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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE

Processo: 0053362-92.2021.8.06.0112 - Apelação Cível


Apelante/Apelado: Companhia Energética do Ceará - ENEL e INBOP - Indústria
de Borracha e Polímeros Ltda

EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL.


APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DO DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. RELAÇÃO DE CONSUMO.
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. PESSOA
JURÍDICA. AUMENTO EXORBITANTE DAS FATURAS EM
RELAÇÃO À MÉDIA DE CONSUMO. MERA COBRANÇA
INDEVIDA NAS FATURAS DE ENERGIA ELÉTRICA. DANO
MORAL NÃO CONFIGURADO. APELOS CONHECIDOS E
IMPROVIDOS.
1. Cinge-se a controvérsia recursal acerca da análise da
legitimidade dos valores cobrados da empresa autora referente ao
período compreendido entre outubro de 2019 e março de 2021 e,
em patamar muito superior à média mensal verificada para a
unidade consumidora, bem como verificar o cabimento de dano
moral em face dessas cobranças.
2. Vale destacar, ab initio, que a relação jurídica estabelecida
entre as partes é de consumo, regida pelas normas do Código de
Defesa do Consumidor, uma vez que de um lado da relação figura
um fornecedor, na modalidade de prestador de serviço público, e
do outro há um consumidor, que adquire o serviço como
destinatário final (arts. 2º, 3º e 22 do CDC).
3. Da análise acurada dos autos, observa-se que a empresa
apelante efetivamente comprovou o encerramento de suas
atividades no ano de 2018, por meio do laudo de fls.62/65 e dos
documentos de fls.89/104, entretanto, a recorrente continuou
sendo cobrada por valores consideravelmente superiores aos
usualmente cobrados (média de consumo), e que há divergência
dos meses que foram adimplidos, conforme se extrai das faturas
anexadas às fls.66/76 e fls.108/127 e do histórico de cobranças de
fl. 106.
4. Neste sentido, a empresa concessionária não obteve êxito em
comprovar a regularidade da cobrança dos valores superiores à
média de consumo, diante do encerramento da atividade
empresarial da autora, não se desincumbindo a recorrente de
demonstrar a regularidade da cobrança baseada no consumo real,
ônus que lhe incumbia.
5. Assim, entendo pela manutenção da desconstituição do débito
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em virtude de não restar devidamente comprovado nos autos a


regularidade das cobranças, a qual era ônus da concessionária,
tanto pela inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC),
como pela distribuição dinâmica (art. 373, II, do CPC), haja vista
o fato de deter a concessionária recorrente melhores condições
técnicas de averiguar a real origem da manutenção da cobrança
em valor elevado, mesmo com o encerramento das atividades da
empresa.
6. Ademais, é certo que a jurisprudência pátria admite que a
pessoa jurídica possa sofrer danos morais, conforme o enunciado
da Súmula nº 227/STJ, contudo, a aplicação desse enunciado
restringe-se àquelas hipóteses em que há ferimento à honra
objetiva da empresa, em que a pessoa jurídica tem seu conceito
social abalado pelo ato ilícito.
7. Portanto, os danos causados por condutas ilícitas cometidas em
desfavor de pessoas jurídicas não são presumíveis (in re ipsa), ao
passo que é necessário que a parte interessada apresente provas
que demonstrem ter a empresa autora sofrido qualquer dano em
sua honra objetiva, ou seja, na sua imagem, conceito e boa fama.
8. Desse modo, não assiste razão à empresa promovente/apelante
no que concerne ao pedido de reparação por danos morais. Isto
porque, embora ilegítima a conduta da concessionária/apelada de
cobrar débito indevido, tal fato não é suficiente a ensejar o dano
moral alegado, em razão da ausência de suspensão do
fornecimento de energia elétrica da unidade consumidora e/ou a
inscrição do nome da empresa/recorrente nos órgãos de proteção
ao crédito em virtude do referido débito, ou ainda, a existência de
cobrança vexatória que possa ter lhe causado humilhação e
constrangimento perante terceiros.
9. Ademais, não se comprovou a legalidade das cobranças, por
parte da promovida/apelante, bem como não se comprovou a
ocorrência de lesão moral por parte da promovente/apelante.
Assim sendo, não vislumbro qualquer argumento capaz de
possibilitar a modificação dos fundamentos da decisão atacada,
permanecendo aqueles nos quais o entendimento foi firmado.
10. Recursos conhecidos mas não providos.

ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos de nº 0053362-92.2021.8.06.0112,


acorda a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por
unanimidade, em conhecer dos recursos interpostos, mas para negar-lhes provimento, tudo em
conformidade com o voto do eminente relator.
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Fortaleza, 20 de setembro de 2023.

INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO


Presidente do Órgão Julgador

DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE


Relator

RELATÓRIO

1. Trata-se de apelações cíveis interpostas, respectivamente, por


Companhia Energética do Ceará - ENEL e Inbop Indústria de Borracha e Polímeros
Ltda, em face da sentença da 1ª Vara Cível da Comarca de Juazeiro do Norte/CE
(fls.314/316), que julgou parcialmente procedentes os pedidos da ação declaratória de
inexistência de débito c/c indenização por danos morais, ajuizada por e Inbop Indústria
de Borracha e Polímeros Ltda. em face de Companhia Energética do Ceará – ENEL.

2. Irresignada, a Companhia Energética do Ceará – ENEL interpôs


apelo às fls.321/326, no qual alega ser necessária a reforma da sentença, pois o laudo
de fls.62/65 não poderia ter sido utilizado como prova da inatividade da empresa e da
inexistência do débito, uma vez que foi produzido unilateralmente pelo consumidor, e
que não existem nos autos outros documentos que corroborem com o conteúdo do
documento apresentado. Ademais, sustenta que restou incontroverso que o contrato
entre as partes não foi encerrado em novembro de 2019 por opção do apelado, e que
este concordou com a continuidade do vínculo estando ciente de que teria de aguardar
mais 180 (cento e oitenta) dias para o desligamento da unidade consumidora, o que
retrata a legalidade do faturamento efetuado pela apelante.

3. Por sua vez, irresignada com a sentença do Juízo a quo, a Inbop


Indústria de Borracha e Polímeros Ltda. interpôs apelo às fls.332/346, no qual alega
ser necessário o deferimento da condenação a título de danos morais, pois a ausência
da supracitada condenação em sede de sentença mostra-se incompatível em relação ao
transtorno sofrido pelo recorrente. Ao final, pugna que seja aplicada condenação por
danos morais no montante de R$10.000,00 (dez mil reais) e a incidência de honorários
sucumbenciais sobre o proveito econômico obtido.

4. Contrarrazões da Inbop Indústria de Borracha e Polímeros Ltda às


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fls.347/355. Contrarrazões da Companhia Energética do Ceará – ENEL às fls.372/379.

5. É o relatório.

VOTO

6. Inicialmente, conheço dos recursos interpostos, uma vez presentes


os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade.

7. Cinge-se a controvérsia recursal acerca da análise da legitimidade


dos valores cobrados da empresa autora referente ao período compreendido entre
outubro de 2019 e março de 2021 e, em patamar muito superior à média mensal
verificada para a unidade consumidora, bem como verificar o cabimento de dano moral
em face dessas cobranças. Passo a analisar referidas teses conjuntamente.

8. Vale destacar, ab initio, que a relação jurídica estabelecida entre as


partes é de consumo, regida pelas normas do Código de Defesa do Consumidor, uma
vez que de um lado da relação figura um fornecedor, na modalidade de prestador de
serviço público, e do outro há um consumidor, que adquire o serviço como destinatário
final (arts. 2º, 3º e 22 do CDC).

