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Ficha Técnica
Título:
Manual de Processo Civil I & Perspectivas da Reforma
Autor:
Hermenegildo Cachimbombo
© Hermenegildo Cachimbombo
Composição, paginação, acabamento e design capa:
Casa das Ideias - Divisão Editorial
Edição:
1.ª edição - Abril 2017
Tiragem:
1.500 exemplares
Depósito Legal:
7894/2017
ISBN:
978-989-8396-71-6
Impressão:
Damer Gráfica, S.A.
Contactos:
Casa das Ideias - Divisão Editorial
Rua Mártires do Kifangondo
Rua 19 - n.º 21 - Luanda - ANGOLA
T_ +244 933 886 868 / +244 937 693 629
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www.whereangola.com
Reservados todos os direitos. É proibida a reprodução desta obra por qualquer meio (fotocópia, offset, fotografia, digitalização, etc.)
sem o consentimento por escrito da Editora ou do autor, abrangendo esta proibição os conteúdos paginados, o arranjo gráfico e o
design da capa. A violação destas regras é passível de procedimento judicial.
À
Minha mãe
Rosalina Fernando
Pelo exemplo de vida com que sempre nos
brindou, cujo expoente máximo é a forma
como nos últimos anos tem lutado para se
manter entre nós.
AGRADECIMENTOS
5
NOTA PRÉVIA
7
PREFÁCIO
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Manual De Processo Civil I & Perspectivas da Reforma
Por outro lado, não deixa de ser também interessante a possibilidade de emer-
gência da chamada inversão do contencioso que culmina com a consumpção
da acção principal pela providência cautelar.
De forma lapidar, o manual aproveita o embalo do impulso processual para
referir-se ao sistema judicial acessível a todos os cidadãos sem qualquer forma
de descriminação, sobretudo económica, onde o Estado se compromete na
realização de despesas para o asseguramento do acesso à justiça.
É também notório o tratamento que se dá aos emergentes Tribunais da Rela-
ção e dos, agora denominados, Tribunais de Comarca, onde se parece de todo
acertado conferir aos estudantes de hoje instrumentos jurídicos e científicos
para o domínio do método judicativo de amanhã.
De resto, o presente manual vem suprir um grande vazio de que padece o nos-
so ainda escasso acervo bibliográfico jurídico-científico. Porquanto, até então,
a compreensão académica e investigativa do direito adjectivo angolano tem
sido feita com quase exclusiva mobilização de doutrinas estrangeiras, máxime,
portuguesa, onerando o estudante-investigador com o doloroso exercício de
adaptação à realidade jurídica angolana.
Ilustre Dr. Hermenegildo Cachimbombo, a comunidade académica agradece o
facto de a ter brindado com um manual capaz de tornar a doutrina do Direito
Processual Civil Declarativo angolano mais enriquecida.
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ÍNDICE
I PARTE 21
Geral 21
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Manual De Processo Civil I & Perspectivas da Reforma
II PARTE
Estrutura da Relação Jurídica Processual. As Partes e o Objecto 77
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Manual De Processo Civil I & Perspectivas da Reforma
III PARTE
Dinâmica da Relação Jurídica Processual
O Formalismo do Processo Declaratório Ordinário 131
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LEGISLAÇÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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I PARTE
Geral
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1.2. Características
1.2.1. Ramo de Direito Público
Tradicionalmente, nos primeiros anos do curso de Direito, estuda-se um con-
junto de critérios que nos permitem classificar os diversos ramos do Direito
em: ramos de direito público e ramos de direito privado. No entanto, com
base em considerações alheias ao âmbito da presente obra, modernamente,
há autores que consideram que a distinção entre ramos de direito público e
ramos de direito privado é cada vez mais residual, começando-se a falar da
crise do direito público.
Mas, independentemente do acerto ou não das correntes de pensamento aca-
badas de referir, que no essencial se baseiam em ideologias que defendem o
maior ou menor intervencionismo do Estado, o que interessa é que, seja qual
for o critério que abraçarmos para estabelecer a sobredita distinção, a conclu-
são é una – o Direito Processual Civil é um ramo de direito público.
Se nos guiarmos pelo critério da posição dos sujeitos da relação jurídica, com
base no qual se consideram como ramos de direito público aqueles que regu-
lam as relações entre o Estado e os particulares ou entre o Estado e as demais
pessoas colectivas públicas, desde que o Estado intervenha na relação jurídica
em causa investido dos seus poderes de autoridadeV, concluímos que o Direito
Processual Civil é um ramo de direito público.
A relação jurídica processual simples é estabelecida entre três sujeitos: (i) um
sujeito público e imparcial, o Estado, representado pelo Tribunal; e (ii) dois
sujeitos privados, Autor e Réu. O Tribunal, que intervém na relação proces-
sual para realizar o interesse público da paz social, como já acima se disse,
dispõe, na referida relação, de autoridade para ditar soluções de cumprimento
obrigatório para os outros sujeitos processuais.
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fixado por Despacho do Ministro das Finanças de três em três meses, por
16000, no caso da Câmara do Cível e do Administrativo, e por 8000, no caso
da Sala do Cível e do Administrativo.
Aos 27 de Novembro de 2012, Sua Excelência o Presidente da República,
titular do poder Executivo, por intermédio do Despacho Presidencial n.º 124,
instituiu a Comissão da Reforma da Justiça e do Direito. Entre as atribuições
da Comissão da Reforma, consta a de adequar os principais diplomas estru-
turantes da ordem jurídica angolana aos novos princípios introduzidos pela
Constituição de 2010 (CR), de forma a tornar a justiça mais célere e eficaz.
No cumprimento do seu mandato, a que inicialmente foi atribuído uma dura-
ção de dois anos, a Comissão, no que à nossa matéria diz respeito, considerou
essencial a revisão da organização judiciária e, sequencialmente, a aprovação
do CC e do CPC.
Nesse ínterim, em Fevereiro de 2015 foi publicada a Lei n.º 2/15 que, revo-
gando a Lei n.º 18/88, estabelece uma nova organização judiciária que com-
porta no topo o Tribunal Supremo, com jurisdição alargada a todo o terri-
tório nacional, Tribunais de Relação, com jurisdição circunscrita aos limites
das respectivas regiões judiciárias, estabelecidos em tabela anexa à Lei, e os
Tribunais de Comarca, cujas jurisdições abrangem determinados Municípios
da Província Judiciária em que se enquadram, também conforme estabelecido
em tabela anexa.
No contexto desta nova organização judiciária, os Tribunais de Comarca pas-
sam a ser os tribunais de jurisdição plena e os Tribunais de Relação os tribu-
nais de recurso, julgando tanto a matéria de facto como a matéria de Direito.
O Tribunal Supremo recupera a sua condição de tribunal de revista, o que
significa que aprecia em sede de recurso, em regra, apenas matéria de Direito.
No concernente aos princípios norteadores da organização judiciária, entre-
tanto estabelecida, é de salientar o desenvolvimento do princípio constitucio-
nal da autonomia administrativa e financeira dos Tribunais, que passam a ser
verdadeiras unidades orçamentadas, e o princípio da proximidade da justiça ao
cidadão. O segundo dos princípios enunciados implicou o abandono da ideia
da tendencial coincidência entre a organização administrativa e a organização
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deve ater-se à letra da lei, devendo também considerar a partir dos textos o
pensamento do legislador, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema
jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas
do tempo em que é aplicada.
Do enunciando do artigo 9.º CC, concluímos que para interpretar uma norma
jurídica, em função da sua maior ou menor complexidade, o aplicador dispõe
de um elemento gramatical, o texto da norma, de um elemento teológico ou
racional, o propósito visado pelo legislador ao criar a norma, de um elemento
sistemático, o enquadramento da norma interpretada no conjunto de outras
normas que dentro do sistema jurídico regulam o mesmo problema, e de um
elemento histórico, as actas e demais documentos produzidos no âmbito de
todo o processo de elaboração da norma.
Como já é do domínio de quase todos nós, para atingir o resultado final da sua
tarefa o intérprete poderá não precisar de lançar mão de todos os elementos
que a hermenêutica jurídica lhe disponibiliza, tudo dependendo da maior ou
menor complexidade da norma a interpretar.
Apesar de que, como acima referimos, o artigo 9.º CC ter como foco a inter-
pretação de normas jurídicas substantivas ou materiais, a interpretação das
normas processuais não suscita quaisquer especificidade que justificassem o
recurso a uma técnica interpretativa distinta da que se dispõe para a interpre-
tação das normas substantivas.
Logo, para interpretação das normas processuais, com as devidas adaptações,
devemos recorrer à mesma técnica que subjaz a interpretação das normas
processuais, sendo que o CPC não contém regulamentação específica sobre
o tema.
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possa dar solução ao caso omisso, o julgador deve fazer recurso a uma norma
ad hoc.
Só será legítima a aplicação de norma criada para regular um caso para dar
solução ao caso omisso se as razões justificativas da regulamentação do caso
previsto forem consideradas extensivas ao caso omisso. Não existindo caso
análogo, o julgador deve colocar-se na posição de legislador e projectar uma
norma que, dentro do espírito do sistema, o segundo criaria se tivesse previsto
o caso omisso.
À semelhança do que referimos em sede do 1.4., as técnicas de integração das
leis previstas nos artigo 10.º CC, foram pensadas tendo em vistas as lacunas
da lei substantiva. Contudo, porque não existem particularidades ao nível das
normas processuais que reivindicam tratamento diferenciado, mutatis mutandi,
as mesmas servem para a integração das leis processuais.
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com vista à correcção das injustiças e/ou ilegalidades, a operar por um tribu-
nal diferente e hierarquicamente superior, em regra.
Sobre o tema, prima facie temos de distinguir as normas que fixam as condições
de admissibilidade do recurso, das normas que se limitam a estabelecer o for-
malismo processual, ou seja, a tramitação da instância de recurso.
No concernente à segunda categoria de normas, as que se limitam a cuidar
dos trâmites da instância de recurso, por não serem susceptíveis de colidirem
com os direitos subjectivos materiais das partes, são de aplicação imediata,
conforme o princípio geral em matéria processual.
Relativamente às primeiras, as que fixam as condições de admissibilidade dos
recursos, devem ser distinguidas as situações seguintes:
– Se a nova lei admitir recurso de decisões que anteriormente o não com-
portavam, não se deve aplicar às decisões já proferidas à data da sua
entrada em vigor, sob pena de destruição retroactiva do caso julgado;
– Se a nova lei afastar a possibilidade de recurso em casos onde era ante-
riormente admitido, não se deve aplicar aos recursos já interpostos à data
da sua entrada em vigor, sob pena de ferir as legítimas expectativas das
partes;
– Em relação às decisões que venham a ser proferidas de futuro em acções
pendentes, ou seja, intentadas antes do início da vigência da nova lei, é
aplicável imediatamente que admita recurso onde anteriormente não se ad-
mitia, que negue recurso em relação à decisões anteriormente recorríveis.
