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1. INTRODUÇÃO
1
aponta que os atributos da coertio e executio, próprios da jurisdição, foram excluídos
da arbitragem)2. Essa também é a posição do Superior Tribunal de Justiça sobre o
tema3.
Assim, como ocorre na maior parte dos países, não há em nossa legislação
qualquer previsão que outorgue aos Tribunais Arbitrais poderes de execução ou
expropriação, não havendo sequer disciplina de fase ou processo de execução na
arbitragem, sendo seguro afirmar que a jurisdição que os árbitros receberam não
alcança a coercitividade que continua a ser prerrogativa exclusiva do Poder Judiciário.
2
_ Cahali, Francisco José. Curso de arbitragem. pp. 373-374. Edição do Kindle
3
_ RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA. INADIMPLEMENTO DE TÍTULOS DE
CRÉDITO. CONTRATO COM CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. INSTAURAÇÃO PRÉVIA DO JUÍZO ARBITRAL.
DESNECESSIDADE. DEPÓSITO ELISIVO. EXTINÇÃO DO FEITO. DESCABIMENTO. 1. Não se verifica a alegada
violação ao art. 1.022 do CPC/2015, na medida em que a eg. Corte de origem dirimiu,
fundamentadamente, a questão que lhe foi submetida, não sendo possível confundir julgamento
desfavorável com negativa de prestação jurisdicional ou ausência de fundamentação. 2. A pactuação de
convenção de arbitragem possui força vinculante, mas não afasta, em definitivo, a jurisdição estatal,
pois é perfeitamente admissível a convivência harmônica das duas jurisdições, desde que respeitadas as
competências correspondentes. 3. A existência de cláusula compromissória não afeta a executividade do
título de crédito inadimplido e não impede a deflagração do procedimento falimentar, fundamentado no
art. 94, I, da Lei 11.101/2005. Logo, é de se reconhecer o direito do credor que só pode ser exercitado
mediante provocação estatal, já que o árbitro não possui poderes de natureza executiva. 4. O depósito
elisivo da falência, nos moldes do art. 98, parágrafo único, da Lei 11.101/2005, não é fato que autoriza o
fim do processo de falência, uma vez que, a partir de então, o processo se converte em ação de cobrança
e segue pela via executiva comum, o que seria inviável no juízo arbitral. 5. O processo deve, portanto,
prosseguir perante a jurisdição estatal, porque, aparelhado o pedido de falência em impontualidade
injustificada de títulos que superam o piso previsto na lei (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), por absoluta
presunção legal, fica afastada a alegação de atalhamento do processo de execução/cobrança pela via
falimentar. 6. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1733685/SP, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 06/11/2018, DJe 12/11/2018).
4
_ Cahali, Francisco José. Ob. Cit., p. 363, Edição do Kindle.
2
2. A EFICÁCIA DA SENTENÇA ARBITRAL E SUA NATUREZA DE TÍTULO EXECUTIVO
A doutrina, porém, rechaça essa restrição. Scavone Jr. aponta que deve
prevalecer o disposto no art. 515 do CPC, que qualifica como título executivo toda
sentença arbitral, independentemente da natureza do provimento que estabelece,
recebendo, portanto, essa qualidade toda a sentença arbitral que estabeleça obrigação
líquida 6.
5
_ SCAVONE JR., Luiz Antonio. Arbitragem: mediação, conciliação e negociação. Rio de Janeiro: Forense,
2019. P. 198.
6
_ Ob. Cit. P. 199.
3
vencido de uma obrigação, em sentido abrangente, contemplando, pois, as obrigações
de pagar, dar, fazer e não fazer. Ou seja, a referência da Lei à sentença arbitral
condenatória, destina-se a identificar o conteúdo da tutela cujo cumprimento forçado,
se necessário, se fará perante o Poder Judiciário”7.
Mesmo que seja a sentença arbitral um título executivo em si mesma, não pode
referido título deixar de possuir as condições mínimas para sua exigência em juízo, pois
a execução judicial, independentemente do título que a instrua, só é cabível se a
obrigação nela consolidada for líquida, certa e exigível, conforme estabelece o art. 786
do Código de Processo Civil (aplicável ao procedimento de cumprimento de sentença
em razão do disposto no artigo 771 do CPC.).
