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JURISDIÇÃO

1. NOÇÕES GERAIS E CONCEITO

O termo “jurisdição” vem das expressões “juris dictio”, ou seja, “dizer o direito”, função
hoje pertencente ao estado, o qual é representando pelo poder judiciário. O artigo 16 do CPC
aponta que “a jurisdição será exercida pelos juízes e tribunais em todo o território nacional,
conforme as disposições deste Código”.
Definimos a jurisdição como sendo a parcela de poder estatal que tem a função de
aplicar a lei, com vistas a solucionar as lides que lhe são submetidas.

2. CARACTERÍSTICAS

Pode-se afirmar que a função jurisdicional não se confunde com as demais funções
exercidas pelo estado (legislativa e administrativa), sendo marcada pelos seguintes caracteres:
a) Substitutividade: a jurisdição substitui a atividade das partes em conflito, pondo a sua
vontade acima das mesmas. Se Maria tem um débito para com João, por exemplo, não pode
este, por força própria, ir até o patrimônio de Maria e retirar bens para quitar o débito, sob pena
de incidir em crime contra a administração da justiça (artigo 345, CP). É necessário que ele
proponha demanda contra a devedora para que o judiciário, uma vez reconhecido o direito,
possa praticar atos de expropriação dos bens de Maria (veja que o judiciário “substitui” a
atividade de João), com o objetivo de saldar a dívida. O artigo 16 do CPC aponta que “A
jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme
as disposições deste Código.”
.
b) Inércia: o Estado não prestará a atividade jurisdicional sem a prévia provocação. O
artigo 2º, CPC, aponta que “o juiz não prestará a tutela jurisdicional senão quando provocado,
salvo as exceções legais”. Se fosse permitido ao magistrado iniciar um processo judicial,
certamente que o mesmo não julgaria com base nas provas constantes dos autos, mas, sim,
de acordo com o sentimento que lhe motivou a abrir a relação processual, comprometendo, por
consequência a sua imparcialidade.
c) Imparcialidade: significa que o órgão julgador é o sujeito desinteressado da relação.
O juiz é considerado como o sujeito imparcial da relação processual. É justamente por isso que
o legislador disciplinou situações as quais seria impossível ou mesmo desaconselhável a

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participação do magistrado em certos processos: são os casos de impedimentos e suspeição,
disciplinados, respectivamente, nos artigos 144 e 145, CPC.
Perceba, também, que o artigo 139, I, CPC determina, como primeiro dever do
magistrado, “assegurar às partes igualdade de tratamento”.
d) Definitividade: a atividade jurisdicional é marcada pela indiscutibilidade. Após
esgotados os atos procedimentais e ocorrente o fenômeno da coisa julgada, não há que se
falar em nova discussão daquilo que fora objeto da decisão emitida, salvo exceções legalmente
previstas, tal como ocorre com a ação rescisória, capitulada nos artigos 966 e seguintes do
CPC.
É por isso que, não obstante determinada relação jurídica tenha sido decidida no
âmbito administrativo (ex: discussão quanto à existência de débito tributário), fato é que a
decisão em questão não impossibilita o suposto lesado a socorrer-se da via jurisdicional para
sanar a lesão em questão.
A característica em questão está, inclusive, relacionada ao princípio da inafastabilidade
do controle jurisdicional da lesão ou ameaça direito (artigo 5º, XXXV, CF).
Vale ressaltar que a Lei nº 9.307/96 (lei de arbitragem) relativizou esta máxima ao criar
a arbitragem como instrumento alternativo de solução de conflitos (diz-se “alternativo”, haja
vista o seu uso facultativo - artigo 42, CPC). A arbitragem é desenvolvida mediante atividade
particular, equiparando a autoridade de sua decisão àquela emitida no seio judicial, visto que a
sentença arbitral é considerada título executivo judicial por expressa disposição do artigo 31 da
lei em referência.

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COMPETÊNCIA

Preliminarmente, cabe ressaltar que, embora o processamento e julgamento das


causas cíveis, perante o poder judiciário, constituam a regra, o legislador facultou às partes
instituírem juízo arbitral para dirimir as controvérsias oriundas dos negócios jurídicos
celebrados entre pessoas capazes, nos termos da lei de arbitragem (Lei nº 9.307/96).

1. DEFINIÇÃO

A jurisdição é a parcela de poder atribuída ao estado para dizer o direito. Dito poder é
exercido sobre os jurisdicionados de todo o território nacional, por diversos órgãos do judiciário,
motivo pelo qual se faz mister repartir as tarefas, mediante alguns critérios.
Assim, a competência é definida como o instituto que visa definir o âmbito de atuação,
mediante critérios específicos, dos órgãos encarregados da prestação jurisdicional.

2. CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA: MATERIAL, FUNCIONAL, EM RAZÃO DO


VALOR E TERRITORIAL

Dentre os critérios utilizados pelo nosso sistema jurídico, é preciso destacar:


a) Material: a competência é fixada em razão da natureza da lide posta em juízo. O
CPC estabelece que a competência material será regida mediante normas de organização
judiciária. Assim, é possível que uma lei estadual crie varas especializadas (vara de família,
vara de sucessões, órfãos e interditos, infância e juventude, etc.) para o julgamento de
matérias específicas.

b) Funcional: diz respeito à função exercida pelo órgão jurisdicional no processo. O


critério atenta tanto para a função dos tribunais quanto para a função dos juízos de primeiro
grau.
Quanto aos tribunais, terão eles competência para funcionar originariamente (ex:
processamento, pelo STF, de mandado de segurança contra ato de Presidente da República;
Processamento, pelo TRF, de mandado de segurança contra ato de juiz federal; Mandado de
segurança impetrado junto ao TJ contra ato de Governador de Estado, etc.) ou a nível recursal-

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também conhecida como “competência hierárquica” - (ex: processamento e julgamento de
recurso de apelação pelo TJ ou TRF; processamento e julgamento de Recurso Especial pelo
STJ, etc.). Os tribunais também terão competência funcional para processar as execuções das
causas de sua competência originária (artigo 516, I, CPC).
Quanto ao juízo de primeiro grau, este terá competência para funcionar
originariamente (a maior parte das ações é de competência originária do juízo de 1º grau!), e
nas execuções das causas de sua competência pois, ainda que a causa vá parar nas
instâncias superiores, uma vez esgotados os meios recursais, os autos retornarão ao juízo de
origem para o cumprimento de sentença, a teor do preceituado no artigo 516, II, CPC. Terá,
também, competência para funcionar nas ações que guardam relação com causas
anteriormente ajuizadas (ex: competência do juízo da ação principal para conhecer de ação
cautelar; competência do juízo que determinou a apreensão do bem para conhecer da ação de
embargos de terceiro; competência do juízo da ação principal para conhecer da reconvenção,
etc.).
c) Em razão do valor da causa: o valor da causa pode constituir fator determinante
para a fixação de competência. Assim como é possível que norma de organização judiciária
local crie varas especializadas para o conhecimento e julgamento de causas com matérias
específicas (competência material), é, também, possível a criação de varas com competência
para processar e julgar ações de até certo montante (30, 40, 50 salários, etc.). Tal critério,
conforme afirmado, é disciplinado por normas de organização judiciária.
Cabe, ainda, ressaltar que a Lei federal nº 9.099/95 impôs a criação dos chamados
“juizados especiais cíveis”, cuja competência leva em consideração, dentre outros critérios, o
valor da causa, o qual não pode ultrapassar o patamar de 40 (quarenta) salários mínimos.

d) Territorial: este critério leva em consideração o exercício da função jurisdicional


segundo a limitação geográfica. Assim, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) possuem competência para processar demandas oriundas de todas
as partes do país; o Tribunal Regional Federal (TRF) possui jurisdição sobre alguns estados; o
Tribunal de Justiça, por sua vez, possui jurisdição no respectivo estado.
Mas o que importa, em sede de exame de ordem, são as regras relativas à
competência territorial dos juízes de primeira instância, as quais foram fixadas pelo Código de

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Processo Civil, em seus artigos 46 e seguintes. É importante atentarmos para as seguintes
regras:
→ Ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens
móveis: serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu (art. 46, CPC). Considerando
que, até que seja provado em contrário, ninguém pode ser considerado culpado, o legislador
quis dar a “comodidade” ao réu de responder a demanda em seu domicílio.
Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer
deles, à escolha do autor.
E se o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil? neste caso, excepcionalmente,
a ação será proposta no foro do domicílio do autor.
→ Ações fundadas em direito real sobre imóveis: é competente o foro da situação da
coisa (art. 47, CPC). Pode o autor, entretanto, optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro
de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e
demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
A ação possessória imobiliária também será proposta no foro de situação da coisa,
cujo juízo tem competência absoluta (art. 47, § 2o, CPC).

ATENÇÃO!
Urge ressaltar que a presença da União ou de qualquer dos seus entes, na ação de
usucapião, não afasta a competência do foro da situação do imóvel (Súmula 11, STJ). Neste
caso, a demanda será processada perante o juízo federal da respectiva circunscrição territorial
ou, inexistindo juízo federal na localidade, pelo juízo estadual investido na função federal.

→ Ações de inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última


vontade, impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e todas as ações em que o espólio
for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro: serão propostas no foro do domicílio
do autor da herança, no Brasil; se o autor da herança não possuía domicílio certo é competente
o foro da situação dos bens; havendo bens imóveis em foros diferentes, a demanda poderá ser
proposta em qualquer destes. Não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens
do espólio.

→ A ação em que o incapaz for réu: será processada perante o foro do domicílio de
seu representante ou assistente (art. 50, CPC).

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Aqui o enunciado é bem fácil de ser entendido: a regra geral é a de que a ação deve
ser proposta no foro do domicílio do réu. Pois bem, como o artigo 76, parágrafo único, do CC
preceitua que o domicílio necessário do incapaz é o do seu representante legal, logo, a ação
deve ser proposta no foro do domicílio do representante (que acaba sendo, em último caso, o
foro do domicílio do réu ou incapaz).
→ Causas em que haja a participação da União: se a mesma estiver na qualidade de
autora, serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio o réu; estando na qualidade de
ré, poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela em que
tiver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou
ainda, no distrito federal.

→ Ação em que se pedem alimentos: será proposta no foro do domicílio ou da


residência do alimentando (art. 53, II, CPC).
Esta regra foi criada tendo em vista a necessidade do alimentando, o qual teria
dificuldades em propor demanda em domicílio distinto do seu.

ATENÇÃO!
Em se tratando de ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, a
competência será da regra especial, ou seja, foro do domicílio do alimentando (Súmula 1, STJ).

→ Ação em que exigir o cumprimento de obrigação: proposta no lugar onde a


obrigação deva ser satisfeita;
→ Ação de reparação do dano: deve ser proposta no lugar do ato ou fato.
→ Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos,
inclusive aeronaves: será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato (art. 53,
V, CPC).
→ Ações de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou
dissolução de união estável: serão propostas no foro de domicílio do guardião de filho incapaz.
Não havendo filho incapaz, a demanda será proposta perante o foro do último domicílio do
casal. Se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal, será proposta no foro do
domicílio do réu (art. 53, I, alíneas “a”, “b” e “c”, CPC).

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3. REGIME JURÍDICO: COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA

Cabe ressaltar, primeiramente, que os critérios de fixação de competência, tratados no


item anterior, foram criados com um dos seguintes objetivos: 1) proteção do interesse
público, no sentido de proporcionar uma melhor organização e divisão de tarefas entre os
diversos órgãos do judiciário; 2) proteção do interesse privado da parte, no sentido de dar
comodidade àquele que necessite, quando tiver de propor/responder a uma demanda.
No primeiro caso, o legislador utilizou os critérios material e funcional para o
atendimento do interesse público; no segundo, valeu-se dos critérios em razão do valor e
território para a consecução do interesse particular.
Os critérios eleitos para o atendimento do interesse público (material e funcional) são
absolutos, no sentido de serem atendidos, queiram ou não as partes, sob pena de nulidade
processual. Outrossim, os critérios eleitos para o atendimento do interesse privado das partes
(valor da causa e território) são relativos, no sentido de que, se não forem atendidos de
imediato, poderão ser “relevados” ou deixados “de lado”.
Feitas estas considerações preliminares, notamos que o regime jurídico acerca da
competência irá variar conforme a sua natureza.
Sendo relativa, a infração da regra de competência deve ser alegada pela parte, sob
pena de preclusão e consequente prorrogação de competência, tornando-se competente o
juízo que, até então, não o era (Súmula 33, STJ). O réu arguirá o vício na própria contestação,
através de preliminar (arts. 64 e 337, II, CPC), e não mais através de exceção, como se dava
sob a égide do CPC de 1973.
Questão interessante é a que diz respeito à cláusula de eleição de foro. Nos contratos
em geral (independentemente de ter natureza de adesão!) haverá a possibilidade do
magistrado declarar a sua incompetência territorial quando se deparar com cláusula abusiva de
eleição de foro, remetendo os autos para o foro do domicílio do réu. Tal declaração, entretanto,
deverá ser feita ANTES da citação. Se a citação JÁ FOI realizada, caberá ao réu alegar a
abusividade, sob pena de preclusão (art. 63, §§ 3o e 4º do CPC). A incompetência territorial
também poderá ser declarada de ofício no âmbito dos juizados especiais cíveis, a teor do
disposto no enunciado 89 do Fórum Nacional do Juizados Especiais (FONAJE).

A infração à regra de competência de natureza absoluta (em razão da matéria ou


hierarquia), por estar apoiada em regras de ordem pública, acaba por gerar vício insanável, o
qual poderá ser arguido em qualquer momento e grau de jurisdição (ex oficio ou mediante
preliminar de contestação). É mister salientar, inclusive, que, não sendo o vício declarado pelo

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juiz ou mediante iniciativa das partes, a coisa julgada não terá o condão de estabilizar-se. É
que o artigo 966, II, CPC autoriza a instauração de rescisória na hipótese de incompetência
absoluta.

4. MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA: CONEXÃO E CONTINÊNCIA

Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição


inicial. Isto quer dizer que, uma vez proposta a demanda a um determinado juízo, passará o
mesmo a ter competência para conduzir o processo até o final.
O legislador estabeleceu a regra de que são irrelevantes “...as modificações do estado
de fato ou de direito ocorridas posteriormente” (art. 43, CPC). É o que se denomina de
perpetuatio jurisdictionis. Assim, por exemplo, sendo o réu demandado no foro do seu domicílio
e, fixada a competência de um juízo “x”, a alteração de domicílio (modificação de fato) não
acarretará a modificação da competência.
A regra da perpetuatio jurisdictionis sofre algumas exceções, senão vejamos:
→ quando houver supressão do órgão judiciário: havendo a extinção do órgão
jurisdicional (extinção de uma vara cível, por exemplo), o processo será remetido ao juízo que
o sucedeu em competência.
→ quando houver alteração da competência absoluta (em razão da matéria ou
hierarquia): se a alteração ocorrida no curso do processo acarretar a modificação de
competência absoluta, aí não haverá outra alternativa senão enviar os autos ao juízo que
passou a ser competente para conhecer da lide.
Temos como exemplo, no primeiro caso (alteração de competência em razão da
matéria), a modificação de competência trazida pela emenda Constitucional 45. Imagine que
uma causa que versa sobre representação sindical entre sindicatos vinha tramitando perante a
justiça comum. Com a EC-45, o artigo 114 da Constituição passou a dispor que a justiça do
trabalho seria competente para processar e julgar lides de representação sindical “entre
sindicatos”. Logo, os feitos tiveram de ser remetidos à justiça laboral.
Já no segundo caso (alteração de competência funcional), temos como exemplo a
modificação trazida por intermédio da Lei nº 11.232/05, a qual possibilitou que a execução
pudesse ser processada perante o atual domicílio do executado ou perante o local onde se
encontram os bens passíveis de penhora (regra acrescida ao CPC de 1973 através do artigo

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475-P, § único e que fora reproduzida pelo art. 516, § único do CPC/2015). Perceba que,
embora fosse a execução processada perante o juízo onde a causa tramitou em primeiro grau
de jurisdição (pois, após o trânsito em julgado, os autos “baixam” à vara de origem), dita
competência passou a poder ser deslocada para um dos juízos mencionados (do atual
domicílio do executado ou do local em que se encontram os bens passíveis de penhora), com o
intuito de “acelerar” a execução, o que nos mostra mais um caso de alteração de competência.

Finalmente, poderá, ainda, haver alteração de competência relativa (veja que, até o
momento, vínhamos falando em alteração de competência do juízo apenas quando houvesse
uma alteração de competência absoluta!), em virtude da ocorrência dos fenômenos da
conexão ou continência.

Haverá a conexão entre duas ou mais ações ajuizadas quando elas tiverem o mesmo
pedido (ex: ações movidas, por diversos sócios, com o objetivo de anular deliberação tomada
por diretoria da sociedade) ou a mesma causa de pedir (ex: vários moradores, em demandas
distintas, acionam a construtora em virtude do desabamento de edifício).
A continência se dará quando, entre duas ou mais ações houver as mesmas partes e
causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o da outra (ex: Maria
promove ação de investigação de paternidade em face de João; em outra demanda, Maria
pede, além da declaração de paternidade, a condenação do suposto pai ao pagamento de
pensão alimentícia).

ATENÇÃO!
Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no
processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso
contrário, as ações serão necessariamente reunidas. É o que dispõe o artigo 57, CPC.

Havendo conexão ou continência, as ações deverão ser reunidas, para serem


decididas conjuntamente, sob pena gerar um risco de decisões contraditórias.
A competência para o julgamento de causas conexas ou continentes será do juízo
prevento, ou seja, aquele que primeiro conheceu da ação. Mas, qual o parâmetro utilizado para

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saber qual fora o juízo que primeiro conheceu da demanda? O CPC nos responde, em seu
artigo 59: “O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.”

ATENÇÃO!
A conexão não determina a reunião de processos, se um deles já foi julgado (art. 55, §
1o, CPC e Súmula 235, STJ). Ora, embora possa existir conexão entre uma ação que esteja
em curso e outra que esteja finda (ação de revisão de cláusula contratual/ ação de busca e
apreensão de veículo, por exemplo), não há interesse na reunião de ambas, visto que o
instituto da conexão visa o julgamento “conjunto” das ações a fim de evitar decisões
conflitantes, o que, in casu, inocorreria, pois uma delas já teria sido julgada.

TEORIA GERAL DO PROCESSO: PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

O processo pode ser definido como o instrumento utilizado pela jurisdição para a
resolução dos conflitos de interesses que lhes são levados à apreciação.
Pois bem, a validade do processo está condicionada a premissas concretas,
denominadas de “pressupostos processuais”.
Pressupostos processuais são “supostos prévios”, “condições prévias”, a serem
observadas, sob pena de comprometer a existência e validade do processo.
Assim, por exemplo, seria inadmissível a instauração da relação processual sem a
peça responsável pelo seu desencadeamento (petição inicial); ou o desenvolvimento do
processo sem o ato de convite ao réu para que se defenda (citação); também não poderíamos
imaginar um processo válido sem que houvesse um juízo competente, a presença de
advogado, etc.
Em todos os exemplos acima, verifica-se que a constituição e desenvolvimento da
relação processual estão condicionados à existência de formalidades (pressupostos
processuais), as quais possibilitarão, ao final do processo, um verdadeiro revestimento de
imutabilidade à questão trazida à apreciação do judiciário.
Aqui vamos nos ater aos pressupostos subjetivos, que são formalidades traçadas pelo
sistema jurídico, relativamente aos protagonistas da relação processual: juiz e partes. Assim:
a) quanto ao juiz: este deverá estar dotado de jurisdição, competência e
imparcialidade.

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→ jurisdição: o feito deverá ser conduzido por um juiz. Perceba que, de acordo com o
artigo 16, CPC, “A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território
nacional, conforme as disposições deste Código.”. Assim, não podemos imaginar um processo
sendo conduzido por quem não seja juiz ou por quem, embora fosse, já estivesse aposentado.
Mas, há exceção? Existe a possibilidade de um conflito ser resolvido por quem não seja juiz?
Existe sim. O legislador, por intermédio da Lei nº 9.307/96 e do artigo 42, CPC, facultou às
partes, maiores e capazes, a instituição da arbitragem para a resolução de conflitos oriundos
de um negócio jurídico que celebrarem. Mas, ressalte-se: a jurisdição é regra, da qual a
arbitragem é a exceção!
→ competência: não basta ser juiz. É necessário, também, que o mesmo seja
competente para conduzir e julgar o processo. Não pode, por exemplo, um juiz da vara cível
julgar demanda de competência da trabalhista; ou um juiz de primeiro grau julgar uma ação
civil de competência originária de tribunal. A respeito da competência, vide considerações
feitas na Parte I, item 5, deste livro.
→ imparcialidade: além de competência, o juiz deverá ter imparcialidade, no sentido
de não estar pré-disposto ou pré-intencionado na condução do feito. Ele deve tratar as partes
com igualdade. O tratamento igualitário, inclusive, é o primeiro dever do juiz, elencado no artigo
139, I, CPC.
Perceba (e aí vai uma “dica”!) que os três pressupostos processuais que dizem
respeito ao juiz (jurisdição, competência e imparcialidade), correspondem, respectivamente,
aos três princípios da jurisdição (investidura, improrrogabilidade e juiz natural), visto que o juiz
é a própria “encarnação” da jurisdição.
b) quanto às partes: estas deverão ter capacidade de ser parte, capacidade para
estar em juízo e capacidade postulatória.
→ capacidade de ser parte: esta exigência diz respeito a quem pode ocupar um dos
polos da relação processual. Em termos simples: quem pode ser autor ou réu em um
processo? Terão a capacidade de ser parte:
1) pessoas naturais ou físicas: todo o ser humano pode ser autor ou réu de um
processo, bastando o nascimento com vida. Esta capacidade se confunde com a
personalidade, estudada no direito civil, como aptidão genérica de ser sujeito de direitos e
obrigações. O raciocínio aqui é simples: nascendo, o ser humano adquire a personalidade

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(passa a ser sujeito de direitos e obrigações); logo, poderá ser autor de ação para receber o
que lhe seja de direito e poderá ser réu para cumprir com as obrigações que a lei lhe confere.

2) pessoas jurídicas: como sujeitos de direitos e obrigações, também poderão ser


autores ou réus em processo judicial. As pessoas jurídicas são de direito público (União,
estados, Distrito federal, territórios, municípios, autarquias e fundações públicas) ou de direito
privado (associações, sociedades, fundações privadas, organizações religiosas e partidos
políticos).

As pessoas jurídicas não podem ser confundidas com os órgãos que a integram. Por
exemplo, se um cidadão deseja ingressar com ação de indenização em virtude dos danos
materiais causados por uma bala “perdida”, disparada pelo revólver de policial militar de
Pernambuco, não poderá o mesmo propor a demanda em face da polícia militar (que é mero
órgão, sem personalidade jurídica), mas, sim, contra a pessoa jurídica a qual ela integra, a
saber, Estado de Pernambuco.

ATENÇÃO!

A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade


de sua constituição quando demandada. (art. 75, § 2o , CPC)

3) alguns entes despersonalizados: em regra, ente despersonalizado não pode ser


parte, conforme afirmado no item anterior, haja vista que, não possuindo personalidade, não
constitui-se em sujeito de direitos e obrigações. Ocorre que o legislador resolveu conferir
capacidade de ser parte a certos entes, justamente como forma de protegê-los, pois, do
contrário, não existiria outra forma de defender seus interesses senão estando na qualidade de
parte. É o que ocorre, por exemplo, com a massa falida, espólio e condomínio. Neste caso diz-
se que os mesmos, apesar de não possuírem “personalidade jurídica”, possuem
“personalidade judiciária”.
O fenômeno em questão (personalidade judiciária) será aplicado, também, a alguns
órgãos públicos (Ministério Público, Câmara de vereadores ou Assembleia Legislativa, por
exemplo), apenas quando da defesa de suas prerrogativas institucionais. Por exemplo,
pode o ministério público, para a defesa do interesse público (uma de suas prerrogativas), ser
autor de uma ação civil pública contra uma fábrica que polui o meio ambiente; Pode também,

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uma assembleia legislativa manejar um mandado de segurança contra ato de governador que
violou competência daquela casa. Nestes casos eles estarão defendendo as suas prerrogativas
institucionais.
Não estando, entretanto, o conflito de interesses ligado àquelas prerrogativas, a
capacidade de ser parte será da pessoa jurídica de direito público a qual o órgão integra, e não
do mencionado órgão (MP ou Assembleia Legislativa). Imagine, por exemplo, um
atropelamento envolvendo um veículo oficial do ministério público do estado de Pernambuco.
Neste caso, a ação não terá como parte o Ministério público (que é mero órgão, sem
personalidade jurídica), mas, sim, a pessoa jurídica a qual ele integra (estado de Pernambuco).

ATENÇÃO!
Não confunda capacidade de ser parte com legitimidade ad causam. A capacidade
de ser parte é vista diretamente, com objetividade (quem pode e quem não pode ser parte
num processo!) ao passo que a legitimidade ad causam (uma das condições da ação) se
refere à titularidade (legitimidade) do direito lesado: tem legitimidade ativa quem teve o direito
violado e tem legitimidade passiva quem violou o direito.
Então, exemplificando, Maria pode ter a capacidade de ser parte (pois é pessoa
natural), mas não ter legitimidade para propor uma dada ação, pois não fora ela quem teve o
direito violado.

→ capacidade de estar em juízo: refere-se à possibilidade de praticar os atos


jurídicos processuais (atos jurídicos dentro do processo). Terá a capacidade de estar em juízo
toda pessoa que se ache no exercício dos seus direitos (artigo 70 do CPC). Perceba, por
exemplo, que uma criança de 5 (cinco) anos de idade terá a capacidade de ser parte (pois
tem personalidade), mas NÃO terá a capacidade de estar em juízo, pois não pode, por si só,
praticar os atos da vida civil.
Ressalte-se que as pessoas casadas também têm capacidade plena para estar em
juízo, de modo que um cônjuge não necessita da companhia do outro, seja para figurar como
autor, seja para colocar-se na qualidade de réu. A regra, no entanto, encontra exceções:
Para propor demandas, um cônjuge somente necessitará do consentimento do outro
quanto às ações que versem sobre direitos reais imobiliários. Isto quer dizer que a ação deverá
ser intentada por ambos os cônjuges (ambos serão autores), sob pena de ser decretada a
ausência da capacidade processual, com a consequente extinção do processo sem resolução
de mérito. O motivo é simples: tudo que é adquirido após a constância do matrimônio passa a

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pertencer a ambos. Assim, qualquer ação que verse sobre direitos reais imobiliários poderá
afetar a esfera de direitos do outro cônjuge sobre o bem disputado, motivo pelo qual haverá a
necessidade de sua participação. Esta regra processual só não será aplicada se o regime do
casamento for o da separação de bens (art. 73, CPC). O consentimento pode ser suprido
judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja
impossível concedê-lo.
Por outro lado, ambos os cônjuges deverão ser citados (figurarão como réus) nas
ações que versem sobre direito reais imobiliários ou nos casos de composse ou de atos por
ambos praticados.
Preocupado com a defesa do interesse dos incapazes, o legislador criou o instituto da
representação, que nada mais é do que a defesa em juízo, em nome alheio, de interesse
alheio.
Assim, os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou
curadores (artigo 71, CPC). Numa ação de alimentos proposta contra o pai, por exemplo, o
incapaz será o autor (pois o direito é seu!), mas, como não poderá estar em juízo, deverá ser
representado por sua genitora. Perceba que a mãe estará na qualidade de representante, pois
estará em nome alheio (pois a criança é quem figurará como autora da ação!), defendendo
interesse alheio (interesse da criança).
É preciso ficar atento à figura do curador especial (art. 72, CPC).
A lei menciona que o juiz dará curador especial: a) ao incapaz, se não tiver
representante legal, ou se os seus interesses colidirem com os daquele; b) ao réu preso; c) ao
revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado.
Esta função é exercida pelo defensoria pública (art. 72, § único, CPC).
Ao curador especial incumbe a função basicamente defensiva (ou seja, defender
alguém que está numa situação de desvantagem no processo- incapaz, réu preso e revel
citado por edital ou hora certa). Assim, não pode o curador valer-se de instrumentos de
“ataque” (reconvenção, ação declaratória incidental, etc), mas, tão somente de defesa.
Ressalte-se que a sua atuação limita-se ao âmbito processual em virtude de fato
autorizador, não se confundindo, portanto, com o curador comum, o qual representa os
incapazes para os atos da vida civil em geral.

