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Maria Paixão Organização Judiciária – 2017/2018

Capítulo I – Introdução
1. Conceito e âmbito da organização judiciária
A organização judiciária pode definir-se enquanto:
“conjunto dos órgãos aos quais, nos termos constitucional e legalmente previstos, compete administrar a
justiça, nas diversas matérias”.
Por sua vez, o ordenamento judiciário consiste no:
“acervo de normas (constitucionais, legais e regulamentares) que disciplinam os órgãos aos quais compete
administrar a justiça”.
Note-se que falamos aqui “ordenamento judiciário”, e não em “direito judiciário” porque não há um sistema de
institutos que discipline de maneira orgânica e coordenada a atividade dos juízes.
Neste contexto, importa atentar num expediente jurisdicional instituído entre nós em virtude da inserção do Estado
português na Unidade Europeia: o “reenvio prejudicial” para o TJUE. Este instituto encontra-se previsto no art. 267º
TFUE e veio introduzir uma nova nuance na organização judiciária interna, consistindo na possibilidade de os órgãos
jurisdicionais de qualquer Estado Membro poderem solicitar ao Tribunal de Justiça da UE pronuncia acerca de
questões respeitantes (a) à interpretação dos Tratados ou (b) à validade e interpretação dos atos adotados pelas
instituições, órgãos ou organismos da UE, sempre que considerarem que a decisão acerca dessas questões é necessária
ao julgamento da causa concreta.
Reenvio Prejudicial
Facultativo Obrigatório
» o reenvio pode ou não ser efetuado quando a decisão » o reenvio tem necessariamente que ter lugar quando
do tribunal nacional seja ainda suscetível de recurso a decisão do tribunal nacional não seja suscetível de
para tribunal superior recurso judicial a nível interno
Verificando-se o reenvio para o TJUE, a instância fica suspensa até à pronuncia daquele tribunal, sendo que a sentença
proferida faz caso julgado no processo, devendo, por isso, ser aplicada pelo tribunal no caso concreto.
2. Noções fundamentais
2.1 Tribunais
Dos preceitos constitucionais (arts. 202º/1, 203º, 215º e 217º CRP) e legais (arts. 2º/1 LOSJ e 1º/1 ETAF) com relevo
na matéria, retira-se a seguinte noção de “tribunais”:
“órgãos de soberania, dotado de independência, aos quais compete administrar a justiça em nome do povo”.
Desta noção retiram-se os seguintes elementos caraterizadores deste conceito:
Órgãos de soberania: a par do Presidente da República, do Governo e da Assembleia da República, os Tribunais
são também órgãos de soberania (art. 110º/1 CRP), cabendo-lhes o poder jurisdicional;
Independência: os tribunais são órgãos estaduais dotados de independência (art. 203º CRP), em relação aos
outros poderes do Estado e entre si (salvo o necessário acatamento de decisão em via de recurso);
Função jurisdicional: cabe aos tribunais o exercício exclusivo da jurisdição, por intermédio dos juízes; na
administração da justiça, cabe aos tribunais (art. 202º CRP):
Defender os direitos (subjetivos) e interesses legalmente previstos dos cidadãos;
Reprimir as violações da legalidade democrática (sancionar as condutas violadoras da lei);
Dirimir conflitos de interesses públicos e provados (julgar litígios e impor coercivamente o acatamento
das decisões adotadas).
Atuação em nome do povo: os tribunais administram a justiça em nome do povo, já que a soberania que lhes
é cedida reside, verdadeiramente, no povo (arts. 2º, 3º/1 e 108º CRP; arts. 2º/1 LOSJ e 1º/1 ETAF).
Esta noção não congloba os tribunais arbitrais que, embora exerçam, em determinados termos, a função jurisdicional,
não integram a pirâmide judiciária estadual, consistindo em tribunais compostos por juízes privados.
2.2 Jurisdição
A jurisdição pode ser encarada em duas aceções:
1. Poder de julgar, constitucionalmente atribuído ao conjunto dos tribunais existentes na ordem jurídica
portuguesa (art. 202º/1 e 2 CRP).
Função/poder judicial
[Contrapõe-se às demais funções ou poderes estaduais – legislativa, executiva e política.]
2. Poder de julgar conflitos de interesses que a Constituição e a lei põem a cargo de cada uma das ordens de
tribunais, por contraposição ao poder reconhecido a outra categoria de tribunais (art. 109º/1 CPC).

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2.3 Competência
A competência dos tribunais define-se como:
“parcela do poder jurisdicional atribuída a cada um dos tribunais integrados numa certa categoria ou cada
uma das espécies de tribunais que integram a mesma ordem jurisdicional”.
Competência Jurisdição
por ex. tribunal de comarca X por ex. os tribunais judiciais

NOTA: é comum na literatura encontrar a expressão “competência internacional dos tribunais portugueses”, a qual é
terminologicamente incorreta. Esta expressão pretende designar a parcela do poder jurisdicional que é atribuída aos
tribunais portugueses no seu conjunto, em contraposição à parcela desse poder que é reconhecida a tribunais não
nacionais. Assim sendo, a expressão correta para designar este poder é “jurisdição internacional” (dos tribunais
portugueses). O conceito “competência” não pode ser utilizado para referir o poder jurisdicional atribuído a todos os
tribunais; ele refere-se, sempre, a parcelas desse poder reconhecidas a determinadas categorias de tribunais.
O conceito de competência enunciado é um conceito abstrato, que deve ser utilizado em referência à jurisdição. Não
obstante, podemos também mobilizar este conceito em concreto. Ora veja-se:
conflito de competencia (pode ser negativo ou
posiivo) 109; n2 Competência abstrata Competência concreta
» fração do poder jurisdicional atribuída a um tribunal » legitimidade de um específico tribunal para julgar
(ou juízo) ou a uma categoria de tribunais uma determinada causa concreta
[Ex.: Os Juízos de Família e Menores são competentes para julgar ações de investigação de paternidade; a lei confere-
lhes competência abstrata nesta matéria. Todavia, o Juízo de Família e Menores de Coimbra pode não ser competente
para julgar uma determinada ação de investigação de paternidade, em que o pretendo pai tem domicílio em Braga;
aquele juízo não tem competência concreta para julgar esta causa.]
2.4 Instância e grau de jurisdição
A expressão “instância” pode ser considerada segundo duas aceções:
1. Relação jurídica processual (triangular) que se estabelece e desenvolve entre cada uma das partes e o tribunal
(arts. 259º e 291º CPC).
Relação que tem início com a proposição da ação e fica completa com a citação do réu, com a qual
ficam estáveis os seus elementos primordiais – pessoas (autor e réu) + pedido + causa de pedir.
2. Grau de jurisdição que compete aos vários tribunais da mesma categoria.
Fala-se, a este respeito, em:
Tribunal de 1ª Instância: tribunal de 1º grau de jurisdição, no qual, nos termos legais, deve ser
proposta, apreciada e decidida a ação pela primeira vez;
Tribunal de 2ª Instância: tribunal de 2º grau de jurisdição em que é decidido o recurso
interposto das sentenças proferidas em 1º grau de jurisdição por tribunais pertencentes à
mesma ordem mas hierarquicamente inferiores (tribunais de 1ª instância).
Esta segunda aceção é aquela que ora nos importa. A regra em matéria cível é a existência de dois graus de jurisdição,
associados a um grau de apelação. De facto, o “recurso de apelação” é realizado do tribunal de 1ª instância (em regra,
um Tribunal de Comarca) para o tribunal de 2ª instância (em princípio será um Tribunal da Relação). O eventual recurso
para o STJ é, por norma, um “recurso de revista”, e já não um recurso de apelação. Igual regra (dois graus de jurisdição)
vigora em matéria penal e administrativa e fiscal, mas com adaptação da denominação. Quanto a esta última categoria
de tribunais, refira-se que o tribunal de 1ª instância é, por regra, um Tribunal Administrativo de Círculo, e o tribunal
de 2ª instância é, também em princípio, um dos dois Tribunais Centrais Administrativos. Também aqui o recuso para
o STA é um recurso de revista, excecional.
2.5 Alçada
Possuem alçada os tribunais judiciais, apenas em matéria cível (não há alçada em matéria criminal), os tribunais
administrativos e fiscais – arts. 44º/1 e 2 LOSJ e 6º ETAF.
Por alçada entende-se:
“o limite de valor até ao qual o tribunal decide sem possibilidade de recurso ordinário”.
Em regra, apenas é admitida a interposição de recurso ordinário (para tribunal de 2ª instância) da decisão proferida
em ações cujo valor seja superior à alçada do respetivo tribunal (arts. 629º/1 CPC, art. 42º/2 LOSJ, art. 142º/1 CPTA e
art. 280º/4 CPPT). Portanto, até ao limite do valor da alçada, o tribunal competente decide sem que a decisão que

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venha a ser proferida seja suscetível de recurso. Só quando as ações tenham valor superior a esse limite será possível
o recurso da decisão proferida. Importa, então, não confundir este conceito com o de competência:
Competência Alçada
» legitimidade do tribunal para julgar e decidir uma » limite de valor (das ações) até ao qual o recurso da
específica causa concreta decisão não é possível
A competência pode, efetivamente, estar dependente de um critério de valor. Contudo, este critério não é único,
estando acompanhado dos critérios da matéria, do território e da hierarquia. Ademais, os montantes considerados
para esses efeitos não coincidem com os valores das alçadas dos tribunais. Significa isto que o facto de uma causa ter
um valor superior à alçada do tribunal não significa que esse não seja o tribunal competente para a julgar; significa
tão-só que a decisão que vier a ser proferida é suscetível de recurso, não constituindo resolução definitiva do caso.
As alçadas dos tribunais judicias (em matéria cível) são:
Alçada do tribunal de 1ª instância: 5.000 €
Alçada do tribunal de 2ª instância: 30.000 €
Iguais alçadas se aplicam aos tribunais administrativos e fiscais, por disposição dos arts. 105º LGT e 6º ETAF.
3. Fontes de direito
As disposições normativas que integram o ordenamento judiciário têm como fontes:
Constituição da República Portuguesa: a constituição procede à definição da formação, composição,
competência e funcionamento dos tribunais, já que, como referido, eles são órgãos de soberania (art. 110º/2
CRP). Vejam-se, a respeito da organização judiciária, os arts. 209º e ss. CRP;
Diplomas legais: em face da insuficiência dos preceitos constitucionais, também a lei disciplina diretamente a
matéria da organização judiciária. São preponderantes nesta matéria os seguintes diplomas:
Lei de Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional – LOFPTC (Lei nº 28/82);
Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas – LOPTC (Lei nº 98/97);
Lei da Organização do Sistema Judiciário – LOSJ (Lei nº 62/2013);
Regime da Organização e Funcionamentos do Tribunais Judiciais – ROFTJ (Decreto-Lei nº 49/2014);
Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais – ETAF (Lei nº 13/2012);
Decreto-Lei nº 325/2003;
Código de Processo Civil (CPC), Código de Processo do Trabalho (CPT), Código de Processo Penal (CPP),
Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), Código de Procedimento e Processo
Tributário (CPPT) e Código de Justiça Militar;
Lei nº 2/2008;
Lei nº 78/2001;
Estatuto dos Magistrados Judiciais – EMJ (Lei nº 21/85);
Estatuto dos Magistrados do Ministério Público – EMP (Lei nº 47/86).
Diplomas regulamentares: em face da insuficiência dos preceitos constitucionais e legais, regulam também a
matéria da organização judiciária diversos Regulamentos.
4. Categorias de tribunais previstas na Constituição
4.1 Tribunais estaduais
A Lei Fundamental institui entre nós uma pluralidade de jurisdições, prevendo diversas espécies de tribunais estaduais
(arts. 209º/1, 2 e 4 e 213º CRP):
Tribunal Constitucional;
Supremo Tribunal de Justiça e Tribunais Judiciais (Tribunais de Comarca e Tribunais da Relação);
Supremo Tribunal Administrativo e Tribunais Administrativos e Fiscais (T. A. Círculo e T. Centrais A.);
Tribunal de Contas;
Tribunais Marítimos;
Tribunais Militares;
Julgados de Paz (?).
4.2 Tribunais arbitrais
Além dos tribunais estaduais, a Constituição prevê ainda a constituição de tribunais arbitrais, isto é, de tribunais
compostos por juízes privados, escolhidos pelas partes.
5. A independência dos tribunais e os seus sentidos
O art. 203º CRP dispõe peremptoriamente que “os tribunais são independentes”, estando apenas “sujeitos à lei”.

