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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

6ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº 0002042-26.2020.8.16.0058

Apelação Cível n° 0002042-26.2020.8.16.0058

2ª Vara Cível de Campo Mourão

Apelante(s): PLANALTO ENGENHARIA E URBANIZAÇÃO LTDA.

Apelado(s): CLÁUDIO AGOSTINHO DE SOUZA e ROSA MARIA DE SOUZA

Relator: Desembargador Cláudio Smirne Diniz

APELAÇÃO CÍVEL.DIREITO PRIVADO. IMOBILIÁRIO. “AÇÃO DE


RESCISÃO CONTRATUAL, DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE
CLÁUSULAS C/C REEMBOLSO DE PARCELAS ADIMPLIDAS”.
TERRENO URBANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL POR CULPA
DOS PROMITENTES COMPRADORES. RESTITUIÇÃO PARCIAL DE
PARCELAS PAGAS. SENTENÇA PELA PARCIAL PROCEDÊNCIA.
APELO DA INCORPORADORA. (i) DANOS MATERIAIS. VINDICADA
FIXAÇÃO DE ALUGUERES MENSAIS EM VIRTUDE DA POSSE DO
IMÓVEL. NÃO CABIMENTO NA ESPÉCIE. “TERRA NUA”, EM
LOTEAMENTO, DESTINADA À CONSTRUÇÃO DE RESIDÊNCIA.
INDENIZAÇÃO INDEVIDA CONFORME NOVO POSICIONAMENTO
ADOTADO POR ESTE COLEGIADO, SEGUINDO ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL SOBRE O TEMA EMANADO DO STJ. (ii)
PRETENDIDA MAJORAÇÃO DO PERCENTUAL DA MULTA
COMPENSATÓRIA. RETENÇÃO DE 10% DAS QUANTIAS PAGAS
QUE SE ADEQUA AO CASO CONCRETO E ATENDE AO
PARÂMETRO MÍNIMO JURISPRUDENCIAL. (iii) ÍNDICE DE
CORREÇÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO DO IGP-M NO CONTRATO,
APENAS PARA A CORREÇÃO E REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES.
INVERSÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL EM FAVOR DO
CONSUMIDOR DETERMINADA NA SENTENÇA. INVIABILIDADE EM
RAZÃO DA CULPA ATRIBUÍDA AOS PROMITENTES
COMPRADORES PELA QUEBRA CONTRATUAL – MÉDIA DO INPC
/IGP-DI, COMO ÍNDICE PARA CORREÇÃO DESDE OS RESPECTIVOS
DESEMBOLSOS DAS PARCELAS ADIMPLIDAS. PRECEDENTES. (iv)
ÔNUS SUCUMBENCIAL. NECESSIDADE DE READEQUAÇÃO DA
DISTRIBUIÇÃO NO PERCENTUAL DE 20% PARA OS AUTORES E
80% PARA A EMPRESA REQUERIDA, CONFORME OS
RESPECTIVOS DECAIMENTOS DOS PEDIDOS. MANUTENÇÃO DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS FIXADOS EM 10%
DO VALOR DA CONDENAÇÃO. PORCENTAGEM QUE SE AFIGURA
CONDIZENTE COM O CASO EM DESATE, EM ATENDIMENTO À
EXEGESE DO ART. 85, § 2º DO CPC. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0002042-26.2020.8.16.0058,


da 2ª Vara Cível de Campo Mourão, em que é apelante Planalto Engenharia e Urbanização
Ltda., sendo apelados Cláudio Agostinho de Souza e Rosa Maria de Souza.

1. RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto por Planalto Engenharia e Urbanização Ltda.,


em ação de rescisão contratual, declaratória de nulidade de cláusulas c/c reembolso de
parcelas adimplidas promovida por Cláudio Agostinho de Souza e Rosa Maria de Souza,
voltado à sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível de Campo Mourão, nos seguintes
termos (mov. 64.1-orig.):

