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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA

LIQUIDAÇÃO

A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA LIQUIDAÇÃO


Pareceres - Wambier | vol. 1 | p. 45 | Set / 2012
DTR\2012\450768

Luiz Rodrigues Wambier

Área do Direito: Civil; Processual


Resumo: Este parecer aborda a abrangência da expressão perdas, danos e prejuízos, a que aludem
os arts. 16 e 18 do CPC, como uma das penas passíveis de aplicação ao litigante de má-fé, assim
como questões daí decorrentes, envolvendo a liquidação por arbitramento de dano dessa natureza e
a necessidade de se respeitar os termos da sentença liquidanda.

Palavras-chave: Direito processual civil - Litigância de má-fé - Microssistema de repressão ao


abuso de direito - Interpretação - Liquidação de sentença - Princípio da fidelidade ao provimento.
Résumé: Este parecer trata sobre el alcance de la expresión pérdidas, daños y prejuicios, a los que
aluden los arts. 16 y 18 del CPC, como una de las penas pasibles de aplicación al litigante de mala
fe, además de las cuestiones resultantes de la litigación de mala fe, incluyendo la liquidación por
arbitraje de daño de esa naturaleza y la necesidad de que se respeten los términos de la sentencia
de liquidación.

Mots-clés: Derecho procesal civil - Litigación de mala fe - Microsistema de represión al abuso de


derecho - Interpretación - Liquidación de sentencia - Principio de la fidelidad a la provisión.
Sumário:

- 1.Síntese da situação fática e jurídica existente e consulta - 2.Quesitos formulados - 3.Fixação de


algumas premissas legais e doutrinárias - 4.Resposta aos quesitos formulados - 5.Conclusão

LEGISLAÇÃO E DISPOSITIVOS LEGAIS UTILIZADOS:

Constituição Federal de 1988: art. 5.º, V e X;

Código Civil de 1916 (LGL\1916\1): arts. 159, 1.059, 1.060 e 1.061;1

Código Civil (LGL\2002\400) de 2002: arts. 186, 187, 402 e 927;

Código de Processo Civil (LGL\1973\5): arts. 14, parágrafo único, 16, 17, 18, 161, 196, 233, 475-C,
475-E, 475-G, 538, parágrafo único, 538, 557, § 2.º, e 601.
1. Síntese da situação fática e jurídica existente e consulta

Consulta-nos o ilustre advogado Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, a respeito da abrangência da


expressão perdas, danos e prejuízos, a que aludem os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) como
uma das penas passíveis de aplicação ao litigante de má-fé, assim como de questões daí
decorrentes, envolvendo a liquidação por arbitramento de dano dessa natureza em um determinado
caso concreto.

Foram-nos fornecidas cópias: (a) da petição inicial do procedimento de liquidação por arbitramento;
(b) petição do credor indicando assistente técnico e formulando quesitos para arbitramento do valor
indenizatório; (c) do laudo pericial de arbitramento, com o valor indenizatório; (d) da sentença
proferida na liquidação de sentença; (e) do recurso de apelação interposto pelo credor; (f) do
acórdão que deu parcial provimento ao recurso; (g) dos embargos de declaração opostos em face
desse acórdão; (h) do acórdão que julgou os embargos de declaração; (i) do recurso especial
interposto pelo credor.

Para melhor compreensão da questão que foi submetida à nossa apreciação, imprescindível se faz
uma breve retrospectiva dos fatos:

Antônio Luciano Pereira Neto e outros moveram ação de resolução parcial de contrato em face de
Lhano Nelson.2 Os pedidos formulados nessa ação foram julgados improcedentes, assim como os
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formulados em medida cautelar de depósito em apenso, razão pela qual os autores foram
condenados ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de honorários advocatícios, além
do pagamento das custas processuais.

Ambas as partes interpuseram recursos de apelação em face dessa sentença. A decisão singular foi
mantida pelo TJMG que, contudo, ampliou a condenação imposta aos autores, declarando-os
litigantes de má-fé e determinando o pagamento de indenização por perdas e danos a serem
liquidados por arbitramento, nos seguintes termos: “Condeno os autores ao pagamento de multa no
importe de 1% sobre o valor atualizado da causa, bem como a indenizar os danos processuais que
causaram ao réu, remetendo-se as partes para a liquidação sob a forma de arbitramento”.

Ao julgar os embargos de declaração opostos pelos autores, o TJMG ainda esclareceu que: “De se
acrescentar que a imposição das sanções decorrentes da litigância de má-fé aos embargantes se
deu em razão destes terem utilizado como um dos fundamentos do pedido formulado na presente
ação, o fato de o réu, ora embargado, ter sido deserdado em testamento aberto, posteriormente à
transação que pretendem rescindir, fato este já reputado quando do julgamento da ação de
deserdação, transitado em julgado, na qual se reconheceu a falsidade do testamento em referência.
Logo, ainda que as sanções impostas ao litigante de má-fé tenham sido aplicadas aos
segundos-apelantes, naqueles autos, temos que, ao utilizarem novamente o mesmo argumento
ensejador das penalidades em comento como um dos fundamentos da presente pretensão,
sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5). (…) Logo, é de se
esclarecer que a imposição de novas sanções decorrentes da litigância de má-fé se deu em razão de
os embargantes terem utilizado, como um dos fundamentos do pedido formulado na presente ação,
a impossibilidade de continuidade do vínculo obrigacional, por perda de objeto, haja vista o
desaparecimento da legítima do réu, determinado na ação de deserdação, fato este já refutado
quando do julgamento da ação em referência, na qual se reconheceu inclusive a falsidade do
documento particular (codicilo) que instruiu o pedido”.

Com o trânsito em julgado dessa decisão, o credor Lhano Nelson ingressou com pedido de
liquidação de sentença por arbitramento e execução do julgado em maio de 2002.3

Para essa liquidação, fixou as seguintes premissas de direito: (a) nos termos do art. 16 do CPC
(LGL\1973\5) “responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor”; (b) de acordo
com o art. 18 do CPC (LGL\1973\5) “o juiz ou tribunal (…) condenará o litigante de má-fé (….) a
indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu”, sendo que “o valor da indenização será
(…) fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa ou liquidação por
arbitramento”; (c) o conceito de perdas e danos é normativo, regido pelo então vigente art. 1.059 do
CC/1916 (LGL\1916\1): “As perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de ganhar”.

E, no plano fático, as seguintes: (a) os danos suportados pelo credor Lhano Nelson, cujo valor seria
arbitrado na liquidação de sentença, resultam do retardamento do cumprimento dos termos da
transação que os autores celebraram com aquele em 06.06.1990, e que buscaram rescindir de modo
temerário com o ajuizamento da ação em questão; (b) na referida transação, os autores confessaram
o recebimento de doações inoficiosas, com excesso de legítima, feita pelo pais dos litigantes quando
vivos e se comprometeram a avaliá-los e vendê-los, pagando ao credor Lhano Nelson sua cota
hereditária com o produto da venda, no prazo de três anos a partir da assinatura do instrumento em
06.06.1990; (c) os autores efetuaram o pagamento de quantia ínfima, devendo até aquele momento
o pagamento da quase totalidade da cota hereditária; (d) além de não efetuarem o pagamento, os
autores ingressaram em 21.06.1991 com a ação em questão, objetivando rescindir o contrato e
privar o credor Lhano Nelson de sua cota hereditária, mas efetuaram o pagamento devido, em razão
da mesma transação, aos demais irmãos do credor.

A liquidação de sentença por arbitramento, assim, teve por objetivo apurar o valor da cota hereditária
devida ao credor Lhano Nelson, cujo pagamento deveria ter ocorrido em 06.06.1993 e, a partir daí,
viabilizar a quantificação: (a) dos lucros cessantes sofridos pelo credor, consubstanciados nos juros
legais que deixou de perceber com o retardamento do pagamento de sua cota hereditária; e (b) dos
danos morais sofridos pelo credor, em razão da angústia suportada pelo retardamento do pagamento
de sua cota hereditária por mais de nove anos (tempo que tramitou a ação de rescisão contratual).

Pretendeu-se, também, o recebimento do valor de R$ 17.045,434 a título de honorários pagos pelo


credor aos advogados que o defenderam ao longo da ação, bem como ao pagamento daPágina verba
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honorária de sucumbência no importe de R$ 10.000,00,5 ambos atualizados.

Foi realizada perícia, que encontrou o valor devido de R$ 6.211.656,70, sendo: R$ 6.148.953,63 a
título de lucros cessantes; R$ 24.000,00 de danos morais; R$ 23.234,72 de honorários advocatícios
contratuais; R$ 15.379,56 de honorários advocatícios de sucumbência; R$ 88,79 de multa fixada em
1% sobre o valor da causa.

Sobreveio sentença nos autos, rejeitando os cálculos apresentados pelo perito para apuração dos
danos. Entendeu-se que a expressão “dano processual” contida na decisão liquidanda
corresponderia apenas às perdas e danos ocorridos no âmbito do processo, e que a conduta danosa
da parte contrária não teria sido eficiente, pois vencida na demanda. Por fim, registrou que pela via
da litigância de má-fé não poderia haver a reparação do direito material que não foi objeto da ação, o
que chamou de “impossibilidade do meio”. Com base nesses fundamentos determinou o pagamento
apenas: (a) da multa de 1% do valor da causa; (b) das custas processuais, inclusive honorários do
perito; (c) da sucumbência arbitrada em 10% do valor acrescido à condenação.

Foi manejado recurso de apelação pelo credor Lhano Nelson, alegando violação aos arts. 16, 18,
435, 467, 471 e 610 do CPC (LGL\1973\5) e 1.060 e 1.061 do CC/1916 (LGL\1916\1). O TJMG deu
parcial provimento ao recurso para incluir na condenação o valor despendido com honorários
advocatícios, reafirmando, no mais, o entendimento externado em primeira instância.

Em razão de omissões naquele acórdão a parte interpôs embargos de declaração que foram
rejeitados e, na sequência, interpôs recurso especial, apontando violação aos arts. 16, 18, 435, 467,
471 e 610 do CPC (LGL\1973\5) e 1.060 e 1.061 do CC/1916 (LGL\1916\1) e divergência
jurisprudencial. Essas violações, em síntese, constituem objeto desta consulta.
2. Quesitos formulados

Os quesitos formulados são os seguintes:

Quesito 1

A declaração judicial de que os devedores são litigantes de má-fé, daí condenados a indenizarem
danos processuais ao credor, significa, juridicamente, que estão obrigados a lhes pagar perdas e
danos?

Quesito 2

O critério proposto pelo credor, na petição em que requereu a liquidação por arbitramento (itens 6, 7,
e 8), para apuração do quantum indenizatório, revela-se juridicamente correto?

Quesito 3

Os acórdãos recorridos, ao confirmarem a sentença apelada, afrontaram a coisa julgada e


contrariaram os preceitos normativos dos arts. 467 e 610 do CPC (LGL\1973\5)? (lembrando-se que
o art. 610 estava em vigor, antes da alteração feita pela Lei 11.232/2005, e que seu teor normativo,
atualmente, está repetido no art. 475-G do CPC (LGL\1973\5)?).

