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RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar os doze primeiros artigos do CPC-2015 à luz dos
preceitos constitucionais fundamentais, buscando construir uma abordagem do conteúdo
principiológico da Lei n. 13.105/15 e a nova sistemática principiológica inserida neste código.
A produção se localiza na vertente teórico-metodológica jurídico-dogmático, sendo o tipo de
investigação jurídico-diagnóstico. No tocante às técnicas e procedimentos metodológicos para
o levantamento de dados, utilizou-se dados bibliográficos, normativos e técnicos. Quanto à
análise dos dados levantados, o recurso metodológico adotado foi o hermenêutico-analítico. Já
o controle dos dados se deu por meio da técnica de triangulação metodológica. Concluiu-se
que, embora inexista ainda um consenso entre os doutrinadores brasileiros, dada a recente
promulgação da Lei Processual civil, ser evidente o avanço que o CPC 2015 promove, no
sistema processual brasileiro.
1. INTRODUÇÃO
Cada vez mais o Direito Processual Civil deixa de ser visto de forma isolada e
passa a dialogar com outros ramos do Direito, principalmente com as normas constitucionais,
pois estas são a base de um Estado Democrático de Direito. A Constituição é a norma
fundamental de onde as demais se originam.
1
Bacharelando em Direito pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (FACAPE), Engenheiro
Eletricista pela Escola Politécnica de PE, pós-graduado em Automação Industrial pela UFPE e MBA em Gestão
Empresarial pela FGV. Executivo do Grupo Neoenergia.
2
Advogado, professor universitário, pós-graduado em gestão de cidades pela Faculdade de Ciências Aplicadas e
Sociais de Petrolina (FACAPE), pós-graduando em Direito Constitucional Aplicado pela Damásio Educacional.
Mestrando em Psicologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do
Vale do São Francisco (UNIVASF).
Diante disso, o legislador buscou dar uma nova roupagem ao processo civil, e,
portanto, contemplou no CPC-2015 inúmeros direitos e garantias fundamentais já previstos na
Certa Magna de 1988. Nessa perspectiva, fica claro que a força normativa dos princípios não
pode ser afastada quando da elaboração de qualquer norma presente no sistema jurídico
brasileiro.
Assim, este trabalho analisará os doze primeiros artigos para identificar a
compatibilidade das normas constitucionais com os artigos do CPC-2015 e suas implicações
de ordem prática.
A produção se localiza na vertente teórico-metodológica jurídico-dogmática, isto
é, ou seja, uma abordagem preliminar de um problema jurídico (GUSTIN; DIAS, 2015, p.
27), utilizando para seu enfrentamento, exclusivamente, recursos técnicos e dogmáticos
internos à ciência jurídica, ressaltando características e percepções dos principais autores que
abordam o tema. O tipo de investigação adotada para tanto será o jurídico descritivo, ou seja,
terá a abordagem um caráter exploratório descritivo, objetivando ressaltar as características
dos fragmentos normativos analisados. No tocante às técnicas e procedimentos metodológicos
para o levantamento de dados, utilizar-se-á apenas dados bibliográficos: normativos e técnicos
dogmáticos. Quanto a analise dos dados levantados, lançou-se mão do recurso metodológico
da hermenêutico-analítico. O controle dos dados, em sede das considerações finais, serão
auferidos por meio da triangulação metodológica que implica no cruzamento das teorias
adotadas, o conteúdo dos doze primeiros artigos do CPC-2015 e a perspectiva dos
doutrinadores consultados (GUSTIN; DIAS, 2015, p. 93).
O presente trabalho se inicia com uma exposição do aporte teórico, para que
sejam lançadas as bases para a análise do conteúdo normativo presente nos artigos 1º ao 12 do
Código de Processo Civil 2015. Busca-se assim situar tal conteúdo em um pensamento
jurídico pautado nas teorias neoconstitucionalista e o neoprocessualista. Em seguida passa-se
a explorar, propriamente, os doze primeiros artigos realizando considerações individuais e
detalhadas de como cada artigo se insere no sistema processual à luz da Constituição de 1988.
Finalmente, busca-se apresentar as implicações práticas das normas contidas no referido
código e suas consequências.