ATENÇÃO!
Duas nuances precisam ser ressaltadas:

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A primeira, no sentido de que a nomeação de curador especial é aplicada, também,
nas execuções em que o executado, citado fictamente, seja revel (Súmula 196, STJ).
A segunda é que o curador especial, ao apresentar a contestação, NÃO se submete ao
ônus da impugnação específica (regra segundo a qual o réu deve se manifestar sobre todos
os pontos narrados na petição inicial, sob pena de presumir-se como verdadeiro o ponto que
não fora impugnado). Aqui o motivo é simples: como o curador especial cai de “paraquedas” no
processo, não tem o ele conhecimento “a fundo” dos fatos, podendo, portanto, apresentar
contestação por “negativa geral”.

Ainda dentro da temática da representação, é necessário ficar atento à representação


do artigo 75 do CPC. É que, nele, o legislador listou uma série de entes com os seus
respectivos representantes judiciais, ativos ou passivos.
Isto quer dizer que todas as pessoas e entes que estão listados no mencionado artigo
terão a capacidade de ser parte (pois poderão ser autores ou réus), mas para terem a
capacidade de estar em juízo necessitarão estar representados pelos sujeitos que lá figuram,
senão vejamos: a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, pela Advocacia-
Geral da União, diretamente ao mediante órgão vinculado; b) o Município, por seu Prefeito ou
Procurador; c) a massa falida, pelo administrador judicial; d) a herança jacente ou vacante,
por seu curador; e) o espólio, pelo inventariante; f) as pessoas jurídicas, por quem os
respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores; g) IX - a
sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade
jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens; h) a pessoa jurídica
estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal
aberta ou instalada no Brasil (o gerente da filial ou agência presume-se autorizado, pela
pessoa jurídica estrangeira, a receber citação inicial para qualquer processo); i) o condomínio,
pelo administrador ou pelo síndico.

→ capacidade postulatória: é a aptidão para o exercício da defesa técnica em juízo.


Em nosso ordenamento jurídico ela é exercida pelos advogados, profissionais regularmente
inscritos perante os quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Vale salientar que, nos
juizados especiais cíveis, a presença do advogado é facultativa nas causas que não
ultrapassem 20 salários mínimos (artigo 9º da Lei nº 9.099/95).
ATENÇÃO!

Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz


suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício.

Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o


processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será considerado revel, se a

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providência lhe couber; III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo,
dependendo do polo em que se encontre.

Por outro lado, descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça,
tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator:

I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;

II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao


recorrido

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TEORIA GERAL DO PROCESSO: SUJEITOS DO PROCESSO

Três são os sujeitos que participam diretamente do processo: autor, réu e juiz. Os dois
primeiros são definidos como “partes” ou “sujeitos parciais”, os quais são diretamente
interessados na demanda. O juiz, entretanto, é o sujeito desinteressado da relação, estando
acima e equidistante das partes.
É possível, também, que um terceiro venha “migrar” para a relação processual no
curso da demanda. É o que se denomina de “intervenção de terceiros”.
O representante do Ministério Público também é um sujeito que comumente participa
da relação processual, seja na qualidade de parte ou de na qualidade de fiscal da lei.
Por fim, a “máquina” jurisdicional necessita de profissionais colaboradores,
denominados de auxiliares da justiça.
Analisemos alguns destes protagonistas.

1. DAS PARTES E DOS PROCURADORES

Considerando que já foram analisados os pressupostos processuais referentes às


partes (capacidade de ser parte e de estar em juízo), faremos considerações, agora, aos
deveres das partes, seja na perspectiva da atuação direta, ou sob o prisma das despesas.
Veremos, também, a temática que se refere à substituição das partes no processo.

A) Deveres na atuação processual

O CPC/2015, em seu artigo, especifica um rol de deveres das partes e de todos


aqueles que, de qualquer forma, participam do processo, a saber:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade: certamente que é natural que a
parte enfatize os fatos que lhe são favoráveis e despreze aqueles que lhes são prejudiciais. O
que o legislador proibiu, entretanto, foi a utilização de artifícios que venham a “manchar” com a
verdade. É o exemplo da parte que induz testemunha a mentir em juízo ou nega a assinatura
em um dado documento, do qual sabe de antemão ser sua.
II - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas
de fundamento: aqui é necessário que, aquele que formulou a pretensão, esteja ciente de que

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a mesma carece de fundamento, sendo necessário o magistrado apreciar, em cada caso, a
existências ou não de erro grosseiro. É o caso do autor que move ação rescisória para
impugnar decisão, com o objetivo de reapreciação dos fatos da causa.
III - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à
declaração ou defesa do direito: a função da produção probatória é demonstrar como os
fatos ocorreram, sendo certo que será relevante a produzir aquilo que tenha relação direta com
o objeto da lide. Assim, é vedado às partes discutir, na relação processual, fatos irrelevantes,
que em nada contribuirá à resolução da lide. Imagine, por exemplo, que o réu, em seu
depoimento pessoal, confessasse sua culpa num acidente de trânsito na medida em que, ao
efetuar a manobra, não ligou o sinal indicador do veículo (seta). Se, após a confissão, o autor
insistisse na oitiva de uma testemunha para provar que o réu “não ligou o sinal indicador”,
estaria ele produzindo prova desnecessária à declaração do direito.
IV - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços
à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final: o dispositivo em
questão tem um duplo comando: a) que a parte cumpra com as ordens judiciais
(“mandamentais” vem de “mandamento”, “ordem”, que deve ser cumprida pela parte, como, por
exemplo, inclusão de candidato nas demais etapas de um concurso, entrega de medicamentos
a paciente que deles necessite, etc.); b) que não crie embaraços à realização das ordens
judiciais (por exemplo, pai que oculta criança, dificultando atividade de oficial de justiça no
cumprimento de mandado de busca e apreensão).
Ressalvados os advogados públicos ou particulares, membros do Ministério Público e
da Defensoria Pública, os quais se sujeitam exclusivamente aos órgãos de classe ou
corregedoria, a violação a deste mandamento constitui ato atentatório ao exercício da
jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis,
aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta
e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido,
contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como
dívida ativa da União ou do Estado. Perceba que a multa em questão será revertida para o
Estado ou União, a depender de tramitar o processo perante a justiça estadual ou federal, pelo
motivo de que o fato gerador da mesma consiste no descumprimento de ordem judicial.
Finalmente, como último dever expresso que é imposto pelo CPC, está a proibição às
partes e seus advogados de empregarem expressões injuriosas nos escritos apresentados no

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processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las. Quando
as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não
as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra.
Embora não tenha sido expressamente referido no rol do artigo 77 pelo CPC de 2015,
outro dever da parte e de todos aqueles que participam da relação processual é proceder com
lealdade e boa-fé. Tal dever acaba por abranger todas as outras espécies de obrigações. Agir
com lealdade é agir com probidade, ser honesto no transcorrer da relação processual.
Velando pela leal atuação na relação processual, o CPC disciplina a existência do
instituto da litigância de má-fé, apontando que responderá por perdas e danos aquele que
pleitear de má-fé como autor, réu ou interveniente.
Segundo o legislador, reputa-se litigante de má-fé aquele que: I- deduzir pretensão ou
defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III -
usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao
andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do
processo; Vl - provocar incidentes manifestamente infundados; VII - interpuser recurso com
intuito manifestamente protelatório.

De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que


deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a
indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários
advocatícios e com todas as despesas que efetuou.

Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na


proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram
para lesar a parte contrária.

Sendo o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10
(dez) vezes o valor do salário-mínimo.

O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo,
liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.

Cabe ressaltar, por oportuno, que as regras que tratam da litigância de má-fé (de natureza
geral) não terão aplicação cumulativa com multas específicas, criadas por disposições próprias,
sob pena de incidirmos num bis in idem. É o que ocorreria, por exemplo, com a aplicação
cumulativa do artigo 80, VII, CPC (interposição de recurso meramente protelatório) com o
artigo 1.026, § 2o, CPC (embargos de declaração protelatórios).

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B) Dos deveres quanto às despesas e às multas

→ Considerações iniciais: Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita (pois


aí não haverá necessidade de pagamento dos gastos), cabe às partes prover as despesas dos
atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-lhes o pagamento desde o início até
sentença final; e bem ainda, na execução, até a plena satisfação do direito previsto no título
(artigo 82, CPC).
As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a
indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico.

→ Regra geral: é no sentido de que o pagamento será feito por ocasião de cada ato
processual, pela parte que realizar o ato. No entanto, compete ao autor adiantar as despesas
relativas a atos, cuja realização for determinada de oficio pelo juiz ou quando for requerida pelo
Ministério público quando atuar como fiscal lei. Mas, atenção!: Em relação à perícia, ainda
quando esta for determinada de oficio, os honorários periciais serão rateados por ambas as
partes.
A Fazenda Pública, inclusive, quando parte no processo, ficará sujeita à exigência do
depósito prévio dos honorários do perito (Súmula 232, STJ).
Ressalte-se que, ao final, a sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as
despesas que antecipou e os honorários advocatícios. A verba honorária será devida, também,
nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.

→ Honorários Advocatícios: a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao


advogado do vencedor. São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento
de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos,
cumulativamente.
Eles serão fixados entre o mínimo de 10% (dez por cento) e o máximo de 20% (vinte por
cento) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de
prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço.
Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente
distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas. É o que chamamos de
“sucumbência recíproca”. Ressalte-se que, nas ações de indenização por dano moral, a
condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca
(Súmula 327, STJ).

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Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas
despesas e honorários.
Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando
o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa.
→ Fazenda Pública: nas causas em que a Fazenda Pública for parte, o valor dos
honorários, que serão fixados após a devida liquidação do julgado, observará os seguintes
percentuais:

I - mínimo de 10% e máximo de 20% sobre o valor da condenação ou do proveito


econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

II - mínimo de 8% e máximo de 10% sobre o valor da condenação ou do proveito


econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-
mínimos;

III - mínimo de 5% e máximo de 8% sobre o valor da condenação ou do proveito


econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-
mínimos;

IV - mínimo de 3% e máximo de 5% sobre o valor da condenação ou do proveito


econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-
mínimos;

V - mínimo de 1% e máximo de 3% sobre o valor da condenação ou do proveito


econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

É bom ressaltar que será considerado o salário-mínimo vigente quando prolatada


sentença líquida ou o que estiver em vigor na data da decisão de liquidação.

Mas, como calcular tais valores? O cálculo será simples: a fixação do percentual de
honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim
sucessivamente.

Por fim, aponte-se que serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.

→ Procedimentos de jurisdição voluntária: as despesas serão adiantadas pelo


requerente, mas rateadas entre os interessados. Nas ações de alienação judicial de coisa
comum, por exemplo, geralmente o requerente adianta o pagamento das custas, as quais
serão partilhadas entre os interessados, na proporção de seus quinhões.

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→ Desistência, renúncia ou reconhecimento do pedido: as despesas e os honorários
serão pagos pela parte que desistiu, renunciou ou reconheceu a procedência do pedido. Se o
réu reconhecer a procedência do pedido e, simultaneamente, cumprir integralmente a
prestação reconhecida, os honorários serão reduzidos pela metade.

→ Transação: havendo transação e nada tendo as partes disposto quanto às despesas,


estas serão divididas igualmente.

→ Extinção sem resolução de mérito: quando, a requerimento do réu, o juiz declarar


extinto o processo sem julgar o mérito, o autor não poderá intentar de novo a ação, sem pagar
ou depositar em cartório as despesas e os honorários, em que foi condenado.

→ Assistência: se o assistido ficar vencido, o assistente será condenado nas custas em


proporção à atividade que houver exercido no processo.

→ Perícia: cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a
do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou rateadas pelas partes,
quando ambas tiverem requerido ou a mesma for determinada de ofício pelo juiz (valendo
salientar que, ao final, a parte será reembolsada das despesas que antecipou!).

Quando o pagamento da perícia for de responsabilidade de beneficiário de gratuidade da


justiça, ela poderá ser: I - custeada com recursos alocados no orçamento do ente público e
realizada por servidor do Poder Judiciário ou por órgão público conveniado; II - paga com
recursos alocados no orçamento da União, do Estado ou do Distrito Federal, no caso de ser
realizada por particular, hipótese em que o valor será fixado conforme tabela do tribunal
respectivo ou, em caso de sua omissão, do Conselho Nacional de Justiça.

Após o trânsito em julgado da decisão final, o juiz oficiará a Fazenda Pública para que
promova, contra quem tiver sido condenado ao pagamento das despesas processuais, a
execução dos valores gastos com a perícia particular ou com a utilização de servidor público ou
da estrutura de órgão público. Caso o responsável pelo pagamento das despesas seja
beneficiário de gratuidade da justiça, a obrigação decorrente de sua sucumbência ficará sob
condição suspensiva de exigibilidade e somente poderá ser executada se, nos 5 (cinco) anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que a certificou, o credor demonstrar que
deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação do beneficiário.

C) Sucessão de Partes

De logo, urge ressaltar que a sucessão de partes (alteração de um dos sujeitos do


processo) não se confunde com a substituição de partes (quando alguém postula, em nome
próprio, direito alheio). É por isso que o CPC/2015 (arts. 108 e seguintes) utilizou-se da
expressão “sucessão de partes” ao invés de “substituição de partes”, que até então era
utilizada pelo CPC de 1973.

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Realizada a citação, ocorre a estabilização dos elementos da ação (partes, causa de
pedir e pedido). Após este momento, a alteração do pedido ou causa de pedir só ocorrerá
mediante consentimento do réu, devendo, no entanto, manter-se as mesmas partes.
Excepcionalmente, o CPC contempla duas hipóteses de sucessão.
A primeira, prevista no artigo 109, se refere à hipótese em que o bem litigioso é
alienado por ato inter vivos, caso em que é possível a substituição do alienante pelo
adquirente, desde que haja consentimento da outra parte. Ressalte-se que, não havendo
consentimento da outra parte, o adquirente poderá adentrar na lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do alienante ou cedente, tendo em vista que a possibilidade de ter sua esfera
jurídica afetada pelos efeitos da sentença.
A segunda constitui modalidade obrigatória. Ocorre quando há a morte de qualquer
das partes, caso em que se dará a substituição pelo espólio ou seus sucessores, mediante
suspensão do feito. O feito somente será extinto (sem resolução de mérito) se a ação for
considerada intransmissível.

2. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

As partes são os sujeitos que primitivamente se assentaram num dos polos da relação
jurídica. Após este momento, o ingresso póstumo de qualquer sujeito lhe dará a condição de
terceiro.
Em regra, aqueles que se assentaram primitivamente permanecerão na qualidade de
parte até o final. Entretanto, algumas relações jurídicas se estabelecem como que “em teias”
ou “cadeias”, a ponto da relação processual poder surtir efeitos sobre a esfera jurídica de
quem, a princípio, nada tinha a ver com a relação. É exatamente nestes casos que a ordem
jurídica autorizou o ingresso de sujeitos, os quais ostentam a condição de “terceiros”.
Destarte, terceiro pode ser definido, por exclusão, como aquele que, não revestindo a
qualidade de parte, ingressa no feito em virtude de vínculo jurídico estreito que mantém com a
relação processual deduzida em juízo.
Aludida intervenção poderá se operar de forma voluntária (assistência e amicus curiae)
ou provocada (chamamento ao processo, denunciação da lide, e desconsideração da
personalidade jurídica).

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Urge ressaltar, ainda, que, com exceção da desconsideração da personalidade jurídica,
a intervenção de terceiros não é admitida nos juizados especiais cíveis (artigo 10 da Lei nº
9.099/95), haja vista a necessidade de celeridade.
Passemos a analisar cada uma das modalidades de intervenção.

A) Assistência

→ Aplicação: caberá a assistência todas as vezes que um terceiro tiver interesse


jurídico de que a sentença seja favorável a uma das partes. Nela, o ingresso do terceiro
objetiva a vitória de uma das partes, haja vista que o resultado do julgamento poderá afetar a
sua esfera jurídica (e não meramente econômica!). Imagine, por exemplo, que “A” ingresse
com ação em face de “B” para reaver um imóvel que fora dado em locação. Ocorre que “B” já
havia sublocado esse imóvel para “C”. Perceba que, sendo o pedido julgado procedente, “C”
terá sua esfera jurídica afetada, na medida em que verá extinta a relação jurídica (contrato de
sublocação) que mantém com “B”. Por isso, estará o mesmo autorizado a ingressar no feito, na
qualidade de assistente, para “torcer” pela vitória de “B”.
→ Modalidades: a assistência será simples quando o resultado da sentença puder
afetar a relação jurídica entre assistente e assistido, conforme fora vista no exemplo acima.
Outrossim, será litisconsorcial quando o julgamento puder afetar a relação jurídica
entre o assistente e o adversário do assistido. Na verdade, o assistente poderia ter,
primitivamente, sido parte na relação processual (“litisconsórcio” vem de “consórcio” ou
“agrupamento” de litigantes), não o sendo por circunstância meramente eventual.
Pense, como exemplo, a ação reivindicatória movida por apenas um dos condôminos e
o ingresso posterior de outro condômino; Outro exemplo seria a ação proposta por um dos
sócios visando anular deliberação adotada pela sociedade, ingressando, posteriormente, sócio
que não figurava como parte. Observe que, em todos esses exemplos, o assistente possui
pretensão a ser defendida em juízo (por isso, poderia ter sido parte desde o início, só não o
sendo, pelo fato de ter ingressado no processo posteriormente), diferentemente da modalidade
simples, a qual, apesar do mesmo poder ser prejudicado pelo resultado da decisão, o seu
direito não está “em jogo”.

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→ Regime jurídico: na modalidade simples, o assistente vincula-se às declarações do
assistido. É que, apesar de figurar na demanda, o interesse controvertido é do assistido. Assim,
poderá o assistido reconhecer a procedência do pedido, desistir da ação, efetuar transação,
etc. Fato é que a atuação é de mero auxiliar ou coadjuvante da parte principal.
Vale ressaltar que o assistente não poderá, em outro processo, questionar a justiça da
decisão (art. 123, CPC). O termo “justiça da decisão” se refere aos fundamentos da decisão e
não ao dispositivo (até mesmo porque, não sendo parte, não poderia ser o mesmo atingido
pela coisa julgada). Gonçalves (2011:213) esclarece bem a situação, ao trazer exemplo
ilustrativo do qual ora nos valemos. Imagine que, num acidente automobilístico, o sujeito é
demandado e, como não houve denunciação da lide, o seguro decide entrar na lide para
auxiliar a parte, visto que poderá sofrer os efeitos da sentença. Pois bem, encerrada a
demanda, não poderá o seguro questionar em outra ação a justiça da decisão (existência de
acidente, autoria do réu, culpa da vítima, etc.), podendo, tão somente, questionar outros fatos
que não serviram de base ao decisório primitivo (ausência de vínculo contratual, pois o
segurado teria deixado de pagar o seguro, ou que o contrato não contemplaria aquela espécie
de sinistro, etc.).
Por outro lado, na modalidade litisconsorcial, ambos (assistente e assistido) têm direito
a defender em juízo, motivo pelo qual o assistente não se vincula às declarações emitidas pelo
assistido, de modo que se forma um verdadeiro litisconsórcio. Lembre-se: Os litisconsortes
serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto
no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os
outros, mas os poderão beneficiar (art. 117, CPC).
→ Ingresso do assistente: não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o
pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. Se, no entanto,
qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o
incidente, sem suspensão do processo.

B) Denunciação da lide

→ Aplicação: modalidade de intervenção provocada, prevista nos artigos 125 a 129 do


CPC, mediante a qual se pretende exercer o direito de regresso, seja em virtude de evicção
(ex: ação judicial em que se objetiva coisa anteriormente adquirida a terceiro) ou seja em razão

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de vínculo contratual ou legal de responsabilidade (ex: empregador que é demandado pelos
prejuízos causados por seu obreiro - artigo 932, CC; ou ação movida contra condutor de
veículo, quando o mesmo denuncia à lide o seguro).

ATENÇÃO!
O objetivo do instituto em tela é facilitar o exercício do direito de regresso, nada
impedindo que este seja exercido, também, mediante ação autônoma. Tanto o é, que o
CPC/2015 aponta que o direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a
denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida (art.125, § 1o).

→ Regime jurídico: três observações devem ser feitas. A primeira é que a denunciação
poderá ser efetuada tanto pelo autor da ação originária (na própria inicial, efetuando-se a
citação do denunciado juntamente com a do réu) quanto pelo réu (no prazo para contestar); A
segunda é que, se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da
denunciação da lide. Em terceiro lugar, se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação
não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento
das verbas de sucumbência em favor do denunciado

C) Chamamento ao processo

→ Aplicação: modalidade de intervenção provocada. O chamamento ao processo


ocasiona o alargamento processual, na medida em que se inclui na demanda sujeito que
partilha responsabilidades com o réu da demanda originária.
O CPC contempla o chamamento do afiançado pelo fiador; dos demais fiadores pelo
fiador demandado; ou, finalmente, dos demais devedores solidários quando demandado
apenas um ou alguns deles (art. 130, CPC).
Das hipóteses de cabimento acima listadas, colhe-se um aspecto interessante: perceba
que se pode chamar ao processo sujeitos que sejam “tão responsáveis quanto” ou “mais
responsáveis do que” aquele que efetua o chamamento. Assim, é possível que o fiador chame
ao processo o devedor principal, mas o inverso não é admissível.
Observe que, enquanto na denunciação da lide o cumprimento da obrigação é de
responsabilidade do denunciante da demanda originária (o qual denuncia com o escopo de
valer-se do direito regressivo), no chamamento ao processo a obrigação seria tanto do réu
primitivo quando do terceiro, o qual não fora demandado, por isso que chamado
posteriormente.

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→ Regime jurídico: a citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será
requerida pelo réu na contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena
de ficar sem efeito o chamamento. Se o chamado residir em outra comarca, seção ou
subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de 2 (dois) meses.

Ingressando o terceiro e havendo o alargamento da relação processual, a sentença


que julgar procedente o pedido servirá de título executivo em favor do que satisfizer a dívida
para que execute o coobrigado nos autos do mesmo processo.

D) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica

→ Considerações gerais: Já sabemos que a lei conferiu proteção à formação de


entidades abstratas, denominadas de “pessoas jurídicas”. Elas são constituídas com vistas a
fomentar diversas atividades de interesse social e, como forma de gerar vínculos próprios,
adota-se o princípio da autonomia patrimonial, de modo que a sua personalidade não se
confunde com a personalidade das pessoas naturais que as integram.

Noutros termos, como tais atividades guardam em si riscos inerentes, foi necessário que o
legislador criasse um “manto”, um “véu” protetivo, apto a separar o patrimônio da pessoa
jurídica do patrimônio das pessoas naturais que a constituem.

Ocorre que, muitas vezes, dita proteção acaba por servir de “escudo” para a o desvio de
finalidade entre outras práticas escusas.

Neste diapasão, foi necessário criar um instrumento efetivo para combate a estes abusos,
de modo que o mesmo servisse para atingir os bens de seus sócios integrantes: é a
desconsideração da personalidade jurídica, já prevista no artigo 50 do CC e, agora,
disciplinada pelo CPC/2015.

→ Cabimento: O incidente de desconsideração, que obedecerá aos pressupostos


previstos em lei, será cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.

→ Legitimidade: O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.

→ Formalidades: A instauração do incidente suspenderá o processo e será


imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.

Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica


for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos


para desconsideração da personalidade jurídica.

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Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e
requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Concluída a instrução, se
necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Se a decisão for proferida pelo
relator, cabe agravo interno.

Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em


fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

E) Amicus Curiae
→ Considerações gerais: O amicus curiae, também conhecido como “amigo da corte”
consiste em pessoa, entidade ou órgão que intervém na causa porque possui interesse na
questão jurídica que está sendo deduzida em juízo. A sua atuação se dará exatamente pelo
fato de que aquilo que será decidido no caso concreto poderá surtir efeitos sob algum
seguimento da sociedade.

→ Ingresso: O novo CPC autoriza a utilização deste instituto ao estipular que o juiz ou
o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda
ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação
de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade
adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.

→ Poderes: Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção,


definir os poderes do amicus curiae. O CPC/2015, no entanto, já antecipa que o amicus curiae
não está autorizado a interpor recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração ou
interposição de recurso contra decisão que julgar o incidente de resolução de demandas
repetitivas.

3. DO JUIZ

O juiz é o sujeito imparcial, desinteressado da relação processual, que está acima das
partes e equidistante das mesmas. Quatro aspectos, pertinentes ao juiz, merecem tratamento
especial nesta obra: seus deveres gerais, responsabilidades, atuação e os casos em que está
proibida a sua participação no processo em virtude dos fenômenos de impedimento ou
suspeição.

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A) deveres

O juiz dirigirá o processo, competindo-lhe os seguintes deveres:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento: é o que se chama de “isonomia”.


Como condutor do processo o juiz não pode dar tratamento diferenciado às partes, a não ser
quando a lei previamente estabeleça. É o caso, por exemplo, da concessão de prazos
diferenciados (artigos 180, 183 e 186, CPC).
II - velar pela duração razoável do processo: o juiz deve resolver a lide no lapso
temporal mais breve possível, fazendo com que a prestação jurisdicional seja eficaz. Esse é o
motivo pelo qual poderá o está autorizado a indeferir diligências ou provas inúteis.
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça:
considerando que é o juiz quem preside o feito, deverá o mesmo cuidar para que haja o zelo e
respeito para com a justiça. Assim, deve o juiz punir os atos que vão de encontro à dignidade
da justiça, como, por exemplo, o ato que de embaraço à ordem judicial, punido com multa.
Outro exemplo é visto no artigo 360, CPC. Aqui o legislador apontou que o juiz exerce o poder
de polícia nas audiências, competindo-lhe manter a ordem e o decoro, podendo ordenar que se
retirem da sala os que se comportarem inconvenientemente e até mesmo requisitar, quando
necessário, a força policial.

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-


rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas
ações que tenham por objeto prestação pecuniária: aqui o novo CPC procurou legitimar o
uso, pelo magistrado, de todas as medidas necessárias à efetivação da ordem judicial. Assim,
poderá o magistrado valer-se, por exemplo, de multa diária, remoção de pessoas ou coisas,
impedimento de atividade nociva, etc.