9. Da análise acurada dos autos, observa-se que a empresa apelante


efetivamente comprovou o encerramento de suas atividades no ano de 2018, por meio
do laudo de fls.62/65 e dos documentos de fls.89/104, entretanto, a recorrente
continuou sendo cobrada por valores consideravelmente superiores aos usualmente
cobrados (média de consumo), e que há divergência dos meses que foram adimplidos,
conforme se extrai das faturas anexadas às fls.66/76 e fls.108/127 e do histórico de
cobranças de fl.106.

10. Neste sentido, a empresa concessionária não obteve êxito em


comprovar a regularidade da cobrança dos valores superiores à média de consumo,
diante do encerramento da atividade empresarial da autora, não se desincumbindo a
recorrente de demonstrar a regularidade da cobrança baseada no consumo real, ônus
que lhe incumbia, a propósito. A propósito, seguem precedentes em casos análogos:

CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. ENERGIA ELÉTRICA.
COBRANÇA DÚPLICE. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.
COMPROVAÇÃO AUTORAL DOS FATOS CONSTITUTIVOS
DO SEU DIREITO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA
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REGULARIDADE DA COBRANÇA. ÔNUS DA


CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA. ART. 373, II DO
CPC. INSCRIÇÃO INDEVIDA NO CADASTRO DE
INADIMPLENTES. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO
EVIDENCIADA. DANO MORAL CONFIGURADO. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. 1. Trata-se de Apelação Cível
interposta com vistas a reformar decisão de primeiro grau para
o fim de que seja reconhecida a cobrança em duplicidade
praticada pela ENEL, por consequência, a declaração de
inexigibilidade do débito de R$ 510,41 (quinhentos e dez reais e
quarenta e um centavos) e o arbitramento de danos morais em
favor da consumidora. 2. In casu, tem-se que a apelante se
desincumbiu do ônus a que lhe competia, demonstrando a
existência de um débito no valor de R$ 510,41 (quinhentos e dez
reais e quarenta e um centavos) perante a ENEL, em razão do
consumo de energia verificado na unidade consumidora nº
2457887-8, localizada na Vila Tapera, s/n, Distrito de Uruquê,
Quixeramobim/CE. A recorrente comprovou que sob o mesmo
endereço havia outra unidade consumidora cadastrada (nº
2457870-3), na qual as cobranças "reconhecidas" vinham sendo
registradas em nome do Sr. Raimundo Lopes Maciel e
devidamente quitadas pela consumidora, demonstrando ainda
que parte do débito exigido já foi cobrado e pago. 3. Com efeito,
caberia à Companhia energética comprovar a regularidade das
cobranças realizadas em nome da consumidora, sob pena de
responder pela má prestação do serviço. No entanto, analisando
o caderno processual, não se verifica a presença de qualquer
documentação ou argumentação da Concessionária de serviço
público apta a refutar o fato de que o mesmo endereço possui
duas unidades consumidoras cadastradas, sob titularidades
diferentes, e que parte dos débitos tidos como atrasados remetem
ao mesmo consumo registrado na outra unidade consumidora. 4.
Desse modo, a Concessionária de energia não demonstrou a
inexistência de duplicidade de cobranças e, consequentemente,
a regularidade do débito, deixando de se desincumbir do seu
ônus probatório (art. 373, II, CPC). Logo, é medida que se
impõe a desconstituição da dívida, caso contrário, a
consumidora estaria sendo indevidamente lesada em
decorrência de uma falha da empresa energética. 5. No que
tange ao pleito reparatório, partindo do pressuposto de que a
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cobrança indevida implicou prejuízo à consumidora, que teve