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No mesmo sentido vão os arts. 22º LOSJ, 2º ETAF e 7º/1 LOPTC.
Esta independência deve, contudo, ser entendida em dois sentidos:
Independência dos tribunais
Independência externa Independência interna
» não subordinação do poder judicial a qualquer outro » não subordinação dos tribunais a ordens, diretivas ou
poder estadual (concretização do princípio da instruções emitidas por outro tribunal, ainda que
separação dos poderes – art. 111º/1 CRP) hierarquicamente superior
[NOTA: no que diz respeito ao princípio da separação de poderes, importa referir que o poder judicial não está sujeito
à interdependência referida no art. 111º CRP, porquanto os tribunais apenas estão sujeitos à lei (art. 203º CRP).]
A independência interna, nos termos em que foi definida, tem duas manifestações:
Independência entre categorias ou ordens de tribunais » as diversas ordens de tribunais são independentes
entre si (ex.: tribunais judiciais/tribunais administrativos), bem como o são as diversas categorias de tribunais
que integram cada ordem (ex.: tribunais de comarca/tribunais da relação);
Independência dentro das ordens de tribunais » as várias “unidades operativas” existentes dentro de cada
tribunal são também independentes entre si (ex.: juízo de família e menores/juízo de comércio).
! De notar que a independência aqui explanada, que se traduz na não sujeitação da ordens ou diretivas, não se
confunde com o dever de acatamento das decisões dos tribunais superiores em sede de recurso. Aqui não está em
causa a sujeição a quaisquer ordens, mas tão-só o dever de respeitar e acatar a decisão de tribunal hierarquicamente
superior sobre a mesma causa, pois só na observância deste respeito tem efetivação prática o recurso jurisdicional.
6. Independência dos juízes e suas garantias
6.1 Consagração
A independência dos juízes encontra-se consagrada no nosso ordenamento jurídico implícita e explicitamente. Por um
lado, esta independência está implícita na independência dos tribunais, já que a administração da justiça que aos
tribunais compete é efetuada por intermédio dos juízes; por outro lado, ela encontra-se expressamente prevista nos
arts. 222º/5 CRP, 22º LOFPTC, 4º/1 LOSJ, 4º/1 EMJ, 3º ETAF.
Refira-se que o art. 3º ETAF não alude diretamente à independência dos juízes, mas consagra “garantias de
independência” que inequivocamente se reportam aos juízes.
Da conjugação de todos os preceito mencionados resulta que a independência dos juízes se traduz no seguinte:
“legitimidade para julgar e administrar a justiça apenas em obediência à Constituição e à Lei, sem sujeição a
demais ordens ou instruções (provenientes, designadamente, de outros poderes estaduais ou de juízes posicionados
em escalões superiores da respetiva magistratura)”.
A independência dos juízes não se confunde, então, com a imparcialidade que lhes é exigida:
Independência Imparcialidade
» desvinculação de ordens ou instruções externas que não » posição objetiva assumida perante a controvérsia em juízo,
decorram da lei ou da constituição que se traduz na desvinculação dos interesses em conflito
A imparcialidade, nas palavras de José Alberto dos Reis, implica que o juiz este “acima das partes” e que ele seja “alheio
ao conflito de interesses particulares que a lide exprime e traduz”. Portanto, aqui não está em causa a não sujeição a
ordens, diretivas ou instruções externas, mas sim a não sujeição aos interesses internos do caso decidendo.
Logicamente, a independência dos juízes é conditio sine qua non da respetiva imparcialidade: só um juiz independente,
não constrangido por forças externas (designadamente pelos demais poderes estaduais), pode ser imparcial em
concreto. Não obstante, o raciocínio inverso já não será igualmente lógico: pode perfeitamente um juiz ser parcial
(não imparcial) mas, todavia, independente, pelo que a imparcialidade não é condição da independência.
Curioso, a este respeito, é o disposto no art. 8º/2 da LOPTC, o qual estatui a não sujeição dos juízes a “quaisquer
ordens ou instruções” como garantia da sua independência. Todavia, aquela não sujeição a ordens ou instruções não
deve ser vista como “garantia” da independência dos juízes; ela é, isso sim, o núcleo da própria independência. Não
há independência dos juízes quando a sua atuação decisória se encontra exposta a ingerências de outras entidades
e/ou de outros juízes. Este é o entendimento acolhido no art. 4º/1 EMJ e no art. 4º/1 LOSJ.
São verdadeiras garantias da independência dos juízes:
Inamovibilidade;
Irresponsabilidade;
Autogoverno;
Incompatibilidades.
6.2 Inamovibilidade

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A inamovibilidade está associada à ideia de estabilidade do cargo. Esta não é, contudo, uma estabilidade absoluta, que
implique a vinculação definitiva dos juízes a um lugar, mas sim uma estabilidade relativa, limitada pela lei e pela
Constituição. De acordo com o art. 216º/1 CRP, podemos definir a inamovibilidade como:
“garantia de que os juízes não podem ser (designadamente) transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos
senão nos casos previstos na lei”.
Assim sendo, salvaguarda-se a deslocação ou remoção dos juízes dos respetivos cargos, ressalvadas as exceções
previstas na lei. Esta inamovibilidade está concretamente consagrada no seguintes preceitos: art. 5º/ 1 da LOSJ; art.
6º do EMJ (magistrados judiciais); 3º/1 ETAF (juízes dos tribunais administrativos e fiscais). Como referido, as exceções
a esta estabilidade do cargo são apenas as que constem de lei. Refira-se, então, que esta matéria constitui reserva
absoluta de competência legislativa da Assembleia da República (art. 164º/m) CRP).
Importa referir que a inamovibilidade dos juízes do Tribunal Constitucional tem um alcance distinto daquele que
decorre do art. 216º/1 CRP, aplicável aos demais tribunais. A inamovibilidade dos juízes do Tribunal Constitucional é
assegurada pelo art. 222º/5 CRP, o qual deve ser conjugado com os arts. 22º e 23º LOFPTConst, dos quais resulta que
a inamovibilidade se traduz na impossibilidade de as suas funções cessarem antes do tempo do mandato para que
foram designados, salvo a verificação de uma das exceções do nº 1 do art. 23º. Só este conteúdo da inamovibilidade
faz sentido neste caso uma vez que o Tribunal Constitucional é um tribunal único, não sendo possível a “transferência”
dos juízes. O mesmo se aplica aos juízes do Tribunal de Contas, também tribunal único (7º/2 da LOPTContas).
Tendo em conta o que ficou já exposto, compreende-se que a inamovibilidade nada tem a ver com a duração legal do
cargo, isto é, com a natureza vitalícia ou temporária do exercício das funções. O facto de os juízes serem inamovíveis
não implica que eles exerçam as respetivas funções vitaliciamente. O caráter vitalício da nomeação está garantido
para os magistrados judiciais e para os juízes dos tribunais administrativos e fiscais (arts. 6º EMJ e 3º/3 e 57º ETAF).O
mesma já não se verifica, porém, quanto aos juízes do Tribunal Constitucional, cujo mandato tem uma duração de 9
anos e não é suscetível de renovação (art. 222º/3 CRP). Esta duração limitada do exercício das funções não significa
que a garantia de inamovibilidade fique de alguma forma descaraterizada ou desconsiderada. Ela fica garantida pela
exigência de que a nomeação ou designação seja feita por períodos de tempo e determinados e sem possibilidade de
renovação. Esta exigência afasta por completo a insegurança e incerteza que estariam associadas ao exercício de
funções por tempo não pré-estabelecido e à possibilidade renovação. Esta insegurança e incerteza poderia repercutir-
se na perda de independência já que os juízes passariam a estar submetidos a imposições de externas (quanto à
duração e renovação do seu cargo), com o perigo inerente de sujeição a diretivas das entidades competentes para
decidir acerca dessas questões.
Uma nota final nesta matéria é a de que tem vindo a ser levantada a questão da inconstitucionalidade do disposto na
1ª parte da alínea f) do nº 4 do art. 94º LOSJ, nos termos do qual “4 – O presidente do tribunal possui as seguintes
competências de gestão processual (...) f) Propor ao Conselho Superior da Magistratura a reafetação de juízes,
respeitado o princípio da especialização dos magistrados, a outro tribunal ou juízo da mesma comarca (...)”. Tem-se
arguido que esta possibilidade de “reafetação” violaria o princípio da inamovibilidade dos juízes, uma vez que ela não
decorre diretamente da lei (não são elencados os casos em que pode ter lugar), antes constituindo uma competência
(não vinculada) do presidente do tribunal do comarca e do Conselho Superior da Magistratura. Entendemos, todavia,
que o preceito supra-exposto não é inconstitucional. Não é, desde logo, porque, como apontado, a garantia da
inamovibilidade não é uma garantia absoluta, mas meramente relativa. E esta relativização decorre, exatamente, da
previsão legal de limites. Ora, o preceito em causa é, efetivamente, um preceito legal que limita a inamovibilidade.
Não há aqui uma afronta ao princípio, mas apenas um seu afrouxamento (até porque a reafetação ocorre dentro da
mesma Comarca). E não procede a argumentação que entende ser necessário, para que se fale em limitação legal,
uma enunciação dos casos em que a mobilidade pode ter lugar. Exigível é, somente, a previsão legal da possibilidade
de deslocação do juiz.
6.2 Irresponsabilidade
Também a irresponsabilidade dos juízes, enquanto garantia da sua independência, não tem caráter absoluto. O
princípio da irresponsabilidade dos juízes encontra-se consagrado constitucional e legalmente (arts. 216º/2 e 222º/5
CRP e art. 4º/2 LOSJ, art. 3º/2 ETAF, art. 24º LOFPTConst., art. 5º/2 EMJ, art. 7º LOFTCont.), sendo previstas na lei as
suas exceções. Tais exceções reconduzem-se a três categorias:
Responsabilidade criminal;
Nos termos previstos na
Responsabilidade civil;
Responsabilidade disciplinar. legislação penal, disciplinar e civil.

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A irresponsabilidade não é, muitas vezes, considerada enquanto garantia da independência dos juízes porque, por um
lado, comporta inúmeras exceções (que quase se tornam, ironicamente, na regra), e, por outro, não é condição
indispensável dessa independência.
Um desvio (teórico, diga-se desde já) ao princípio da irresponsabilidade é a situação dos Magistrados do Ministério
Público, considerados responsáveis, ao abrigo do disposto nos arts. 219º CRP, 9º/2 LOSJ e 76º/1 EMP. Este desvio
acaba por ser meramente teórico ou formal na medida em que as exceções à irresponsabilidade dos juízes são em tal
número que acabam por colocar estes últimos em posição semelhante à dos magistrados do MP, de modo que possa
(quase) afirmar-se que o verdadeiro princípio vigente é o da responsabilidade. Veja-se, então, em que é que os
estatutos convergem e os pontos em que divergem verdadeiramente:
Magistrados MP VS Magistrados judiciais
Responsáveis civil, penal e disciplinarmente (art. Responsáveis civil, penal e disciplinarmente (art.
76º/1 EMP); 5º/2 EMJ);
Responsabilidade política definitivamente afastada; Responsabilidade política definitivamente afastada;
Responsabilidade penal e disciplinar efetivadas nos Responsabilidade penal e disciplinar efetivadas nos
termos gerais; termos gerais;
Particularidades na efetivação da responsabilidade Particularidades na efetivação da responsabilidade
civil (art. 77º EMP): civil (art. 5º/3 EMJ e art. 26º LOPTContas):
Responsabilidade indireta: o responsável Responsabilidade indireta: o responsável
direto é o Estado, podendo este reagir direto é o Estado, podendo este reagir
contra o magistrado em via de regresso; contra o magistrado em via de regresso;
Exclusão da responsabilidade em caso de Exclusão da responsabilidade em caso de
culpa leve: é exigido dolo ou culpa grave. culpa leve: é exigido dolo ou culpa grave.
Hierarquicamente subordinados (art. 76º/1 e 3 Não subordinados a quaisquer ordens, diretivas ou
EMP) e, consequentemente, responsáveis pelo não instruções no exercício das suas funções.
acatamento de ordens ou diretivas superiores
6.3 Autogoverno
O autogoverno, como garantia da independência, traduz-se na gestão e disciplina próprias, isto é, na auto-
administração. Um “autogoverno puro” verifica-se no caso dos juízes do Tribunal Constitucional e dos juízes do
Tribunal de Contas. De facto, são os próprios Tribunais Constitucional e de Contas que exercem o poder disciplinar
sobre os respetivos juízes, ainda que se trate de atos praticados no exercício de outras funções (arts. 25º/1
LOFPTConst. e arts. 7º/2, 25º/1 e 75º/e) LOPTContas). No caso do Tribunal de Contas, este autogoverno vai ainda mais
longe: a nomeação dos respetivos juízes é da competência do Presidente do tribunal (art. 74º/1/j) LOPTContas).
No caso dos tribunais judiciais e administrativos e fiscais, o que se verifica é um “autogoverno mitigado”: gestão e
disciplina são competência de órgãos privativos, constitucionalmente autónomos. São eles:
Conselho Superior da Magistratura: órgão de gestão e disciplina dos juízes dos tribunais judiciais (art. 217º/1
CRP, arts. 6º/1, 153º e 155º/a) LOSJ e arts. 136º e 149º/a) EMJ).
Composição (art. 218º/1 CRP, art. 137º EMJ e art. 154º/1 LOSJ):
Presidente (por inerência, Presidente do STJ);
16 Vogais:
2 designados pelo Presidente da República;
Podem ser juízes ou não !
7 eleitos pela Assembleia da República;
7 juízes eleitos pelos seus pares.
Como se depreende, não está constitucionalmente garantida a maioria de juízes.
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais: órgão de gestão e disciplina dos juízes dos tribunais
administrativos e fiscais (art. 217º/2 CRP, arts. 6º/2, 160º e 162º/a) LOSJ e art. 74º/1 e 2/a) ETAF).
Composição (art. 75º ETAF e art. 161º/1 LOSJ):
Presidente (por inerência, Presidente do STA);
10 Vogais:
2 designados pelo Presidente da República;
Podem ser juízes ou não !
4 eleitos pela Assembleia da República;
4 juízes eleitos pelos seus pares.
Aplicam-se aqui as considerações expostas acima quanto à maioria de juízes.

