade
jurídica das constituições à de «meras declarações de intenções políticas», vid. T. Mazzarese, Diritti fondamentali e
neocostituzionalismo, cit., em particular § 1.4, 14-22; Id., Para uma leitura positivista do neoconstitucionalismo, cit.
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42 Luigi Ferrajoli
lembramos que na Itália a expressão "normas programáticas" foi usada na década de 1950
pelo Tribunal de Cassação para neutralizar o alcance normativo dos princípios
constitucionais, ou seja, negar sua adequação para revogar ou invalidar legislação anterior,
ainda predominantemente fascista 68. Atienza y Ruiz
Manero afirmam que suas teses têm maior capacidade explicativa para as práticas judiciais
do que minha concepção de normas como imediatamente vinculantes 69. E ainda mais
explicitamente, Zagrebelsky aponta, no que diz respeito ao "apelo aos princípios", criticado
por aqueles que temem que possa endossa «a discricionariedade dos intérpretes», que:
«Aqui não postulamos de modo algum uma proposta de política de Direito face à
interpretação. Simplesmente descreve o que realmente acontece na realidade da vida
concreta da ordem»70. Pois bem, parece-me que justamente este argumento é uma clara
confirmação da já mencionada convergência do constitucionalismo argumentativo com o
realismo: efetivamente, a tese é explicativa da prática jurídica atual, seja legislativa ou
jurisdicional, ou seja, do «ser» do Direito , mas certamente não é do seu "dever de ser",
que simplesmente ignora.
Em suma, o resultado dessa abordagem é um obscurecimento do alcance normativo
dos princípios constitucionais. Por exemplo, escreve Ronald Dworkin: “A Primeira Emenda
da Constituição dos Estados Unidos determina que o Congresso não deve limitar a liberdade
de expressão. É uma norma, de modo que, se uma determinada lei realmente limitasse a
liberdade de expressão, seria, portanto, inconstitucional? Aqueles que sustentam que a
primeira emenda é "absoluta" dizem que ela deve ser tomada nesse sentido, ou seja, como
norma. Ou se reduz a enunciar um princípio tal que, se fosse descoberta uma limitação à
liberdade de expressão, seria inconstitucional a menos que o contexto evidenciasse algum
outro princípio ou consideração de oportunidade política que, em certas circunstâncias,
tivesse a importância necessária para permitir sua limitação? Tal é a posição daqueles que
defendem o chamado fator de “risco claro e atual” ou alguma outra forma de “ponderação”» ,
mas sim como princípios morais, cujo respeito, quando conflitantes com outros, fica ao
arbítrio argumentativo do intérprete 72.
68
Cassação, Criminal United Sections., 7.2.1948, in Italian Forum, 1948, II, 57. Esta distinção entre normas
prescritivas e normas programáticas foi declarada improcedente desde a primeira decisão do Tribunal Constitucional
(Corte de Custódia n.º 1 do Tribunal de Justiça de 1956 ) e depois abandonado por todos.
69 M. Atienza e J. Ruiz Manero, Três Problemas, cit., 94.
70 G. Zagrebelsky, A lei branda, cit., Cap. VII, 199-200.
71 R. Dworkin, I diritti presi sul serious, cit., 97. Ver também 100-101.
72 Tome-se outro exemplo: o direito à imunidade à tortura, que também pode entrar em conflito, como argumentou
o jurista americano Alan Dershowitz, com necessidade, em casos "excepcionais" (obviamente casos escolares são sempre
"excepcionais").»), de coletar informações vitais de um terrorista que —“nós sabemos”— está “a par” de futuros ataques
muito sérios [Por que o terrorismo funciona.
Compreendendo a Ameaça Respondendo ao Desafio (2002), tr. it., Terrorism, Rome, Carocci, 2003, 118 e ss e 125 e ss].
Pois bem, segundo o modelo normativo e garantidor das constituições, a imunidade contra a tortura não permite exceções.
O princípio moral da segurança pode, portanto, operar no plano moral, mas não no plano legal; com a consequência de
que quem está convencido de que está diante de um terrorista que está ciente de um ataque futuro e muito grave, deve
assumir, se pretende violar a proibição absoluta da tortura para salvar a vida de inúmeras pessoas, a responsabilidade
moral de cometer o crime de tortura e sofrer as respectivas sanções, sem pleitear a cobertura da Lei. Este é o custo
mínimo que devemos pagar pelas garantias dos direitos fundamentais contra a arbitragem.
