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Aula 3 – Ementa: Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.

099/95), Juizados Especiais Federais (Lei


10.259/01) e Juizado Especial de Fazenda Pública (Lei 12.153/09

1. Legislação aplicável – Microssistema:

i) CRFB/88, artigo 98, I e §1°: Procedimento sumariíssimo.


ii) Lei 9.099/95: É a mais antiga do microssistema, exceto pelo texto
constitucional. Trata dos juizados especiais na esfera estadual – JEC, com
competência para julgar as causas cíveis de menor complexidade,
consideradas as de valor que não ultrapasse 40 salários mínimos, as
enumeradas no art. 275, II, CPC/73, as ações de despejo para uso próprio,
as ações possessórias de bens de valor não superior a 40 salários mínimos.
Exceção à capacidade postulatória nas ações até 20 salários mínimos. Ausência de
custas e verba sucumbencial até sentença.
iii) Lei 10.259/01: Possibilitou a implementação dos juizados especiais federais –
JEF, com competência para julgar as causas de competência da Justiça
Federal até o valor de 60 salários mínimos, tendo como rés a União,
autarquias, fundações e empresas públicas federais. Exceção completa à
capacidade postulatória, ou seja, nas ações até 60 salários mínimos. Ausência de
custas e verba sucumbencial até sentença.
iv) Lei 12.153/09: Dispõe sobre os juizados especiais de fazenda pública – JEFP,
com competência para julgar as causas cíveis de interesse dos Estados,
distrito federal, territórios e municípios, até o valor de 60 salários mínimos,
tendo como rés a Fazenda Pública estadual, distrito federal, territórios e
municípios. Exceção completa à capacidade postulatória, ou seja, nas ações até 60
salários mínimos. Ausência de custas e verba sucumbencial até sentença.
v) CPC/2015: Há disposições específicas no CPC/15 quanto a aplicabilidade em
sede de juizados especiais, como o art. 1062, CPC/15. Debate interessante seria
quanto a aplicação subsidiária ou não do CPC/15. Segundo as críticas, o código
processual não estimula a celeridade dos processos, muito pelo contrário, ele
estimula o debate entre as partes no sentido de buscar/fornecer a todos uma
maior qualidade das decisões e atos.

Resumo da tramitação das demandas (celeridade e economia processual):

• (JEC) Petição inicial ---- citação comparecer audiência ---- AC ---- AIJ ---- sentença

• (JEF e JEFP) Petição inicial ---- citação para contestar (na prática, não é comum à Fazenda
transigir, razão pela qual muitos Juizados não designam audiências conciliatórias) ---- AIJ ----
sentença

Direito Processual Civil II: Prof. Octávio Louro


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1. Introdução:

Com a criação dos juizados especiais o que se buscou foi a facilitação do acesso à Justiça,
princípio constitucional fundamental para a pacificação social e de prestação imediata pelo Estado.
Tal abertura do Judiciário deveria ser feita pela criação de um procedimento verdadeiramente célere,
baseado em princípios como a oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, aplicada a causas cíveis de menor complexidade e, mais tarde, com sua expansão, em
causas de interesse do próprio Estado, com competência da Justiça Federal e Estadual.
O acesso à Justiça foi necessário para aquelas demandas que não chegariam normalmente
ao conhecimento do Judiciário, seja por sua pequeno impacto perante o particular, seja pelo
desconhecimento da população, em especial as classes de menor poder econômico.
Também traduzida na ideia de democratização do sistema judiciário, onde a formalidade
deve dar lugar à efetividade. Sua previsão genérica está no art. 98, I e §1°, CRFB/88, tendo a
natureza de processo diferenciado, pois apresenta peculiaridades em seus atos de cognição,
distinguindo-se dos demais pelos princípios e características específicos acima citados (oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual, celeridade e busca incessante da conciliação ou
transação).
Vale registrar que no âmbito dos juizados especiais ocorre a dispensa de custas processuais,
além da não condenação aos honorários sucumbenciais em sede de sentença. Caso as partes tenham
interesse em recorrer deverão arcar com as custas para tal, havendo risco de condenação
sucumbencial, desembolsando ainda os recursos para contratação de advogado regularmente
habilitado nos quadros da OAB.
O procedimento adotado pelo CPC/15 é o “comum” e “especial”. No caso do juizado
especial a Constituição o nomeia como de procedimento “sumariíssimo”. A prática forense
acostumou-se a chamá-lo de “sumaríssimo”, tendo, inclusive, a doutrina por vezes adotada tal
terminologia em detrimento àquela disposta no texto constitucional.
Nos juizados especiais o procedimento é concentrado. Após a distribuição da inicial há o
despacho de citação do réu, com data e hora de audiência de conciliação. Sendo a conciliação
infrutífera as partes saem intimadas para audiência de instrução e julgamento, a qual deverá ser
apresentada a contestação e eventual réplica. Colhida de provas, por fim, prolação de sentença.

