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Sofia Temer
Doutoranda e Mestre em Direito Processual pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Advogada. sotemer@gmail.com
1.Breve introdução
Cresce, no cenário nacional, o debate sobre a aplicabilidade das decisões judiciais com
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eficácia vinculativa – também chamadas de precedentes obrigatórios ou vinculantes – à
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arbitragem.
Mais do que isso, discute-se qual seria a forma de impor e fiscalizar tal aplicação, e,
nessa linha, indaga-se se a ação anulatória teria ganhado novos contornos, passando a
albergar situações em que a decisão arbitral estaria em descompasso com os
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provimentos judiciais vinculantes.
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
Desse modo, não se esgotando o ordenamento jurídico no texto legal, vem se afirmando
que os precedentes devem ser considerados também na resolução das controvérsias
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submetidas à arbitragem.
Não se confundem, portanto, o fato de o precedente ser norma e dever ser ponderado e
aplicado pelo árbitro (o que diz respeito, a rigor, à teoria do direito), e as consequências
procedimentais decorrentes da aplicação (judicial) do precedente (tema afeto ao direito
processual civil).
Por outro lado, discute-se se a não observância dos precedentes inquinaria a decisão
arbitral de nulidade, permitindo o controle judicial pela via da ação anulatória e impondo
sua aplicação. É do que trataremos a seguir.
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9.307/96).
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O controle judicial é exercido mediante ação anulatória, pelo procedimento comum,
ou, ainda, em impugnação ao cumprimento de sentença (art. 33, §§ 1º e 3º, Lei de
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Arbitragem).
A decisão judicial, via de regra, não substitui a arbitral, mas apenas a cassa, para que
outra seja proferida pelo juízo arbitral (art. 33, § 2º, da Lei de Arbitragem), salvo, claro,
nas hipóteses em que seja constatada a impossibilidade de prosseguimento da
arbitragem, como, quando haja vício insuperável quanto à própria convenção, ou
inarbitrabilidade da controvérsia.
Para o objeto deste estudo, são relevantes as hipóteses de cabimento de ação anulatória
descritas nos incisos III (sentença que não contenha os requisitos do art. 26,
notadamente fundamentação), IV (sentença proferida fora dos limites da convenção de
arbitragem), e VIII (ofensa aos princípios do contraditório, igualdade, imparcialidade e
livre convencimento) do artigo 32 da Lei de Arbitragem.
Desrespeitadas tais garantias, cabe ação anulatória, para que o Judiciário exerça o
controle e determine, se for o caso, que outra decisão seja proferida no lugar daquela
viciada (ou oriunda de um procedimento viciado).
Desse modo, como o Judiciário exerce controle sobre a arbitragem no que tange ao
núcleo de garantias processuais, há vertente doutrinária que entende que, quando
houver precedente judicial que verse sobre tais garantias, seria possível controlar a
atuação do tribunal arbitral e submetê-lo ao preceito judicial vinculante.
Afinal, caso a parte submeta determinada decisão arbitral ao controle judicial sob a
alegação, por exemplo, de que houve violação ao contraditório pela vedação de
oportunidade de manifestação após a produção de determinada prova, e existir
precedente judicial sobre o ponto, o juiz estatal deverá aplicar tal precedente ao julgar a
anulatória. Por isso, o precedente vincularia indiretamente a arbitragem. Inclusive, esse
entendimento já é manifestado por parte da doutrina anteriormente ao CPC/2015
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(LGL\2015\1656), no que tange às súmulas vinculantes.
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arbitragem, inclusive eventualmente se sobrepondo ao procedimento convencional.
Parece-nos, que proteger o núcleo das garantias processuais no procedimento arbitral
não autoriza, de imediato, a aplicação de todos os precedentes vinculantes que versem,
em alguma medida, sobre tais garantias.
Assim, embora haja uma vinculação indireta dos precedentes judiciais à arbitragem
quando tratem das garantias do contraditório, igualdade, imparcialidade e livre
convencimento, a imposição de aplicação apenas ocorrerá – em eventual pretensão
anulatória – quanto ao seu núcleo, não indistintamente em relação a todas as “teses
judiciais” que versem sobre as regras do procedimento judicial que, de inúmeros modos,
as concretizem.
A fundamentação é também requisito essencial da sentença arbitral (art. 26, II, da Lei
de Arbitragem), e, assim como ocorre com as garantias supracitadas, sua ausência é
motivo para ajuizamento de ação anulatória, nos termos do art. 32, III.