Nesse aspecto, será ilíquida a sentença que impor obrigação cuja mensuração
não dependa de simples cálculos aritméticos (cf. art. 509, §2°, do CPC), mas sim de
conta mais complexa, como de natureza atuarial (art. 509, caput, I, do CPC), ou da
alegação ou prova de fato novo (art. 509, caput, II, do CPC).
7
_ Ob. Cit, p. 374.
4
Embora haja em nossa Doutrina quem defenda que cabe ao Tribunal Arbitral
proferir sentença líquida, dada a previsão contida no art. 491 do CPC 8, não se descarta
a possibilidade de ser proferida sentença ilíquida pelo árbitro, que pode preferir
primeiro decidir o mérito da questão posta à sua apreciação, para depois, por meio de
nova decisão quantificar o quantum devido pelo vencido, caso essa quantificação
demande injustificado atraso na resolução do mérito da causa.
Há doutrinadores que defendem, como visto, que seria inviável, mesmo por
convenção, atribuir ao Poder Judiciário a competência para liquidação da sentença
arbitral, dado o conteúdo meritório dos pronunciamentos de liquidação11.
8
_ Referido dispositivo foi incluído na Lei da Arbitragem pela Lei nº 13.129/2015 com o propósito de
resolver polêmica que até então existia na doutrina a respeito da possibilidade de prolação de sentença
arbitral parcial . Scavone Jr. (Ob. Cit. P. 201) aponta que essa era a posição Carlos Alberto Carmona até a
3ª ed. de seu livro, que defendia que, se ilíquida, seria nula a sentença arbitral, já que não poderia haver
decisão parcial de mérito na arbitragem.
9
_ Ibidem.
10
_ Ob. Cit. P. 364
11
_ Scavone. Ob. Cit. Pg. 205.
5
arbitral, nos termos do art. 509, I, do CPC. II - Liquidação - Produção de
provas. Alteração de procedimento. Se no decorrer da fase de liquidação de
sentença o condutor do feito entender necessária a alteração do
procedimento para o comum poderá fazê-lo, desde que justificadamente.
Agravo de Instrumento conhecido e desprovido. (TJ-GO - AI:
01246033920208090000, Relator: Des(a). CARLOS ALBERTO FRANÇA, Data de
Julgamento: 27/04/2020, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de
27/04/2020)”
Caso esse prazo tenha sido fixado, o título executivo carecerá da exigibilidade
até que seja alcançado seu termo final, pois o devedor tem até o último dia do prazo
que lhe foi concedido para cumprir voluntariamente a obrigação.
Antes disso, não estará em mora, sequer haverá resistência que torne
necessária a intervenção judicial em sua esfera patrimonial, e, portanto, nada pode lhe
ser exigido judicialmente, motivo pelo qual, durante o prazo de cumprimento
concedido pelo árbitro, falta ao credor interesse para a propositura da execução
cabível (esse interesse só nasce com o transcurso do prazo), de modo que, se intentá-
la durante tal prazo, deverá o procedimento ser extinto de plano, ex oficio ou por
provocação do interessado, conforme defende Cahali12.
4. DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
12
_. Ob. Cit. P. 385.
6
extrajudicial, de modo que sua execução se dará pelo procedimento estabelecido nos
arts. 513 e seguintes do Código de Processo Civil.
Porém, por não ter sido proferida no bojo do processo em que haverá a
execução, há algumas particularidades que diferirão a execução da sentença arbitral
da sentença judicial.
No caso da sentença arbitral, como não há processo judicial prévio, o art. 515,
§1°, do CPC, determina a instauração de um novo processo, perante o juízo cível
competente para julgar a causa (art. 515, III), que será o do domicílio do devedor (art.
do CPC), ou, a critério do credor, o juízo onde estão os bens sujeitos à execução ou
onde deverá ser cumprida a obrigação de fazer ou não fazer (art. 516, parágrafo único,
do CPC).