Não encontrando nenhuma das duas espécies de disposições transitórias, o
aplicador solucionará o problema aplicando o critério incorporado na já enun-
ciada doutrina da aplicação imediata da lei processual.
Considerando, por um lado, que as leis processuais em regra não são sus-
ceptíveis de contenderem com os direitos subjectivos materiais das partes,
porquanto não são elas que integram os critérios de resolução dos conflitos
de interesses, como já acima se disse, e atendendo a que o legislador quando
substitui uma determinada lei processual pretende sempre aperfeiçoar o sis-
tema de administração jurisdicional da justiça, por outro lado, não existem
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Para solução deste problema, A moveu contra B uma acção declarativa de con-
denação, por via da qual pediu ao tribunal que declarasse a existência do seu
direito de exigir de B o cumprimento das obrigações assumidas e que o con-
denasse a entregar imediatamente o veículo e os respectivos documentos, bem
como a indemnizá-lo pelos prejuízos que entretanto a conduta de B lhe causou.
Já as acções constitutivas, porque destinadas a autorizar uma mudança na or-
dem jurídica existente, constituindo, modificando ou extinguindo relações ju-
rídicas pré-existentes, constituem os instrumentos para a realização de direitos
potestativos.
Como sabemos, o conteúdo dos direitos potestativos densifica-se pela facul-
dade concedida a uma das partes da relação jurídica de, por acto próprio ou
integrado por um acto de uma autoridade pública, no caso, o tribunal, pro-
duzir efeitos jurídicos na esfera da contraparte independentemente da sua
vontadeXVII.
Vejamos a hipótese de, com fundamento em constantes atropelos ao dever de
respeito, que deterioraram irremediavelmente os pressupostos sobre os quais
assentavam o matrimónio que mantinha há já dez anos, a Senhora A requereu,
na Sala de Família do Tribunal Provincial de Luanda, uma acção de divórcio li-
tigioso. Tendo sido provados os factos invocados pela Requerente, e porque à
luz do Direito de Família vigente constituem causa bastante para a dissolução
do vínculo conjugal, o Tribunal decreta a dissolução do matrimónio indepen-
dentemente da vontade que o cônjuge marido manifestar.
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Contudo, nos diversos casos, para que os documentos elencados possam efec-
tivamente desempenhar o seu papel, o de servir de base à execução, é necessá-
rio que estejam preenchidos os respectivos requisitos de exequibilidade, pelo
que se impõe a leitura atenta do artigo 47.º e seguintes.
Por razões lógicas, o artigo 46.º apenas confere a natureza de título executivo
s sentenças condenatórias, entendidas como as obtidas em acções declarativas
de condenação julgadas procedentes, isto é, que condenam o réu no(s) pedi-
do(s) formulado pelo autor.
Temos assim que ficam excluídas do rol de títulos executivos (i) as sentenças
absolutórias, porque, tendo absolvido o réu da instância ou do pedido, sobre
ele não recai nenhum comando (ordem) judicial de cumprimento obrigatório
que possa ser objecto de execução; (ii) as sentenças proferidas no contexto das
acções de simples apreciação, porque aqui o tribunal não emite nenhuma or-
dem judicial, limitando-se a declarar a existência ou inexistência de um direito;
e (iii) as sentenças proferidas no âmbito das acções constitutivas, cujos efeitos
se materializam a partir do momento do prolação da sentença, como que se
de execução instantânea se tratasse.
Em função da natureza da obrigação certificada pelo respectivo título executivo,
o que equivale dizer que tendo em atenção as providências específicas que o
exequente requer que o tribunal pratique para assegurar a reparação efectiva do
seu direito, as acções executivas dividem-se ou classificam-se em acções execu-
tivas para pagamento de quantia certa, acções executivas para entrega de coisa
certa e acções executivas para prestação de facto, positivo ou negativo – n.º 2
do artigo 45.º.
As primeiras, ou seja, as acções executivas para o pagamento de quantia certa,
destinam-se a assegurar o cumprimento coercivo de obrigações pecuniárias.
Nessas acções, o tribunal invade a esfera jurídica patrimonial do devedor (exe-
cutado) e retira o dinheiro necessário para o cumprimento da obrigação e,
caso não exista dinheiro ou não seja suficiente, desapossa bens que vende e
com o produto da venda, substituindo-se o devedor, paga o credor.
Se, porém, o título executivo certificar uma obrigação de entregar uma coisa
ou de prestar um facto, lançar-se-á mão, respectivamente, da execução para
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Se multiplicarmos os 16.000 UCF por Kz 88,00, valor de cada UCF com base
no último Despacho do Ministro das Finanças, a alçada do Tribunal Supremo
em Kwanzas é de 1.408.000,00, e com base na mesma operação aritmética a
alçada dos Tribunais Provinciais é de Kz 704.000,00.
Já o valor da acção é a utilidade económica directa que o autor, em caso de
ganho de causa, retira da acção (artigo 305.º do CPC). Para determinação do
valor da acção deve-se atribuir um valor certo, expresso em moeda com curso
legal, ao pedido ou pedidos nela formulados, com base nos critérios específi-
cos regulados no artigo 306.º e seguintesXXI.
Relacionando as variáveis acima descritas, adentro do processo comum de
declaração, o legislador traçou formalismos mais ou menos solenes que nos
conduzem a três formas de processo distintas, nomeadamente, o processo
ordinário, o processo sumário e o processo sumaríssimo.
Em função da maior ou menor complexidade técnica do problema em aprecia-
ção, do maior ou menor valor económico do bem jurídico em disputa, o legis-
lador submete a acção a um formalismo que disponibiliza às partes mais instru-
mentos processuais para a defesa das suas pretensões, sendo que na triologia
supra referida o formalismo mais solene é o subjacente ao processo ordinário.
Para determinamos qual das formas do processo comum de declaração que,
em concreto, devemos seguir, torna-se mister o recurso ao artigo 460.º, sendo
que a sua interpretação deve ser feita com as adaptações que se impuserem
conforme a organização judiciária com a qual estivermos a lidar, como acima
deixamos subentendido.
Assim, interpretando o artigo 462.º ao abrigo da organização judiciária es-
tabelecida pela Lei n.º 18/88, devemos observar a forma ordinária quando,
interposta uma acção no Tribunal Provincial, o valor desta exceder a alçada
do Tribunal Supremo; se o valor da acção não exceder a alçada do Tribunal
Supremo, emprega-se o processo sumário, excepto se não ultrapassar a meta-
de do valor fixado para a alçada do Tribunal Provincial e a acção se destinar
a uma das três finalidades: (i) cumprimento de uma obrigação pecuniária, (ii)
efectivação de uma indeminização por danos, ou (iii) entrega de coisas móveis,
sendo nesses três últimos casos aplicável o processo sumaríssimo.
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Face ao que até aqui ficou dito, podemos divisar os seguintes elementos carac-
terizadores de cada uma das jurisdições:
i. Na jurisdição voluntária, ao contrário da contenciosa, predomina o prin-
cípio do inquisitório. Nessa conformidade, o n.º 2 do artigo 1409.º con-
cede ao juiz a faculdade de investigar livremente os factos, bem como
permite-lhe ordenar os inquéritos e recolher as informações que julgar
convenientes;
ii. Como base no artigo 1410.º, sem prejuízo da necessidade do respeito
das disposições legais de natureza imperativa, o tribunal, na decisão dos
casos, pode substituir os juízos de legalidade por juízos de equidade, con-
trariamente ao que sucede na jurisdição contenciosa;
iii. As decisões (resoluções) dos tribunais em sede da jurisdição voluntária,
com fundamento na alteração superveniente das circunstâncias com base
nas quais se decidiu, são sempre passíveis de alteração, o que significa di-
zer que, ao contrário do que sucede no âmbito da jurisdição contenciosa,
o poder jurisdicional do juiz não se esgota com a prolação da sentença
– artigos 666.º e n.º 1 do artigo 1411.º;
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iv. Com referência ao n.º 2 do artigo 1411.º, das resoluções não é admissível
recurso para o Tribunal Supremo.
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Estrutura da Relação Jurídica Processual. As Partes e
o Objecto
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Do que acima fica vertido sobre este tema, podemos então concluir que o ob-
jecto do processo é formado pelo pedido e pela causa de pedir, que traduzem
os elementos objectivos da relação processual ou, se preferirem, da instância.
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Alinhado com que se acaba de dizer, o artigo 5.º do CPC refere que a perso-
nalidade judiciária consiste na susceptibilidade de ser parte e tem esta mesma
susceptibilidade quem tiver personalidade jurídica. Interpretando a norma,
concluímos que o legislador consagrou o princípio da coincidência ou reci-
procidade entre a personalidade jurídica e a personalidade judiciária.
Se é verdade que a personalidade jurídica coincide com a personalidade judi-
ciária, no sentido inverso nem sempre verificamos tal coincidência, uma vez
que para acautelar determinados interesses, como sejam, a defesa de direitos
de terceiros ou a necessidade de proteger bens patrimoniais cujos titulares
ainda estejam por determinar, a lei processual, excepcionalmente, concede
personalidade judiciária a realidades destituídas de personalidade jurídica.
Neste sentido, o artigo 6.º do CPC reconhece personalidade judiciária à heran-
ça jacente e aos patrimónios autónomos semelhantes, mesmo que destituídos
de personalidade jurídica. No seguimento, o artigo 7.º atribui personalidade
judiciária as sucursais, agências, filiais e delegações, que como se sabe são
meras formas de representação local das estruturas societárias em que estão
integradas e nessa medida não gozam de personalidade jurídica própria.
Contudo, deve-se atender a limitação decorrente do facto de as sucursais,
agências, filiais e delegações só puderem demandar ou ser demandadas quan-
do a acção proceda de facto por elas praticado, n.º 1 do artigo 7.º.
Mas se a administração principal da sociedade que representam tiver sede ou
domicílio no estrangeiro e a obrigação que se pretenda exigir com acção tiver
sido contraída com um angolano ou com um estrangeiro domiciliado em An-
gola, podem demandar ou ser demandadas mesmo que a acção derive de facto
praticado pela administração principal.
A terceira hipótese de extensão da personalidade judiciária, entenda-se, do re-
conhecimento desta quando não exista personalidade jurídica, tem a ver com
a personalidade das associações, fundações e sociedades irregulares, regulada
no artigo 8.º do CPC.
Como se sabe, pessoas colectivas irregulares são aquelas que, não tendo concluí-
do o seu processo de constituição, e por essa mesma razão ainda não adquiriram
personalidade jurídica, actuam como se já estivessem legalmente constituídas.