seu nome inscrito no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) por
débito indevidamente constituído, não tendo a Concessionária de
energia comprovado a inexistência de cobrança dúplice ou
mesmo a culpa exclusiva da parte autora ou de terceiro, tem-se
presentes os requisitos autorizadores da indenização: ato ilícito,
dano e nexo causal. 6. Nessa trilha, atentando-se às
peculiaridades do caso concreto, segundo critérios da
razoabilidade e da proporcionalidade, entende-se como justo e
razoável a indenização no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), a título de danos morais, com vistas a amenizar os danos
causados à consumidora. 7. Recurso conhecido e provido.
(TJCE - AC: 00021368720198060154 CE
0002136-87.2019.8.06.0154, Data de Julgamento: 01/09/2021, 2ª
Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 02/09/2021) Grifou-
se.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
ENERGIA ELÉTRICA. CONSUMO DESPROPORCIONAL,
QUANDO COMPARADO AO HISTÓRICO DA UNIDADE
CONSUMIDORA. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE OS
CONSUMOS AFERIDOS RECLAMADOS CORRESPONDEM
AO CONSUMO REAL. CONCESSIONÁRIA NÃO SE
DESINCUMBIU DO SEU ÔNUS PROBANTE. PAGAMENTO
DOS VALORES INDEVIDOS. RESTITUIÇÃO QUE SE IMPÕE,
NA FORMA SIMPLES. CORTE NO FORNECIMENTO DO
SERVIÇO. DANOS MORAIS. CONFIGURADOS. QUANTUM
MANTIDO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. 1. Cuidam os autos de ação que discute
as faturas de energia elétrica em valores considerados
exorbitantes pela autora, a qual pugna pela anulação dos
débitos, indenização por danos morais e restituição dos valores
indevidamente pagos. 2. Da análise das faturas constantes dos
autos, percebe-se flagrante disparidade entre o histórico de
consumo da unidade e as faturas referentes às competências dos
meses de novembro e dezembro de 2017, ora reclamadas. 3.
Extrai-se das faturas de agosto a outubro de 2017 que o
histórico de consumo da unidade, nos últimos 12 (doze) meses,
se mantinha em média de pouco mais de 100 kWh (cem
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quilowatts-hora), refletindo contas de energia de R$ 70,00


(setenta reais) a R$ 90,00 (noventa reais). 4. Em novembro de
2017, a fatura sofreu aumento repentino e exponencial para
1.184 kWh (mil, cento e oitenta e quatro quilowatts-hora),
totalizando R$ 1.045,60 (mil e quarenta e cinco reais e sessenta
centavos) de fatura a pagar e, em dezembro do citado ano, foi
emitida conta no montante de R$ 603,39 (seiscentos e três reais
e trinta e nove centavos). 5. Infere-se dos autos que a
promovente contestou os débitos administrativamente,
solicitando a aferição no seu medidor de energia, contudo, em
sua defesa, a ENEL, genericamente, afirmou que os consumos
contestados estavam corretos, deixando de explicitar as razões
que embasam tal assertiva e de acostar aos presentes autos
prova robusta do alegado. 6. Percebe-se, pois, que a requerente
comprovou os fatos constitutivos do seu direito, todavia, a ré
deixou de apresentar provas aptas a desconstituir o direito
autoral, não se desincumbindo do ônus do art. 373, II, do CPC
e do art. 6º, VIII, do CDC. Tendo em vista que a presente
demanda trata de relação consumerista, ante a hipossuficiência
técnica da usuária, deve ser imputado à concessionária do
serviço público o ônus de provar a regularidade das cobranças
que, em muito, destoam da média de consumo da unidade. 7. A
promovida não trouxe ao caderno processual elementos de
prova de que os consumos faturados ora reclamados
correspondem ao real consumo de energia elétrica da unidade e
que, portanto, a cobrança é legítima. 8. Destarte, do cotejo entre
os fatos e provas que integram o caderno processual, entendo
como escorreito o provimento jurisdicional de piso que declarou
a inexistência dos débitos judicializados. 9. No que tange à
indenização por danos morais, forçoso mencionar que houve o
corte no fornecimento de energia elétrica em razão da dívida
aqui discutida, a qual, repisa-se, é indevida. 10. O corte
indevido de energia elétrica, de per si, configura dano moral,
presumível como decorrente de forma automática dos fatos em
questão, dispensando larga investigação probatória, posto que
exsurge da própria realização do ato, haja vista a essencialidade
do serviço público de energia elétrica. 11. O quantum
indenizatório fixado no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) não
comporta minoração, vez que suficiente para compensar os
danos suportados pela promovente e alcançar a finalidade
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pedagógica do instituto, não importando em enriquecimento