2. Princípios e critérios:

O art. 2° da Lei 9099/95 aduz os princípios que norteiam o procedimento sumaríssimo,


admitindo-se, ainda, aqueles implícitos, senão vejamos:
2.1. Microssistema: Princípio que não está positivado de maneira expressa, mas é admitido
implicitamente e mencionado de forma indireta pelas leis acima. Deve-se observar as Lei que
orientem os Juizados e, somente na omissão, aplica-se a lei geral do CPC/15.
2.2. Oralidade: É bem desenvolvida nos Juizados. Muitos dos atos são orais, só sendo
reduzidos a termos os essenciais. Os demais podem ser gravados, nos termos do art. 13, §3° da Lei
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9099/95. A inicial pode ser oral (art. 14, caput), o mandato ao advogado pode ser verbal, salvo
quanto aos poderes especiais (art. 9, §3°), a contestação e pedido contraposto podem ser orais (art.
30). A prova oral não é reduzida a escrito (art. 36), podendo ser gravada e os E.D podem ser
opostos oralmente.
2.3. Informalidade, simplicidade e instrumentalidade: O procedimento no juizado é bem
simplificado. Um exemplo é o disposto no art. 13 da Lei 9099/95 que no seu caput apresenta
exemplo quanto a instrumentalidade, tendo o §2° exemplo de informalidade e o §3° simplicidade.
2.4. Economia processual e celeridade: Uma das funções é a solução rápida dos litígios. É
possível apenas a conversão da audiência de conciliação para instrução. Na instrução o réu apresenta
contestação com ou sem pedido contraposto e o juiz solucionará os incidentes, colherá as provas e
julgará, se possível. A vedação das modalidades de intervenção de terceiros é outro exemplo (art. 10
Lei 9099/95), excetuando-se a desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do art. 1062,
CPC/15 e litisconsórcio. Outro exemplo de celeridade é o não cabimento da ação rescisória nos
juizados especiais cíveis à luz do art. 59 da Lei 9099/95.

3. Competência e procedimento:

3.1. Juizado Especial Cível Estadual (JEC):

Inicialmente, o ajuizamento de demanda sob a égide da Lei 9.099/95 é uma faculdade do


autor, que pode escolher pela propositura da ação pelo procedimento comum das varas cíveis.
Assim sendo, o JEC tem competência para conciliar, processar e julgar as causas cíveis de
menor complexidade, assim consideradas pelo art. 3° da Lei 9.099/95, sendo dois os critérios para a
aludida menor complexidade: i) em razão do valor da causa (até 40 salários mínimos), ou, ii) em
relação a matéria, segundos incisos II (matérias enumeradas no antigo art. 275, II, CPC/731), III