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Situações do género desta, se não tivessem tido o tratamento que lhes foi con-
cedido pela lei, poderiam potenciar situações que beneficiariam os infractores,
ou seja, os promotores da iniciativa da sua constituição, em prejuízo das pes-
soas que estabelecerem relações com a pessoa colectiva irregular.
Assim, aparece o artigo 8.º do CPC a conceder às pessoas colectivas e às so-
ciedades irregulares apenas personalidade judiciária passiva, dizendo concre-
tamente que, quando demandadas, não podem defender-se invocando a sua
própria irregularidade, pois tal situação configuraria uma situação de abuso de
direito na modalidade de vinere contra factum proprium.
Todavia, o n.º 2 do citado artigo 8.º contém uma reminiscência de personali-
dade judiciária activa das pessoas colectivas e sociedades irregulares, permitin-
do que, uma vez demandadas, possam deduzir reconvenção, que como já se
sabe consiste no pedido que, respeitados determinados condicionalismos, em
sede de contestação o réu pode formular contra o autor.
Constatada a falta personalidade judiciária, por ser insuprível, porquanto não
existe no código nenhuma norma que se refira a uma eventual forma do seu
suprimento, gera a extinção da extinção da instância, determinando ou o in-
deferimento liminar da petição, quando a falta seja constatada antes da citação
do réu (alínea b) do n.º 1 do artigo 474.º) ou a absolvição do réu da instância,
quando se constate após a citação (alínea c) do n.º 1 do artigo 288.º).
Para concluir este tema, avançamos as propostas de inovações que o projecto
de CPC traz à colação. Prima facie, começa por concentrar num único artigo
o que presentemente está regulado nos artigos 6.º e 8.º do código ao mesmo
tempo que amplia o leque de situações de extensão de personalidade judiciária.
Vê-se assim que artigo 7.º do projecto propõe o reconhecimento, nas suas
alíneas a) e d), de personalidade judiciária às comissões especiais e ao condo-
mínio resultante de propriedade horizontal.
Não ficando por aí, propõe a extinção do tratamento diferenciando que o
artigo 8.º do CPC concede às pessoas colectivas e às sociedades irregulares,
reconhecendo-lhes somente personalidade judiciária passiva, integrando tal
hipótese na previsão da norma do artigo 7.º do projecto e por via consequen-
cial, passando a atribuir tanto personalidade judiciária passiva como activa.
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Seja como for, para que seja admissível a coligação é necessária a verifica-
ção alternativa de um dos pressupostos seguintes: (i) que os diversos pedidos
formulados estejam sustentados pela mesma causa de pedir; (ii) os anteditos
pedidos estejam entre si numa relação de dependência ou prejudicialidade; e
(iii) a procedência dos pedidos formulados dependa essencialmente da apre-
ciação dos mesmos factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras
de direito ou de cláusulas contratuais análogas, ainda que seja diversa a causa
de pedir.
Contudo, é preciso ter em conta que a validade da coligação, nos termos do
artigo 31.º do CPC, depende do facto de os diversos pedidos formulados cor-
responderem a mesma forma de processo e é necessário que o tribunal seja
competente internacionalmente e em razão da matéria e da hierarquia para
conhecer dos diversos pedidos.
Não obstante o que se acaba de dizer, a diversidade da forma de processo que
derive unicamente do valor dos pedidos não deve obstar a coligação. Exem-
plificando, se a um dos pedidos for atribuído valor que, com base nos critérios
consagrados no artigo 462.º do CPC, o processo adequado seria o declarativo
comum sumário e ao outro pedido fixar-se valor que determinaria a aplica-
ção do processo declarativo comum ordinário, deve ser seguida a tramitação
prevista para o processo ordinário, por conter maiores garantias processuais
para as partes fazerem valer as suas pretensões. Mas se um dos pedidos cor-
responder processo comum e a outro processo especial já não é admissível a
coligação.
Não menos despicienda é a prerrogativa reconhecida ao tribunal de, indepen-
dentemente de se verificarem os requisitos para válida coligação, poder deter-
minar ser preferível que as causas sejam instruídas, discutidas e julgadas em
processos separados, sendo que esta determinação deve ser feita em sede do
despacho saneador e, uma vez concretizada, pressupõe a extinção da instância
sem prejuízo de as partes, no prazo de trinta dias a contar do trânsito em julgado
do despacho saneador, puderem mover novas acções separadamente – n.º 2 do
artigo 31.º, in fine.
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No que concerne aos requisitos formais, o artigo 3.º da LAV estabelece que a
convenção deve ser celebrada por escrito, considerando como tal a convenção
inserida em qualquer documento assinado pelas partes ou qualquer corres-
pondência trocada entre elas de que reste prova por escrito.
Quanto aos requisitos substanciais, o artigo 1.º da LAV consagra que só po-
dem celebrar a convenção de arbitragem aqueles que dispuserem de capaci-
dade contratual e o seu conteúdo só pode incidir sobre direitos ou relações
jurídicas disponíveis, e por essa mesma razão arbitráveis.
Logo, os menores, os interditos ou inabilitados, ainda que por intermédio dos
seus representantes, não podem celebrar convenções de arbitragem e o Es-
tado e as demais pessoas colectivas públicas têm a sua capacidade contratual
limitada, porquanto só podem celebrar convenções de arbitragem para dirimir
questões respeitantes às relações de direito privado e nos casos de contratos
administrativos, sem prejuízo dos casos especialmente estabelecidos por lei.
A montante, a LAV considera não arbitráveis os litígios respeitantes a direitos
ou relações jurídicas indisponíveis, colocando fora do âmbito da convenção
de arbitragem, por exemplo, as relações de filiação, os direitos de personalida-
de e os direitos morais de autor.
É importante referir aqui que o artigo 2.º da LAV distingue duas espécies
de convenção de arbitragem, a cláusula compromissória e o compromisso
arbitral. A cláusula compromissória é a convenção segundo a qual as partes
se obrigam a dirimir através de árbitros os litígios que venham a decorrer de
uma determinada relação jurídica contratual ou extra-contratual, ao passo que
o compromisso arbitral é a convenção segundo a qual as partes se obrigam a
dirimir através de árbitros um litígio actual, quer ele se encontre ou não afecto
a um Tribunal Judicial.
No caso da cláusula compromissória, o eventual futuro litígio funciona como
uma condição suspensiva da possibilidade de uma das partes promover a
constituição do tribunal arbitral.
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A questão aqui consiste em saber qual dos tribunais dos estados, com os quais
a relação jurídica manteve contacto, serão abstractamente competentes para
julgar as acções que se mostrarem necessárias para a composição dos litígios.
Para realização deste desiderato, o CPC, no seu artigo 65.º, estabelece quatro
princípios ou critérios para a determinação da competência internacional dos
tribunais angolanos, nomeadamente, o critério da coincidência, da causalida-
de, da reciprocidade e o da necessidade. Antes de avançarmos na análise do
conteúdo de cada um dos critérios elencados, convém esclarecer que, por
força do consagrado no artigo 13.º da CR, os critérios previstos no artigo 65.º
do CPC só são aplicáveis quando não existir um tratado ou acordo interna-
cional de que o Estado angolano seja parte, por um lado, e, por outro lado, os
critérios consagrados naquele normativo não são de verificação cumulativa,
ou seja, basta que se verifique um deles para que os tribunais angolanos se
considerem competentes internacionalmente.
Ademais, não se deve confundir a questão da determinação da competência
internacional dos tribunais angolanos com a questão da eleição ou determi-
nação da lei materialmente competente para resolução do conflito, caindo a
segunda questão no âmbito do Direito Internacional Privado. Em termos prá-
ticos, pode suceder que, com base na aplicação de um dos critérios previstos
no artigo 65.º, os tribunais angolanos sejam competentes para julgar a acção,
mas a lei material aplicável ao conflito seja a de um outro país com a qual a
relação manteve contacto.
Regressando ao artigo 65.º, encontramos consagrado na alínea a) do n.º 1 o
critério da coincidência, nos termos do qual os tribunais angolanos são inter-
nacionalmente competentes quando, segundo as regras da competência ter-
ritorial estabelecidas pela lei angolana, a acção deve ser proposta em Angola.
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No plano doutrinário, este princípio tem sido objecto de críticas pelo facto de,
nos casos em que a causa de pedir seja complexa, o facto ocorrido em Angola
seja o menos relevante de potenciar situações de algum exagero, atribuindo
competência internacional aos tribunais angolanos com base num elemento
de conexão em nada relevante na justa apreciação da causaXXXII.
Prosseguindo, na alínea c) do artigo que nos ocupa está consagrado o prin-
cípio da reciprocidade, nos termos do qual os tribunais angolanos são com-
petentes internacionalmente quando, sendo réu um estrangeiro e o autor um
angolano, o angolano possa ser demandado perante os tribunais do Estado
a que pertence o réu. Portanto, com base neste princípio, concede-se aos ci-
dadãos angolanos a possibilidade de demandarem estrangeiros sempre que,
invertidos os papéis na relação material controvertida, os angolanos possam
ser demandados no estrangeiro.
Como se vê, a racionalidade subjacente a esta norma assenta mais em conside-
rações de natureza política, protecção dos cidadãos nacionais face aos estados
estrangeiros, do que em valorações estritamente jurídicas e/ou de viabilidade
processual. Por ser pacífico este entendimento, de jure condendo defende-se a
eliminação deste princípio ou critério atributivo da competência internacional
dos tribunais angolanos, até porque a referenciada protecção dos cidadãos na-
cionais pode ser efectuada eficazmente com base no princípio da necessidade
desde que correctamente interpretado.
Neste alinhamento, o projecto do CPC aponta para a revogação da actual
alínea do c) do n.º 1 do artigo 65.º e densifica o conteúdo do princípio da
necessidade na alínea c) do futuro artigo 66.º, de modo a incorporar a ideia
da reciprocidade. Para tanto, avança-se com a seguinte proposta de redacção:
«os tribunais angolanos são internacionalmente competentes quando o direito
invocado não possa tornar-se efectivo senão por meio de acção proposta em
território angolano ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na pro-
positura da acção no estrangeiro, desde que exista um elemento ponderoso de
conexão pessoal ou real entre o objecto do litígio e a ordem jurídica angolana».
Regressando ao direito vigente, temos consagrado o princípio da necessidade
na alínea d) do n.º 1 do artigo 65.º do CPC que à letra refere que os tribunais
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mapa judiciário estabelecido pela Lei n.º 18/88, e em sua substituição introduz
o princípio da proximidade da justiça ao cidadão, que se consubstancia num
corolário do princípio constitucional da tutela jurisdicional efectiva – n.º 5 do
artigo 29.º da CR.