2. TEORIAS NORTEADORAS DO PROCESSO CIVIL CONSTITUCIONAL
O presente artigo adotará como aporte teórico, para analisar o conteúdo normativo
presente no Código de Processo Civil de 20153, a teoria processual exposta por Fredie Didier
Jr (2015, p.42).
O referido doutrinador faz um recorte do atual pensamento jurídico que vive o
sistema processual, ou seja, o Neoconstitucionalismo. Nessa perspectiva afirma o autor ser
mais adequado chamar o termo de "positivismo jurídico reconstruído" ou “neopositivismo”.
Tal posição merece maior destaque devido ao termo ser vago e gerar controvérsias entre
diversos autores, surgindo assim críticas ao uso do termo neoconstitucionalismo, como aponta
Didier:
Os abusos e incompreensões revelam-se basicamente em uma postura de
supervalorização dessas "novidades": a) supervalorizam-se as normas-princípio em
detrimento das normas-regra, como se aquelas sempre devessem preponderar em
relação a essas e como se o sistema devesse ter mais normas-princípio do que
normas- regra, ignorando o importantíssimo papel que as regras exercem no sistema
jurídico: reduzira complexidade do sistema e garantir segurança jurídica; b)
supervaloriza-se o Poder judiciário em detrimento do Poder Legislativo, subsunção é
método bem adequado à aplicação das normas-regra, de resto as espécies normativas
mais abundantes no sistema.
As críticas são indispensáveis. A história do pensamento jurídico costuma
desenvolver-se em movimento pendular: essas transformações puxam para um lado;
as críticas, para o outro; no final do "cabo de guerra", chega-se ao equilíbrio
(DIDIER, 2015, p. 43-44).
Didier Jr. (2015, p.44) afirma que, na evolução histórica do direito processual, o
Código de Processo Civil estaria inserido em uma quarta fase4·. Reafirmando assim, as
conquistas do processualismo e do instrumentalismo, defendendo ainda a ideia de que a
ciência teve de avançar, e que realmente avançou, alterando seus contornos.
Nesse diapasão, o neoconstitucionalismo traz enquanto premissas metodológicas a
necessária comunicação entre o processo que se pretende erigir e constitucionalismo, novo,
que pretende irradiar seus preceitos, enquanto normas fundadoras, para todos os ramos do
direito pátrio. Por isso, é possível verificar nesse contexto, uma nova perspectiva, em relação
ao direito processual à luz da Constituição Federal de 1988, ao receber destaque a proteção
aos direitos fundamentais na construção e aplicação do formalismo processual (DIDIER JR,
2015, p.44-45).
3
Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015.
4
Fred Didier Jr. aponta mais três fases da evolução histórica do direito processual: praxismo, processualismo e
instrumentalismo.
O direito contemporâneo aponta para a constitucionalização do direito processual.
Seja na incorporação de textos processuais como direitos fundamentais seja como sendo as
normas processuais concretizadoras de dispositivos constitucionais. Nesse sentido, afirma o
referido autor:
Não é, então, por acaso que o art. 1 ° do C PC, com forte caráter simbólico, está
assim redigido: "O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”. Do
ponto de vista normativo, o enunciado reproduz uma obviedade: qualquer norma
jurídica brasileira somente pode ser construída e interpretada de acordo coma
Constituição Federal. A ausência de dispositivo semelhante no CPC não significaria,
obviamente, que o CPC pudesse ser interpretado em desconformidade com a
Constituição (DIDIER JR, 2015, p.46).
O Código de 2015 tem uma parte geral, inexistente no Código de 1973, e começa
pelo Livro I: “Das Normas Fundamentais e da Aplicação das Normas Processuais”. A
Primeira parte deste Livro I traz vetores normativos, a lista, de modo não exauriente,
princípios constitucionais à luz dos quais o Código foi elaborado.
Os princípios de que trata este começo do Código de 2015 está por vezes
expressamente formulado. Não raramente, são concretizados em algum instituto novo. E, em
todos os casos, devem imprimir direção ao movimento interpretativo de todas as regras do
Código, para que se chegue a resultados condizentes com esta estrutura principiológica
fundamental.
