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• De acordo com o art. 31 da Lei da Arbitragem, a “A sentença arbitral produz, entre as partes e seus
sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo
condenatória, constitui título executivo”.
• O legislador equiparou a sentença arbitral à sentença judicial, de modo que ambas possuem a mesma
característica vinculante, inclusive constituindo-se com o título executivo judicial (art. 515, VII, do CPC),
com a ressalva de que seu prolator não detém a coercitividade necessária para materializar o comando
jurisdicional que estabelece.
• Não são apenas as sentenças condenatórias arbitrais que são títulos executivos, mas toda sentença
arbitral, devendo-se nesse caso prestigiar a redação do art. 515, VII, do CPC (SCAVONE JR., Luiz Antonio.
Arbitragem: mediação, conciliação e negociação. Rio de Janeiro: Forense, 2019. P. 199). No mesmo
sentido, Cahali defende que a expressão “sentença condenatória” deve ser entendida em sentido
abrangente, referindo-se a toda e qualquer decisão que imponha uma obrigação ao vencido,
independentemente da natureza dessa obrigação (Cahali, Francisco José. Curso de arbitragem. pp. 374.
Edição do Kindle).
3. ETAPAS PRÉVIAS À EXECUÇÃO
• A sentença arbitral, ainda que se constitua como título executivo, somente poderá ser levada à execução
perante o Judiciário se for certa, exigível e líquida, de acordo o previsto nos artigos. 771 e 786 do CPC.
a-) Certeza: é determinação de seu conteúdo. Sem grandes polêmicas, já que é difícil imaginar uma condenação
arbitral incerta.
B-) Exigibilidade: diz respeito à possibilidade de o credor exigir de imediato a satisfação da obrigação pelo
devedor. De acordo com o art. 26, III, da Lei da Arbitragem, o árbitro deve, no dispositivo da sentença,
estabelecer, se o caso, o prazo para cumprimento da obrigação que impõe ao sucumbente.
• Nesse caso, o título arbitral somente será exigível quando decorrido o prazo fixado pelo árbitro, não estando o
devedor em mora até esse momento, de modo que se mostra incabível qualquer intervenção judicial em seu
patrimônio.
• Se a execução for ajuizada antes do decurso do prazo fixado pelo árbitro, deverá ser extinta em razão da falta
de interesse de agir (art. 485, VI, do CPC).
3. ETAPAS PRÉVIAS À EXECUÇÃO
C) Liquidez: diz respeito à certeza do montante devido. Será líquida toda sentença cujo cálculo do
montante devido depender de simples cálculo aritmético (art. 509, §2°, do CPC).
• A liquidação da sentença pode ser feita judicialmente ou pelo Tribunal Arbitral, de acordo com o
que estabelecer a convenção arbitral. Scavone Jr. defende que, em razão da regra do art. 491 do
CPC, somente o árbitro poderia liquidar sua decisão, porém sua posição é minoritária e há
precedente jurisdicional em que o Poder Judiciário liquidou sentença arbitral (TJ-GO - AI:
01246033920208090000, Relator: Des(a). CARLOS ALBERTO FRANÇA, Data de Julgamento:
27/04/2020, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de 27/04/2020).
• Diante da possibilidade de prolação de sentença arbitrais parciais de mérito (art. 23, §1°, da Lei
de Arbitragem, na redação conferida pela Lei n° 13.129/2015), é possível que o árbitro primeiro
emita sentença resolvendo à lide e, posteriormente, profira nova decisão quantificando a quantia
que será devida pelo vencido.
4. DA EXECUÇÃO
• A sentença arbitral, como título judicial (art. 515, VII), submete-se ao procedimento de cumprimento de
sentença estabelecido nos arts. 513 e ss. do CPC, observadas algumas particularidades:
- Distribuição de petição inicial no juízo que seria competente para julgar a causa, que será, a critério do credor,
no domicílio do devedor ou no lugar onde se situam os bens sujeitos à execução ou onde deverá ser cumprida
a obrigação (art. 515, III, e 516, § único, do CPC);
- A petição inicial deverá observar, em conjunto, os requisitos estabelecidos pelo art. 319 do CPC e pelos arts.
523 e ss. do CPC, de acordo com a natureza da obrigação. Ainda, é recomendável que se anexa à petição os
documentos mínimos a comprovar a regularidade da arbitragem (convenção e sentença arbitral, além dos
documentos de nomeação e aceitação dos árbitros;
-Necessidade de citação pessoal do devedor para responder/pagar o processo de cumprimento de sentença,
observado o disposto nos arts. 238 e ss. do CPC, não bastando intimação na pessoa do advogado que
representou o devedor no processo arbitral.
