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6ª CÂMARA CÍVEL
Autos nº 0002042-26.2020.8.16.0058
1. RELATÓRIO
Isso posto, julgo procedente em parte o pedido inicial, para decretar a rescisão do
contrato firmado entre as partes, condenando a Ré à devolução do valor do montante
de R$ 67.420,91 (sessenta e sete mil quatrocentos e vinte reais e noventa e um
centavos), do qual será abatido o percentual de 10% e os valores referentes a IPTU e
taxas, cujo direito à retenção fica desde já reconhecido. O valor deverá ser corrigido
de acordo com o índice adotado no contrato (IGP-M(FGV) desde a data do
desembolso até efetivo pagamento, acrescido de juros de mora, a contar do trânsito
em julgado desta sentença [Na situação retratada no caso destes autos, o tema foi
objeto de discussão pelo Tema de Recurso Repetitivo 1002, em que o STJ firmou a
seguinte tese “Nos compromissos de compra e venda de unidades imobiliárias
anteriores à Lei nº 13.786/2018, em que é pleiteada a resolução do contrato por
iniciativa do promitente comprador de forma diversa da cláusula penal
convencionada, os juros de mora incidem a partir do trânsito em julgado da decisão”
(utilizando como precedente o REsp 1740911/DF)].
Diante da sucumbência recíproca, arcará a parte Autora com 10% e a Ré com 90%
do pagamento das custas e despesas processuais, e na mesma proporção da verba
honorária que fixo em 10% do valor da causa, o que faço considerando o trabalho
desenvolvido e sua abreviação em razão do julgamento antecipado, nos termos do
art. 85, §2°, do CPC.
Note-se que em relação aos Autores fica suspensa a cobrança dos encargos
sucumbenciais na forma do art. 98, §3º, do diploma processual civil, por serem
beneficiários da Assistência Judiciária Gratuita. (...)”.
(i) condenação dos “recorridos ao pagamento dos alugueres mensais durante o período em
que estiveram na posse do imóvel, totalizando a importância correspondente a 1,0 (um por
cento) mensal, sobre o valor do imóvel a título de alugueis, pela fruição do bem, tendo em vista
a lei, bem como a jurisprudência atual”;
(ii) na “majoração da cláusula penal, para que os recorridos sejam condenados ao pagamento
de perdas e danos, tendo em vista o inadimplemento contratual, devendo ser descontado dos
valores pagos pelo recorrido a multa contratual compensatória equivalente a 10% do valor do
contrato, ou 25% do valor efetivamente pago”;
(iii) “que a devolução seja realizada de forma simples pelo INPC, visto que melhor traduz a
equidade entre as partes no momento da restituição das parcelas e não pelo IGPM”;
(iv) ainda, a reforma no capítulo dos honorários para que sejam revertidos em desfavor dos
Apelados, visto que estes é quem deram culpa para Rescisão contratual”, ou, então, que
sejam redistribuídos de maneira proporcional.
(i) na ausência de cláusula penal estipulada no contrato, a retenção foi corretamente fixada no
percentual de 10% sobre o valor quitado do contrato.
(ii) refutaram a pretendida fixação de alugueres, argumentando que o imóvel não contém
construção e não houve, portanto, efetiva utilização.
(iii) quanto à pretendida aplicação da correção monetária de forma simples pelo INPC, sem
incidência de juros, sustentam que o índice eleito em contrato foi o IGP-M, corretamente
reconhecido na sentença, uma vez que foi o aplicado nos pagamentos efetivados.
(iv) no tocante ao valor fixado a título de honorários advocatícios, postulam a majoração para
20% sobre o valor da condenação (mov. 79.1 – orig.).
É, em síntese, o relatório.
