Você está na página 1de 6

Aula 8

PROCEDIMENTOS

Juizado Especial Criminal

1– Princípios atinentes ao Juizado Especial Criminal

Art. 62 da Lei 9.099/1995. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos
danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei n. 13.603/18).

a) Princípio da Oralidade: deve se dar preferência à palavra falada sobre a escrita, sem que esta seja excluída.

* Possibilidade de oferecimento de denúncia de forma oral. Neste caso, todas as manifestações feitas oralmente
serão reduzidas a termo pelo Oficial ou Escrivão, constando na ata da audiência ou será objeto de gravação em
mídia audiovisual.

b) Princípio da Simplicidade: procura-se diminuir o quanto possível a massa dos materiais que são juntados aos
autos do processo sem que se prejudique o resultado final da prestação jurisdicional.

c) Princípio da Informalidade: não há necessidade de se adotar formas sacramentais, nem tampouco de se


observar o rigorismo formal do processo, desde que a finalidade do ato processual seja atingida.

Art. 65 da Lei 9.099/1995. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as
quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
§1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.
§2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de
comunicação.
§3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em
audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.

d) Princípio da Economia Processual: entre duas alternativas igualmente válidas, deve se optar pela menos
onerosa às partes e ao próprio Estado;

e) Princípio da Celeridade Processual: guarda relação com a necessidade de rapidez e agilidade do processo,
objetivando-se atingir a prestação jurisdicional no menor tempo possível;

2 – Infrações de menor, médio e máximo potencial ofensivo

2.1 - Infração de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei 9.099/1995): contravenções e crimes com pena
máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com multa, ressalvadas as hipóteses praticadas no contexto da
violência doméstica e familiar contra a mulher;

Art. 41 da Lei 11.340/06. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

2.2 - Infração de menor potencial ofensivo: pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano, admitindo-suspensão
condicional do processo do art. 89 da Lei n. 9.099/95. Exemplo: furto simples.

1
Súmula n. 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo [art. 89] e a transação penal [art. 76] não se aplicam
na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe
15/6/2015.

3 – Fase preliminar dos juizados especiais criminais

No JECRIM, existe uma fase preliminar e uma fase judicial propriamente dita. A fase preliminar visa evitar a fase
judicial, buscando a composição civil dos danos e a transação penal.

Apenas se não houver êxito em relação a um desses mecanismos, passa-se à fase judicial, em que haverá o
recebimento da peça acusatória, tem início o procedimento comum sumaríssimo.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se
possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da
composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

3.1 - A composição dos danos civis é um acordo celebrado entre o autor do delito e a vítima, objetivando a
reparação dos danos civis.

3.2 - A transação penal trata-se de acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato delituoso,
assistido por seu defensor, objetivando a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou de multa.

Art. 76 da Lei 9099/95. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não
sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de
direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

Material complementar

Súmula vinculante n. 35 do STF: “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não
faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando- se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de
inquérito policial”.

4 – Defesa Preliminar

Art. 81 da Lei 9.099/95: Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que
o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de
acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à
prolação da sentença.

5 – Turma Recursal

Órgão recursal de segunda instância, mas composta por juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição.

2
RECURSOS

1 - Introdução

1 - Conceito (Renato Brasileiro): É um instrumento processual voluntário de impugnação de decisões judiciais


previsto em lei federal utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, objetivando a reforma, a
invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão impugnada.

Destrinchando o conceito

1.1 - Instrumento processual voluntário: ninguém é obrigado a recorrer, mas a inércia da parte pode lhe causar
uma situação de desvantagem perante o Direito.

1.2 - Pressuposto objetivo do cabimento: é insuficiente estar diante de uma decisão judicial, pois é necessário
verificar se há lei federal dispondo sobre o recurso.