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73 LL Streck, op. cit., 470-496, traz uma lista de 24 princípios de criação jurisprudencial. Por fim, em
defesa da constitucionalidade da lei de anistia aos crimes militares brasileiros, foi formulado o princípio,
inexistente na Constituição, da pacificação e conciliação nacional. Princípios inventados, sobretudo, para
limitar o alcance dos princípios constitucionais, também são encontrados na jurisprudência constitucional
italiana. Letizia Gianformaggio (L'interpretazione della Costituzione, cit., § 11, 196-200) recordou, por
exemplo, "o princípio da proteção do sentimento religioso da maioria dos italianos", invocado na sentença
n. 39 de 31 de maio de 1965 do nosso Tribunal Constitucional, em apoio à rejeição da exceção de
inconstitucionalidade do crime de injúria contra a religião católica, prevista no art. 402 do CP: princípio que,
diferentemente do da igual liberdade perante a lei de todas as confissões religiosas, estabelecido pelo art.
8º da Constituição, com base no qual a exceção foi formulada, não é sequer implicitamente constitucional.
74 A firme defesa de Letizia Gianformaggio desta concepção da «constituição como norma jurídica
obrigatória disciplinadora de todo comportamento, tanto público como privado» (L'interpretazione, cit., § 7,
190) deve ser lembrada: «princípios, sendo normas, são por definição prescritivas” (ibid., § 2, 177) e “a
prescritividade existe ou não existe: não é graduada” (ibid., § 7, 191). Esta, acrescenta, é uma concepção
"óbvia", que "se expressa claramente na introdução do famoso livro de Vezio Crisafulli, La costituzione e le
sue disposizioni diprinciple, desta forma: "Uma constituição, como qualquer outra lei, é , antes de tudo e
sempre, um ato normativo e, portanto, seus dispositivos devem ser entendidos, via de regra (e salvo
raríssimas exceções eventuais, nos casos em que não seja honestamente plausível fazer outra coisa),
como dispositivos normativos: que enunciem, portanto, normas jurídicas verdadeiras e próprias, mesmo
quando estas devam ser posteriormente classificadas entre as normas organizacionais, entre as de
finalidade ou entre as que disciplinam as relações entre sujeitos externos ao Estado. Em outras palavras,
uma constituição deve ser compreendida e interpretada, em todas as suas partes, magis ut valeat, porque sua natureza e fun
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44 Luigi Ferrajoli
e não poderiam deixar de ser, repetimos, um ato normativo, destinado a disciplinar compulsoriamente o
comportamento público e privado”” (ibid., 189).
75 Ver, sobre os riscos do ativismo discricionário excessivo dos juízes, LL Streck, Verdade e Consenso,
cit., e LR Barroso, Curso de Direito Constitucional contemporâneo, São Paulo, Saraiva, 2010, 383 e segs.
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No que diz respeito à ponderação legislativa, deve ser feita uma distinção
entre o que chamei de princípios reguladores e o que chamei de princípios diretivos.
Certamente, os princípios diretivos o exigem; não, por outro lado, os princípios
reguladores, vinculantes e indefectíveis se não encontrarem limites em normas do
mesmo nível. Os direitos de liberdade, em particular, geralmente não admitem
qualquer ponderação: sua violação gera contradições, a menos que haja limites
expressos por regras, como o limite à liberdade de associação imposto no art. 18
da Constituição italiana, que proíbe associações secretas, que prevalece pelo
imperativo do princípio da especialidade. Exigem ponderação apenas quando o
limite é expresso por princípios orientadores, como o princípio genérico da
segurança, na medida em que é expressamente formulado por normas do mesmo nível.
Parcialmente diversa é a fenomenologia da ação legislativa dos direitos
sociais. As normas ou, se preferir, os princípios que enunciam tais direitos, como
se disse no número anterior, são normativas quanto à an e diretiva quanto ao
quomodo e ao quantum da sua execução. Sua falta de ação equivale, portanto, à
sua violação, que gera lacunas não menos ilegítimas que as antinomias.
Mas é claro que sua consideração legislativa é fisiológica nas opções legislativas,
inevitavelmente discricionária, no que se refere aos meios, às formas e também
aos limites de sua atuação, não predeterminados por sua formulação constitucional 77.
76 Vid., sobre esses três espaços fisiológicos de discricionariedade que, em seu conjunto, definem o poder
judicial, Direito e razão, cit., cap. III.