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CPC/73
DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO
Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:
I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo;
II - nas causas, qualquer que seja o valor;
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola.
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio.
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico.
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre.
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os
casos de processo de execução.
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial.
g) que versem sobre revogação de doação.
h) nos demais casos previstos em lei.
Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao estado e à capacidade
das pessoas.
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(ação de despejo para uso próprio), e IV (ações possessórias sobre bens imóveis cujo valor não
ultrapasse o teto de 40 salários mínimos),
As ações de menor complexidade dos incisos II e III do art. 3° da Lei 9.099/95 podem ter
qualquer valor de causa, inclusive acima de 40 salários, pois seu parâmetro indicativo é a matéria e
não o valor da causa.
O art. 1.063 do CPC/15, apesar de não observado na prática forense, determina que até
edição de lei específica os Juizados Especiais Cíveis continuam competentes para as causas previstas
no art. 275, II do revogado CPC/73, independendo do valor da causa, como já exposto.
Vale dizer que o JEC tem competência para processar a execução de seus julgados e títulos
executivos extrajudiciais com valor até 40 salários mínimos (art. 3°, §1°, I e II, Lei 9.099/95), sendo
que sua escolha implica na renúncia sobre eventual valor acima do teto do procedimento (40 salários
mínimos), salvo se as partes transigirem (art. 3°, §3°, Lei 9.099/95)
Por determinação do legislador, determinadas matérias ficam EXCLUÍDAS da
competência do JEC, seja qual for o valor da causa, como: i) ações alimentares, ii) falimentares, iii)
fiscal, iv) interesse da fazenda pública, v) acidentes de trabalho e vi) resíduos e sobre a capacidade
civil das pessoas, ainda que de cunho patrimonial, nos termos do art. 3°, §2°, Lei 9.099/95.
Também por determinação legal não poderão ser partes no JEC: i) incapazes, ii) presos, iii)
pessoas jurídicas de direito público, iv) as empresas públicas da União, v) a massa falida e o vi)
insolvente civil à luz do art. 8º, caput, Lei 9.099/95.
As pessoas físicas capazes obviamente podem ser autores no JEC, bem como as jurídicas
de direito privado ou entes despersonalizados (fundações, sociedades, nascituro, condomínio,
espólio) tendo acesso ao rito sumariíssimo: i) microempresas, empresas de pequeno porte e
microempreendedores individuais, ii) organizações da sociedade civil – ONGs, iii) sociedade de
crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 8º, §1°, I, II, III e IV, Lei 9.099/95..
Quanto a competência territorial, aduzida no Art. 4° da Lei 9.099/95, SEMPRE haverá
dois ou mais foros possíveis para propositura da demanda, sendo: i) ou no domicílio do réu (ou em
qualquer lugar que exerça suas atividades), ii) ou no domicílio do autor (art. 4°, I, II e III, Lei
9099/95), ou em qualquer um deles.

3.2. Juizado Especial Cível Federal (JEF):

Cabe ao JEF conciliar, processar e julgar as causas de competência da Justiça Federal até o
teto de 60 salários mínimos de valor da causa, bem como executar seus julgados, art. 3° da Lei
10.259/2001. Note-se que em relação ao valor da causa, quando a demanda tratar de prestações
vincendas, a soma de 12 (doze) prestações não pode ultrapassar os 60 salários mínimos (art. 3°, §2°,
Lei 10.259/2001).
Ocorre aqui um diferença entre o que dispõe a Lei 9.099/95, uma vez que a lei que regula o
JEF não indica as matérias que podem ser processadas e julgadas pelo rito, mas sim aquelas que
ficam EXCLUIDAS de sua apreciação, conforme se depreende pelo §1°, I, II, III e IV do art. 3° da
Lei 10.259/2001.

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No procedimento do JEF a competência é absoluta, como bem aponta o art. 3°, §3°, Lei
10.259/2001. Na prática, significa que sendo a demanda de competência do JEF o autor deve
obrigatoriamente demandar neste juizado federal, não podendo optar pela demanda no juízo comum
federal.
À luz do art. 6°, I e II, Lei 10.259/01, poderão ser partes no JEF como autores: i) pessoas
físicas, ii) microempresas, empresas de pequeno porte. Como rés: i) União, ii) autarquias, iii)
fundações e empresas públicas federais.