ilícito da parte autora. 12. Na mesma direção, não merece
reproche a sentença no capítulo concernente aos danos
materiais suportados pela requerente, vez que esta, a fim de ver
restabelecido o fornecimento de energia elétrica em sua
residência, pagou os débitos em debate, conforme comprovantes
de pagamento que repousam nos autos. 13. Recurso de Apelação
conhecido e improvido. Sentença mantida.
(TJCE - AC: 01246660420188060001 CE
0124666-04.2018.8.06.0001, Relator: MARIA DE FÁTIMA DE
MELO LOUREIRO, Data de Julgamento: 30/06/2021, 2ª
Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 30/06/2021) Grifou-
se.

11. Assim, entendo pela manutenção da desconstituição do débito em


virtude de não restar devidamente comprovado nos autos a regularidade das cobranças,
a qual era ônus da concessionária, tanto pela inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII,
do CDC), como pela distribuição dinâmica (art. 373, II, do CPC), haja vista o fato de
deter a concessionária recorrente melhores condições técnicas de averiguar a real
origem da manutenção da cobrança em valor elevado, mesmo com o encerramento das
atividades da empresa.

12. Ademais, é certo que a jurisprudência pátria admite que a pessoa


jurídica possa sofrer danos morais, conforme o enunciado da Súmula 227/STJ,
contudo, a aplicação desse enunciado restringe-se àquelas hipóteses em que há
ferimento à honra objetiva da empresa, em que a pessoa jurídica tem seu conceito
social abalado pelo ato ilícito.

13. Portanto, os danos causados por condutas ilícitas cometidas em


desfavor de pessoas jurídicas não são presumíveis (in re ipsa), ao passo que é
necessário que a parte interessada apresente provas que demonstrem ter a empresa
autora sofrido qualquer dano em sua honra objetiva, ou seja, na sua imagem, conceito e
boa fama.

14. Sobre o assunto, vejamos o entendimento do Egrégio Superior


Tribunal de Justiça:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.233.094 - SP


(2018/0009244-7) RELATORA : MINISTRA ASSUSETE
MAGALHÃES AGRAVANTE : SOMARCA ASSESSORIA
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EMPRESARIAL SC LTDA ADVOGADOS : SONIA MARIA DE