Assim, o começo para o constitucionalismo processual brasileiro se deu a partir da
percepção de que o fenômeno processual não mais poderia ser compreendido como um fim
em si mesmo. Diante disso vislumbrou-se em matéria processual, esta não deveria mais ter
caráter meramente instrumental (CALDAS, 2015, p. 22)
Esta contextualização tem uma função quase didática. Não é a partir deste artigo,
obviamente, que o CPC deverá passar a submeter-se à Constituição Federal. Trata-se de um
dispositivo que deve ser lido antes de todo e qualquer outro dispositivo que integra o Código,
que deve ser compreendido a partir dos princípios constitucionais fundamentais. O artigo dá
ênfase à imposição que já existe, ou seja, a de que o CPC deve ser interpretado à luz da
Constituição Federal.
A eclosão da tese da eficácia imediata dos direitos fundamentais, aliada a
percepção do compromisso, firmado pelos ordenamentos jurídicos contemporâneos, com a
promoção da dignidade despertaram a melhor doutrina para a imprescindibilidade de uma
releitura dos ordenamentos processuais (CALDAS, 2015, p. 22)
Nessa perspectiva, o artigo 1º do CPC-2015 procura contemplar os valores e
direitos fundamentais presentes nas normas e princípios, que visam garantir a convivência
pacífica, digna, livre e igualitária de toda a sociedade.
Todavia, a de ser feita uma ressalva, pois a inclusão da palavra valores foi
colocada como sendo um elemento autônomo. Observa-se que no momento que em que o
texto diz “normas fundamentais da constituição federal”, termo que é normalmente
empregado como gênero, de que são espécies de regras propriamente ditas e princípios, já é
dizer valores, pois os valores têm de ter sidos encampados pelos princípios. Assim, contempla
uma visão neoconstitucionalista do Estado Democrático de Direito
Maria Helena Diniz afirma que os princípios são “cânones que não foram ditados,
explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma
imanente no ordenamento jurídico”. Observa Jeanneau que os princípios não têm
existência própria, estão ínsitos no sistema, mas é o juiz que, ao descobri-los, lhes dá
força e vida (TARTUCE, 2015, p. 18).
5
Segundo Fred Didier, esse modelo faz oposição ao modelo inquisitorial (não adversarial), que se organiza
como uma pesquisa oficial, sendo o órgão jurisdicional o grande protagonista do processo.
Theodoro Júnior (2015, p.140) alerta que, numa visão moderna, os princípios do
dispositivo e do inquisitivo não merecem mais a consagração dos Códigos, pois as legislações
processuais são mistas e apresentam preceitos tanto de ordem inquisitiva como dispositiva.
Ainda sobre esse assunto vai além:
Se o interesse em conflito é das partes, podem elas renunciar à sua tutela, como
podem renunciar a qualquer direito patrimonial privado. Daí a liberdade de procurar
ou não a prestação jurisdicional, bem como de exercitar ou não as defesas e
faculdades que a relação processual lhes enseja. Contudo, uma vez deduzida a
pretensão em juízo, já existe outro interesse que passa a ser de natureza pública e
que consiste na preocupação da justa composição do litígio, segundo o direito
material vigente, dentro do menor tempo possível. Não pode o Estado permitir a
eternização dos processos, porque “justiça tardia é justiça desmoralizada”
(THEODORO JR, 2015, p.141)
A segunda parte do art. 2° contemplou algo que já era conhecido no processo civil
brasileiro, isto é, uma vez instaurado, o processo desenvolve-se por impulso oficial,
independentemente de novas provocações da parte. No entanto, tal regra não impede que o
autor simplesmente desista da demanda e, com isso, o processo seja extinto sem exame do
mérito (DIDIER JR, 2015, p.146).
Portanto, cabe ao Juiz dar andamento ao processo. Este princípio é da tradição dos
processos de civil Law. Todavia, o CPC contém um conjunto de regras que alteram as feições
do principio do impulso oficial, são as que tratam das convenções processuais prevista no
artigo 190 do seu texto legal. In verbis:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito
às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se
encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. (BRASIL, 2015, não paginado)
6
Para Didier, cláusula compromissória é a convenção em que as partes decidem, prévia e abstratamente, que as
divergências oriundas de certo negócio jurídico serão resolvidas pela arbitragem; as partes, antes do litígio
surgir, determinam que, uma vez ele ocorrendo, a sua solução, qualquer que seja o conflito, desde que decorra de
certo negócio jurídico, dar-se-á pela arbitragem.