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Ambos estes órgãos têm competência para nomear, colocar, transferir e promover os juízes dos respetivos tribunais,
bem como para exercer sobre eles o poder disciplinar.
6.4 Incompatibilidades
O regime de incompatibilidades vigente é uma decorrência do “regra da dedicação exclusiva dos juízes profissionais”.
A consagração deste regime verifica-se, desde logo, no art. 216º/3 CRP, o qual dispõe:
“Os juízes em exercício não podem desempenhar qualquer outra função pública ou privada, salvo as funções
docentes ou de investigação científica de natureza jurídica, não remuneradas, nos termos da lei.”
Os “termos da lei” em que as funções de docência e investigação podem ser desempenhadas constam do art. 13º/2
EMJ, para o qual remetem também os arts. 3º/3, 57º e 74º/2/q) ETAF. Este exercício de funções exige ainda, em todo
o caso, autorização do Conselho Superior de Magistratura e do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais. Este regime é ainda aplicável aos juízes do Tribunal Constitucional, por determinação do art. 222º/5 CRP, e aos
juízes do Tribunal de Contas, por determinação do art. 27º/1 LOPTContas.
Ao nível da lei, o art. 5º/2 LOSJ reproduz o art. 216º/3 CRP e o art. 13º/1 EMJ acrescenta às funções passíveis de
exercício pelos juízes dos tribunais judiciais as funções diretivas em organizações sindicais da magistratura judicial.
O princípio da dedicação exclusiva dos juízes às funções próprias do seu cargo tem como fundamentos:
Assegurar a sua concentração nessa atividade (evitando-se que a dispersão por outras implique o prejuízo do
estudo e reflexão que o exercício do cargo exige);
Evitar a criação de laços de dependência profissional ou económica que pudessem comprometer a sua
independência no exercício das funções jurisdicionais.
Uma outra incompatibilidade, não decorrente do princípio expostos, é a que consta do art. 216º/4 CRP, reproduzido
pelo art. 5º/3 LOSJ: impossibilidade de nomeação de serviços para comissões de serviço estranhas à atividade dos
tribunais sem autorização do respetivo conselho superior. Não se trata aqui de acumulação de funções, mas antes da
nomeação dos juízes para exercício de outras funções públicas a tempo inteiro. A “comissão de serviço” é uma figura
típica do Direito Administrativo que se traduz na prestação temporária, mas a tempo inteiro, de funções distintas
daquelas são exercida regularmente. Este regime é aplicado, as mais das vezes, a funcionários da Administração
Pública, embora a figura também já se verifique entre privados. Ora, o preceito apontado vem afastar esta
possibilidade em relação aos juízes que, apesar de exercerem funções estaduais, não podem ser afetados a outras
funções públicas distintas da função jurisdicional.
7. O Ministério Público e a sua autonomia
7.1 O Ministério Público como magistratura
O Ministério Público constitui uma magistratura paralela e independente da magistratura judicial (arts. 75º/1 EMP e
3º/2 e 9º/3 LOSJ), sendo-lhe reconhecido um estatuto próprio e autonomia pela Constituição (art. 219º/2 CRP). A
autonomia do Ministério Público existe, nos termos da Constituição, em relação aos demais órgãos do poder central,
regional e local, em termos a definir pela lei (art. 219º/2 CRP). Esta autonomia releva, sobretudo, em relação ao
Governo e aos seus membros, designadamente o Ministro da Justiça, já que na vigência do Estatuto Judiciário de 1962
o Ministério Público estava subordinado ao Ministro da Justiça. Deste modo, os magistrados do Ministério Público
subordinam-se tão-só às diretivas, ordens e instruções previstas na lei, estando vinculados unicamente por critérios
de legalidade e objetividade.
O órgão superior da magistratura do Ministério Público é a Procuradoria-Geral da República (art. 220º/1 CRP e art.
9º/1 EMP), presidida pelo Procurador-Geral da República (art. 220º/2 CRP, arts. 11º e 12º/1/a) EMP e art.165º/2 LOSJ).
O Procurador-Geral da República é nomeado pelo Presidente da República, sob proposta do Governo, e exerce o
respetivo mandado durante 6 anos (arts. 133º/m) e 220º/3 CRP).
7.2 Funções do Ministério Público
Tendo em conta o disposto nos arts. 219º/1 CRP, 1º EMP e 3º/1 LOSJ, podem enunciar-se as seguintes funções do MP:
Representação do Estado;
Defesa dos interesses que a lei determinar;
Participação na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania;
Exercício da ação penal;
Defesa da legalidade democrática.
Para cumprir estas funções, são reconhecidas ao Ministérios Público as seguintes competências (art. 3º/1 EMP):
Representação do Estado, das Regiões Autónomas, das Autarquias Locais, dos incapazes, dos incertos e dos
ausentes em parte incerta;

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Exercício da ação penal;
Patrocínio oficioso dos trabalhadores e das suas famílias na defesa dos seus direitos de caráter social;
Defesa de interesses coletivos e difusos;
Promoção e execução das decisões dos tribunais para as quais tenha legitimidade;
Direção da investigação criminal;
Fiscalização da constitucionalidade os atos normativos;
Intervenção nos processos de insolvência e em todos os que envolvam interesse público;
Interposição de recurso sempre que a decisão judicial seja efeito de conluio das partes no sentido de defraudar
a lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa.
7.3 A responsabilidade e a subordinação hierárquica dos magistrados do Ministério Público
Como ficou já exposto, constitucional e legalmente é apontada a contraposição da “responsabilidade” dos magistrados
do Ministério Público à “irresponsabilidade” dos juízes. Vimos também que esta destrinça é meramente formal,
porquanto as exceções a esta irresponsabilidade são tantas que acabam por equiparar as duas magistraturas para
efeitos de responsabilidade. O único ponto que, efetivamente, as distingue nesta matéria é a subordinação hierárquica
dos magistrados do Ministério Público, que não existe para os juízes. A subordinação hierárquica dos magistrados do
Ministério Público está expressamente prevista no art. 219º/4 CRP, no art. 76º/1 EMP e no art. 9º/2 LOSJ. Esta
subordinação consiste na obrigação de acatamento, por parte dos magistrados de grau inferior, das ordens, diretivas
e instruções recebidas de magistrados de grau superior (art. 70º/3 EMP). O dever de obediência só não se manterá se
as ordens recebidas forem ilegais ou consideradas pelos magistrados como “grave violação da sua consciência jurídica”
(art. 79º/2 EMP).
A hierarquia a que nos temos vindo a referir apresenta-se da seguinte forma (art. 8º EMP e art. 9º/1 LOSJ):
1. Procurador-Geral da República: preside à Procuradoria-Geral da República, competindo-lhe designadamente
dirigir, coordenar e fiscalizar a atividade do Ministério Público e emitir as ordens, diretivas e instruções a que
deve obedecer a atividade dos respetivos magistrados (art. 12º EMP);
2. Vice-Procurador-Geral da República: coadjuva e substitui o Procurador-Geral da República (art. 13º/1 EMP);
3. Procuradores-Gerais Adjuntos;
4. Procuradores da República;
5. Procuradores Adjuntos.
O EMP prevê ainda as denominadas “Procuradorias-Gerais Distritais”, existentes nas sedes de cada distrito judicial,
dirigidas por Procuradores-Gerais Adjuntos, que nelas exercem funções com a designação de Procuradores-Gerais
Distritais (arts. 55º/1 e 2 e 57º/1 EMP). A competência destes órgãos consta do art. 58º EMP. Importa apontar que,
tendo a LOSJ deixado de prever a divisão do território em distritos judiciais e tendo o ROFTJ procedido à sua definitiva
extinção (art. 117º/1), impunha-se a alteração daquela denominação. No entanto, a alteração ao art. 10º/b) da LOSJ
veio reintroduzir a previsão legal destes órgãos. Ainda assim, as referências ainda feitas aos “distritos judiciais” devem
reportar-se à “área de competência dos tribunais da Relação correspondentes” de acordo com o mencionado art. 117º
ROFTJ. Deste modo, às Procuradorias-Gerais Distritais cabe dirigir e coordenar a atividade do Ministério Público na
área de competência dos mencionados tribunais da Relação, demarcada no Anexo I à LOSJ e no Mapa II anexo ao
ROFTJ. Neste contexto, colocam-se algumas dúvidas acerca da Procuradoria-Geral Distrital do Porto que abrange a
área da competência dos tribunais da Relação do Porto e de Guimarães, ainda em referência ao antigo distrito judicial
do Porto, que abrangia todo esse território.
7.4 A estabilidade e incompatibilidades dos magistrados do Ministério Público
A estabilidade assegurada aos magistrados do Ministério Público corresponde à inamovibilidade dos juízes, já que nos
termos dos art. 219º/4 CRP in fine, arts. 78º EMP e 11º/1 LOSJ, também aquelas não podem ser transferidos,
suspensos, promovidos, aposentados ou demitidos senão nos casos previstos na lei.
O art. 81º EMP prevê também para os magistrados do ministério público um regime de incompatibilidades
7.5 O Conselho Superior do Ministério Público
Por fim, existe também um órgão privativo encarregado da disciplina e gestão dos magistrados do Ministério Público,
em forma de “autogoverno mitigado”: o Conselho Superior do Ministério Público, que se integra na Procuradoria-
Geral da República. Quanto à sua composição, ele é constituído (art. 15º/2 EMP):
Procurador-Geral da República (que preside o órgãos);
Procuradores-Gerais Distritais;
1 Procurador-Geral Adjunto eleito pelos seus pares;

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2 Procuradores da República eleitos pelos seus pares;
4 Procuradores Adjuntos eleitos pelos seus pares;
5 Membros eleitos pela Assembleia da República;
2 Personalidades de reconhecido mérito designadas pelo Ministro da Justiça.
8. Conclusão
A título de conclusão, será proveitoso colocar as caraterísticas das magistraturas em perspetiva:
Magistratura do Ministério Público Magistraturas judiciais
Estabilidade Inamovibilidade
Princípio da responsabilidade Princípio da irresponsabilidade (?)
Regime de incompatibilidades Regime de incompatibilidades
Subordinação hierárquica Insubordinação a quaisquer ordens
Autogoverno mitigado: Autogoverno – modalidades:
Conselho Superior do Ministério Público Puro Mitigado
Tribunal de Contas; Conselho Superior da
Tribunal Constitucional Magistratura;
Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e
Fiscais