3.3. Juizado Especial de Fazenda Pública (JEFP):

Cabe ao JEFP conciliar, processar e julgar as causas cíveis de interesse da Fazenda


Estadual, Distrito Federal, Territórios e Municípios até o teto de 60 salários mínimos de valor da
causa, art. 2° da Lei 12.153/2009. Note-se que em relação ao valor da causa, quando a demanda
tratar de prestações vincendas, a soma de 12 (doze) prestações não pode ultrapassar os 60 salários
mínimos (art. 2°, §2°, Lei 12.153/2009).
Ocorre aqui um diferença entre o que dispõe a Lei 9.099/95, uma vez que a lei que regula o
JEFP não indica as matérias que podem ser processadas e julgadas pelo rito, mas sim aquelas que
ficam EXCLUIDAS de sua apreciação, conforme se depreende pelo §1°, I, II e III do art. 2° da Lei
12.153/2009.
Da mesma forma que no JEF, a competência do JEFP é absoluta, como bem aponta o art.
2°, §4°, Lei 12.153/2009.
Importante esclarecer que não haverá prazo diferenciado para a prática dos atos
processuais em relação às pessoas de direito público.

4. Dos sujeitos do processo: Do juiz, conciliadores, juízes leigos, advogados,


prepostos e partes:

Como ocorre em todas as demais instâncias, é o magistrado togado que dirige o processo,
possuindo os poderes para determinadas as provas a serem produzidas (art. 5°, Lei 9.099/95), sendo
auxiliado pelos chamados conciliadores e juízes leigos (art. 7°, Lei 9.099/95).
Cabe ao conciliador, supervisionado pelo juiz, conduzir as audiências conciliatórias (art. 16,
Lei 12.153/09). Nos termos do art. 7º, Lei 9.099/95, o conciliador deverá ser, preferencialmente
(não há uma obrigatoriedade), bacharel em direito. A realidade mostra que a maioria dos
conciliadores são estudantes de direito e não bacharéis.
Já o juiz leigo é um advogado aprovado em concurso, que no TJRJ, por exemplo, tem
prazo de validade de 02 (dois) anos, podendo ser prorrogado por igual período. Suas funções se
resumem a realizar as audiências de conciliação e instrução, bem como os projetos de sentença que
serão homologados pelo juiz togado.
No JEC, o juiz leigo será preferencialmente um advogado com, no mínimo, 5 anos de
experiência, art. 7°, Lei 9.099/95. Já no JEFP, segundo o art. 15, § 1º, Lei 12.153/2009, a experiência
mínima é de apenas 2 anos. Por fim, no JEF, por falta de previsão, não há a figura do juiz leigo.
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O advogado não é um sujeito processual, mas um representante das partes, podendo o
mandato ser outorgado verbalmente, inclusive em audiências, salvo em relação aos poderes especiais
do art. 103, CPC/15 (art. 9°, §3°, Lei 9.099/95)
No JEC há dispensa do advogado nas ações cujo valor da causa não ultrapasse 20 salários
mínimos, o que significa dizer que apenas nas ações acima de 20 salários mínimos a presença do
advogado é indispensável (art. 9º, Lei 9.099/95). Aqui há a flexibilização do art. 133, CRFB/1988,
que aduz a função essencial do advogado na atividade jurisdicional.
No JEF há dispensa de advogado, independentemente dos valores envolvidos, não sendo
necessário patrono para as demandas ajuizadas (art. 10, Lei 10.259/2001). O advogado é sempre
dispensado em qualquer ação no JEF, embora sua presença seja obrigatória em caso de recurso,
segundo art. 41, §2°, Lei 9099/95. Este mesmo raciocínio se aplica ao JEFP, em que a parte pode
litigar sem assistência de advogado até o limite do teto de 60 salários mínimos.
O preposto representa em audiência aquele réu pessoa jurídica ou titular de firma individual
que litiga. Ele não precisa ter vínculo empregatício com a empresa, como aponta o art. 9°, §4°, Lei
9.099/1995, muito menos ter conhecimento do caso concreto distribuído em juízo, bastando apenas
estar munido de carta de preposição.
O Código de Ética e Disciplina OAB no art. 25, proíbe a condição simultânea de advogado
e preposto. O sujeito não pode funcionar simultaneamente como advogado e preposto. É vedado.
O enunciado 98 do FONAJE2 confirma essa vedação.
Em sede de juizados especiais as partes devem sempre comparecer pessoalmente aos atos
designados, sendo indispensáveis às audiências, senão indica o art. 18, §1° da Lei 9.099/95. Nesse
sentido, o advogado, mesmo tendo poderes especiais para transigir não pode deixar de comparecer
às audiências acompanhado de seu cliente. As partes, obviamente, deverão comparecer munidos de
documento pessoal atualizado e com foto.
O não comparecimento do réu às audiências resulta em sua revelia (art. 20 da Lei
9.099/95), uma vez que não apresentará sua contestação na respectiva audiência. Caso o autor não
compareça às audiências, será a ação extinta sem análise de mérito e ele será condenado ao
pagamento das custas do processo, exceto quando provar que não compareceu por motivo de força
maior, como determina o art. 51, I, Lei 9.099/95.
Não se admitirá intervenção de terceiros em Juizados Especiais (art. 10, Lei 9.099/95),
admitindo-se o litisconsórcio (ativo e passivo) e incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, segundo o art. 1.062, CPC/15.
Incomum, porém possível, é a participação do Ministério Público nas demandas dos
Juizados Especiais, que intervirá nos casos previstos em lei como fiscal da ordem jurídica (art. 11,
Lei 9.099/95).

