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Competência

1. Legislação de referência:
2. A distribuição de competências submete-se aos princípios da
taxatividade e da indisponibilidade. Pelo primeiro, entende-se
que cada órgão jurisdicional deve exercer exclusivamente as
competências que lhe tenham sido expressamente atribuídas pelo
ordenamento jurídico; pelo segundo, que as competências
delegadas a um órgão jurisdicional não podem ser transferidas a
outro.
3. As regras de distribuição de competência foram concebidas de
modo que não exista vácuo de competência.
4. Regra da Kompetenzkompetenz: todo juízo tem competência
para julgar a sua própria competência.
5. Perpetuatio jurisdictionis: permanece a competência fixada pela
distribuição ou pelo registro (art. 43 do CPC). Exceções:
supressão do órgão judiciário, alteração de competência absoluta,
desmembramento de comarca que altera competência absoluta e,
excepcionalmente, ações envolvendo menores (CC n.
114.782/RS).
6. As regras de distribuição são de natureza absoluta.
7. Translatio judicii: a declaração da incompetência gera a remessa
dos autos ao juízo competente (art. 64, § 3º, do CPC). Exceções:
incompetência dos Juizados Especiais (art. 51, III, da Lei n.
9.099/95); incompetência internacional (arts. 21 e 23 do CPC);
acolhimento de alegação de convenção de arbitragem (art. 485,
VII, CPC).
a. Nos embargos de terceiro ou denunciação da lide, espécies
de demandas incidentes, caso ocorra a incompetência do
juízo (p. ex., em processo correndo em juízo estadual há
embargos opostos por ente federal), tanto os autos
principais como os incidentais deveram ser remetidos ao
juízo competente.
b. Contudo, nos embargos de terceiros, o STJ decidiu em
alguns casos que apenas os autos incidentais serão
remetidos ao juízo federal, permanecendo entrementes
sobrestado o processo principal.
8. Forum shopping: direito potestativo do autor de escolher
qualquer dentre foros concorrentes. Com a finalidade de
harmonizá-lo com os princípios da razoabilidade, da boa-fé
processual e da adequação, criou-se a teoria do forum non
conveniens, a qual preceitua que o juízo pode recusar a
prestação jurisdicional se entender haver outra mais conveniente.
a. O STJ tem afastado a aplicação da teoria (MC n. 15.398/RJ
e REsp n. 1.633.275/SC).
9. As regras de distribuição de competência enfeixam-se por três
critérios: objetivo, funcional e territorial.
a. Critério objetivo:
i. Em razão da pessoa: vara privativa da Fazenda
Pública; competência do STF para processar e julgar
MS impetrado contra ato do Presidente da República
(art. 102, I, “d”, da CF).
ii. Em razão da matéria: vara de família, cível, penal.
iii. Em razão do valor da causa: regra geral, é regra de
competência relativa, contudo há exceções:
1. Art. 3º, § 3, da Lei n. 10.259/01 (Lei dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais
Federais): as causas de até 60 salários-
mínimos devem ser propostas no Juizado
Especial, sob pena de incompetência absoluta;
2. Art. 39 da Lei n. 9.099/95: o valor que exceder
o teto de 40 salários-mínimos é ineficaz.
b. Critério territorial: as regras de competência territorial
ordinariamente são de natureza relativa. Porém, há
exceções: art. 47, §§ 1 e 2, do CPC; art. 2º da Lei n.
7.347/85 (foro do local do dano na ação civil pública); art.
80 da Lei n. 10.741/03: foro do domicílio do idoso.
i. Principais regras de competência territorial:
1. arts. 46 a 53 do CPC;
a. O art. 47 prevê como foro competente o
forum rei sitae para as ações reais
imobiliárias. Didier comenta que não se
inserem nesse conceito: a ação pauliana;
ações edilícias (ação redibitória e ação
quanti minoris); ação ex empto.
b. Súmula n. 58/TFR: A competência
estabelecida no art. 48 do CPC é relativa
e não se sobrepõe à competência sobre as
matérias dispostas no art.
2. art. 101, I, do CDC (foro de domicílio do autor-
consumidor – relativa).
3. A jurisprudência e o entendimento doutrinário
dominantes preceituam que a divisão territorial
da comarca em foros distritais e da seção
judiciária em subseções judiciárias é de
natureza absoluta. Contudo, o STF editou a
Súmula n. 689, permitindo que o segurado
domiciliado em município de interior que
possui sede da JF demande contra o INSS na
capital.