-Com a citação do devedor, o processo passará a se desenvolver de acordo com o procedimento padrão
aplicável ao cumprimento de sentença, observada a natureza da obrigação exequenda.
4.1. DO CUMPRIMENTO DE CONDENAÇÃO DE PAGAR
QUANTIA CERTA
• Tratada pelos artigos 523 a 527 do CPC, será inaugurada por petição inicial
que deve ser instruída com demonstrativo atualizado do débito exequendo.
• Despachada a inicial, o juiz cita o devedor para pagar o débito em 15 dias,
sob pena da expedição de mandado de penhora e das penalidades do art.
523, §1°, do CPC.
• Considerando que o árbitro deve fixar prazo para cumprimento da
obrigação e, se autorizado pelas partes, pode estabelecer multa em caso de
inadimplemento, há conflito entre os prazos previstos na sentença arbitral e
no Código de Processo Civil?
4.1. DO CUMPRIMENTO DE CONDENAÇÃO DE PAGAR
QUANTIA CERTA
• Cahali e Scavone Jr. defendem que não há esse conflito, pois os prazos definidos pelo árbitro estão
posicionados em plano diverso, com o propósito de garantir o cumprimento espontâneo da obrigação, de
modo que, se houver inadimplemento e a dívida for objeto da execução, o credor pode exigir a multa fixada
pelo árbitro e, se não houver pagamento do devedor no prazo de 15 dias, caberá ao juiz aplicar-lhe as
penalidades previstas no art. 523, §1°, do CPC.
• Nesse sentido: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ARBITRAL HOMOLOGATÓRIA.
IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA JULGADA IMPROCEDENTE. INSURGÊNCIA DO EXECUTADO.
1. IMPENHORABILIDADE.AUSÊNCIA DE PENHORA DE BENS. FALTA DE INTERESSE RECURSAL. 2. ERRO
ESSENCIAL DO CONTRATO E ABUSIVIDADE DA SENTENÇA. NÃO ACOLHIMENTO. 3.EXECESSO DE EXECUÇÃO.
NÃO APRECIAÇÃO DA TESE. AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO DO DISPOSTO NO ART. ART. 525, §§ 4º E 5º DO
CPC. 4.CUMULAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 523, § 1º CPC E DA CLÁUSULA PENAL PREVISTA NO
ACORDO. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO.”
(TJ-PR - AI: 16742911 PR 1674291-1 (Acórdão), Relator: Juíza Luciane do Rocio Custódio Ludovico, Data de
Julgamento: 25/10/2017, 11ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 2153 20/11/2017)
• Dada a cumulatividade de multas, cabe ao árbitro ser cauteloso ao estabelecer a multa contratual, para
que essa não se mostre como mecanismo de enriquecimento sem causa, hipótese em que poderá ser
revista pelo juiz.
4.1. DO CUMPRIMENTO DE CONDENAÇÃO DE PAGAR
QUANTIA CERTA
• Decorrido o prazo para pagamento voluntário, passará automaticamente a fluir o prazo para o executado
apresentar sua impugnação, na qual ele poderá alegar: “I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento,
o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI -
incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação,
como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença.” (art. 525,
§1°, do CPC)
• Além dessas matérias, o art. 33, §3°, da Lei de Arbitragem acrescentou novo fundamento que pode ser utilizado
pelo devedor em sua impugnação, ao dispor que “A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser
requerida na impugnação ao cumprimento da sentença, nos termos dos arts. 525 e seguintes do Código de Processo
Civil, se houver execução judicial.”
• A arguição da referida matéria, porém, deverá se dar dentro do prazo decadencial de 90 (noventa) dias
estabelecido pelo art. 33, §1°, da LAr requeira a declaração de nulidade da sentença arbitral, já que, se perecido o
direito a tal requerimento, não pode a parte exercitá-lo por qualquer mecanismo processual. STJ: “- A escolha entre
a ação de nulidade e a impugnação ao cumprimento de sentença em nada interfere na cristalização ou não da
decadência, de modo que, escoado o prazo de 90 (noventa) dias para o ajuizamento da ação de nulidade, não
poderá a parte suscitar as hipóteses de nulidade previstas no art. 32 da Lei de Arbitragem pela via da impugnação,
pois o poder formativo já haverá sido fulminado pela decadência, instituto que pertence ao Direito Material.” (REsp
4.2. DAS DEMAIS CONDENAÇÕES
• Os cumprimentos de sentença relativos às obrigações de fazer (536 e 537 do CPC) e não fazer e de
entregar coisa (538 do CPC) também seguem a mesma ritualística inicial, com a necessidade de distribuição
de petição inicial perante o juízo competente, com citação do executado para cumprir voluntariamente a
obrigação.
