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4ª CÂMARA CÍVEL
I – RELATÓRIO:
Por sua vez, Paulo Pereira da Silva e Claudia Gobetti da Silva alegam,
em suas razões de mov. 97.1, que: a) a ação originária remete a um contrato de adesão
composto por inúmeras irregularidades e, ao contrário do que preveem as normas
consumeristas, suas cláusulas estabelecem situação de manifesto desequilíbrio entre as
partes, sobretudo porque, em caso de inadimplemento das obrigações, atribuem encargos e
penalidades severas aos Compradores e brandas às Fornecedoras; b) apesar de reconhecer o
desequilíbrio contratual, o juízo a quo aplicou a cláusula penal moratória, contudo, nada falou
sobre a aplicação da multa moratória, e, tampouco, especificou qual os juros de mora no
período em que os apelantes permaneceram sem poder utilizar sua unidade. E, ainda, mesmo
sem aplicar as devidas penalizações para os apelados, ainda afastou os lucros cessantes em
substituição às referenciadas penalizações não aplicadas.
É o relatório.
b) revisar o índice de correção monetária do contrato a fim de que seja aplicado o IPCA no período de mora,
quantia que deverá ser corrigida monetariamente pelo INPC/IGP-DI desde o desembolso e acrescidos de juros de
c) determinar a restituição dos valores pagos pela parte demandante a título de condomínio no período de mora,
devidamente corrigidos pelo INPC/IGP-DI desde o desembolso e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês
desde a citação;
e) condenar solidariamente as rés ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 10.000,00 para
cada um dos autores, corrigidos monetariamente pelo INPC/IGP-DI desde a presente data, e acrescidos de juros
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
Outrossim, o art. 3º do mesmo diploma legal estabelece que é fornecedor
a pessoa jurídica privada, que desenvolve a atividade de construção. Concomitantemente,
frisa-se que o § 1º, do mesmo dispositivo, expressamente enquadra como produto qualquer
bem imóvel:
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
Alegam, que não há atraso na entrega da obra, uma vez que no item 7.1
do instrumento particular de compra e venda e outras avenças, firmado entre as partes, há
previsão expressa de que no prazo de tolerância de 180 (cento e oitenta) dias não se inclui o
tempo necessário para execução de serviços extraordinários, acessórios e complementares,
motivos de força maior e de origens alheias à vontade dos apelantes.
Entretanto, neste ponto também não assiste razão ao apelo, uma vez que
completamente desprovido de fundamento. Nesta seara, cumpre destacar a tese fixada pelo
Tema repetitivo nº 996, item 1.4, do Superior Tribunal de Justiça:
Tema 996 do STJ: 1.4. O descumprimento do prazo de entrega do imóvel, computado o período de
tolerância, faz cessar a incidência de correção monetária sobre o saldo devedor com base em indexador
setorial, que reflete o custo da construção civil, o qual deverá ser substituído pelo IPCA, salvo quando
este último for mais gravoso ao consumidor.
Outrossim, novamente frisa-se que é direito básico do consumidor a
modificação de cláusulas contratuais que estabeleçam relação excessivamente onerosa, nos
moldes do inciso V, do art. 6º, do Código de Defesa do Consumidor:
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
existência de uma consequência fática capaz de acarretar dor e sofrimento indenizável por sua
gravidade” (STJ. AgInt no AREsp 1692558/AL, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 23/11/2020) Consoante jurisprudência firmada por esta Corte
injustificadamente, não acarreta, por si só, danos morais. No caso dos autos, constata-se que, ainda
que o imóvel tenha sido entregue com atraso, o Tribunal de origem não apontou qualquer elemento
que demonstrasse que o fato teria afetado, de maneira excepcional, o direito da personalidade do
agravante, não havendo que se falar, portanto, em abalo moral indenizável”. (STJ. AgInt no REsp
III - DECISÃO:
28 de abril de 2023