Capítulo II – Tribunal Constitucional


1. O Tribunal Constitucional e a sua disciplina autónoma na Constituição
O Tribunal Constitucional é uma das categorias de tribunais previstas na Constituição (art. 209º/1 CRP), tendo sido
criado pela Lei Constitucional nº 1/82, de 30 de Setembro.
Na Lei Fundamental é estabelecida uma disciplina autónoma para este tribunal, no Título VI da Parte III (arts. 221º e
ss. CRP), disciplinando-se, entre outros aspetos, a definição do tribunal, a sua composição, a sua competência, o
estatuto dos respetivos juízes.
Esta autonomização ou separação do Tribunal Constitucional justifica-se a partir do seu enquadramento orgânico:
A natureza das suas funções é distinta daquela que subjaz às funções dos demais tribunais;
A sua ligação com a Constituição é imediata e não tão-só mediata, como sucede com os restantes tribunais;
A sua posição em relação aos outros tribunais é uma posição específica (ele não integra a pirâmide judiciária).
De tudo isto resulta que o Tribunal Constitucional não pode ser visto como um tribunal semelhante aos outros, nem
sequer como mero tribunal. Nas palavras de Cardoso da Costa, o Tribunal Constitucional é:
“o órgão constitucional autónomo de regulação do processo político-constitucional”.
Neste sentido concorre ainda um outro aspeto: a separação da disciplina do Tribunal Constitucional do regime da
fiscalização da constitucionalidade. Esta separação evidencia que o TC não é pura e simplesmente o órgão superior da
justiça constitucional (embora seja essa a sua competência fundamental), possuindo ainda outras competências.
2. A composição do Tribunal Constitucional e o mandato dos respetivos juízes
2.1 Composição
O Tribunal Constitucional é composto por 13 juízes-conselheiros (art. 222º/1 CRP):
10 juízes diretamente designados pela Assembleia da República (eleição por maioria de 2/3 dos deputados
presentes, desde que superior à maioria absoluta dos que se encontrem no exercício de funções – arts. 163º/h)
CRP e 16º/4 LOFPTConst.);
3 juízes cooptados pelos outros 10 designados pela Assembleia da República.
Destes 13 juízes, 6 terão que ser obrigatoriamente juízes de outros tribunais (de tribunais judiciais e de tribunais
administrativos e fiscais), podendos os restantes ser juízes ou juristas em exercício de outro tipo de funções (art.
222º/2 CRP). Presentemente, todos estes 7 juristas são docentes universitários (um deles sendo, além de docente,
advogado). Deste modo, fica claro que a Constituição não exige que a maioria dos juízes-conselheiros seja já juízes.
2.2 Mandato
O mandato dos juízes-conselheiros do Tribunal Constitucional tem a duração de 9 anos e não é renovável (art. 222º/3
CRP e art. 21º/1 e 2 LOFPTConst.). O mandato do Presidente e do Vice-Presidente, eleitos pelos próprios juízes-
conselheiros, tem a duração de metade do mandato dos juízes, portanto, de 4 anos e meio, com possibilidade de
recondução (art. 222º/4 CRP e arts. 36º/a) e 37º/1 LOFPTConst.).
2.3 Jurisdição, sede e funcionamento

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O Tribunal Constitucional exerce a sua jurisdição no âmbito de toda a ordem jurídica, encontrando-se sediado em
Lisboa (art. 1º LOFPTConst.).
A jurisdição do Tribunal Constitucional abrange designadamente (arts. 221º e 223º/2 CRP e art. 6º LOSJ):
Apreciar a inconstitucionalidade e a ilegalidade;
Resolver demais questões que envolvam a interpretação e aplicação de normas constitucionais;
Verificar a perda do cargo de Presidente da República;
Julgar a validade e regularidade dos atos do processo eleitoral;
Verificar a legalidade da constituição de partidos políticos e de coligações;
Verificar a constitucionalidade e legalidade de referendos; (...)
De um modo geral, a jurisdição do Tribunal Constitucional diz respeito a “matérias de natureza jurídico-constitucional”,
cabendo-lhe ainda as “demais funções que lhe sejam atribuídas pela Constituição ou pela lei”.
No que diz respeito ao modo de funcionamento do Tribunal Constitucional, distingue-se:
Sessões plenárias: participam todos os juízes-conselheiros;
Funcionamento por secções: há 3 secções não especializadas do Tribunal Constitucional, compostas todas elas
pelo Presidente ou pelo Vice-Presidente e por mais 4 juízes-conselheiros (5 juízes no total), de acordo com a
distribuição feita pelo tribunal no início de cada ano judicial (art. 41º/1 LOFPTConst.)
[Composição atual das secções:
1ª secção: Presidente + Vice-Presidente + 3 Juízes Conselheiros (A, B e C)
2ª secção: Presidente + 4 Juízes Conselheiros (D, E, F e G)
3ª secção: Vice-Presidente + 4 Juízes Conselheiros (H, I, J e L)
Ao todo, 13 Juízes: Presidente (X) e Vice-Presidente (Y), A, B, C, D, E, F, G, H, I, J e L. ]
O quórum necessário ao funcionamento consiste na maioria dos membros do plenário ou da secção em efetividade
de funções (7, no primeiro caso, e 3 no segundo), incluindo o Presidente e o Vice-Presidente (art. 42º/1 LOFPTConst.).
3. A competência fundamental do Tribunal Constitucional
3.1 A fiscalização da constitucionalidade e da legalidade
A competência fundamental do Tribunal Constitucional é, como bem se sabe, a fiscalização da constitucionalidade e
da legalidade das normas jurídicas que constituem a ordem jurídica portuguesa. Daí que o Tribunal Constitucional
possa classificar-se essencialmente enquanto “órgão jurisdicional de controlo normativo”.
A fiscalização da constitucionalidade (e de legalidade, sobretudo qualificada) abrange vários tipos de controlo:
Fiscalização Abstrata Fiscalização Sucessiva Fiscalização Sucessiva Fiscalização de Omissões
Preventiva Abstrata Concreta
Controlo: Controlo: Controlo: » A omissão legislativa, para
Concentrado (realizado Concentrado (realizado Difuso (realizado por ganhar significado autónomo
apenas pelo TC) apenas pelo TC); qualquer tribunal); e relevante, deve
Abstrato Abstrato Concreto (suscitado no conexionar-se com uma
(independentemente de (independentemente de seio de um processo, por exigência constitucional de
qualquer litígio concreto) qualquer litígio concreto); via incidental); ação, não bastando o simples
Preventivo (ato normativo Sucessivo (ato normativo Sucessivo (ato normativo dever geral de legislar
ainda não entrou em vigor) com plena eficácia). com plena eficácia).
Art. 278º/1 e 2 CRP Art. 281º CRP Art. 280º CRP Art. 283º CRP
Como decorre do exposto, cada uma destas fiscalizações tem lugar em momentos distintos:
Fiscalização abstrata preventiva: ocorre sempre antes de o ato normativo se tornar “perfeito”:
Após a aprovação de “decreto” destinado a valer como lei ou decreto-lei mas antes da sua
promulgação pelo Presidente da República;
Após da aprovação de tratado ou acordo internacional mas antes da sua ratificação ou assinatura pelo
Presidente da República;
Após aprovação de decreto legislativo regional mas antes de o Representante da República proceder
à respetiva assinatura.
Fiscalização sucessiva abstrata: ocorre sempre depois de o ato normativo estar já perfeito e publicado, ainda
que ele não esteja já em vigor (porque, por exemplo, ainda não decorreu o período de vacatio legis);
Fiscalização sucessiva concreta: ocorre em via de recurso de decisão proferida por outro tribunal;
Fiscalização de omissões: ocorre quando se constate uma omissão legislativa em matéria em que a
Constituição impõe um especial dever de legislar.

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3.2 A fiscalização concreta da constitucionalidade ou da legalidade
Importa-nos especialmente a fiscalização concreta da constitucionalidade, já que é a este respeito que o Tribunal
Constitucional se assume como tribunal de recurso.
A fiscalização concreta da constitucionalidade pode ser efetuada a dois níveis:
Por qualquer tribunal: no âmbito de um processo em juízo pode ser suscitada, por qualquer das partes ou
oficiosamente, a questão da inconstitucionalidade de uma norma de cuja aplicação depende a resolução do
caso sub judice, estando o juiz do processo legitimado para desaplicar em concreto normas que considere
inconstitucionais ou ilegais.
Pelo Tribunal Constitucional: em recurso da decisão de outro tribunal acerca da inconstitucionalidade ou
ilegalidade de uma norma, quando essa questão haja sido suscitada a título incidental no processo – o recurso
diz respeito unicamente à questão da inconstitucionalidade.
! Não é possível requerer diretamente ao Tribunal Constitucional a apreciação concreta (nem abstrata, diga-se) da
inconstitucionalidade. Ou o TC aprecia a questão em sede de recurso (fiscalização concreta), ou aprecia a questão por
solicitação de uma das entidades constitucionalmente legitimadas para tal (fiscalização abstrata); nunca apreciará
qualquer questão a pedido direto de particulares (salva a exceção do direito de petição, consagrado no art. 52º CRP).
As decisões de outros tribunais das quais cabe recurso para o Tribunal Constitucional pode ter os seguintes conteúdos:
Decisões que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade (art.
280º/1/a) CRP e art. 70º/1/a) LOFPTConst.);
Decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada no processo (art. 280º/1/b) CRP
e art. 70º/1/b) LOFPTConst.);
Decisões que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua ilegalidade por violação de lei
com valor reforçado (art. 280º/2/a) CRP e art. 70º/1/c) LOFPTConst.);
Decisões que recusem a aplicação de qualquer norma constante de diploma regional com fundamento na sua
ilegalidade por violação do estatuto da região autónoma (art. 280º/2/b) CRP e art. 70º/1/d) LOFPTConst.);
Decisões que recusem a aplicação de qualquer norma constante de diploma emanado por órgão de soberania
com fundamento na sua ilegalidade por violação de estatuto de uma região autónoma (art. 280º/2/c) CRP e
art. 70º/1/e) LOFPTConst.);
Decisões que apliquem norma cuja ilegalidade (de qualquer tipo) tenha sido suscitada no processo (art.
280º/2/d) CRP e art. 70º/1/f) LOFPTConst.);
Decisões que apliquem norma que já tenha sido julgado inconstitucional ou ilegal pelo TC (art. 280º/5 CRP e
art. 70º/1/g) LOFPTConst.);
Decisões que recusem a aplicação de norma constante de ato legislativo com fundamento na sua
contrariedade com uma convenção internacional (art. 70º/i) LOFPTConst.);
Decisões que apliquem uma norma constante de ato legislativo em desconformidade com o decidido
anteriormente pelo TC acerca da contrariedade com convenção internacional (art. 70º/i) LOFPTConst.).
Dito isto, conclui-se que são dois os tipos de decisões que admitem recurso para o Tribunal Constitucional:
Decisões de outros tribunais
Decisões positivas de inconstitucionalidade Decisões negativas de inconstitucionalidade
ou de ilegalidade ou de ilegalidade
= recusa da aplicação de uma norma com fundamento na sua = aplicação de uma norma cuja inconstitucionalidade ou
inconstitucionalidade ou ilegalidade ilegalidade fui suscitada no processo
O regime do recurso das decisões dos demais tribunais varia consoante se trate de uma decisão positiva ou negativa:
Decisão de outros tribunais
Decisão positiva Decisão negativa
Recurso imediato (não se exige prévia exaustão dos Pressupostos para a sua admissibilidade:
recursos ordinários ou sua inadmissibilidade); 1. Questão da inconstitucionalidade suscitada
Recurso facultativo (arts. 280º/1 3 CRP, art. 71º/1/a) e durante o processo de modo processualmente
b) LOFPTConst., arts. 631º/1 CPTA, art. 141º/1 CPPT.) ; adequado (art. 280º/4 CRP e arts. 70º/1/b) e f) e
Recurso obrigatório para o Ministério Público 72º/2 LOFPTConst.);
quanto a (arts. 280º/3 CRP e 72º/3 LOFPTConst.): 2. Decisão insuscetível de recurso ordinário (a lei não
Lei constante de convenção internacional; prevê ou já foram esgotados os recursos
Ato legislativo; possíveis) (art. 70º/2 LOFPTConst.);
Decreto regulamentar.