Nesta esteira, e com vista essencialmente à repartição do poder jurisdicional
pelos tribunais que com base nesta Lei passam a integrar a organização judi-
ciária, começa por dividir o território nacional em regiões judiciais e provin-
ciais judiciais, sendo que as provinciais judiciais, por sua vez, se desdobram em
comarcas – artigo 20.º
Temos assim que o país passa a contar com cinco regiões judiciais, cujos li-
mites geográficos determinam a jurisdição dos tribunais da Relação e que as
províncias judiciais correspondem às províncias da divisão política-adminis-
trativa.
Cada província judicial conta com o número de comarcas estabelecido no
mapa III anexo à Lei, realçando-se neste tema o facto de a jurisdição de uma
comarca poder abarcar o território de um ou mais municípios da mesma pro-
víncia – artigos 22.º e 23.º.
Dividido o território nacional, a Lei consagra uma organização judiciária co-
mum que tem no topo o Tribunal Supremo, ao nível intermédio os Tribunais
da Relação e na base os Tribunais de Comarca. Os Tribunais da Relação são,
em regra, os tribunais de segunda instância e os Tribunais de Comarca os de
primeira instância, recuperando o Tribunal Supremo a sua vocação natural de
tribunal de revistaXXXIII– artigo 24.º.
Na questão específica da competência em razão da matéria, esta Lei atribui a
plenitude da jurisdição em primeira instância aos tribunais de comarca e esta-
belece como regra a sua competência genérica, querendo significar que estes
conhecem todos os processos relativos a todas as causas não atribuídas por lei
a outros tribunais, entenda-se, de jurisdição especializada – artigo 49.º.
Sem prejuízo da aludida competência genérica, internamente, à semelhança do
que já acontece com os actuais tribunais provinciais, os tribunais de comarca
estruturam-se em salas especializadas em razão da matéria. No âmbito desta
especialização, são criadas a Sala do Cível e Administrativo, a Sala das Ques-
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Temos assim que a jurisdição dos tribunais provinciais, ou seja, a sua com-
petência territorial, se estende aos limites geográficos da província onde o
tribunal tenha a sua sede, sucedendo o mesmo relativamente aos tribunais
municipais.
Quanto ao Tribunal Supremo, a sua jurisdição, como não podia deixar de ser,
é alargada a todo o território nacional.
Voltando-nos para a Lei n.º 2/15, verificamos que para o mesmo fim, isto é,
para repartição territorial da jurisdição, o legislador começou por dividir o país
em regiões judiciais e províncias judiciais.
Neste ínterim, foram criadas cinco regiões judiciais cujos limites geográficos
determinam a jurisdição dos tribunais da Relação, conforme melhor se pode
divisar no Mapa I, anexo àquela lei. Prosseguindo, o legislador determinou
que as províncias judiciais correspondem às províncias da divisão política-ad-
ministrativa do país e que cada província agrega as comarcas da sua circuns-
crição territorial, nos exactos termos espelhados no Mapa II.
À semelhança da Lei n.º 18/88, a Lei n.º 2/15 mantem a jurisdição do Tribu-
nal Supremo alargada a todo o território nacional.
Compreendida que está a divisão judiciária do país, chegou o momento de
percebermos a conjugação que a lei de processo faz entre a circunscrição em
que determinado tribunal tem a sua sede e o elemento de conexão decisivo
para determinação da respectiva competência territorial.
Sobre esta questão, a regra é a que vem consagrada nos artigos 85.º e 86.º
do CPC, segundo a qual nos casos não previstos em disposições especiais é
competente territorialmente o tribunal em cuja circunscrição o réu tenha o seu
domicílio. Se, entretanto, o réu não tiver residência habitual ou for incerto ou
incapaz, deve ser demandado no tribunal do domicílio do autor, ocorrendo
nestes casos a substituição do elemento de conexão domicílio do réu pelo
domicílio do autor, sendo que esta substituição também se verifica quando o
réu seja o Estado.
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Se o réu for uma pessoa colectiva ou sociedade, a regra impõe que seja de-
mandado no tribunal da sede da administração principal ou no da sede da
sucursal, agência, filial ou delegação, conforme a acção seja dirigida contra
uma ou contra outra.
Nos casos em que haja pluralidades de réus, isto é, mais do que um réu, de-
vem ser todos demandados no tribunal onde estiverem domiciliados o maior
número, mas se for igual o número nos diferentes domicílios caberá ao autor
escolher qualquer um deles, como reza o n.º 1 do artigo 87.º do CPC.
A jusante da regra geral que acabamos de analisar, no artigo 73.º e seguintes
o CPC estabelece uma série de elementos de conexão que em determinadas
matérias são elegíveis para a fixação da competência territorial dos tribunais.
A partida, o 73.º consagra a regra do foro real ou da situação dos bens, segun-
do a qual devem ser propostas no tribunal da situação dos bens as acções rela-
tivas a direitos reais sobre imóveis, as acções para arbitramento, de despejo, as
de preferência sobre imóveis e ainda as de reforço e substituição de hipotecas.
Esta regra, além ter um alcance prático considerável, é de natureza imperativa
e está fortemente concatenada com o disposto no artigo 99.º da Lei n.º 10/86,
de 15 de Setembro, que atribui competência internacional exclusiva aos tribu-
nais angolanos para o julgamento de acções em que sejam discutidos direitos
sobre imóveis situados no território nacional.
No artigo 74.º vem estipulado o foro obrigacional, nos termos do qual a acção
destinada a exigir o cumprimento de obrigações ou a indemnização pelo não
cumprimento será proposta no tribunal do lugar em que, por lei ou por con-
venção escrita, a respectiva obrigação deva ser cumprida. Esta regra só opera
no âmbito da responsabilidade civil contratual, já em matéria da responsabili-
dade civil extracontratual, por força do disposto n.º 2 do artigo 74.º, o tribunal
territorialmente competente é aquele que está situado na circunscrição em que
o facto ilícito ocorreu.
Sobre este tópico, o Projecto do CPC, no que à responsabilidade civil contra-
tual diz respeito, sugere a alteração da regra da competência territorial do tri-
bunal do lugar em que, por lei ou convenção, a obrigação devia ser cumprida
pela regra da competência do tribunal do domicílio do réu. Porém, quando o
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No que aos pactos de competência diz respeito, a lei começa por impor a ine-
ficácia da vontade das partes para o pretenso afastamento das regras da com-
petência em razão da matéria e da hierarquia, por entender que estas procuram
a realização de interesses de cariz marcadamente público. Mas já permite o
afastamento por convenção das partes das regras sobre a determinação da
competência interna em razão do valor e do território – n.º 1 do artigo 100.º
A validade dos pactos de competência, quando admissíveis, fica subordinada
à observância de determinados pressupostos ou requisitos, nomeadamente:
(i) o respeito da forma do contrato em que está inserto, que deve ser necessa-
riamente a forma escrita; (ii) a designação das questões a que se refere; e (iii) a
designação do tribunal que passa a ser o competente.
É importante deixar explícito que a competência fundada na estipulação das
partes é tão obrigatória quanto a fundada na lei, como se pode confirmar no
n.º 3 do artigo 100.º do CPC.
Nesta matéria da modificação das regras sobre a competência dos tribunais, o
Projecto do CPC sugere alterações assinaláveis. Desde já, quanto aos pactos
privativos e atributivos de jurisdição que regula no artigo 99.º, contrariamente
ao que actualmente sucede com o CPC, começa por esclarecer que só têm
lugar nas hipóteses de relações materiais controvertidas plurilocalizadas, isto
é, que mantiverem conexão com mais de uma ordem jurídica.
É também de ter em atenção o facto de o Projecto permitir que a designa-
ção convencional de competência internacional possa ser feita exclusivamente
para uma jurisdição estrangeira ou, em alternativa, com a dos tribunais ango-
lanos – n.º 2 do artigo 99.º do Projecto.
O Projecto contém um elenco de requisitos formais e substanciais de validade
desses pactos muito mais enriquecido, isto em relação aos consagrados no arti-
go 99.º do CPC. Resulta do que acaba de se dizer que a validade desses pactos
fica condicionada ao facto de: (i) não incidirem sobre um litígio respeitante a
direitos indisponíveis; (ii) a atribuição de competência ser aceite pelo tribunal
designado; (iii) ser justificada por um interesse sério das partes ou de uma delas;
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(iv) não recair sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais angolanos,
como é o caso das acções em que discutam direitos sobre imóveis; e (v) resultar
de acordo escrito ou confirmado por escrito.
De notar que o conceito de acordo escrito que se pretende introduzir é bas-
tante flexível, abarcando não só a forma tradicional de contrato assinado pelas
partes, mais também a troca de cartas, mensagens electrónicas ou outros meios
de comunicação de que fica prova escrita – n.º 4 do artigo 99.º do Projecto.
Relativamente aos pactos de competência, o Projecto no essencial submete-
-os aos mesmos requisitos formais e substanciais de validade dos pactos de
jurisdição. Nesta sede, a principal alteração a registar consiste no facto de a
lei proibir, a par da competência em razão da matéria e da hierarquia, o afas-
tamento por vontade das partes das regras sobre a competência em razão do
valor – artigo 100.º do Projecto.
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Uma última mais não menos importante inovação sobre o tema prende-se
com o facto de, no que à tramitação diz respeito, a arguição da incompetência
relativa deixar de ter natureza incidental, isto é, de incidente da instância e,
consequentemente, propor-se à expurgação do efeito suspensivo residual que
no regime actual do CPC se pode verificar nas hipóteses cobertas pelo n.º 2
do artigo 110.º.
Assim, mesmo que a incompetência tenha sido arguida pelo réu, o autor pode
e deve responder no articulado subsequente da acção, mas se a tramitação da
acção não comportar mais nenhum articulado, poderá fazê-lo em articulado
próprio no prazo de dez (10) dias, sendo certo que o réu e o autor devem
oferecer as suas provas com o articulado da arguição ou da resposta – n.º 2 e
3 do artigo 108.º do Projecto.
Em relação à consequência, julgada procedente a excepção, à semelhança do
que está consagrado no CPC, o processo deve ser remetido para o tribunal
competente, onde seguirá a sua normal tramitação.
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III PARTE
DINÂMICA DA RELAÇÃO JURÍDICA
PROCESSUAL
O Formalismo do Processo Declarativo Ordinário
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Se a petição contiver deficiências a nível dos seus elementos internos que não
possam ser corrigidas é inepta, sendo que a ineptidão da petição, determinan-
do a nulidade de todo o processo (n.º 1 do artigo 193.º), é uma das causas do
seu indeferimento liminar – alínea a) do n.º 1 do artigo 467.º).