“(...) (a) as pessoas de Vivian Bilardo Santos e Eder Guedes de Souza firmaram com
a Ré o contrato de compromisso de venda de lote urbano na data de 02/09/2014,
referente ao lote registrado sob o nº 009, quadra 007, situado no Jardim Sol
Nascente, nesta cidade de Campo Mourão; (b) foi estipulado preço de R$ 105.480,00
(cento e cinco mil quatrocentos e oitenta reais), tendo os compradores efetuado
pagamento, a título de entrada, de R$ 3.000,00 (três mil reais), divididos em duas
parcelas de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), e o restante deveria ser pago em
120 parcelas consecutivas de R$ 854,00 (oitocentos e cinquenta e quatro reais); (c)
em função de dificuldades financeiras, a Sra. Vivian [e também o Sr. Eder, por
instrumento de procuração], com a anuência da Ré, transferi[ram] seus direitos e
obrigações sobre o terreno em favor dos Autores [mov. 1.10 e 1.11]; (d) diante da
crise financeira, os Autores também não conseguiram arcar com as obrigações
avençadas; (e) contataram a Ré para pedir a rescisão do contrato, tendo esta
ofertado o valor de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) a título de devolução dos
valores quitados; (f) discordam do valor ofertado, pois desembolsaram o valor
atualizado de R$ 76.295,30 (setenta e seis mil duzentos e noventa e cinco reais e
trinta centavos); (g) a Ré vinha descumprindo o contrato pois não enviava os boletos
para que realizassem o pagamento das parcelas; (g) acreditam terem pagos mais de
53 parcelas; (h) em dezembro de 2019, a Ré enviou a dívida à protesto; (i) aplica-se o
CDC ao caso; (j) é oportunismo da Ré a retenção de mais da metade dos valores
pagos, devendo ser restituído o correspondente a 90% dos valores pagos, inclusive
juros, multas e honorários de cobrança, o que totaliza R$ 68.665,77 (sessenta e oito
mil seiscentos e sessenta e cinco reais e setenta e sete centavos); (k) deve ser
declarada nulo o §3º da cláusula terceira do contrato particular de compra e venda; (l)
alternativamente, requereram a devolução da totalidade dos valores pagos sem a
incidência de multas, juros e honorários. (...)”.
A irresignação recursal centra-se tópicos da sentença, a seguir abordados.
Defende a empresa apelante que lhe são devidos alugueres, uma vez que “a resolução do
compromisso de compra se deu por culpa dos promitentes compradores que estavam imitidos
na posse desde a data da assinatura do contrato [cf. cláusula oitava: em 15/06/2016 (mov.
1.10-orig.)], deste modo assegura reparação pelo uso do bem, sob pena de ensejar-se
enriquecimento sem causa”.
Esta Câmara passou a entender, seguindo orientação do colendo STJ, que não é cabível o
arbitramento dos alugueres, na hipótese de rescisão contratual, pela fruição do imóvel urbano
sem edificação.
No caso dos autos, considerado que o imóvel se trata de lote sem qualquer edificação, há que
se observar, como adiantado, o recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça no REsp
nº 1.936.470/SP, quanto ao descabimento dos pretendidos alugueis.
Deste Relator, com o novo posicionamento adotado, há o seguinte julgado: TJPR - 6ª C.Cível -
0009825-66.2018.8.16.0017 - Maringá - J. 24.04.2022.
Em conclusão, a sentença recorrida deve ser mantida, uma vez que convergente com a
orientação jurisprudencial emanada da Corte Superior Infraconstitucional e seguida por este
Colegiado.
Majoração da multa compensatória
A sentença, com acerto e atendendo aos parâmetros mínimos da jurisprudência, fixou em 10%
sobre os valores efetivamente pagos o percentual para retenção à título de multa indenizatória,
à míngua de específica previsão no contrato, de percentual referente à cláusula penal/multa
compensatória em caso de rescisão contratual. Apenas há menção do cabimento de multa
indenizatória na hipótese de resolução por inadimplemento, sem prejuízo de outros encargos.
É o que se dessume do § 3º da cláusula terceira do contrato (vide mov. 46.2):
No tocante ao índice de correção monetária para os valores a serem restituídos, em que a MM.
Juíza Sentenciante entendeu, singelamente, pela aplicação do mesmo índice previsto em
contrato, para o reajuste das prestações, qual seja, o IGP-M, vê-se que assiste razão à
insurgência recursal.
A bem da verdade, os valores que os promitentes compradores pagaram e que foram objeto
de reajustes pelo IGP-M, serão considerados para efeitos da parcial restituição determinada,
porém corrigidos pela média do INPC e IGP-DI, índice amplamente reconhecido pela
jurisprudência, como adequado para a correção monetária de valores a serem devolvidos em
contratos rescindidos deste jaez.
Aliás, é entendimento desta Corte, que o parâmetro que melhor reflete os índices de preços de
abrangência nacional, para fins de correção monetária deve ser calculada pela média do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna
(IGP-DI), conforme o artigo 1º do Decreto 1.544/1995.
Sendo assim, é de ser dado provimento ao recurso neste quesito, estabelecendo-se o índice
de correção monetária pela média do INPC/IGP-DI, para fins de cálculo dos valores a serem
restituídos.
3. DISPOSITIVO
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Renato Lopes de Paiva, com voto, e dele
participaram Desembargador Cláudio Smirne Diniz (relator) e Juiz Subst. 2ºgrau Horácio
Ribas Teixeira.
Relator