7
Nesse ponto, a doutrina esclarece que, embora não haja necessidade de
juntada do procedimento arbitral completo, para que não haja risco de indeferimento
da petição inicial, cabe ao exequente instruir a exordial com no mínimo a sentença
arbitral, a convenção arbitral e documentos de nomeação e aceitação dos árbitros 13. É
recomendável que a juntada desses documentos se dê na via original, porém, caso seja
juntada cópia, cabe ao interessado arguir a invalidade do documento, não podendo o
juiz fazê-lo de ofício (exceto se houver algum vício evidente, que impeça o próprio
exame do documento).
8
obrigado a fixar prazo para cumprimento da obrigação que estabelece e ter
competência para fixar multa em caso de descumprimento, poderia aduzir a conclusão
de que pode surgir conflitos entre os prazos e multas previstos na sentença arbitral e
no Código de Processo Civil.
Nossa doutrina, contudo, explica que esse conflito inexiste, uma vez que os
prazos e multa estabelecidos pelo árbitro são de natureza de direito material, pois
servem a constrangem o pagamento voluntário e extrajudicial da obrigação imposta
pela sentença arbitral14.
14
_ Scavone, Ob. Cit. p. 203.
15
_ Cahali, Francisco José. Curso de arbitragem (pp. 387-388). Edição do Kindle
16
_ Cahali, Francisco José. Ob. Cit. pp. 388-389.
17
9
Expirado o prazo para pagamento, passará a correr o prazo para o executado
apresentar eventual impugnação ao cumprimento de sentença. Como não é dado em
fase de cumprimento discutir a justiça ou mérito do título executivo, referida
impugnação constitui peça de fundamental vinculada, que, com efeito, somente pode
veicular as matérias taxativamente previstas do art. 525 do Código de Processo Civil.
II - ilegitimidade de parte;
10
prazo, que é decadencial, para que o interessado proponha a ação a que se refere tal
dispositivo, o que pode ensejar dúvidas a respeito da possibilidade de, após findo tal
prazo, requerer-se por meio de impugnação a invalidade da sentença arbitral.
18
_ Scavone Jr. e Carmona, apud, in Ob. Cit. pgs. 245/246.
11
contado do recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou final,
ou da decisão do pedido de esclarecimentos. 5- A escolha entre a ação de
nulidade e a impugnação ao cumprimento de sentença em nada interfere na
cristalização ou não da decadência, de modo que, escoado o prazo de 90
(noventa) dias para o ajuizamento da ação de nulidade, não poderá a parte
suscitar as hipóteses de nulidade previstas no art. 32 da Lei de Arbitragem pela
via da impugnação, pois o poder formativo já haverá sido fulminado pela
decadência, instituto que pertence ao Direito Material. 6- Na hipótese, o
executado tomou ciência da respectiva sentença arbitral em 7/2/2015 e a
impugnação ao cumprimento de sentença foi proposta apenas em 4/5/2017,
após, portanto, o transcurso do prazo decadencial de 90 (noventa) dias fixado
para o ajuizamento da ação de nulidade de sentença arbitral, encontrando-se
fulminado pela decadência o direito de pleitear a nulidade. 7- Recurso especial
provido.” (REsp n. 1.928.951/TO, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 15/2/2022, DJe de 18/2/2022.)
19
_ Ob. Cit. Pg. 241.
12
Central Cível - 31ª Vara Cível; Data do Julgamento: 20/06/2013; Data de
Registro: 30/08/2013)
A princípio, não poderia a parte, uma vez apresentada tal arguição, propor ação
declaratória de nulidade da sentença arbitral, eis que, abstraída a discussão sobre se a
impugnação, não possuindo a natureza jurídica de ação, pode caracterizar
litispendência, o fato é que não há interesse de agir para legitimar a propositura da
demanda (art. 17 do CPC), eis que a ação não seria nem útil, tampouco necessária, já
que o devedor já discute a validade da sentença arbitral em expediente próprio e
adequado a resguardar seu direito (de retirar efeitos de tal sentença), o qual inclusive
pode receber efeito suspensivo para impedir a prática de atos de execução, conforme
art. 525, §6°, do CPC.