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3. Recuso interposto apenas pela parte que suscitou
a questão da inconstitucionalidade (art. 280º/4 CRP
e art. 72º/2 LOFPTConst.).
Nos casos de decisão positiva de inconstitucionalidade ou ilegalidade, o recurso deve ser interposto no tribunal que
proferiu a decisão, mediante requerimento em que se identifique a alínea do art. 70º/1 LOFPTConst. ao abrigo da qual
o recurso é efetuado, assim como a norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade se pretende ver apreciada (arts.
75º-A/1 e 76º/1 LOFPTConst. e arts. 637º e 69º CPC).
Nos casos de decisão negativa de inconstitucionalidade ou ilegalidade, além dos elementos referidos, deve constar
ainda a indicação da norma ou princípio constitucional ou legal que se considerada violado, bem como a peça
processual em que o recorrer suscitou a questão da inconstitucionalidade ou ilegalidade (art. 75º-A/2 LOFPTConst.).
No que diz respeito aos efeitos da fiscalização concreta da constitucionalidade pelo Tribunal Constitucional, eles
restringem-se ao caso concreto, repercutindo-se apenas na decisão do tribunal que proferiu a decisão recorrida.
Diferentemente do que sucede na fiscalização abstrata da constitucionalidade, em que a eventual declaração de
inconstitucionalidade ou ilegalidade tem força obrigatória geral (art. 281º/1 CRP), em de fiscalização concreta os
efeitos são restritos ao caso. Isto sem prejuízo de após a mesma norma ter sido julgada inconstitucional ou ilegal em
três casos concretos se seguir um processo destinado a declarar essa inconstitucionalidade ou ilegalidade com força
obrigatória geral (art. 281º/3 CRP).
4. Outras competências jurisdicionais do Tribunal Constitucional
Além da competência para a fiscalização da constitucionalidade dos atos normativos, o Tribunal Constitucional tem
ainda competência para:
Julgamento, em última instância, da regularidade e validade dos atos no processo eleitoral (art. 223º/2/c) CRP)
Julgamento (em plenário) dos recursos das decisões proferidas (em secção) pelo próprio TC sobre
admissão ou não admissão das candidaturas apresentadas às eleições para o Presidente da República
e para o Parlamento Europeu (arts. 8º/a), d) e e), 93º, 94º/1 e 102º-A/1 LOFPTConst.);
Julgamento dos recursos das decisões respeitantes à admissão de candidaturas nas eleições para a
Assembleia da República, para as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas e para os órgãos
das Autarquias Locais (arts. 8º/d) e 101º LOFPTConst.);
Julgamento dos recursos das decisões tomadas quanto às reclamações e protestos apresentados
durante a votação ou apuramento dos votos nas referidas eleições (arts. 8º/c), d) e e), 98º/2, 102º/1
e 102º-A/1 LOPFTConst.);
Julgamento dos “recursos contenciosos” interpostos de atos administrativos “definitivos e
executórios” praticados pela Comissão Nacional de Eleições ou por outros órgãos da administração
eleitoral (arts. 8º/f) e 102º-B LOFPTConst.)
[NOTA: as expressões entre “ ” apresentam terminologia desatualizada].
Julgamento dos recursos relativos à perda de mandato a às eleições realizadas na Assembleia da República e
nas Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas (art. 223º/a) CRP):
Julgamento de recursos respeitantes à perda de mandato de deputado da Assembleia da República
(arts. 7º-A e 91º-A LOFPTConst.);
Julgamento de recursos respeitantes à perda de mandato de deputado numa das Assembleias
Legislativas das Regiões Autónomas (arts. 7º-A e 91º LOFPTConst.);
Julgamento dos recursos relativos às eleições realizadas na Assembleia da República (arts. 8º/b) e 91º-
B LOFPTConst.);
Julgamento dos recursos relativos às eleições realizadas nas Assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas dos Açores ou da Madeira (arts. 8º/g) e 102º-D LOFPTConst.).
Julgamento de ações de impugnação de eleições e deliberações de órgãos dos partidos políticos (art.
223º/2/h) CRP):
Julgamento das ações de impugnação de eleições de titulares dos órgãos dos partidos políticos (arts.
9º/d) e 103º-C LOFPTConst.);
Julgamento das ações de impugnação das decisões tomadas por tais órgãos (arts. 9º/d) e 103º-D
LOFPTConst.).
5. Representação do Ministério Público

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A representação do Ministério Público no domínio da competência do Tribunal Constitucional cabe ao Procurador-
Geral da República, que poderá delegar as suas funções no Vice-Procurador-Geral ou em um ou mais Procuradores-
Gerais Adjuntos (art. 44º LOFPTConst. e arts. 4º/1/a) e 12º/1/b) EMP).
Em caso de manifesta impossibilidade de o Procurador-Geral da República representar pessoalmente o Ministério
Público no Tribunal Constitucional, tal representação é assegurada por Procuradores-Gerais Adjuntos, nomeados pelo
Conselho Superior do Ministério Público, sob proposta daquele primeiro (arts. 27º/a) e 125º/2 EMP). Também a LOSJ
estabelece que, no Tribunal Constitucional, o Ministério Público é representado pelo Procurador-Geral da República e
por Procuradores-Gerais Adjuntos – art. 10º/1/a) LOFPTConst.

Capítulo III – Tribunal de Contas


1. Definição e composição
A Constituição define o Tribunal de Contas como (art. 214º/1 CRP):
“órgão supremo de fiscalização da legalidade das despesas públicas e de julgamento das contas que a lei
manda submeter-lhe”.
O Tribunal de Contas tem a seguinte composição (art. 14º/1 LOPTContas):
Presidente;
16 juízes na sede;
1 juiz em cada secção regional.
Os juízes são recrutados por concurso curricular (art. 18ç/1 LOPTContas), de entre os candidatos que tenham idade
mínima de 35 anos e reúnam os requisitos de qualquer das alíneas do art. 19º/1.
A competência para a nomeação e para a exoneração do presidente do Tribunal de Contas pertence ao Presidente da
República, sob proposta do Governo (art. 133º/m) CRP). A duração do mandato deste presidente é de 4 anos, sem
prejuízo da possibilidade de exoneração (art. 214º/2 CRP).
2. Jurisdição
O Tribunal de Contas tem jurisdição e poderes de controlo financeiro no âmbito da ordem jurídica portuguesa, tanto
no território nacional como no estrangeiro (art. 1º/2 LOPTContas). Estas jurisdição e poderes de controlo financeiro
têm como âmbito pessoal todas as entidades mencionadas no art. 2º LOPTContas, entre as quais se encontram:
Estado e seus serviços;
Regiões Autónomas e seus serviços;
Autarquias Locais, suas associações ou federações e serviços;
Áreas Metropolitanas.
3. Sede e secções regionais
A sede do Tribunal de Contas é em Lisboa (art. 3º/1 LOPTContas), possuindo este tribunal duas secções regionais, nas
Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, com sede em Ponta Delgada e Funchal (art. 3º/2 LOPTContas). Das
decisões tomadas por estas secções, no exercício dos seus poderes de controlo financeiro na área de cada uma dessas
regiões, cabe recurso para a sede do Tribunal (art. 4º/1 e 2 LOPTContas).
4. Funcionamento do Tribunal de Contas
O Tribunal de Contas funciona:
Em plenário geral: constituído por todos os juízes do tribunal, incluindo os das secções regionais (art. 71º/2
LOPTContas). Apenas pode funcionar e deliberar se estiver presente mais de metade dos seus membros (art.
73º/1 LOPTContas).
Em plenário de secção: composto por todos os juízes que dela fazem parte (art. 71º/3 LOPTContas). Apenas
pode funcionar e deliberar se estiver presente mais de metade dos seus membros (art. 73º/1 LOPTContas).
Em subsecção: só existem subsecções – constituídas por 3 juízes (um relator e dois adjuntos) – nas 1ª e 2ª
secções (art. 71º/4 LOPTContas). Apenas pode funcionar e deliberar com a presença da totalidade dos seus
membros, sob a presidência do Presidente do TC, que apenas vota em caso de empate (art. 73º/2 LOPTContas)
Em sessão diária de visto: em cada semana, para efeitos de fiscalização prévia, reúnem dois juízes (art. 71º/1
e 5 LOPTContas), a qual apenas pode funcionar com a presença de ambos (art. 73º/3 LOPTContas).
Na sede do Tribunal de Contas (em Lisboa) existem três subsecções especializadas (art. 15º/1 LOPTContas):
1ª Secção: exerce competências em plenário, em subsecção e em secção diária de visto (art. 77º/1 a 3
LOPTContas);
2ª Secção: exerce competências em plenário e em subsecção (art. 78º/1 e 2 LOPTContas);

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3ª Secção: exerce competências em plenário e com juiz singular (art. 79º/1 e 2 LOPTContas).
5. Competência
O Tribunal de Contas não tem unicamente funções de natureza jurisdicional. Compete-lhe ainda, designadamente:
Dar parecer sobre a Conta Geral do Estado e sobre as Contas das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira
(art. 214º/1/a) e b) CRP e arts. 5º/1/a) e b), 41º e 42º LOPTContas);
Aprovar pareceres sobre projetos legislativos (em matéria financeira) elaborados a solicitação da Assembleia
da República ou do Governo (art. 5º/2 LOPTContas).
Do que tem vindo a ser dito resulta que o Tribunal de Contas tem poderes de duas naturezas (vide: art. 5º LOPTContas):
Poderes do Tribunal de Contas
Poderes jurisdicionais Poderes de controlo
» poderes para julgar os processos instaurados para » poderes para fiscalizar a legalidade e regularidade das
efetivação de responsabilidades financeiras receitas e despesas públicas e para apreciar a boa
(disciplinados no Cap. V da LOPTContas – arts. 56º e ss.) gestão financeira (tipos de fiscalização previstos no
Cap. IV da LOPTContas – arts. 36º e ss.)
A leitura do art. 5º LOPTContas permite concluir, indubitavelmente, que os poderes de controlo reconhecidos ao
Tribunal de Contas são manifestamente em maior medida do que os poderes jurisdicionais que lhe são imputados. De
facto, este é sobretudo um órgão de fiscalização e controlo da legalidade financeira e da gestão dos dinheiros públicos.
Não obstante, o tribunal dispõe também de competência em matéria jurisdicional. Essa competência é exercida nas
seguintes espécies de processos (art. 58º/1 LOPTContas):
Processos de julgamento de contas: visam tornar efetivas as responsabilidades financeiras evidenciadas em
relatórios de verificação externa de contas (art. 58º/2 LOPTContas);
Processos de responsabilidade financeira: visam tornar efetivas as responsabilidades financeiras emergentes
de factos evidenciados em relatórios das ações de controlo do tribunal elaborados fora do processo de
verificação externa de contas ou em relatórios dos órgãos de controlo interno (art. 58º/3 LOPTContas).
A competência para a preparação e julgamento em 1ª instância dos processos de julgamento de contas e dos processos
de responsabilidade financeira pertencem à 3ª secção do Tribunal de Contas (art. 58º LOPTContas), através de juiz
singular (art. 79º/2 e 3 LOPTContas). Dessa decisão cabe recurso para o plenário do tribunal (art. 79º/1/a)LOPTContas).
Os tipos de responsabilidade financeira que se pretendem efetivar por intermédio destes processos são:
Responsabilidade financeira de caráter reintegratório (arts. 59º e ss. LOPTContas): tem lugar nos casos de
alcance, desvio de dinheiros ou valores públicos e ainda de pagamentos indevidos, concretizando-se na
condenação do responsável a repor as importâncias abrangidas.
[NOTA: esta responsabilidade não prejudica qualquer outro tipo de responsabilidade (maxime, responsabilidade penal),
em que o responsável possa incorrer – art. 59º/1 LOPTContas.]
Responsabilidade financeira sancionatória (arts. 65º e ss. LOPTContas): traduz-se na aplicação de multas a
quem pratique alguma das infrações financeiras previstas.
6. Representação do Ministério Público
De acordo com o LOPTContas, o Ministério Público é representado no Tribunal de Contas pelo Procurador-Geral da
República, que pode delegar as suas funções em um ou mais Procuradores-Gerais Adjuntos (art. 29º/1). Igualmente
dispõe o art. 10º/1/a) LOSJ.