Abre parênteses

Existem os seguintes tipos de preclusão:

 Temporal: perda do direito de praticar um ato por escoamento do prazo;


 Lógica: ocorre com a prática de ato contrário ao que se pretende praticar;
 Consumativa: ocorre com o exercício do direito de praticar determinado ato processual.

Razão: o processo é marcha para frente

2 - Princípios

2.1 - Princípio do duplo grau de jurisdição: Consiste na possibilidade de reexame integral da matéria de fato e de
direito da decisão do juízo a quo, a ser confiado a órgão jurisdicional diverso e, em regra, de hierarquia superior.

* Princípio não previsto expressamente na Constituição: alguns doutrinadores entendem ele é um desdobramento
dos princípios do devido processo legal e da ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LIV e
LV).

* Previsão na Convenção Americana de Direitos Humanos (status normativo supralegal): art. 8º: “2. h) direito de
recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior”.

2.1 – Princípio da unirrecorribilidade (unicidade): em regra, a cada decisão recorrível corresponde um único
recurso.

* Exceção: pode ser que contra uma mesma decisão, caiba recurso especial (matéria de lei federal, a ser analisada
pelo STJ) e recurso extraordinário (matéria constitucional, a ser analisado pelo STF) – vide art. 1.031 do CPC.

2.2 – Princípio da fungibilidade

art. 579 do CPP: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por
outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará
processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível”.

3
Para aplicação do princípio, há necessidade de boa-fé por parte do recorrente.
De acordo com a doutrina, má-fé significa: (1) não observância do prazo adequado e (2) erro grosseiro: apenas
controvérsias doutrinárias ou jurisprudenciais ensejam a aplicação do princípio da fungibilidade.

Jurisprudência complementar:
Atualmente, não existe previsão legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação parcial
de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus. A homologação do acordo de colaboração
premiada é etapa fundamental da sistemática negocial regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando diretamente
relacionada com o exercício do poder punitivo estatal, considerando que nesse acordo estão regulados os benefícios
concedidos ao imputado e os limites à persecução penal. STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 2/2/2021 (Info 1004). Obs: a 6ª Turma do STJ possui julgado afirmando que: a apelação criminal é o
recurso adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de colaboração premiada, mas ante
a existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da fungibilidade (REsp 1834215-RS, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020. Info 683).

2.3 – Princípio da disponibilidade dos recursos

É possibilidade de o recorrente desistir do recurso por ele interposto.

Este princípio não é aplicado ao Ministério Público: art. 576 do CPP: “O Ministério Público não poderá desistir de
recurso que haja interposto”.

2.4 – Princípio da non reformatio in pejus

No caso de recurso exclusivo da defesa, não se admite a reforma do julgado impugnado para piorar a situação do
acusado.

Vale também para o habeas corpus ou revisão criminal.

Previsão:

CPP, art. 617: “O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que
for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença”.

CPP, art. 626: “Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu,
modificar a pena ou anular o processo.
Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista”.

2.5 – Princípio da non reformatio in mellius

No recurso exclusivo da acusação, é possível que o Tribunal a que se recorre melhore a situação do acusado
(exemplos: aplicar causas de diminuição de pena ou atenuantes não reconhecidas na instância inferior, excluir
qualificadoras constantes da decisão impugnada ou até absolver o acusado).

2.6 – Princípio da complementariedade

Inicialmente, é preciso registrar que, uma vez interposto o recurso, o recorrente não poderia complementar as razões
posteriormente, em razão da preclusão.

No entanto, prestar atenção nessa previsão do CPC, aplicado ao processo penal:


4
art. 1.024, § 4º, do CPC: Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária tem o direito de
complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da
intimação da decisão dos embargos de declaração”.
Exemplo: Joãozinho é acusado de roubo e estelionato.

A sentença é julgada parcialmente procedente, condenando o réu pelo crime de roubo, apenas. E o juiz omite-se,
deixando de analisar a responsabilidade do réu pelo crime de estelionato.