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio


de conciliadores e mediadores judiciais: é o que se chama de “dever de composição”. Por
mais que o juiz tenha a função de resolver lides, é indicado que o mesmo tente sempre,
primeiramente, uma solução por meio da atividade das próprias partes. Com o novo CPC,
estará o mesmo auxiliado por conciliadores e mediadores judiciais.

VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de


prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à
tutela do direito: ressalte-se que, aqui, o magistrado poderá prorrogar os chamados “prazos
dilatórios” e não os peremptórios, os quais são improrrogáveis, como regra.

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VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial,
além da segurança interna dos fóruns e tribunais;

VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para


inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso;

IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de


outros vícios processuais;

X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o


Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a
que se referem as leis 7.347/85 e 8.078/90, para, se for o caso, promover a propositura da
ação coletiva respectiva.

B) responsabilidades

O artigo 143 do CPC estipula que o magistrado responderá por perdas e danos nas
seguintes hipóteses:
I – quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude: perceba
que não existe, em nosso ordenamento jurídico, a possibilidade de responsabilização pessoal
do juiz por ato culposo, mas tão somente doloso ou fraudulento. Isto quer dizer que, se o
jurisdicionado tiver prejuízo em virtude de atividade jurisdicional culposa, poderá apenas voltar-
se com ação de indenização contra o Estado (se a justiça for estadual) ou contra a União
(sendo a justiça federal) e não contra o juiz.
II – quando recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva
ordenar de ofício, ou a requerimento da parte: reputar-se-ão verificadas essas hipóteses
somente depois que a parte, por intermédio do escrivão, requerer ao juiz que determine a
providência e este não lhe atender ao pedido dentro de 10 (dez) dias.

C) atuação processual

O CPC procurou estabelecer diretrizes para a regular atuação do juiz no curso da


relação processual. Eis as regras:
I- indeclinabilidade: o juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna
ou obscuridade no ordenamento jurídico. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas

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legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito
(art. 140, CPC).
II- equidade: é o senso de justiça do juiz. Julgar por equidade seria adotar a solução
que ele - o juiz - acredite ser mais justa. O julgamento por equidade, em regra, não é admitido
em nosso ordenamento pátrio (pois a regra é a de que o juiz julgue com base no que diz a lei).
Excepcionalmente, o juiz decidirá por equidade, desde que a lei lhe permita. É o que ocorre,
por exemplo, com a fixação de honorários advocatícios nas causas de valor inestimável ou
irrisório (artigo 85, par. 8º, CPC).
III- inércia: o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso
conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte (art. 141,
CPC).
IV- simulação: convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor e réu se
serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim proibido por lei, o juiz
proferirá sentença que obste aos objetivos das partes e ainda poderá aplicar, de ofício, as
penalidades por litigância de má-fé. É o que determina o artigo 142, CPC. Imagine, por
exemplo, que marido e mulher utilizaram do processo para simular uma separação com partilha
de bens, com o intuito de fraudar credores. Percebendo a simulação, deverá o juiz extinguir o
feito sem resolução de mérito.
V- impulso oficial: caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as
provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente
protelatórias. A jurisdição necessita de provocação da parte apenas para instaurar e não para
resolver a relação processual. Isto quer dizer que, uma vez provocado, o juiz passará a atuar
por impulso oficial, ou seja, “por dever do cargo”.
VI- princípio da livre convicção motivada (persuasão racional): o juiz apreciará
livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não
alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o
convencimento. Em outros termos, significa dizer que o juiz é “livre” para formar o seu
convencimento com base no meio de prova que desejar (testemunhal, pericial, documental,
etc.), mas, na sentença, ele deverá informar quais foram essas razões, ou seja, deverá dar
publicidade ao raciocínio que utilizou para chegar àquela conclusão. Essa “publicidade” serve
para que a parte inconformada possa conhecer do raciocínio empregado pelo juiz na decisão e,
por consequência, possa “combatê-la” por meio do recurso cabível.

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D) Dos impedimentos e da suspeição

Preocupado em manter a imparcialidade do julgador, o legislador estabeleceu


hipóteses em que estaria vedada a sua atuação. Umas mais graves (impedimento), outras
menos graves (suspeição), mas que, ainda assim, comprometeria a sua isenção.
As hipóteses de impedimento estão listadas no artigo 144, CPC. Nele, o legislador
estabelece que é defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou
voluntário: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como
membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu
em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como
defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou
qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V -
quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no
processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das
partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de
emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte
cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou
afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por
advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.

Como forma de assimilar as hipóteses acima, basta lembrar que elas se resumem a
três situações: a) quando o juiz atua no processo (como parte; ou como sócio ou membro de
direção de pessoa jurídica que figure como parte no processo) ou já atuou no processo
(como juiz, mandatário, perito, órgão do MP ou testemunha); ou b) quando seu cônjuge,
companheiro ou um parente seu, na linha reta ou colateral até o terceiro grau, estiver
atuando no processo (na condição de parte, advogado, defensor ou membro do Ministério
Público). c) quando o juiz ou seu cônjuge, companheiro ou parente possuir relação
jurídica com uma das partes (juiz for empregador ou mantiver relação com instituição de
ensino; a parte é cliente de escritório de advocacia do cônjuge, companheiro ou parente do
juiz).

Fora as hipóteses acima, todas as outras que comprometerem a imparcialidade do juiz


configurarão hipóteses de suspeição. Como não foi possível ao legislador listar todas elas,
preferiu mencionar apenas algumas e, ao final, deixar em aberto, por meio das frases
“interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes” e “poderá, ainda, o juiz
declarar-se suspeito por motivo íntimo”, o que nos leva a contemplar um rol meramente
exemplificativo. Vejamos as hipóteses listadas: I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das

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partes ou de seus advogados; II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na
causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando
qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de
parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento
do processo em favor de qualquer das partes.

Outra forma para conseguir diferenciar as hipóteses de impedimento e suspeição é


verificando que as primeiras são de fácil constatação (é fácil provar que o juiz é parte no
processo ou que mantém parentesco com alguma das partes, por exemplo!), ao passo que as
hipóteses de suspeição são mais difíceis de serem provas (é difícil, por exemplo, provar que o
juiz é amigo íntimo ou inimigo de uma das partes).

No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o


impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual
indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a
alegação e com rol de testemunhas.

Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição, o juiz ordenará


imediatamente a remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário, determinará a
autuação em apartado da petição e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará suas razões,
acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a remessa do
incidente ao tribunal.

Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que, se o incidente
for recebido: a) sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr; b) com efeito suspensivo, o
processo permanecerá suspenso até o julgamento do incidente.

Verificando que a alegação de impedimento ou de suspeição é improcedente, o tribunal


deverá rejeitá-la. Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição,
o tribunal condenará o juiz nas custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o
juiz recorrer da decisão.

Ressalte-se, por fim, que, reconhecido o impedimento ou a suspeição, o tribunal fixará o


momento a partir do qual o juiz não poderia ter atuado.

4. DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, prevista na Carta Maior de 1988 (artigos 127 ao 130-A) com a tripla função de

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defender: 1) a ordem jurídica; 2) o regime democrático; 3) os interesses sociais e individuais
indisponíveis.
A constituição federal trata desta instituição de forma ampla, consagrando regras
acerca de suas funções, princípios informadores, composição, etc.
Considerando, no entanto, o objetivo desta singela obra, é necessário que abordemos
apenas os aspectos relativos à atuação do ministério público no processo civil, cuja disciplina
vem encartada nos artigos 176 a 181 do CPC.
Pela leitura dos referidos artigos, perceberemos que o Ministério Público poderá atuar
na qualidade de parte ou de fiscal da ordem jurídica.

A) O Ministério Público na qualidade de “parte”

Em primeiro lugar, o legislador estabeleceu que o Ministério Público exercerá o direito


de ação nos casos previstos em lei.

Apesar de não ser “pessoa” (mas, sim, “órgão”, sem personalidade jurídica, portanto), o
Ministério público é dotado de “personalidade judiciária” para figurar como parte na defesa de
suas prerrogativas institucionais, previstas em lei. Assim, o Ministério Público está
autorizado a atuar como parte nas ações de investigação de paternidade (Lei nº 8.560/92),
anulação de casamento (artigo 1.549, CC), ação civil pública (Lei nº 7.347/85), ação civil de
improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), etc.

Atuando na qualidade de parte, cabe-lhe, no processo, os mesmos poderes e ônus que


às partes. Isto quer dizer que, além de gozar dos mesmos favores processuais (poder de
recorrer, participar de audiência, juntar rol de testemunhas, impugnar documentos, etc.), o
órgão ministerial também se sujeitará aos mesmos encargos.

Mas não podemos equiparar totalmente o tratamento do representante do ministério


público àquele dado aos particulares. É que, em virtude dos interesses relevantes que defende,
o ministério público deve gozar de certas prerrogativas, não concedidas aos litigantes
particulares. É o que ocorre, por exemplo, com o prazo dobrado para se manifestar-se nos
autos (artigo 180, CPC), isenção no pagamento das custas do recurso (artigo 1.007, parágrafo
1º, CPC) e a intimação pessoal, com vista dos autos (artigo 180, CPC).

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B) O Ministério Público na qualidade de “Fiscal da ordem jurídica”

O ministério público ainda pode intervir na qualidade de fiscal da ordem jurídica. Neste
caso ele será um “zelador” ou “cuidador” do interesse que justificou a sua intervenção.

Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a parte


promover-lhe-á a intimação sob pena de nulidade do processo. O legislador levou tão a sério
esse comando, que estipulou como hipótese ensejadora de ação rescisória a não participação
do representante do Ministério público nos casos em que a lei exija (artigo 967, III, “a”, CPC).

Compete ao Ministério Público intervir:

→ nas causas em que há interesses de incapazes: vale ressaltar que deverá o


Ministério público estar presente no feito, independentemente de estar o incapaz representado
ou assistido pelo respectivo representante legal. Ora, não podemos confundir capacidade de
estar em juízo (realização de atos, pelo representante, em nome do representado, já que este,
por si só, não pode praticar atos) com a intervenção ministerial (fiscalização da preservação
do interesse do incapaz).

→ nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas
demais causas em que há interesse público ou social: o objetivo foi proteger o interesse
público, o qual não se confunde com o mero interesse patrimonial da fazenda pública. O
simples fato de uma pessoa jurídica de direito público figurar como parte numa demanda não
significa que haja interesse público que justifique a intervenção ministerial (artigo 178,
parágrafo único, CPC). É por isso que, em certas ações, o representante do MP se manifesta
no sentido de dizer que não há relevante razão que justifique a sua participação no feito.

Atuando como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Público terá vista dos autos depois
das partes, sendo intimado de todos os atos do processo. Poderá, também, juntar documentos
e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao
descobrimento da verdade.

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C) Responsabilidade

O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no exercício de


suas funções, proceder com dolo ou fraude (artigo 181, CPC).

Perceba que, assim como ocorre com o juiz, não existe, em nosso ordenamento
jurídico, a possibilidade de responsabilização pessoal do representante do Ministério Público
por ato culposo, mas tão somente doloso ou fraudulento. Isto quer dizer que, se o
jurisdicionado tiver prejuízo em virtude de ato culposo do representante do Ministério Público,
poderá apenas voltar-se com ação de indenização contra o Estado (em se tratando do MP
estado) ou contra a União (acaso se trate de MP federal) e não contra o representante do
Ministério Público.

ATOS PROCESSUAIS

Assim como ocorre com os atos jurídicos em geral, os atos processuais são ações
voltadas à produção de feitos jurídicos. Aqui, todavia, o objetivo é produzi-los no âmbito da
relação jurídica processual (endoprocessual).

A) Forma

Os atos processuais não dependem de forma, a não ser quando a lei expressamente
estabelecer. Mas, ainda que estabeleça forma, o ato será realizado se, realizado de outra
maneira, atinja a sua finalidade. É o que chamamos de “princípio da instrumentalidade das
formas”, expresso no artigo 188, CPC.
Em todos os atos do processo é obrigatório o uso da língua portuguesa.
Ressalte-se que o emprego de certas expressões estrangeiras (mutatis mutandis, data
vênia, verbi gratia, etc.) já faz parte do cotidiano forense, não sendo proibida a sua utilização.
O documento redigido em língua estrangeira só poderá ser juntado aos autos quando
devidamente traduzido, na língua nacional, por tradutor juramentado.

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B) Publicidade

Os atos processuais são públicos. Esta publicidade tem um duplo significado:


publicidade das audiências e publicidade quanto à consulta dos autos.
As audiências são públicas, sendo, a princípio, proibidos os julgamentos secretos. O
objetivo é evitar o arbítrio por parte dos julgadores. Assim, qualquer pessoa poderá adentrar e
sair das salas de audiências.
Por outro lado, a consulta dos autos também é pública. Isto significa que qualquer
pessoa poderá se dirigir até um cartório judiciário e manusear os fólios de um processo (a
retirada, no entanto, é facultada apenas às partes).
A regra da publicidade dos autos sofre exceção: é o que chamamos de “segredo de
justiça”. O legislador determinou o processamento de certos feitos em segredo de justiça
preocupado em preservar o interesse público ou a intimidade das partes (que versem sobre
casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e
guarda de crianças e adolescentes; em que constem dados protegidos pelo direito
constitucional à intimidade).
Nestes casos, o direito de consultar os autos e de pedir certidões será restrito às partes
e aos seus advogados. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz
certidão do dispositivo da sentença, bem como do inventário e partilha.

C) Classificação dos atos processuais

A depender do protagonista que realiza o ato, podem eles ser classificados da seguinte
forma:
→ atos das partes: a maior gama dos atos processuais são realizados pelas partes,
as quais são os sujeitos diretamente interessados no feito. Os seus atos podem ser chamados
de “atos de obtenção” ou de “atos de disposição”. Os atos de obtenção são aqueles que visam
a aquisição de vantagem processual (ex: petição inicial, defesa, depoimento pessoal, etc.); por
sua vez, os atos de disposição, que são aqueles pelos quais as partes visam dispor de um
direito que possuem (ex: desistência da ação, reconhecimento da procedência do pedido,
transação, etc.).

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ATENÇÃO!
Os atos processuais realizados pelas partes produzem efeitos de imediato,
independentemente de homologação judicial. Significa dizer que se, por exemplo, o recorrente
renuncia expressamente ao direito de recorrer (ato de disposição), não pode ele,
posteriormente, “voltar atrás” e querer interpor o recurso, pois o ato processual de renúncia
produziu instantaneamente os seus efeitos.
Mas, atenção! A regra cima possui exceção: ela diz respeito à desistência da ação
(art. 200, parágrafo único, CPC). A desistência da ação somente produzirá efeitos depois de
homologada pelo juiz. Assim, por exemplo, se o autor apresentar petição na qual desiste da
ação, enquanto esta não for homologada pelo juiz, poderá ele “voltar atrás” e dar seguimento
ao feito.

→ atos do juiz: três são os pronunciamentos do juiz: sentença, decisão interlocutória e


despacho. A sentença é o ato do juiz que põe fim ao procedimento de conhecimento em
primeiro grau, resolvendo ou não o mérito; a decisão interlocutória é o ato que resolve uma
questão incidente sem, no entanto, pôr fim ao processo (ex: decisão que concede ou nega uma
tutela antecipada; decisão que resolve incidente de contradita de testemunha, acolhendo ou
rejeitando a oitiva da mesma, etc.); o despacho, por sua vez, é o ato do juiz que visa dar mero
seguimento ao feito, sem nada decidir (ex: despacho de citação do réu; despacho para intimar
as partes da designação de audiência, etc.); o acórdão é a decisão proferida pelos tribunais
(chama-se “acórdão” pelo fato de ser tomada por mais de um juiz que “entram em acordo”, ou
seja, eles “acórdão”).
É importante identificar qual a espécie de ato do juiz, na medida em que a espécie
recursal (apelação, agravo, etc.) cabível dependerá da natureza do ato. Ressalte-se que, dos
despachos, não caberá recurso haja vista que o mesmo não possui carga decisória e, por isso,
não poderá prejudicar a parte.
→ atos do escrivão: são aqueles praticados pelo serventuário em questão, com o
devido auxílio de outros serventuários (técnicos judiciários, analistas judiciários ou
escreventes), chamados de “auxiliares da escrivaninha”.

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D) Comunicação dos atos

Para que o procedimento se desenvolva e o processo consiga alcançar o seu objetivo,


é necessário que se estabeleça uma comunicação entre o juízo e os demais sujeitos
processuais (comunicação interna) ou entre o juízo que conduz o feito e outro juízo
colaborador (comunicação externa). No primeiro caso a comunicação é feita por meio da
citação e intimação; no segundo caso, a comunicação é feita por meio das cartas.
→ citação: Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado
para integrar a relação processual (art. 238, CPC)

É nulo o processo em que não tenha havido a citação, ressalvadas as hipóteses de


indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido (art. 239, CPC). É
possível até que o réu não compareça, mas o que não se admite é que o mesmo não tenha
sido citado.
O comparecimento espontâneo do réu supre, entretanto, a ausência de citação. É que,
neste caso, apesar de não ter sido regularmente citado, a finalidade fora alcançada: a ciência,
pelo réu, do ajuizamento da ação. Por isso, fluirá a partir desta data o prazo para apresentação
de contestação ou de embargos à execução.
A citação pode ser real ou ficta.
Será real quando houver a certeza de que dela o destinatário tomou conhecimento. É o
caso da citação pelo correio e por intermédio de oficial de justiça (art. 246, I E II, CPC). Nestas
situações, como há a necessidade de que o réu ponha sua assinatura no aviso de recebimento
(se feita pelo correio) ou cópia do mandado (se feita por oficial de justiça), haverá uma certeza
de que o mesmo tomou conhecimento.
A citação ficta, por sua vez, é aquela em que há uma mera presunção ou ficção de que
o destinatário tomou conhecimento. Aqui se incluem as citações por hora certa (feita quando há
suspeita de ocultação do réu que fora procurado por duas vezes) e por edital (réu incerto ou
que reside em local incerto ou não sabido). Nestas situações, não se tem a certeza de que o
réu tomou conhecimento (pois inexiste qualquer elemento “real” que afirme sua ciência), mas
há tão somente uma presunção criada pela lei.
Visto ser um ato jurídico, a citação é capaz de produzir efeitos. Assim, a citação válida,
ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e
constitui em mora o devedor.

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Ressalte-se que a interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a
citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.
Assim, não será possível, por consequência, decretar a prescrição ou decadência pela demora
da citação, se esta ocorreu em virtude de mecanismos inerentes à justiça (Súmula 106, STJ).

ATENÇÃO!
Não se fará, porém, a citação, salvo para evitar o perecimento do direito: I - de quem
estiver participando de ato de culto religioso; II - de cônjuge, de companheiro ou de qualquer
parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha colateral em segundo grau,
no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes; III - de noivos, nos 3 (três) primeiros dias
seguintes ao casamento; IV - de doente, enquanto grave o seu estado.

→ intimação: é intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos
do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. As intimações efetuam-se de
ofício, em processos pendentes, salvo disposição em contrário.

As citações serão feitas, preferencialmente, por meio eletrônico. Quando não


realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação dos atos no
órgão oficial.

Os advogados poderão requerer que, na intimação a eles dirigida, figure apenas o


nome da sociedade a que pertençam, desde que devidamente registrada na Ordem dos
Advogados do Brasil (art. 272, § 1o, CPC)

Sob pena de nulidade, é indispensável que da publicação constem os nomes das


partes e de seus advogados, com o respectivo número de inscrição na Ordem dos Advogados
do Brasil, ou, se assim requerido, da sociedade de advogados.

Vale ressaltar que a grafia dos nomes das partes não deve conter abreviaturas.

A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, por pessoa
credenciada a pedido do advogado ou da sociedade de advogados, pela Advocacia Pública,
pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público implicará intimação de qualquer decisão
contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação.

Não sendo o caso de intimação eletrônica e na localidade não houver órgão de


publicação oficial, as intimações serão feitas às partes, aos seus representantes legais e aos

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advogados pelo correio ou, se presentes em cartório, diretamente pelo escrivão ou chefe de
secretaria.

A intimação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas


respectivas autarquias e fundações de direito público será realizada perante o órgão de
Advocacia Pública responsável por sua representação judicial.

Far-se-á a intimação por meio de oficial de justiça quando frustrada a realização pelo
correio.

→ Cartas: expedir-se-á carta de ordem quando o juiz for subordinado ao tribunal do


qual dela emanar; carta rogatória, quando dirigida à autoridade judiciária estrangeira; e
precatória quando solicitada a juízo de mesma hierarquia, localizado em diferente comarca.

O artigo 260 do CPC aponta os requisitos das cartas de ordem, precatória e rogatória: I
- a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato; II - o inteiro teor da petição, do
despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado; III - a menção do ato
processual que lhe constitui o objeto; IV - o encerramento com a assinatura do juiz.

A carta tem caráter itinerante, podendo, antes ou depois de lhe ser ordenado o
cumprimento, ser encaminhada a juízo diverso do que dela consta, a fim de se praticar o ato. O
encaminhamento da carta a outro juízo será imediatamente comunicado ao órgão expedidor,
que intimará as partes.

E) Prazos processuais

Sabe-se que o direito não protege os que dormem. Assim, faz-se mister a fixação de
lapso temporal no qual deva ser o ato processual realizado, tudo com o fito de evitar com que o
processo se eternize.

Prazo processual pode ser definido como o lapso temporal no qual o ato deva ser
praticado. Considerando os dispositivos legais pertinentes à matéria, podemos expor a
seguinte classificação:

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→ legais: são aqueles previstos em lei. Em regra, os atos processuais serão
realizados nos prazos previstos em lei (art. 218, CPC). Assim, a resposta do réu será
apresentada em 15 (quinze) dias (art. 335, CPC); o recurso de apelação será interposto no
prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.003, § 5o, CPC) etc.
→ judiciais: são aqueles fixados pelo juiz. Quando a lei não estipular o prazo, o juiz o
fixará, atentando a complexidade do ato (ex: a lei não menciona qual o prazo para a entrega do
laudo pericial, deixando para que o juiz fixe).
Ressalte-se que, não havendo prazo legal ou judicial, o ato a cargo da parte deverá ser
realizado em 5 (cinco) dias (art. 218 § 3o , CPC).
→ peremptórios: são aqueles que não podem sofrer prorrogação. Coincidem com os
prazos legais, os quais, em regra, não sofrerão dilatação.
→ dilatórios: aqueles suscetíveis de redução ou prorrogação mediante convenção das
partes (desde que feito ao juiz antes do vencimento e se funde em motivo legítimo) ou decisão
judicial.

ATENÇÃO!
Nas comarcas de difícil transporte, o juiz poderá prorrogar quaisquer prazos, mas
nunca por mais de dois meses; em caso de calamidade pública, poderá ser excedido o limite
em questão.

→ próprios: são aqueles destinados às partes e cujo descumprimento acarreta ônus,


ou seja, ou posição de desvantagem no processo. Se o réu não contestar dentro do prazo, por
exemplo, sofrerá os efeitos da revelia (presunção de veracidade dos fatos afirmados na petição
inicial).
→ impróprios: são destinados aos juízes e demais protagonistas da jurisdição
(auxiliares e serventuários). É o que ocorre, por exemplo, com o prazo que o juiz dispõe para
emitir um despacho (cinco dias) ou sentença (trinta dias), conforme disposto no artigo 226,
CPC. O descumprimento de um prazo impróprio não acarreta uma posição de desvantagem
por um motivo muitos simples: o magistrado e os serventuários não possuem interesse no feito.

Aspecto interessante, relativamente aos prazos, é o que diz respeito à sua contagem.

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“Início do prazo” não se confunde com “cômputo do prazo”. O “início do prazo” é
marcado por ser o termo inicial fixado para a prática do ato (não levado em consideração na
contagem), ao passo que o “cômputo do prazo” é o primeiro dia levado em consideração à
contagem do prazo. Assim entende o legislador quando o mesmo aponta que “contam-se os
prazos excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do vencimento” (art. 224, CPC). Dessa
forma, se Maria, por exemplo, for intimada de uma decisão numa terça-feira (termo inicial ou
início do prazo), o cômputo somente se dará no primeiro dia útil seguinte (quarta-feira), e
assim, por diante.
Com o CPC/2015, os prazos passam a ser contados em dias úteis, de modo que não
se inclui no cômputo os domingos e feriados (art. 219, CPC).
Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil
seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado
depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica.

ATENÇÃO!
Lembre-se de que certos sujeitos possuem a prerrogativa de prazos mais “elastecidos”.
Assim:

O Ministério Público e as pessoas jurídicas de direito público disporão de prazo


dobrado para manifestação nos autos (arts. 180 e 183, CPC); Quando os litisconsortes
tiverem diferentes procuradores, de diferentes escritórios de advocacia, ser-lhes-ão
contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos
autos (art. 229, CPC); a defensoria pública também terá todos os prazos contados em dobro
(art. 186, CPC).

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FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

Antes de proceder a uma abordagem do procedimento (o passo a passo da relação


processual), cabe, no momento, verificar mais uma temática relevante dentro da teoria geral do
processo: os fenômenos jurídicos que ocasionam a formação, suspensão e extinção da relação
processual.

A) Formação

O processo civil começa por iniciativa da parte (ante a inércia da jurisdição), mas se
desenvolve por impulso oficial. Significa dizer que o processo é formado por iniciativa da parte
(com a entrega da petição inicial), mas, uma vez proposta a ação, a relação processual se
desenvolverá automaticamente pelo juízo (com a citação do réu, intimação do autor para
apresentar a réplica, designação de audiência preliminar, audiência de instrução, etc.).
Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada.
Feita a citação, é defeso (proibido) ao autor modificar o pedido ou a causa de
pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes (estabilização dos
elementos da ação), salvo as substituições permitidas por lei.
A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será permitida
após o saneamento do processo.

ATENÇÃO!
Podemos estabelecer o seguinte esquema de fixação:

# Antes da citação: é possível ao autor alterar ou aditar o pedido;


# Depois da citação: a alteração ou aditamento dependerá de consentimento do réu;
# Após o saneamento: em nenhuma hipótese será permitida a alteração ou
aditamento;

Ressalte-se que, em caso de alteração ou aditamento, será assegurado o contraditório


mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado
o requerimento de prova suplementar (art. 329, II, NCPC).

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B) Suspensão

Uma vez iniciada a relação processual, esta se desenvolverá até a plena realização do
direito. Ocorre que, no curso processo, podem surgir fatos que ocasionem a paralisação da
marcha, do curso da relação processual.
As hipóteses de suspensão do processo foram listadas, de forma exemplificativa, no
artigo 313, CPC. Diz-se “exemplificativas”, pois existem outras situações de suspensão
previstas ao longo do diploma processual.
O processo será suspenso nos seguintes casos:
→ pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu
representante legal ou de seu procurador: no caso de morte ou perda da capacidade
processual de qualquer das partes, proceder-se-á com o pedido de habilitação, o qual será
feito pelo interessado, através do ajuizamento da ação de habilitação, prevista nos artigos 687
a 692, CPC. Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz
determinará a suspensão do processo e observará o seguinte: I - falecido o réu, ordenará a
intimação do autor para que promova a citação do respectivo espólio, de quem for o sucessor
ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6
(seis) meses; II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a
intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, pelos meios
de divulgação que reputar mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão
processual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do
processo sem resolução de mérito.