ALMEIDA MOREIRA E OUTRO (S) - SP266748 FERNANDA
DE OLIVEIRA RAMOS - SP270039 AGRAVADO : EDP SÃO
PAULO DISTRIBUICAO DE ENERGIA S.A ADVOGADO :
RICARDO MARFORI SAMPAIO E OUTRO (S) - SP222988
DECISÃO Trata-se de Agravo, interposto por SOMARCA
ASSESSORIA EMPRESARIAL SC LTDA, em 26/05/2017, contra
decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que
inadmitiu o Recurso Especial interposto contra acórdão assim
ementado: "REPARAÇÃO DE DANOS. Energia elétrica. Corte
no fornecimento. Danos morais. Inocorrência. Tratando-se de
pessoa jurídica, há necessidade de prova de dano à sua honra
objetiva (imagem, conceito e boa fama), ausente na espécie.
Jurisprudência do STJ. Sentença reformada nesse ponto. Danos
materiais. Inocorrência. Ausência de prova. Sentença mantida
nesse ponto. Recurso da ré provido. Recurso da autora não
provido" (fl. 330e). O acórdão em questão foi objeto de
Embargos de Declaração, rejeitados nos seguintes termos:
"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Omissão e contradição.
Inocorrência. Mero inconformismo com o acórdão que negou
provimento à apelação interposta pelo Embargante. Caráter
meramente infringente. Embargos rejeitados" (fl. 348e). Nas
razões do Recurso Especial, aduz a parte recorrente violação
aos arts. 186, 187 e 927 do Código Civil, argumentando que "as
ofensas praticadas aos funcionários e a sócia da empresa, não
ocorreram na qualidade de pessoa física, posto que se tratam de
ofensas decorrentes a representação a empresa pessoa jurídica e
consumidora, que sofreu com o corte praticado pelo ato ilícito
da recorrida" (fl. 359e), e que, "no caso, o Dano Moral se
apresenta na imagem negativa da empresa perante demais
empresas e seus fornecedores, as empresas vizinhas, como
também as pessoas que ali passavam e presenciaram a ofensa
decorrente do corte de energia que se deu de forma ilegítima"
(fl. 360e). Alega, ainda, que "se não fosse pela ilegalidade do ato
praticado pela recorrida, nada disto seria necessário, assim,
pelo princípio da causalidade, deve a recorrida arcar com toda
a despesa de honorários advocatícios, visto que deu causa a
ação" (fl. 362e). Requer, ao final, o provimento do recurso.
Apresentadas as contrarrazões (fls. 368/390e), negado
seguimento ao Recurso Especial (fls. 392/393e), foi interposto o
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presente Agravo (fls. 396/401e). Apresentada a contraminuta a


fls. 410/415e. A irresignação não merece acolhimento. O
acórdão recorrido encontra-se em consonância com a
jurisprudência desta Corte, no sentido de que a pessoa jurídica
pode sofrer dano moral, desde que haja ofensa à sua honra
objetiva, quando a pessoa jurídica tem seu conceito social
abalado pelo ato ilícito. No caso, o Tribunal a quo entendeu que
não houve comprovação da ofensa à honra objetiva do
agravante, ou seja, à sua imagem, conceito e boa fama, de modo
que a revisão de tal entendimento ensejaria, inevitavelmente, o
reexame fático-probatório dos autos, procedimento vedado, pela
Súmula 7 desta Corte. A propósito: "CIVIL E PROCESSUAL
CIVIL. INTERRUPÇÃO DE SERVIÇO DE ENERGIA. DANO
MORAL. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. 1. A pessoa
jurídica pode sofrer dano moral desde que haja ferimento à sua
honra objetiva, ao conceito de que goza no meio social. 2. O
mero corte no fornecimento de energia elétrica não é, a
princípio, motivo para condenação da empresa concessionária
em danos morais, exigindo-se, para tanto, demonstração do
comprometimento da reputação da empresa. 3. No caso, a
partir das premissas firmadas na origem, não há fato ou prova
que demonstre ter a empresa autora sofrido qualquer dano em
sua honra objetiva, vale dizer, na sua imagem, conceito e boa
fama. O acórdão recorrido firmou a indenização por danos
morais com base, exclusivamente, no fato de que houve
interrupção no fornecimento do serviço prestado devido à
suposta fraude no medidor, que não veio a se confirmar em
juízo. 4. Com base nesse arcabouço probatório, não é possível
condenar a concessionária em danos morais, sob pena de
presumi-lo a cada corte injustificado de energia elétrica, com
ilegítima inversão do ônus probatório. 5. Recurso especial
provido" (STJ, REsp 1.298.689/RS, Rel. Ministro CASTRO
MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJe de 15/04/2013). Por fim, em
relação a alegação de que deve a recorrida arcar com toda a
despesa de honorários advocatícios, verifica-se que a parte
recorrente não indicou, com precisão e objetividade, de forma
clara e individualizada, como lhe competia, os dispositivos
legais que porventura tenham sido malferidos pelo Tribunal de
origem, o que caracteriza ausência de técnica própria
indispensável à apreciação do Recurso Especial. Diante desse
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quadro, tem incidência, por analogia, a Súmula 284 do Supremo