20
_ Cahali, Francisco José. Ob. Cit. P. 395.
21
_ Scavone Jr. Ob. Cit. . Pg. 240
13
Não há grandes considerações a respeito das sentenças arbitrais que impõem
obrigação de fazer e não fazer, submetidas à sistemática dos artigos 536 e 537 do
Código de Processo Civil, ou de entregar coisa, tratada pelo artigo 538 do mesmo
diploma, pois a essas espécies de condenação também se aplicam, ressalvada as
peculiaridades previstas em referidos dispositivos, a necessidade de distribuição de
petição inicial para instauração do processo executivo, bem como, no que se refere ao
executado, a necessidade de sua citação para cumprir a obrigação, podendo, se não
concordar com o pedido do exequente, defender-se por meio de impugnação ao
cumprimento de sentença.
Cahali defende que essa multa, a princípio, deverá ser fixada pelo próprio
árbitro, uma vez que o artigo 537, §1°, do Código de Processo Civil claramente a
aplicação de multas relacionadas à fase de conhecimento do processo, e, em sendo
essa fase resolvida pelo juízo arbitral, cabe também ao árbitro fixar multa pelo
descumprimento da obrigação que ele mesmo estabeleceu em sentença22.
E, no segundo caso, cabe relembrar que o permissivo para que o juiz modifique
ou exclua a multa tem por finalidade permitir que tal sanção seja adequada à realidade
dos fatos que sucederam seu estabelecimento, isto é, caso as circunstâncias do caso
concreto a tornem excessiva ou insuficiente ou tornem injustificada a aplicação da
22
_ Ob. Cit. P. 401.
14
multa, conforme se depreende dos incisos do §1° do art. 537 do CPC. Ou seja, não
haverá mera revisão do mérito da decisão arbitral, mas mera adequação das
consequências dessa decisão aos fatos que a sucederam.
Aliás, realmente só o poder judiciário poderia proceder com tal revisão, sem
que isso implique em qualquer tipo de mitigação ou enfraquecimento da jurisdição
arbitral. A uma, porque como visto, o árbitro detém jurisdição apenas para resolver
conflitos, não recebendo a coercibilidade necessária para execução de suas decisões,
de modo que, uma vez proferida sua decisão, cabe ao Estado executá-la e adotar
tomar as medidas necessárias a seu bom cumprimento; e a duas, porque o art. 29 da
Lei de Arbitragem é bastante claro no sentido de que a prolação da sentença encerra a
jurisdição arbitral, de modo que, sequer é possível que se utilize da arbitragem para
revisão das astreintes, motivo pelo qual nos parece claro que é possível que o juiz
togado execute tal revisão, sob pena de concluir-se que ela é imutável, o que seria
prejudicial a ambas as partes.
No que diz respeito à obrigação de entrega da coisa certa, por o artigo 498 do
Código de Processo Civil estabelecer que que cabe ao juiz determinar o prazo de
entrega da coisa, e entendendo a doutrina que esse juiz é aquele que conduz a fase de
conhecimento23, também será o juiz arbitral o responsável pela fixar tal prazo.
23
_ Ob. Cit. pp. 401-402.
15
força coercitiva, mas sim porque, para seu cumprimento, não se faz necessária
nenhuma medida expropriatória.
Nesses casos, a sentença arbitral será bastante para vincular as partes, sem a
necessidade de procedimento jurisdicional adicional, já que, como defende Cahali 24, o
comando declaratório se realiza automaticamente, cabendo às partes comportar-se de
acordo com decisão arbitral. Para exemplificar, se o contrato foi declarado nulo, as
partes não podem mais executá-lo nem exigir qualquer providência com base nele.
A regra geral é que essas sentenças produzam, efeitos imediatos, porém pode
ser necessário que se pratiquem atos adicionais e alheios às partes para sua
concretização plena. Nesses casos, como os atos referidos são meramente
informativos (e não coercitivos) poderá o próprio árbitro praticá-los,
independentemente de qualquer providência judicial.