A petição inicial é inepta quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido
ou da causa de pedir, quando o pedido esteja em contradição com a causa de
pedir ou quando se cumulem pedidos substancialmente incompatíveis – n.º 2
do artigo 193.º.
Já as deficiências a nível dos elementos externos, como sejam, a incorrecta
identificação das partes, a falta de assinatura da parte ou do mandatário, a
incorrecta indicação do valor da causa ou da forma do processo, em princípio
conduzem à correcção oficiosa do tribunal ou ao convite ao autor para que
efectue a necessária correcção – n.º 3 do artigo 474.º e n.º 1 do artigo 477.º.
No que se refere aos elementos da petição inicial, as inovações que o Projecto
traz à guisa prendem-se com facto de, em sede do cabeçalho, passar a ser exi-
gida a indicação do domicílio profissional do mandatário judicial e a indicação
do respectivo número de telefone e do e-mail, bem como do número de iden-
tificação fiscal – alínea b) do n.º 1 do artigo 457.º do Projecto.
Essas referências passam a ser obrigatórias para conferir praticabilidade à
ideia do reforço do princípio da cooperação que enforma toda a filosofia do
Projecto.
A par da junção dos documentos destinados à prova dos factos que consti-
tuem a causa de pedir, o Projecto passa exigir a apresentação imediata do rol
de testemunha e o requerimento dos demais meios de prova de que o autor
queira lançar mão, para além de impor a junção à petição do documento com-
provativo do prévio pagamento da taxa de justiça devida, salvo nos casos em
que a parte haja requerido o benefício da concessão de assistência judiciária
– n.os 2 e 3 do artigo 457.º do Projecto.
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À luz do Projecto, nos termos das disposições conjugadas dos seus artigos
229.º e 466.º, 492.º, 493.º e 494.º, na fase dos articulados, em regra, o juiz não
toma contacto com o processo, ocorrendo este contacto pela primeira vez já
na fase do saneamento.
Decorre desta opção que, salvo nos casos excepcionais em que a citação deve
ser precedida de despacho do juiz (n.º 4 do artigo 229.º do Projecto) ou quan-
do a secretaria na sua análise julgue que se verifica a falta de um pressuposto
processual insanável e de conhecimento oficioso, hipótese em que está obri-
gada a submeter o processo ao juiz para decisão (n.º 3 do artigo 229.º e n.º 4
do artigo 230.º do Projecto), em regra, não há lugar a despacho liminar, tanto
o despacho liminar negativo (indeferimento liminar) como o despacho liminar
positivo (despacho de citação).
Mas nos casos em que há obrigatoriedade de prévio despacho de citação, tam-
bém há espaço para ocorrência do indeferimento liminar, aplicando-se nessas
situações o regime traçado no artigo 492.º do Projecto.
No regime projectado, incumbe à secretaria do tribunal promover oficiosa-
mente e em regra sem necessidade de despacho prévio do juiz as diligências
necessárias à citação do réu (n.os 1 e 2 do artigo 229.º do Projecto).
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No que concerne aos documentos que, por força da lei, devem acompanhar a
petição (artigos 280.º e 281.º), salientamos os documentos de prova do cumpri-
mento das obrigações fiscais e do direito invocado nas acções em que se alegue
a propriedade ou posse de determinado prédio ou que tenham por fundamento
actos relativos ao exercício de indústria ou de profissão sujeita a imposto.
Como deficiências que podem comprometer o êxito da acção, indica-se, a
título meramente exemplificativo, a falta de autorização ou de consentimento
quando este seja exigido por lei, como sucede quando um representante de
uma sociedade mova uma acção sem que para tal esteja autorizado ou um dos
cônjuges mova uma acção em que esteja em causa um bem comum sem o
consentimento do outro.
Formulado o convite e tratando-se dos casos de falta de requisitos legais ou de
falta de determinados documentos, pode suceder o seguinte: ou o autor cor-
responde ao convite e preenche os requisitos em falta ou junta os documentos
requeridos, hipótese em que deve ser ordenada a citação do réu prosseguindo
a acção o seu curso normal (n.º 1 do artigo 478.º) ou o autor não adere ao
convite, portanto, não preenche os requisitos legais em falta nem junta os do-
cumentos solicitados, sendo que nessa hipótese a petição deve ser indeferida
(n.º 3 do artigo 314.º).
Se se tratar das situações em que constatando-se irregularidades ou deficiên-
cias da petição o autor reagir ao convite corrigindo-as, de duas uma; ou os es-
clarecimentos prestados fazem concluir que falta um pressuposto processual
ou que a acção é manifestamente improcedente, conclusão que conduzirá ao
indeferimento da petição, ou autor não presta esclarecimentos e a dúvida per-
siste, hipótese em que deve preferencialmente ser ordenada a citação do réu,
deferindo-se o esclarecimento da dúvida para a instrução da causa.
Apesar de não resultar expressamente do texto do Projecto, da interpretação
conjugada das normas dos n.os 1, 2, 3 do artigo 229.º e do n.º 4 do artigo 230.º,
defendemos que pode ser exarado despacho de correcção da petição em vez
de se protelar o conhecimento das questões que o podiam determinar para o
despacho saneador, solução que caso vingasse nos parece que seria contrapro-
ducente.
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Justamente por esta razão, a lei faz mais do que simplesmente não permitir a
contestação por simples negação, impõe ao réu o ónus de tomar posição de-
finida perante cada um dos factos articulados pelo autor na petição, sob pena
de serem admitidos (provados) por acordo – n.º 1 do artigo 490.º.
Quanto à contestação por mera junção de documentos, desacompanhada de
qualquer alegação escrita sobre os factos que o respectivo documento reporta,
não encontramos na lei qualquer referência sobre ela. Mas, ainda assim, é uma
modalidade de contestação que se deve considerar admissível, visto que a jun-
ção do documento pode constituir um médio capaz de contradizer um facto
articulado pelo autor e por essa razão não ser lícito ao tribunal não a levar em
consideração.
Por exemplo, se numa acção de reivindicação de propriedade o réu regular-
mente citado não apresentar contestação articulada, mas se se limitar a juntar
aos autos a certidão da escritura pública de compra e venda e a certidão de re-
gisto do imóvel do qual o autor alega ser proprietário, ao tribunal, atendendo
a força probatória dos documentos que o réu carreou aos autos, não será lícito
ignorar a contrariedade dos factos daí resultantes e extrair as competentes
consequências legais que, salvo eventual demonstração da falsidade dos do-
cumentos em causa, passariam necessariamente pela improcedência da acção.
Regressando à contestação articulada, no contexto do Projecto do CPC uma
nota se impõe; a jusante da actual exigência de exposição separada das razões
de facto e de direito com base nas quais o réu se opõe à pretensão do autor, no
artigo 475.º faz-se impender sobre o réu também a necessidade de especificar
separadamente as excepções que eventualmente deduza.
Com esta exigência o que se pretende é evitar a actual tendência de, por ve-
zes, serem apresentadas contestações prolixas, ou seja, em que se misturam
na mesma peça e sem qualquer elemento de diferenciação matérias relativas
à defesa por excepção e à defesa por impugnação e ainda aspectos relativos
à reconvenção, o que dificulta o exercício do contraditório e a própria tarefa
do saneamento e condensação do processo a desenvolver pelo tribunal em
momento próprio.
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Contudo, para que possa ser admitida a reconvenção é necessário que sejam
observados determinados requisitos, sendo uns de natureza substantiva e ou-
tros de natureza adjectiva.
No plano substantivo, o que se exige é a verificação de uma conexão objectiva
entre o pedido inicial, entenda-se, o formulado pelo autor, e o pedido recon-
vencional.
Com referência ao n.º 2 do artigo 274.º do CPC temos três categorias de si-
tuações em que se constata a exigida conexão objectiva e, por conseguinte, a
reconvenção é admissível, nomeadamente: (i) quando o pedido do réu emerge
do facto jurídico que serve de fundamento à acção ou à defesa; (ii) quando o
réu se propõe obter a compensação ou tornar efectivo o direito a benfeitorias
ou despesas relativas à coisa cuja entrega lhe seja pedida; ou (iii) quando o pe-
dido do réu tende a conseguir em seu benefício o mesmo efeito jurídico que
o autor se propõe obter.
No plano adjectivo ou processual, para admissibilidade da reconvenção exi-
ge-se à partida que o tribunal tenha competência absoluta para conhecer o
pedido reconvencional, isto é, que seja competente em razão da matéria, da
hierarquia e da nacionalidade (artigo 98.º).
A montante, é necessário que ao pedido reconvencional corresponda a mes-
ma forma de processo que observa o pedido do autor, salvo se a diversidade
das formas de processo provier apenas do diverso valor dos pedidos – n.º 3
do artigo 274.º. Nesta conformidade, por exemplo, admite-se a reconvenção
se ao pedido do autor corresponder processo comum ordinário de declaração
e ao pedido do réu processo comum sumário de declaração, e vice-versa, mas
já não é admissível a reconvenção se ao pedido do autor corresponder uma
forma especial de processo e ao do réu processo comum.
Sobre esta última questão, o Projecto do CPC, no n.º 2 do seu artigo 32.º, con-
sagrou expressamente o princípio da adequação formal, concedendo ao juiz
poderes para adequar a tramitação dos processos quando havendo diversidade
entre as formas de processo correspondente a cada um dos pedidos estas não
sejam manifestamente incompatíveis e que a apreciação conjunta dos pedidos
se mostre necessária a justa composição do litígio.
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Em termos práticos, o réu defende-se por excepção dilatória sempre que ale-
gar irregularidades processuais que, não podendo ser sanadas, como aponta o
n.º 2 do artigo 494.º, impedem o tribunal de julgar o mérito da causa. Entre
o leque de excepções dilatórias, mas nelas não se resumindo, enquadramos
as discriminadas no artigo 494.º, nomeadamente, a falta de personalidade ou
de capacidade judiciária de alguma das partes; a ilegitimidade de qualquer das
partes; a falta de autorização ou de deliberação que o autor devesse obter; a
falta de constituição de advogado por parte do autor nos processos a que se
refere o n.º 1 do artigo 32.º; a falta, insuficiência ou irregularidade de mandato
judicial por parte do mandatário que propôs a acção; a incompetência abso-
luta ou relativa do tribunal, a litispendência; a preterição do tribunal arbitral;
a coligação de autores ou réus quando entre os pedidos não exista a conexão
exigida no artigo 30.º e a falta de pagamento de custas na acção anterior.
Ressalvada a incompetência relativa do tribunal, a preterição do tribunal arbi-
tral voluntário e a falta de pagamento de custas das partes, as demais excep-
ções dilatórias a que se refere o artigo 494.º são de conhecimento oficioso do
tribunal, como resulta do disposto no artigo 495.º.