“(...) III. DISPOSITIVO

Isso posto, julgo procedente em parte o pedido inicial, para decretar a rescisão do
contrato firmado entre as partes, condenando a Ré à devolução do valor do montante
de R$ 67.420,91 (sessenta e sete mil quatrocentos e vinte reais e noventa e um
centavos), do qual será abatido o percentual de 10% e os valores referentes a IPTU e
taxas, cujo direito à retenção fica desde já reconhecido. O valor deverá ser corrigido
de acordo com o índice adotado no contrato (IGP-M(FGV) desde a data do
desembolso até efetivo pagamento, acrescido de juros de mora, a contar do trânsito
em julgado desta sentença [Na situação retratada no caso destes autos, o tema foi
objeto de discussão pelo Tema de Recurso Repetitivo 1002, em que o STJ firmou a
seguinte tese “Nos compromissos de compra e venda de unidades imobiliárias
anteriores à Lei nº 13.786/2018, em que é pleiteada a resolução do contrato por
iniciativa do promitente comprador de forma diversa da cláusula penal
convencionada, os juros de mora incidem a partir do trânsito em julgado da decisão”
(utilizando como precedente o REsp 1740911/DF)].

Diante da sucumbência recíproca, arcará a parte Autora com 10% e a Ré com 90%
do pagamento das custas e despesas processuais, e na mesma proporção da verba
honorária que fixo em 10% do valor da causa, o que faço considerando o trabalho
desenvolvido e sua abreviação em razão do julgamento antecipado, nos termos do
art. 85, §2°, do CPC.

Note-se que em relação aos Autores fica suspensa a cobrança dos encargos
sucumbenciais na forma do art. 98, §3º, do diploma processual civil, por serem
beneficiários da Assistência Judiciária Gratuita. (...)”.

A pretensão recursal consiste na (mov. 71.1-orig.):

(i) condenação dos “recorridos ao pagamento dos alugueres mensais durante o período em
que estiveram na posse do imóvel, totalizando a importância correspondente a 1,0 (um por
cento) mensal, sobre o valor do imóvel a título de alugueis, pela fruição do bem, tendo em vista
a lei, bem como a jurisprudência atual”;

(ii) na “majoração da cláusula penal, para que os recorridos sejam condenados ao pagamento
de perdas e danos, tendo em vista o inadimplemento contratual, devendo ser descontado dos
valores pagos pelo recorrido a multa contratual compensatória equivalente a 10% do valor do
contrato, ou 25% do valor efetivamente pago”;

(iii) “que a devolução seja realizada de forma simples pelo INPC, visto que melhor traduz a
equidade entre as partes no momento da restituição das parcelas e não pelo IGPM”;

(iv) ainda, a reforma no capítulo dos honorários para que sejam revertidos em desfavor dos
Apelados, visto que estes é quem deram culpa para Rescisão contratual”, ou, então, que
sejam redistribuídos de maneira proporcional.

Em contrarrazões os apelados destacaram que:

(i) na ausência de cláusula penal estipulada no contrato, a retenção foi corretamente fixada no
percentual de 10% sobre o valor quitado do contrato.

(ii) refutaram a pretendida fixação de alugueres, argumentando que o imóvel não contém
construção e não houve, portanto, efetiva utilização.

(iii) quanto à pretendida aplicação da correção monetária de forma simples pelo INPC, sem
incidência de juros, sustentam que o índice eleito em contrato foi o IGP-M, corretamente
reconhecido na sentença, uma vez que foi o aplicado nos pagamentos efetivados.
(iv) no tocante ao valor fixado a título de honorários advocatícios, postulam a majoração para
20% sobre o valor da condenação (mov. 79.1 – orig.).

Nesta instância os autos foram encaminhados ao CEJUSC para audiência de conciliação,


porém, sem êxito as as tratativas para a solução amigável do litígio (mov. 42.1).

É, em síntese, o relatório.

2. VOTO E SEUS FUNDAMENTOS

Encontram-se presentes os pressupostos de admissibilidade: objetivos (tempestividade,


regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e preparo)
e subjetivos (cabimento, legitimação e interesse em recorrer), razão pela qual merece
conhecimento o recurso.