5. A provocação do Interessado. Petição Inicial:

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Enunciado 98 - Substitui o Enunciado 17 - É vedada a acumulação SIMULTÂNEA das
condições de preposto e advogado na mesma pessoa (art. 35, I e 36, II da Lei 8.906/1994
combinado com o art. 25 do Código de Ética e Disciplina da OAB)
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É comum a expressão de que não existe petição inicial nos juizados especiais, com base na
inteligência do art. 14 da Lei 9.099/95, em que a provocação inicial instaurar-se-á com a
apresentação do respectivo(s) pedido(s).
Não é bem assim, trata-se, na verdade, de uma simplificação dos requisitos do art. 319 do
CPC/15, em que a petição inicial deve ser apresentada de forma simples e em linguagem acessível,
admitindo-se até mesmo a formulação de pedido genérico (art. 14, §2°, Lei 9.099/95).
Aliás, bem que se diga, a citada disposição está no âmbito do que seria exceção à regra,
prevendo o CPC/15 a formulação de pedido genérico em hipóteses específicas do art. 324, §1°,
CPC/15, valendo a regra do caput do referido art. 324 cumulado com o disposto pelo art. 330, §1°,
II, que veda o pedido genérico sob pena de indeferimento da peça inicial.
A ideia é que em sede de Juizados Especiais cabe ao demandante seguir os requisitos do
§1°, I, II e II do art. 14, Lei 9.099/95, ou seja, indicar os fatos e fundamentos de maneira sucinta, a
qualificação das partes, o objeto e seu valor, além dos requisitos gerais do art. 319 e 320, CPC/15.
No que toca o “objeto e seu valor”, estes correspondem aos pedidos, como por exemplo:
“intenciono que fulano corte a árvore em sua propriedade que suja meu terreno”, ou “que ele pague
o prejuízo que tive”, resumidamente, há que se requerer algum tipo de providência, é muito simples!
O correspondente registro (quando se tratar de juízo único) ou distribuição das demandas
nos juizados especiais seguem as diretrizes dos arts. 284 a 290, CPC/15.