No tema das excepções dilatórias, o Projecto do CPC no leque indicativo das
excepções dessa natureza, artigo 480.º, elimina a falta de pagamento de custas
relativas à acção anterior, solução que está concatenada com a eliminação da
falta de pagamento de preparos iniciais como causa de extinção da instância,
como se pode conferir no n.º 1 do artigo 277.º e no artigo 280.º.
A solução proposta corresponde à orientação definida pelo Tribunal Consti-
tucional nos termos da qual o não julgamento do mérito de uma causa com
fundamento na não observância de preceitos legais de natureza tributária viola
o princípio constitucional do acesso ao direito e a tutela jurisdicional efecti-
vaXXXVIII.
Haverá lugar à defesa por excepção peremptória quando o réu, não contradi-
zendo os factos invocados pelo autor, todavia alegar factos impeditivos, ex-
tintivos ou modificativos do efeito jurídico pretendido pelo autor, cujo juízo
de procedência determina a absolvição total ou parcial do pedido – n.º 3 do
artigo 493.º.
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Por exemplo, numa acção declarativa de condenação o réu não nega que cele-
brou contrato de compra e venda de uma viatura com o autor e que não pagou
o preço acordado, mas afirma que a sua obrigação se extinguiu por compensa-
ção com um crédito que detinha sobre o autor em virtude de um contrato de
mútuo que os vinculava ou que a eventual dívida prescreveu.
Contrariamente ao CPC, o Projecto eliminou a enumeração exemplificativa
das excepções peremptórias, que actualmente encontramos no artigo 496.º do
Código, mas impôs a regra do conhecimento oficioso das excepções peremp-
tórias cuja invocação a lei não torne dependente da vontade do interessado
– artigo 482.º do Projecto. Por força desta regra, a título meramente exem-
plificativo, temos que o tribunal só pode conhecer da excepção peremptória
da prescrição, caso o interessado a tenha invocado, porque assim resulta do
estabelecido no artigo 303.º do CC, ao passo que as excepções peremptórias
que se consubstanciem em nulidades dos respectivos negócios jurídicos são
de conhecimento oficioso – artigo 286.º do CC.
Importa também salientar que o Projecto passou a classificar o caso julgado
como excepção dilatória, conforme se lê na alínea i) do n.º 1 do seu artigo
480.º.
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Partindo deste pressuposto, para que efectivamente cada uma das partes possa
produzir dois articulados e assim assegurar-se a igualdade de meios, impõe-se
a admissibilidade da resposta à treplica, que realizará uma função semelhante
a que na generalidade dos casos é realizada pela própria tréplica
Virando-nos para o Projecto, começamos por constatar que o que se pretende
é que este articulado passe a ser de verificação eventual, admitindo-o apenas
se houver réplica e nesta for alterada a causa de pedir ou o pedido ou ainda
quando em sede da réplica o autor tiver deduzido alguma excepção ou recon-
vindo – n.º 1 do artigo 488.º do Projecto.
Em síntese, na filosofia do Projecto, quando seja de admitir a tréplica, esta
passa a ter por função a impugnação da modificação da causa de pedir ou
do pedido ou ainda responder às excepções que o autor, em sede da réplica,
tenha levantado relativamente ao pedido reconvencional do réu, obviamente
formulado na contestação.
Em sintonia com o que avança para a réplica, o Projecto aponta para o alarga-
mento do prazo para a apresentação da tréplica dos actuais oito (8) dias para
dez (10) dias, mas com a feliz inovação de que a contagem deste prazo só se
inicia a partir da notificação da réplica ao réu – n.º 2 do artigo 488.º.
Por último, é de apontar a supressão no Projecto da admissibilidade de um
quinto articulado, ou seja, a resposta à tréplica.
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Ora, a dinâmica da vida social pode levar a que entre o momento do ofereci-
mento do último articulado e o momento do encerramento da discussão ocor-
ram novos ou cheguem ao conhecimento das partes factos anteriormente veri-
ficados que, desde que sejam susceptíveis de influir na decisão segundo o direito
material aplicável, isto é, se tiverem repercussão na existência e no conteúdo da
relação material controvertida, devem ser atendidos – n.º 2 do artigo 663.º.
Para invocar esses factos essenciais, a lei concede à parte interessada a faculda-
de de deduzi-los em articulado posterior ou em novo articulado, mas sempre
até ao encerramento da discussão da causa – n.º 1 do artigo 506.º.
O facto será deduzido em articulado posterior quando ocorra ou se chegue
ao conhecimento da parte depois de apresentado o articulado em que em
princípio devia invocá-lo, mas antes de terminada a fase dos articulados; se
ocorrer ou chegar ao conhecimento da parte depois de encerrada a fase dos
articulados, será invocado em novo articulado.
Da interpretação do artigo 506.º concluímos que cabem no âmbito da sua
previsão quer os factos objectivamente supervenientes, portanto, os ocorridos
depois da apresentação do articulado em que era pertinente a sua invoca-
ção, como os subjectivamente supervenientes, ou seja, os verificados antes da
apresentação do articulado em que deviam ser invocados mas que só chega-
ram ao domínio da parte em momento posterior.
Em qualquer uma das duas hipóteses, superveniência objectiva ou subjectiva,
o articulado por via do qual se invocar o facto deverá ser apresentado no pra-
zo de dez dias, contados a partir da data da verificação do facto ou da data do
seu conhecimento, respectivamente, sendo que com o articulado devem ser
oferecidas todas as provas de que a parte se queira socorrer para a prova da
factualidade invocada – n.º 3 do artigo 506.º.
Apresentado o articulado, a lei prevê como causas da sua eventual rejeição a
extemporaneidade ou a sua manifesta impertinência, esta última entendida
como traduzindo a falta de interesse dos factos para a boa decisão da causa;
se o articulado for admitido, a parte contrária é notificada para, no prazo de
cinco (5) dias, responder, devendo com a resposta oferecer todas as provas de
que se queira valer.
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Do ponto de vista das finalidades ou objectivos desta fase, pode-se dizer que
são essencialmente duas: (i) pôr termo ao processo, o que poder ser feito por
via do julgamento antecipado da lide (causa), quer se trate do julgamento de
questões processuais quer se trate do julgamento do mérito da causa; e (ii)
caso não ocorra o julgamento antecipado, fixar os termos essenciais da causa.
Concluída a fase introdutória, portanto, já no âmbito da fase do julgamento
antecipado da lide e da condensação do processo, nos termos que a seguir ex-
plicitaremos, o juiz exarará despacho saneador com os seguintes fins: (i) julgar
as excepções dilatórias cuja procedência, como sabe, conduz à absolvição da
instância; (ii) julgar as excepções peremptórias, cuja procedência conduz à ab-
solvição do pedido; e (iii) apreciar directamente o(s) pedido(s), se se verificam
os condicionalismos que a lei estabelece para o efeito.
Portanto, como facilmente se percebe, na hipótese de, no conhecimento (jul-
gamento) das questões referidas no parágrafo precedente, o juiz concluir que
procede uma excepção dilatória ou peremptória suscitada pelas partes ou que
seja do seu conhecimento oficioso, ou ainda se conhecer directamente do pe-
dido, acção termina sem que se observem as subsequentes fase do processo,
particularmente a fase da discussão e julgamento da causa em que, por via da
sentença, normalmente deveria ocorrer o julgamento da causa, daí falar-se em
julgamento antecipado em contraposição ao julgamento normal, entenda-se,
o que é feito por intermédio da sentença.
Caso não se concretize o julgamento antecipado, por ser ter concluído que
não há qualquer obstáculo ao surgimento do poder-dever de apreciar o mérito
da causa, mas também o processo ainda não contém elementos probatórios
que podem viabilizar o julgamento imediato do mérito da causa, o processo
há-de seguir a sua normal tramitação.
Para tanto, impõe-se nesta fase fixar os termos essenciais da causa, ou seja,
deve ser fixado de forma rigorosa o objecto do processo. Para atingir este de-
siderato, o juiz tem de ser capaz de, em primeira instância, sanear o processo,
o que significa que deve retirar (expurgar) indirectamente do processo todas
as questões de facto que se revelem inúteis para a decisão da causa e decidir
todas as questões que, sendo úteis, possam já ser apreciadas e julgadas.
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O juiz deve dirigir a discussão de modo que as questões sejam tratadas pelos
advogados pela ordem que devam ser resolvidas no despacho saneador, po-
dendo cada um dos advogados usar da palavra duas vezes.
Sobre este tema, no quadro do Projecto do CPC a primeira consideração a
fazer tem a ver com o facto de se abandonar a designação de audiência prepa-
ratória e se abraçar a designação de audiência preliminarXLII.
Não obstante ser inegável a maior intervenção das partes nesta audiência,
como corolário da ideia do reforço do princípio da cooperação que é transver-
sal a todas as soluções do Projecto, do ponto de vista funcional grande parte
das finalidades da audiência preparatória mantiveram-se, mas acrescentaram-
se algumas.
Na decorrência deste facto, sobreveio a necessidade de se proceder a alguns
ajustes estruturais que a seguir passamos a descrever. Nesse conspecto, à luz
do Projecto, a audiência preliminar passa a ser de convocação obrigatória
quando o juiz no despacho saneador pretender conhecer do pedido ou de
alguma excepção peremptória, sancionando a não convocação da audiência
com a nulidade do despacho saneador – n.º 3 do artigo 492.º do Projecto.
Fora dessas hipóteses, o juiz, findo os articulados, pode marcar a audiência
preliminar para: (i) realizar a tentativa de conciliação; (ii) facultar às partes a
discussão de facto e de direito nos casos em que ao juiz cumpra apreciar ex-
cepções dilatórias; (iii) discutir as posições das partes com vista à delimitação
dos termos do litígio e providenciar pelo suprimento das excepções dilatórias;
(iv) providenciar o suprimento das insuficiências ou imprecisões na exposição
da matéria de facto; e (v) seleccionar após debate a matéria de facto relevante
que considere assente e a que constitui a base instrutória da causa.
Do cardápio apresentado no parágrafo anterior, comparativamente ao regime
do CPC, cumpre-nos salientar as hipóteses consagradas nas alíneas c) e e) do
n.º 1 do artigo 492.º.
No primeiro caso, como resultado do reforço dos princípios da cooperação
e do inquisitório, vemos as partes a participarem activamente na delimitação
dos termos do litígio, ou seja, na avaliação de entre os factos por elas invoca-
dos aqueles que se revelam essenciais para decisão da causa, finalidade que é
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A par da prova documental em que a lei privilegia a sua junção aos autos ainda
na fase introdutória da lide, portanto, na fase dos articulados, temos as situa-
ções em que é permitida a produção antecipada da prova, inclusive antes de a
acção ter sido proposta.