Joãozinho recorre para afastar a condenação por roubo e o MP opõe embargos de declaração para que o juiz supra a
omissão e julgue o crime de estelionato. O juiz, então, analisa os embargos de declaração e reconhece a omissão,
condenando Joãozinho também pelo crime de estelionato.

Nesse caso, mesmo Joãozinho já tendo interposto apelação contra a sentença, terá o direito de complementar as
razões do recurso anteriormente interposto.

2.7 – Princípio da Colegialidade

A parte tem o direito de, recorrendo a uma instância superior ao primeiro grau de jurisdição, obter um julgamento
proferido por órgão colegiado.

* O CPC elenca uma série de situações em que o relator poderia decidir sobre um recurso monocraticamente (sem
submissão ao colegiado – art. 932, IV e V). Segundo a corrente majoritária, tais previsões não se aplicam ao
processo penal. Exceção: hipóteses de recursos de natureza extraordinária e de habeas corpus junto aos Tribunais
Superiores aplica-se a Lei n. 8.038/90 (permite-se o julgamento monocrático).

3 - Pressupostos de admissibilidade recursal (juízo de prelibação)

3.1 - Introdução

3.1.1 - No processo penal, em regra, os recursos são interpostos perante o juízo a quo, que procederá o primeiro
juízo de admissibilidade. Contudo, a decisão definitiva sobre os pressupostos de admissibilidade será feita pelo
juízo ad quem.

Terminologias:
 Juízo a quo: juízo contra o qual se recorre.
 Juízo ad quem: juízo para o qual se recorre.

3.1.2- No julgamento de um recurso há dois juízos realizados pelo Tribunal.

a) Juízo de admissibilidade (conhecimento ou não); aqui, o juiz ou tribunal analisam o preenchimento dos
pressupostos legais para interposição do recurso.

b) Juízo de mérito (provimento ou não) – o mérito recursal pode envolver questões de direito material como
também de direito processual; aqui, será analisado o mérito do recurso.

* No caso dos embargos de declaração, juízo a quo e juízo ad quem é o mesmo juiz.

* A partir do CPC 2015, o juízo de admissibilidade é feito apenas no juízo ad quem.

5
CPC, art. 1.010: “(...). § 3º: Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo
juiz, independentemente de juízo de admissibilidade”.

O CPP não mudou (não há lacuna do CPP), portanto, o juízo de admissibilidade, no processo penal, é realizado,
tanto no juízo a quo e no ad quem.

3.2 - Pressupostos objetivos de admissibilidade recursal

3.2.1 - Cabimento

Consiste na previsão legal da existência do recurso. É necessário verificar em uma lei federal se há previsão de
cabimento de recurso contra aquela decisão.

Nem todas as decisões proferidas no processo penal são recorríveis. Em alguns casos, podem ser impetrados HC
ou MS.

3.2.2 - Adequação

É a pertinência entre o recurso legalmente previsto para a decisão impugnada e aquele efetivamente interposto
pelo sucumbente.

3.2.3 – Tempestividade

O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em lei, sob pena de preclusão temporal.

* No processo civil o prazo começa a fluir a partir do momento em que o mandado é juntado ao processo; no
processo penal é da data da intimação, pouco importando a da juntada.

* Alguns recursos, no processual penal, podem ser interpostos para que depois sejam apresentadas as razões.
Exemplo: apelação:
 Cinco dias: interposição.
 Oito dias: razões.

3.3 - Pressupostos subjetivos de admissibilidade recursal

São dois: legitimidade e interesse

3.3.1 – legitimidade: São pessoas que têm legitimidade para interpor recurso. Eles são citados no CPP, art. 577: O
recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu
defensor.

3.3.2 – interesse recursal: sucumbência.

Art. 577 do CPP: Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma
ou modificação da decisão.
* Sentença condenatória/absolutória e interesse recursal do MP: O MP pode recorrer contra uma sentença
condenatória. Cabe ao MP zelar pelos interesses individuais indisponíveis, dentre eles, a liberdade de locomoção.

Você também pode gostar