DPC III – Aula 1 ◦ 1) Common law X civil law: a dicotomia ainda se mantém? ◦ Qual a função do sistema de precedentes judiciais no modelo processual brasileiro? ◦ II) Noções fundamentais: precedente X ratio decidendi (holding) X decisão judicial ◦ Precedente: é a decisão judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo elemento normativo pode servir como diretriz para o julgamento posterior de casos análogos. É composto: a) por circunstâncias de fato que embasam a controvérsia; b) tese ou princípio jurídico assentado na motivação (ratio decidendi) do provimento decisório; c) argumentação jurídica em torno da questão. ◦ Ratio decidendi: são os fundamentos jurídicos que sustentam a decisão. ◦ Ex: conceito de família para fins de proteção da impenhorabilidade do bem de família ◦ Decisão judicial é o ato jurídico de onde se extrai a solução do caso concreto, encontrável no dispositivo, e o precedente, comumente extraído da fundamentação. Não se confunde precedente e decisão judicial. O precedente é extraído da decisão judicial. Já a decisão soluciona o caso concreto colocado em discussão perante o Poder Judiciário. ◦ Obs: Cortes de Justiça (objetivo é a justiça do caso concreto, por meio da aplicação dos fatos e do direito à causa) X Cortes Supremas (interpretação do direito a partir do caso concreto, dando a última palavra a respeito do tema acerca do direito federal e constitucional) DPC III – Aula 1 ◦ Obiter dictum: é o argumento jurídico, consideração, comentário exposto apenas de passagem na motivação da decisão, que se convola em juízo normativo acessório, provisório, secundário, impressão ou qualquer outro elemento jurídico-hermenêutico que não tenha influência relevante e substancial para a decisão. * Pode sinalizar uma futura orientação do Tribunal, passando até a se tornar a ratio decidendi. ◦ A norma obtida por meio de um precedente é uma regra (e não princípio) ◦ Conceitos semelhantes mas distintos: precedente X jurisprudência X súmula ◦ Jurisprudência: é um conjunto de decisões judiciais. É uma diferenciação de natureza quantitativa, já que o precedente faz referência a uma decisão relativa a um caso particular. Jurisprudência minoritária X dominante ◦ Súmula: é uma tentativa de enunciação destacada da ratio decidendi do entendimento de um determinado tribunal, sendo uma forma de facilitar a identificação pelos demais julgadores da jurisprudência dominante do Tribunal sobre determinado tema. ◦ O precedente também não se confunde com a ementa do acórdão, que é um resumo da decisão específica. DPC III – Aula 1 ◦ Princípios que informam a formação de precedentes judiciais: a) princípio da legalidade (que não se restringe à lei somente, mas abarca todo o ordenamento jurídico); b) princípio da igualdade; c) princípio da segurança jurídica (necessidade de uniformizar a jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente – art. 926, do CPC); d) princípio do contraditório (seja em relação à formação do precedente – e intervenção do amicus curiae e terceiros – seja em relação à aplicação do precedente) ◦ Deveres gerais dos Tribunais relacionados ao sistema de precedentes: art. 926, do CPC: i) Dever de uniformização da jurisprudência; ii) Dever de estabilidade (qualquer mudança de posicionamento, seja por superação ou overruling) deve ser justificada adequadamente e ter sua eficácia modulada em respeito à segurança jurídica; iii) Dever de publicidade (art. 927, § 5º, do CPC): iv) Dever de coerência (implica em autorreferência aos precedentes anteriores e impossibilidade de contrariar seu entendimento anterior, salvo se pretender superar ou distinguir o precedente); v) Dever de integridade: refere-se à unidade do direito. A interpretação deve levar em consideração o ordenamento jurídico, as normas constitucionais, etc. ◦ Distinção (distinguishing): é uma forma de flexibilização na aplicação dos precedentes, de modo a impedir o engessamento do Direito e injustiças que decorreriam da aplicação de um precedente a caso que demande solução diversa. ◦ Pode ser realizado por qualquer magistrado, não havendo a sua revogação/superação ◦ Distinção ampliativa X Distinção restritiva (leva à aplicação do precedente, seja aumentando, seja reduzindo o seu âmbito de aplicação DPC III – Aula 1 ◦ Sinalização (signaling): se refere à segurança jurídica e sua função é prepara os casos de superação de precedentes quando o tribunal percebe que há essa necessidade, mas é preciso que os jurisdicionados se preparem para essa alteração. Dessa forma, não há a modificação imediata do seu posicionamento mas se indica que ele poderá ser modificado em breve. Se reconhece que o precedente merece ser superado. Há também a técnica do julgamento alerta ou “anúncio público” pela qual o tribunal informa a sociedade sobre a possibilidade de o tribunal mudar seu entendimento sobre determinada questão jurídica, promovendo a sua superação, no futuro, em outro julgamento. O julgamento-alerta constitui-se em anúncio público de que há a possibilidade de mudança de entendimento, mas a efetiva alteração não é obrigatória, nem para as instâncias inferiores, nem para o próprio tribunal. Vale dizer, pode haver o aviso sem que posteriormente a mudança de entendimento se verifique. ◦ Superação do precedente: overruling e overriding. É uma técnica através da qual um precedente perde a sua força vinculante e é substituído por outro precedente. A superação pode ser expressa ou tácita (implícita), sendo que este último não é admitido no ordenamento pátrio pois se exige fundamentação específica para a superação de determinada orientação jurisprudencial. ◦ Overruling difuso (ocorre em qualquer processo) e overruling concentrado (ocorre por meio de um procedimento autônomo, cujo objetivo é a revisão de um entendimento já consolidado no tribunal). Ambos ocorrem no Brasil ◦ A superação depende de fundamentação adequada da inadequação (erro, descompasso, etc.) do precedente que se está superando. ◦ Qual a eficácia da superação? É possível que o Tribunal, ao superar o precedente, estabeleça alguma norma de transição, modulando os efeitos dessa modificação. DPC III – Aula 1 ◦ Anticipatory overruling: é uma espécie de não aplicação preventiva, por órgãos inferiores, do precedente firmado por Corte superior.. Não significa uma permissão para a não aplicação de precedentes vinculantes pela discordância quanto ao seu conteúdo. A sua aplicação no Brasil é questão controvertida pela doutrina ◦ Quais os precedentes obrigatórios? Art. 927, do CPC. ◦ Não se trata de rol taxativo, podendo haver outros precedentes vinculantes, como a súmula de cada um dos Tribunais tem força obrigatória em relação ao próprio Tribunal e aos juízes a ela vinculados. ◦ Classificação pelo procedimento de formação: i) oriundos de decisões em controle concentrado de constitucionalidade feito pelo STF (art. 927, I); ii) precedentes cuja ratio decidendi se encontra em súmula (art. 927, II e IV); iii) incidente em julgamento de tribunal (formação concentrada de precedentes obrigatórios) (art. 927, III); iv) oriundos do plenário ou do órgão especial (art. 927, V) => vinculação interna (em relação aos membros e órgãos fracionários do tribunal que originou o precedente) e externa (órgãos de instância inferior vinculados ao tribunal no qual o precedente se originou).