Tribunal Federal: "É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata
compreensão da controvérsia". Em face do exposto, com
fundamento no art. 253, parágrafo único, II, a, do RISTJ,
conheço do Agravo para não conhecer do Recurso Especial. Em
atenção ao disposto no art. 85, § 11, do CPC/2015 e no
Enunciado Administrativo 7/STJ ("Somente nos recursos
interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de
2016 será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais
recursais, na forma do art. 85, § 11, do NCPC), majoro os
honorários advocatícios anteriormente fixados em R$ 1.000,00
(mil reais) para R$ 1.300,00 (mil e trezentos reais), levando-se
em consideração o trabalho adicional imposto ao advogado da
parte recorrida, em virtude da interposição deste recurso,
respeitados os limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 85 do
CPC/2015. I. Brasília (DF), 08 de fevereiro de 2018. MINISTRA
ASSUSETE MAGALHÃES Relatora. (STJ - AREsp: 1233094 SP
2018/0009244-7, Relator: Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
Data de Publicação: DJ 22/02/2018) Grifou-se.

15. Desse modo, não assiste razão à empresa autora no que concerne
ao pedido de reparação por danos morais. Isto porque, embora ilegítima a conduta da
concessionária/apelada de cobrar débito indevido, tal fato não é suficiente a ensejar o
dano moral alegado, em razão da ausência de suspensão do fornecimento de energia
elétrica da unidade consumidora e/ou a inscrição do nome da empresa/recorrente nos
órgãos de proteção ao crédito em virtude do referido débito, ou ainda, a existência de
cobrança vexatória que possa ter lhe causado humilhação e constrangimento perante
terceiros.

16. No mesmo sentido manifesta-se a jurisprudência deste E. Tribunal


de Justiça:

PROCESSO CIVIL. CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA INDEVIDA.
DESCONSTITUIÇÃO DO DÉBITO. IRREGULARIDADE NO
MEDIDOR. INOBSERVÃNCIA DE CONTRADITÓRIO E
AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE PERÍCIA JUDICIAL. DANO
MORAL NÃO CONFIGURADO EM RAZÃO DA AUSÊNCIA
DE CORTE NO FORNECIMENTO DO SERVIÇO E/OU
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GABINETE DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE

INSCRIÇÃO DO NOME DA AUTORA EM CADASTROS DE


INADIMPLENTES E/OU COBRANÇA VEXATÓRIA.
RECURSO DA CONCESSIONÁRIA CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Trata-se de Apelação Cível
interposta por Companhia Energética do Ceará - ENEL,
adversando sentença proferida no processo nº 0129745-
95.2017.8.06.0001, em curso na 35ª Vara Cível da Comarca de
Fortaleza/CE, que, nos autos da Ação Declaratória de
Inexistência de Débito c/c Danos Morais e Antecipação de
Tutela, julgou procedente o pleito autoral para anular o débito
objeto da lide e condenar a concessionária ao pagamento de
danos morais em favor da autora. 2. A autora alega, em síntese,
que recebeu uma cobrança indevida no valor de R$ 46.496,03
(quarenta e seis mil quatrocentos e noventa e seis reais e três
centavos) da Enel, em relação a irregularidades constantes no
medidor, que foram apuradas de forma arbitrária e unilateral
pela equipe da empresa. 3. A concessionária sustentou, em
síntese, a regularidade da inspeção na unidade consumidora,
ocasião em que foi encontrado indício de violação, sendo
lavrado o Termo de ocorrência de inspeção – T.O.I, nº 1218752,
onde a anomalia encontrada foi que o medidor estava sem selo e
violado. O referido TOI ensejou a cobrança no valor de R$
46.496,00 (quarenta e seis mil quatrocentos e noventa e seis
reais), referentes ao período de 27/06/2015 a 27/10/2016, com
base na média dos 3 maiores consumos do cliente. Assim,
assevera ser a cobrança legítima, uma vez que foi realizada nos
moldes determinados pela Resolução 414/2010 da ANEEL. 4.
Perícia unilateral feita pela concessionária, não sendo
oportunizado o contraditório e a ampla defesa. Necessidade de
perícia técnica judicial para apreciação do desvio alegado. Não
incidência de danos morais ao caso, em razão da ausência de
suspensão do fornecimento de energia elétrica da unidade
consumidora e/ou a inscrição do nome do promovente nos
cadastros de inadimplentes. 5. Recurso de Apelação interposta
pela ENEL – Companhia Energética do Ceará, conhecido e
parcialmente provido, reformando a sentença unicamente para
declarar improcedente a incidência de danos morais ao caso.
Manutenção da sentença em seus demais termos.
(TJCE - AC: 01297459520178060001 CE 0129745-
95.2017.8.06.0001, Relator: FRANCISCO MAURO FERREIRA
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE

LIBERATO, Data de Julgamento: 19/05/2021, 1ª Câmara Direito


Privado, Data de Publicação: 19/05/2021) Grifou-se.

RECURSO DE APELAÇÃO. CONSUMIDOR. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
DANOS MORAIS. CANCELAMENTO DO CONTRATO DE
ENERGIA ELÉTRICA DEVIDAMENTE SOLICITADO. MERA
COBRANÇA INDEVIDA. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 -
Cuida-se de recurso de apelação interposto pela parte acionada
contra sentença que julgou procedente em parte ação
declaratória de inexistência de débito c/c danos morais,
insurgindo-se a apelante quanto à condenação em dano moral,
alegando tratar-se de simples cobrança indevida, a qual não
gera prejuízo imaterial, requerendo ao final a improcedência do
pedido ou, subsidiariamente, a redução do valor atribuído a
título de danos morais. 2 - Verifica-se dos autos que, embora
ilegítima a conduta da promovida, de cobrar por débito
indevido, tal fato não se mostrou suficientemente capaz de
ensejar o dano moral alegado, visto que a autora sequer teve o
nome negativado nos órgãos de proteção ao crédito em virtude
do referido débito, tampouco demonstrou a existência de
cobrança vexatória que possa ter lhe causado humilhação e
constrangimento perante terceiros. 3 - O entendimento
consolidado na jurisprudência é no sentido de que o simples
envio de cobrança, ainda que indevida, sem a prova do dano
causado, não é capaz de atingir a esfera imaterial da pessoa.
Nestes casos, o dano imaterial não é presumível, devendo
existir prova do prejuízo efetivamente sofrido, o que não
ocorreu. 4 - Recurso conhecido e provido. Sentença reformada.
(TJCE - AC: 00107286720128060154 CE
0010728-67.2012.8.06.0154, Relator: MARIA DO
LIVRAMENTO ALVES MAGALHÃES, Data de Julgamento:
08/09/2020, 4ª Câmara Direito Privado, Data de Publicação:
08/09/2020) Grifou-se.

17. Ademais, não se comprovou a legalidade das cobranças, por parte


da promovida/apelante, bem como não se comprovou a ocorrência de lesão moral por
parte da promovente/apelante. Assim sendo, não vislumbro qualquer argumento capaz
de possibilitar a modificação dos fundamentos da decisão atacada, permanecendo
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE

aqueles nos quais o entendimento foi firmado.

18. Isto posto, CONHEÇO dos apelos interpostos, mas para


NEGAR- LHES PROVIMENTO, mantendo inalterados os termos da sentença
vergastada

19. É como voto.

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