Desse modo, o fato de não constar, da decisão arbitral, a apreciação sobre precedente
judicial acerca da questão debatida na arbitragem evidenciaria vício de fundamentação,
passível de controle judicial?
A primeira questão que se coloca, nos parece, é sobre a aplicação do comando do art.
489 às decisões arbitrais. Caso se entenda que tal dispositivo não tem caráter inovativo,
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ou seja, apenas explicita o conteúdo do dever de fundamentar que decorre do art. 93,
IX, da Constituição e que consta do art. 26 da Lei de Arbitragem, inexorável é a
conclusão pela sua aplicabilidade, de modo que os árbitros devem se manifestar sobre
os precedentes invocados pelas partes, com o que concordamos.
Se, de um lado, parte da doutrina afirma que a decisão é passível de anulação, o que
poderia ser aplicado inclusive para precedente não invocado pelas partes e que deveria
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ter sido ponderado pelo árbitro por força do princípio do iura novit curia (ou arbiter),
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vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
há vertente divergente, que entende que o art. 32, III, da Lei de Arbitragem não deve
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ser lido com tal extensão.
E, por isso, acreditamos que não é adequado simplesmente importar para o processo
arbitral a imediata consequência de nulidade da decisão em decorrência da aplicação do
inciso VI do § 1º do art. 489 do CPC (LGL\2015\1656), tão só pelo fundamento de que a
omissão foi sobre a incidência de precedente, como se se tratasse de vício mais grave do
que a omissão em relação a outros argumentos.
Parece-nos que não há, para a arbitragem, razão especial para prever um dever de
fiscalização mais forte quanto à fundamentação em relação aos precedentes. A decisão
arbitral será considerada não fundamentada – em igual medida – se silenciar sobre
quaisquer fundamentos (fatos, precedentes ou leis) relevantes para a controvérsia.
Por isso, acreditamos que incide muito mais a ratio por trás do inciso IV do art. 489 do
CPC (LGL\2015\1656) (que impõe o dever de enfrentar todos os argumentos capazes de
infirmar a conclusão) do que dos incisos V e VI (que tratam da aplicação ou não
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aplicação de precedente).
Alinhamo-nos, nesse ponto, com o entendimento de que não se justifica maior controle e
ingerência judicial sobre a decisão arbitral que não observa precedente, do que há em
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relação à decisão que não observa a lei.
Ocorre que, também em relação aos precedentes “de mérito” vem se cogitando a
possibilidade de controle judicial, pela via da anulatória, como se verá a seguir.
Não obstante, essa temática ganha contornos interessantes quando analisada a questão
sobre a perspectiva da convenção de arbitragem – quanto ao direito escolhido – e do
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princípio do iura novit arbiter.
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vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
E tal entendimento poderia ser aplicado inclusive quanto aos precedentes que não
tenham sido expressamente invocados pelas partes, mas que, por comporem o direito
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eleito, devem ser de conhecimento dos árbitros, por força do iura novit arbiter.
Segundo tal perspectiva, a não aplicação do direito eleito – que compreende precedentes
sobre mérito – caracterizaria desrespeito à convenção de arbitragem, vício passível de
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controle judicial pela via da anulatória, nos termos do art. 32, IV, da Lei 9.307/96.
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Embora parte da doutrina entenda que ocorre, em tais hipóteses, error in procedendo,
viabilizando a anulatória, há quem afirme o contrário: seria em realidade error in
judicando, não passível de controle judicial, já que esse controle ocorre apenas em
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relação a seus aspectos formais, de modo que a previsão do inciso IV do art. 32 não
permitiria a fiscalização sobre a observância de precedentes judiciais quanto ao mérito.
Desse modo, ainda que se pudesse adotar como regra que o entendimento que a
aplicação do direito brasileiro compreende também os precedentes judiciais,
permitindo-se o uso da anulatória por violação à convenção, seria possível conferir às
partes a possibilidade de estabelecer consensualmente outro regime?
No ponto, há que se lembrar que não raras vezes a arbitragem se debruça sobre
controvérsias relativas a negócios complexos, muito específicos, inclusive a partir de
contratos com nível alto de detalhamento, a praticamente dispensar a aplicação da lei.
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Nos contratos autorregulatórios ou contracts sans droit, não raro são afastadas as
consequências regulares previstas em lei, o que implicaria em resultado similar ao
previsto anteriormente, quanto à negação dos precedentes.
Parece-nos viável, nesse contexto, que as partes utilizem-se do art. 2º, § 1º, da Lei de
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Arbitragem, para calibrar a aplicação do direito no que tange aos precedentes judiciais.