Capítulo IV – Tribunais Judiciais


I – Aspetos Gerais
1. Normas disciplinadoras da matéria
A disciplina dos tribunais judiciais consta dos seguintes diplomas:
Constituição da República Portuguesa – arts. 209º e ss.
Lei da Organização do Sistema Judiciário (LOSJ) – Lei nº 62/2013
Regime Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (ROFT) – Decreto-Lei nº 49/2014
Decreto-Lei nº 86/2016, de 27 de Dezembro.
A LOSJ traduz-se numa decisão política de não levar por diante o processo de alargamento gradual da organização das
comarcas definitivas iniciado com a LOFTJ de 2008.
2. Jurisdição dos tribunais judiciais

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Os tribunais judiciais são os “tribunais comuns em matéria cível e criminal”, possuindo ainda jurisdição residual ao
julgarem todas as matérias não atribuídas a outras ordens jurisdicionais (art. 211º/1 CRP).
A este respeito é de notar a falta de rigor do CPC (art. 64º) e da LOSJ (art. 40º/1) que dispõem sobre a delimitação
negativa do poder jurisdicional dos tribunais judiciais (jurisdição residual) na parte de cada diploma correspondente à
“competência” (interna) em razão da matéria dos tribunais judiciais. Sucede que esta delimitação negativa é uma
delimitação da jurisdição deste tribunais, e não uma delimitação da sua competência. Rigorosamente, deve falar-se
em “jurisdição residual” e não em “competência residual”.
3. Divisão judiciária
Os tribunais judiciais têm caráter permanente quanto ao espaço e, à exceção do que se passa no seu nível mais elevado
(STJ), coexistem no território nacional vários tribunais judiciais da mesma categoria.
Na LOSJ não existe um artigo autónomo dedicado à divisão judiciária do território nacional. Identifica-se apenas o art.
33º/2 LOSJ, respeitante aos tribunais de 1.ª instância, no qual se dispõe que o território nacional se divide em 23
comarcas. Este é, todavia, um enquadramento inadequado, relevador de uma deficiente técnica legislativa. A divisão
apresentada não é efetuada com base num critério uniforme de denominação: as denominações atribuídas às
comarcas referem-se, em certos casos, a regiões autónomas, noutros a distritos administrativos e/suas capitais,
noutros a capitais dos distritos administrativos e noutros ainda a meras localizações geográficas. Apesar disso, o
preceito manteve igual conteúdo na reforma de 2006. O ROFTJ já inclui um artigo referente à divisão judicial (art. 3º),
no qual são referidas as 23 comarcas.
O ROFTJ de 2013 veio eliminar definitivamente os distritos judiciais e os círculos judiciais. Pretendeu-se, assim, eliminar
a dualidade terminológica de “distrito”: distrito administrativo e distrito judicial. A eliminação dos distritos judiciais,
com base nos quais se aferia a competência dos Tribunais da Relação, parece carecer de qualquer fundamento válido.
Atualmente a definição da competência territorial dos tribunais da Relação é feita com referência a grupos de
comarcas.
4. Categorias de tribunais e sua hierarquização
O art. 209º/1/a) CRP indica as categorias de tribunais judiciais existentes entre nós:
Supremo Tribunal de Justiça; STJ
Tribunais da Relação; T. Relação

Tribunais de 1ª Instância. T. 1ª instância

Como é evidente segundo a pirâmide judiciária, o Supremo Tribunal de Justiça é o órgão superior da hierarquia dos
tribunais judiciais, embora sem prejuízo da competência própria do Tribunal Constitucional (art. 210º/1 CRP). Não
obstante, o STJ funciona como tribunal de 1ª instância nos casos previstos no nº 5 do art. 210º CRP.
Os Tribunais da Relação são, em regra, os tribunais de 2ª instância (arts. 209º/1/a) e 210º/4 CRP). Excecionalmente,
poderão também ser tribunais de 1ª instância, nos casos previstos na lei.
Os tribunais de 1ª instância são:
Tribunais de Comarca (arts. 209º/1/a) e 210º/3 CRP) – Regra;
Tribunais de competência específica (art. 211º/2 CRP);
Tribunais de competência especializada (art. 211º/2 CRP).
A LOSJ determina que os tribunais de 2ª instância são os Tribunais da Relação, os quais serão designados pelo nome
do município em que estão instalados. Os Tribunais de Comarca, por sua vez, são designados pelo nome da comarca
onde estão instalados.
5. Determinação da competência interna dos tribunais judiciais
5.1 Os critérios legais de determinação da competência
Os critérios legais de determinação da competência interna dos tribunais judiciais ou dos seus juízos são quatro (arts.
37º/1 e 40º a 43º LOSJ):
1. Critério da matéria;
2. Critério do valor;
3. Critério da hierarquia;
4. Critério do território.
5.2 Critério da matéria
O critério da matéria permite saber três aspetos fundamentais:
Casos excecionais de competência em 1ª instância » permite averiguar se está em causa uma das hipóteses
excecionais de competência do STJ ou do Tribunal da Relação em 1ª instância;

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Competência regra em 1ª instância » permite discernir se está em causa um caso de competência dos
Tribunais da Comarca ou de competência de um tribunal de competência territorial alargada;
Juízo competente » permite identificar o juízo do Tribunal de Comarca competente, caso seja este o tribunal
competente para julgar o caso.
(1) Nestes termos, o primeiro ponto a considerar é se se trata de matéria de competência do STJ ou do Tribunal da
Relação em 1ª instância. A lei (LOSJ) enuncia os casos em que assim é:
Supremo Tribunal de Justiça: arts. 53º/a) e 55º/b) e c) LOSJ;
Tribunais da Relação: art. 73º/b), c), d) e e) LOSJ.
(2) Não estando em causa nenhuma das matérias referidas nos preceitos enunciados, a competência em 1ª instância
caberá, em regra, aos tribunais da comarca (art. 79º LOSJ). No entanto, determinadas matéria, referidas na lei, são da
competência, em 1ª instância, de tribunais de competência territorial alargada. Os tribunais de competência territorial
alargada existentes entre nós são os elencados no art. 83º/3 LOSJ:
a) O tribunal da propriedade intelectual » competência em relação às matérias do art. 111º LOSJ;
b) O tribunal da concorrência, regulação e supervisão » competência em relação às matérias do art. 112º LOSJ;
c) O tribunal marítimo » competência em relação às matérias do art. 113º LOSJ;
d) O tribunais de execução de penas » competência em relação às matérias do art. 114º LOSJ;
e) O tribunal central de instrução criminal » competência em relação às matérias do art. 116º LOSJ (art. 120º).
Estes são tribunais de competência especializada, conhecendo matérias determinadas independentemente da forma
de processo aplicável (art. 83º/2 LOSJ).
(3) Concluindo-se não estar em causa nenhuma das matérias de competência de tribunais de competência territorial
alargada, a competência será do tribunal da comarca. Sucede, porém, que os tribunais da comarca se desdobram
internamente, pelo que haverá que determinar o juízo especificamente competente.
Antes da alteração operada à LOSJ, os tribunais de comarca desdobravam-se em instâncias locais e instâncias centrais,
as quais, por sua vez, se desdobravam em secções, de competência generalizada, de competência genérica e de
proximidade. Com a alteração de 2016, o desdobramento referido resultou na seguinte estrutura:
Juízos de competência especializada Juízos de competência genérica Juízos de proximidade
Juízos Cíveis:
Juízos Centrais Cíveis; Têm competência residual Não têm competência
Juízos Locais Cíveis. [A par dos juízos locais cíveis e dos jurisdicional; praticam apenas
Juízos Criminais: juízos locais criminais.] atos processuais auxiliares
Juízos Centrais Criminais; (art. 130º/5 e 6 LOSJ)
Juízos Locais Criminais.
Juízos de Pequena Criminalidade;
Juízos de Instrução Criminal;
Juízos de Família e Menores;
Juízos de Trabalho;
Juízos de Comércio;
Juízos de Execução.
As matérias da competência dos diversos juízos encontram-se enunciadas nos arts. 117º e ss. LOSJ. Os juízos locais
cíveis/criminais e os juízos de competência genérica têm, como referido, competência residual alternativa, em matéria
cível – para julgar matérias não expressamente atribuídas a um juízo de competência especializada, terá competência
ou o juízo de competência genérica ou o juízo local cível/criminal, consoante aquele que exista na circunscrição
territorial em causa – art. 130º/1 LOSJ.
(4) Por último, estando em causa matéria cível (e não matéria criminal, familiar, laboral, comercial ou executiva),
haverá que mobilizar o critério do valor, para determinar o juízo cível concretamente competente.
5.3 Critério do valor
O valor da causa assume importância na delimitação da competência entre juízos centrais cíveis e juízos locais cíveis.
De facto, nos termos do nº 1 do art. 117º LOSJ, importa distinguir, quanto às ações de processo comum:
Ações de valor superior a 50.000€ » competência dos juízos centrais cíveis;
Ações de valor igual ou inferior a 50.000€ » competências dos juízos locais cíveis (ou, na sua falta, do juízo de
competência genérica correspetivo).
Nestes termos, de forma mais explícita, apenas são da competência dos juízos centrais cíveis as ações declarativas
cíveis que reúnam cumulativamente dois requisitos:

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1. Processo comum;
2. Causa de valor superior a 50.000€.
Ações declarativas cíveis:
Tipo de processo
Processo Comum Processo Especial
Valor da ação
> 50.000€ < ou = 50.000 € Juízo Local Cível(*)
Juízo Central Cível Juízo Local Cível(*) [(*) ou Juízo de Competência Genérica]
5.4 Critério da hierarquia
Os tribunais judiciais estão hierarquizados para efeito de recurso das suas decisões (art. 42º/1 LOSJ). A este respeito
importa distinguir a diferente natureza das questões em juízo:
Questões de natureza cível: em regra, a admissibilidade de recurso ordinário depende (1) do valor da causa
ser superior à alçada do tribunal de cuja decisão se recorre, e ainda:
Recurso de apelação (T. Relação) » (2) da decisão impugnada ser desfavorável ao recorrente em valor
superior a metade da alçada desse tribunal – sucumbência (art. 629º/1 CPC).
Recurso de revista (STJ) » (2) da decisão não confirmar, pelo menos sem fundamentação
essencialmente diferente, a decisão proferida na 1.ª instância – dupla conforme (art. 671º/3 CPC).
Independentemente de sucumbência ou de dupla conforme, admite-se recurso para a Relação e para o STJ
nos casos previstos, respetivamente, nos arts. 629º/2 e 3 e 672º CPC.
Questões de natureza criminal: o regime dos recursos é consagrado nos arts. 399º e ss. CPP, só não sendo
admitido recurso das decisões mencionadas nas alíneas a) a f) do nº 1 do art. 400º CPP.
[Esta matéria será leccionada na Unidade Curricular de Direito Processual Penal, por isso não é aqui exigida.]
Nos termos já desvelados, no topo da hierarquia dos tribunais judiciais está o Supremo Tribunal de Justiça. O STJ só
intervém, em regra, em matéria cível, nas causas de valor superior à alçada dos Tribunais da Relação (art. 42º/2 LOSJ
1ª parte), desde que não se verificando a dupla conforme. A esta possibilidade acrescem ainda as hipóteses em que o
recurso é sempre possível, independentemente do valor da causa (art. 629º/2/c) CPC). Em matéria penal, o STJ
intervém em sede de recurso quanto estejam em causa matérias enunciadas nos arts. 432º e 446º CPP.
No patamar abaixo do STJ encontram-se os Tribunais da Relação. Estão são, em regra, tribunais de 2ª instância (art.
210º/4 CRP e arts. 29º/2 e 67º/1 LOSJ). Compete-lhes, então, conhecer dos recursos interpostos das causas cujo valor
exceda a alçada dos tribunais de 1ª instância (art. 42º/2 LOSJ 2ª parte), desde que verificada a sucumbência. Ademais,
a lei prevê um conjunto de causas cujo recurso para a Relação é sempre possível, independentemente do valor da
causa. Em matéria penal, cabe ao Tribunal da Relação conhecer dos recursos das decisões proferidas por tribunal de
1ª instância de que não haja recurso direto para o STJ (art. 427º CPP).
A posição hierárquica inferior é ocupada pelos tribunais de 1ª instância, que serão, em regra, os tribunais da comarca
(arts. 210º/3 e 211º/2 CRP e arts. 29º/3 e 79º LOSJ). A estes tribunais são equiparados os já referidos tribunais de
competência especializada. As decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância em causas de valor igual ou inferior
a 5.000€ não admitem recurso ordinário. Nestes causas não há, portanto, duplo grau de jurisdição. E, note-se, esta
não é uma solução inconstitucional, já que a Constituição não obriga à existência de vários graus de jurisdição.
Importa, por último, apontar as alçadas dos tribunais referidos – art. 44º/1 LOSJ:
Alçada tribunais de 1ª instância: 5.000€;
Alçada tribunais da relação: 30.000€.
Em matéria penal não há alçadas (art. 44º/2 LOSJ), não dependendo a admissibilidade do recurso do valor da ação.
5.5 Critério do território
O território é o critério que permite repartir o poder jurisdicional entre os diferentes tribunais judiciais existentes em
cada um dos níveis hierárquicos. Portanto, é com base neste critério que se identifica o tribunal competente dentre:
Tribunais da Relação (Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora);
Tribunais de 1ª instância;
Juízos de cada Tribunal da Comarca (com a mesma especialização);
Juízos de competência genérica.
A competência territorial de cada tribunal é determinada pela (1)circunscrição territorial que lhe está adstrita e, quando
não se trate de tribunal competente em todo o território, pelo (2)elemento de conexão territorial relevante. Portanto,