7
Para Didier, compromisso arbitral é o acordo de vontades para submeter uma controvérsia concreta, já
existente, ao juízo arbitral, prescindindo do Poder judiciário. Trata-se, pois, de um contrato, por meio do qual se
renuncia à atividade jurisdicional estatal, relativamente a uma controvérsia específica e não simplesmente
especificável.
O Ordenamento jurídico brasileiro tende a estimular a autocomposição. Nesse
sentido, os § 2º e § 3º do referido artigo trazem uma solução negocial para os conflitos,
fazendo com que doutrinadores, como Fred Didier elevem o instituto à categoria de princípio.
O novo CPC, por seu turno, prevê que essa garantia de duração razoável do processo
aplica-se ao tempo de obtenção da solução integral do mérito, que compreende não
apenas o prazo para pronunciamento da sentença, mas também para a ultimação da
atividade satisfativa. É que condenação sem execução não dispensa à parte a tutela
jurisdicional a que tem direito. A função jurisdicional compreende, pois, tanto a
certificação do direito da parte, como sua efetiva realização. Tudo isso deve ocorrer
dentro de um prazo que seja razoável, segundo as necessidades do caso concreto
(THEODORO JR, 2015, p.148).
.
Como a proposta do novo texto legal processual é de aproximação com a
Constituição de 1988, é conveniente lembrar que a Emenda Constitucional nº 45/2004, incluiu
o inciso LXXVIII no seu art. 5º. inverbis:
Art. 5º
(...)
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação
(BRASIL, 2016).
Fred Didier cita a Justiça Eleitoral para verificar a aplicação desse princípio.
Então, vejamos:
Há uma regra no direito brasileiro que pode servir de parâmetro. De acordo com o
art. 97-A da Lei 9.504/ 1997, acrescentado pela Lei nº 12.034/2009, reputa-se
razoável o prazo de um ano, incluindo a tramitação em todas as instâncias, para a
duração do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo. Esse prazo
começa a conta da apresentação da demanda perante a justiça Eleitoral. Se houver
desrespeito a esse prazo, caberá representação disciplinar contra o juiz ou o Tribunal
(art. 97, Lei n. 9.504/1 997), sem prejuízo da representação perante o Conselho
Nacional de justiça (art. 97 -A, § 2°, da Lei 9.504 /1 997) (DIDIER JR, 2015, p.95-
96).
Em que pese tudo isso, o Pacto de São José da Costa Rica, em seu art. 8º, ratifica
a ideia de que toda pessoa tem o direito de ser ouvida, por um juiz ou Tribunal, dentro de um
prazo razoável (DIDIER, 2015, p.93).
Nos dizeres de Marinoni (2015, p.97), o direito à duração razoável do processo
não implica direito a um processo rápido ou célere. O que se quer dizer com isso é que não
haja desproporcionalidade entre a duração do processo e a complexidade do debate
processual.
Ainda que de modo indireto, sobre uma atitude cooperativa é que versa o art. 5º.
Este dispositivo diz respeito ao comportamento das partes e de todos aqueles que participam
do processo.
Não se trata de investigar intenções ocultas das partes e dos demais participantes
do processo. Trata-se de verificar se sua conduta está de acordo com o direito. A conduta é
considerada a exteriorização da boa ou da má fé e é analise da conduta que importa, não das
intenções.
No dever de agir com a boa fé8 se inclui o de dizer a verdade, o de não criar
embaraços ao cumprimento de decisão judicial, o de exibir documento em seu poder cujo
exame, pelo juiz. Seja necessário para decidir o mérito (e isso diz respeito até o terceiro);
quanto ao juiz, deve, por exemplo, declarar-se suspeito quando o for, respeitando a isonomia
8
Aqui a boa-fé deve ser entendida no sentido objetivo.
entre as partes. O novo código, como o ainda vigente, prevê punições de natureza pecuniária
para os que agem de má fé. Diante disso, assevera a doutrina:
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Nos Ensinamentos de Luiz Flávio Gomes, cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que não
trazem expressamente uma solução jurídica (consequência). A norma é inteiramente aberta.