O art. 2º, § 1º, da Lei de Arbitragem prevê, contudo, que a escolha das regras de direito
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aplicáveis ao caso não pode violar os bons costumes e a ordem pública. Daí se extrai a
última das reflexões deste artigo: seriam os precedentes “ordem pública”, a obstar a
limitação convencional sobre sua aplicação, sob pena de cabimento de anulatória e
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impositiva incidência?
arbitragem.
4.Conclusões
5.Referências
CABRAL, Trícia Navarro Xavier. Ordem pública processual. Brasília: Gazeta Jurídica,
2015.
HUCK, Hermes Marcelo; AMADEO, Rodolfo da Costa Manso Real. Árbitro: juiz de fato e
de direito. Revista de Arbitragem e Mediação, 40/181, jan. 2014.
LUCCA, Rodrigo Ramina de. Iura novit curia nas arbitragens. Revista Brasileira de
Arbitragem, v. 50, p. 54-78, 2016.
LUCON, Paulo Henrique dos Santos; BARIONI, Rodrigo; MEDEIROS NETO, Elias Marques
de. A causa de pedir das ações anulatórias de sentença arbitral. Revista de Arbitragem e
Mediação, v. 46, p. 265-276, 2015.
SANTOS, João Manoel Carvalho de. Código Civil interpretado. 10. ed. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 1963. v. I.
ZANETI JR., Hermes. Comentários aos arts. 926 a 928. In: CABRAL, Antonio do Passo;
CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656). Rio
de Janeiro: Forense, 2015.
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: JusPodivm, 2015.
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
2 V., sobre o tema, o debate virtual entre: CRUZ E TUCCI, José Rogério. O árbitro e a
observância do precedente judicial. Disponível em:
[www.conjur.com.br/2016-nov-01/paradoxo-corte-arbitro-observancia-precedente-judicial].
Acesso em: 14.11.2016; ROQUE, André Vasconcelos; GAJARDONI, Fernando da Fonseca.
A sentença arbitral deve seguir o precedente judicial no novo CPC? Disponível em:
[http://jota.info/sentenca-arbitral-deve-seguir-o-precedente-judicial-novo-cpc]. Acesso
em: 14.11.2016; KOLBACH, Marcela. Vinculação do árbitro aos precedentes judiciais
após a vigência do CPC/2015. Disponível em:
[https://processualistas.jusbrasil.com.br/artigos/412259718/vinculacao-do-arbitro-aos-precedentes-jud
Acesso em: 07.02.2017.
3 V.: KOLBACH, Marcela. Vinculação do árbitro aos precedentes judiciais após a vigência
do CPC-2015. Nova hipótese de anulação da sentença arbitral? Texto inédito, cedido
gentilmente pela autora.
6 Carlos Alberto Carmona afirma que “quando autorizado a julgar por equidade, o
julgador pode com largueza eleger as situações em que a norma não merece mais
aplicação, ou porque a situação não foi prevista pelo legislador, ou porque a norma
envelheceu e não acompanhou a realidade, ou porque a aplicação da norma causará
injusto desequilíbrio entre as partes” (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo:
um comentário à Lei 9.307/96. São Paulo: Atlas, 2009. p. 65). Nossa análise acerca da
vinculação da decisão arbitral aos precedentes judiciais será realizada apenas para a
arbitragem “de direito”.
7 Não havendo escolha pelas partes acerca do regime legal aplicável, incidirá o direito do
país onde se instaurar o juízo arbitral: CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Aspectos
processuais da nova lei de arbitragem. Revista Forense, v. 339. p. 129.
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
8 Hermes Zaneti Jr. afirma que “o direito brasileiro adotou, com a edição do novo Código
de Processo Civil, um modelo normativo de precedentes formalmente vinculantes que
passarão a constituir fonte primária do nosso ordenamento jurídico” (ZANETI JR.,
Hermes. Comentários aos arts. 926 a 928. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER,
Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
p. 1305). V., para maior aprofundamento: ZANETI JR. Hermes. O valor vinculante dos
precedentes. Salvador: JusPodivm, 2015.
9 Nesse sentido: “A aplicação do direito brasileiro não se esgota no texto legal e deve o
árbitro, sob pena de promover interpretação peculiar – ou seja, contrária à isonomia e à
segurança jurídica –, observar os precedentes existentes sobre a questão submetida à
sua apreciação” (ROQUE, André Vasconcelos; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. A
sentença arbitral deve seguir o precedente judicial no novo CPC? Disponível em:
[http://jota.info/sentenca-arbitral-deve-seguir-o-precedente-judicial-novo-cpc]. Acesso
em: 14.11.2016).