Quesito 4

Os acórdãos recorridos contrariaram os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5)?

Quesito 5

Os acórdãos recorridos negaram vigência aos arts. 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916
(LGL\1916\1)? (em vigor quando os devedores foram condenados)
3. Fixação de algumas premissas legais e doutrinárias

3.1 O microssistema de repressão ao abuso de direito. Interpretação dos arts. 16 e 18 do CPC

O processo civil é instrumento de realização de direitos e, pela altíssima relevância dessa função,
seu desenvolvimento exige atuação ética das partes. O conjunto de regras insertas no Código de
Processo Civil (LGL\1973\5) que se relacionam com esse amplo dever, sintetizado na lealdade Página 3
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processual,6 consubstanciam o que se tem denominado de tutela ética do processo.7

Trata-se de um microssistema8 que visa a coibir o abuso do direito no processo, bem definido por
Cândido Rangel Dinamarco como “o uso de meios legítimos além dos limites da legitimidade de seu
uso”.9

Reconhecendo essas premissas, por ocasião do julgamento de EDiv em REsp 36.718 o então Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira registrou: “Instrumento da jurisdição e com escopos jurídico, político e
social, o processo contemporâneo, além de prestigiar a lealdade, tem perfil predominantemente
público, razão pela qual incumbe ao juiz que o dirige prevenir e reprimir, de oficio, qualquer ato
contrário à dignidade da justiça”.10

A disciplina da litigância de má-fé tem particular relevância nesse contexto, pois, de modo objetivo,
tipifica condutas ilícitas e estabelece sanções à sua prática.

São sujeitos desses deveres aqueles que figuram como partes no processo, independentemente de
sua posição: autor, réu ou interveniente, de acordo com o que dispõe o art. 16 do CPC (LGL\1973\5).

Por sua vez, o art. 17 do CPC (LGL\1973\5) enumera as condutas que caracterizem a litigância de
má-fé: deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso (inc. I); alterar
a verdade dos fatos (inc. II); usar do processo para conseguir objetivo ilegal (inc. III); opuser
resistência injustificada ao andamento do processo (inc. IV); proceder de modo temerário em
qualquer incidente ou ato do processo (inc. V); provocar incidentes manifestamente infundados (inc.
VI); interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório (inc. VII). São fazeres que
frequentemente se sobrepõem e têm a pretensão comum de impedir a realização de uma tutela
jurisdicional justa, efetiva e tempestiva.

As consequências jurídicas que podem advir da violação a esse código de conduta foram
estabelecidas pelos arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5). O primeiro dispositivo legal afirma que
“responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé”, enquanto o segundo fixa as sanções
passíveis de aplicação ao litigante de má-fé como “pagar multa não excedente a um por cento sobre
o valor da causa”; “indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu”; pagar “honorários
advocatícios e todas as despesas que efetuou”.

Algumas controvérsias foram suscitadas a partir da interpretação desses dispositivos legais. A nosso
ver, não são de difícil solução, adotando-se interpretação literal e teleológica dessas regras.

A primeira delas diz respeito à natureza das sanções, que são de duas ordens: indenizatória e
punitiva.

A responsabilidade civil por litigância de má-fé emerge do comando contido no art. 16 do CPC
(LGL\1973\5), quando estabelece que o litigante assim qualificado responderá por perdas e danos,
no que é complementado pelo disposto no art. 18 do CPC (LGL\1973\5), que prevê o dever de
indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, inclusive, como decorrência da própria
causalidade, dos honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou.

Há consenso, na doutrina, no sentido de se estar diante de ilícito processual de natureza


extracontratual. Isto é, de um ato contrário a lei processual, mas com consequências que
transcendem o âmbito do processo, podendo causar danos de diversas ordens ao lesado.

Arruda Alvim esclarece a esse respeito que “trata-se, no caso, de responsabilidade extracontratual,
oriunda de ilícito processual, e que tenha provocado perdas e danos. O titular de tal direito de
ressarcimento é o adversário do que agiu de má-fé porque este último provocou perdas e danos”.11
Outro não é o entendimento de Cândido Rangel Dinamarco, para quem: “A responsabilidade civil
extracontratual estabelecida no art. 16 do CPC (LGL\1973\5) é objetiva em relação ao dano, não
sendo necessário que o litigante de má-fé tenha o animus de causá-la ou mesmo a consciência de
sua dimensão (basta a intenção de prejudicar o processo e seu andamento, mediante as condutas
tipificadas no art. 17)”.12-13

Essa responsabilização civil, como não poderia deixar de ser, é aquela positivada na legislação civil
(arts. 186 e 927 do CC/2002 (LGL\2002\400)), que contém a fórmula universal por meio da qual se
impõe a todos o dever de indenizar quando, violando deveres de ação ou abstenção cause danos a
outrem.14 Página 4
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Portanto, o ilícito é de natureza processual, mas a responsabilidade é extracontratual, abrangendo


todos os danos causados ao lesado e não apenas aqueles verificados no âmbito do processo.

Com acerto e, nesse exato sentido, Solange Tomiyama em artigo sobre o tema sustenta que: “O
dano compreende o prejuízo extraprocessual efetivo e o que razoavelmente se deixou de ganhar,
revelando as consequências do ato ímprobo. A reparação do dano causado representa a retomada
da posição tida como custo originário, isto é, do valor necessário para alcançar o status quo ante da
prática do ato de má-fé”.15

O conceito de dano era dado, na vigência do art. 1.059 do CC/1916 (LGL\1916\1) (atual art. 402 do
CC/2002 (LGL\2002\400)), e que previa a reparação dos lucros cessantes e danos emergentes.16 A
indenização por dano moral tem fundamento constitucional (art. 5.º, V e X, da CF/1988 (LGL\1988\3))
e infraconstitucional (art. 186 do CC/2002 (LGL\2002\400)) e também integra a esfera de reparação
tutelada pela responsabilidade civil extracontratual.17

Essa reparação não se confunde, portanto, com a responsabilidade por custas e honorários
advocatícios atribuíveis àquele que perdeu a demanda, pois tal ônus já decorre da sucumbência e,
ademais, encontra previsão específica na parte final do art. 18 do CPC (LGL\1973\5): “Indenizar a
parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas
que efetuou”.18

Ainda sobre essa indenização, importa destacar que o legislador optou por criar dois regimes
distintos, como se vê no art. 18, § 2.º, do CPC (LGL\1973\5). Assim, o valor da indenização poderá
ser fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa, ou liquidado por
arbitramento.

Na primeira hipótese, a lei faculta ao juiz presumir a ocorrência de danos, arbitrando o valor da
indenização que, nesse caso - de danos presumidos - não pode ser superior a 20% sobre o valor da
causa.19

A segunda possibilidade trazida pelo dispositivo legal é a de os danos serem liquidados por
arbitramento. Nessa circunstância apuram-se os prejuízos reais causados pelo litigante de má-fé, de
modo ilimitado, isto é, sem a sujeição ao teto de 20% do valor da causa.

Comentando esse dispositivo legal, Humberto Theodoro Júnior observa, com pertinência que
“conferiu-se, outrossim, ao juiz a faculdade de fixar objetivamente a indenização, tomando como
base o valor da causa (hipótese em que não deverá ultrapassar o limite de 20% sobre aquele valor),
ou de determinar que se proceda à liquidação por arbitramento. Na maioria das vezes, portanto, o
juiz mesmo arbitrará sanção, tornando-se de aplicação imediata ao infrator. O arbitramento, a meu
ver, será recomendável apenas quando houver indícios de danos efetivos de grande monta, que
possivelmente ultrapassem a margem tarifada da lei (20% do valor da causa). Aí, sim, haveria
necessidade de uma perícia para determinar o prejuízo real sofrido pela parte que suportou as
consequências da litigância temerária”.20

Ernani Fidélis dos Santos sintetiza: “Para os prejuízos efetivos, não há limite indenizatório. Para os
presumidos há o limite de vinte por cento do valor da causa”.21 Esse entendimento, aliás, tem plena
acolhida pela jurisprudência.22

Essa é a razão pela qual optou o legislador por determinar que a liquidação seja feita por
arbitramento na hipótese de prejuízos efetivos. Estabelece o art. 475-C do CPC (LGL\1973\5)
(equivalente ao revogado art. 606 do CPC (LGL\1973\5)) que se fará liquidação por arbitramento
quando “determinado pela sentença ou convencionado pelas partes”, ou quando “o exigir a natureza
do objeto da liquidação”.

Alcides de Mendonça Lima já advertia que essa modalidade de liquidação constitui situação
inusitada, pois, nela, um dos tipos de prova admitidos pelo sistema processual serve como modo de
liquidar a sentença. É o meio de prova transformado em procedimento.

Diversamente do que ocorre na liquidação por artigos (art. 475-E do CPC (LGL\1973\5)), na
liquidação por arbitramento não há oportunidade para se alegar e provar fato novo. A perícia a ser
realizada incidirá sobre elementos já definidos, no curso da ação. O cabimento da liquidação por
arbitramento decorre, portanto, da necessidade de atividade pericial para a quantificação do valor
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devido, conforme parâmetros definidos na sentença. Assim, somente nos casos em que há a
necessidade de participação de perito, que dispõe de conhecimentos técnicos necessários à
resolução da questão, é que se impõe a liquidação de sentença por arbitramento. Conhecimentos
corriqueiros, integrantes do conjunto de informações do senso comum, não devem ser submetidos
ao arbitramento, mas resolvidos pelo juiz. Se se tratar, todavia, de situação dependente de
conhecimentos especializados, não deve o juiz prescindir dessa forma de liquidação, nomeando,
para tanto, técnico cujos conhecimentos guardem relação próxima, ou direta, com o objeto da
obrigação.

A ação de liquidação de sentença está diretamente ligada, então, com a excepcionalíssima


possibilidade (admitida pelo sistema) de existirem sentenças ilíquidas, isto é, em que não tenha sido
possível ao juiz determinar o valor da condenação ou individuar o objeto da obrigação, e tem como
objetivo justamente eliminar a generalidade presente na condenação, de molde a tornar exequível a
obrigação constituída pela sentença que condenou o réu.23

A partir dessas premissas, pode-se afirmar que, quando se determina a liquidação dos danos por
arbitramento, é porque se está diante de situação em que o julgador entendeu que a composição das
perdas de modo presumido (e pela sistemática legal, no limite de 20% do valor da causa) não seria
suficiente para a reparação integral do prejuízo. Por isso é que a determinação de liquidação das
perdas e danos por arbitramento pressupõe situação em que sejam vislumbrados danos de grande
monta, como bem ponderou Humberto Theodoro Júnior.

Além da indenização já mencionada, o art. 18 do CPC (LGL\1973\5) faz expressa menção à


possibilidade de o lesado ser ressarcido dos honorários advocatícios e despesas que efetuou. Essa
previsão legal somente reforça a intenção do legislador de estabelecer uma regra de ampla
indenizabilidade, abrangendo danos extraprocessuais, contemplados na primeira parte do dispositivo
legal (indenizar a parte contrária do prejuízo que ela sofreu) e também aqueles sofridos
endoprocessualmente, previstos na segunda parte (despesas com pagamento de custas e
honorários advocatícios).