Assim, havendo justo receio de vir a tornar-se impossível ou muito difícil o
depoimento de certas pessoas, que podem ser as próprias partes ou testemu-
nhas, ou a verificação de certos factos por meio de arbitramento ou inspecção,
pode o depoimento, o arbitramento ou a inspecção realizarem-se antecipada-
mente – artigo 520.º.
Do enunciando do artigo 520.º conclui-se que só há possibilidade de pro-
dução antecipada da prova nos casos de depoimentos de pessoas, de prova
pericial (arbitramento) e de prova por inspecção, sendo que o requerente da
prova antecipada na sua petição deve justificar sumariamente a necessidade da
antecipação e mencionar com precisão os factos sobre os quais há-de recair –
n.º 1 do artigo 521.º.
Na segunda hipótese, isto é, a da não verificação da fase de instrução, por um
lado, temos as diversas situações em que o despacho saneador põe termo à
causa, seja por absolvição do réu da instância seja por conhecimento directo
do pedido, e, por outro lado, as situações de revelia operante, como já escalpe-
lizamos no ponto 2.10 (falta de contestação e seus efeitos).
Aqui chegados, é momento para clarificar que a fase da instrução probatória é
funcionalmente dirigida à produção ou recolha dos meios de prova destinados
à demonstração da verificação dos factos quesitados, significando isso que a
instrução probatória se consubstancia na actividade a desenvolver pelas partes
e pelo tribunal para a demonstração da realidade dos factos que constituem o
objecto da causa.
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Assim, nos termos do artigo 519.º, todas as pessoas, sejam ou não partes na
causa, têm o dever de prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade,
dever cujo cumprimento se materializa, respondendo ao que lhes for pergun-
tado e submetendo-se às inspecções necessárias ou facultando o que lhes for
requisitado.
Dada a sua importância, a lei sanciona a sua violação com a condenação em
multa, nos termos das disposições conjugadas do n.º 2 do artigo 519.º do CPC
e do artigo 140.º Código das Custas Judiciais (CCJ), sem prejuízo da faculdade
de se lançar mão aos meios coercitivos que possam viabilizar a realização dos
objectivos que se pretendem alcançar com a diligência.
No entanto, é legítima a recusa do cumprimento do dever de cooperação
quando a sua obediência importar a violação do sigilo profissional ou causar
grave dano à honra e consideração da própria pessoa ou de seu descendente
ou ascendente.
No que diz respeito à violação do segredo profissional, na interpretação do ar-
tigo 519.º, precisamente, do seu n.º 3, deve ser tida em conta a regulamentação
que sobre a matéria é feita nos estatutos das diversas classes de profissionais,
nomeadamente, mas sem se limitar, nos Estatutos da Ordem dos Advogados e
dos Médicos e na Lei das Instituições Financeiras, no que à banca diz respeito.
O segundo princípio estruturante desta fase processual, o da audiência con-
traditória, vem plasmado no artigo 517.º do CPC. Segundo o seu enunciado,
as provas não são admitidas nem produzidas sem a audiência contraditória da
parte a quem hajam de ser oposta.
Este princípio, por um lado visa conferir às partes meios para acautelarem os
seus interesses nesta fase determinante do processo, conferindo-lhes a pos-
sibilidade de fiscalizarem a actividade desenvolvida pela contraparte, e por
outro lado traduz-se num veículo para concretizar a realização do interesse
público da descoberta da verdade, evitando a manipulação dos meios de prova
carreados aos autos.
A aplicação prática deste princípio, relativamente às provas pré-constituídas,
impõe que a contraparte seja notificada para querendo impugnar tanto a sua
admissão como a respectiva força probatória e no que se refere às provas
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Não havendo acordo para que a discussão seja feita de forma oral, a secretaria
facultará o processo para exame aos advogados, pelo prazo de oito (8) dias
para cada um deles, para alegarem por escrito.
Nas suas alegações, os advogados devem definir a posição dos seus consti-
tuintes em face do direito aplicável, ou seja, na perspectiva dos interesses dos
seus representados interpretarão e aplicarão a lei aos factos e indicarão aquele
que deve ser o sentido decisório.
Quanto a este tema, em termos do perspectivado pela reforma começamos
por apontar a forma mais elaborada como na alínea e) do n.º 1 e no n.º 3 do
artigo 626.º do Projecto é regulada a discussão da matéria de facto.
Para evitar as dificuldades interpretativas que se têm verificado actualmente na
distinção entre os debates introdutórios que ao abrigo do n.º 2 do artigo 652.º
do CPC devem ser realizados no início da audiência de discussão e julgamento
da causa (audiência final) e a discussão da matéria de facto propriamente dita,
o Projecto, no citado artigo 626.º, sugere o abandono do termo debate e a sua
substituição pelo vocábulo alegações, mais concretamente, alegações orais.
Mais do que a mera substituição de vocábulos, o Projecto indica como é que
no contexto da discussão deve ser feita a análise crítica dos elementos proba-
tórios de que o processo dispuser após a conclusão da instrução.
Quanto à discussão da matéria de direito, há a destacar a inversão da regra da
discussão escrita para a regra da discussão oral. Aqui, o legislador, atendendo
fundamentalmente ao que, na prática, se tem observado nos tribunais ango-
lanos, sem contudo deixar de ter em conta outras razões que sobre a matéria
se têm defendido no plano teóricoXLIV, no n.º 5 do artigo 627.º do Projecto se
propõe que em regra a discussão do aspecto jurídico seja feita de forma oral
perante o juiz a quem caiba lavrar a sentença final e logo após ao julgamento
da matéria de facto.
No seguimento, a discussão escrita fica reservada para os casos em que as
partes tenham acordado neste sentido e, se assim for, durante a audiência
final o juiz deve ordenar que o advogado do autor no prazo de dez (10) dias
apresente as suas alegações, sendo que o advogado do réu goza de igual prazo
para contra-alegar, devendo para o efeito a secretaria facultar o processo aos
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advogados para exame – sem prejuízo de a consulta poder ser feita por meio
electrónico, conforme o que se dispuser em legislação própria.
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Por vezes, pode suceder que, sem prejuízo da sua unidade formal, a sentença
contenha mais de uma decisão e, se assim for, para efeitos de determinação do
objecto do recurso, a sentença é divisível à proporção das várias decisões nela
contidas, podendo a parte vencida impugnar todas ou algumas das referidas
decisões – n.º 2, artigo 684.º.
Na parte final da sentença, imediatamente a seguir a decisão, o tribunal deve
pronunciar-se sobre as custas, condenando, nos termos da respectiva legisla-
ção, a parte que por elas for responsável.
Na descrição das fases da elaboração da sentença, entre outras coisas, refe-
rimos que em sede do relatório o juiz deve fixar o objecto da lide. Fixado o
objecto da lide, o que significa determinar as questões que carecem de apre-
ciação jurisdicional, importa, então, estabelecer uma ordem de prioridade para
o necessário conhecimento.
A resposta a esta questão consta do n.º 1 do artigo 660.º, onde se lê que a
sentença conhece em primeiro lugar e pela ordem estabelecida no artigo 288.º
as questões que possam conduzir à absolvição da instância. Logo, se por qual-
quer razão, em sede do despacho saneador, o juiz não proceder ao julgamento
dos pressupostos processuais, na prolação da sentença, deverá dar prioridade
ao julgamento dessas questões em observância estrita a ordem de procedência
estabelecida no artigo 288.º.
No que respeita à ordem do julgamento dos pressupostos processuais impos-
ta pelo artigo 288.º, é de referir que a sua rigorosa observância é susceptível
de determinar soluções que, do ponto de vista de justiça efectiva, se revelem
contraproducentes. Nessa conformidade, e para minorar esse risco, o critério
aconselhável é o da procedência lógica dos pressupostos processuais, o que dá
uma maior mobilidade ao julgador face ao caso concreto.
Sobre esta questão, a par da necessidade de se modificar o critério que preside
ao estabelecimento da ordem do conhecimento dos pressupostos processuais,
também ganha fóruns de urgência a reflexão sobre o problema da própria
procedência do julgamento das questões de forma em relação às questões de
fundo.
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Entre as questões cuja solução se mostra prejudicada pela decisão dada a ou-
tras, enquadramos o caso dos pedidos subsidiários. Por exemplo, se A pede a
condenação de B na restituição de uma coisa e, no caso de a respectiva coisa
estiver absolutamente deteriorada, o pagamento do equivalente em dinheiro,
procedendo o pedido primário, o tribunal não deverá pronunciar-se sobre o
pedido subsidiário.
As questões de conhecimento oficioso reconduzem-nos às excepções pe-
remptórias de que o Tribunal pode oficiosamente conhecer, por exemplo, o
caso julgado – artigo 500.º, bem como os factos acessórios ou instrumentais,
ou seja, aqueles de que o tribunal toma conhecimento no e por causa do
exercício da sua actividade e que sejam susceptíveis de ajudar a formação da
convicção do julgador mas, por si sois, não determinam o destino da lide.
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Porque assim é, pode suceder que o juiz julgue uma acção como procedente
ou improcedente, socorrendo-se de uma argumentação jurídica distinta da
que as partes lançaram mão para sustentar as suas pretensões.
Sendo os juízes independentes no exercício das suas funções, devendo apenas
obediência à lei e à sua consciência, não teria qualquer sentido uma opção
legal que vinculasse os julgadores aos fundamentos de direito aduzidos pelas
partes. De resto, os magistrados judiciais são profissionais de direito e, por
essa mesma razão, deles se espera que tenham suficiente domínio do direito
que os permita ajuizar com acerto os problemas que são submetidos à sua
apreciação.
Sem pretender cercear a liberdade de actuação dos juízes, no que à matéria de
direito diz respeito, o princípio do contraditório aconselha que, sempre que
o Tribunal propender para a resolução do caso sub judice com base em fun-
damentação jurídica diferente da avançada pelas partes, deverá, previamente,
fixar prazo para as partes se pronunciarem. Desta forma, evitar-se-á que as
partes sejam surpreendidas com uma argumentação que só poderão contrariar
em sede de recurso, caso a respectiva decisão admita impugnação por essa via.
Ao contrário da matéria de direito, em sede da matéria de facto, a relação en-
tre os juízes e as partes é presidida pelo princípio do dispositivo. Aqui, o juiz
só pode servir-se dos factos articulados pelas partes, sendo esses os factos
constitutivos, modificativos, impeditivos ou extintivos das pretensões por elas
formuladas, ou seja, os factos essenciais.
Porém, a título excepcional, a lei permite que o juiz, no exercício da actividade
jurisdicional, se socorra de alguns factos independentemente de não terem
sido alegados pelas partes – artigos 514.º e 665.º.