10 V., tratando do common law: “Se a lei aplicável ao mérito da disputa tiver como fonte
normativa principal o precedente, não há dúvidas de que o árbitro deve (mas não está
obrigado a) aplicá-lo, fundamentalmente porque é ele a fonte de direito primária, a base
do direito de tradição anglo-saxã que se faz necessário aplicar [...]. Trata-se, aí, porém,
de pura aplicação do direito material” (MARQUES, Ricardo Dalmaso. Inexistência de
vinculação do árbitro às decisões e súmulas judiciais vinculantes do STF. Revista
Brasileira de Arbitragem, v. 1, n. 1, jul.-out. 2003. p. 121).
17 Não será objeto de aprofundamento a natureza dos vícios que possibilitam o controle
judicial. Há divergência doutrinária sobre hipóteses de inexistência, nulidade e
anulabilidade, e mesmo sobre a imprestabilidade de tais categorias. Sobre o ponto, v.:
WLADECK, Felipe Scripes. Impugnação da sentença arbitral. Salvador: JusPodivm, 2014.
p. 138-144. Nesse trabalho, nos referiremos genericamente à nulidade, termo
empregado pelo art. 32 da Lei de Arbitragem.
18 Art. 32. É nula a sentença arbitral se: I – for nula a convenção de arbitragem; II –
emanou de quem não podia ser árbitro; III – não contiver os requisitos do art. 26 desta
Lei; IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; VI – comprovado
que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; VII – proferida fora
do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e VIII – forem
desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei [do contraditório, da
igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento].
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
27 Art. 489. [...] § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
29 É o que defende Cruz e Tucci: “[...] A regra do artigo 489, parágrafo 1º, inciso VI, do
Código de Processo Civil, a qual, à evidência, também se aplica à arbitragem, é
vocacionada à proteção da confiança, quando impede que o juiz (ou árbitro), ao proferir
a sentença, despreze súmula ou precedente, colacionado como reforço argumentativo
por uma das partes, não tomando o cuidado de explicar que o julgado paradigma não se
aplica ao caso concreto, ou mesmo, que já se encontra superado pela obsolescência”
(CRUZ E TUCCI, José Rogério. O árbitro e a observância do precedente judicial.
Disponível em:
[www.conjur.com.br/2016-nov-01/paradoxo-corte-arbitro-observancia-precedente-judicial].
Acesso em: 14.11.2016).
33 Para Flávio Yarshell, o controle judicial seria apenas subsidiário: a parte poderia
buscar a anulação por omissão em juízo apenas se instado o juízo arbitral previamente:
“Afora ressalva que eventualmente se possa fazer nos casos em que as partes
autorizarem o julgamento por equidade, parece lícito dizer que ao árbitro se aplicam
inclusive as disposições constantes dos incs. V e VI do § 1º do art. 489 acima lembrado.
Isso tem potenciais desdobramentos relevantes: se a sentença arbitral se limitar a
invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes e a relação deles com o caso sob julgamento; ou se a sentença deixar de
aplicar ‘súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou superação do entendimento’, a lei
considera que o dever de motivar não foi adequadamente cumprido. Logo, nesses casos,
está-se diante de típico error in procedendo, passível de controle pela jurisdição estatal.
Mas, justamente na esteira do quanto aqui sustentado, deve haver uma contrapartida:
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
37 V.: LUCCA, Rodrigo Ramina de. Iura novit curia nas arbitragens. Revista Brasileira de
Arbitragem, v. 50, p. 54–78. Destacando as distinções entre o iura novit curia e o iura
novit arbiter, o autor aponta que a legitimidade da atuação judicial – enquanto poder
estatal não eleito democraticamente – decorre também da “juridicidade substancial” das
decisões, de modo que a fundamentação exerce um objetivo essencial, que é a
demonstração de que a decisão se funda no direito do determinado Estado. Segundo o
autor, a legitimidade da decisão arbitral se extrai, sobretudo, da autonomia das partes,
que escolhem submeter tal conflito, de modo que “os árbitros não têm a necessidade de
realizar o direito objetivo estatal para legitimar o exercício do ser poder”. Contudo, se as
partes escolhem a aplicação de uma determinada ordem jurídica, o árbitro estará a ela
vinculado. O iura novit arbiter depende essencialmente das partes e do que constar da
convenção. V. tb: FICHTNER, Jose Antonio. A atualidade do princípio iura novit curia no
CPC e na Arbitragem. Revista de Arbitragem e Mediação, v. 53, p. 249-262, abr.-jun.