Cumulativamente ou independentemente do pagamento de verbas de natureza reparatória, é


possível haver a condenação do litigante de má-fé ao pagamento de multa24 de 1% do valor da
causa, com evidente caráter punitivo. Por isso, entende-se com razão, na doutrina, que para
aplicação da pena de multa deve haver dolo do litigante.25 De outro lado, sua incidência independe
da demonstração do prejuízo.26

A possibilidade de cumulação de todas as sanções previstas no art. 18 do CPC (LGL\1973\5)


decorre da literalidade da lei, em que inexiste a locução “ou” entre as penalidades passíveis de
aplicação ao litigante de má-fé e, também, da inexistência de vedação legal a tanto, diante da
diversidade da natureza das verbas cumuladas, pois não se corre o risco de incidir em bis in idem.
Esse entendimento é pacífico no âmbito da doutrina27 e também da jurisprudência, notadamente do
STJ28 e do STF.29

Em interessante voto, o Min. Humberto Martins explicita esse mesmo raciocínio para justificar a
cumulação de sanções, não apenas daquelas previstas para o litigante de má-fé, mas também das
demais previstas no microssistema da repressão ao abuso do direito no processo: “Portanto, o
acórdão recorrido acabou por confundir os institutos da multa por litigância de má-fé (art. 18, caput,
do CPC (LGL\1973\5)), com a indenização por litigância (art. 18, § 2.º, do CPC (LGL\1973\5)) e com
a multa por ato atentatório à dignidade da justiça (art. 601 do CPC (LGL\1973\5)). Não se diga que
tais institutos não podem ser aplicados cumulativamente. Em certos casos, por guardarem escopos
diversos, eles podem. Sobre o tema, inclusive, registro as anotações do saudoso professor
Theotonio Negrão, na sua clássica obra Código de Processo Civil (LGL\1973\5) e legislação
processual em vigor (38. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 139, item 9, relacionado ao art. 18, caput,
do CPC (LGL\1973\5)): ‘A multa prevista neste artigo é uma sanção punitiva. Para que ela possa ser
aplicada conjuntamente com outras sanções é necessário que elas exerçam funções distintas (p. ex.,
coercitiva ou reparatória). Um mesmo comportamento não pode ser sancionado mais de uma vez
com a mesma finalidade. São também punitivas as sanções previstas nos arts. 14, parágrafo único,
161, 196, 233, 538, parágrafo único, 557 § 2.º, e 601, caput; logo, não podem ser impostas
cumulativamente. Em cada caso concreto, deve ser aplicada a multa mais específica. Dado o caráter
genérico da multa prevista no art. 18, sua efetiva incidência fica prejudicada nas situações em que
também exista suporte material para a aplicação de punição prevista nos artigos arrolados
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anteriormente com as sanções dos arts. 14, parágrafo único, 538, parágrafo único, 557, § 2.º, e 601,
caput, seja imposta a condenação a indenizar, a pagar honorários advocatícios e a ressarcir
despesas previstas neste art. 18, na medida em que se trata de sanção reparatória, ou seja, distinta
da punitiva. Tanto a multa quanto as demais verbas previstas neste art. 18 são cumuláveis com a
multa prevista nos arts. 461, § 4.º, 621 parágrafo único, e 645, caput, que tem distinta finalidade
coercitiva. Não existem óbices para que uma outra conduta do litigante no mesmo processo venha a
ser objeto de nova punição, fazendo incidir mais uma vez a pena do art. 18 (RT 623/113) ou dando
azo à incidência de outra sanção mais específica, sem prejuízo da pena imposta pelo
comportamento anterior (…)’”.30

Por fim, é fundamental pontuar que a sanção ao litigante de má-fé independe do resultado da
demanda, isto é, de ele ter tido êxito em sua tentativa de alterar a verdade dos fatos, procrastinar o
feito etc. E isso porque “a razão ética que conduz à repressão aos atos desleais conduz a impor a
responsabilidade por litigância de má-fé sempre que desta resulte prejuízo, independentemente da
circunstância de a parte desleal ser vencedora ou vencida no julgamento da causa”.31

Enfim, o sistema de ampla repressão ao abuso do direito no processo, representada pela amplitude
da indenização ao lesado, da aplicação de multa com caráter punitivo, da possibilidade de
cumulação das penas e, tudo isso, independentemente do resultado da demanda, somente
demonstra, em nosso sentir, a importância dada pelo legislador à tutela ética do processo. Assim, o
rigor na sua aplicação é medida que se impõe, como defende Alcides de Mendonça Lima: “Sempre,
porém, que os juizes puderem apontar e destruir a farsa, deverão ser rigorosos, porque: ‘El processo
es la realización de la justicia y ninguna justicia se puede apoyar en la mentira’”.32
3.2 Princípio da fidelidade ao provimento. Liquidação de sentença e coisa julgada. Art. 475-G
do CPC (antigo art. 610)

A ação de liquidação visa à obtenção de uma sentença de mérito que defina o quantum da obrigação
que foi constituída na ação de conhecimento quando, nesta última, não tenha sido possível extremar
os seus limites quantitativos ou individualizar seu objeto.

Essa destinação específica da liquidação de sentença, vocacionada a alcançar a liquidez necessária


e imprescindível para que se dote a sentença da ação de conhecimento de condições de
exequibilidade, faz com que a extensão do pedido, nesse tipo de ação, fique vinculada, condicionada
ou prejudicada pelos termos em que se deu a determinação do an debeatur (na sentença
liquidanda).

Não se trata, todavia, de uma extensão do objeto litigioso da ação de conhecimento anterior. A ação
de liquidação tem pedido específico e determinado que, embora seja estritamente vinculado aos
termos em que se deu a determinação do an debeatur, determina a existência de mérito próprio, vale
dizer, de objeto litigioso diferenciado daquele que se consubstanciou no mérito da ação de
conhecimento em que se prolatou a sentença ilíquida.

Na ação de conhecimento anterior, o objeto litigioso está delineado pelo pedido de condenação ao
cumprimento de determinada obrigação. Na ação de liquidação de sentença, o mérito está cingido
pelo pedido de mensuração do valor (ou da extensão) dessa obrigação, que, todavia, tem de ser
correlato àquilo em que houve condenação.

O pedido formulado pelo autor da liquidação é, portanto, limitado, sob pena necessidade de
obediência aos limites da condenação, assim fixados na sentença liquidanda. Trata-se de manter
afastada a discussão, de qualquer espécie ou natureza, sobre o mérito da ação de conhecimento
resolvida por sentença ilíquida.

Na verdade, mesmo que de liquidação por artigos se trate, em que há razoável atividade probatória,
o respeito ao objeto da sentença liquidanda é absolutamente inarredável, sob pena de desrespeito a
coisa julgada já ocorrida em relação à sentença que se vai liquidar, ou até mesmo à própria sentença
liquidanda, se ainda não tiver ocorrido o trânsito em julgado. De rigor, seja qual for a técnica de
liquidação de que se tenha servido a parte (ou o Poder Judiciário, se a determinação do método
estiver contida na sentença) - arbitramento ou artigos -, a mesma limitação se aplica.

Na hipótese de sentença condenatória que já tenha transitado em julgado, nova discussão sobre o
pedido seria, no entender de Alcides de Mendonça Lima, dar à liquidação caráter rescisório, que ela
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

efetivamente não tem.

A sentença como obrigação ilíquida opera no terreno da determinação daquilo que é devido pelo réu
ao autor, enquanto a liquidação contém pedido exclusivamente dirigido à determinação do quanto é
devido pelo réu ao autor. A primeira constitui a obrigação, ao passo que a segunda somente pode
quantificá-la, sendo defesa qualquer nova discussão a respeito de questões que envolvam a própria
formação do título.

Trata-se de norma imperativa, presente no art. 475-G do CPC (LGL\1973\5) (correspondente ao


revogado art. 610 do CPC (LGL\1973\5)), que prevê, textualmente, o seguinte: “É defeso, na
liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou”.

Essa regra trata, na verdade, daquilo que Cândido Rangel Dinamarco chama de “regra da fidelidade
da liquidação ao título”. Para esse autor, seria até mesmo desnecessária a expressa normatização
constante do revogado art. 610 do CPC (LGL\1973\5) - correspondente ao atual art. 475-G do CPC
(LGL\1973\5) -, pois, segundo seu entender de todo modo estaria defeso qualquer novo julgamento a
respeito daquilo que foi objeto do processo de conhecimento anterior.33

Em primeiro lugar porque, se já tivesse ocorrido o fenômeno da coisa julgada, o disposto no art. 267,
V, do CPC (LGL\1973\5) bastaria para impedir novo pronunciamento a respeito; depois, se ainda não
se estivesse diante da autoridade da coisa julgada, porque pendente de recurso, estar-se-ia diante
do fenômeno da litispendência, também existindo óbice legal a novo pronunciamento.
4. Resposta aos quesitos formulados

Analisados os dados que nos foram fornecidos pelo consulente, e alicerçados nos elementos
jurídicos examinados nos itens precedentes, aos quais nos reportamos, manifestamos nossa opinião
em relação às questões formuladas.

Quesito 1

A declaração judicial de que os devedores são litigantes de má-fé, daí condenados a indenizarem
danos processuais ao credor, significa, juridicamente, que estão obrigados a lhes pagar perdas e
danos?

Sim. O acórdão objeto da liquidação de sentença, proferido no julgamento de apelação cível pelo
TJMG com trânsito em julgado, condenou Antônio Luciano Pereira Neto e outros (autores da ação)
nos seguintes termos: “No que diz respeito ao apelo aviado pelo réu, temos que os autores, ao
sustentarem a sua pretensão em documento já declarado falso por sentença transitada em julgado, a
saber, o pedido do de cujus para que promovessem a ação de deserdação contra o réu, agiram de
modo temerário, de má-fé, sujeitando-se, portanto, à condenação nas penas do art. 18 do CPC
(LGL\1973\5). Assim, condeno os autores ao pagamento de multa no importe de 1% sobre o valor
atualizado da causa, bem como a indenizar os danos processuais que causaram ao réu,
remetendo-se as partes para a liquidação sob a forma de arbitramento”.