No caso de morte do procurador (advogado) de qualquer das partes, ainda que


iniciada a audiência de instrução e julgamento, No caso de morte do procurador de qualquer
das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a
parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o
processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o
prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste.

→ por convenção das partes: as partes poderão convencionar a suspensão do


processo, desde que por período que não exceda a 6 (seis) meses, findo o prazo, o escrivão
fará os autos conclusos ao juiz, que ordenará o prosseguimento do processo.

ATENÇÃO!
Perceba que a suspensão do processo por convenção das partes é direito subjetivo
concedido pelo legislador às partes, não estando sujeito a condições.

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→ quando for apresentada arguição de suspeição ou impedimento: a arguição
consiste em um instrumento processual onde a parte se volta contra a pessoa do juiz, alegando
a sua suspeição ou impedimento. (arts. 144 e 145, CPC). A suspensão, nos casos em tela,
ocorre por um motivo lógico: se a parte está se insurgindo contra quem irá conduzir o processo
(juiz), é necessário que o incidente seja julgado antes de se prosseguir com a relação
processual.

→ pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas: conhecido


como “IRDR”, aludido incidente foi trazido pelo novo CPC com o objetivo de promover a
celeridade processual e segurança jurídica, na medida em que possibilita que seja adotada um
tese única para uma multiplicidade de processos que versem sobre uma mesma matéria de
direito no âmbito territorial de dado tribunal. Sobre este incidente teceremos as devidas
considerações no momento oportuno.

→ quando a sentença de mérito depender de uma questão prejudicial: é possível


que o andamento do processo seja paralisado em virtude de pendência a ser solucionada por
outro juízo. É o que se chama de “questão prejudicial”. O CPC afirma que o processo será
suspenso quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa, ou da
declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto principal de
outro processo pendente; b) não puder ser proferida senão depois de verificado determinado
fato, ou de produzida certa prova, requisitada a outro juízo; c) tiver por pressuposto o
julgamento de questão de estado, requerido como declaração incidente.
Observa-se, portanto, que a suspensão se justifica pelo fato do juízo necessitar
aguardar resolução de questão prévia, a qual influencia no teor da questão subordinada. É o
caso, por exemplo, da suspensão de ação civil de indenização em virtude de ato ilícito em
virtude da pendência de ação penal cujo objeto é verificar se o houvera ou não o fato ilícito; ou
da paralisação de uma execução de título judicial em virtude da existência de ação rescisória
cujo objeto é justamente rescindir a sentença que serve de base àquela execução.
Ressalte-se que, em todos os casos, o período de suspensão nunca poderá exceder 1
(um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo.

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Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato delituoso,
o juiz pode determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal. Se a
ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado da intimação do ato de
suspensão, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a
questão prévia. Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo máximo de 1
(um) ano, ao final do qual cessará o efeito e o juízo cível decidirá a questão prejudicial.

→ por motivo de força maior: é o acontecimento inesperado, consistente em


calamidade pública (tal como enchentes, deslizamento de barreiras, terremoto, etc.) ou outro
fato relevante (greve, por exemplo).

→ quando a advogada tornar-se mãe ou o advogado tornar-se pai: a Lei 13.363/16


acrescentou mais uma hipótese de suspensão do processo, a saber, quando a única advogada
da parte tornar-se mãe ou o único advogado tornar-se pai, independente de tratar-se de filiação
natural ou por adoção. Para que haja a suspensão do feito é necessário que seja efetuada a
comprovação da maternidade ou paternidade, mediante certidão de nascimento ou documento
similar que comprove a realização do parto, ou o termo de adoção. O prazo de suspensão
processual será de 30 (trinta) dias em se tratando de maternidade ou de 08 (oito) dias em se
tratando de paternidade, contados do parto ou da concessão da adoção.

Vistas as hipóteses de suspensão, é mister ressaltar, que, durante a suspensão, é


defeso praticar qualquer ato processual; poderá o juiz, todavia, determinar a realização de atos
urgentes, a fim de evitar dano irreparável.

C) Extinção

“Extinguir” significa “finalizar” o processo. Até o ano de 2005, o CPC de 1973 utilizava
das expressões “extinção do processo sem julgamento do mérito” (artigo 267) e “extinção do
processo com julgamento do mérito” (artigo 269) para indicar a finalização da relação
processual.
É que, após a sentença (ato que punha fim ao processo), a execução seria instaurada
mediante uma nova relação processual, agora denominada de “processo de execução”, ou

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seja, tínhamos dois processos: o processo de conhecimento (que se extinguia com a sentença)
e processo de execução.
Ocorre que, com o advento da Lei nº 11.232/05, o legislador dispensou a instauração
de uma nova relação processual executiva quando a sentença não fosse cumprida, de modo
que os atos executivos passaram a ser realizados no bojo do mesmo processo (o processo
passou a ser “sincrético”, composto de fase cognitiva e de fase de cumprimento de sentença).
Perceba, portanto, que, com a nova sistemática, o conceito de sentença necessitou ser
alterado, haja vista que o processo não mais seria “extinto” com a mesma, prosseguindo-se os
atos executivos nos próprios autos em que a fora proferida a decisão.
É por isso que a expressão “extinção do processo com julgamento do mérito”, contida
no artigo 269 do CPC de 1973, passou a ser substituída pela expressão “haverá resolução de
mérito”. Tal mudança foi reproduzida no CPC de 2015.
O Código de Processo Civil de 2015, em seu artigo 485, aponta as situações de
extinção do processo sem resolução de mérito:

→ quando o juiz indeferir a petição inicial: quando houver um vício insanável, outra
alternativa não restará ao julgador, a não ser indeferir a petição inicial. As hipóteses de
indeferimento estão listadas no artigo 330 do NCPC: I - quando for inepta; II - quando a parte
for manifestamente ilegítima; III - quando o autor carecer de interesse processual; IV - quando
o advogado, que não informou o endereço em que receberia intimações, não cumpriu com a
determinação judicial de efetuar a emenda da petição inicial em 5 (cinco) dias. V- quando o
autor não emendar a petição inicial nos casos legais

ATENÇÃO!

Muitas vezes há dificuldade de identificar quando uma petição inicial é inepta (inciso I).
Petição inepta é o mesmo que “inapta”, “inabilitada” “defeituosa”, que não pode produzir
efeitos.

Uma regrinha bem simples, útil para identificar se uma petição é inepta, é verificando
se o “problema” está relacionado ao pedido (lembre-se de que são três os elementos da ação:
partes, causa de pedir e pedido).

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Assim, perceba os casos de inépcia, listados no parágrafo único do artigo 330 do CPC: I –
quando lhe faltar pedido (não existe pedido!) ou causa de pedir (o defeito também estaria no
pedido, pois o mesmo estaria sendo formulado sem uma causa de pedir); II – quando da
narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão (o pedido está sendo formulado sem
que a causa antecedente seja lógica); III - contiver pedidos incompatíveis entre si (formulação
de pedidos que se anulam. É o caso, por exemplo, do autor que formula dois pedidos em sua
ação: o de declaração de nulidade de contrato e o de cumprimento do mesmo contrato pelo
réu); IV - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o
pedido genérico.

Veja, portanto, que em todos os casos, o “problema” diz respeito ao pedido.

→ quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes: o
juiz ordenará o arquivamento dos autos, declarando a extinção do processo, se a parte,
intimada pessoalmente, não suprir a falta em 5 (cinco) dias.
→ quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias: o juiz ordenará o arquivamento dos autos,
declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 5
(cinco) dias. Ressalte-se que, oferecida a contestação, a extinção dependerá de requerimento
a ser efetuado pelo réu, a teor do Súmula 240, STJ e do artigo. 485, § 6º, CPC
→ quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo: sendo matéria de ordem pública, pode a
mesma ser, inclusive, declarada de ofício pelo magistrado. A respeito dos pressupostos
processuais, vide parte III, Seção I, item 2, supra.
→ quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa
julgada (pressupostos processuais negativos): são fatos impeditivos ao regular
desenvolvimento da relação processual. Ocorrerá perempção quando o autor, por três vezes,
der causa à extinção do processo mediante abandono; a litispendência ocorrerá quando o
autor repetir ação que se encontra em curso; outrossim, haverá coisa julgada quando se repetir
ação anteriormente julgada e da qual não caiba mais recurso.
→ quando verificada a ausência de legitimidade ou interesse processual: as
condições da ação também são matéria de ordem pública e que, se não estiverem presentes,
ocasionam a extinção do processo sem resolução de mérito. A respeitos das condições da
ação, confira as considerações feitas na parte II, item 4 desta obra.
→ pela convenção de arbitragem: é fato impeditivo que, se presente, provoca a
extinção processual. Se duas pessoas, ao celebrarem determinado negócio jurídico,

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estipularam que um árbitro resolveria eventual conflito, não pode uma delas, uma vez instalada
a controvérsia, dirigir-se ao judiciário em virtude de fato impeditivo existente (convenção de
arbitragem).
→ quando o autor desistir da ação: aqui, três nuances são muito importantes e
precisam ser verificadas:
A primeira, no sentido de que desistência da ação (modalidade de extinção do
processo sem resolução do mérito) não se confunde com renúncia ao direito em que se funda
a ação (modalidade de extinção do processo com resolução de mérito).
A segunda, é que, apresentada a contestação, o autor não poderá, sem o
consentimento do réu, desistir da ação (art. 485, § 4o, CPC).
A terceira, é que a desistência da ação pode ser apresentada até a sentença (art. 485,
§ 5o, CPC).

→ em caso de morte da parte, quando a ação for considerada intransmissível por


disposição legal: viu-se que, com a morte da parte, ocorrerá a sucessão da mesma pelos
seus herdeiros. Ocorre, entretanto, que existem situações que o direito contido na ação é
considerado intransmissível, por ser ele personalíssimo. Imagine, por exemplo, uma ação
movida por João, servidor público, em face do estado, com o objetivo de anular ato
administrativo abusivo que ordenou a sua transferência para localidade distante de sua
residência. Se, no curso da demanda, João viesse a falecer, o processo seria extinto sem
resolução de mérito, por ser o direito contido na ação considerado intransmissível.

As hipóteses de extinção do processo com resolução de mérito estão previstas no


artigo 487 do CPC (quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do feito na ação ou reconvenção;
quando a parte reconhecer a procedência do pedido feito na ação ou reconvenção; quando o
juiz homologar a transação; quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; quando a
parte renunciar ao direito sobre que se funda a ação ou reconvenção).
Aqui vai uma dica bem simples para identificar todas elas: existe sempre um
responsável pela finalização do processo: o juiz, o autor, o réu, as partes ou o tempo.
Assim, temos: a) quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido feito na ação ou
reconvenção (iniciativa do juiz); b) quando o juiz homologar a renúncia à pretensão formulada
na ação ou reconvenção (iniciativa do autor ou réu); c) quando o juiz homologar o

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reconhecimento da procedência do pedido feito na ação ou reconvenção (iniciativa do autor ou
réu); d) quando o juiz homologar a transação (iniciativa de ambas as partes); quando o juiz
pronunciar a decadência ou a prescrição (iniciativa do tempo).

DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

O Estado realiza a jurisdição sob duas formas: pela cognição, quando o magistrado,
diante dos elementos trazidos aos autos pelas partes (provas), faz a concreção da norma ao
caso abstrato, dizendo a vontade da lei; e pela execução, quando torna efetiva, vale dizer,
real, esta mesma vontade.
Acontece que a prestação não surge instantaneamente, sendo certo que o adequado
decisório apenas se dará após uma longa sequência de atos que levarão ao convencimento do
juiz.
E é justamente nesse interregno (demora-tempo) que o estado de pessoas e bens
pode sofrer mutações (desvio, deterioração, alienação etc.) que, se não obstadas, levam à
inutilização do provimento jurisdicional.
De nada adiantaria determinar a partilha de bens em divórcio se um dos cônjuges já
tivesse dilapidado os bens ao tempo da prolação da sentença; ou determinar que o devedor
pagasse dívida quando este, no curso do processo de conhecimento, já tivesse dissipado os
bens que possuía.
Tanto pessoas quanto os bens podem, em virtude da demora, enfrentar situação de
risco de dano, por conduta de um dos litigantes ou por evento ocasional, casos que poderão
comprometer o resultado útil do processo. Para a proteção provisória de todos eles tem
cabimento a atuação da tutela de urgência de natureza cautelar.
Existem situações, entretanto, em que a urgência vai mais além, justificando a entrega
imediata do próprio objeto da relação litigiosa, sob pena de perecimento do direito postulado
pela parte: são os casos de tutela de urgência de natureza antecipada.
Imagine, por exemplo, que o plano de saúde negasse autorização de cirurgia a
determinado paciente, levando-o a ajuizar ação de obrigação de fazer. Sendo a cirurgia de
urgência, não poderia o autor esperar todo o transcorrer da relação processual para só ao final
poder submeter-se a intervenção cirúrgica. Assim, seria necessária providência de urgência
que possibilite o gozo imediato do próprio objeto do litígio (no caso, a obrigação de fazer).

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Dentro de uma perspectiva do amplo acesso, o objetivo da jurisdição é conceder a
solução “justa”, ou seja, apta a produzir efeitos que restabeleça, em efetivo, a ordem jurídica
abalada.
O novo CPC tratou das tutelas de urgência (de natureza cautelar e antecipada) em sua
parte Geral, Livro V.
Passaremos, nas próximas linhas, a tecer considerações que julgamos relevantes
acerca dos institutos em tela.

ASPECTOS COMUNS ÀS TUTELAS DE URGÊNCIA

A) Considerações gerais

A tutela de urgência de natureza cautelar é baseada na necessidade de prevenir


situações de perigo de dano ou risco o resultado útil do processo. Ressalte-se que a mesma
não tem caráter satisfativo, uma vez que não chega a antecipar o objeto do litígio.
No sistema do CPC de 1973 a tutela cautelar era fornecida através de um processo
autônomo, de natureza cautelar. Assim, ele era apresentado como um terceiro gênero de
manifestação da jurisdição, ao lado dos processos de cognição e de execução. A postulação
de uma medida de urgência de natureza cautelar demandava a apresentação de petição inicial,
endereçada ao juízo vinculado ao processo principal, com a necessidade de distribuição e
recolhimento das respectivas custas processuais.
Visando promover a celeridade e simplificação dos procedimentos, o CPC de 2015
passa a possibilitar a concessão de tutela de urgência de natureza cautelar dentro da mesma
relação processual que visa preservar, sem que haja, portanto, a necessidade de instaurar
novo processo, com os pagamento das respectivas custas.
É o que chamamos de “sincretismo processual”. Portanto, diante da sistemática atual,
é possível que, dentro de uma mesma relação processual, tenhamos providências de natureza
cognitiva, executiva ou cautelar.
Por outro lado, a tutela antecipada é medida de urgência de caráter satisfativo que
visa conferir à parte o gozo imediato e provisório do objeto perseguido na demanda.

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B) Requisitos

Considerando que as medidas de urgência têm caráter, muitas vezes, restritivo de


direitos, não podem ser as mesmas concedidas sem que estejam preenchidos certos
requisitos.
Destarte, é mister que haja a presença de dois requisitos, previstos no artigo 300 do
CPC, a saber: probabilidade do direito (conhecido tradicionalmente como fumus boni iuris) e o
perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (conhecido como periculum in mora).
A probabilidade do direito pode ser traduzida como “aparência do bom direito”. Aqui
o direito da parte requerente necessita ser “plausível”, “provável”, “verossímil”.
Destarte, o magistrado deverá verificar, através das provas disponíveis, se existem
resquícios de um direito merecedor de proteção.
O periculum in mora é requisito que se relaciona ao risco efetivo de que a ausência
da medida cause dano ou comprometa o resultado útil do processo. A parte não pode
simplesmente alegar um risco. Ela tem de provar a sua alegação. O risco, ademais, tem de ser
relevante. A mera suposição de risco ou ameaça é pouco para o deferimento da medida.
Preenchidos os requisitos legais, a tutela será concedida através de fundamentação
adequada.
Assim, cabe ao magistrado apontar, de forma clara e precisa, as razões do seu
convencimento.

C) Características

As tutelas de urgência possuem as seguintes características:

→ Instrumentalidade: a instrumentalidade decorre do fato das tutelas servirem à


efetividade do processo.
O objetivo do processo é o acertamento do conflito submetido à apreciação judicial. O
mais comum é que o processo seja manejado por quem acha que teve um direito violado. A
ação, então, é para que aquele que, em tese, violou o direito da parte, submeta-se a uma
pretensão, efetuando a devida reparação.

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Ocorre que, no mais das vezes, pessoas e coisas sofrem alterações no seu estado em
função do decurso natural do tempo ou por uma ação voluntária de outrem. Todas as vezes
que a alteração no estado das pessoas e das coisas puder causar dano ou risco ao resultado
útil do processo, é possível o manejo das medidas de urgência.
A efetividade do processo e dos direitos é uma das maiores preocupações dos que
operam o direito na atualidade. O processo é efetivo quando a atividade jurisdicional é
transformada em um resultado prático e útil em proveito daquele que tinha o direito.
É neste sentido que se diz que as medidas de urgência têm caráter acessório,
exatamente pelo fato de existem em função do processo ao qual visam tutelar.

→ Revogabilidade: Não obstante tenham sido deferidas, as medidas de urgência


podem ser revogadas a qualquer tempo, quando não estiverem presentes os requisitos que as
ensejaram, a teor do disposto no artigo 296 do CPC.
Imaginemos que numa ação de divórcio, a esposa, com receio de ver frustrada uma
futura partilha de bens, tenha requerido uma tutela de urgência cautelar de sequestro dos bens
do casal, sob a alegação de que o esposo estaria vendendo os bens. O magistrado deferiu o
pedido. Ocorre que, posteriormente, o marido demonstra que, na verdade, apenas teria
vendido um bem do casal que se encontrava em péssimo estado de conservação e o dinheiro
da alienação teria sido depositado numa conta conjunta do casal. Verificando tal fato, por
óbvio, não haveria mais razões para tal medida permanecer perante o mundo jurídico, haja
vista que o perigo de dano restaria ausente. Destarte, a medida de urgência mereceria
revogação.
Ressalte-se que, consoante os termos do artigo 298 do CPC, na decisão que revogar a
medida de urgência, o juiz deverá fundamentar o seu convencimento de modo claro e preciso.

→ Provisoriedade: A medida de urgência de natureza cautelar, ao lado da medida de


urgência de natureza antecipada, estão inseridas como espécies de “tutela provisória”.
Significa dizer que a medida já nasce com a vocação para sobreviver por tempo
delimitado, precisamente entre a sua efetivação e o fim do processo em que a mesma fora
deferida.
Assim, por exemplo, uma medida cautelar de arresto futuramente desaparecerá e será
substituída pela penhora. Da mesma forma, uma medida de natureza antecipada que tenha

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fixado uma obrigação de fazer será futuramente substituída por uma decisão definitiva que
julgar o mérito da demanda.

→ Sumariedade: decorrente do caráter perfunctório, superficial, do juízo de cognição


exercido. Aqui o magistrado decide com base num juízo de mera probabilidade (fumus boni
iuris). Tanto o é que, após o transcorrer da demanda e a coleta exaustiva dos elementos de
prova, a medida de urgência poderá ser revogada.

D) Distinção

A tutela de urgência cautelar não tem o escopo de satisfazer antecipadamente o direito


material posto em questão na causa principal. O que se obtém na tutela de urgência de
natureza cautelar é tão somente uma prevenção contra risco de dano imediato que afeta
interesse litigioso da parte e que compromete a eficácia da tutela definitiva a ser outorgada no
processo de mérito.
Já a tutela de urgência de natureza antecipada busca conceder à parte o gozo
provisório e imediato do próprio direito perseguido.
Assim, enquanto a tutela cautelar visa apenas assegurar o objeto do processo, a tutela
de urgência antecipada concede, de imediato, tal objeto. Noutros termos, a tutela cautelar
“assegura para, ao final, “satisfazer”, ao passo que a tutela antecipada “satisfaz” para, ao final,
“assegurar”.

E) Responsabilidade no manejo da medida

Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo


que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se: I - a sentença lhe for
desfavorável; II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios
necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; III - ocorrer a cessação da
eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou
prescrição da pretensão do autor.
A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre
que possível.

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TUTELA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR

Conforme verificado nas linhas anteriores, a tutela de urgência de natureza cautelar


objetiva resguardar pessoas ou coisas, com a finalidade de assegurar o resultado útil do
processo.

Cabe-nos, agora, analisar o procedimento para o seu deferimento, seja em caráter


incidental, seja em caráter preparatório.

a) Tutela de natureza cautelar requerida em caráter incidental

Com o CPC de 2015, a tutela de natureza cautelar, quando já existente processo em


curso, passa a ser requerida através de simples pedido no processo principal, dispensado o
recolhimento de custas ou abertura de nova relação processual.

A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto,


sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer
outra medida idônea para asseguração do direito.

b) Tutela de natureza cautelar requerida em caráter antecedente

O deferimento da tutela de urgência de natureza cautelar, quando requerida em caráter


antecedente, deverá atender às seguintes regras:

→ Petição inicial: a petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em
caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se
objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

→ Citação: o réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e indicar
as provas que pretende produzir.

→ Posturas do requerido: não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor
presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco)
dias. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o procedimento comum.

→ Formulação do pedido principal: efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de


ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos
mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo do
adiantamento de novas custas processuais.

A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do pedido principal.

Vale ressaltar que o pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de
tutela cautelar (art. 308, § 1o, CPC).

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O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o pedido principal,
salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou de prescrição.

→ Adoção do rito comum: apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas


para a audiência de conciliação ou de mediação, por seus advogados ou pessoalmente, sem
necessidade de nova citação do réu.

Destarte, não havendo autocomposição, seguir-se-á o prazo para contestação e demais


termos.

→ Cessação da eficácia da medida cautelar: Cessa a eficácia da tutela concedida em


caráter antecedente nas hipóteses do artigo 309, NCPC, a saber: I - o autor não deduzir o
pedido principal no prazo legal; II - não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias; III - o juiz julgar
improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de
mérito.

Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à parte renovar o
pedido, salvo sob novo fundamento.

TUTELA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA

Já verificamos que a tutela de urgência de natureza antecipada visa conceder, de


imediato, à parte, o gozo provisório da tutela pretendida no pedido inicial.

Cabe-nos, nas próximas linhas, analisar o procedimento para o seu deferimento, seja em
caráter incidental, seja em caráter preparatório.

a) Tutela de natureza antecipada requerida em caráter incidental

Assim como ocorre com a medida de natureza cautelar, a tutela de urgência de natureza
antecipada em caráter incidental será pleiteada através de simples requerimento, desde que
preenchidos os requisitos legais. De igual modo, aqui não haverá necessidade de recolhimento
de custas adicionais.

b) Tutela de natureza antecipada requerida em caráter antecedente

Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, o procedimento


observará o seguinte:

→ petição inicial: pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do


pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de
dano ou do risco ao resultado útil do processo.

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Na petição inicial, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final.

→ indeferimento da tutela: caso entenda que não há elementos para a concessão de


tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da petição inicial em até 5
(cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de mérito.

→ deferimento da tutela e aditamento: concedida a tutela antecipada, o autor deverá


aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de novos
documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo
maior que o juiz fixar. Não realizado o aditamento, o processo será extinto sem resolução do
mérito.

Vale salientar que o aditamento dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas
custas processuais.

→ procedimento comum: o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação


ou de mediação. Não havendo autocomposição, seguir-se-á o procedimento, com a
apresentação da contestação e demais termos.

→ estabilização da medida de urgência de natureza antecipada: A tutela antecipada


torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso, caso em
que o processo será extinto.

Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar
a tutela antecipada estabilizada. A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não
revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida na ação ajuizada.

Para instruir a petição inicial da ação, qualquer das partes poderá requerer o
desarquivamento dos autos em que foi concedida a medida, devendo a demanda ser
distribuída por dependência perante o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.

O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada extingue-se após


2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo.

A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos
respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar, proferida em
ação ajuizada por uma das partes.

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DA TUTELA DE EVIDÊNCIA

Sabemos que, geralmente, é o autor que acaba sofrendo o ônus da demora do processo,
sendo certo que somente alcançará aquilo que postula em juízo ao final do trâmite processual,
máxime com o trânsito em julgado da decisão ou, ao menos, com decisão que não esteja
sujeita a recurso com efeito suspensivo.

Ocorre, todavia, que existem situações onde o direito da parte é tão evidente que seria
injusto fazê-la esperar por todo o trâmite processual para que a mesma viesse gozar o bem da
vida.

É neste contexto que surge a tutela de evidência como modalidade de tutela provisória
que consiste na antecipação do objeto da demanda, independentemente da existência de
urgência.

As situações estão listadas no artigo 311, CPC, senão vejamos:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito


protelatório da parte: aqui a doutrina costuma denominar como “tutela de evidência punitiva”,
uma vez que o motivo de sua concessão é exatamente um comportamento “reprovável” por
parte do réu. É o que ocorre, por exemplo, quando o réu é contumaz ligante, e se utiliza de
defesas “padrão”, muitas vezes impugnando pedidos que, sequer, foram formulados pelos
autor, tudo no intuito de protelar o feito.

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e


houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante: nesta
hipótese, a ideia é que o magistrado possa conceder o gozo provisório à parte do direito
“pacificado” no âmbito dos tribunais, seja através de súmula ou de julgamento de casos
repetitivos.

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do


contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto
custodiado, sob cominação de multa: a hipótese trata da chamada “ação de depósito”, a
qual era disciplinada como procedimento especial no CPC de 1973. O atual CPC deixou de
discipliná-la como ação de rito especial (passando a ser, por consequência, ação de rito
comum), mas assegurou o deferimento imediato de medida provisória que assegurasse ao
autor reaver a coisa depositada.

IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida
razoável: caso a petição inicial esteja devidamente instruída com prova suficiente dos fatos
constitutivos do autor, e o réu não apresente prova que seja capaz de colocar o magistrado
diante de dúvida razoável, poderá haver o deferimento da tutela de evidência.

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Considerando que as hipóteses descritas nos itens I e IV pressupõem a existência de um
comportamento por parte do réu, a tutela de evidência somente poderá ser deferida
“liminarmente” sem a oitiva do réu nas hipóteses dos incisos II e III.

PROCESSO DE CONHECIMENTO

Sabe-se que a jurisdição se vale do processo como instrumento para o cumprimento


de seu mister, que é dizer o direito (juris dictio).
O processo, assim, pode ser definido como o instrumento utilizado pela jurisdição para
a resolução dos conflitos de interesses.
O procedimento, por sua vez, é a forma pela qual o processo se exterioriza (modo de
ser do processo). Em outros termos, é o caminho percorrido, o encadeamento de atos que se
ligam e sucedem temporalmente uns aos outros, com vistas a um resultado, que é fazer justiça
entre as partes.
O processo se distingue do procedimento, na medida em que este último indica o
aspecto puramente formal e exterior do fenômeno processual, ao passo que a noção de
processo é essencialmente finalística (resolver conflitos).
Assim, o processo é o instrumento pelo qual se exerce a jurisdição; o procedimento
representa o meio extrínseco pelo qual ele se opera.
O procedimento pode ser comum ou especial. Os procedimentos especiais estão
previstos tanto no CPC (ação de consignação em pagamento, possessórias, monitória, etc.)
quanto em leis extravagantes (mandado de segurança, juizados especiais, etc.).