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STF, 2, T., RE n. 464.963-2-GO, relator Min. Gilmar Mendes, j. em 14.02.2006, publicado no DJ de
30.06.2006.
3.6. Análise do artigo 6º
A ideia de cooperação, por vezes, atinge não só as partes, mas a própria sociedade
que se faz presente, por meio dos amicus curie ou mesmo grupos que participam das
audiências públicas, que são marcadas quando a questão a ser decidida pelo Judiciário tem
grande repercussão social.
O princípio da cooperação tem como base os princípios do devido processo legal,
da boa-fé processual e do contraditório (DIDIER, 2015, p.124-125). Assim, tal princípio tem
o condão de mostrar como o processo civil deve ser estruturado no ordenamento jurídico
brasileiro. Nesse sentido:
O Artigo oitavo, por sua vez, enumera os fins e exigências a serem seguidas:
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Segundo Adolfo Álvaro Veloso, o garantismo processual é uma posição doutrinária firme (aferrada) quanto à
manutenção da irrestrita vigência da Constituição e, com ela, da ordem legal vigente no Estado, de modo que tal
ordem se adéque com plenitude às normas programáticas dessa mesma Constituição. Em outras palavras, os
doutrinadores que assim entendem não buscam um juiz comprometido com certas pessoas (=grupos de pessoas)
ou coisa distinta da Constituição, mas sim um juiz que se empenhe em respeitar a todo custo as garantias
constitucionais.
Este dispositivo estabelece alguns parâmetros à luz dos quais o juiz deve aplicar o
ordenamento jurídico processual, para presidir o procedimento; e material para decidir a lide.
O artigo traz parâmetros ligados a princípios constitucionais, outros a finalidades do próprio
direito e alusão a um conceito de natureza filosófica, que, se de um lado, não pode ser
compreendido a partir do senso comum, de outro, não pode exigir do interprete profundo
conhecimento de filosofia.
Fins sociais e exigências do bem comum são finalidades do próprio direito. A
dignidade da pessoa humana é principio consagrado expressamente pela Constituição Federal.
Para Fred Didier o dispositivo é aparentemente desnecessário, pois a dignidade da pessoa
humana já é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1°, III, CF/1 988)
(DIDIER, 2015, p.75). Assevera ainda:
A legalidade há de ser compreendida a luz dos padrões dos nossos dias. Há muitas
décadas, vem considerando-se o entendimento no sentido de que o juiz não está vinculado à
lei, em sua literalidade. O juiz está vinculado ao sistema jurídico, que é composto de normas,
interpretadas pela jurisprudência, a luz da doutrina. Estes elementos, jurisprudência e
doutrina, funcionam como filtros em relação ao texto da lei, e é ao resultado deste filtro que o
juiz deve estar vinculado. Assevera Didier que:
De acordo com o par. ún. do art. 723 do CPC, pode o órgão jurisdicional, na
jurisdição voluntária, não observar a legalidade estrita, decidindo de acordo com
critérios de conveniência e oportunidade. O enunciado é velho (consta do texto
originário d o CPC- 1 9 7 3) e foi criado para conferir ao órgão jurisdicional uma
maior margem de discricionariedade, tanto na condução do processo quanto na
prolação da decisão e m jurisdição voluntária (DIDIER JR, 2015, p.187).
Ainda na lição de Didier, pode-se concluir que a regra é que os atos processuais
sejam públicos.
Os atos processuais hão de ser públicos. O princípio da publicidade gera o direito
fundamental à publicidade. Trata-se de direito fundamental que tem, basicamente,
duas funções: a) proteger as partes contra juízos arbitrários e secretos (e, nesse
sentido, é conteúdo do devido processo legal, como instrumento a favor da
imparcialidade e independência do órgão jurisdicional); b) permitir o controle da
opinião pública sobre os serviços da justiça, principalmente sobre o exercício da
atividade jurisdicional (DIDIER, 2015, p.86).
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701 (BRASIL, 2015).