Aclarando esse provimento, ao decidir os embargos de declaração opostos pelos autores, aquele
Tribunal registrou: “De se acrescentar que a imposição das sanções decorrentes da litigância de
má-fé aos embargantes se deu em razão destes terem utilizado como um dos fundamentos do
pedido formulado na presente ação, o fato de o réu, ora embargado, ter sido deserdado em
testamento aberto, posteriormente à transação que pretendem rescindir, fato este já reputado
quando do julgamento da ação de deserdação, transitado em julgado, na qual se reconheceu a
falsidade do testamento em referência. Logo, ainda que as sanções impostas ao litigante de má-fé
tenham sido aplicadas aos segundos-apelantes, naqueles autos, temos que, ao utilizarem
novamente o mesmo argumento ensejador das penalidades em comento como um dos fundamentos
da presente pretensão, sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5).
(…) Logo, é de se esclarecer que a imposição de novas sanções decorrentes da litigância de má-fé
se deu em razão de os embargantes terem utilizado, como um dos fundamentos do pedido
formulado na presente ação, a impossibilidade de continuidade do vínculo obrigacional, por perda de
objeto, haja vista o desaparecimento da legítima do réu, determinado na ação de deserdação, fato
este já refutado quando do julgamento da ação em referência, na qual se reconheceu inclusive a
falsidade do documento particular (codicilo) que instruiu o pedido”.
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

A conjugação desses provimentos faz ver, com clareza, que houve a condenação do litigante de
má-fé a pagar multa de 1% sobre o valor da causa e danos, que apesar de terem sido denominados
de processuais, são aqueles indicados no art. 18 do CPC (LGL\1973\5), como revela a própria
remissão ao dispositivo legal feita pela decisão “sujeitando-se, portanto, à condenação nas penas do
art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”, reforçada pelo que se decidiu em sede de embargos de declaração
“sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”.

Essa conclusão é obtida não apenas a partir do que se contém literalmente na decisão liquidanda,
mas se põe como a única possível para guardar coerência com a sistemática da tutela ética do
processo, expressa, no que tange especificamente à litigância de má-fé, nos arts. 16, 17 e 18 do
CPC (LGL\1973\5).

A primeira razão que justifica esse entendimento é a de que os danos e prejuízos a que aludem os
arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) (este último expressamente invocado na condenação) são
aqueles que decorrem da responsabilidade civil extracontratual (normatizada pelos arts. 186, 187 e
927 do CC/2002 (LGL\2002\400), antigos 159, 1.059, 1.060, 1.061 do CC/1916 (LGL\1916\1)).

O ato ilícito é de natureza processual - e por isso a menção da decisão liquidanda a dano
processual, querendo designar os decorrentes do ilícito processual -, mas a responsabilidade civil daí
advinda é ampla, permitindo a apuração de danos ocorridos fora do processo.

Aliás, é fundamental frisar que inexiste, na doutrina, o conceito de dano processual em contraposição
ao de dano civil. Assim, se a responsabilidade civil prevista no art. 18 do CPC (LGL\1973\5) é
extracontratual, como se reconhece de modo pacífico, os danos tutelados por esse sistema somente
podem ser aqueles previstos pelo direito civil: danos emergentes, lucros cessantes e danos morais.

A segunda razão a reforçar essa conclusão é a de que o sistema da tutela ética do processo foi
estabelecido de modo a prestigiar a ampla indenização. Por isso é que as perdas e danos a que se
referem os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) são os mesmos contemplados na responsabilidade
civil, inexistindo, aliás, qualquer palavra na lei que permita entendimento em sentido contrário.

Nessa mesma linha, viu-se que é possível cumular as sanções previstas no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5) (indenização, multa e despesas com o processo); que essa cumulação de sanções
também é possível em relação a outras penas constantes de dispositivos que integram o
microssistema da repressão ao abuso de direito no processo, desde que tenham natureza diversa;
que não há limite indenizatório para os danos realmente sofridos, mas apenas para aqueles
presumidos e, por fim, que a aplicação dessas penalidades independe do resultado da demanda -
basta que o ato de má-fé esteja caracterizado.

A terceira razão, que nos parece fundamental para sustentar esse entendimento, é que a Lei não
contém palavras inúteis,34 de modo que, se as perdas e danos mencionados nos arts. 16 e 18 do
CPC (LGL\1973\5) se restringissem àqueles sofridos no âmbito do processo, desnecessário seria a
menção, na parte final do dispositivo, ao dever do litigante de má-fé a pagar “mais os honorários
advocatícios e todas as despesas que efetuou”. Ora, quais outros prejuízos poderiam haver dentro
do processo, que não gastos com honorários advocatícios e despesas processuais? Evidentemente,
então, que a menção a “prejuízos” e “perdas e danos” quer significar todos aqueles ocorridos no
âmbito civil, e que os danos ocorridos endoprocessualmente foram previstos de modo autônomo na
parte final do art. 18 do CPC (LGL\1973\5).

A quarta razão: a decisão liquidanda determinou que os danos fossem apurados em liquidação por
arbitramento. Como se viu, esse procedimento só é adequado quando for necessária atividade
pericial para a quantificação do valor devido, conforme parâmetros definidos na sentença. Assim,
somente nos casos em que há a necessidade de participação de perito, que dispõe de
conhecimentos técnicos necessários à resolução da questão, é que se impõe a liquidação de
sentença por arbitramento.

Nesse contexto, seria absolutamente dispensável determiná-la se a decisão liquidanda tivesse


limitado (ou pretendido limitar) a condenação por litigância de má-fé à pena de multa de 1% sobre o
valor da causa e ao pagamento de honorários advocatícios e despesas processuais, uma vez que
essas verbas podem ser apuradas mediante simples cálculos, dispensando liquidação com atividade
pericial.
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

Ademais, diante da faculdade legal de a indenização ser presumida, ela poderia ter sido limitada a
20% do valor da causa e fixada desde já no acórdão. Se isso não ocorreu, foi porque se reconheceu
a gravidade da conduta dos autores da ação - que utilizaram na demanda documento cuja falsidade
já havia sido reconhecida definitivamente em outra ação para impedir Lhano Nelson de receber a
herança que lhe cabia - e, vislumbrando a amplitude dos danos causados ao herdeiro necessário
com essa conduta, o Tribunal determinou a apuração dos danos em liquidação por arbitramento.

Como se viu linhas atrás, é pacífico na doutrina que a liquidação por arbitramento é utilizada
justamente nas hipóteses em que o dano real certamente ultrapassaria os 20% do valor da causa e,
por isso, não pode ser presumido e fixado previamente pelo magistrado, mas verificado
concretamente.

Por todas essas razões nos parece que nenhuma outra conclusão é possível no caso, que não a de
que a condenação em litigância de má-fé ora analisada abrangeu as sanções de multa e indenização
por perdas e danos - decorrentes de ilícito processual -, mas aferíveis extraproces-sualmente.

Quesito 2

O critério proposto pelo credor, na petição em que requereu a liquidação por arbitramento (itens 6, 7,
e 8), para apuração do quantum indenizatório, revela-se juridicamente correto?

Sim. Como registramos anteriormente, a liquidação por arbitramento foi iniciada pelo credor Lhano
Nelson fixando as seguintes premissas de direito: (a) nos termos do art. 16 do CPC (LGL\1973\5)
“responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor”; (b) de acordo com o art. 18
do CPC (LGL\1973\5) “o juiz ou tribunal (…) condenará o litigante de má-fé (….) a indenizar a parte
contrária dos prejuízos que esta sofreu”, sendo que “o valor da indenização será (…) fixado pelo juiz,
em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa ou liquidação por arbitramento”; (c) o conceito
de perdas e danos é normativo, regido pelo então vigente art. 1.059 do CC/1916 (LGL\1916\1): “As
perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de ganhar”.

E, no plano fático, as seguintes: (a) os danos suportados pelo credor Lhano Nelson, cujo valor seria
arbitrado na liquidação de sentença, resultam do retardamento do cumprimento dos termos da
transação que os autores celebraram com aquele em 06.06.1990, e que buscaram rescindir de modo
temerário com o ajuizamento da ação em questão; (b) na referida transação, os autores confessaram
o recebimento de doações inoficiosas, com excesso de legítima, feita pelos pais dos litigantes
quando vivos e se comprometeram a avaliá-los e vendê-los, pagando ao credor Lhano Nelson sua
cota hereditária com o produto da venda, no prazo de três anos a partir da assinatura do instrumento
em 06.06.1990; (c) os autores efetuaram o pagamento de quantia ínfima, devendo até aquele
momento o pagamento da quase totalidade da cota hereditária; (d) além de não efetuarem o
pagamento, os autores ingressaram em 21.06.1991 com a ação em questão, objetivando rescindir o
contrato e privar o credor Lhano Nelson de sua cota hereditária, mas efetuaram o pagamento devido,
em razão da mesma transação, aos demais irmãos do credor.

A liquidação de sentença por arbitramento, assim, teve por objetivo apurar o valor da cota hereditária
devida ao credor Lhano Nelson, cujo pagamento deveria ter ocorrido em 06.06.1993 e, a partir daí,
viabilizar a quantificação: (a) dos lucros cessantes sofridos pelo credor, consubstanciados nos juros
legais que deixou de perceber com o retardamento do pagamento de sua cota hereditária; e (b) dos
danos morais sofridos pelo credor, em razão da angústia suportada pelo retardamento do pagamento
de sua cota hereditária por mais de nove anos (tempo que tramitou a ação de rescisão contratual).

Pretendeu-se, também, o recebimento do valor de R$ 17.045,4335 a título de honorários pagos pelo


credor aos advogados que o defenderam ao longo da ação, bem como ao pagamento da verba
honorária de sucumbência no importe de R$ 10.000,00,36 ambos atualizados.

Em nosso sentir os critérios indicados no pedido de liquidação encontram-se absolutamente corretos.


Não se pode perder de vista que “a reparação do dano causado representa a retomada da posição
tida como custo originário, isto é, do valor necessário para alcançar o status quo ante da prática do
ato de má-fé”.37

A adequação do pedido, do ponto de vista jurídico, decorre do conteúdo da decisão liquidanda - que
condenou os litigantes de má-fé a pagarem a Lhano Nelson multa e danos, na forma do art. 18 do
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

CPC (LGL\1973\5). Assim, o requerimento para que se efetue o pagamento da multa e dos danos
encontra previsão no título objeto da liquidação e também no dispositivo legal que lhe deu suporte.

A multa foi fixada em valor determinável por simples cálculo, de 1% sobre o valor da causa
atualizado. Foi calculada em perícia e dispensava a demonstração de qualquer outro requisito para
se tornar exigível, pois independe da prova de culpa ou dolo dos litigantes de má-fé ou de prejuízo
da parte lesada.

Os danos, por sua vez, por serem aqueles decorrentes da responsabilidade civil extracontratual,
derivada de ilícito processual, exigem a demonstração do dano e nexo de causalidade com a
conduta, dispensando, porém, nova comprovação da conduta ilícita, pois essa já foi reconhecida de
modo definitivo no título judicial que declarou a litigância de má-fé e lhe impôs sanções.

Assim, os elementos contidos no processo foram aptos a demonstrar a existência de dano, ao


herdeiro Lhano Nelson, decorrente da conduta ilícita dos autores da ação. Veja-se.

A conduta ilícita foi reconhecida no acórdão objeto da ação de liquidação como: “Terem utilizado
como um dos fundamentos do pedido formulado na presente ação, o fato de o réu, ora embargado,
ter sido deserdado em testamento aberto, posteriormente à transação que pretendem rescindir, fato
este já reputado quando do julgamento da ação de deserdação, trânsita em julgado, na qual se
reconheceu a falsidade do testamento em referência. Logo, ainda que as sanções impostas ao
litigante de má-fé tenham sido aplicadas aos segundo-apelantes naqueles autos, temos que, ao
utilizarem novamente o mesmo argumento ensejador das penalidades em comento como um dos
fundamentos da presente pretensão, sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC
(LGL\1973\5).