24
_ Ob. Cit. P. 377.
16
A expedição da carta arbitral pode ser necessária, por exemplo, para solicitar o
cancelamento junto à Serventia Registral do registro de compromisso de compra e
venda eventualmente declarado nulo pela sentença arbitral; ou ainda para promover a
transferência imobiliária determinada por decisão que decidiu pela adjudicação de
imóvel.
Em sua obra, Cahali25 cita decisão proferida pela 1ª Vara de Registros Públicos
de São Paulo, com a seguinte ementa: “Juízo arbitral. Divisão amigável de condomínio
pro indiviso. Extinção. Carta de sentença. Qualificação registrária. Possibilidade. ITBI.
Título. Instrumento público x privado”.
25
_ Ob. Cit. pp. 379-380.
26
_ Ibidem.
17
Arruda Alvim esclarece que “a principal característica dessa categoria de
sentença estava, originariamente, no fato de prescindir ela da instauração de processo
de execução, para que pudesse ela gerar efeitos, tais como sentença de reintegração
de posse e de despejo”27.
27
_ARRUDA, Alvim. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo : Processo de
Conhecimento: Recursos: Precedentes. 19ª Ed. Ver. Atual. e Ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil.
2020. P. 1090.
28
_ Ob. Cit. P. 381.
18
5. DA EXECUÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA
Ainda, ao fazer referência aos tratados internacionais, o art. 34, caput, da Lei de
Arbitragem estabeleceu que esses diplomas devem prevalecer sobre nossa legislação
interna no que diz respeito ao reconhecimento e homologação de sentenças arbitrais
19
estrangeiras. Por isso, Cahalli defende que, no Brasil, prevalece na disciplina do tema a
Convenção de Nova Iorque, que, internalizada pelo Decreto 4.311/2002, é o tratado
internacional mais importante sobre o tema, aplicando-se, subsidiariamente, o que
dispõe o Código de Processo Civil (arts. 960 e 965) e o Regimento Interno do Superior
Tribunal de Justiça29 .
A análise formal da petição inicial caberá ao próprio Presidente do STJ (arts. 216
e ss., do RI/STJ), que, se não a indeferir (providência que deve ser precedida de prazo
para o autor regularizar o vício que pode acarretar o indeferimento), deverá citar o réu
para apresentar sua contestação. Se não houver contestação ao pedido do autor, o
Presidente poderá decidir de plano o pedido de homologação; se houver, o processo
será distribuído livremente à Relatoria de um dos Ministros da Corte Especial do STJ,
que avaliará a procedência dos argumentos de defesa lançados pelo réu.
20
réu somente poderá arguir o desrespeito do pedido de homologação aos artigos 216-
C, 216-D e 216-F do RI/STJ, e as matérias previstas no V da Convenção de Nova Iorque
e aos artigos 38 da Lei de Arbitragem.
A incapacidade deve ser aferida de acordo com a lei que as partes optarem por
se submeter quando da instauração da arbitragem. Caso não haja indicação do direito
aplicável, deverá aplicar-se a LINBD, de modo que a capacidade da pessoa natural será
apurada de acordo com o local de seu domicílio e da pessoa jurídica de acordo com o
local em que constituída, nos termos dos artigos 7° e 11 da referida Norma.
31
_ Ob. Cit. p. 500.
21
Os dispositivos dizem respeito à invalidade da própria convenção arbitral, que
deverá ser aferida de acordo com a legislação a que as partes se submeteram ou, na
falta de indicação, no País onde proferida a sentença arbitral.
32
_ Ob. Cit. P. 263.
22
arbitragem, ou contém decisões
acerca de matérias que transcendem
o alcance da cláusula de submissão,
contanto que, se as decisões sobre as
matérias suscetíveis de arbitragem
daquela submetida à arbitragem;
puderem ser separadas daquelas não
suscetíveis, a parte da sentença que
contém decisões sobre matérias
suscetíveis de arbitragem possa ser
reconhecida e executada;
Trata-se de hipóteses em que a sentença arbitral peca por ser extra ou ultra
petita, afastando-se da convenção arbitral por conceder coisa diferente ou superior do
que aquela autorizada por referida convenção.