Assim, não seria legítimo aplicar uma punição a uma das partes sem que a outra
tenha se manifestado, ou seja, pensar dessa forma seria admitir uma punição sem
contraditório.
O contraditório, em sua versão contemporânea, abrange a necessidade de que as
partes sejam ouvidas mesmo quando o juiz pretende resolver matéria sobre a qual pode se
manifestar de oficio e também a necessidade de que a atividade das partes em contraditório
seja levada em conta pelo juiz, ao decidir. Esta exigência, que revela uma outra faceta do
principio do contraditório, se manifesta de modo concreto no minucioso dispositivo, que traz
o CPC2015, acerca da motivação da sentença. Neste artigo, a nova lei deixa claro o dever do
juiz, no sentido de apreciar os elementos trazidos pelas partes, tanto para acolhê-los, quanto
para rejeitá-los. Diante disso, uma decisão-surpresa é decisão nula, por violação ao princípio
do contraditório (DIDIER, 2015, p.82).
O contraditório pode ser postergado, se tratar da concessão de tutela provisória de
urgência; de tutela provisória de evidencia concedida porque, além da evidencia, as alegações
de fato feitas pelo autor possam ser demonstradas apenas por documentos e haja tese firmada
em julgamento de recursos repetitivos (incidente de resolução de demandas repetitivas e
recursos extraordinários e especiais repetitivos); ou em sumula vinculante; ou se tratar de
pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada ao contrato de deposito, caso
em que a lei especifica o conteúdo da liminar ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa. Assim, nos ensinamos de Theodoro Júnior:
Art. 10 - O juiz não pode decidir em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício
(BRASIL, 2015).
Não pode o órgão jurisdicional decidir com base em um argumento, uma questão
jurídica ou uma questão de fato não postos pelas partes no processo. Perceba: o
órgão jurisdicional, por exemplo, verifica que alei é inconstitucional. Ninguém
alegou que a lei é inconstitucional. O autor pediu com base em uma determinada lei,
a outra parte alega que essa lei não se aplicava ao caso. O juiz entende de outra
maneira, ainda não aventada pelas partes: "Essa lei apontada pelo autor com o
fundamento do seu pedido é inconstitucional. Portanto, julgo improcedente a
demanda". O órgão jurisdicional pode fazer isso, mas deve antes submeter essa nova
abordagem à discussão das partes (DIDIER, 2015, p.81).
Assim, o correto seria o órgão jurisdicional sempre intimar as partes para que
estas se manifestem, corroborando assim com os princípios cooperativo e democrático.
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos e
fundamentados todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença
somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos. (BRASIL, 2015).
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre
o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
(...)
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação (BRASIL, 2015).
Daí que todos, e não apenas os litigantes, têm direito de conhecer e acompanhar tudo
o que se passa durante o processo. Aliás, a publicidade é exigência do Estado
Democrático que não se limita aos atos do Judiciário, pois a Constituição a impõe
como princípio fundamental da Administração Pública praticada na esfera de
qualquer dos Poderes institucionais (CF, art. 37) (THEODORO JR, 2015, p. 167).
Outra implicação importante foi a criação de uma ordem para que os processos
sejam julgados. O código anterior era omisso em relação a isso e deixava ao bel prazer do
magistrado o cronograma elaborado para decidir. O Novo Código de Processo Civil avança e
afasta essa faculdade do juiz, deixando claro que o julgamento dos processos devem obedecer
à antiguidade, independentemente da complexidade da causa. Tal entendimento também tem
aporte constitucional no art. 5º LXXVIII, in verbis:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAL
CALDAS, Adriano Ribeiro et al. Novo código de processo civil anotado. Porto Alegre:
OAB. 2015.
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 17ª ed. V. 1. Salvador:
Juspodivum, 2015.
FREIRE, Alexandre et al. Novo CPC anotado e comparado para concursos. São Paulo:
Saraiva, 2015. 1ª Ed.
GUSTIN, Miracy B.S. DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica:
teoria e prática. 4º Ed. Rev. e Atual. Belo Horizonte. Del Rey. 2013.
MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
TARTUCE, Flávio. CPC e o Direito Civil. São Paulo: Método. 2015, Volume único.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 56. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015. v.1.