77 Apoiei essa fenomenologia diferente dos direitos de liberdade e direitos sociais, em Diritto e ragione, cit,
cap. XIV, § 60.4, 958. Trata-se, evidentemente, de uma diferença de natureza teórica e conceitual: enquanto a
simples formulação dos direitos de liberdade implica a proibição de sua lesão, a dos direitos de
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46 Luigi Ferrajoli
Os direitos sociais —por exemplo, à saúde, educação, subsistência ou afins— implicam, em si, a obrigação
de sua satisfação, seja ela qual for, mas nada diz sobre as formas e limites de sua ação. Isso não exclui,
obviamente, que as constituições mais avançadas também incorporem princípios ou normas normativas que
também prevejam as garantias de tais direitos, prefigurando, ao menos em parte, seus limites e formas
mínimas. Na Constituição italiana, por exemplo, o art. 34 estabelece, em garantia do direito à educação, que
a “educação inferior” seja “preferida por pelo menos oito anos” e que “é obrigatória e gratuita”; e arte. O art.
direito à educação inferior por pelo menos oito anos. A Constituição brasileira prevê vínculos orçamentários,
em garantia dos direitos sociais: pelo art. 34, VII, inc. e), que prevê “a aplicação de cota mínima” do orçamento
da União para “gestão e desenvolvimento da educação e das ações e serviços públicos de saúde”; pela arte.
198 §§ 2º e 3º, que em matéria de direito à saúde remeta à lei a estipulação, a cada cinco anos, dos
percentuais do orçamento da União e dos Estados que devem ser destinados à sua garantia; pela arte. 212,
que sobre o direito à educação estabelece que «a União destinará pelo menos 18% ao ano e os Estados e o
Distrito Federal e os Municípios pelo menos 25% do valor arrecadado pelos impostos […] gestão e
desenvolvimento do ensino. Mais genérico e indeterminado é o art. 27.4 da Constituição espanhola, que se
limita a estabelecer que “o ensino básico é obrigatório e gratuito”.
78 Anna Pintore chegou a formular a tese segundo a qual os direitos "frequentemente entram em um
conjunto de relações recíprocas de soma zero" ("Diritti insaziabili", in L. Ferrajoli, Diritti fondamentali, cit.,
189-190). Videira. minha resposta, ibid., I fondamenti, cit., § 6, 328-332.
79
PiIII, § 13.13, 67-71
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a luz de todos os outros no sistema. No entanto, há uma diferença que torna a ponderação —
concebida, em oposição à subsunção reservada às regras, como uma espécie de raciocínio
ordinário e generalizado para todos os princípios 80 — técnica argumentativa que estende uma
indevidamente a discricionariedade judicial a ponto de anular a sujeição do juiz à lei. A diferença
está ligada à metáfora do "peso", que sugere e estimula - por outro lado, em singular contraste
com a ideia dworkiniana da existência objetiva de "uma solução correta" - um poder de escolha
sobre quais princípios aplicar e não se aplica em função da avaliação —inevitavelmente
discricionária 81— de sua diferente importância. O balanceamento é concebido como uma operação
em virtude da qual, como escreve Robert Alexy, "quando dois princípios colidem ... um deles tem
que ceder ao outro", sem que o primeiro seja considerado inválido ou inválido. o princípio da
especialidade82. Em poucas palavras, é como uma atividade de escolha «orientada» por
«exigências de justiça substancial» 83, que cria o risco de comprometer não só a sujeição do juiz
à lei, mas também, como bem observou Riccardo Guastini , os valores de certeza e igualdade
perante a lei 84.
48 Luigi Ferrajoli
86 Portanto, sob este aspecto não é verdade que, como escreve Atienza, as regras «estão imunes à experiência
experiência» (O Direito como Argumentação, cit., 230).
87 Sobre esta questão, remeto para Diritto e ragione, cit., cap. III, §12, 147-160.
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88 R. Alexy, Theory of Fundamental Rights, cit., § 2.2.2.3, 160-169, onde o "grau de importância"
atribuído em cada caso pela jurisprudência é elevado a uma "regra" ou "lei de ponderação". constitucional,
à segurança da liberdade de imprensa ou vice-versa, com argumentos necessariamente discutíveis.
Relembre também a tese de Anna Pintore, citada na nota 78, da «soma zero» no grau de garantia de
direitos.
89 L. Prieto Sanchís, «Constitucionalismo e garantismo», em M. Carbonell e P. Salazar Ugarte
(ed.), Garantia. Studies, cit., 50-51. Cf. também, a propósito, GP Lopera Mesa, Princípio da
constitucionalidade e direito penal. Bases para um modelo de controle de constitucionalidade das leis
penais, Madrid, Centro de Estudos Políticos e Constitucionais, 2006, 45 e ss.