Segundo sintetizado na sentença, que julgou parcialmente procedente a demanda, os


seguintes fatos atinentes ao negócio jurídico rescindido (mov. 64.1-orig.):

“(...) (a) as pessoas de Vivian Bilardo Santos e Eder Guedes de Souza firmaram com
a Ré o contrato de compromisso de venda de lote urbano na data de 02/09/2014,
referente ao lote registrado sob o nº 009, quadra 007, situado no Jardim Sol
Nascente, nesta cidade de Campo Mourão; (b) foi estipulado preço de R$ 105.480,00
(cento e cinco mil quatrocentos e oitenta reais), tendo os compradores efetuado
pagamento, a título de entrada, de R$ 3.000,00 (três mil reais), divididos em duas
parcelas de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), e o restante deveria ser pago em
120 parcelas consecutivas de R$ 854,00 (oitocentos e cinquenta e quatro reais); (c)
em função de dificuldades financeiras, a Sra. Vivian [e também o Sr. Eder, por
instrumento de procuração], com a anuência da Ré, transferi[ram] seus direitos e
obrigações sobre o terreno em favor dos Autores [mov. 1.10 e 1.11]; (d) diante da
crise financeira, os Autores também não conseguiram arcar com as obrigações
avençadas; (e) contataram a Ré para pedir a rescisão do contrato, tendo esta
ofertado o valor de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) a título de devolução dos
valores quitados; (f) discordam do valor ofertado, pois desembolsaram o valor
atualizado de R$ 76.295,30 (setenta e seis mil duzentos e noventa e cinco reais e
trinta centavos); (g) a Ré vinha descumprindo o contrato pois não enviava os boletos
para que realizassem o pagamento das parcelas; (g) acreditam terem pagos mais de
53 parcelas; (h) em dezembro de 2019, a Ré enviou a dívida à protesto; (i) aplica-se o
CDC ao caso; (j) é oportunismo da Ré a retenção de mais da metade dos valores
pagos, devendo ser restituído o correspondente a 90% dos valores pagos, inclusive
juros, multas e honorários de cobrança, o que totaliza R$ 68.665,77 (sessenta e oito
mil seiscentos e sessenta e cinco reais e setenta e sete centavos); (k) deve ser
declarada nulo o §3º da cláusula terceira do contrato particular de compra e venda; (l)
alternativamente, requereram a devolução da totalidade dos valores pagos sem a
incidência de multas, juros e honorários. (...)”.
A irresignação recursal centra-se tópicos da sentença, a seguir abordados.

Alugueres mensais pela posse do imóvel

Defende a empresa apelante que lhe são devidos alugueres, uma vez que “a resolução do
compromisso de compra se deu por culpa dos promitentes compradores que estavam imitidos
na posse desde a data da assinatura do contrato [cf. cláusula oitava: em 15/06/2016 (mov.
1.10-orig.)], deste modo assegura reparação pelo uso do bem, sob pena de ensejar-se
enriquecimento sem causa”.

Esta Câmara passou a entender, seguindo orientação do colendo STJ, que não é cabível o
arbitramento dos alugueres, na hipótese de rescisão contratual, pela fruição do imóvel urbano
sem edificação.

No caso dos autos, considerado que o imóvel se trata de lote sem qualquer edificação, há que
se observar, como adiantado, o recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça no REsp
nº 1.936.470/SP, quanto ao descabimento dos pretendidos alugueis.

Consta da ementa do referido aresto:

"DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE


COMPRA E VENDA DE IMÓVEL CUMULADA COM RESTITUIÇÃO DE VALORES
PAGOS. ARRAS CONFIRMATÓRIAS. RETENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. LOTE SEM
EDIFICAÇÃO. TAXA DE OCUPAÇÃO. FUNDAMENTO. ENRIQUECIMENTO SEM
JUSTA CAUSA. ART. 884 DO CC/02. CONFIGURAÇÃO. REQUISITOS
CUMULATIVOS. EMPOBRECIMENTO PRÓPRIO E ENRIQUECIMENTO ALHEIO.
HIPÓTESE CONCRETA. IPTU. TAXA CONDOMINIAL. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. MAJORAÇÃO DO
PERCENTUAL DE RETENÇÃO. INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO.
AUSENTE. SÚMULA 284/STF. [...] 3. O propósito recursal é definir, dada a
rescisão de contrato de compra e venda de imóvel, i) se a recorrente possui direito à
retenção do valor pago a título de sinal pelo comprador do imóvel; ii) se o adquirente
pode ser condenado ao pagamento de taxa de ocupação, ainda que não haja
qualquer edificação sobre o terreno; [...] 6. A taxa de ocupação evita que o
comprador se beneficie da situação do rompimento contratual em prejuízo do
vendedor, se relacionando, pois, à vedação ao enriquecimento sem causa.
Precedentes. [...] 8. São requisitos do nascimento da obrigação em decorrência
da vedação ao enriquecimento sem causa: a) enriquecimento de alguém; b)
empobrecimento correspondente de outrem; c) relação de causalidade entre ambos.
Precedente da Corte Especial. 9. O empobrecimento de alguém, requisito para o
dever de indenizar relacionado à vedação ao enriquecimento sem causa,
corresponde: a) ao deslocamento indevido de um bem já incorporado ao patrimônio
do sujeito ao patrimônio de um terceiro; ou b) ao impedimento do ingresso uma
vantagem que certa e seguramente adentraria no patrimônio do sujeito e que, sem
justificativa, é acrescida a patrimônio alheio. 10. Quanto ao que razoavelmente deixou
de ganhar o vendedor, o ingresso do citado proveito em seu patrimônio deve ter a
característica de ser plausível e verossímil, diante de previsão razoável e objetiva de
lucro, aferível a partir de parâmetro concreto e prévio. 11. No contrato de compra e
venda de imóveis residenciais, o enriquecimento sem causa do comprador é
identificado pela utilização do bem para sua moradia, a qual deveria ser objeto de
contraprestação mediante o pagamento de aluguéis ao vendedor pelo tempo de
permanência. 12. Na presente hipótese, o terreno não está edificado, de modo
que não existe possibilidade segura e concreta, diante dos fatores anteriores ao
momento da contratação e sem qualquer outra nova interferência causal, de
que a recorrente auferiria proveito com a cessão de seu uso e posse a terceiros,
se não o tivesse concedido à recorrida, estando, pois, ausente o requisito de
seu empobrecimento; tampouco seria possível o enriquecimento da
compradora, que não pode residir no terreno não edificado". [...] (STJ, 3ª Turma,
REsp 1.936.470/SP, Rel. MINISTRA NANCY ANDRIGHI, DJe de 3/11/2021 - sem
destaque no original).

Acompanhando esse trilhar, os recentes precedentes desta 6ª Câmara Cível:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO C/C PEDIDO