6. A citação e intimação do réu no microssistema:

A citação no juizado especial será feita, em regra, por correio (art. 18, I, Lei 9099/95). A
citação por oficial de justiça é excepcional. Apenas excepcionalmente, haverá um oficial de justiça
participando da citação. É vedada a citação por edital à luz do art. 18, §2°, Lei 9099/95.
Os juizados especiais aplicam o princípio da aparência no tocante à citação da pessoa
jurídica. E o art. 18, II, da Lei 9.099/95, diz que a citação da pessoa jurídica ocorrerá na pessoa do
encarregado da recepção, não deixando dúvida alguma sobre a teoria da aparência.
No que toca a citação da pessoa física, o art. 18, I, da Lei 9.099 prevê que, sendo a pessoa
física ré, a citação se fará em mão própria. Fala-se em citação postal com aviso de recebimento em
mão própria. Na verdade, consagra-se aqui entendimento pacífico de que a pessoa física só é citada
pessoalmente. Só pode ser citada por A.R. quando ela assinar o documento.
A regra do pedido citatório é para que a parte ré compareça à audiência de conciliação
(AC), que pode ser convolada em audiência de instrução (AIJ), devendo o réu comparecer ao ato
munido de sua defesa, ou apresentá-la eletronicamente em momento anterior ao ato.
No juizado especial, a regra é que a intimação ocorra sempre nas audiências porque os atos
são concentrados nas audiências. As intimações, em regra, devem acontecer na audiência.
Na audiência de conciliação, as partes e patronos saem intimados da data de audiência de
instrução. Na audiência de instrução, as partes e patronos saem intimados da sentença ou data de sua
leitura.

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7. Do cabimento das tutelas provisórias nos Juizados Especiais:

No contexto dos Juizados Especiais, pelo critério da especialidade, os provimentos de


urgência estão previstos nos arts. 4°, Lei 10.259/2001 e 3°, Lei 12.153/2009, que, diga-se de
passagem, também estabelecem meio próprio para a modificação de tais decisões, através de recurso
inominado3.
Dessa forma, em que pese o silêncio da Lei 9.099/95 a respeito do tema, segundo o
princípio do microssistema, nos Juizados Especiais os provimentos antecipatórios são sim possíveis,
contudo, fundamentados pelas disposições acima e não por aquelas trazidas pelo CPC/15, utilizadas
apenas de forma subsidiária.
Isso porque nos Juizados Especiais não seria possível o instituto da estabilização das tutelas
provisórias, muito menos o cabimento da chamada ação revocatória do art. 304, §2° do CPC/15,
prevista para rever as decisões estabilizadas.

8. Da Audiência de conciliação e da audiência de instrução e resposta do réu.

Tanto o juiz leigo, quanto o togado podem conduzir uma audiência de conciliação. Mas o
fato é que ela quase sempre é conduzida por um conciliador.
Como bem assevera Rodolfo Hartmann4, “esta audiência de conciliação não é obrigatória,
ao contrário daquela prevista no art. 334, CPC/15”. A justificativa é que no expediente do JEF e
JEFP nem sempre o direito observado permite transação. Ressalta o referido autor, ainda, que é
possível que a A.C seja convertida (convolada) em A.I.J.
A A.I.J no JEC está tratada nos arts. 27 e seguintes da Lei 9099/95. Sua realização deve ser
imediata à A.C, ou fixada no prazo máximo de 15 dias após a A.C frustrada (art. 27, § único, da Lei
9.099). Esse é um prazo impróprio. Invariavelmente é fixado um prazo muito maior do que 15 dias.
É um prazo que, se não for respeitado, não gera consequência processual alguma. É na A.I.J que se
colhem as provas testemunhais (art. 34, Lei 9.099/95) e depoimento pessoal das partes.
Deve o réu se dirigir à AIJ munido de sua contestação, apresentando-a caso frustrada nova
proposta de conciliação pelo Juízo. Apresentará, assim, toda sua defesa e/ou pedido contraposto
(art. 31, Lei 9.099/95).