PROCEDIMENTO COMUM

O CPC de 2015 deixa de lado a divisão do procedimento comum existente no CPC de


1973 (ordinário e sumário) para tratar de um único procedimento, denominado simplesmente
de “comum”, nos artigos 319 e seguintes.

A dinâmica passa a ser a seguinte:

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1. PETIÇÃO INICIAL

A) Requisitos

Para que produza efeitos, é necessário que a mesma atenda aos requisitos legais,
previstos nos artigos 319 e 320 do CPC:

→ o juízo a que é dirigida: a petição será endereça à autoridade judiciária


competente, atentando-se às regras de competência.

→ II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a


profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e
do réu: é necessário delimitar os sujeitos da lide, os quais constituem um dos elementos da
ação (partes). Perceba que será necessária a indicação do CPF ou CNPJ, bem como dos
endereços eletrônicos. A exigência de CPF e CNPJ certamente é feita com vistas a facilitar
futuro procedimento executivo em face de devedor. Já o endereço eletrônico é requisito
relacionado ao modelo contemporâneo de processo informatizado, trazido desde a lei
11.419/2006.

Ressalte-se que, caso não disponha das informações relativas à qualificação das partes,
poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção.
Ademais, a petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta dessas informações, for
possível a citação do réu.

→ os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido: é a causa de pedir. São as


razões de fato e de direito que dão suporte ao pedido.

→ o pedido, com as suas especificações: requisito, a nosso ver, de maior


relevância, motivo pelo qual faremos, à frente, maiores considerações.

→ o valor da causa: a toda causa deve ser atribuído um valor, ainda que não possua
conteúdo econômico. O valor da causa corresponderá ao benefício pretendido pelo autor.
Ressalte-se que aqui se fala em “benefício pretendido” e não em “benefício devido”. Muitos
réus têm levantado impugnação aos valores atribuídos às causas sob a alegação de que o
autor não possuiria o direito a que se referia. Perceba que essa discussão diz respeito apenas
ao mérito da causa, não sendo o momento para haver discussão desta monta. Portanto o valor
deve corresponder ao benefício “pretendido” pelo autor. O artigo 292 do CPC estabelece as
diretrizes para calcular-se o valor da causa: I - na ação de cobrança de dívida, a soma

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monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se
houver, até a data de propositura da ação; II - na ação que tiver por objeto a existência, a
validade, o cumprimento, a modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o
valor do ato ou o de sua parte controvertida; III - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze)
prestações mensais pedidas pelo autor; IV - na ação de divisão, de demarcação e de
reivindicação, o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido; V - na ação
indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido; VI - na ação em que há
cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; VII - na
ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor; VIII - na ação em que houver
pedido subsidiário, o valor do pedido principal.

O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não
corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo
autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes.

Ressalte-se que o réu também poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor


atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se
for o caso, a complementação das custas.

→ as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados:
a petição inicial trará consigo as provas documentais. As demais serão produzidas por ocasião
da instrução, motivo pelo qual o autor deve apontar, na inicial, aquelas que serão apresentadas
oportunamente.

→ a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de


mediação: O CPC aposta nestes instrumentos de resolução de conflitos, visando implementar
a celeridade processual. Aludida audiência somente deixará de ser realizada se o litigio não
admitir autocomposição ou se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na
composição.

→ documentos indispensáveis: além dos requisitos acima (intrínsecos), a petição


deverá vir acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da demanda (requisitos
extrínsecos). Assim, por exemplo, em uma ação de alimentos, a petição inicial estará
acompanhada da certidão de nascimento, com o objetivo de provar o parentesco que justifique

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a concessão dos alimentos; ou em uma ação possessória, a petição deverá vir acompanhada
de documento que comprove a existência da posse.

B) Pedido

A sua importância se justifica no fato de que ele (o pedido) tem a função de delimitar a
atividade jurisdicional, de modo que, uma vez proposta a ação, não pode o juiz julgar fora do
pedido (extra petita), além daquilo que fora pedido (ultra petita) ou deixar de se pronunciar
sobre o pedido (citra ou infra petita).
Finalmente, alguns aspectos de grande relevância referente ao pedido devem ser
analisados.
O primeiro deles diz respeito à cumulação de pedidos.
Pois bem, é possível que a petição inicial contenha mais de um pedido. A dita
cumulação pode se dar de forma:
# simples: quando houver a possibilidade de se formular pedidos que podem ser
atendidos de forma englobada ou somada, de modo que o autor pretenda obter sucesso em
todos eles (art. 327, CPC). É o que ocorre com a ação de indenização por danos materiais e
morais.
# sucessiva: quando o autor, de igual modo, formular mais de um pedido, pretendendo
o êxito de todos eles. O que diferencia a cumulação simples da sucessiva é que, nesta, o
resultado da análise de um pedido repercutirá na do outro. É o que acontece na ação de
investigação de paternidade c/c alimentos ou na ação de investigação de paternidade c/c
petição de herança, por exemplo. Perceba que, em ambos os casos, a concessão dos
alimentos ou direito à herança dependerá da procedência do pedido de reconhecimento de
paternidade.
# subsidiária ou eventual: quando formulado mais de um pedido para que o juiz, não
podendo conceder o anterior, conheça do posterior (art. 326, CPC). É o que ocorre, por
exemplo, com a ação ordinária movida contra companhia aérea para o cumprimento de
obrigação de fazer (entrega de mala extraviada) ou pagamento do correspondente em perdas e
danos.
# alternativa: quando a obrigação puder ser satisfeita por mais de uma forma. É o que
ocorre com ação ordinária ajuizada contra casa de eventos que perturba vizinho. Formulam-se
dois pedidos: que a ré seja condenada a se abster de produzir barulhos a partir de determinado

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horário ou que proceda com a instalação de acústica que impeça ruídos. O ponto marcante e
que diferencia a cumulação subsidiária da cumulação alternativa é que, aqui, não há ordem de
prioridade entre os pedidos. Na cumulação alternativa, o que o autor busca é a realização
da obrigação, não importando como.
O segundo aspecto importante, relativamente ao pedido, é o que ele deve ser certo e
determinado.
Significa que, além de delimitar a natureza do pedido (o que é devido ao autor, ou seja,
o an debeatur), deve o autor especificar o montante do pedido (o quanto devido, ou seja, o
quantum debeatur). Assim, em uma ação ordinária, além do autor indicar a natureza do seu
pedido (indenização por danos materiais, por exemplo), é necessário que ele informe, também,
o quanto lhe é devido (quantum debeatur).
O legislador possibilita, excepcionalmente, que o autor formule o chamado “pedido
genérico”. Significa dizer que existem situações em que, embora seja possível ao autor
informar o que lhe é devido (an debeatur), não tem ele condições de apontar o quanto lhe é
devido (quantum debeatur). É permitido formular pedido genérico nos seguintes casos:
# nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens
demandados: ações universais são aquelas em que se demandam uma universalidade ou
“coletividades” de bens ou direitos. É o que ocorre com o filho que ajuíza ação de petição de
herança, mas não tem conhecimento da totalidade dos bens existentes no patrimônio do autor
da herança. Ele faz um pedido certo, dizendo o que lhe é devido (herança), mas o pedido não
é determinado, pois ele não tem condições de determinar o quanto a que tem direito.
# quando não for possível determinar, de modo definitivo, as consequências do
ato ou do fato ilícito: é possível que as consequências de um ato ilícito causado ao autor
ainda não tenha cessado quando do ajuizamento da ação. É o que ocorre com alguém que, ao
ajuizar ação de indenização por danos materiais, ainda está em processo de recuperação
(pagando diárias hospitalares, fisioterapias, medicamentos, etc.). Neste caso, apesar de
apontar na inicial o an debeatur, ou seja, o que lhe é devido (indenização por danos materiais),
não tem o autor como apontar o quantum debeatur, ou seja, o quanto devido, haja vista que as
consequências danosas ainda não cessaram.
# quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu: é possível, também, que o quantum debeatur dependa de ato a ser
praticado pelo réu. Exemplo comumente citado é o da ação de prestação de contas. Se João,

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que mantém parceria em dado negócio com Marcos, deixa de prestar contas do apurado,
impedindo que o mesmo tenha sua participação real nos lucros, Marcos poderá ajuizar ação de
prestação de contas. Ocorre que o valor devido ao autor dependerá de ato a ser praticado pelo
réu (a prestação das contas).

Importante frisar, também, que o pedido deve ser interpretado de acordo com o
conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé (art. 322, § 2o, CPC). Existem
aqueles que são presumidos como existentes (pedidos implícitos). Para eles não há
necessidade de expressa formulação, por serem decorrentes da lógica factual e jurídica. É o
que ocorre com os juros (Súmula 254, STF) e condenação em custas e despesas processuais
bem como nos honorários advocatícios (Súmula 256, STF). Ademais, as prestações periódicas
considerar-se-ão incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, se
o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou consigná-las (art. 323, CPC).

A exemplo do que já ocorria com o CPC de 73, o CPC/2015 também aponta a


possibilidade de alteração do pedido ou da causa de pedir até a citação
(independentemente de consentimento do réu) ou após a citação e até o saneamento do
processo (com o consentimento do réu).

Ocorre que, em caso de alteração, será assegurado o contraditório mediante a


possibilidade de manifestação do réu no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o
requerimento de prova suplementar.

2. ADMISSIBILIDADE

Recebida a petição inicial, o juiz poderá adotar as seguintes posturas:

A) Emenda

O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos acima referidos ou que
apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará
que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias (e não mais de dez!), a emende ou a complete,
indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.

Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

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B) Indeferimento

A petição inicial será indeferida quando:

I - for inepta: Considera-se inepta a petição inicial quando lhe faltar pedido ou causa de
pedir; o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido
genérico; da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; contiver pedidos
incompatíveis entre si.

Perceba que, como a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser condição da ação,
passando a integrar o exame de mérito, a sua ausência não mais importará no indeferimento
da inicial (e consequente extinção sem resolução de mérito), mas, sim, na improcedência da
demanda (extinção com o exame do mérito).

II - a parte for manifestamente ilegítima: a legitimidade é condição da ação,


representada pela pertinência existente entre o sujeito e o direito material posto em juízo.

III - o autor carecer de interesse processual: outra condição da ação, representada


pelo binômio necessidade-adequação;

IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321: estes artigos referem-se ao
descumprimento de providências emanadas do juiz, a saber: a) dever que tem o advogado de
informar, no prazo de cinco dias, o endereço, seu número de inscrição na OAB e o nome da
sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações, caso não tenha
feito na petição inicial; b) dever de emendar a petição inicial, no prazo de 15 dias, quando
existentes vícios que possam ser corrigidos.

Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco)
dias (e não mais 48 horas!), retratar-se. Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu
para responder ao recurso.

C) Improcedência liminar do pedido

Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do


réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do
Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo
Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local;

O juiz também julgará improcedente o pedido quando verificar, desde logo, a ocorrência
de decadência ou de prescrição. Perceba que, no CPC de 1973, a verificação de decadência
ou prescrição importava no indeferimento da petição inicial. Por isso, andou bem o CPC, uma
vez que estamos diante de questões meritórias sendo, por isso, mais adequado tratar-se de
“improcedência” ao invés de “indeferimento”.

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Contra a sentença de improcedência liminar, caberá recurso de apelação, podendo o
magistrado retratar-se em 5 (cinco) dias. Se houver retratação, o juiz determinará o
prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a
citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

D) Recebimento da petição inicial

Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de


improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação,
citando o réu para comparecimento.

3. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO

A audiência de conciliação ou de mediação será designada com antecedência mínima de


30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de


conciliação ou de mediação, observando o disposto no CPC, bem como as disposições da lei
de organização judiciária.

Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não podendo
exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessárias à
composição das partes.

A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.

Conforme mencionado anteriormente, a audiência não será realizada em duas hipóteses:


I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição.

O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu


deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data
da audiência.

Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado


por todos os litisconsortes.

ATENÇÃO!

O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é


considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por
cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou
do Estado.

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As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos,
podendo as mesmas constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes
para negociar e transigir.

A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.

4. POSTURAS DO RÉU

Uma vez citado, o réu poderá adotar uma das posturas a seguir.

A) Inércia

A primeira postura traduz-se em omissão. Apesar de regularmente citado, o réu não


compareceu à relação processual, sendo, por isso, considerado revel.

Revelia é fenômeno representado pela ausência de contestação. Tal fenômeno acarretará


efeitos de natureza material e processual.

Os efeitos processuais da revelia são dois:

→ julgamento antecipado da lide: como o réu não apresentou a contestação, os fatos


afirmados pelo autor se tornaram incontroversos. Sendo assim, não há necessidade de
produção de provas (pois só se prova aquilo que é controvertido!), podendo o juiz, por
consequência, julgar antecipadamente a lide.

→ dispensa de intimação específica: Os prazos contra o revel que não tenha patrono
nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial.

Quanto aos efeitos materiais, se o réu não contestar a ação, será considerado revel e
presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor. Como os fatos
narrados na petição inicial não encontraram resistência pela parte adversária, os mesmos se
tornaram incontroversos e, portanto, presumidos como verdadeiros.
Existem situações, entretanto, em que não ocorrerão os efeitos materiais da revelia.
Em outras palavras, é possível que o réu seja revel, mas o juiz não possa presumir como
verdadeiros os fatos afirmados na inicial. As hipóteses estão previstas no artigo 345, CPC e
para entendê-las não é necessário “decorar”, bastando seguir um puro raciocínio lógico, senão
vejamos:

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→ havendo pluralidade de réus, um deles contestar a ação: se uma demanda é
proposta contra mais de um réu, basta que um deles apresente a contestação para que os
fatos narrados na inicial se tornem controvertidos. Imagine, por exemplo, que Maria propõe
ação de indenização em face de um médico e de uma clínica, em virtude de danos causados
por intervenção cirúrgica. Regularmente citados os réus, apenas a clínica apresenta
contestação. Perceba que, por mais que o médico seja revel (pois não apresentou
contestação), os fatos narrados não poderão ser presumidos como verdadeiros, haja vista que
a contestação apresentada pela clínica os tornou controvertidos.

ATENÇÃO!

A contestação aproveitará ao réu revel desde que os interesses dos réus não sejam
distintos! Assim, por exemplo, imagine que Maria, que teve a cerimônia de casamento
frustrada, propõe ação de indenização em face de uma loja de vestidos (por não ter entregado
o vestido dentro do prazo) e contra uma gráfica (por ter entregado os convites com o endereço
incorreto). Citados os réus, apenas a loja de vestidos apresentou a contestação, alegando que
o vestido fora entregue fora do prazo por culpa da autora, a qual solicitou diversos ajustes de
última hora. Sendo a gráfica revel, esta não poderá ser beneficiada pela contestação
apresentada pela loja, pois as defesas não lhes são comuns.

→ quando a ação versar sobre direitos indisponíveis: direitos indisponíveis são


aqueles de natureza extrapatrimonial (interesses de incapazes, por exemplo) e públicos. Sendo
indisponíveis, eles não serão afetados com a ausência do réu, pois o réu não pode deles dispor
(ainda que com ato omissivo). Assim, por exemplo, em uma ação em que se postula a guarda
de um incapaz, por mais que haja a revelia (pois o réu não apresentou contestação), não
poderá o juiz presumir como verdadeiros os fatos narrados na inicial. Outro exemplo diz
respeito às ações ajuizadas contra a Fazenda Pública (pessoas de direito público). Por mais
que um município seja revel numa ação (pois não apresentou contestação), o juiz não poderá
presumir como verdadeiros os fatos contra ele narrados, haja vista indisponibilidade do
interesse público.
→ quando a petição não estiver acompanhada por instrumento público, a que a
lei considere indispensável à prova do ato: existem documentos que deverão,

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obrigatoriamente, acompanhar a petição inicial, pois são indispensáveis à prova do ato gerador
do direito. É o que ocorre, por exemplo, com a ação em que se reivindica imóvel, a qual deve
vir acompanhada de escritura pública. Estando desacompanhada do documento em questão,
por mais que o réu seja revel, não há como presumir-se a veracidade dos fatos, pois a
existência do direito independe da vontade do réu, mas sim da existência do próprio
documento.

ATENÇÃO!
O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que
se encontrar. Ele poderá, inclusive, produzir provas, desde que compareça em tempo oportuno
(Súmula 231, STF).

B) Contestação

A hipótese mais comum de resposta é, de fato, a contestação. Nela, o réu deduzirá toda a
matéria, de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor.

O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias.

Tal prazo será contado da data: I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da


última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não
houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de
conciliação ou de mediação apresentado pelo réu;

No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo o pedido de cancelamento por parte de


todos os litisconsortes, o termo inicial para apresentação de resposta será, para cada um dos
réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência.

É necessário que o réu apresente todos os argumentos, pois, na eventualidade de o juiz


não acolher o anterior, passará a analisar o posterior. É o que a doutrina denomina de
“princípio da eventualidade”.

Perceba que, neste contexto, é lícito ao réu apresentar todas as defesas possíveis, ainda
que sejam contraditórias entre si. Assim, por exemplo, em uma ação de indenização por danos
morais, o réu poderá levantar dois argumentos, aparentemente contraditórios: 1) que não
houve dano moral; 2) que o quantum indenizatório deve ser pequeno. Este segundo argumento
só fora levantado para ser apreciado na eventualidade do magistrado não acolher o primeiro.

As defesas apresentadas na contestação poderão ser preliminares e de mérito.

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Preliminares são defesas de natureza meramente processual. Nelas o réu não discute o
mérito da demanda, mas, tão somente, aspectos relativos a vícios do processo. O objetivo do
réu é apresentar argumentos que venham extinguir o feito ou, pelo menos, retardar o curso da
relação processual. No primeiro caso, temos as defesas peremptórias (ex: litispendência e
coisa julgada), cujo vício é insanável e acarreta o fim do processo; no segundo caso, temos as
defesas dilatórias (ex: incapacidade de parte e defeito de representação), cujo vício pode ser
corrigido e, por isso, ocasiona apenas um atraso na marcha procedimental.

Eis as matérias que poderão ser suscitadas em sede de PRELIMINARES:

→ inexistência ou nulidade da citação: A citação é pressuposto processual e a sua


ausência importará em nulidade.

→ incompetência absoluta e relativa: com o CPC, a arguição de incompetência relativa


deixa de ser apresentada em peça em separado (chamada de “exceção”) para ser apresentada
na própria contestação, através de preliminar, assim como já ocorria com a arguição de
incompetência absoluta.

Havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação poderá ser


protocolada no foro de domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da
causa, preferencialmente por meio eletrônico.

A contestação será submetida a livre distribuição ou, se o réu houver sido citado por meio
de carta precatória, juntada aos autos dessa carta, seguindo-se a sua imediata remessa para o
juízo da causa. Reconhecida a competência do foro indicado pelo réu, o juízo para o qual for
distribuída a contestação ou a carta precatória será considerado prevento.

Alegada a incompetência, com o protocolo da contestação no foro do domicílio do réu,


será suspensa a realização da audiência de conciliação ou de mediação, se tiver sido
designada. Definida a competência, o juízo competente designará nova data para a audiência
de conciliação ou de mediação.

→ incorreção do valor da causa: aqui, o CPC trouxe mais uma mudança relevante, ao
determinar que a alegação de incorreção do valor da causa seja feito na própria contestação,
através de preliminar, ao invés de apresentação de peça específica de impugnação ao valor da
causa, conforme era feito na vigência do CPC de 1973 (art. 261). Assim, agora o réu deverá,
em sede de preliminar de contestação, impugnar o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena
de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das
custas (art. 293, CPC).

→ inépcia da petição inicial: conforme afirmado alhures, considera-se inepta a petição


inicial quando lhe faltar pedido ou causa de pedir; o pedido for indeterminado, ressalvadas as
hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; da narração dos fatos não decorrer
logicamente a conclusão; contiver pedidos incompatíveis entre si.

→ perempção: é a perda do direito de ação. Haverá perempção quando, mediante


abandono, o autor der causa à extinção do processo por três vezes.

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→ litispendência: há litispendência quando se repete ação que está em curso.

→ coisa julgada: Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão
transitada em julgado.

→ conexão: haverá conexão quando, entre duas ou mais causas, houver identidade de
pedido ou causa de pedir. Para evitar decisões conflitantes, o réu poderá arguir a conexão e
pleitear a junção das demandas, a fim de que sejam reunidas e julgadas pelo juízo prevento.

→ incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização: a parte


deverá atuar em juízo revestida da tríplice capacidade: de ser parte, de estar em juízo e da
capacidade postulatória, por nós analisadas quando do estudo das partes e procuradores.
Qualquer irregularidade apresentada pelo autor deverá ser suscitada pelo réu em sede de
preliminar contestação.

→ convenção de arbitragem: A ausência de alegação da existência de convenção de


arbitragem implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.

→ ausência de legitimidade ou de interesse processual: Alegando o réu, na


contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz
facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao
procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa.

Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação
jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas
processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. Perceba,
portanto, que a “nomeação à autoria” deixa de ser apresentada em requerimento,
separadamente, para ser apresentada, agora, como preliminar de contestação. Este foi o
motivo pelo qual o legislador deixou de contemplá-la como uma das modalidades de
intervenção de terceiros, reguladas pelos artigos 119 a 138, do CPC.

O autor, ao aceitar a indicação (nomeação), procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à


alteração da petição inicial para a substituição do réu, reembolsando as despesas e pagando
os honorários do advogado do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do
valor da causa.

Nada obsta que, no prazo de 15 (quinze) dias, o autor possa optar por alterar a petição
inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu.

→ falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar: às vezes a
lei pode exigir do autor a prestação de caução para o ajuizamento da demanda, a exemplo do
que ocorre com a ação rescisória (arts. 966 a 975, CPC). A ausência poderá ser alegada pelo
réu, em sede de preliminar.

→ indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça: Assim como ocorreu


com a alegação de incompetência relativa e impugnação ao valor da causa, o CPC também

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determinou que a impugnação à concessão da gratuidade da justiça fosse feita na própria
contestação, através de preliminar, evitando-se a confecção de mais uma peça processual.
Perceba que o CPC simplificou o procedimento, evitando uma aglomeração desnecessária de
peças judiciais.

ATENÇÃO!

Excetuada a convenção de arbitragem e a alegação de incompetência relativa, o juiz


conhecerá de ofício das matérias acima referidas.

Por outro lado, NO MÉRITO, incumbe ao réu alegar toda a matéria de defesa, expondo as
razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que
pretende produzir.

A defesa de mérito pode ser direta ou indireta.

Será direta quando o réu negar os fatos (ex: empresa ré que, em ação de indenização,
nega que alarme da loja fora equivocadamente acionado quando o autor estava saindo) ou
negar seus efeitos jurídicos (ex: no exemplo citado, a ré poderia apenas dizer que, embora o
alarme tivesse sido acionado, o fato não constituiria motivo para surgimento de dano moral).

A defesa será indireta quando o réu, embora não negue as afirmações feitas na
petição inicial, apresenta outros fatos que são extintivos, modificativos ou impeditivos do direito
do autor. Imagine, por exemplo, uma ação de cobrança de dívida proposta por Maria em face
de João. Este poderia apresentar defesa indireta confirmando a celebração de dívida com o
autor, mas alegando fatos novos, no sentido de que a dívida já fora paga (fato extintivo), fora
paga pela metade (fato modificativo) ou que já prescreveu (fato impeditivo). Considerando que,
com a defesa indireta o réu traz fatos novos, é necessário que o autor seja intimado para se
pronunciar sobre eles por meio do instrumento denominado “réplica” ou “impugnação à
contestação”.

Ressalte-se que incumbe ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato


constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas. É o que se
denomina de “ônus da impugnação específica dos fatos”. A ausência de impugnação específica
somente não implicará em presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial em três
hipóteses: a) não for admissível, a seu respeito, a confissão; b) a petição inicial não estiver
acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; c) estiverem em
contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

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O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao
advogado dativo e ao curador especial.

Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando relativas a


direito ou a fato superveniente; quando competir ao juiz conhecer delas de ofício; quando, por
expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau de jurisdição.

Certamente que uma das maiores novidades, em sede de resposta do réu, foi a inserção
da reconvenção na própria contestação, no compartimento de mérito.

Existem situações em que o réu alega ter pretensão em face do autor e essa pretensão
está justamente relacionada aos fatos trazidos na ação originariamente intentada. Assim, por
uma questão de economia processual, poderá o réu, em vez de propor ação em separado,
demandar contra o autor no mesmo processo em que fora demandado. Isto se faz por meio do
instrumento de reconvenção. O legislador estabeleceu a sua utilização com o intuito de evitar a
proliferação de ações com pedidos ou causa de pedir semelhantes.

Mas, tecnicamente falando, quando cabe a reconvenção?


Em primeiro lugar, o legislador autorizou o manejo da reconvenção, pelo réu, “para
manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal...” (artigo 343, 1ª parte, CPC).
É bem simples de entender. A Conexão é fenômeno que representa semelhança entre
ações. Duas ações são conexas (parecidas) quando possuem o mesmo pedido ou a mesma
causa de pedir. Então, a reconvenção será cabível quando ela for conexa (parecida) com a
ação principal, ou seja, quando possuir o mesmo pedido ou a mesma causa de pedir da ação
principal.
É o que ocorre, por exemplo, com a ação de separação intentada pela esposa,
alegando o adultério do marido e a reconvenção apresentada pelo marido pedindo, também, a
separação, sob a alegação de tentativa de homicídio por parte da esposa (conexão pelo
pedido, já que são idênticos); ou a ação de cobrança de dívida movida pelo banco, apoiada em
contrato, e a reconvenção do cliente, postulando outra obrigação do banco, apoiada no mesmo
contrato (conexão pela causa de pedir, já que são idênticas).
Em segundo lugar, caberá reconvenção quando o réu quiser manifestar pretensão
“conexa com o fundamento da defesa...” (artigo 343, 2ª parte, CPC).
Aqui deve ser entendido o seguinte: o que leva o réu ao “contra-ataque” é justamente o
fundamento da defesa. Em outras palavras, o direito do réu está diretamente relacionado aos
motivos expostos na defesa. É o que ocorre com ação de cobrança de dívida proposta contra
réu e este, por não dever (fundamento), apresenta reconvenção pedindo o pagamento dobrado
da quantia indevida; ou a ação de indenização proposta contra réu em virtude de acidente e

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este, alegando culpa do autor (fundamento), apresenta reconvenção pedindo o pagamento de
indenização pelos prejuízos sofridos.
Perceba que, nos exemplos acima, o réu só pediu o pagamento da dívida em dobro
(reconvenção) porque não devia (fundamento da defesa); só pediu indenização por danos
causados no acidente (reconvenção) porque não fora ele o causador (fundamento da defesa).
Algumas regras processuais, relativas à reconvenção, merecem destaque.
Pois bem, proposta a reconvenção, o autor será intimado, na pessoa de seu advogado,
para apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) dias.

Apesar de apresentada na própria contestação, a reconvenção não perdeu o seu caráter


autônoma. Assim, a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o
exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção.