DE RESTITUIÇÃO DE PARCELAS PAGAS. DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE
INDEFERIU A TUTELA DE URGÊNCIA PRETENDIDA. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO
DA TUTELA RECURSAL. AUTORES, ORA AGRAVANTES, QUE REQUEREM A
SUSPENSÃO DAS PARCELAS VENCIDAS A PARTIR DE FEVEREIRO DE 2021 E,
CAUTELARMENTE, A PROIBIÇÃO DA INCLUSÃO DE SEUS NOMES NOS
CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC
PREENCHIDOS. PLENA EFICÁCIA DA CLÁUSULA RESOLUTIVA DOS
COMPROMISSOS DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS. INFORMATIVO 704 DO
STJ. IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA DA ‘TAXA DE OCUPAÇÃO’ PELO
PERÍODO EM QUE O COMPRADOR/CONSUMIDOR ESTEVE NA POSSE DE
IMÓVEL NÃO EDIFICADO, EM VIRTUDE DA AUSÊNCIA DE ENRIQUECIMENTO
SEM CAUSA DO ADQUIRENTE NEM DANO EFETIVO PROVOCADO AO
ALIENANTE. DESDE LOGO, PORTANTO, O ALIENANTE PODERÁ EXERCER AS
FACULDADES INERENTES À POSSE E PROPRIEDADE DO IMÓVEL. RECURSO
PROVIDO”. (TJPR - 6ª C.Cível - 0048471-94.2021.8.16.0000 - Paranavaí - Rel.:
DESEMBARGADOR FERNANDO PAULINO DA SILVA WOLFF FILHO - J.
09.05.2022 – grifos não no original).
DIREITO CIVIL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL EM NOMINADA
‘AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL, RESTITUIÇÃO DE QUANTIA PAGA E
PERDAS E DANOS’. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS
INICIAIS, BEM COMO DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DOS PLEITOS FORMULADOS
EM RECONVENÇÃO. RECURSO DA RÉ-RECONVINTE. RESCISÃO DE
CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – RESTITUIÇÃO DOS
VALORES PAGOS PELOS PROMITENTES COMPRADORES – RETENÇÃO DE
PARTE DESSAS QUANTIAS – PRETENDIDO DESCONTO NOMINAL DE
DESPESAS COM COMISSÃO DE CORRETAGEM, TRIBUTOS, GASTOS
BANCÁRIOS, DE GESTÃO CONTRATUAL ENTRE OUTROS – PLEITO
IMPROCEDENTE – RETENÇÃO QUE DEVE TER COMO PARÂMETRO
PERCENTUAIS ELEITOS PELA JURISPRUDÊNCIA (ENTRE 10% E 25%), O QUE
MELHOR EQUALIZA OS DIREITOS EM CONFLITO – SENTENÇA QUE FIXOU-OS
EM 20% - PEDIDO SUBSIDIÁRIO DE AUMENTO DESSA COTA – REJEIÇÃO –
DADOS CONTIDOS NOS AUTOS QUE NÃO JUSTIFICAM ALTERAÇÃO DO
PRONUNCIAMENTO DE PRIMEIRO GRAU. INDENIZAÇÃO PELA FRUIÇÃO DO
BEM PELOS COMPRADORES – IRRESIGNAÇÃO NÃO ACOLHIDA – NEGÓCIO
JURÍDICO RESCINDIDO QUE ENVOLVIA LOTE SEM EDIFICAÇÃO – TAXA DE
OCUPAÇÃO (ALUGUEIS) QUE NÃO DEVE SE FUNDAR EM DANOS
PRESUMIDOS E HIPOTÉTICOS – REPARAÇÃO QUE BUSCA EVITAR O
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DO OCUPANTE DO BEM, COM A
RECOMPOSIÇÃO DO PATRIMÔNIO LESADO DA VÍTIMA – INEXISTÊNCIA DE
PROVAS CONCRETAS DEMONSTRADORAS DE QUE OS POSSUIDORES
TERIAM OBTIDO ALGUMA VANTAGEM EFETIVA COM O BEM OU QUE A
VENDEDORA PODERIA AUFERIR ALGUM PROVEITO CASO O TIVESSE CEDIDO
A TERCEIROS E NÃO AOS COMPRADORES – EMPOBRECIMENTO DA PARTE
QUE SE DIZ LESADA INEXISTENTE – INDENIZAÇÃO INCABÍVEL – MAGISTÉRIO
JURISPRUDENCIAL. JUROS DE MORA SOBRE AS PARCELAS A SEREM
RESTITUÍDAS – TERMO INICIAL – TRÂNSITO EM JULGADO – INEXISTÊNCIA DE
MORA DA VENDEDORA EM MOMENTO PRETÉRITO – PRETENSÃO RECURSAL
ACOLHIDA – SENTENÇA PONTUALMENTE REFORMADA. ÔNUS
SUCUMBENCIAIS – ALMEJADA REDISTRIBUIÇÃO – DESCABIMENTO –
ENCARGOS CORRETAMENTE ATRIBUÍDOS A CADA UMA DAS PARTES PELA
MAGISTRADA SENTENCIANTE. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE”. (TJPR - 6ª C.Cível - 0019565-
14.2019.8.16.0017 - Maringá - Rel.: DESEMBARGADOR RENATO LOPES DE PAIVA
- J. 05.04.2022 - destacado).

Deste Relator, com o novo posicionamento adotado, há o seguinte julgado: TJPR - 6ª C.Cível -
0009825-66.2018.8.16.0017 - Maringá - J. 24.04.2022.

Em conclusão, a sentença recorrida deve ser mantida, uma vez que convergente com a
orientação jurisprudencial emanada da Corte Superior Infraconstitucional e seguida por este
Colegiado.
Majoração da multa compensatória

Objetiva a apelante a majoração da multa compensatória relativa as perdas e danos no


porcentual de 10% (dez por cento) do valor do contrato, ou, subsidiariamente, 25% do valor
efetivamente pago.

Sem razão a recorrente.