Em outras palavras: reconheceu-se como ilícita a utilização de documento falso para obstar direito
do aqui credor Lhano Nelson ao recebimento de sua legítima.

Os danos foram apurados mediante cálculo pericial e resultam do retardamento do cumprimento dos
termos da transação que os autores celebraram com aquele em 06.06.1990, e que buscaram
rescindir de modo temerário com o ajuizamento da ação em questão.

Como mencionado, na referida transação, os autores confessaram o recebimento de doações


inoficiosas, com excesso de legítima, feita pelo pai dos litigantes quando vivo e se comprometeram a
avaliá-los e vendê-los, pagando ao credor Lhano Nelson sua cota hereditária com o produto da
venda, no prazo de 3 anos a partir da assinatura do instrumento em 06.06.1990. Os autores
efetuaram o pagamento de quantia ínfima, devendo até aquele momento o pagamento da quase
totalidade da cota hereditária. Além de não efetuarem o pagamento, os autores ingressaram em
21.06.1991 com a ação em questão, objetivando rescindir o contrato e privar o credor Lhano Nelson
de sua cota hereditária, mas efetuaram o pagamento devido, em razão da mesma transação, aos
demais irmãos do credor.

Assim, a perícia calculou os lucros cessantes consubstanciados nos juros de 6% ao ano (na forma
dos arts. 1.062 e 1.063 do CC/1916 (LGL\1916\1)) sobre o valor do capital devido a Lhano Nelson,
desde a data em que deveria ter sido pago até a data da elaboração do laudo pericial - ocasião em
que a obrigação ainda não havia sido satisfeita.

Calculou também os danos emergentes, correspondentes ao valor dos honorários que Lhano Nelson
gastou com os advogados que patrocinaram sua defesa na ação e a condenação das verbas de
sucumbência - decorrentes do fato de terem sido vencidos (não se relacionando diretamente com a
condenação a litigância de má-fé).

A toda evidência os danos apurados guardam direta correlação com o ato ilícito reconhecido na
decisão liquidanda.

Não importa o fato de os litigantes de má-fé terem perdido a demanda, ao contrário do que registrou
a sentença proferida na liquidação, pois o dano (no caso dos lucros cessantes) se consumou pelo
retardamento no cumprimento da obrigação, para o qual foi decisivo o ajuizamento da ação em que
pretenderam rescindir a transação. Foi nesse processo, aliás, que se reconheceu a litigância de
má-fé.
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

A circunstância de os autores terem perdido a demanda impediu que retirassem do herdeiro Lhano
Nelson o direito reconhecido no acordo celebrado entre as partes (a cota hereditária), contudo, não
foi o valor equivalente a esse direito que se apurou e pleiteou como perdas e danos na liquidação,
conforme equivocadamente registraram a sentença e o acórdão proferidos na liquidação por
arbitramento.38

Como frisado acima, na liquidação de sentença apurou-se o valor dos lucros cessantes decorrentes
do retardamento no cumprimento da obrigação, e a sucumbência na demanda não impediu que esse
dano se implementasse. Precisamente por isso não é correto afirmar - como fez a sentença
confirmada pelo acórdão objeto do recurso especial - que “o artifício foi inválido para o fim que se lhe
predispôs” e que “não houve, portanto, maiores perdas ou danos para o réu além das despesas
processuais que teve para a defesa de seu direito”.

O nexo de causalidade da conduta ilícita com os danos emergentes (honorários advocatícios)


também é notório. A despesa somente ocorreu em razão da lide temerária proposta pelos litigantes
de má-fé, que usaram de documento falso para tentar obstar o direito de Lhano Nelson ao
recebimento de sua cota hereditária.

Os danos morais também se encontram no espectro das perdas e danos previstos no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5) e independem de comprovação no caso, por se tratar de dano moral puro, que exige
apenas a demonstração da violação ao direito. Sua relação de causalidade com a conduta ilícita
também é clara, pois, na época em que se deu início a liquidação de sentença - novembro de 2002 -
já haviam se passado mais de nove anos desde a celebração do acordo para Lhano Nelson receber
a sua cota-parte da herança, o que ainda não havia ocorrido em razão do ato ilícito cometido pelos
litigantes de má-fé: utilização de documento falso, em duas ações judiciais, para impedir o exercício
do direito do herdeiro.

Todos os danos cuja apuração se requereu na liquidação de sentença, portanto, não apenas
encontram previsão no título judicial que determinou sua reparação, mas, sobretudo, decorrem
diretamente do ato ilícito cometido pelos autores da ação: utilização de documento falso em ação de
rescisão de acordo para impedir o recebimento da cota hereditária pelo herdeiro e aqui credor Lhano
Nelson. Restam configurados desse modo todos os requisitos necessários ao pagamento da
indenização determinada e compreendida na tutela da litigância de má-fé.

Quesito 3

Os acórdãos recorridos, ao confirmarem a sentença apelada, afrontaram a coisa julgada e


contrariaram os preceitos normativos dos arts. 467 e 610 do CPC (LGL\1973\5)? (lembrando-se que
o art. 610 do CPC (LGL\1973\5) estava em vigor, antes da alteração feita pela Lei 11.232/2005, e
que seu teor normativo, atualmente, está repetido no art. 475-G do CPC (LGL\1973\5)?).

Sim. É preciso repetir aqui que o acórdão objeto da liquidação de sentença condenou Antônio
Luciano Pereira Neto e outros (autores da ação) nos seguintes termos: “No que diz respeito ao apelo
aviado pelo réu, temos que os autores, ao sustentarem a sua pretensão em documento já declarado
falso por sentença transitada em julgado, a saber, o pedido do de cujus para que promovessem a
ação de deserdação contra o réu, agiram de modo temerário, de má-fé, sujeitando-se, portanto, à
condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5). Assim, condeno os autores ao pagamento
de multa no importe de 1% sobre o valor atualizado da causa, bem como a indenizar os danos
processuais que causaram ao réu, remetendo-se as partes para a liquidação sob a forma de
arbitramento”. E que, aclarando esse provimento, ao decidir os embargos de declaração opostos
pelos autores, aquele Tribunal ainda reforçou que os autores “sujeitam-se sim à condenação nas
penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”.

De acordo com o que expusemos na resposta ao quesito 1, a conjugação desses provimentos revela
que houve a condenação do litigante de má-fé a pagar multa de 1% sobre o valor da causa e danos,
que apesar de terem sido denominados de processuais, são aqueles indicados no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5), como revela a própria remissão ao dispositivo legal feita pela decisão “sujeitando-se,
portanto, à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”, reforçada pelo que se decidiu
em sede de embargos de declaração “sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC
(LGL\1973\5)”.
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

Explicamos, também, que o ato ilícito é de natureza processual - e por isso a menção da decisão
liquidanda a dano processual, querendo designar os decorrentes do ilícito processual-, mas a
responsabilidade civil daí advinda é ampla, permitindo a apuração de danos ocorridos fora do
processo (mas em decorrência dele).

Ao apreciar a liquidação, no entanto, o magistrado em sentença e o Tribunal no acórdão da


apelação, cometeram violação ao art. 475-G do CPC (LGL\1973\5) (então art. 610 do CPC
(LGL\1973\5)), pois distorceram o comando da decisão liquidanda e restringiram a condenação
imposta aos litigantes de má-fé, alterando o que havia sido determinado na decisão transitada em
julgado.

Em diversas passagens da sentença, vê-se que se substituiu a condenação ao pagamento de danos


processuais por despesas processuais. Às f. 1.465 lê-se que: “A existência de acórdão condenando
os apelados por litigância de má-fé restringe-se à multa e despesas processuais”. Em outro ponto, às
f. 1.372, registrou-se que “existe uma sanção que se determinou fosse arbitrada por uma conduta
evidenciada em ação civil com valor de causa fixo e despesas evidentes mediante recibo nos autos”.

O mesmo ocorreu no acórdão da apelação, em que se lê: “existência de acórdão condenando os


apelados por litigância de má-fé restringe-se à multa e despesas processuais. Nada mais”.

Servem aqui as conclusões registradas na resposta ao quesito 1. A exegese da decisão liquidanda


demonstra que a condenação foi ao pagamento de perdas e danos na forma do art. 18 do CPC
(LGL\1973\5), porque:

1. Os danos e prejuízos a que aludem os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) são aqueles que
decorrem da responsabilidade civil extracontratual (normatizada pelos arts. 186, 187 e 927 do
CC/2002 (LGL\2002\400), antigos 159, 1.060, 1.061 do CC/1916 (LGL\1916\1)).

2. Inexiste, na doutrina, o conceito de dano processual em contraposição ao de dano civil. Assim, se


a responsabilidade civil prevista no art. 18 do CPC (LGL\1973\5) é extracontratual, como se
reconhece de modo pacífico, os danos tutelados por esse sistema somente podem ser aqueles
previstos pelo direito civil: danos emergentes, lucros cessantes e danos morais.

3. O sistema da tutela ética do processo foi estabelecido de modo a prestigiar a ampla indenização,
razão pela qual é possível cumular as sanções previstas no art. 18 do CPC (LGL\1973\5)
(indenização, multa e despesas com o processo); essa cumulação de sanções também é possível
em relação a outras penas constantes de dispositivos que integram o microssistema da repressão ao
abuso de direito no processo, desde que tenham natureza diversa; não há limite indenizatório para
os danos realmente sofridos, mas apenas para aqueles presumidos e, por fim, a aplicação dessas
penalidades independe do resultado da demanda - basta que o ato de má-fé esteja caracterizado.

4. A Lei não contém palavras inúteis, de modo que, se as perdas e danos mencionados nos arts. 16
e 18 do CPC (LGL\1973\5) se restringissem àqueles sofridos no âmbito do processo, desnecessário
seria a menção, na parte final do dispositivo, ao dever do litigante de má-fé a pagar “mais os
honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou”.

5. A decisão liquidanda determinou que os danos fossem apurados em liquidação por arbitramento.
Como se viu, esse procedimento é adequado quando for necessária atividade pericial para a
quantificação do valor devido, conforme parâmetros definidos na sentença. Nes-se contexto, seria
absolutamente desnecessário determiná-la se a decisão liquidanda tivesse limitado (ou pretendido
limitar) a condenação por litigância de má-fé à pena de multa de 1% sobre o valor da causa e ao
pagamento de honorários advocatícios e despesas processuais, uma vez que essas verbas podem
ser apuradas mediante simples cálculos, dispensando liquidação com atividade pericial.

A decisão liquidanda, portanto, contém condenação ao pagamen-to de multa e indenização por


perdas e danos - decorrentes de ilícito processual -, mas aferíveis extraprocessualmente. Por isso,
reduzir “perdas e danos” a “despesas processuais” equivale a “discutir de novo a lide” e “modificar a
sentença que a julgou”, prática absolutamente proibida pelo art. 475-G do CPC (LGL\1973\5) (antigo
art. 610 do CPC (LGL\1973\5)).