10. Modificação de competência: as hipóteses de modificação
de competência dividem-se entre as de ordem legal e as de
ordem voluntária. As de ordem legal podem ser por conexão ou
continência. As de ordem voluntária por foro de eleição e não
alegação de competência relativa.
a. Só haverá modificação de competência relativa.
b. Ordem voluntária.
i. Não alegação de competência relativa:
1. O Ministério Público pode alegar incompetência
relativa nas causas em que atuar como fiscal
da ordem jurídica ou em que figurar como
parte (art. 65, par. ún., do CPC).
ii. Foro de eleição.
1. Ao foro de eleição devem submeter-se todas as
demandas cuja causa petendi se funde no
negócio jurídico. Contudo, o STJ (EREsp n.
305.950/PR, Segunda Seção) firmou o
entendimento de que “é válida a cláusula de
eleição de foro mesmo para possível discussão
relativa à invalidade do negócio jurídico”.
2. A abusividade da cláusula de foro de eleição
pode ocorrer em qualquer tipo de contrato, não
apenas nos de consumo ou de adesão.
3. “A cláusula de eleição de foro firmada em
contrato de adesão é válida, desde que não
tenha sido reconhecida a hipossuficiência de
uma das partes ou embaraço ao acesso da
justiça” (STJ).
4. Embora seja nulidade relativa, a abusividade
pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, desde
que antes da citação do réu, mas condicionada
à manifestação do autor (art. 10 do CPC).
c. Ordem legal.
i. Conexão e continência – Legislação de referência:
arts. 55 a 59 do CPC.
ii. Conexão é a “relação de semelhança entre demandas,
que é considerada pelo direito positivo como apta
para a produção de determinados efeitos processuais.
iii. Didier observa que a continência é espécie de
conexão, porquanto a identidade da causa de pedir,
elemento da continência, por si só, já configura a
conexão.
iv. A conexão pode ser considerada sob dois aspectos:
para modificação de competência e como
pressuposto de reconvenção.
v. São institutos distintos o fato jurídico conexão –
identidade de pedido ou de causa de pedir – e os
efeitos jurídicos da conexão.
vi. A reunião de processos é apenas um dos efeitos da
conexão, que nem sempre ocorrerá, como, v. g.,
quando um dos processos já houver sido julgado, os
processos tramitarem por procedimentos distintos ou
os juízos tiverem competências materiais distintas.
vii. A conexão prevista no art. 55, § 3º, do CPC ocorrerá
quando a mesma relação jurídica estiver sendo
examinada em ambos os processos, ou se diversas
relações jurídicas, mas entre elas houver vínculo de
prejudicialidade ou de preliminaridade.
viii. A continência não se confunde com litispendência,
visto que no primeiro caso um dos pedidos abrange o
outro.
ix. O órgão jurisdicional pode conhecer de ofício da
modificação legal da competência relativa. Não
pode, entretanto, fazer o mesmo quanto à
incompetência relativa.
x. A competência do juízo prevento (arts. 58 e 59 do
CPC) é funcional e, portanto, de ordem absoluta.
xi. A conexão por afinidade ocorre no incidente de
resolução de demandas repetitivas e no julgamento
de recursos extraordinários ou recursos especiais
repetitivos.
xii. A conexão por acessoriedade (art. 61 do CPC).
11. Recorribilidade da decisão sobre competência: para
Didier, da decisão sobre competência do juízo cabe agravo de
instrumento, com base em interpretação extensiva do art. 1.015,
III, do CPC.
a. Argumenta que a taxatividade do rol de hipóteses de
interposição do agravo de instrumento não veda a
interpretação analógica; que a decisão que rejeita a
alegação de convenção de arbitragem é decisão sobre
competência; que, não cabendo o agravo de instrumento, a
futura discussão sobre o foro de eleição ficaria sem
utilidade; decisão que declina da competência da Justiça
comum para a Justiça do Trabalho, por exemplo, não
poderia ser revisada em segundo grau, visto que o TRT só
se manifesta sobre decisões emanadas dos Juízes do
Trabalho.
12. Conflito de competência:
a. Súmula n. 59/STJ: “Não há conflito de competência se já
existe sentença com trânsito em julgado, proferida por um
dos juízos conflitantes”.
b. Não haverá conflito se entre os juízos houver diferença
hierárquica, hipótese em que prevalecerá o posicionamento
do juízo hierarquicamente superior.
c. Contudo, admite-se o conflito entre tribunal e juízo que não
lhe seja vinculado.
d.

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