A sentença, com acerto e atendendo aos parâmetros mínimos da jurisprudência, fixou em 10%
sobre os valores efetivamente pagos o percentual para retenção à título de multa indenizatória,
à míngua de específica previsão no contrato, de percentual referente à cláusula penal/multa
compensatória em caso de rescisão contratual. Apenas há menção do cabimento de multa
indenizatória na hipótese de resolução por inadimplemento, sem prejuízo de outros encargos.
É o que se dessume do § 3º da cláusula terceira do contrato (vide mov. 46.2):

Em convergência com essa linha de pensamento, o seguinte aresto:

“APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C RESTITUIÇÃO


DE QUANTIA PAGA – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA PARA O FIM DE
(I) DECLARAR A RESCISÃO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA; (II)
CONDENAR A RÉ A RESTITUIR OITENTA POR CENTO DOS VALORES PAGOS,
EXCETUADO O VALOR ATINENTE AO IPTU NO TEMPO DE FRUIÇÃO DO BEM
PELOS AUTORES, AUTORIZADO O ABATIMENTO DO REFERIDO VALOR EM
CASO DE NÃO RECOLHIMENTO NO TEMPO HÁBIL. APELAÇÃO 01: DOS
AUTORES – PRETENSÃO DE MINORAÇÃO DO PERCENTUAL DE RETENÇÃO A
TÍTULO DE CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA – CABIMENTO –
PERCENTUAL DE DEZ POR CENTO DOS VALORES PAGOS QUE SE MOSTRA
RAZOÁVEL NO CASO CONCRETO – AUSÊNCIA DE QUALQUER
PARTICULARIDADE A JUSTIFICAR A RETENÇÃO EM PERCENTUAL MAIS
ELEVADO – TRIBUTOS INCIDENTES SOBRE O IMÓVEL – RESPONSABILIDADE
DOS COMPROMISSÁRIOS-COMPRADORES DURANTE O PERÍODO EM QUE
ESTIVERAM NA POSSE DO BEM – TERMO FINAL NA DATA DA NOTIFICAÇÃO
EXTRAJUDICIAL ACERCA DA PRETENSÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL – ART.
397, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL – PLEITO DE INCIDÊNCIA DOS
JUROS MORATÓRIOS SOBRE O VALOR A SER RESTITUÍDO A PARTIR DA
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL – AFASTADO – RESCISÃO CONTRATUAL POR
INICIATIVA DOS COMPROMISSÁRIOS-COMPRADORES QUE IMPÕE O TERMO
INICIAL DOS JUROS DE MORA NO TRÂNSITO EM JULGADO – PRECEDENTES –
IMPOSSIBILIDADE NO CASO CONCRETO, SOB PENA DE REFORMATIO IN
PEJUS – SENTENÇA MANTIDA NO PONTO – REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS
SUCUMBENCIAIS – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. APELAÇÃO 02: DA
RÉ – PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO PLEITO DE RESTITUIÇÃO
PARCELADA SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES – AFASTADA – PEDIDO
MINIMAMENTE FUNDAMENTADO – POSSIBILIDADE DE ANÁLISE POR ESTE
JUÍZO AD QUEM – PLEITO DE FIXAÇÃO DE ALUGUERES DESDE A IMISSÃO NA
POSSE ATÉ A EFETIVA DESOCUPAÇÃO – PARCIAL ACOLHIMENTO – RÉ QUE
ESTEVE IMPEDIDA DE DESFRUTAR DO LOTE OU DE COMERCIALIZÁ-LO PELO
PERÍODO EM QUE ESTEVE NA POSSE DOS AUTORES – TERMO FINAL NA
DATA DA NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL DA RÉ – PERCENTUAL DE 0,5% DO
VALOR VENAL DO IMÓVEL QUE SE MOSTRA RAZOÁVEL E PROPORCIONAL –
PRECEDENTES DESTA CORTE – POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO COM OS
VALORES A SEREM RESTITUÍDOS – MAJORAÇÃO DO PERCENTUAL DE
RETENÇÃO A TÍTULO DE CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA – PLEITO
PREJUDICADO ANTE O PARCIAL ACOLHIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO
01, DOS AUTORES – DEVOLUÇÃO PARCELADA DOS VALORES PAGOS PELOS
CONSUMIDORES – IMPOSSIBILIDADE – RESTITUIÇÃO QUE DEVE SE DAR DE
FORMA IMEDIATA – PRECEDENTES – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.”
(TJPR - 6ª C.Cível - 0017721-29.2019.8.16.0017 - Maringá - Rel.:
DESEMBARGADOR ROBSON MARQUES CURY - J. 21.06.2021 – destaques não
no original).