Quesito 4
Página 13
A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

Os acórdãos recorridos contrariaram os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5)?

Sim. Já registramos, em diversas passagens dessa consulta, nosso entendimento de que os danos e
prejuízos a que aludem os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) são aqueles que decorrem da
responsabilidade civil extracontratual (normatizada pelos arts. 186, 187 e 927 do CC/2002
(LGL\2002\400), antigos 159, 1.060, 1.061 do CC/1916 (LGL\1916\1)).

Assim, ao ignorar que a condenação contida na decisão liquidanda reconheceu a litigância de má-fé
de Antônio Luciano Pereira Neto e outros e determinou o pagamento de danos na forma do art. 18
do CPC (LGL\1973\5), os acórdãos recorridos negaram vigência a esse dispositivo legal, bem como
ao art. 16 do CPC (LGL\1973\5) e 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916 (LGL\1916\1) (vigente à
época).

O significado e alcance da expressão negar vigência foi bem apreendido pelo ex-Min. do STF Pedro
Lessa: “Deixar de aplicar a lei invocada, ou dar a essa Lei interpretação de forma a negar direito que
ela confere”.39

Foi justamente o que ocorreu na situação em análise. Interpretaram-se os arts. 16 e 18 do CPC


(LGL\1973\5) de modo a restringir os direitos que esses dispositivos legais conferem, ou seja, a
ampla indenização dos prejuízos (perdas e danos) que a vítima da litigância de má-fé
compro-vadamente sofreu.

Ao substituírem a expressão dano processual - que queria designar os danos sofridos pela parte em
decorrência do ato de má-fé realizado no processo - por despesa processual, os acórdãos recorridos
retiraram do aqui credor Lhano Nelson o direito à reparação, conferido pelos arts. 16 e 18 do CPC
(LGL\1973\5) e pela decisão que os aplicou no caso concreto.

Como decorrência do afastamento da tutela prevista nos arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5), que
têm em sua estrutura conceito normativo de responsabilidade civil e danos, positivado nos arts.
1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916 (LGL\1916\1), também se negou vigência a esses
dispositivos legais.

Quesito 5

Os acórdãos recorridos negaram vigência aos arts. 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916
(LGL\1916\1)? (em vigor quando os devedores foram condenados)

Sim, pelas mesmas razões expostas na resposta ao quesito anterior, ao qual nos reportamos
integralmente.
5. Conclusão

Analisados os dados que nos foram fornecidos, e alicerçados nos elementos jurídicos examinados
nos itens precedentes, aos quais nos reportamos, manifestamos nossa opinião no sentido de que os
acórdãos recorridos negaram vigência aos arts. 16, 18, 435, 467, 471 e 610 do CPC (LGL\1973\5) e
1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916 (LGL\1916\1) (vigente a época), porque:

1. Existe consenso, hoje, no sentido de que o processo civil é instrumento de realização de direitos e,
pela altíssima relevância dessa função, seu desenvolvimento exige atuação ética das partes, que
pode ser sintetizada pela observância ao princípio da lealdade processual. Há, no Código de
Processo Civil (LGL\1973\5), um conjunto de regras que visam à repressão ao abuso do direito no
processo, entre as quais tem papel fundamental aquelas relativas à tutela da litigância de má-fé.

2. A responsabilidade civil por litigância de má-fé emerge do comando contido no art. 16 do CPC
(LGL\1973\5), quando estabelece que o litigante assim qualificado responderá por perdas e danos,
no que é complementado pelo disposto no art. 18 do CPC (LGL\1973\5), que prevê o dever de
indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, inclusive, como decorrência da própria
causalidade, dos honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. É pacífico na doutrina
que se trata de ilícito processual de natureza extracontratual. Isto é, de um ato contrário à lei
processual, mas com consequências que transcendem o âmbito do processo, podendo causar danos
de diversas ordens ao lesado.
Página 14
A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

3. É evidente, na situação subjacente a esta consulta, que o título judicial objeto da liquidação por
arbitramento condenou o litigante de má-fé a pagar multa de 1% sobre o valor da causa e danos, que
apesar de terem sido denominados de processuais, são aqueles indicados no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5), como revela a própria remissão ao dispositivo legal feita pela decisão “sujeitando-se,
portanto, à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”, reforçada pelo que se decidiu
em sede de embargos de declaração “sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC
(LGL\1973\5)”. E isso porque o ato ilícito é de natureza processual - e por isso a menção da decisão
liquidanda a dano processual, querendo designar os decorrentes do ilícito processual -, mas a
responsabilidade civil daí advinda é ampla, permitindo a apuração de danos ocorridos fora do
processo (mas em decorrência dele). Reforçam essa conclusão as seguintes premissas:

3.1 Inexiste, na doutrina, o conceito de dano processual em contraposição ao de dano civil. Assim,
se a responsabilidade civil prevista no art. 18 do CPC (LGL\1973\5) é extracontratual e os danos
tutelados por esse sistema somente podem ser aqueles previstos pelo direito civil: danos
emergentes, lucros cessantes e danos morais.

3.2 O sistema da tutela ética do processo foi estabelecido de modo a prestigiar a ampla indenização,
razão pela qual é possível cumular as sanções previstas no art. 18 do CPC (LGL\1973\5)
(indenização, multa e despesas com o processo); essa cumulação de sanções também é possível
em relação a outras penas constantes de dispositivos que integram o microssistema da repressão ao
abuso de direito no processo, desde que tenham natureza diversa; não há limite indenizatório para
os danos realmente sofridos, mas apenas para aqueles presumidos e, por fim, a aplicação dessas
penalidades independe do resultado da demanda - basta que o ato de má-fé esteja caracterizado.

3.3 A Lei não contém palavras inúteis, de maneira que, se as perdas e danos mencionados nos arts.
16 e 18 se restringissem àqueles sofridos no âmbito do processo, desnecessário seria a menção, na
parte final do dispositivo, ao dever do litigante de má-fé a pagar “mais os honorários advocatícios e
todas as despesas que efetuou”.

3.4 A decisão liquidanda determinou que os danos fossem apurados em liquidação por arbitramento,
que é o procedimento adequado quando for necessária atividade pericial para a quantificação do
valor devido, conforme parâmetros definidos na sentença. Nesse contexto, seria absolutamente
desnecessário determiná-la se a decisão liquidanda tivesse limitado (ou pretendido limitar) a
condenação por litigância de má-fé à pena de multa de 1% sobre o valor da causa e ao pagamento
de honorários advocatícios e despesas processuais, uma vez que essas verbas podem ser apuradas
mediante simples cálculos do credor.

4. Os critérios indicados no pedido de liquidação no caso subjacente a essa consulta encontram-se


absolutamente corretos. A adequação do pedido, do ponto de vista jurídico, decorre do conteúdo da
decisão liquidanda - que condenou os litigantes de má-fé a pagarem a Lhano Nelson multa e danos,
na forma do art. 18 do CPC (LGL\1973\5). Assim, o requerimento para que se realizasse o
pagamento da multa e dos danos encontra previsão no título objeto da liquidação e também no
dispositivo legal que lhe deu suporte.

5. Os acórdãos recorridos, nesse ponto, partiram de premissa equivocada ao não reconhecer a


existência de dano decorrente da conduta dos litigantes de má-fé. Merece especial registro os danos
apurados a título de lucros cessantes, que tiveram como causa o retardamento no cumprimento da
obrigação e não a suposta perda do quinhão hereditário. Assim, não tem relevância o fato de os
litigantes de má-fé terem perdido a demanda, diferentemente do que concluiu a sentença proferida
na liquidação, pois o dano (no caso dos lucros cessantes) se consumou pelo retardamento no
cumprimento da obrigação, para o qual foi decisivo o ajuizamento da ação em que pretenderam
rescindir a transação, independentemente de seu resultado final.

6. A decisão liquidanda contém condenação ao pagamento de multa e indenização por perdas e


danos - decorrentes de ilícito processual -, mas aferíveis extraprocessualmente. Por isso, reduzir
“perdas e danos” a “despesas processuais”, como fizeram os acórdãos recorridos, equivale a
“discutir de novo a lide” e “modificar a sentença que a julgou”, prática absolutamente proibida pelo
art. 475-G do CPC (LGL\1973\5) (antigo art. 610 do CPC (LGL\1973\5)).

7. Dessa indevida substituição de expressões com significados completamente distintos (“dano


processual” - que queria designar os danos sofridos pela parte em decorrência do ato de má-fé
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

realizado no processo e “despesa processual”), pelos acórdãos recorridos, resultou a ilegal


subtração do direito do credor Lhano Nelson à reparação conferida pelos arts. 16 e 18 do CPC
(LGL\1973\5) e pela decisão que os aplicou no caso concreto. Como decorrência do afastamento da
tutela prevista nos arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5), que têm em sua estrutura conceito normativo
de responsabilidade civil e danos, positivado nos arts. 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916
(LGL\1916\1), também se negou vigência a esses dispositivos legais.

É a nossa opinião, s.m.j.

Curitiba, 4 de março 2011.

1 Nota do Editorial: Os dispositivos do CC/1916 (LGL\1916\1) encontram-se revogados.

2 Autuada sob o n. 024.91.785.559-5, que tramitou perante a 8.ª Vara Cível de Belo Horizonte.

3 Em razão do grande volume dos autos à época - cerca 1.149 folhas e 11 volumes - requereu-se
expedição de carta de sentença, com o objetivo de facilitar os procedimentos e manuseio.

4 Devidamente corrigidos desde o pagamento em 13.02.2001.

5 Em 15.03.1999, a ser corrigido a partir da sentença.

6 A esse respeito afirmamos, em outro espaço que: “O princípio da lealdade, de sua vez, vem tratado
minuciosamente nos arts. 14 e seguintes do CPC (LGL\1973\5). O comportamento das partes e de
todos os envolvidos no processo deve respeitar os preceitos relativos à boa-fé, repugnando ao
sistema o comportamento desleal. Se o processo tem como um de seus escopos a realização do
direito no caso concreto, não se pode alcançar esse objetivo por meio de trapaças e
comportamentos levianos. A lei prevê severas punições para os comportamentos destoantes desse
princípio. Como já observamos, quando tratamos da noção de norma que contém dever a ser
observado pela parte (e por todos quantos atuem no processo), o art. 14 do CPC (LGL\1973\5) prevê
como dever, tanto das partes quanto de seus advogados, o de “proceder com lealdade e boa-fé” (inc.
II) (WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. Curso
avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10. ed. rev., atual.
e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2008. vol. 1, p. 86).