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será territorialmente competente o tribunal ou juízo com que o litígio mantém conexão mais estreita, de acordo com
o elemento de conexão considerado decisivo pela lei.
Como se compreende, este critério só releva quanto aos Tribunais da Relação e aos tribunais da comarca.
a) Tribunais da Relação
A competência dos tribunais da relação, quando intervenham em via de recurso, é determinada pela subordinação
hierárquica do tribunal de que se recorre (art. 83º CPC). Significa isto que o Tribunal da Relação competente será
sempre aquele a que o tribunal de 1ª instância que proferiu a decisão de que se pretende recorrer está subordinado.
Importa apontar, a este respeito, um caso especial: o caso do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão.
Apesar de este tribunal estar sediado em Santarém (por isso, na circunscrição territorial da competência do Tribunal
da Relação de Évora), o tribunal competente para decidir os recursos das suas decisões é o Tribunal da Relação de
Lisboa (art. 188º/5 LOSJ).
Quando os tribunais da relação funcionem como tribunais de 1ª instância, a sua competência territorial é definida nos
termos estabelecidos para os tribunais desta categoria.
b) Tribunais de 1ª Instância
Os elementos de conexão consagrados na lei, que ligam o caso em juízo a uma circunscrição territorial, dentro da qual
se haverá de identificar o tribunal competente (com recurso aos demais critérios), diferem consoante o ramo do direito
em causa:
Matéria cível:
Elementos de conexão regra:
Domicílio do réu (art. 80º/1 CPC);
Sede da pessoa coletiva (art. 81º/2 CPC).
Elementos de conexão especiais – arts. 70º e ss. CPC:
Ações referentes a direitos reais ou direitos pessoais de gozo sobre coisas imóveis » lugar da
situação dos bens (art. 70º CPC);
Ações para cumprimento de obrigações » lugar onde a obrigação devia ser cumprida (art. 71º/1);
Ações de responsabilidade civil extracontratual » lugar onde ocorreu o facto gerador da
responsabilidade (art. 71º/2 CPC);
Ações de divórcio ou separação de pessoas e bens » domicílio do autor (art. 72º CPC).
Matéria executiva:
Ação executiva fundada em sentença » circunscrição territorial do tribunal que proferiu a sentença
condenatória (art. 85º/1 CPC);
Ação executiva se sentença proferida por tribunais superiores » domicílio do executado (art. 86º CPC);
Ação executiva sobre pessoa coletiva » domicílio do executado ou, por opção do credor exequente, lugar
onde a obrigação deve ser cumprida (art. 89º/1 CPC).
Matéria laboral: arts. 13º/1, 14º/1, 15º/1 e 4 CPT;
Matéria de insolvência: arts. 7º CIRE;
Matéria tutelar cível: arts. 3º, 9º, 79º/1, 79º/2 e 3, 91º e 92º Lei nº 141/2015;
Matéria penal: arts. 19º/1 e 2, 20º/1 e 2, art. 22º/1 e 2 CPP.
5.6 Conclusões
A determinação do tribunal judicial competente deve aferir-se nos seguintes termos:
1. Critério da matéria » averiguar:
a) Competência do STJ ou do Tribunal da Relação em 1ª instância ?
b) Competência de Tribunal de Competência Alargada ou de Tribunal da Comarca ?
c) Tribunal da Comarca (no caso de se concluir pela sua competência) » identificar o juízo:
i) Juízos especializados ?
[Em caso de matéria cível, haverá que convocar o critério do valor]
ii) Juízo de competência genérica (residual) ?
iii) Juízos de proximidade (atos processuais) ?
2. Critério do valor [só no caso de a causa versar sobre matéria civil] » discernir:
a) Valor da ação > ou < 50.000 € ?
b) Processo comum ou processo especial ?
3. Critério do território » identificar o tribunal concreto dentro da espécie já determinada:

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a) Matéria cível ou matéria não cível ?
i) Matéria cível: elemento de conexão regra ou elemento de conexão especial ?
ii) Matéria não cível: legislação própria
4. Critério da hierarquia [só no caso de competência em sede de recurso].

II – Tribunais judiciais em especial


1. Supremo Tribunal de Justiça
1.1 Definição, sede e competência territorial
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) é (art. 210º CRP e 31º/1 LOSJ):
“o órgão superior da hierarquia dos tribunais judiciais, constituindo a última instância nas matérias abrangidas
pela jurisdição desta ordem de tribunais”.
O STJ está sediado em Lisboa (art. 45º LOSJ e art. 4º/1 ROFTJ) e tem competência sobre todo o território nacional (art.
43º/1 LOSJ e Mapa I anexo ao ROFTJ).
1.2 Organização
O STJ está organizado em secções (arts. 47º/1 e 62º LOSJ):
Secções em matéria cível;
Secções em matéria penal;
Secções em matéria social;
Secção do contencioso.
Esta última secção é específica para o julgamento dos recursos das deliberações do Conselho Superior da Magistratura
(art. 47º/2 LOSJ). Esta secção é constituída pelo mais antigo dos vice-presidentes do tribunal (que tem voto de
qualidade) e por um juiz de cada uma das outras secções (que são sete), designados anual e sucessivamente, de acordo
com a respetiva antiguidade (art. 47º/3 LOSJ).
O número de secções para cada uma das matérias referidas no nº 1 do art. 47º LOSJ, é fixado pelo Conselho Superior
de Magistratura, que determina ainda, sempre que julgar conveniente, sob proposta do Presidente do STJ, o número
de juízes que compõem cada uma delas (art. 149º/l) EMJ, arts. 155º/k) e 49º/1 LOSJ e art. 5º/2 ROFTJ). A distribuição
dos juízes por essas diferentes secções compete ao presidente do tribunal (art. 49º/2 LOSJ).
A organização do STJ em secções é feita com base num “modelo de competência material” ou “em razão da matéria”.
Assim sendo, as secções que compõem o STJ são secções de competência especializada (arts. 54º e 55º LOSJ).
Atualmente existem 4 secções cíveis (1ª, 2ª, 6ª e 7ª), 2 secções criminais (3ª e 5ª) e 1 secção social (4ª) no STJ.
De acordo com a referida especialização, a competência divide-se entre tais secções da seguinte forma (art. 54º/1):
Secções penais » julgam causas de natureza penal;
Secções sociais » julgam as causas referidas no art. 126º LOSJ;
Secções cíveis » julgam causas não atribuídas a nenhuma das outras secções (competência residual).
Uma vez que não há no STJ secções especializadas em matérias da competência do tribunal de propriedade intelectual,
do tribunal marítimo e dos juízos de comércio dos tribunais de comarca, o nº 2 do art. 54º LOSJ determina que tais
matérias são remetidas sempre à mesma secção cível (pois, como sabido, há, atualmente, 4 secções cíveis). A
distribuição verificada presentemente é a seguinte:
Matéria da competência do tribunal da propriedade intelectual » 7ª Secção;
Matéria da competência do tribunal marítimo » 2ª Secção;
Matéria da competência dos juízos de comércio dos tribunais de comarca » 6ª Secção.
Não existe também secção especializada nas matérias cuja competência em 1ª instância cabe ao tribunal de
concorrência, regulação e supervisão. Por isso, o nº 2 do art. 54 LOSJ estatui ainda que as causas nesta matéria são
distribuídas à mesma secção criminal – pretensentemente, à 5ª Secção. Esta atribuição compreende-se uma vez que
aquele tribunal julga sobretudo questões relativas à atuação de entidades com poderes de regulação e supervisão em
processos de contra-ordenação.
1.3 Funcionamento
O STJ pode funcionar das seguintes formas (art. 48º/1, 2 e 3 LOSJ):
Em plenário: constituído por todos os juízes que compõem o tribunal;
Só funciona com a presença de, pelo menos, três quartos dos juízes em exercício (art. 48º/2 LOSJ).
Em pleno das secções especializadas: constituído por todos os juízes que constituem cada uma das secções;

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Só funciona com a presença de, pelo menos, três quartos dos juízes que constituem a secção e se encontram
em exercício de funções (art. 48º/3 LOSJ).
Por secções: julgamento realizado, em regra, por 3 juízes (um relator e dois adjuntos) (art. 56º/1 LOSJ).
Caso especial das secções criminais:
Crimes comuns: o tribunal é composto pelo presidente da secção, pelo relator e por um juiz-
adjunto (arts. 419º/1, 429º/ e 435º CPP – prevalecem sobre a LOSJ (art. 10º CPP));
Crimes militares: o tribunal é composto pelo presidente da secção, pelo relator e por três juízes-
adjuntos, dois dos quais têm de ser juízes militares (art. 116º/a) C. Jus. Militar).
Em princípio, os juízes que intervêm no julgamento pertencem todos à mesma secção do relator, a quem o processo
é distribuído, e a sua intervenção faz-se de acordo com a ordem de precedência definida na lei de processo (art. 56º/2
LOSJ e arts. 203º e 216º/2 CPC). Na eventualidade de não ser possível obter o número de juízes exigido para o exame
do processo e a decisão da causa, a lei admite que sejam chamados a intervir juízes de outra secção da mesma
especialidade (art. 56º/3 LOSJ) ou até de outra especialidade (art. 56º/4 LOSJ).
A lei prevê uma formação especial, composta por três juízes escolhidos anualmente de entre os mais antigos das
secções cíveis, à qual cabe a apreciação preliminar e sumária sobre a verificação dos pressupostos de que depende a
admissibilidade da “revista excecional” (art. 672º/3 CPC).
= recurso de revista admitido apesar da verificação de dupla conforme (que, em regra, inviabilizaria o recurso
da decisão) (art. 672º CPC).
1.4 Competência
Em regra, tanto em matéria cível, como em matéria penal, o STJ apenas intervém em via de recurso. Como vimos, os
tribunais de 1ª instância são, em princípio, os tribunais de comarca ou os tribunais de competência territorial alargada.
Porém, a lei prevê casos excecionais em que aquele tribunal se assume como tribunal de 1ª instância. Vejam-se, então,
as competências conferidas ao STJ nas duas hipóteses.
a) Competência em via de recurso
No que diz respeito à competência do STJ em via de recurso, em matéria cível, podemos distinguir os seguintes recurso:
Recurso da competência do STJ em matéria cível
Recursos Ordinários Recursos Extraordinários
Recurso de Revista Recurso de Apelação
Recurso da decisão da Recurso de decisões da Recurso extraordinário de revista (quando é
Relação em recurso de Relação proferidas em 1ª admitido o recurso apesar da dupla conforme –
apelação (art. 671º); instância (art. 644º); art. 672º CPC);
Recurso per saltum da Recurso para o pleno do Recurso de uniformização de jurisprudência (de
decisão de tribunal de STJ de decisões das suas acórdão do STJ em contradição com acórdão
1ª instância (art. 678º). secções em 1ª instância. anterior desse tribunal – arts. 688º e ss. CPC).
A limitação dos poderes de cognição do STJ em via de recurso às causas cujo valor exceda a alçada dos tribunais da
Relação constitui tão-só a regra nesta matéria, pois existem casos em que é sempre admitido recurso para o STJ,
independentemente do valor da causa e da sucumbência – vide: art. 629º/2 CPC.
Quantos às secções do STJ competentes para o julgamento dos vários recursos expostos, distingue-se:
Julgamento do recurso de revista: compete às secções cíveis de acordo com a distribuição feita entre elas (arts,
54º/1 e 55º/a) LOSJ e arts. 203º, 213º e 215º CPC), excepto quando se trate de matéria laboral, hipótese em
que o julgamento do recurso cabe à secção social (art. 54º/1 in fine e art. 55º/a) LOSJ);
NOTA: o Presidente do Supremo pode determinar que o julgamento se faça com intervenção do pleno das
secções cíveis ou do pleno da secção social, em virtude de tal se revelar necessário ou conveniente para
assegurar a uniformidade da jurisprudência (art. 686º/1 CPC).
Julgamento do recurso de apelação: compete às (arts. 54º/1 e 55º/a) LOSJ e art. 53º/b) LOSJ):
Secções cíveis » quando a decisão recorrida tenha sido proferida em 1ª instância pela Relação;
Pleno das secções cíveis » quando se trata de decisão proferida em 1ª instância pelas secções do STJ
Julgamento do recurso extraordinário de revista: compete às secções cíveis ou à secção social, conforme a
matéria em causa (art. 55º/a) LOSJ);
NOTA: embora a lei não seja explícita a este respeito, parece ser de concluir que a secção competente será a
mesma secção que proferiu a decisão recorrida, pois ela não é objeto de distribuição e corre por apenso ao
processo em que essa decisão foi proferida – vide: arts. 215º e 698º/1 CPC.