Enquadramos neste leque os factos notórios, entendendo-se como tal aqueles
que são do conhecimento público e, por isso, prescindirem de prova, os factos
de que o Tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas fun-
ções e os factos reveladores de uso reprovável do processo.
Segundo Fernando Amâncio Ferreira, entre os factos de que o Tribunal tem
conhecimento por virtude do exercício das suas funções, há que distinguir os
factos acessórios dos factos complementares.
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Para se evitar esses riscos, a lei sanciona a sua omissão com a nulidade do acto,
quer se trate da omissão dos fundamentos de facto como da omissão dos fun-
damentos de direito. Porém, sobre esta questão, só releva, para a produção da
nulidade, a omissão absoluta da fundamentação é não já uma fundamentação
incompleta e/ou deficiente. Uma motivação incompleta ou deficiente apenas
retira mérito científico à sentença e ao seu autor e, por não persuadir as par-
tes sobre o acerto dos argumentos de que o juiz se socorreu para produzir
a decisão, estas certamente dela recorrerão. Dadas as deficiências de que se
reveste uma sentença com essas características, interposto recurso, o Tribunal
competente para a respectiva apreciação certamente propenderá para a recti-
ficação do julgado.
Quanto ao seu regime de arguição, à semelhança das outras causas de nulidade
que a seguir analisaremos, a lei, em obediência aos princípios da economia e
da celeridade processuais, traçou um regime misto.
Desta forma, a nulidade decorrente da violação do dever de motivação só
pode ser arguida no Tribunal que proferiu a sentença se esta não admitir re-
curso ordinário. No caso contrário, entre outros, o recurso a interpor, que
tanto poderá ser uma apelação ou um agravo, como adiante especificaremos,
deverá ter como fundamento esta violação.
A oposição entre a decisão e os fundamentos, contrariamente ao que invoca-
mos a propósito da rectificação dos erros materiais, não representa uma mera
contradição entre a vontade real e a vontade declarada. Neste caso, o proble-
ma (vício) reside no próprio processo de construção intelectual da sentença,
uma vez que, com base nos argumentos aduzidos pelo juiz, logicamente, a
decisão a tomar seria diferente da efectivamente tomada – não existindo, no
entanto, uma opção voluntária para o dissídio. Se, por hipótese, numa acção
de divórcio litigioso o marido sustentar o seu pedido no adultério reiterado da
mulher e na violação sistemática dos deveres de respeito e de cooperação, e o
juiz considerar os factos alegados provados, subsumindo-os na corresponden-
te norma do Código da Família, mas, todavia, julgar improcedente o pedido
formulado, configurar-se-ia aqui um caso em que os fundamentos avançados
deveriam levar uma decisão diversa, ou seja, à procedência do pedido.
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As duas últimas causas de nulidade da sentença que o artigo 668.º refere são
corolários do princípio do dispositivo.. A primeira delas, isto é, o dever de o
juiz se pronunciar sobre todas as questões suscitadas pelas partes, e apenas de-
las, não implica que ele deva reproduzir na sentença todos os argumentos das
partes. O que é essencial aqui é a referência aos problemas levantados, o que
é diferente da argumentação para a sustentação da forma que as partes acham
que é a melhor para a resolução dos problemas. Portanto, se se pronunciar
sobre todas as questões suscitadas, não haverá campo de aplicação para esta
causa de nulidade pelo simples facto de, o juiz, no seu processo cognitivo, não
ter passeado por todos os argumentos das partes.
A última está relacionada com os limites quantitativos e qualitativos da sen-
tença, sendo que, na sua prolação, o juiz está impedido de condenar para lá
da quantidade pedida, bem como em objecto diverso do que lhe foi solicitado
– sob pena de nulidade.
Dito isto e para terminar este ponto, importa debruçarmo-nos sobre o escla-
recimento ou aclaração da sentença e a sua reforma quanto a custas e multa,
problema de que se ocupa o artigo 669.º.
A formação da vontade das partes de impugnarem uma determinada decisão
judicial pressupõe que elas tenham entendido o seu conteúdo e, no seguimen-
to desse entendimento, não se conformem com a decisão no seu todo ou com
alguma das partes em que ela possa eventualmente decompor-se.
Porém, por vezes sucede que, dada a forma como a sentença está redigida, as
partes não conseguem entender o pensamento do julgador que a decisão in-
corpora, ou seja, o sentido da decisão é ininteligível e, nesses casos, estaremos
então diante de uma decisão obscura.
Outras vezes, as partes conseguem perceber o pensamento do julgador, mas a
forma como o mesmo se encontra expresso é susceptível de comportar duas
ou mais interpretações, falando-se então de sentenças ambíguas.
Tanto a obscuridade como a ambiguidade da sentença constituem os funda-
mentos que podem sustentar o pedido do seu esclarecimento ou aclaração e,
caso seja feito, competirá sempre ao Tribunal que proferiu a decisão que se
mostra obscura ou ambígua esclarece-la e, a decisão que deferir o pedido de
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(ENDNOTES)
I
Nos dizeres do Professor João de Matos Antunes Varela, in Manual de Processo Civil,
pág. 1, 2.ª Edição Revista e Actualizada, Coimbra Editora, 1985, o direito civil é o
ramo de direito (público) funcionalmente destinado a integrar o direito civil.
II
Relativamente a essa questão, as tendências que têm presidido às reformas processuais
nas mais diversas latitudes apontam no sentido da máxima redução de normas adjec-
tivas cuja não observância seja susceptível de condicionar o direito subjectivo material
em disputa. Esta orientação tem como matriz a ideia da introdução do princípio da
verdade material no processo civil, em detrimento do princípio da verdade formal que,
assente na filosofia do liberalismo, inspirou as soluções legais dos vários códigos que
vigoraram no século XX, onde se enquadra o Código de Processo Civil actualmente
em vigor em Angola que, como se sabe, é de 1961.
III
Doravante, refere-se ao CPC qualquer citação de disposições legais não acompanhada
da menção do respectivo diploma.
IV
Dentre as situações que a título excepcional, é permitido aos particulares a defesa dos
seus direitos com recurso à própria força, destacam-se os institutos da acção directa,
estado de necessidade e da legítima defesa, todos regulados no Código Civil. Numa
outra perspectiva, é de ter em conta os sistemas alternativos de resolução de litígios,
nomeadamente, a arbitragem, a conciliação e mediação – sic n.º 4 do 174.º da CR e a
Lei n.º 16/03, de 25 de Julho (LAV).
V
O Estado intervém numa relação jurídica investido de poderes de autoridade quando
dispõe da prerrogativa de unilateralmente ditar soluções que vinculam os demais su-
jeitos da respectiva relação.
VI
Bronze, José Fernando, Lições de Introdução ao Direito, pág. 628, Coimbra Editora,
2002.
VII
Timbane, Tomas, Lições de Processo Civil I, pág. 66, Editora Escolar, 2010.
VIII
Nos termos do artigo 58.º da Lei Constitucional de 75, as leis e regulamentos que na
altura vigoravam, desde que não contrariasse o espírito da Constituição e do processo
revolucionário angolano, manter-se-iam em vigência.
IX
Para maiores desenvolvimentos, ver, entre outros, Antunes Varela, ob. cit., pág. 27 e se-
guintes.
X
Excepcionalmente, a Lei n.º 18/88 previa a possibilidade de, numa mesma provín-
cia, existir mais de um Tribunal Provincial, possibilidade esta que se concretizou na
225
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XXIV
Justifica-se o carácter excepcional do exercício do direito de defesa, invocando que,
dados os fins específicos que se pretendem atingir com esses meios processuais, o
respeito absoluto do contraditório por vezes pode-se mostrar contraproducente, na
medida em que a citação do réu pode servir de aviso ao infractor para acelerar os actos
para a consumação da violação do direito que se pretende acautelar.
XXV
A este leque, o Projecto, no seu artigo 381.º, acresce uma nova providência nominada,
a do arbitramento de reparação provisória. Esta providência, que opera em depen-
dência da acção de indemnização fundada em morte ou lesão corporal, permite aos
lesados requerer o arbitramento de quantia certa sob forma de renda mensal como re-
paração prévia do dano, quantia que entretanto será imputada na liquidação definitiva
do dano.
XXVI
Fora do capítulo dos incidentes da instância (capítulo III, artigo 302.º a 380.º), o le-
gislador, com o mesmo propósito de resolver questões conexas à questão principal,
traça tramitações paralelas à tramitação da acção principal que configuram verdadeiros
incidentes da instância inominados, como é o caso previsto para a arguição do vício da
incompetência relativa do tribunal, artigos 109.º a 111.º do CPC.
XXVII
Antunes Varela, ob. cit., pág. 105.
XXVIII
Antunes Varela, ob. cit., pág. 130.
XXIX
Para melhor desenvolvimento ver Remédio Marques, JP, ob. cit., pág. 377 e 378.
XXX
Remédio Marques, JP, ob. cit., pág. 393.
XXXI
Antunes Varela, ob. cit., pág. 195.
XXXII
Remédio Marques, JP, ob. cit., pág. 298.
XXXIII
Enquanto tribunal de revista, o Tribunal Supremo apenas se ocupa do julgamento de
questões de direito de grande complexidade técnica, ficando o julgamento da matéria
de facto em regra a cargo dos tribunais de comarca e dos tribunais da relação.
XXXIV
Actualmente estabelecia nos artigos 85.º e 86 do CPC o que, no contexto do Projecto,
correspondem aos artigos 86.º e 87.º.
XXXV
Antunes Varela, ob. cit., pág. 222.
XXXVI
Antunes Varela, ob. cit., pág. 260.
XXXVII
Antunes Varela, ob. cit., pág. 311.
XXXVIII
Ver por todos, Antunes Varela, ob. cit., pág. 349.
XL
No sistema português, o juiz antes de convocar a audiência preliminar pode profe-
rir despacho pré-saneador cujos objectivos, em nosso entender, são os mesmos que
se buscam na audiência. Face a esse entendimento, o legislador técnico optou por
não introduzir no texto do Projecto a figura do despacho pré-saneador, mas também
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pesaram nesta opção as críticas que a doutrina vem fazendo no sentido da violação
por parte do Tribunal do princípio da imparcialidade, uma vez que com o despacho
pré-saneador aparece o juiz essencialmente a auxiliar o autor na elaboração da petição
inicial.
XLI
Sobre a questão da delimitação entre a matéria de facto e a matéria de direito, ver por
todos, Castanheira Neves, Questão-de-facto-Questão-de-direito, I, Coimbra, 1967,
pág. 15 e seguintes.
XLII
No plano teórico a distinção entre a discussão e julgamento da matéria de facto e a
discussão e julgamento da matéria de direito é artificial, pois que na prática as duas
actividades entroncam-se.
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