Inalterada, assim, a sentença nesse tópico.

Índice da correção monetária

No tocante ao índice de correção monetária para os valores a serem restituídos, em que a MM.
Juíza Sentenciante entendeu, singelamente, pela aplicação do mesmo índice previsto em
contrato, para o reajuste das prestações, qual seja, o IGP-M, vê-se que assiste razão à
insurgência recursal.

Com efeito, não é o caso da proclamada inversão da cláusula contratual em favor do


consumidor, que deu azo à quebra do contrato, por não ter condições de continuar adimplindo
as prestações assumidas.

A bem da verdade, os valores que os promitentes compradores pagaram e que foram objeto
de reajustes pelo IGP-M, serão considerados para efeitos da parcial restituição determinada,
porém corrigidos pela média do INPC e IGP-DI, índice amplamente reconhecido pela
jurisprudência, como adequado para a correção monetária de valores a serem devolvidos em
contratos rescindidos deste jaez.

Aliás, é entendimento desta Corte, que o parâmetro que melhor reflete os índices de preços de
abrangência nacional, para fins de correção monetária deve ser calculada pela média do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna
(IGP-DI), conforme o artigo 1º do Decreto 1.544/1995.

Sobre o tema, destaque para precedente desta 6ª Câmara Cível:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO E DEVOLUÇÃO DE


QUANTIAS PAGAS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. PROMESSA DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. RETENÇÃO PARCIAL DOS VALORES PAGOS. CABIMENTO.
PRETENDIDA MAJORAÇÃO. PERCENTUAL FIXADO NA SENTENÇA EM 10%.
MAJORAÇÃO PARA 15%. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. JUROS DE
MORA INCIDENTES SOBRE OS VALORES PAGOS A SEREM DEVOLVIDOS.
TERMO INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA. CORREÇÃO
MONETÁRIA. MÉDIA INPC/IGP-DI. ART. 1º DO DECRETO 1544/1995. ÍNDICE QUE
MELHOR REFLETE A DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA. PRECEDENTES DESSA
CORTE. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO”. (TJPR - 6ª C.
Cível - 0006583-21.2016.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO
EM SEGUNDO GRAU DOUTOR JEFFERSON ALBERTO JOHNSSON - J.
13.02.2019).

Sendo assim, é de ser dado provimento ao recurso neste quesito, estabelecendo-se o índice
de correção monetária pela média do INPC/IGP-DI, para fins de cálculo dos valores a serem
restituídos.

Honorários advocatícios sucumbenciais

Por fim, os ônus sucumbências comporta a reclamada adequação, com a redistribuição,


conforme o decaimento havido, na proporção de 20% para os autores/apelados e 80% para a
empresa requerida/apelante, mantida, entretanto, a fixação em 10% do valor da condenação, a
título de honorários advocatícios sucumbenciais, percentual que se afigura condizente com os
preceitos do art. 85, § 2º do CPC, para o caso em desate.
Encaminha-se, portanto, o voto no sentido de conhecer do apelo interposto por Planato
Engenharia e Urbanização Ltda., dando-lhe parcial provimento, para o fim de alterar a
sentença no que pertine ao índice de correção monetária a ser adotado, pela média do INPC
/IGP-DI, e, diante disso, redistribuindo-se os ônus de sucumbência na proporção de 20% para
os autores/apelados e 80% para a empresa requerida/apelante, mantidos, no mais, os termos
da decisão recorrida.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 6ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE
PARTE E PROVIDO EM PARTE o recurso de PLANALTO ENGENHARIA E URBANIZAÇÃO
LTDA.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Renato Lopes de Paiva, com voto, e dele
participaram Desembargador Cláudio Smirne Diniz (relator) e Juiz Subst. 2ºgrau Horácio
Ribas Teixeira.

Curitiba, 01 de julho de 2022.

Desembargador Cládio Smirne Diniz

Relator

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