90 Para uma análise das múltiplas relações entre liberdade e direitos fundamentais, muitos dos
quais não são conflitantes, mas subordinados, refiro-me a PiI, § 1.6, 134, § 2.4, 159-161 e § 11.6,
752-759, e a PiIII , §§ 13.14, 72-77, § 15.1, 308 e § 15.7, 336-337, onde distingui quatro níveis de
liberdade: o das liberdades de fato, limitadas pelo exercício de poderes que são direta ou indiretamente
uma expressão de os direitos de autonomia, dentro dos limites impostos por sua vez pelos direitos de liberdade constitucio
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50 Luigi Ferrajoli
estipulados, cujas liberdades de são por sua vez limitadas, tendencialmente, pelas liberdades contra , que,
por consistirem apenas em imunidades não associadas a faculdades ou poderes, e por não envolverem
qualquer exercício, são geralmente limites aos demais direitos, embora dentro os limites indicados acima
nos chamados “casos difíceis”. Videira. também, para um tratamento mais amplo dos conflitos entre direitos,
minha Garantia. Uma discussão sobre direito e democracia, cit., cap. V, 83-98.
91 Chiara Tripodina, «O tribunal constitucional é o único poder bom? Uma pergunta para Luigi Ferrajoli.
Ovvero, sui limiti e sui vincoli del giudice delle leggi”, em Costituzionalismo.it sustenta: a) que minha tese do
caráter sempre relativo e imperfeito da legitimidade da jurisdição que decorre do caráter probabilístico da
verdade factual e discutível de a verdade jurídica, equivaleria a dizer que “a atribuição de sentido às
disposições legislativas e constitucionais não é uma operação vinculada ao Direito, não é uma verificação
da verdade, mas é um ato de liberdade do intérprete” ; b) que desta forma, depois de admitir que a
competência inclui também «uma esfera específica do decidível ligada à decidibilidade da verdade
processual», teria recorrido «de modo tautológico», para «distinguir entre discricionariedade política e
discricionariedade judicial .judiciária […], justamente à ficção da natureza meramente cognitiva da jurisdição
que ela mal desmascararia”; c) que, em suma, a discricionariedade judicial dos juízes constitucionais não
difere da discricionariedade política dos parlamentos, mas sim porque se manifesta na decisão do indecidível.
E ele me pergunta: “O que torna o Tribunal Constitucional mais legítimo do que o Parlamento para decidir o
indecidível?”, e “O Tribunal Constitucional é, para Ferrajoli , o único poder bom que não pode fazer
mal?” (ibid., 6-7 e 10). Questões e críticas semelhantes me foram dirigidas por Pablo del Lora, «Luigi Ferrajoli
e o constitucionalismo forte», em M. Carbonell e P. Salazar, Garantismo.
Estudos, cit., 254, e de A. Greppi, «A democracia como valor, como ideal e como método», ibid., 352. Estas
críticas e estas questões resultam, a meu ver, de um mal-entendido. Dizer que a verdade jurídica é discutível
e que a interpretação envolve espaços de discricionariedade e consequentes decisões, não significa de
forma alguma que seja alheia ao Direito e que não admita «verificação» mas «um acto de liberdade».
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non auctoritas facit iudicium), ainda que apenas como ideal normativo, é a outra
face da convenção jurídica, ou seja, do princípio iuspositivista da legalidade
(auctoritas non veritas facit legem). Obviamente, a satisfação de tal ideal é uma
questão de grau, dependendo do grau de determinação ou legalidade estrita da
linguagem jurídica. Mas além de certo grau de indeterminação, o judiciário, ao
degenerar em poder ou disposição criadora, repito, perde toda legitimidade. E isso
pode acontecer quer as normas sejam expressas na forma de princípios, ou na
forma de regras.