2017.
38 Não há muitas dificuldades no que tange aos precedentes firmados pelo STJ e STF,
em controle de constitucionalidade, recursos repetitivos, repercussão geral, enunciados
de súmulas; e, eventualmente, IRDR e IAC. Ocorre que, como bem apontado por Suzana
Cremasco, em leitura deste trabalho (a quem devo sinceros agradecimentos), a situação
é bem mais complexa quando se trata de precedentes firmados por tribunais estaduais e
regionais (como, por exemplo, em IRDR), em razão da abrangência da vinculação. Como
bem destacou Suzana, como determinar qual precedente seria aplicável? Em razão do
local da sede do Tribunal Arbitral, ou eventualmente do local de execução do julgado?
Trata-se de questão que ainda precisa ser amadurecida.
41 Art. 32. É nula a sentença arbitral se: [...] IV – for proferida fora dos limites da
convenção de arbitragem; [...].
42 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; BARIONI, Rodrigo; MEDEIROS NETO, Elias
Marques de. A causa de pedir das ações anulatórias de sentença arbitral. Revista de
Arbitragem e Mediação, v. 46/2015. p. 265-276.
43 “A inobservância do iura novit arbiter, quando este for cabível, tem como
consequência um julgamento injusto (antijurídico), proferido equivocadamente do ponto
de vista jurídico-material [...]. para que seja apurado o equívoco substancial da
sentença, seria necessário realizar um novo juízo de mérito da causa” (LUCCA, Rodrigo
Ramina de. Iura novit curia nas arbitragens. Revista Brasileira de Arbitragem, v. 50. p.
54-78). O autor explicita que a decisão seria inválida, contudo, se aplicado o iura novit
arbiter, quando não previsto, porque isso seria facilmente constatado da decisão, em
confronto com a convenção de arbitragem: “se a falta de aplicação do iura novit arbiter
configura error in iudicando, pois proferida sentença juridicamente injusta, a aplicação
indevida do iura novit arbiter é error in procedendo, pois violados os limites
estabelecidos pelas partes ao árbitro na convenção de arbitragem”. Excepciona, ainda, a
hipótese em que conste expressamente da própria decisão arbitral que, em vez de levar
em consideração as normas de determinado ordenamento, julgou-se apenas a partir das
regras invocadas pelas partes, quando houver sido convencionado o contrário. Nesse
caso, segundo o autor, a hipótese é de invalidade por desrespeito à convenção, porque
simples leitura da decisão permitiria concluir que não se observou o convencionado.
Parece-nos, contudo, que tal distinção é artificial, de difícil aferição.
45 Art. 2ºA arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes. § 1º
Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na
arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
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Precedentes judiciais e arbitragem: reflexões sobre a
vinculação do árbitro e o cabimento de ação anulatória
46 V., sobre o tema: HUCK, Hermes Marcelo; AMADEO, Rodolfo da Costa Manso Real.
Árbitro: juiz de fato e de direito. Revista de Arbitragem e Mediação, 40/181, jan. 2014.
47 Afinal, essa é a consequência da escolha do direito que viole a ordem pública: “Sendo
considerada inadmissível a escolha das partes relativamente às regras de direito a serem
aplicadas pelo árbitro, por violação à ordem pública, considerará este ineficaz a escolha,
procedendo ao julgamento com a aplicação das normas que entender adequadas [...].
Por fim, se a sentença arbitral for proferida com violação à ordem pública, será caso de
anulá-la nos termos e na forma da Lei de Arbitragem” (CARMONA, Carlos Alberto.
Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. São Paulo: Atlas, 2009. p.
70-71).
48 O tema escaparia do objeto deste breve estudo. Destacamos apenas que “sobre o
verdadeiro conceito da ordem pública, ainda não se chegou a um acordo em doutrina.
Nem se chegará, dada a diversidade de orientações dos muitos escritores que do
assunto se têm ocupado. Sobre o que não pode haver dúvida é que o conceito da ordem
pública está vinculado ao interesse geral da sociedade, em oposição ao interesse
individual. Por isso mesmo, parece que no conceito da ordem pública deve ser abrangido
tudo aquilo que, pelo seu fundamento, repousa em concepções consideradas pelo
legislador como essenciais à manutenção da sociedade, à sua boa ordem, à sua defesa,
à sua moral” (SANTOS, João Manoel Carvalho de. Código Civil interpretado. 10. ed. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos, 1963. v. I. p. 200). V.: CABRAL, Trícia Navarro Xavier.
Ordem pública processual. Brasília: Gazeta Jurídica, 2015.
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