7 Com habitual lucidez, Arruda Alvim registra a esse respeito que: “A alta finalidade pública do
processo civil, que consiste na verificação de fatos ocorridos, como pressupostos da aplicação
adequada da lei ao caso concreto (‘justa composição da lide’), no dizer expressivo, mas menos
preciso, de Carnelutti, não pode, no direito positivo brasileiro, prescindir da colaboração ética das
partes. Caso contrário, o juiz teria de ‘lutar’, em realidade, ‘contra’ os próprios litigantes que, por sua
vez, lutariam violentamente, entre si, ao arrepio da mais elementar ética. Ou então, como no
processo contemporâneo ao liberalismo, o juiz sem maiores poderes, apenas julgava em função do
que lhe houvessem aportado os litigantes. Para se conseguir, pois numa medida satisfatória, no
campo do processo, um comportamento compatível com as finalidades de justiça e do direito, fins
dinamizadores da atividade jurisdicional, mas cuja atividade depende da conduta dos litigantes,
necessário é o estabelecimento de uma série de regras entrosadas, mediante as quais se traçam
limites socialmente aceitáveis de comportamento, que as partes devem observar. Tais regras, em
última análise, sintetizam-se no chamado princípio da lealdade processual” (ARRUDA ALVIM.
Deveres das partes e dos procuradores, no direito processual civil brasileiro: a lealdade do processo.
Revista de Processo. n. 69. ano 18. p. 10. São Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 2003.

8 Integram essa tutela os arts. 14; 16; 17; 18; 273, II; 161; 196; 233; 557, parágrafo único; 538, § 2.º;
601, caput, do CPC (LGL\1973\5).

9 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed. rev. e atual. e com
remissões ao Código Civil (LGL\2002\400) de 2002. São Paulo: Malheiros, 2004. vol. 2, p. 267.

10 EREsp 36.718/RS, 2.ª Seção, rel. p/ acórdão Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 13.02.1995.
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

Mais recentemente, o STJ reafirmou essa posição, expressa no seguinte precedente: “No que
concerne à natureza jurídica da indenização por litigância de má-fé, constata-se que, ao contrário da
multa supracitada, ela não nasce por meio de um negócio jurídico. Ela é prevista em norma de
ordem pública, disposta nos arts. 16, 17 e 18 do CPC (LGL\1973\5), que regulam a conduta das
partes no processo. Por meio desses dispositivos, protege-se, em um primeiro momento, as partes
litigantes, e em um segundo, a própria coletividade, pois resguarda e recomenda um dever geral de
lealdade processual. Essa conduta leal dentro do processo funciona como um requisito necessário
para a efetiva existência do procedimento processual, o que nos leva à conclusão de que atua
também como uma das bases do direito subjetivo de ação, e em consequência, da segurança
jurídica” (REsp 1.127.721/RS, 3.ª T., j. 03.12.2009, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 18.12.2009).

11 ARRUDA ALVIM. Tratado de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 1996. p. 428.

12 DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 265-271.

13 De artigo específico sobre a questão, colhem-se interessantes considerações sobre a aplicação


da teoria da responsabilidade civil extracontratual na litigância de má-fé: “Verificada a ocorrência de
má-fé através do abuso de direito observa-se que cabe à parte ofendida indenização pelos prejuízos
sofridos. Ressalta-se que para ser caracterizada a responsabilidade do agente, é necessária a
existência de três requisitos, consoantes ensinamentos do Mestre Rui Stoco, para quem ‘etiologia da
responsabilidade civil, estão presentes três elementos, ditos essenciais na doutrina subjetivista: a
ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta; um dano; e o nexo de causalidade entre um e
outro’. Não basta que o agente haja procedido contra jus, isto é, não se define a responsabilidade
pelo fato de cometer um ‘erro de conduta.’ Não basta que a vítima sofra um dano, que é o elemento
objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo, a conduta antijurídica não gera
obrigação de indenizar. É necessário que se estabeleça uma relação de causalidade entre a
injuridicidade da ação e o mal causado, ou, na feliz expressão de Domogue, ‘é preciso esteja certo
que, sem este fato, o dano não teria acontecido. Assim, não basta que uma pessoa tenha
contravindo a certas regras; é preciso que sem esta contravenção, o dano tenha sido causado pela
culpa do sujeito’. Adverte Caio Mario ser ‘este o mais delicado dos elementos da responsabilidade
civil e o mais difícil de ser determinado. Aliás, sempre que um problema jurídico vai ter na indagação
ou na pesquisa da causa, desponta a sua complexidade maior. Mesmo que haja culpa e dano, não
existe obrigação de reparar, se entre ambos se estabelecer a relação causal’. Como explica
Genéviève Viney, ‘cabe ao jurista verificar se entre os dois fatos conhecidos (o fato danoso e o
próprio dano) existe um vínculo de causalidade suficientemente caracterizado’. Analisando-se o
exposto no art. 18 do CPC (LGL\1973\5), constata-se que o litigante de má-fé será condenado a
pagar multa não excedente a 1% (um por cento) sobre o valor da causa e a indenizar à parte
contrária dos prejuízos que esta sofreu, além dos honorários advocatícios e todas as despesas que
efetuou. Os danos a serem ressarcidos podem ser tanto de ordem material (patrimonial) e moral,
podendo ser fixados desde logo pelo juiz a ser apurado em liquidação por arbitramento. Ora,
consoante ensinamento da Mestre Maria Helena Diniz, o dano é ‘um dos pressupostos da
responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não poderá haver ação de indenização
sem a existência de um prejuízo. Só haverá responsabilidade civil se houver um dano a reparar.’ Isto
é assim porque a responsabilidade resulta em obrigação de ressarcir que, logicamente, não poderá
concretizar-se onde nada há que reparar. Não pode haver responsabilidade civil sem a existência de
um dano a um bem jurídico, sendo imprescindível a prova real e concreta dessa lesão. Deveras, para
que haja pagamento da indenização pleiteada é necessário comprovar a ocorrência de um dano
patrimonial ou moral, fundados não na índole dos direitos subjetivos afetados, mas nos efeitos da
lesão jurídica” (TOMIYAMA, Solange. O valor da condenação da litigância de má-fé: art. 18 do CPC
(LGL\1973\5). In: GOMES JUNIOR, Luiz Manoel; COURA, Andréia Fernandes et al. Temas
controvertidos de direito processual civil: 30 anos do CPC (LGL\1973\5). Rio de Janeiro: Forense,
2004. p. 441).

14 Nesse sentido, afirma-se na doutrina que: “Assim configurada, a responsabilidade civil por
litigância de má-fé constitui autêntica indenização e não multa (assim é a jurisprudência do STF).
Consequentemente, só será imposta se houver prejuízo (CC, arts. 186 e 927)” (DINAMARCO,
Cândido Rangel. Op. cit. p. 265-271).

15 TOMIYAMA, Solange. Op. cit., p. 433-436. Nelson Nery Junior compartilha desse mesmo
entendimento: “Caso o juiz reconheça a litigância de má-fé, mas não tenha parâmetros para fixar o
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

valor da condenação, deverá fixá-la desde logo, não podendo exceder a 20% do valor dado à causa,
corrigido monetariamente. Na hipótese de os prejuízos excederem esse limite, o juiz deverá
reconhecer a litigância de má-fé (an debeatur) e remeter à apuração do quantum debeatur para a
liquidação por arbitramento. Neste último caso o prejudicado deverá demonstrar a extensão do dano
na ação de liquidação por arbitramento, que se dará nos mesmos autos. O limite de 20% sobre o
valor da causa, portanto, é para que o juiz possa, de imediato, fixar a indenização. Não significa que
não possa haver prejuízo maior do que 20% do valor da causa, pelos atos do litigante malicioso.
Havendo prejuízo, qualquer que seja o seu montante, deve ser indenizado integralmente pelo
causador do dano. Entender-se o contrário é permitir que, pelo comportamento malicioso da parte,
haja lesão a direito de outrem não inteiramente reparável, o que se nos afigura motivo de
empobrecimento indevido da parte inocente, escopo que, por certo, não é perseguido pelo direito
processual civil”. (NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades sobre o processo civil. 2. ed. São Paulo: Ed.
RT, 1996. p. 32-33).

16 “Tal ressarcimento configura despesas irrepetíveis, isto é, despesas feitas e redutíveis a prejuízos
de um litigante, vitimado pela conduta ilícita do outro, insuscetíveis de serem objeto de repetição, e,
ainda, abrangem lucro cessante, como podem albergar o dano emergente.” (ARRUDA ALVIM.
Resistência injustificada ao andamento do processo. Revista de Processo. vol. 17. ano 5. p. 16-17.
São Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 1980.

17 Sobre o tema, essa foi a mesma conclusão de Roque Antonio Mesquita Oliveira, em artigo que
trata sobre o abuso do direito no processo civil: “Assim, constata-se que a parte ofendida pelo
litigante de má-fé poderá ser ressarcida tanto em seu aspecto material como moral”. (OLIVEIRA,
Roque Antonio Mesquita. O abuso do direito no processo civil. In: GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
COURA, Andréia Fernandes et al. Temas controvertidos de direito processual civil: 30 anos do CPC
(LGL\1973\5). Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 418-420. No mesmo sentido: “Os danos a serem
ressarcidos podem ser tanto de ordem material (patrimonial) e moral, podendo ser fixados desde
logo pelo juiz a ser apurado em liquidação por arbitramento” (TOMIYAMA, Solange. Op. cit., p.
433-436).

18 Arruda Alvim registra sobre essa questão que: “A responsabilidade engendrada por tal ilícito é
processual, com pressupostos de ocorrência próprios, embora, redutíveis, no que diz ao seu
fundamento, e, à extensão da indenização, à responsabilidade por ato ilícito (extracontratual). E é
inconfundível com a responsabilidade por custas e honorários, apesar da dicção atécnica do art. 35,
do CPC (LGL\1973\5)”. ARRUDA ALVIM. Resistência injustificada ao andamento do processo.
Revista de Processo. vol. 17. ano 5. p. 16-17. São Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 1980.

19 No plano da jurisprudência já se reconheceu que o arbitramento simplifica e acelera o


procedimento, penalizando o litigante de má-fé: “É que, em casos como o trazido a lume, o juiz,
diante das dificuldades para investigar os danos suportados pela parte inocente, usa da faculdade
prevista no citado dispositivo, simplificando e acelerando os atos e procedimentos, com vistas a
efetividade do processo” (AgRg no Ag 138.100/RS, rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 30.06.1997).

20 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 88-89.

21 Seu entendimento foi assim registrado: “O § 2.º do art. 18, que antes parecia fazer previsão
apenas de prejuízos efetivamente conhecidos, passou a ter a seguinte redação, introduzida pela Lei
8.952/1994: ‘O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20%
(vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento’, o que significa: se os
prejuízos forem conhecidos em sua extensão e valor, o juiz condenará em quantia líquida;
conhecidos apenas na extensão, mas não no valor, far-se-á arbitramento; não revelados com
nenhum dado, o juiz procederá ao arbitramento, não devendo a indenização ultrapassar, porém, 20%
do valor atualizado da causa. Em outras palavras, para os prejuízos efetivos, não há limite
indenizatório. Para os presumidos há o limite de 20% do valor da causa, nunca se admitindo, como
antes acontecia, a liquidação por artigos, posto que, à falta de conhecimento concreto do dano, não
do valor, ao juiz compete a fixação nos termos legais” (SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de
direito processual: processo de conhecimento. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.
vol. 1, p. 116-117). Na mesma linha Solange Tomiyama afirma que “quando o dano efetivo for de
valor superior ao estimado pela lei (20% do valor da causa), o juiz deverá fixar a obrigação de
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

indenizar e remeter a liquidação por arbitramento” (TOMIYAMA, Solange. Op. cit., p. 433-436). José
Roberto dos Santos Bedaque, citado por Antonio Carlos Marcato também reconhece o caráter
reparatório da pena por litigância de má-fé: “Além disso, tem esta última direito ao ressarcimento dos
prejuízos que sofreu. Trata-se aqui das perdas e danos, ou seja, tudo o que ela efetivamente perdeu
mais o que deixou de ganhar. A previsão legal tem intuito reparatório, pois o comportamento desleal
do litigante pode gerar maior demora na solução do litígio, causando dano ao adversário. Impõe-se,
portanto, a reparação” (MARCA-TO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil (LGL\1973\5)
interpretado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 64).