Todavia, caso a sentença seja extra petita, sem vinculação com a convenção
arbitral, não será possível qualquer espécie de aproveitamento, sendo o caso de
denegação da homologação.
23
arbitragem ocorreu;
Scavone defende que, para que a causa em exame possa ser alegada no
processo de homologação, ela deverá ter sido previamente aduzida durante o curso da
arbitragem.33
Se, portanto, a sentença é ineficaz no local onde proferida, realmente não faz
sentido permitir que ela produza efeitos no Brasil, pois não há qualquer eficácia a ser
estendida.
33
_ Ob. Cit. P. 264.
34
_ Ob. Cit. P. 504.
24
estrangeira, dada a impossibilidade de discutir o mérito da decisão em procedimento
de homologação.35.
Nery Jr. explica que as hipóteses acima enumeradas são taxativas, não sendo
dado ao intérprete criar ou suprimi-las, violando o texto legal. Além disso, referido
Professor explica que as matérias previstas no art. 38 da LA (e por consequência no art.
IV, 1, da Convenção de Nova Iorque), devem ser arguidas pelo réu, sendo dele o ônus
de comprová-las, não podem o Superior Tribunal de Justiça conhecê-las de ofício, pois
estão na esfera de disponibilidade da parte aceitar a homologação do pedido, ao
arrepio das irregularidades citadas36.
35
_ Nesse sentido: HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. SENTENÇA ARBITRAL. MATÉRIA DE
MÉRITO. IRRELEVÂNCIA. ART. 38 DA LEI N. 9.307/96. 1. As disposições contidas no art. 38 da Lei n.
9.307/96 apresentam um campo mais largo das situações jurídicas que podem ser apresentadas na
contestação, em relação à prevista no art. 221 do RISTF, mas não chega ao ponto de permitir a invasão
da esfera de mérito da sentença homologanda. 2. A existência de ação anulatória da sentença arbitral
estrangeira em trâmite nos tribunais pátrios não constitui impedimento à homologação da sentença
alienígena, não havendo ferimento à soberania nacional, hipótese que exigiria a existência de decisão
pátria relativa às mesmas questões resolvidas pelo Juízo arbitral. A Lei n. 9.307/96, no § 2º do seu
art.33, estabelece que a sentença que julgar procedente o pedido de anulação determinará que o
árbitro ou tribunal profira novo laudo, o que significa ser defeso ao julgador proferir sentença
substitutiva à emanada do Juízo arbitral. Daí a inexistência de decisões conflitantes. 3. Sentença arbitral
estrangeira homologada. (SEC n. 611/US, relator Ministro João Otávio de Noronha, Corte Especial,
julgado em 23/11/2006, DJ de 11/12/2006, p. 291.)
36
_ Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery. Leis Processuais Civis comentadas e anotadas
[livro eletrônico] - São Paulo :C Thomson Reuters Brasil, 2019. 6 Mb ; e-PUB 1. ed. em e-book. Nery JR -
RL-6.9
25
I - segundo a lei brasileira, o objeto do
litígio não é suscetível de ser
resolvido por arbitragem;
26
homologação nos casos em que que a sentença estrangeira (arbitral ou judicial):
“ofender a soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem pública”.
6. CONCLUSÃO
Embora nos seja evidente que a intenção da parte que opta pela arbitragem
seja desviar-se da jurisdição estatal, parece-nos que a opção do legislador foi bastante
acertada, sem implicar em nenhum enfraquecimento da jurisdição arbitral.
27
sujeitas a recurso para a instância superior, quase sempre com a possibilidade de
atribuição de efeito suspensivo.
28
BIBLIOGRAFIA
Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery. Leis Processuais Civis comentadas e
anotadas [livro eletrônico] - São Paulo :C Thomson Reuters Brasil, 2019. 6 Mb ; e-PUB
1. ed. em e-book. Nery JR - RL-6.9
29