9. Da sentença.

O juiz pode proferir suas sentenças em audiência, oralmente, ou por escrito, estando o
relatório dispensado nas sentenças dos juizados especiais, segundo art. 38, Lei 9.099/95, art. 1° Lei
10.259/2001 e art. 27 Lei 12.153/2009.

3
HARTMANN, Rodolfo Kronemberg, Curso completo do novo processo civil, 4ªed., Impetus,
2017, pg. 126.
4
HARTMANN, Rodolfo Kronemberg, Curso completo do novo processo civil, 4ªed., Impetus,
2017, pg 810
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O art. 38, §° único, da Lei 9.099/95 proíbe expressamente a prolação de sentença ilíquida
no juizado, sem a indicação do quantum debeatur. Em sede de JEF e JEFP não existe remessa
necessária, dependendo de recurso expresso e formal por parte do interessado em atacar as
sentenças.
Outro ponto interessante é que a sentença não condenará o vencido à verba sucumbencial,
como reza o art. 55, Lei 9099/95. É o sistema da sucumbência dupla, em que somente haverá a
condenação ao pagamento caso a parte perca em 1° e 2° grau.

10. Dos recursos nos Juizados e da contagem de prazos:

Na Lei 9.099/95 há apenas a previsão de dois recursos: 1) Embargos de declaração; 2)


Recurso inominado. Considerando o princípio do microssistema, o art. 15 da Lei 10.259/01 dispõe
sobre o Recurso extraordinário – REXTR, ratificado pelo enunciado 63, FONAJE5 e Súmula
640/STF6, valendo esclarecer que os embargos de declaração interrompem o prazo para a
interposição dos demais recursos, como indica o art. 50 da Lei 9.099/95.
No que toca outro meio de impugnação de decisões judiciais, a súmula 376, STJ indica a
possibilidade de impetração de mandado de segurança contra atos de juizado especial, cabendo a
turma recursal seu processamento e julgamento.
Já em relação à contagem de prazos, conforme recente alteração na legislação, a Lei
13.728/2018, estes são contabilizados em dias úteis.
A interposição de qualquer dos recursos nos Juizados exige a constituição de advogado
com capacidade postulatória.
O prazo para a interposição do recurso inominado (art. 41 e 42, Lei 9.099/95) será de 10
(dez) dias, a partir da intimação da sentença, por escrito e com as razões e pedido, sendo o preparo
feito previamente ou nas 48h seguintes à interposição, sob pena de deserção. Tal recurso, via de
regra, comparta apenas o efeito devolutivo, podendo o juiz dar-lhe o efeito suspensivo a fim de
evitar dano irreparável a parte.
Certamente, as partes serão intimadas da data da sessão de julgamento (art. 45). O reexame
da matéria é feito por órgão colegiado designado como Turma Recursal, sendo julgado por 03 (três)
juízes convocados pelos respectivos Tribunais de Justiça, cabendo sustentação oral pelos advogados
no que toca o recurso inominado, lavrando-se o acórdão em seguida.
Por fim, sabe-se que o acesso aos juizados especiais independe do pagamento de custas,
taxas ou despesas até o esgotamento do 1° grau, sendo necessário o recolhimento de custas
(preparo) e constituição obrigatório de advogado junto ao 2°grau. Nesse último, inclusive, vale

5
Enunciado 63/FONAJE - Contra decisões das Turmas Recursais são cabíveis somente os
embargos declaratórios e o Recurso Extraordinário.
6
Súmula 640/STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.

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anotar que, caso o recorrente reste vencido, pagará honorários sucumbenciais, art. 54 e 55, Lei
9099/95.

Referências bibliográficas:
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➢ NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Manual de direito processual civil, Volume único, 12ªed.,
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Forense. 50 ª ed., 2009.

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