22 “A lei processual fixa um montante mínimo de indenização em proveito da parte lesada,


independentemente das características da lide. Se os danos excederem à cifra legal, o juiz poderá
elevar o valor da multa para, no máximo, 20% do valor da causa ou determinar a apuração da
indenização em liquidação por arbitramento.” (TRF-3.ª Reg., ApCiv 200061170033420, 7.ª T., Juiz
Antonio Cedenho, 17.12.2010)

23 Como já tivemos a oportunidade de sustentar em: Liquidação da sentença: individual e coletiva. 4.


ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 100-101 e 109-110.

24 “Além da indenização prevista, acrescentou-se ao art. 18 a penalidade de pagamento de multa


não excedente de 1% sobre o valor da causa, independentemente de qualquer outra condenação
(redação ampliada pela Lei 9.668/1998). As sanções previstas para a litigância de má-fé são de
ordem indenizatória e de penalidade, ambas favorecendo a parte contrária. Como indenização,
compensam-se os prejuízos sofridos; como penalidade, aplica-se multa no grau máximo de 1%
sobre o valor da causa (art. 18, com a nova redação da Lei 9.668/1998). (…) A aplicação das
sanções é cumulativa, podendo dar-se a requerimento ou de ofício. Não havendo elementos para a
fixação de perdas e danos, o que poderá ser feito também por artigos, far-se-á por arbitramento. Na
completa falta de dados, o juiz, ou o tribunal, a fixará, desde logo, em 20% sobre o valor da causa”
(SANTOS, Ernane Fidélis dos. Op. cit., p. 116-117). Humberto Theodoro Júnior também registrar
que: “Além do ressarcimento dos prejuízos, o litigante de má-fé sujeita-se a pagar multa de até 1%
sobre o valor da causa (art. 18 com redação da Lei 9.668, de 23.06.1998), verba essa que, também,
reverterá em benefício da parte prejudicada (art. 35)” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p.
88-89).

25 “A multa a que também alude o art. 18 do CPC (LGL\1973\5) não tem caráter indenizatório, mas
repressivo. Por isso, sua imposição depende sempre da caracterização do dolo processual - definido
este como conduta maliciosa, conscientemente endereçada para obter vantagem ilícita mediante
prejuízo de outrem; expedientes processuais sem esse teor subjetivo antiético não comportam tal
reprimenda.” (DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 265-271.)

26 Também assim defende Humberto Theodoro Júnior: “A multa criada pela Lei 9.668, de
23.06.1998, que se acresce às perdas e aos danos, também é aplicável de ofício ou a requerimento
da parte, independentemente de demonstração de efetivo prejuízo” (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Op. cit., p. 88-89).

27 “As sanções previstas para a litigância de má-fé são de ordem indenizatória e de penalidade,
ambas favorecendo a parte contrária. Como indenização, compensam-se os prejuízos sofridos; como
penalidade, aplica-se multa no grau máximo de 1% sobre o valor da causa (art. 18, com a nova
redação da Lei 9.668/1998). A aplicação das sanções é cumulativa, podendo dar-se a requerimento
ou de ofício. Não havendo elementos para a fixação de perdas e danos, o que poderá ser feito
também por artigos, far-se-á por arbitramento. Na completa falta de dados, o juiz, ou o tribunal, a
fixará, desde logo, em 20% sobre o valor da causa”. (SANTOS, Ernane Fidélis dos. Op. cit., p. 711.)
E ainda: “As sanções dos arts. 16 e 18 podem ser cumuladas à multa de até 20% do valor da causa,
por ato atentatório ao exercício da jurisdição (art. 14, parágrafo único, acrescido pela Lei 10.358, de
27.12.2001), que, entretanto, reverterá em favor da Fazenda Pública, e não da parte prejudicada”
(THEO-DORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 88-89).

28 “A multa prevista no art. 557, § 2.º, do CPC (LGL\1973\5) tem caráter eminentemente
administrativo, tendo o fito de punir conduta que ofende a dignidade do tribunal e a função pública do
processo, que sobreleva aos interesses da parte. A sanção elencada no art. 18, § 2.º do CPC
(LGL\1973\5), tem natureza reparatória, tendo por finalidade reparar os danos ocasionados à parte
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

recorrida, eis que fica privada da efetiva prestação jurisdicional e da eventual indenização a que faz
jus. Possibilidade de cumulação das sanções, em virtude da natureza nitidamente distinta que
ostentam” (EDcl no REsp 1.140.326/RS, 4.ª T., j. 15.04.2010, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
11.05.2010). No mesmo sentido: “A jurisprudência desta Corte Superior se firmou na vertente de ser
permitido ao Juiz decretar de ofício a litigância de má-fé (art. 18 do CPC (LGL\1973\5)), podendo
condenar o litigante insidioso a pagar multa e, também, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos
causados, uma vez que incumbe ao magistrado dirigir o feito, reprimindo qualquer ato contrário à
dignidade da justiça e à efetividade do processo” (AgRg no REsp 303.245/RJ, 3.ª T., j. 11.05.2010,
rel. Min. Vasco Della Giustina (desembargador convocado do TJRS), DJe 26.05.2010).

29 É o que se extrai do teor dos seguintes precedentes: “Evidente a intenção do agravante em


prolongar indefinidamente o exercício da jurisdição, mediante a interposição dos inúmeros recursos e
petições desprovidos de qualquer razão e notoriamente incabíveis. IV - Litigância de má-fé:
condenação do agravante ao pagamento de multa de 10% (dez por cento) e de indenização à
agravada no valor correspondente a 15% (quinze por cento), ambas do valor corrigido da causa, nos
termos dos arts. 14, II e III, 16, 17, IV, V e VII, 18, § 2.º e 557, § 2.º, todos do CPC (LGL\1973\5)”.
(AgIn em AgRg em AgRg 610363, 1.ª T., j. 07.10.2008, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe-216
divulgado em 13.11.2008, publicado 14.11.2008, Ementário vol. 2341-17 p. 3272). E ainda:
“Embargos de declaração - Ausência dos seus pressupostos - Intuito protelatório e litigância de
má-fé (CPC (LGL\1973\5), art. 17, VII) - Condenação da embargante ao pagamento de multa no
valor de 1% (um por cento) e indenização, em favor da embargada, no valor de 10% (dez por cento),
ambos os índices sobre o valor corrigido da causa (CPC (LGL\1973\5), art. 18)”. (EDcl no AgRg no
RE 419.565, 1.ª T., j. 21.09.2004, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 08.10.2004, p. 8, Ementário vol.
2167-05, p. 967).

30 Extraído da íntegra do AgRg no REsp 877.904/RS, 2.ª T., j. 06.11.2007, rel. Min. Humberto
Martins, DJ 19.11.2007, p. 219.

31 DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 265. Nesse mesmo sentido é o entendimento de
Humberto Theodoro Júnior: “Essa reparação, que decorre de ato ilícito processual, será devida,
qualquer que seja o resultado da causa, ainda mesmo que o litigante de má-fé consiga, ao final,
sentença favorável” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 88-89). Arruda Alvim conclui no
mesmo sentido: “Para nós, fundamentalmente, a inocuidade da má-fé, em matéria de direito,
originar-se-á, precisamente da circunstância de que o direito é (dever ser) conhecido pelo juiz e,
assim, muito mais dificilmente poderá ele ser ludibriado, embora, em havendo tentativa, tanto bastará
para ter-se configurado a má-fé, já, quanto aos fatos, o campo é desconhecido para o juiz” (ARRUDA
ALVIM. Deveres das partes… cit., p. 10-14).

32 “O “abuso do direito de demandar”, equivalendo ao próprio “abuso do exercício do direito de ação”


(aquela é expressão mais ampla, porque abrange o réu; a última mais restrita, porque ficaria
circunscrita ao autor, que é o verdadeiro titular da “ação”), é o máximo de malícia que pode ser
tentado perante os órgãos judiciários. É o meio de, seja qual for o ato (ou atos) de improbidade,
alguém tentar conseguir um fim ilícito, com o beneplácito da justiça. Um verdadeiro “pecado original”.
Não é mera contingência surgida no curso do processo. A ideia já nasce com o próprio exercício do
direito, ainda que possa apresentar-se com outros matizes ao longo do próprio processo. Em última
análise, falsear a verdade, para triunfar, procurando iludir, enganar, fraudar o adversário e os juizes,
para conquistar um pseudodireito e uma irreal justiça, sob o manto do comportamento regular e, até
ético” (MENDONÇA LIMA, Alcides de. Abuso do direito de demandar. Revista de Processo. vol. 19.
ano 5. p. 62-64. São Paulo: Ed. RT, jul.-set. 1980).

33 Tema que desenvolvemos em: Liquidação da sentença… cit. p. 123, 125 e 127.

34 Essa é a lição, por exemplo, de Limongi França que conclui: “§ 1.º No texto da lei se entende não
haver frase ou palavra inútil, supérflua ou sem efeito. § 2.º Se as palavras da lei são conformes com
a razão, devem ser tomadas no sentido literal, e as referentes não dão mais direito do que aquelas a
que se referem” (LIMONGI FRANÇA, Rubens. Hermenêutica jurídica. 10. ed. rev. São Paulo: Ed. RT,
2010. p. 36).

35 Devidamente corrigidos desde o pagamento em 13.02.2001.


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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO

36 Em 15.03.1999, a ser corrigido a partir da sentença.

37 TOMIYAMA, Solange. Op. cit., p. 433-436.

38 O equívoco no raciocínio desenvolvido na sentença e apontado aqui pode ser confirmado pela
seguinte afirmação, contida às f. 1374: “Considerando que não existe efetiva prova da perda do
quinhão hereditário”. O acórdão da apelação incorreu nesse mesmo erro de premissa, ao afirmar: “A
sentença hostilizada não visou, neste momento, apurar o valor da quota hereditária devida ao
apelante” (f. 1464).

39 Confira-se: “(…) tácita, silenciosamente, sem preliminarmente justificar o seu procedimento, deixe
de aplicar a lei invocada e reguladora da espécie ou que, depois de interpretar essa lei, a omita ou
despreze, no decidir do feito, ou que interprete essa Lei por meio de tais paralogismos ou de tais
sofismas que a faça negar título, privilégio, isenção ou direito, em geral, que a lei realmente confere”
(LESSA, Pedro. Do Poder Judiciário. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1915. p. 110-111).

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