A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro, bem como proposta pelo réu
em litisconsórcio com terceiro.

Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em
face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na
qualidade de substituto processual.

Urge salientar, por fim, que o réu pode propor reconvenção independentemente de
oferecer contestação.

5. DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO SANEAMENTO

Realizada a fase de resposta pelo réu, o juiz passa a ter uma “visão panorâmica” da
relação processual: já conhece a tese trazida pelo autor e a antítese trazida pelo réu. Caberá,
agora, ao juiz estabelecer a síntese. Mas, antes de dar seguimento ao processo, talvez seja
necessário resolver algumas questões “pendentes”. São as chamadas “providências
preliminares”. Nesta fase poderão ser adotadas as seguintes condutas:

A) Da Não Incidência dos Efeitos da Revelia

Já sabemos que, havendo revelia (e consequente presunção dos fatos afirmados pelo
autor), é comum que o juiz julgue antecipadamente a lide. Ocorre que é possível que, embora o
réu não conteste, os efeitos da revelia não ocorram. Neste caso, o magistrado terá que

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prosseguir no feito, intimando o autor para que especifique as provas que pretenda produzir em
audiência, se ainda não as tiver indicado.

Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do autor, desde
que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a
essa produção.

B) Do Fato Impeditivo, Modificativo ou Extintivo do Direito do Autor

Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será
ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o juiz a produção de prova. É o que se
chama de réplica, momento marcado pelo despacho: “à replica, em 15 (quinze) dias”.

C) Das Alegações do Réu

Se o réu alegar qualquer das matérias relativas às preliminares de contestação, o juiz


determinará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe a produção de prova.

Verificando a existência de irregularidades ou de vícios sanáveis, o juiz determinará sua


correção em prazo nunca superior a 30 (trinta) dias.

Cumpridas as providências preliminares ou não havendo necessidade delas, o juiz


proferirá julgamento conforme o estado do processo, nas hipóteses a seguir descritas.

6. DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO

Proposta a demanda e apresentada a resposta, o processo se desenvolverá seguindo


uma sequência lógica de atos (réplica do autor, saneamento e fase instrutória) até culminar
com a sentença. Pode ocorrer, entretanto, que tais atos não sejam necessários, de modo que o
feito seja extinto de forma “anormal”. Diz-se “anormal”, pelo fato de que o processo
“normalmente” deve seguir aquela longa cadeia de atos até que seja resolvida a lide.
O julgamento conforme o estado do processo ocorrerá nas seguintes situações:

A) Da Extinção do Processo

Ocorrendo qualquer das hipóteses que ocasionam a extinção do processo, SEM


resolução de mérito (litispendência, coisa julgada, ausência de legitimidade ou interesse, etc.)

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ou COM resolução de mérito (reconhecimento da procedência do pedido,
prescrição/decadência, renúncia ao direito em que se funda a ação ou reconvenção, etc.), o
juiz proferirá sentença.

Aqui, diz-se que a extinção se dá de forma “anormal” porque o “normal” é que o processo
seja extinto quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido.

Acaso a extinção seja relativa apenas a parcela do processo, a decisão será impugnável
por agravo de instrumento.

B) Do Julgamento Antecipado do Mérito

O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito,


em duas hipóteses: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for
revel e ocorrerem os efeitos da revelia.

Aqui o processo já está “maduro” para julgamento, não havendo que se falar em
instrução.

C) Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito

O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou


parcela deles mostrar-se incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento.

A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação


líquida ou ilíquida.

A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que
julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra
essa interposto. Se houver trânsito em julgado da decisão que julgar parcialmente o mérito, a
execução será definitiva.

A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser


processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz.

É mister salientar que a decisão proferida que julgar parcialmente o mérito será
impugnável por agravo de instrumento.

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7. DO SANEAMENTO E DA ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO

A palavra “saneamento” tem a conotação de “limpeza”, “organização”, apontando alguns


cuidados e deliberações que o magistrado deverá tomar antes de prosseguir na condução da
lide.

Assim, não ocorrendo nenhuma das hipóteses narradas anteriormente, deverá o juiz, em
decisão de saneamento e de organização do processo:

I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;

II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória,


especificando os meios de prova admitidos: É o que se chama de “fixação dos pontos
controvertidos da lide”. Significa que o juiz verificará o que necessita ser provado. Se, por
exemplo, Maria propõe ação cobrando dívida de R$ 10.000,00 e João afirmar dever apenas R$
5.000,00, a instrução processual girará em torno da existência da dívida de R$ 5.000,00 (ponto
controvertido).

III - definir a distribuição do ônus da prova;

IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;

V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar


ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável.

As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das


questões de fato e de direito, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz.

Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo
comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. O
número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo,
para a prova de cada fato.

O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da


causa e dos fatos individualmente considerados.

Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz


designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes,
oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas
alegações. Neste caso, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de
testemunhas.

Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deverá nomear o perito
e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização.

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As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as
audiências.

8. DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

É o momento propício para a coleta dos demais elementos de prova. Fala-se em


“demais”, tendo em vista que a prova documental já fora trazida por intermédio da inicial e da
contestação.
O CPC também deslocou a temática da “produção antecipada de provas” para o capítulo
probatório, retirando-o da seara relativa às “ações cautelares”, tendo em vista a perda da autonomia
procedimental do processo cautelar existente no CPC de 1973.

Cabe-nos, aqui, fazer uma análise acerca da audiência de instrução e julgamento, a qual
objetiva colher as provas orais.

Pois bem, no dia e na hora designados, o juiz declarará aberta a audiência de instrução e
julgamento e mandará apregoar as partes e os respectivos advogados, bem como outras
pessoas que dela devam participar.

Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego


anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a
arbitragem.

Urge ressaltar que, em dita audiência, o juiz exerce o poder de polícia, incumbindo-lhe:
a) manter a ordem e o decoro; b) ordenar que se retirem da sala de audiência os que se
comportarem inconvenientemente; c) requisitar, quando necessário, força policial; d) tratar com
urbanidade as partes, os advogados, os membros do Ministério Público e da Defensoria
Pública e qualquer pessoa que participe do processo; e) registrar em ata, com exatidão, todos
os requerimentos apresentados em audiência.

As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta ordem,


preferencialmente:

I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de esclarecimentos;

II - o autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais;

III - as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas.

Enquanto depuserem o perito, os assistentes técnicos, as partes e as testemunhas, não


poderão os advogados e o Ministério Público intervir ou apartear, sem licença do juiz.

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A audiência poderá ser adiada nas seguintes hipóteses:

I - por convenção das partes;

II - se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer pessoa que dela deva
necessariamente participar;

III - por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta) minutos do
horário marcado.

O impedimento deverá ser comprovado até a abertura da audiência, e, não o sendo, o juiz
procederá à instrução.

O juiz poderá dispensar a produção das provas requeridas pela parte cujo advogado ou
defensor público não tenha comparecido à audiência, aplicando-se a mesma regra ao
Ministério Público.

Quem der causa ao adiamento responderá pelas despesas acrescidas.

Havendo antecipação ou adiamento da audiência, o juiz, de ofício ou a requerimento da


parte, determinará a intimação dos advogados ou da sociedade de advogados para ciência da
nova designação.

Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado do autor e do réu, bem como ao
membro do Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, sucessivamente, pelo prazo
de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10 (dez) minutos, a critério do juiz, para a
apresentação das razões finais orais.

Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo, que formará com o da


prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não convencionarem de
modo diverso.

Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate oral


poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão apresentadas pelo autor e pelo
réu, bem como pelo Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, em prazos sucessivos
de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos.

A audiência é una e contínua, podendo ser excepcional e justificadamente cindida na


ausência de perito ou de testemunha, desde que haja concordância das partes.

Diante da impossibilidade de realização da instrução, do debate e do julgamento no


mesmo dia, o juiz marcará seu prosseguimento para a data mais próxima possível, em pauta
preferencial.

Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em audiência


ou no prazo de 30 (trinta) dias.

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O servidor lavrará, sob ditado do juiz, termo que conterá, em resumo, o ocorrido na
audiência, bem como, por extenso, os despachos, as decisões e a sentença, se proferida no
ato.

Quando o termo não for registrado em meio eletrônico, o juiz rubricar-lhe-á as folhas, que
serão encadernadas em volume próprio.

Subscreverão o termo o juiz, os advogados, o membro do Ministério Público e o escrivão


ou chefe de secretaria, dispensadas as partes, exceto quando houver ato de disposição para
cuja prática os advogados não tenham poderes.

O escrivão ou chefe de secretaria trasladará para os autos cópia autêntica do termo de


audiência.

Nada impede que a audiência seja integralmente gravada em imagem e em áudio, em


meio digital ou analógico, desde que assegure o rápido acesso das partes e dos órgãos
julgadores, observada a legislação específica. A gravação também pode ser realizada
diretamente por qualquer das partes, independentemente de autorização judicial.

Registre-se, por fim, que a audiência será pública, ressalvadas as exceções legais.

9. PROVAS

A prova pode ser definida como o instrumento jurídico-processual que tem por objetivo
formar a convicção do julgador acerca dos fatos da causa.
Em direito não basta alegar; aquele que alega tem a tarefa de demonstrar a veracidade
de suas alegações. É nesse contexto que surge a prova: instrumento que procura convencer o
juiz do modo como os fatos ocorreram.

A) Objeto

A prova tem por objeto os fatos. Mas não são todos os fatos que necessitam ser
provados: apenas os controvertidos, ou seja, aqueles cujas afirmações das partes divergem.

ATENÇÃO!
Considerando que apenas os fatos controvertidos são merecedores de provas, o
legislador determinou que não necessitam de prova os fatos incontroversos, afirmados por uma
parte e confessados pela outra, notórios e aqueles em cujo favor milita a presunção legal de

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existência ou veracidade (artigo. 374, CPC). Fatos incontroversos são aqueles que não foram
“rebatidos” pelo réu na contestação; confessados são aqueles admitidos pela parte quando a
mesma presta o seu depoimento pessoal; notórios são aqueles cujos quais não pairam
dúvidas, por serem de conhecimento de todos (ex: não há necessidade de provar que ocorreu
o desabamento de edifício que vitimou famílias, se tal fato ficou nacionalmente conhecido por
meio dos meios de comunicação); fatos em cujo favor milita presunção legal de existência
ou veracidade são aqueles os quais a lei afirma como existentes (ex: se o réu não contestar a
ação, a lei afirma que serão verdadeiros os fatos narrados na petição inicial, a teor do disposto
no artigo 344, CPC).

Conforme dito, é necessário que se prove apenas os fatos. O direito não precisa ser
provado, pois o juiz já o conhece (iura novit cúria). Assim, por exemplo, basta o autor provar
que foi esbulhado em sua posse (fatos), não havendo necessidade de provar a vigência de
texto de lei que o ampare (art. 1.210, CC), pois o juiz já o conhece; basta ao autor provar que
experimentou danos materiais em virtude de ato danoso cometido pelo réu (fatos), não
havendo necessidade provar a vigência de texto de lei que o ampare (art. 927, CC), pois o juiz
já o conhece, e assim por diante.
Excepcionalmente, a prova será necessária quando disser respeito a direito municipal,
estadual, estrangeiro ou consuetudinário, e se assim determinar o juiz (art. 376, CPC). É que o
juiz deve ser conhecedor da lei federal, não estando obrigado a dominar e conhecer (até
porque seria impossível!) o direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário. Assim,
por exemplo, numa ação ordinária proposta por um servidor público municipal, onde se postula
uma determinada vantagem com base numa lei municipal, é necessário que o autor prove em
juízo o teor e vigência do texto legal, juntando em juízo a respectiva prova documental.

B) Ônus da prova

Na relação processual, a simples afirmação não basta. Quem afirma, tem o ônus de
provar. Ônus significa “encargo”, do qual deve a parte se desincumbir, sob pena de não serem
aceitas as alegações efetuadas.
O CPC divide o ônus de provar da seguinte forma:

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→ Ao autor cabe provar o fato constitutivo do seu direito: fato constitutivo é aquele
que deu origem ao direito postulado. Se Maria afirma que tem um crédito para receber de João,
deverá a mesma provar a existência do fato que deu origem ao crédito, apresentando em juízo,
por exemplo, o título de crédito.

→ Ao réu cabe a prova do fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do


autor: se o réu, embora reconhecendo a existência inicial do direito do autor, alegar que
ocorreram fatos novos, impeditivos, modificativos ou extintivos do direito, deverá prová-los.
Assim, no exemplo acima, é possível que João alegue que a dívida não pode ser cobrada, por
ter havido a prescrição (fato impeditivo); ou que o valor do débito não é o postulado, por já ter
havido o pagamento parcial (fato modificativo); ou que a dívida não existe por ter havido o
pagamento total (fato extintivo).

Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à


impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo de provar ou à maior
facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de
modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. Tal decisão não pode gerar
situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente
difícil.

10. SENTENÇA

Encerrados os debates ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em


audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias.

A sentença pode ser definida como o ato do juiz que põe fim ao procedimento (e não
processo!) cognitivo de primeiro grau.

A) Requisitos estruturais

A sentença possui os seguintes elementos estruturais:

→ relatório: é o compartimento da sentença que visa demonstrar a obediência


procedimental às regras do devido processo legal. Ele conterá os nomes das partes, a

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identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais
ocorrências havidas no andamento do processo;

→ os fundamentos: é a exposição das razões do convencimento do julgador. Nele o juiz


analisará as questões de fato e de direito.

Os fundamentos constituem a parte intermediária, na qual o magistrado expõe, de


maneira lógica e articulada, as razões de seu convencimento. De fato, a fundamentação é o
compartimento mais importante da sentença, tendo em vista que o mesmo torna público o
raciocínio utilizado pelo magistrado para chegar ao convencimento e, por conseguinte, acaba
por fornecer elementos para que o inconformado questione a sua permanência perante o
mundo jurídico. Cabe salientar que, nos casos de extinção do processo sem resolução de
mérito, o juiz decidirá de forma concisa, ou seja, resumida.

Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua


relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua


incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,


infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus


fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela


parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.

No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da
ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e
as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.

→ o dispositivo: também chamado de “conclusão”, é o compartimento onde o juiz


resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. O juiz resolverá o mérito
acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, os pedidos formulados pelas partes.

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B) Certeza

A sentença deverá ser certa e de valor determinado. Assim, na ação relativa à


obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde
logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial
de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso.

Entretanto, quando não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido ou
a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou
excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença, o valor devido deverá ser
apurado mediante liquidação. Tal regra também se aplica quando o acórdão alterar a sentença.

C) Limites
Quanto aos limites, é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida,
bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi
demandado. É o que se chama de princípio da correlação da sentença ao pedido, no sentido
de que é vedado ao julgador proferir decisão com conteúdo que “fuja” aos termos da petição
inicial. Se assim o fizer, o juiz estará efetuando julgamento extra, ultra ou citra petita. Ocorrerá
julgamento extra petita quando a sentença deferir conteúdo diverso do pedido (ex: postulado
certo valor a título de aluguel, o juiz também declara a rescisão contratual, em que pese não ter
sido pleiteada). Por outro lado, haverá julgamento Ultra petita quando for emitida sentença de
conteúdo superior ao postulado. (ex: postulado indenização por danos materiais, o juiz concede
indenização em montante superior ao almejado na inicial). Finalmente, citra petita é a decisão
de cunho lacunoso, no sentido de não haver se pronunciado acerca do total objeto da lide. (ex:
pleito de dano moral e material, limitando-se o julgador a apreciar o primeiro e omitindo-se
acerca do segundo). A sentença citra petita é, geralmente, corrigida por intermédio dos
embargos de declaração.

ATENÇÃO!

Vale ressaltar, entretanto, que se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,
modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em
consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a sentença (ex:
autor propõe demanda para postular indenização em virtude da perda de uma mão e, no
transcorrer da lide, vem a perder todo o braço). Por mais que o autor não tenha mencionado tal
fato como ensejador de uma indenização mais elevada, o juiz deverá levá-lo em consideração,
haja vista que o mesmo somente surgiu no transcorrer do processo. Se constatar de ofício o
fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.

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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS NO CPC

1. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Em uma dada relação jurídica obrigacional, sendo atingida a data do vencimento para
a entrega de coisa ou para o pagamento de quantia, é comum contemplarmos o recebimento
do objeto ou quantia em questão e, por conseguinte, a quitação regular (emissão de recibo, por
ex.), de forma a liberar o devedor da, agora, extinta obrigação.

Ocorre que determinadas circunstâncias acidentais (divergência quanto ao valor,


dúvida quem se deva pagar, negativa de entrega de recibo, etc.) podem fazer com que surja a
necessidade de se proceder com a medida de consignação, judicial ou extrajudicial, como
forma de desonerar aquele que deve e não está podendo exercer o seu direito de se
desvincular da obrigação a qual está atado.

Vê-se, portanto, que existe um conflito de interesses, a ser solucionado mediante


instrumentos legais (judiciais ou extrajudiciais) de pacificação social.

A) Definição

A consignação é o procedimento, judicial ou extrajudicial, para a obtenção pelo autor,


de quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor se nega a receber a coisa ou o
dinheiro, ou ainda quando o devedor não sabe a quem pagar.

Segundo SCARPINELLA (2016: 482), a consignação “pretende a prestação de tutela


jurisdicional consistente no reconhecimento judicial da extinção da obrigação pelo devedor em
face de seu(s) credor(es)”

Com a quitação, o devedor busca evitar a mora e os seus efeitos.

B) Espécies de Consignação

→ Extrajudicial: com o escopo de garantir a pacificação social e, ao mesmo tempo,


evitar assoberbar ainda mais o judiciário, o legislador previu a consignação extrajudicial como
forma alternativa de solução de conflitos. O procedimento consiste no depósito de quantia em
instituição bancária oficial, em conta com correção monetária, com a posterior notificação do

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credor, mediante aviso de recebimento, para que o mesmo tome ciência e se manifeste, no
prazo de 10 (dez) dias, acerca do depósito efetuado.

Embora haja divergência, temos que é indicado seja a correspondência emitida pelo
representante do estabelecimento bancário, haja vista a maior segurança que o ato
proporciona.

Feita a notificação, o credor poderá tomar as seguintes atitudes:

# comparecer perante o estabelecimento e levantar o depósito efetuado (aceitação


expressa), com a consequente liberação do devedor da obrigação;

# deixar escoar o prazo de manifestação de recusa (aceitação tácita), com a


consequente liberação do devedor;

# efetuar o levantamento com ressalvas, dizendo não se tratar de depósito integral,


dando cabimento ao ingresso de ação judicial para a cobrança da diferença que entenda ser
devida;

# manifestar a recusa por escrito, endereçada ao estabelecimento bancário, no prazo


de 10 (dez) dias, importando a ineficácia do depósito, não liberando o devedor da obrigação.

→ Judicial: no insucesso da tentativa extrajudicial, restará ao devedor ou ao terceiro


interessado ingressar com demanda judicial dentro de um mês, na qual colacionará os
documentos indispensáveis (prova do depósito e cópia da correspondência com a recusa).

Não propondo a consignatória dentro do referido prazo, será necessário que o autor,
logo após autorização judicial, providencie novo depósito, haja vista que aquele tornou sem
efeito.

C) Ação Judicial

A consignação é ação de cognição, de rito especial, para a obtenção pelo autor, de


quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor se nega a receber a coisa ou o
dinheiro, ou ainda quando o devedor não sabe a quem pagar.

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Relativamente à natureza da pretensão por ela veiculada, há controvérsia na doutrina,
sendo majoritária, no entanto, a posição que afirma se tratar de pretensão do tipo declaratória.

Como ação especial, tem a mesma um rito legal próprio, previsto nos artigos 540 a
549, CPC, com especificidades em relação ao procedimento comumente conhecido, senão
vejamos:

→ Competência: deve o procedimento judicial ser instaurado no lugar do pagamento,


geralmente expresso no documento obrigacional, podendo, por conseguinte, ser intentada no
domicílio do devedor ou do credor, a depender de ser a mesma quesível ou portável,
respectivamente. A regra, como sabido é que a mesma se trate de dívida a ser paga no
domicílio do devedor.

A competência em questão é relativa, de modo que pode ser prorrogada caso não
oposta exceção pela parte interessada, haja vista que o magistrado não pode suscitá-la de
ofício, a teor do preceituado na Súmula 33 do STJ.

→ legitimidade: a legitimidade constitui condição da ação, de forma que o seu regular


exercício apenas de dará quando atendido o requisito em questão.

É parte ativa da ação o devedor e o terceiro interessado (fiador, devedor solidário,


sócio, etc.), existindo quem diga (Misael Montenegro, com fundamento no par. único do artigo
304, CC) que se incluiria o terceiro desinteressado, o qual apenas não poderia se sub-rogar
nos direitos do credor.

Outrossim, é parte passiva o credor. Podemos também afirmar que pode ser sujeito
passivo da ação uma outra pessoa que represente o devedor (ex: administradora de imóveis).

→ Petição inicial: além dos requisitos genéricos do artigo 319, NCPC, a peça inicial
deverá obedecer algumas particularidades deste procedimento.

Em primeiro lugar, acaso se trate de ação posterior à tentativa de consignação


extrajudicial, deverá a mesma conter cópia do comprovante de depósito bem como da
correspondência demonstradora da recusa.

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Ademais, deverá a mesma conter os seguintes requisitos especiais:

# requerimento do depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no


prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese de ter sido feito o
prévio depósito extrajudicial.

# a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta: a peculiaridade


da ação tem por efeito que o requerimento da citação do réu seja feito em se considerando a
postura que ele pode adotar em relação ao pedido formulado. O réu na ação de consignação
pode levantar a quantia ou coisa oferecida, o que equivale ao reconhecimento da procedência
do pedido, ou pode contestar o pedido.

→ Intimação para o depósito: recebida a inicial, não sendo caso de indeferimento, o


autor será intimado para providenciar, no prazo de 5 (cinco) dias, o depósito da quantia ou
coisa devida. O depósito, aqui, consiste em condição de procedibilidade, de modo que o
processo será extinto sem resolução de mérito, acaso não seja ultimado.

→ Citação do consignado: a citação do consignado será feita pelo correio, a menos


que o autor requeira a citação por Oficial de Justiça ou que seja a hipótese de que a citação
seja necessariamente por edital.

→ contestação do réu: as regras que regem a defesa na ação de consignação em


pagamento não tratam a matéria de forma completa. A defesa será apresentada no prazo de
15 (quinze) dias. Na contestação, o réu pode alegar todas as matérias de defesa contra o
processo (preliminares) e, no mérito, ele pode alegar quaisquer das matérias do artigo 544,
CPC (I- que não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida; II- que a recusa
foi justa; III- o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não
é integral).

Se o réu alegar que o depósito não fora integral, a lei permite ao autor efetuar a
complementação do depósito inicial, no prazo de dez dias. Essa complementação não será
possível, entretanto, se o não cumprimento integral da obrigação for prevista contratualmente
como causa da rescisão do contrato que gerou a obrigação de pagar.

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→ levantamento da quantia depositada sem prejuízo da defesa: com a alteração
promovida pela Lei nº 8.951/94, o réu na ação de consignação passou a poder levantar o
depósito feito pelo autor sem prejuízo de sua defesa. Antes da lei, o réu só poderia levantar o
depósito ao final, o que acabava permitindo que a ação de consignação fosse utilizada como
uma ameaça ao credor, em especial em questões de locação. O CPC de 2015 manteve a
sistemática, de modo que o credor pode levantar, de imediato, o depósito da parcela
incontroversa (art. 545, § 1o).

→ instrução: na consignação temos, via de regra, a desnecessidade de audiência de


instrução porque, na maioria dos casos, a matéria veiculada é de direito ou, sendo de direito e
de fato, os fatos são comprovados por documentos. Havendo necessidade de prova em
audiência, far-se-á como de costume, ou seja, é possível a produção de todas as provas que o
direito admite.

→ extinção da obrigação e a continuidade do processo: quando a Ação de


consignação tiver por fundamento dúvida sobre quem deva receber, comparecendo ao
processo mais de um interessado, o juiz resolverá a consignação, dizendo de sua procedência
ou não, e o processo passará a correr segundo o rito ordinário para que o juiz decida quanto a
quem deva ficar com o depósito.

→ julgamento da causa: a doutrina diverge quanto à natureza da sentença na Ação


de consignação em pagamento. A corrente majoritária é no sentido de que ela possui natureza
declaratória. A parcela restante da doutrina opina que ela tem natureza constitutiva.

O artigo 545 § 2º, CPC revela, todavia, uma peculiaridade. Ele permite ao juiz proferir
uma sentença de conteúdo condenatório em favor do réu, em uma alteração substancial do
papel das partes no processo. Diz o mencionado artigo que a sentença que concluir pela
insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como
título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após
liquidação, se necessária.

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→ recurso: O recurso contra a sentença na ACP é a apelação. A apelação será
recebida em ambos os efeitos.

D) Consignação de prestações periódicas

As prestações periódicas são aquelas decorrentes, principalmente, dos contratos de


trato sucessivo, ou seja, aqueles cujas principais obrigações se renovam periodicamente. Uma
vez consignada uma parcela, as demais que forem se vencendo poderão ser depositadas pelo
devedor até 5 (cinco) dias depois da data do respectivo vencimento (art. 541, CPC). Esse
depósito é sem maiores formalidades e o prazo previsto para ele é em razão da possibilidade
de obtenção de quitação junto ao credor no prazo do pagamento.

2. AÇÕES POSSESSÓRIAS

A) Considerações iniciais

Antes de se adentrar no estudo do instrumento judicial da tutela da posse, faz-se mister


tecer breve comentário acerca da definição de tal instituto.

Pois bem, há duas teorias que procuram explicar o fenômeno da posse, a saber, a
teoria subjetiva e a objetiva.

A primeira, defendida por Savigny, nasce da junção de dois elementos: o corpus e o


animus. O Corpus seria o elemento material, representado pelo poder físico que a pessoa
exerce sobre a coisa. Outrossim, o animus, seu elemento subjetivo, é vislumbrado quando o
possuidor se comporta como se dono fosse.

Em sentido inverso, vem a teoria objetiva, defendida por Ihering. Para ele, enquanto a
propriedade é o poder de direito sobre a coisa, a posse seria o poder de fato, representado
pela exteriorização de um ou alguns dos poderes inerentes ao domínio (usar, fruir ou dispor).
Pelo raciocínio em questão, conclui-se ser possível a bipartição da posse, de modo a poder se
vislumbrar um possuidor direto e um indireto.

O nosso Código substantivo civil adotou esta última teoria (“art. 1.196. Considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade”).

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Devido à sua relevância, o instituto da posse mereceu atenção especial do legislador,
na medida em que o mesmo se preocupou em criar instrumentos que visassem repelir a injusta
agressão ao seu exercício.

B) Definição

Também conhecidos por interditos possessórios, são instrumentos, colocados à


disposição do possuidor, aptos a sanar, preventivamente ou repressivamente, a perturbação ou
perda da sua posse.