Em todos os casos, seria oportuno que a cultura jusconstitucionalista, ao invés
de assumir como inevitável a indeterminação da linguagem constitucional e os
conflitos entre direitos, e talvez se deleitar com ambas as coisas em apoio ao
ativismo judicial 92, promovesse o desenvolvimento de um poder legislativo
linguagem e Constituição tão precisas e rigorosas quanto possível. Com efeito, entre
os fatores mais graves da discricionariedade judicial e do crescente papel da
argumentação, está a crise da linguagem jurídica, que já se tornou uma verdadeira
disfunção: pela imprecisão e ambiguidade das formulações normativas, por sua
obscuridade e, às vezes, seu caráter contraditório, devido à inflação legislativa que
tem comprometido a capacidade regulatória do Direito. Mas este não é um fenômeno
natural. Depende da má legislação e do caráter vago e valorativo das normas
constitucionais, cuja responsabilidade é, certamente, política, mas também pesa
sobre a cultura jurídica. Por outro lado, devemos perceber que a obscuridade,
imprecisão e indeterminação da linguagem jurídica, embora até certo ponto
inescapáveis, não são simplesmente falhas na legislação. São um vício jurídico
disso, pois violam os princípios da separação dos poderes e da sujeição dos juízes
à lei, e, portanto, comprometem a manutenção da edificação do Estado de Direito
em sua totalidade. Por esta razão, a ciência jurídica deveria hoje retomar o programa iluminado de
o pouco do intérprete'. Com efeito, a decidibilidade da verdade de uma tese não só não exclui, mas, ao
contrário, implica seu caráter cognitivo, pois qualquer verdade, excluídas as verdades lógicas ou matemáticas,
requer decisões. Ao contrário, é justamente a indecidibilidade de uma tese jurídica, determinada pelo caráter
totalmente vago da linguagem jurídica, que gera uma discricionariedade imprópria, de natureza política, e
acarreta a degeneração do judiciário no que chamei de ilegítimo”. poder de provisão”. Por outro lado, nos
casos em que a verdade judicial é determinável, a jurisdição está vinculada à lei, e consiste, diferentemente
de qualquer atividade empresarial ou legislativa do governo, na aplicação substancial e não no simples respeito
às normas de produção. ; Consiste na realização de normas preexistentes através da verificação de atos
inválidos ou ilícitos que as violem, e não na introdução de novas normas.
Por isso, o judiciário não é tanto um poder "bom", mas um poder negativo, absolutamente inadequado para as
funções de governo. Lembre-se das palavras de Alexander Hamilton: "O judiciário [...] não pode influenciar
nem a espada nem a bolsa" e por isso é "sem paralelo, o mais fraco dos três poderes do Estado", visto que
"ele nunca será capaz de atacar nenhum dos outros dois com sucesso" [A. Hamilton, J. Jay
e J. Madison, The Federalist (1788), tr. it., Il federalista, Bologna, Il Mulino, 1997, 623 (traduzido elenco. de GR
Velasco, The Federalist, México, Economic Culture Fund, 1943)]. Sobre a diferença estrutural entre a função
judiciária e as funções de governo, entre a discricionariedade judicial e a discricionariedade política, e sobre a
inconsistência do perigo de um "governo dos juízes", remeter ao PiI, §§ 9.15-9.16 e 12.6-12.8, 556 -566 e 869-
885 e PiIII, § 13.4 e 14.12, 71-77 (e notas 88-89) e 212-218 (e nota 82) e minha resposta a De Lora e Greppi
em Garantia. Uma discussão, cit., § 5.4, 93-98.
92 Tecla Mazzarese (Ancora su ragionamento giudiziale, cit., § 5.2.2) relembra a defesa das
«ambiguidades» da Carta de Direitos formulada por S. Hufstedler, «Em nome da justiça», em Stanford Lawyer,
14, 1979, 4-5) e o valor associado por G. Zagrebelsky, Il diritto mite, cit., cap. VI, § 6º, ao pluralismo e à
indeterminação dos princípios como fatores de "boas soluções, abrangentes de todas as razões que podem
reivindicar bons princípios em seu suporte" (168).
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52 Luigi Ferrajoli
93 G. Filangieri, La scienza della legislazione (1783), edição crítica dirigida por V. Ferrone, Veneza, Centro
di studi sull'Illuminismo Europeo «G.Stiffoni», 2003 (trad. elenco. de J. Ribera, The science of a legislação,
Madrid, Imprenta de D. Fermín Villalpando, 1821-1822); J. Bentham, «Traités de législation civile et penale», in
Oeuvres de Jérémie Bentham, 3ª ed., Bruxelas, Hauman, 1840, t. I, 1-342 (tradução espanhola de R. Salas,
Tratados de legislação civil e penal, Madrid, Editora Nacional, 1981).
94 G. Romagnosi, A ciência das constituições (Opera posthumous, 1848), Edición crítica de G. Astuti con
el título Sobre a constituição de uma monarquia nacional representativa (A ciência das constituições), Roma,
Real Academia da Itália, 1937, t . 2.
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DOXA 34 (2012)