• Como para garantia dessas obrigações é possível a imposição de multa diária (art. 536, §1°, 537, §1° e
538, §3°, do CPC)., Cahali defende que tal multa deve ser fixada pelo próprio árbitro, já o CPC é claro em
estabelecer que cabe ao juiz da fase de conhecimento estabelecê-las. E, em sendo o árbitro esse juiz, cabe-
lhe o papel da fixação das astreintes.
• O juiz, porém, poderá fixar de ofício essa multa, caso o árbitro não o tenha feito, assim como modificá-la
ou exclui-la, pois o CPC lhe outorga poderes para praticar e revisitar as medidas executivas que se
mostrarem necessárias à justa satisfação da execução, garantindo que a satisfação do credor sem a
imposição de ônus injusto ao devedor.
• A revisão da multa pelo juiz não enfraquece a jurisdição arbitral, pois, além de tratar-se de medida que já
está no plano da coerção e efetivação prática da decisão do árbitro, uma vez proferida a sentença arbitral,
resta esgotada a jurisdição arbitral (art. 29, II, da LAr), de modo que o árbitro sequer pode proceder com tal
revisão, motivo pelo qual impedir que o juízo estatal a realizasse poderia trazer prejuízos a ambas as partes.
4.3. SENTENÇAS QUE DISPENSAM A EXECUÇÃO JUDICIAL
• Algumas espécies de sentença dispensam a execução judicial, em vista de sua satisfação prescindir da
instauração de processo executivo.
- Sentenças declaratórias: emitem declaração que basta a vincular as partes, efetivando-se
automaticamente e o obrigando as partes a se comportar de acordo com a sentença proferida (e.g. se o
contrato for declarado nulo, as partes não podem exigir seu cumprimento).
- Sentenças constitutivas: estabelecem/constituem/desconstituem situação jurídica que passará
automaticamente a reger a relação desenvolvida entre as partes.
• Em ambos os casos a sentença arbitral produz efeitos práticos imediatos, modificando a realidade
jurídica das partes, independentemente de qualquer providência jurisdicional adicional.
• Caso seja necessária alguma providência adicional, voltada a dar efetividade e publicidade à sentença
arbitral, principalmente em Cartórios de Registro ou órgãos administrativos, o árbitro poderá emitir Carta
Arbitral, tal qual ocorre com as sentenças judiciais. Enunciado n° 9 da I Jornada Prevenção e Solução
Extrajudicial de Litígios: “A sentença arbitral é hábil para inscrição, arquivamento, anotação, averbação ou
registro em órgãos de registros públicos, independentemente de manifestação do Poder Judiciário”.
4.3. SENTENÇAS QUE DISPENSAM A EXECUÇÃO JUDICIAL
• A lei de Arbitragem usou um critério geográfico para definir que “Considera-se sentença
arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional”. (art. 34, § único).
• A sentença estrangeira “será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os
tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de
acordo com os termos desta Lei”. (art. 34, caput).
• O reconhecimento e execução da sentença estrangeira deve, portanto, observar os tratados
internacionais, sendo necessária sua prévia homologação pelo STJ (art. 35 da LAr), já que, com
força de sentença (e não de título extrajudicial), a decisão arbitral (em sentido amplo, não só a
sentença) para produzir efeitos deve passar pela apreciação da referida Corte (art. 105, I, “i”, da
CF).
• Por conta desse conjunto de regras, o reconhecimento da sentença estrangeira deverá observar
o Decreto n° 4.311/2002, que internalizou a Convenção de Nova Iorque, a Lei da Arbitragem, os
artigos 216 e ss. do RI/STJ e, subsidiariamente, os artigos 960 e ss. do CPC.
5. DAS SENTENÇAS ESTRANGEIRAS
Art. 38 - II - a convenção de arbitragem não era Art. V, 1, “a” - (...)tal acordo não é válido nos
válida segundo a lei à qual as partes a termos da lei à qual as partes o submeteram, ou,
submeteram, ou, na falta de indicação, em na ausência de indicação sobre a matéria, nos
virtude da lei do país onde a sentença arbitral termos da lei do país onde a sentença foi
foi proferida; proferida;
. •ARRUDA, Alvim. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo : Processo de Conhecimento:
Recursos: Precedentes. 19ª Ed. Ver. Atual. e Ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil. 2020. P. 1090.
• Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery. Leis Processuais Civis comentadas e anotadas [livro eletrônico] -
São Paulo :C Thomson Reuters Brasil, 2019. 6 Mb ; e-PUB 1. ed. em e-book. Nery JR - RL-6.9
• SCAVONE JR., Luiz Antonio. Arbitragem: mediação, conciliação e negociação. Rio de Janeiro: Forense, 2019. P. 198