C) A admissão de dois procedimentos

A posse pode ser classificada sob diversos aspectos (a exemplo da de boa-fé, má-fé,
justa, injusta), mas a que ora interessa ao nosso estudo é a que classifica em posse nova e
posse velha. Contempla-se nova quando exercida em menos de um ano e dia. A contrário
senso, ultrapassado aquele lapso temporal, a posse será velha. A implicação jurídica resultante
de dita classificação diz respeito ao manejo do rito tipificado nos artigos 554, CPC, apenas para
a posse de força nova. Assim:

-> Ação possessória de rito comum: quando não intentada a ação dentro de ano e dia.
Saliente-se que a aplicação do rito comum não faz perder o caráter possessório da ação (art.
558, par. Único, CPC).

-> Ação possessória de rito especial: quando a posse tiver sido molestada dentro de ano e
dia. O prazo conta-se a partir da turbação ou esbulho praticado. Intentada a ação no prazo
aludido, o rito será o capitulado nos artigos 554 e seguintes do CPC. Vale ressaltar que o
Código civil, em seu artigo 1.224, aponta que, para quem não presenciou o esbulho, este
apenas se consuma quando o autor, tendo tomado ciência, se abstém de retomar a coisa, ou,
tentando recuperá-la, é violentamente repelido.

D) Espécies

A depender da espécie de violação, teremos as seguintes modalidades de ação


possessória:

-> Ação de Reintegração de Posse: utilizada para sanar o esbulho (desapossamento total da
coisa) praticado em prejuízo do autor da ação.

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-> Ação de Manutenção de Posse: manejada para repelir o embaraço causado ao livre
exercício da posse. (Ex: empresa que emprega materiais de construção em terreno do
possuidor, impedindo a plena utilização da posse pelo prejudicado).

-> Interdito Proibitório: remédio jurídico apto a evitar a concretização de um possível esbulho
ou uma iminente turbação. (Ex: dono de propriedade que toma conhecimento de movimento
que planeja uma invasão em tempo breve; ou, ainda, banco que ingressa com dito
procedimento para pleitear a manutenção da distância de grupo de manifestantes das
mediações da agência bancária).

Atenção!

O artigo 554 do CPC trata da questão da fungibilidade em sede de ações


possessórias. Significa a possibilidade, aberta ao magistrado, de conhecer e decidir
pedido diverso daquele originalmente formulado em ação possessória, outorgando-lhe a
proteção legal correspondente àquela cujos requisitos estejam devidamente provados
(ex: pleiteia-se com base em turbação, mas, no curso da demanda, o magistrado percebe
que, na verdade, houve esbulho). Assim, poderá o julgador deferir a tutela apta a sanar o
inconveniente perpetrado.

D) Procedimento

O procedimento seguirá os seguintes passos:

→ Petição Inicial: A peça exordial deverá preencher os requisitos genéricos do art. 319,
combinados com os específicos do artigo 561, CPC, a saber: a) a prova da posse; b) a prova
da turbação ou esbulho praticado; c) data da turbação ou esbulho (importante na fixação do rito
especial. Geralmente é provado mediante documentos relativos ao esbulho, tais como boletins
de ocorrência policial, declarações de vizinho, etc.) e d) a continuação da posse, no caso de
turbação e a perda da posse, na hipótese de esbulho.

É mister salientar que é possível a ação do possuidor contra o proprietário do bem,


visto que a pretensão gira em torno do direito de posse, desprovido, portanto, do cunho
dominial.

Ademais, o legislador previu a possibilidade de cumulação objetiva na demanda


possessória, de modo a ser possível pleitear-se, também, a indenização em perdas e danos,

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cominação de pena (uma multa, por exemplo) para o caso de nova turbação ou novo
esbulho, além de desfazimento de construção ou plantação realizada em detrimento da
posse.

→ A Liminar: estando a inicial devidamente instruída, o magistrado deferirá, in limine litis, a


proteção possessória, expedindo-se mandado de reintegração, manutenção ou mandado
proibitório, sem ouvir o réu (inaudita altera pars).

Atenção!

Em se tratando de pessoa jurídica de direito público, a liminar não poderá ser


concedida sem a prévia audiência de justificação prévia com o respectivo representante
judicial (representante da AGU, Procurador estadual, municipal ou prefeito - art. 75,
CPC), em virtude da presunção de veracidade e legalidade dos atos administrativos.

Isto quer dizer, por exemplo, que, se o poder público estiver realizando uma obra
pública, por mais que o dono do imóvel vizinho alegue que está sendo turbado em sua
posse, haverá presunção (até prova em contrário) de que a obra está sendo realizada em
conformidade com a lei, motivo pelo qual o juiz não poderá conceder a liminar sem,
antes, ouvir o representante da respectiva pessoa jurídica.

→ Audiência de Justificação Prévia: Admite-se a justificação prévia, com a citação do réu,


quando o autor, através de documentos, não conseguir provar, a contento, os requisitos
específicos do artigo 927, CPC. Em aludida audiência, não poderá o réu apresentar
testemunhas a seu favor, mas tão-somente inquirir aquelas que forem apresentadas pelo autor
da ação, justamente para que não haja o alongamento do ato processual ou mesmo uma
antecipação de instrução, a qual será realizada em momento próprio.

→ Citação: Concedido ou não o mandado, o autor promoverá, nos cinco dias subsequentes, a
citação do réu para contestar a ação.

Acaso tenha sido realizada a justificação prévia, o prazo para contestar contar-se-á da
intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

→ Prosseguimento com o rito comum: sendo o réu citado, o processo seguirá os demais
termos semelhantes ao procedimento comum. Isso quer dizer que haverá a regular

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apresentação de defesa, em 15 dias, seguindo-se a fase de saneamento e designação da
audiência de instrução e julgamento.

Na defesa, poderá o demandado formular o pedido contraposto (pedido de tutela


possessória sob a alegação de que fora o mesmo agredido em sua posse). Ante a
possibilidade em questão (natureza dúplice da ação), a doutrina afirma a inviabilidade de
apresentação do instrumento de reconvenção.

Questão interessante é a possibilidade do réu provar, em qualquer tempo, que o autor


não possui idoneidade financeira para, no caso de decair da ação, responder por perdas e
danos. Neste caso, o magistrado marcará prazo de cinco dias para que o autor apresente
caução, sob pena de ser a coisa depositada. Tal caução, no entanto, poderá ser dispensada
em caso de hipossuficiência da parte (art. 559, CPC).

→ Sentença: Instruído o feito, os autos irão conclusos para que o magistrado venha
proferir a sentença.

3. EMBARGOS DE TERCEIRO

A responsabilidade patrimonial reside na premissa ou possibilidade do estado,


exercendo o seu poder de império, retirar do patrimônio do devedor tantos bens quantos
bastem para o cumprimento da obrigação a qual o mesmo se encontra vinculado.
Para tanto, vale-se a jurisdição do processo de execução, que tem a função de tornar
efetiva a vontade da lei ou do título executivo, e a qual atua submetendo o patrimônio do
devedor aos atos de constrição (penhora, arresto, etc.,) e de expropriação, tudo com vistas a
satisfação do credor, seja pela obtenção do próprio bem da vida, seja pela técnica da
conversão do bem em equivalente pecuniário.
É mister salientar que, com o objetivo acima exposto, poderão vir a ser objeto de
constrição não apenas bem do devedor, mas também aqueles que se encontram em poder de
terceiros estranhos à execução, mas que a ela fiquem sujeitos, pelos seguintes motivos: a) seja
porque são bens adquiridos com evidente intuito de fraudar execução; b) seja porque está ele
(o terceiro), em virtude de lei ou contrato, na qualidade de corresponsável pelo adimplemento
da dívida (ex: fiador); ou, finalmente, c) porque os possui na qualidade de mero possuidor
(comodatário, locatário, depositário, etc.).

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Ocorre que pode suceder, entretanto, de um terceiro, completamente despido de
responsabilidade, vir a ser afetado pela constrição judicial de um bem ou direito seu. Para
tanto, o ordenamento jurídico, na perspectiva de salvaguardar aqueles bens, previu o instituto
dos Embargos de terceiro como remédio jurídico apto a sanar a ilegítima constrição perpetrada.

A) Definição

É a ação incidental, de rito especial, destinada a excluir bens de terceiro que foram
ilegitimamente alvos de constrição judicial.

B) Finalidade e fundamento

A ação judicial em questão tem a finalidade, conforme dito, de liberar bens daquele
que não é parte em dado processo judicial, além de não possuir a qualidade de codevedor. O
ato prejudicial em questão deve ter sido praticado pelo Poder Judiciário. Assim, acaso a posse
venha a ser ofendida por ato de particular, o remédio jurídico adequado passa a ser a ação
possessória e não o que ora tratamos.
O seu fundamento de seu manejo pode ser vislumbrado na premissa de que a
sentença só pode surtir efeitos em relação às partes do processo (limites subjetivos da coisa
julgada- artigo 506, CPC), não podendo atingir terceiros, que não integraram a relação jurídico-
processual, sob pena de ferir os princípios do contraditório e da ampla defesa.

C) Legitimidade

Parte legítima para figurar como autor da ação é o terceiro, sendo entendido, por
exclusão, como aquele que não ocupa um dos polos da relação jurídica processual.
Frise-se que a legislação equipara a terceiro a pessoa que, não obstante ostente a
qualidade de parte, venha a defender bens que não poderiam ter sido atingidos pela
constrição judicial (I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios
ou de sua meação; II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a
ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; III - quem sofre constrição judicial de
seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez
parte; IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real
de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios
respectivos).

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Legitimado passivo é aquele que figura como beneficiário pelo ato de constrição.
Nada obsta, entretanto, que venha o devedor figurar como réu, juntamente com o
demandante, acaso tenha sido ele o indicador do bem objeto da constrição (art. Art. 677, § 4o,
CPC). Neste caso estaríamos diante de um litisconsórcio passivo necessário. Ressalte-se,
entretanto, que, a teor da Súmula 303 do STJ, a condenação nas custas processuais e
honorários advocatícios ficará a cargo da parte que deu causa à ilegítima constrição (indicou o
bem).

D) Prazo para a propositura da ação

Tratando-se de processo de conhecimento, a propositura se dará a qualquer


momento, desde que antes do trânsito em julgado da decisão.
No caso de processo de execução, a propositura dar-se-á até 5 (cinco) dias após a
arrematação, adjudicação ou alienação por iniciativa particular, desde que antes da assinatura
da respectiva carta (art. 675, CPC).
Vale salientar que, em virtude do terceiro não poder ser atingido pelos efeitos da coisa
julgada, o transcorrer do prazo em questão não o impede de, pelas vias ordinárias, reivindicar o
bem que fora objeto da constrição. O vencimento do prazo é meramente preclusivo no sentido
de o impedir de manejar os embargos para a defesa imediata da posse.

E) Procedimento
Os embargos são uma ação especial autônoma, a qual dá origem a um processo
incidente, distribuído por dependência, ficando os mesmos apensos aos autos ditos principais.
O procedimento segue às seguintes regras:
→ Competência: é competente o mesmo juízo que ordenou a apreensão do bem,
mediante a expedição do mandado de constrição. Assim, embora realizado o ato de constrição
por intermédio do juízo deprecado, este apenas será competente se tiver ordenado o ato em
questão (art. 676, CPC).
→ Petição Inicial: deverá obedecer aos requisitos gerais do artigo 319 combinados
com os específicos do artigo 677 do CPC, os quais exigem: a) prova sumária da posse; b)
prova da constrição, c) qualidade de terceiro; d) documentos e rol de testemunhas.

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→ Da Liminar: julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá liminarmente
os embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção ou de restituição em favor
do embargante, que só receberá os bens depois de prestar caução de os devolver com seus
rendimentos, caso sejam afinal declarados improcedentes, ressalvada a impossibilidade da
parte economicamente hipossuficiente.
→ Da audiência preliminar: faculta-se ao magistrado determinar a realização de
audiência preliminar quando o autor não tiver provado suficientemente, por meio de
documentos, a sua posse. Seria, em outros termos, audiência que se assemelha à justificação
prévia das possessórias.
→ Contestação: será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias.
→ Prosseguimento com o rito comum: apresentada a defesa, passaremos a seguir
os demais termos semelhantes ao rito comum. Destarte, deverá o magistrado determinar a
intimação do autor para apresentar a réplica, seguindo-se a fase de saneamento e audiência
de instrução e julgamento. Logo após, proferirá a sentença. Se procedente, determinará a
expedição de mandado de manutenção ou de restituição; acaso tais medidas já tiverem sido
tomadas no limiar do processo, o magistrado determinará a liberação da caução anteriormente
prestada pelo autor.
→ Condenação em custas e honorários advocatícios: deverá ser condenado
aquele que deu causa à constrição indevida e, por consequência, causou o tumulto processual.
Inclusive há o entendimento neste sentido, expresso mediante a Súmula 303, do STJ: “Em
Embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários
advocatícios”.

4. AÇÃO MONITÓRIA

Certamente que aquele que pretende ver satisfeita uma determinada obrigação deve
se valer de um determinado documento que legitime a sua pretensão. Para tanto, no momento
da constituição de uma dada relação jurídica obrigacional, a lei confere força executiva aos
documentos que fizeram erigir ou, ao menos, serviram de força probante ao negócio jurídico
realizado: são os conhecidos títulos executivos. Assim, de acordo com o artigo 784, CPC,

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temos o contrato assinado por duas testemunhas, a duplicata com aceite na compra e venda
de mercadorias, a nota promissória, o cheque, etc.
Ocorre que algumas obrigações, apesar de firmadas na realidade factual, acabam por
perder certa força no mundo jurídico, justamente em virtude da ausência de força executiva
do documento do qual dispunha o credor. Imaginemos uma correspondência ou email no qual
o devedor agradece o empréstimo contraído, prometendo pagar futuramente a quantia devida;
ou um contrato sem assinatura de testemunhas; um cheque prescrito; documento escrito que
comprove a entrega de mercadorias pelo credor.
Em todas as situações acima estamos do seguinte quadro: existe um credor, um
devedor, bem como um documento que, embora não possua força executiva, tem uma alta
carga probatória, na medida em que, diante de uma simples leitura, chega-se à conclusão da
existência do crédito nele consignado.
Não obstante a inexistência da força executiva do chamado “quase-título” (utiliza-se
deste termo em virtude de que o referido documento, embora não possua força executiva,
possui uma alta carga de evidência do direito), o legislador, atento à realidade factual, previu,
por meio da Lei nº 9.079/95, instrumento apto a imprimir a realização do direito do credor de
documento desprovido de força executiva, sem a necessária delonga típica do processo de
cognição. É a chamada “Ação Monitória”.
O procedimento monitório, mantido pelo CPC de 2015 nos artigos 700 a 703, CPC,
resulta da fusão de atos típicos de cognição e de execução e é informado pela técnica da
inversão do contraditório. Nele, a cognição é fundada em prova documental apresentada de
forma unilateral pelo autor, de modo a permitir, de imediato, a emissão de um mandado
dirigido ao réu contendo comando para pagar soma em dinheiro, entregar bem móvel ou
imóvel ou cumprir com obrigação de fazer ou não fazer.

A) Definição

É a ação, de rito especial, que tem por objetivo atribuir força executiva a documento
desprovido de tal caráter, para a consequente satisfação do direito do credor, mediante o
pagamento de soma em dinheiro, entrega de bem móvel ou imóvel ou cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.

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B) Procedimento

É mister tecer as seguintes considerações acerca do seu procedimento:

→ Competência: é o do local do pagamento ou da entrega da coisa, ou o foro do


domicílio do réu. Caso a pretensão esteja lastreada em contrato que contemple foro de eleição,
neste será aforada a ação.

→ Petição Inicial: além dos requisitos gerais do artigo 319, CPC, a petição deverá vir
acompanhada de prova escrita (documento em sentido estrito), de modo a permitir a cognição
superficial típica deste procedimento. Vê-se que o modelo estrito de documento (escrito)
adotado pelo legislador afasta outras espécies de documentação em sentido amplo, a exemplo
de um dispositivo de gravação de imagens. Têm sido considerados instrumentos hábeis à
instrução da ação monitória: um cheque prescrito (Súmula 299, STJ), uma nota promissória
prescrita, contrato particular sem assinatura de testemunhas, contrato de abertura de crédito
em conta corrente (Súmula 247, STJ), etc.

→ Juízo de Admissibilidade: consiste na verificação de regularidade quanto ao


preenchimento dos requisitos formais e materiais da ação. Após a análise em questão, o
magistrado poderá adotar uma das seguintes atitudes:
Em primeiro lugar, havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental
apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial,
adaptando-a ao procedimento comum.
Em segundo lugar, observando que a petição inicial está devidamente instruída,
determinará ele a expedição do mandado monitório ou injuntivo.

→ O Mandado monitório: o instrumento em questão consiste em ordem dirigida ao


réu para pagamento, entrega de coisa ou cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, no
prazo de 15 (quinze) dias, com o pagamento de honorários advocatícios de 5% do valor
atribuído à causa. Como no lapso temporal em questão poderão ser apresentados embargos, o
mandado serve, de igual modo, como instrumento de citação, devendo, assim, conter as
implicações de sua inércia (revelia). Destarte, cientificado do mandado, o réu, além de estar

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impelido a cumprir com a obrigação, e intimado do conteúdo daquele ato e das consequências
que poderão advir do seu descumprimento, também estará sendo citado para integrar a
relação processual.

→ Atitudes do Réu: uma vez citado, o réu, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá tomar
as seguintes atitudes: a) inércia: a contumácia acarretará a revelia. No panorama da monitória,
ela é vislumbrada de maneira mais qualificada, mais forte, tendo em vista a presença do
quase-título, o qual acaba por possuir uma presunção quase que absoluta, transmudando-se
em título executivo judicial, autorizando a consequente instauração da execução, por meio da
técnica do cumprimento de sentença; b) cumprimento voluntário do mandado: é a opção
mais favorável ao réu quando o mesmo reconhece a sua posição de devedor, tendo em vista
que, não se opondo ao cumprimento da obrigação, ficará ele isento das custas processuais.
Mais que mera vantagem, a isenção em questão representa um verdadeiro convite ao réu para
não apresentar embargos, buscando, assim, o ideal de solução de conflitos por meio de
atividade das partes; c) apresentação de Embargos ao Mandado: quanto à sua natureza,
constitui ele uma espécie de defesa (contestação), com a pretensão de combater a prova
escrita na perspectiva de evitar a formação do título executivo judicial; Quanto ao prazo, serão
os embargos propostos em 15 (quinze) dias; quanto ao conteúdo, poderão versar a
imprestabilidade do documento como fundamento da monitória, em virtude de não evidenciar a
intenção de pagar ou entregar coisa.

→ instrução: apresentados os embargos, será dada vistas ao autor para impugnação


(semelhante à réplica). Em seguida haverá designação de audiência de instrução e julgamento,
havendo prova a ser produzida. Em seguida, será proferida a sentença.
A sentença que acolher os embargos condenará o vencido nas custas e honorários
advocatícios, em respeito ao princípio da sucumbência; a sentença de rejeição importará na
procedência do pedido contido na monitória e a constituição do título executivo judicial, hábil à
execução forçada, mediante a técnica do cumprimento de sentença.

ATENÇÃO!
Duas observações devem aqui ser consignadas:

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Em primeiro lugar, nada impede a apresentação de reconvenção no procedimento
monitório, consoante os termos do artigo 702, § 6o, CPC.
A segunda observação é no sentido de que cabe ação Monitória em face da Fazenda
Pública. Embora surgissem vozes no sentido de não vislumbrar a possibilidade, ante a
normatividade dos precatórios, hoje o posicionamento é uniforme no sentido de permitir a
monitória em face da Fazenda Pública, como processo de formação abreviado do título judicial.
Isto quer dizer que a especialidade vai até a formação do título, de modo a respeitar,
posteriormente o preceituado para a execução contra a fazenda pública. O CPC de 2015,
seguiu esta trilha, ao permitir o manejo da monitória em face da fazenda pública (art. 700, § 6o,
CPC).

5. AÇÕES DE FAMÍLIA

A) Considerações iniciais

O Código de processo Civil de 2015 procurou inovar, na medida em que destinou


procedimento único para as ações contenciosas de família (divórcio, separação,
reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação) em seus artigos 693 a
699.

Ressalte-se que a ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança ou de


adolescente observarão o procedimento previsto em legislação específica, uma vez que
aludidos procedimentos já são disciplinados pelas Leis 5.478/68 e Lei 8.069/90,
respectivamente.

Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução consensual
da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de
conhecimento para a mediação e conciliação.

B) Procedimento

O procedimento atenderá os seguintes passos:

a) Petição inicial: A petição inicial atenderá aos requisitos gerais previstos nos artigos 319,
CPC.
b) Admissibilidade: Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências
referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de
mediação e conciliação.
c) Citação: O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá
estar desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar

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seu conteúdo a qualquer tempo. O objetivo, aqui, foi o de evitar que o réu tivesse imediato
contato com a petição inicial e, por consequência, o grau de animosidade ficasse mais
acirrado, de modo a prejudicar a autocomposição.
d) Audiência de autocomposição: Na audiência, as partes deverão estar acompanhadas de
seus advogados ou de defensores públicos. A audiência de mediação e conciliação poderá
dividir-se em tantas sessões quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual,
sem prejuízo de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.
e) Procedimento comum: Não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as
normas do procedimento comum. Significa dizer que o réu disporá do prazo de 15 (quinze) dias
para apresentar a contestação. Em seguida, serão adotadas as providências preliminares,
dando-se oportunidade para a réplica do autor. Feito o saneamento, o juízo designará
audiência de instrução e julgamento.

C) Ministério Público e apoio técnico

O CPC de 2015 procurou limitar ao máximo a participação do órgão ministerial nas ações
de família, dada a privacidade das questões nelas versadas. Assim, o Ministério Público
somente intervirá quando houver interesse de incapaz e deverá ser ouvido previamente à
homologação de acordo.
Quanto ao apoio técnico, quando o processo envolver discussão sobre fato relacionado
a abuso ou a alienação parental, o juiz deverá estar acompanhado por especialista (psicólogo,
assistente social ou médico, por exemplo).

6. AÇÃO DE INTERDIÇÃO

A) Considerações iniciais

O ser humano adquire a personalidade com o nascimento com vida (colocando, no


entanto, a lei a salvo os direitos do nascituro). A partir do nascimento, portanto, ele adquire a
chamada capacidade de direito. Todavia, nem todos os seres humanos possuem a chamada
capacidade de fato. Os artigos 3º e 4º do Código civil tratam de situações de incapacidade, as
quais impedem certos sujeitos de poderem praticar, por si só, os atos da vida civil, em virtude
de causas ali especificadas. A incapacidade resultante de idade é sanada pela lei, mediante
aplicação do instituto da representação atribuída aos pais ou tutores. As demais modalidades
de incapacidade serão sanadas através da aplicação do instituto da curadoria, constituída após
procedimento de interdição, regulado pelos artigos 747 e seguintes do CPC.

A interdição será cabível nas hipóteses mencionadas pela lei civil. Assim, o artigo 1.767 do
Código Civil, com redação dada pela lei 13.146/2015 (Estatuto da pessoa com deficiência),
aponta que a interdição será decretada para aqueles que, por causa transitória ou permanente,
não puderem exprimir sua vontade ou, ainda, para os ébrios habituais, os viciados em tóxico
bem como os pródigos.

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É mister salientar que a simples condição de deficiente não gera a necessidade de
aplicação do instituto da curatela. Ora, a pessoa deficiente é plenamente capaz, exercendo
seus direitos em igualdade de condições com as demais pessoas, nos termos do artigo 84 da
Lei 13.146/2015 (Estatuto da pessoa com deficiência). Assim, definição de curatela de pessoa
com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.

B) Legitimidade

A ação de interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos


parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o
interditando; IV - pelo Ministério Público.

Ao ajuizar a demanda, a parte interessada acostará à petição inicial documentação


comprobatória da legitimidade.

Ressalte-se que o Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental


grave em duas hipóteses: I- se as pessoas mencionadas não existirem ou não promoverem a
interdição; ou II- se, existindo, forem incapazes.

Nas demandas de interdição, o Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica.

C) Procedimento
a) Petição inicial: incumbe ao autor especificar os fatos que demonstram a incapacidade
do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem
como o momento em que a incapacidade se revelou. O requerente deverá juntar laudo médico
para fazer prova de suas alegações ou informar a impossibilidade de fazê-lo.

b) Curatela provisória: justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao


interditando para a prática de determinados atos.

c) Citação/entrevista: o interditando será citado para, em dia designado, comparecer


perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens,
vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário
para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser
reduzidas a termo as perguntas e respostas.

Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver.

A entrevista poderá ser acompanhada por especialista. Durante a mesma, é assegurado o


emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o interditando a expressar
suas vontades e preferências e a responder às perguntas formuladas. A critério do juiz, poderá
ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas.

d) Impugnação: dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o interditando


poderá impugnar o pedido.

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e) Perícia: decorrido o prazo para impugnação, o juiz determinará a produção de prova
pericial para avaliação da capacidade do interditando para praticar atos da vida civil. A perícia
pode ser realizada por equipe composta por expertos com formação multidisciplinar.

O laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais haverá
necessidade de curatela.

Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz


proferirá sentença.

f) Sentença: na sentença que decretar a interdição, o juiz: I - nomeará curador, que


poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o
desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características pessoais do interdito,
observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências.

A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado.
Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do
interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e
do incapaz.

Quanto às formalidades, a sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas


naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a
que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde
permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três)
vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador,
a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o
interdito poderá praticar autonomamente.

2. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS EM LEIS EXTRAVAGANTES

2.1. MANDADO DE SEGURANÇA (Lei nº 12.016/09)

Sabe-se que o surgimento da ordem estatal só foi possível em virtude da renúncia, por
parte dos súditos, de parcela de sua autonomia. O objetivo era viver de forma organizada, sob
a égide de um ente estatal dotado de poderes que dessem suporte à consecução do objetivo
de proporcionar ao povo o bem comum.
Não obstante, se por um lado houve o consenso de que a vivência grupal estava
condicionada à criação de ente dotado de domínio, por outro lado, paulatinamente, percebeu-

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se que era necessário conferir aos cidadãos garantias que repelissem a utilização irregular do
poder estatal. Da tese em questão, da limitação da atividade estatal, surgiram os direitos de
primeira geração, conhecidos como aqueles que conferem liberdades individuais ou garantias
ao cidadão, a exemplo da vida, liberdade, propriedade, manifestação do pensamento, voto, etc.
Nesse diapasão, ao lado dos direitos materiais, era mister a existência de instrumentos
que conferissem efetividade a ditas garantias. Foi daí que surgiram inúmeros instrumentos,
dentre os quais destacamos o mandado de segurança, disciplinado, inicialmente, pela Lei nº
1.533/51, posteriormente revogada pela Lei nº 12.016/09.

A) Definição

É o instrumento jurídico-processual, de natureza constitucional, utilizado para evitar ou


sanar lesão a direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando
o ato ou omissão for praticada por parte de autoridade pública ou por quem o faça as vezes.

B) Pressupostos

Do conceito exposto, extraem-se os requisitos imprescindíveis ao manejo do remédio


heroico. Vejamos:
→ Direito líquido e certo: conceito tipicamente processual. Pode ser entendido como
aquele que é contemplado de imediato, prima facie, sem necessidade de maiores delongas. É
justamente por isso que, no mandamus, inexiste dilação probatória; nele a questão deve ser
vislumbrada mediante a análise de prova documental pré-constituída.
→ Periculum in mora: não basta a evidência do direito alegado. É mister que o autor
demonstre que o mesmo fora objeto de violação ou mesmo esteja na iminência de o ser por
parte de autoridade pública ou por quem o faça as vezes.

ATENÇÃO!
O instrumento em questão não poderá ser utilizado quando o ato a ser impugnado seja
passível de combate mediante recurso administrativo ou judicial com efeito suspensivo ou,
ainda, quando se tratar de decisão transitada em julgado (artigo 5º, Lei nº 12.016/09). Nesses
casos, o manejo da ação não seria possível por não existir o interesse de agir.

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C) Prazo

O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á quando decorridos 120


(cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.
D) Legitimidade

Tanto a pessoa física quanto a jurídica poderá valer-se do remédio heroico. Verifica-se
que a nova lei procurou abarcar o entendimento sedimentado pela jurisprudência quanto à
utilização do mandamus por pessoa jurídica.

F) Procedimento

A ação em comento, desde a sua propositura até o seu julgamento, deverá obedecer
ao procedimento a seguir descrito:
→ Petição Inicial: A inicial, além de preencher os requisitos do artigo 319, CPC,
deverá ser apresentada em duas vias com os documentos que a instruírem. Ademais, deverá
ela apontar a autoridade coatora bem como a pessoa jurídica a qual a mesma integra.
→ Juízo de admissibilidade: Ao despachar a inicial, o magistrado poderá adotar uma
dentre as seguintes posturas: a) Indeferimento: quando não for o caso de mandado de
segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo decadencial
para a sua impetração (a saber, 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado,
do ato impugnado- artigo 23, LMS). Da decisão que indefere a inicial será cabível a
interposição do recurso de apelação; quando a competência for originária, da decisão do
relator que a indefere, será cabível o recurso de agravo para o órgão competente do tribunal
que integre; b) recebimento: recebendo a inicial, cuidará o mesmo de adotar as seguintes
providências: 1) notificação da autoridade coatora para que preste informações em dez dias; 2)
ciência à pessoa jurídica interessada para que, querendo, ingresse no feito; 3) concessão de
liminar no sentido de suspender o ato que deu origem ao pedido.
→ A liminar: a liminar será concedida quando houver fundamento relevante e do ato
impugnado possa resultar dano irreparável ou de difícil reparação antes do julgamento final do
mérito.

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A autoridade administrativa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da notificação da
medida liminar, cuidará de enviar cópia do mandado notificatório ao ministério ou órgão ao qual
se acha vinculado ou a quem tiver a representação judicial para que este adote as medidas
que entender cabíveis (suspensão da liminar e defesa do ato apontado como ilegal).
Contra a decisão que conceder ou denegar a liminar, caberá agravo de instrumento.
Contra a decisão que a conceder, caberá o pedido de suspensão, a ser tratado mais à frente;
finalmente, sendo do relator, cabível será o agravo interno.
Os efeitos da liminar irão perdurar até a prolação da sentença (e não mais 90 (noventa)
dias, prorrogável por mais 30 (trinta), a teor do disposto no artigo 1, “b”, da Lei nº 4.348/64).
→ Ouvida do Ministério público: prestadas as informações, o representante do
ministério público será ouvido no prazo improrrogável de 10 (dez) dias.
→ Decisão: será a sentença proferida no prazo 30 (trinta) dias. Da sentença,
concedendo ou denegando a segurança, caberá apelação (recebida apenas no efeito
devolutivo, visto que não impede a execução provisória, salvo nas hipóteses de proibição de
liminares - artigo 14 par. 3º), estendendo-se à autoridade coatora o direito de recorrer.

ATENÇÃO!
A sentença que concede a segurança estará sujeita ao Reexame necessário (artigo 14,
par. 1º). Perceba, inclusive, que o duplo grau sempre será obrigatório, independentemente do
valor que eventualmente seja atribuído à condenação, não havendo que se aplicar, aqui, as
exceções previstas no CPC.
A sentença que extingue o mandamus sem apreciar o mérito não impede o
ajuizamento da ação para pleitear o respectivo direito e seus efeitos patrimoniais.
De igual forma, o pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do
prazo decadencial se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito (artigo 6º, par.
6º).

2.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI Nº 7.347/85)

Certamente que a moderna noção de acesso à justiça não se limita ao resguardo de


direitos individuais violados. Vai, portanto, mais além, preocupando-se, agora, com a tutela
jurisdicional de interesses coletivos em seu sentido mais amplo (conflitos de massa).

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Com o fito de possibilitar a defesa dos interesses em questão (meio ambiente,
consumidor, bens de valor artístico, estético, paisagístico, histórico, turístico, etc.), o legislador
criou, por intermédio da Lei nº 7.347/85, a denominada “ação civil pública”.

A) Legitimidade

De acordo com o artigo 5º, são legitimados: o Ministério Público, a Defensoria


Pública, as Pessoas Jurídicas de Direito Público (União, Estados, D.F., Municípios,
Autarquias e Fundações de direito público), empresa pública, sociedade de economia mista
e associação (desde que, quanto a esta, esteja constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano e inclua, dentre suas finalidades, a tutela dos interesses previstos na lei em
comento).
Algumas nuances devem ser aqui consignadas.

A primeira, que fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas


habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes (tanto no polo ativo quanto passivo,
portanto).

A segunda, que em caso de desistência infundada ou abandono da ação por


associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

Finalmente, quanto ao papel do Ministério Público, urge ressaltar que, se não


intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. Sua atuação,
quando no polo ativo, é de suma relevância, tendo em vista o seu poder de instaurar o
chamado inquérito civil público e o de requisitar documentos (prerrogativa inexistente aos
demais legitimados, os quais se limitam a requerer certidões), no prazo por ele assinalado, os
quais deverão ser prestados em prazo não inferior a dez dias úteis.

Admitir-se-á, inclusive, o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da


União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida a
mencionada lei (art. 5º, par. 5º).

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ATENÇÃO!

O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo fundamento
seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares (Súmula 643, STF).

B) Competência

Serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência
funcional para processar a causa. (art. 2º, LACP). Apesar de estar apoiada no critério territorial
a lei atribuiu-lhe natureza absoluta. Isso quer dizer que não há modificação por vontade das
partes (foro de eleição) ou prorrogação pela não apresentação de exceção declinatória de
incompetência.
A propositura da ação prevenirá a jurisdição para outras demandas a serem propostas,
com o mesmo objeto e causa de pedir (§ único do artigo 2º da LACP (Lei de Ação Civil
Pública).
O dispositivo em tela deve ser interpretado conjuntamente com o artigo 93 do CDC (Lei
nº 8.078/90), tendo em vista que existem danos que não se limitam ao âmbito local, tendo
repercussão regional ou até mesmo nacional. Preceitua o referido dispositivo:

Artigo 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a


justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito


nacional ou regional, aplicando-se as regras do CPC aos casos de competência concorrente.

Assim, seja pela justiça estadual ou federal, deve-se observar a repercussão do


dano. Se de âmbito local, no foro onde ocorrera (resolvendo-se pela prevenção quando
envolver diversas comarcas de um mesmo estado); se de âmbito regional ou nacional, no foro
da capital do estado, tendo-se que aplicar, mais uma vez, as regras do CPC quanto à
competência pela prevenção. Ressalte-se, aqui, outra particularidade: não obstante ostentar
natureza absoluta (funcional), a lei autoriza a modificação de competência mediante as regras
da conexão, continência e prevenção.

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Ressalte-se, por fim, que a ACP será julgada por juiz federal quando a união tiver
interesse (na condição de autora, ré, assistente ou opoente).

C) Objeto

O artigo 3º menciona que a ação poderá ter como objeto a condenação em dinheiro ou
obrigação de fazer ou não fazer.

D) O termo de ajustamento de conduta (TAC)

Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de


ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de
título executivo extrajudicial.

E) Procedimento

O procedimento seguirá os seguintes passos:


→ Petição Inicial: deverá obedecer aos requisitos gerais descritos nos artigos 319 e
320 do NCPC. Perceba, inclusive, quanto à instrução dos documentos, que os interessados
poderão requerer às autoridades competentes as informações que julgarem necessárias, a
serem fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias. Quanto ao ministério público, o seu poder é de
requisição, conforme mencionado alhures.
→ Admissibilidade: Proposta a demanda os autos irão conclusos para a
admissibilidade e verificação de cabimento de liminar. Poderá o juiz conceder mandado liminar,
com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo. Perceba que a liminar
determinará o cumprimento da obrigação específica (tutela específica - fazer ou não fazer),
podendo o magistrado valer-se (a requerimento ou de ofício) das intituladas medidas
executivas ou de apoio (a lei fala de multa diária ou astreintes). Quanto à exigibilidade da multa
diária, a lei menciona que esta só será exigida do réu após o trânsito em julgado da decisão
favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.

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A concessão da liminar não se limita ao ataque pela via do agravo.

Destaque-se que a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e


para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o
Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a
execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas
julgadoras. Seu prazo será de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.

É o chamado pedido de suspensão. O objetivo é preservar o que denominamos de


“interesses públicos relevantes”.

→ Sentença e Coisa Julgada: Instruído o feito, os autos irão a julgamento.

Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um


fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos
destinados à reconstituição dos bens lesados. No âmbito trabalhista, por exemplo, os recursos
irão ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

A sentença civil fará coisa julgada erga omnes (veja-se que a regra é a de que a
sentença faz coisa julgada entre as partes às quais é dada, não beneficiando nem
prejudicando terceiros- art. 506, CPC), nos limites da competência territorial do órgão
prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em
que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de
nova prova (artigo 16, LACP).

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EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

Já verificamos que o processo de conhecimento é capaz de desaguar na confecção de


um documento com força executiva, denominado “título executivo”. Observou-se, também, que,
não sendo a obrigação espontaneamente cumprida, passaríamos à nova etapa procedimental,
de natureza executiva, denominada de “fase de cumprimento de sentença”, cujos
procedimentos estão capitulados na Parte Especial, livro I, título II, do CPC.

Ocorre que existem outros documentos, capitulados no artigo 784, CPC, que possuem
natureza executiva, sendo desnecessário ajuizamento de demanda cognitiva: são os títulos
executivos extrajudiciais. De posse deles, o credor poderá valer-se, diretamente, de demanda
executiva, originando um processo de execução autônomo.

Destarte, o processo de execução autônomo é aquele utilizado para os títulos


executivos extrajudiciais, cujos procedimentos estão inseridos na Parte Especial, livro II do
CPC.

OBRIGAÇÕES PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

A execução por quantia certa tem por objetivo expropriar bens do devedor a fim de
satisfazer o direito do credor, consubstanciado no título executivo judicial ou extrajudicial.
Conforme exposto alhures, os procedimentos executivos possuem algumas diferenças,
conforme se baseiem em título judicial ou extrajudicial, especialmente quanto à forma de
defesa do devedor. No mais, os traços procedimentais são os mesmos, tendo em vista a
aplicação subsidiária da disciplina de execução de quantia certa de títulos extrajudiciais ao rito
do cumprimento de sentença de obrigação de mesma natureza.
O cumprimento de sentença já foi objeto de estudo. Agora, cabe-nos deter na disciplina
jurídica que norteia o procedimento executivo das obrigações para pagamento de quantia
certa.
A ação de execução de título extrajudicial segue, basicamente, o seguinte esquema
procedimental:

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→ propositura da ação: dar-se-á com a apresentação da petição inicial, preenchida
com os requisitos da lei (título executivo e demonstrativo do débito atualizado). Poderá,
inclusive, o credor já indicar bens penhoráveis do devedor, a teor do que preceitua o artigo 798,
II, “c”, CPC.

→ despacho da inicial: apresentada a petição inicial, segue-se a apreciação da sua


admissibilidade pelo magistrado, o qual pode determinar a sua emenda (acaso não possua o
documento indispensável, por exemplo), indeferi-la (acaso não venha a ser sanada a
irregularidade ou título não for executivo, por exemplo), ou, finalmente, determinar o
processamento da execução, com a expedição de mandado de pagamento da obrigação.
Ressalte-se que o exequente poderá obter certidão comprobatória da admissão da
execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro
de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto. É a
chamada “averbação premonitória” (art. 828, CPC). O objetivo é fazer presumir em fraude à
execução, qualquer alienação de bens posterior a essa data, dispensada a prova de
insolvência.
Ao despachar a inicial, o juiz também fixará os honorários advocatícios de 10% (dez
por cento), a serem pagos pelo executado. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três)
dias, a verba honorária será reduzida pela metade.
O valor dos honorários poderá ser elevado até 20% (vinte por cento), quando rejeitados
os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao
final do procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do
exequente.
→ citação: o executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias,
contado da citação. Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a
avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no
prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. Se o oficial de justiça
não encontrar o executado, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a
execução. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o
executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita de ocultação, realizará a

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citação com hora certa, certificando pormenorizadamente o ocorrido. Incumbe ao exequente
requerer a citação por edital, uma vez frustradas a pessoal e a com hora certa.
→ atitudes do devedor: recebida a inicial e realizada a citação, o credor poderá tomar
as seguintes atitudes: 1) Efetuar o pagamento voluntário: haverá a extinção do processo
executivo e os honorários advocatícios serão reduzidos pela metade; 2) Requerer o
parcelamento (art. 916, CPC): poderá o executado, no prazo dos embargos, reconhecendo o
débito e juntando (trinta por cento) do valor em execução, requerer seja admitido a pagar o
restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1%
(um por cento) ao mês. Tal benefício não constitui ato que vincula o magistrado, o qual poderá
ou não deferi-lo. O exequente será intimado para manifestar-se sobre o pedido de
parcelamento e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias. Enquanto não apreciado o
requerimento, o executado terá de depositar as parcelas vincendas, facultado ao exequente
seu levantamento. Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósito,
que será convertido em penhora; Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia
depositada, e serão suspensos os atos executivos. O descumprimento de qualquer das
prestações importará o vencimento antecipado das demais e o prosseguimento do processo,
com o imediato início dos atos executivos bem como a imposição de multa de 10% (dez por
cento) sobre o valor das prestações remanescentes; 3) Apresentar embargos à execução: os
embargos qualificam-se como a defesa com a natureza jurídica de ação incidental autônoma.
Serão os embargos distribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com
cópias das peças processuais relevantes. Serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias. Vale
ressaltar que, não obstante seja a execução movida em face de litisconsortes com diferentes
procuradores, o prazo dobrado do artigo 229, CPC, não lhes será aplicado. Recebidos os
embargos, será o exequente ouvido no prazo de 15 (quinze) dias. Os embargos à execução
não terão efeito suspensivo (art. 919, CPC). O juiz poderá, a requerimento do embargante,
atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da
tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou
caução suficientes. É o caso, por exemplo, dos embargos versarem sobre a penhorabilidade
de bem protegido por lei;

→ Penhora: tendo em vista que os embargos não mais possuem efeito suspensivo, os
atos de constrição e expropriação seguirão paralelamente ao seu rito. A expropriação apenas
não se aperfeiçoará acaso seja deferido efeito suspensivo aos embargos.

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Pois bem, não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, o oficial de
justiça procederá de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-se o respectivo
auto e de tais atos intimando, na mesma oportunidade, o executado.

A penhora pode ser definida como o ato que individualiza bens no patrimônio do
devedor, os quais serão sujeitos a posterior expropriação.

Quanto aos limites, a penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o
pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios.

A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo se outros forem
indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição
proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente.

O ato judicial em questão deverá obedecer à ordem de prioridade estabelecida no


artigo 835, CPC, a saber: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira (para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a
requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário,
preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do
executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na
execução. As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o
valor indicado na execução); II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito
Federal com cotação em mercado; III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre; V - bens imóveis; VI - bens móveis em geral; VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves; IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias; X -
percentual do faturamento de empresa devedora; XI - pedras e metais preciosos; XII - direitos
aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.

→ Depósito de bens: os bens penhorados serão preferencialmente depositados:

# as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e os metais preciosos, no


Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o Estado ou o Distrito

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Federal possua mais da metade do capital social integralizado, ou, na falta desses
estabelecimentos, em qualquer instituição de crédito designada pelo juiz;

# os móveis, os semoventes, os imóveis urbanos e os direitos aquisitivos sobre


imóveis urbanos, em poder do depositário judicial. Se não houver depositário judicial, os bens
ficarão em poder do exequente. Os bens poderão ser depositados em poder do executado nos
casos de difícil remoção ou quando anuir o exequente.

# os imóveis rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as máquinas, os


utensílios e os instrumentos necessários ou úteis à atividade agrícola, mediante caução
idônea, em poder do executado.

→ Dos atos de Expropriação


Realizada a penhora e avaliação, inicia-se a fase expropriatória. A atual sistemática
executiva consagra as seguintes modalidades de expropriação:

# Adjudicação (arts. 876 a 878, CPC): é a forma preferencial de expropriação,


mediante a entrega do próprio bem penhorado ao credor. Verifica-se a adjudicação quando o
exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requer lhe sejam adjudicados os
bens penhorados. A adjudicação considera-se perfeita e acabada com a lavratura e assinatura
do auto pelo juiz, pelo adjudicante, pelo escrivão e, se for presente, pelo executado, expedindo-
se a respectiva carta, se bem imóvel (este documento substitui a tradicional compra e venda
entre particulares). Urge ressaltar que a carta só será emitida juntamente com a prova da
quitação dos tributos (a serem pagos pelo adquirente). Em se tratando de bem móvel, será
expedido mandado de entrega ao adjudicante.
# Alienação por iniciativa particular (arts. 879 e 880, CPC): dá-se quando, não
realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exequente requerer sejam eles alienados por
sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado perante a
autoridade judiciária. A negociação do bem é feita extrajudicialmente, devendo o juiz fixar: a) o
prazo em que a alienação deve ser efetivada; b) a forma de publicidade; c) o preço mínimo; d)
as condições de pagamento e as garantias, bem como, se for o caso, a comissão de
corretagem. Concluída a negociação, a alienação será formalizada por termo nos autos,

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assinado pelo juiz, pelo exequente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado,
expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel,
mandado de entrega ao adquirente.
# Alienação em leilão judicial eletrônico ou presencial (arts. 881 a 903, CPC):
assemelha-se a uma espécie de licitação. Só deve ser utilizada no caso de não ter ocorrido
nem adjudicação, nem alienação por iniciativa particular.
O leilão do bem penhorado será realizado por leiloeiro público.
Ressalvados os casos de alienação a cargo de corretores de bolsa de valores, todos
os demais bens serão alienados em leilão público.
Não sendo possível a sua realização por meio eletrônico, o leilão será presencial. A
alienação judicial por meio eletrônico será realizada, observando-se as garantias processuais
das partes, de acordo com regulamentação específica do Conselho Nacional de Justiça.
Sendo presencial, o leilão será realizado no local designado pelo juiz.
O leilão será precedido de publicação de edital, que conterá: I - a descrição do bem
penhorado, com suas características, e, tratando-se de imóvel, sua situação e suas divisas,
com remissão à matrícula e aos registros; II - o valor pelo qual o bem foi avaliado, o preço
mínimo pelo qual poderá ser alienado, as condições de pagamento e, se for o caso, a
comissão do leiloeiro designado; III - o lugar onde estiverem os móveis, os veículos e os
semoventes e, tratando-se de créditos ou direitos, a identificação dos autos do processo em
que foram penhorados; IV - o sítio, na rede mundial de computadores, e o período em que se
realizará o leilão, salvo se este se der de modo presencial, hipótese em que serão indicados o
local, o dia e a hora de sua realização; V - a indicação de local, dia e hora de segundo leilão
presencial, para a hipótese de não haver interessado no primeiro; VI - menção da existência de
ônus, recurso ou processo pendente sobre os bens a serem leiloados.
A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato e poderá abranger bens
penhorados em mais de uma execução, nele mencionadas as condições nas quais foi alienado
o bem.
A ordem de entrega do bem móvel ou a carta de arrematação do bem imóvel, com o
respectivo mandado de imissão na posse, será expedida depois de efetuado o depósito ou
prestadas as garantias pelo arrematante, bem como realizado o pagamento da comissão do
leiloeiro e das demais despesas da execução.

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A carta de arrematação conterá a descrição do imóvel, com remissão à sua matrícula
ou individuação e aos seus registros, a cópia do auto de arrematação e a prova de pagamento
do imposto de transmissão, além da indicação da existência de eventual ônus real ou gravame.

→ Finalização da execução: Realizada a expropriação deste, o produto da venda


será entregue ao exequente, de modo que haverá extinção da obrigação mediante o
pagamento, caso em que magistrado proferirá sentença declarando a extinção da execução.

OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

A exemplo do que ocorre com as obrigações para entrega de coisa, as obrigações de


fazer fundadas em título judicial serão executadas mediante as técnicas da efetivação da tutela
específica, com a utilização das medidas de apoio previstas no artigo 536, § 1o, CPC.
O processo executivo autônomo remanesce, contudo, nas obrigações apoiadas em
título executivo extrajudicial. Assim, cabe-nos abordar, agora, a execução das obrigações de
fazer e não-fazer fundadas em título executivo extrajudicial e disciplinadas nos artigos 814 a
823 do CPC.
Vejamos o procedimento a ser utilizado:
→ Petição inicial: em atendimento ao princípio da inércia, o credor deverá elaborar a
petição inicial, nela acostando o título executivo que serve de base à execução, além de
apontar expresso pedido de citação do devedor para cumprir com a obrigação.
→ Juízo de admissibilidade: intentada a ação, os autos irão conclusos ao magistrado
para que este efetue o juízo de admissibilidade da demanda executiva, podendo tomar uma
dentre as seguintes atitudes:
1) emenda da inicial, sob pena de indeferimento (se ausente o título, por exemplo); 2)
indeferimento no caso de vício insanável (a exemplo de manifesta ilegitimidade de parte); 3)
processamento da execução, onde o juiz fixará multa por período de atraso no cumprimento
da obrigação e a data a partir da qual será devida. Se o valor da multa estiver previsto no título
e for excessivo, o juiz poderá reduzi-lo.

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→ citação: proposta a demanda e realizado o juízo de admissibilidade, o devedor será
citado para satisfazer a obrigação no prazo assinado pelo magistrado, se outro não estiver
disposto no título executivo.
→ atitudes do réu: sendo citado, poderá o réu adotar as seguintes posturas: 1)
satisfação voluntária da obrigação: a satisfação voluntária da obrigação extingue o
processo, proferindo o magistrado, por conseguinte, sentença finalizando a relação processual
executiva; 2) inércia: permanecendo o devedor inerte no cumprimento da obrigação, duas
alternativas restarão ao credor: sendo fungível a prestação de fazer (aquela que pode ser
prestada por qualquer pessoa, a exemplo de um contrato para transporte escolar), poderá
insistir no cumprimento da obrigação específica, a ser realizada por um terceiro às custas do
devedor. Neste caso, o credor apresentará simples proposta a ser homologada pelo magistrado
após a oitiva da parte contrária. Sendo aprovada, caberá ao credor adiantar as despesas a
serem efetuadas, as quais serão cobradas posteriormente ao devedor, sob pena de execução
forçada; Sendo infungível a prestação (a exemplo de cantor renomado que não mais deseja
executar show ou artista plástico a confeccionar determinada escultura) ou, ainda que fungível,
desejando o credor, poderá a obrigação se converter em perdas e danos, de modo que a
obrigação específica se transmudará em genérica, observando-se, daí por diante, as regras
pertinentes à execução por quantia certa; 3) embargos do devedor: é a ação incidental
apresentada pelo devedor, visando combater aspectos relativos à obrigação disposta no título
executivo. Sendo julgados procedentes, a execução será extinta. Sendo rejeitados, proceder-
se-á de conformidade com a opção executiva dada ao credor, nos termos anteriormente
expostos.

→ obrigações de não-fazer: a rigor, a execução de obrigação de não-fazer


representa, muitas vezes, na prestação de ato positivo (num fazer), consistente na
obrigatoriedade, por parte do devedor, de desfazer o ato a que estava proibido realizar. Por
exemplo, aquele que se comprometeu não construir muro acima de determinado limite (num
condomínio, por exemplo), será obrigado, por intermédio de processo executivo, a desfazer a
construção realizada em desacordo com a obrigação consubstanciada no título.

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OBRIGAÇÕES PARA ENTREGA DE COISA

O objetivo, aqui, é forçar o devedor a cumprir obrigação de entregar coisa, quando o


ajuste estiver consubstanciado em documento cujo o qual a lei atribuiu força executiva. É o
caso, por exemplo, de contrato, devidamente assinado pelo devedor e duas testemunhas, em
que ficou ajustado a entrega de mercadorias, as quais não foram entregues.
Eis o procedimento para a execução de título extrajudicial:

→ petição inicial: além de anexar o título executivo que serve de base à execução, a
petição inicial será apresentada com a individualização da coisa na hipótese do título prever
coisa certa ou cuja escolha caiba ao credor.

Se, cabendo ao credor a escolha, este não proceder com a discriminação do objeto da
obrigação, deverá o magistrado determinar a emenda, sob pena de extinção processual sem
resolução de mérito.
Em se tratando de entrega de coisa incerta, cuja escolha caiba ao devedor, este será
citado para efetuar a escolha, entregando-a individualizadamente.
De toda forma, feita a escolha, a parte contrária poderá impugná-la dentro de 15
(quinze) dias.
→ despacho: O legislador previu a possibilidade de o juiz fixar, ao despachar a inicial,
multa diária para a hipótese de demora no cumprimento da obrigação. É a denominada
“astreintes”, medida de apoio que tem por objetivo constranger o devedor ao cumprimento
imediato da obrigação. Vale ressaltar que o valor da penalidade em questão poderá ser
diminuído ou majorado, a depender de se vislumbrar excessivo ou insuficiente.
→ citação: proposta a demanda e realizado o juízo de admissibilidade, o devedor será
citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação.
Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão,
conforme se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o
executado não satisfizer a obrigação no prazo que lhe foi designado.
→ atitudes do executado: feita a citação, o executado poderá adotar uma das
seguintes posturas: 1) entrega voluntária da coisa: a entrega da coisa extingue a obrigação e
o processo, exceto na hipótese de necessidade de prosseguimento da demanda em virtude de

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pagamento de frutos ou fixação de indenização por prejuízos ou, ainda, apuração de multa
(prevista no título ou na decisão fixada pelo juízo), caso em que a execução passará a ser
processada mediante o rito da obrigação por quantia certa; 2) embargos do devedor: é o
instrumento de defesa apresentado pelo devedor, visando combater aspectos relativos à
obrigação disposta no título executivo.
→ a alienação da coisa litigiosa: Alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido
mandado contra o terceiro adquirente, que somente será ouvido após depositá-la. O depósito
da coisa em juízo pelo terceiro é pressuposto de que qualquer manifestação dele possa ser
conhecida pelo juízo. O terceiro poderá se opor à execução mediante o instrumento de
embargos de terceiro (arts. 674 a 681, CPC).
→ Da impossibilidade do cumprimento da obrigação específica: caso não seja
mais possível o cumprimento da obrigação específica (seja porque a coisa se deteriorou, não
foi encontrada ou, finalmente, não for requisitada das mãos de terceiro) a obrigação se
converterá em genérica (execução por quantia certa, calculada com base no valor da coisa
mais as perdas e danos). Será mister, no entanto, que o credor proceda com a prévia
liquidação, mediante estimativa em planilha de cálculos (a qual acompanhará a inicial) ou
arbitramento.

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