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Julgamento do recurso de uniformização da jurisprudência: compete ao pleno das secções cíveis ou ao pleno
da secção social, quando o recurso diga respeito às causa mencionadas no art. 126º LOSJ (art. 688º/1 CPC e
arts. 54º/1 e 53º/c) LOSJ).
No que diz agora respeito à competência do STJ em via de recurso, em matéria penal, importa também distinguir:
Recursos da competência do STJ em matéria penal
Recursos Ordinários Recursos Extraordinários
Recurso de decisões proferidas em 1ª instâncias Recurso de revisão de sentença (arts. 449º, 451º/1,
pelos tribunais da Relação (art. 432º/a) CPP); 455º/2 e 3, 435º e 11º/4/d) CPP);
Recurso das decisões proferidas pela Relação em Recurso de decisão proferida contra jurisprudência
via de recurso, que não sejam irrecorríveis nos fixada pelo STJ (arts. 446º, 435º e 11º/4/b) CPP);
termos do art. 400º CPC (art. 432º/b) CPP); Recurso de uniformização de jurisprudência (arts.
Recurso dos acórdãos finais proferidos pelo tribunal 437º, 443º/1 e 11º/3/c) CPP).
de júri ou pelo tribunal coletivo que apliquem pena
de prisão superior a 5 anos (art. 432º/c) CPP);
Recurso das decisões interlocutórias que devam
subir com os recursos referidos supra (art. 432º/d)).
Quanto às secções do STJ competentes para o julgamentos dos vários recursos expostos, distingue-se:
Julgamento de recursos ordinários: compete às secções criminais (arts. 54º/1 e 55º/a) LOSJ), de acordo com a
distribuição realizada (arts. 203º, 213º e 215º CPC, aplicáveis por força do disposto no art. 4º CPP);
Julgamento do recurso de revisão de sentença: compete às secções criminais (arts. 11º/4/d) CPP, 55º/e) LOSJ);
Julgamento do recurso de decisão proferida contra jurisprudência fixada pelo STJ: compete às secções
criminais (art. 11º/4/b) CPP e art. 55º/a) LOSJ);
Julgamento do recurso de uniformização de jurisprudência: compete ao pleno das secções criminais (arts.
437º, 443º/1 e 11º/3/c) CPP e art. 53º/c) LOSJ).
Relembre-se que em matéria criminal os recursos para o STJ não dependem da alçada (porquanto não há sequer
alçada nesta matéria e as causas não têm valor associado). Daí que a competência do STJ esteja fixada diretamente
no Código de Processo Penal, nos termos vistos.
b) Competência em 1ª instância
Embora a regra seja, como visto, a intervenção do STJ em via de recurso, ele possui também competências em 1ª
instância. Assim acontece quanto às seguintes matérias:
Julgar o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro pelos crimes
praticados no exercício das suas funções (art. 53º/a) LOSJ e art. 11º/3/a) CPP) » pleno das secções criminais;
Julgar os processos por crimes cometidos por juízes do STJ e dos tribunais da Relação e por magistrados do
Ministério Público que exerçam funções junto destes tribunais, ou equiparados (Tribunal Constitucional,
Tribunal de Contas, STA, Tribunais Centrais Administrativos) e recursos em matéria contra-ordenacional a eles
respeitantes (art. 55º/b) LOSJ e art. 11º/4/a) CPP) » secção criminal;
Julgar ações de regresso propostas contra juízes do STJ e dos tribunais da Relação e magistrados do Ministérios
Público que exerçam funções junto desses tribunais, ou equiparados, por causa das suas funções (art. 55º/c)
LOSJ) » secção cível;
Conhecer dos pedidos de “habeas corpus” em virtude de prisão ilegal (art. 55º/d) LOSJ) e art. 11º/4/c) CPP) »
secção criminal;
Praticar os atos jurisdicionais relativos ao inquérito, dirigir a instrução criminal, presidir ao debate instrutório
e proferir despacho de pronúncia ou não pronúncia nos processo referidos na alínea a) do nº 3 e na alínea a)
do nº 4 do art. 11º do CPP, assim como nos processos referidos na alínea a) do art. 53º e alínea b) do art. 55º
da LOSJ (art. 11º/7 CPP e art. 55º/h) LOSH) » por cada juiz das secções criminais;
Julgar os processos por crimes estritamente militares cometidos por oficiais generais, e praticar os atos
jurisdicionais relativos ao inquérito, dirigir a instrução criminal, presidir ao debate instrutório e proferir
despacho de pronúncia ou de não pronúncia nos processos respeitantes a tais crimes (art. 109º/a) e c) Código
da Justiça Militar) » secção criminal.
Tratando-se de decisões proferidas em 1ª instância pelo STJ, os recursos que delas caibam são interpostos para
formações de juízes mais alargadas do mesmo tribunal, em específico:

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Julgamento dos recursos dos acórdãos proferidos ao abrigo do art. 55º/c) LOSJ: compete ao pleno das secções
cíveis (art. 53º/b) LOSJ);
Julgamento dos recursos de decisões proferidas nos processos indicados no art. 55º/b), d) e h) LOSJ: compete
ao pleno das secções criminais (art. 53º/b) LOSJ e art. 11º/3/b) CPP);
Julgamento do recurso dos acórdãos proferidos pelo pleno de secções criminais na sequência do julgamento a
que alude o art. 53º/1/a) LOSJ: compete ao plenário do tribunal (art. 52º/a) LOSJ).
1.5 Representação do Ministério Público
O Estatuto do Ministério Público atribui a sua representação no STJ ao Procurador-Geral da República (arts. 4º/1/a) e
12º/1/b) EMP), com possibilidade de substituição pelo Vice-Procurador-Geral ou por Procuradores-Gerais Adjuntos
(art. 13º/2 EMP). Presentemente, a representação é assegurada por Procuradores-Gerais Adjuntos.
2. Tribunais da Relação
2.1 Definição, denominação, sede e competência territorial
Os Tribunais da Relação são, em regra, os tribunais de 2ª instância (art. 210º/4 CRP e arts. 29º/2 e 67º/1 LOSJ). Estes
tribunais são designados pelo nome do município em que se encontram instalados (arts. 29º/2 e 67º/1 LOSJ).
Atualmente, existem 6 tribunais da Relação (Anexo I à LOSJ e Mapa II anexo ao ROFT), aos quais é atribuída uma
competência territorial específica:
Tribunal da Relação de Guimarães » Comarcas de Braga, Bragança, Viana do Castelo e Vila Real;
Tribunal da Relação do Porto(*) » Comarcas de Aveiro, Porto e Porto Este;
Tribunal da Relação de Coimbra(*) » Comarcas de Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu;
Tribunal da Relação de Lisboa(*) » Comarcas dos Açores, de Lisboa, Lisboa Norte, Lisboa Oeste, e da Madeira;
Tribunal da Relação de Évora(*) » Comarcas de Beja, Évora, Faro, Santarém, Setúbal e Portalegre.
(*) Importa notar, neste contexto, que aos Tribunais da Relação do Porto, Coimbra, Lisboa e Évora se encontram
igualmente subordinados os tribunais de competência territorial alargada com sede nas comarcas que fazem parte da
respetiva competência territorial. Exceciona-se, todavia, o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão que,
apesar de ter sede em Santarém, está subordinado ao Tribunal da Relação de Lisboa (e não ao Tribunal da Relação de
Évora), por disposição legal especial (art. 188º/5 LOSJ).
Relativamente aos crimes de natureza estritamente militar, uma vez que só existem juízes militares nos Tribunais da
Relação do Porto e de Lisboa (art. 69º LOSJ e Mapa II anexo ao ROFTJ), a competência territorial encontra-se repartida
entre esses dois tribunais nos termos expostos no art. 110º/1/a) e b) Código da Justiça Militar. Aplicando por
identidade de razão o disposto no art. 117º/1 ROFTJ, a área de competência do Tribunal da Relação do Porto abrange
a área de competência dos Tribunais da Relação de Guimarães e de Coimbra e a área de competência do Tribunal da
Relação de Lisboa engloba a área de competência do Tribunal da Relação de Évora.
O art. 32º/2 LOSJ prevê a possibilidade de criação de outros tribunais da Relação e de alteração da área de competência
dos tribunais existentes, por Decreto-Lei.
2.2 Organização
Os tribunais da Relação são organizados em secções, sendo possível a existência das seguintes (art. 67º/3 LOSJ):
Secções em matéria cível;
Secções em matéria penal;
Secções em matéria social;
Secções em matéria de família e menores;
Secções em matéria de comércio;
Secções em matéria de propriedade intelectual;
Secções em matéria de concorrência, regulação e supervisão.
Apenas está assegurado por lei, para todos os tribunais da Relação, a existência de secções em matéria cível e penal;
as demais secções serão, ou não, criadas consoante o volume ou complexidade do serviço apresentado nos vários
tribunais (art. 67º/4 LOSJ 1ª parte). Presentemente, existem em todos os tribunais da Relação secções em matéria
cível, penal e social.
O número de secções para cada uma das referidas matérias é fixado pelo Conselho Superior da Magistratura, que
determina ainda, sempre que julgar conveniente, sob proposta do Presidente do respetivo tribunal, o número de juízes
que compõem cada uma dessas secções, tendo em conta o volume e complexidade do serviço (art. 149º/l) EMJ, art.
155º/k) LOSJ, art. 49º/1 LOSJ, aplicável por remissão do art. 71º LOSJ e dos arts. 6º/2 e 5º/2 ROFTJ). A distribuição dos

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juízes pelas diferentes secções dos tribunais compete ao Presidente do tribunal (art. 49º/2 LOSJ, aplicável por remissão
do art. 71º LOSJ).
A organização destes tribunais em secções é feita com base num “modelo de competência material” ou “em razão da
matéria”, como resulta da referência à “matéria” contida no nº 3 doa art. 67º LOSJ. Consequentemente, as secções
que compõem os tribunais da Relação são secções de competência especializada.
Atualmente, os Tribunais da Relação contam com as seguintes secções:
Tribunal da Relação de Coimbra: 3 secções cíveis; 2 secções criminais; 1 secção social.
Tribunal da Relação do Porto: 3 secções cíveis; 2 secções criminais; 1 secção social.
Tribunal da Relação de Lisboa: 5 secções cíveis; 3 secções criminais; 1 secção social.
Tribunal da Relação de Évora: 2 secções cíveis; 1 secção criminal; 1 secção social.
Tribunal da Relação de Guimarães: 2 secções cíveis; 1 secção criminal; 1 secção social.
A repartição da competência entre as secções reparte-se de acordo com a referida especialização (art. 54º/1 LOSJ,
aplicável por remissão do art. 74º/1 LOSJ):
Secções cíveis: julgam as causas não atribuídas às outras espécies de secções (competência residual);
Secções criminais: julgam as causas de natureza penal;
Secções sociais: julgam as causas referidas no art. 126º LOSJ (matéria laboral).
Ora, impõe-se questionar a que secção serão distribuídas as causas de matérias especializadas da competência de
juízos dos tribunais de Comarca e de tribunais de competência territorial alargada. Tais causas serão distribuídas pelas
secções existentes, da seguinte forma:
Matérias da competência do Tribunal da Propriedade Intelectual (art. 111º LOSJ) » Secção cível do T. R. Lisboa
Matérias da competência do Tribunal Marítimo (art. 113º LOSJ) » Secção Cível do T. R. Lisboa
Matérias da competência dos juízos de comércio dos Tribunais da Comarca (art. 128º LOSJ) » Secção Cível do
tribunal da Relação territorialmente competente (art. 54º/2 LOSJ 1ª parte – aplicável estes 3 1ºs tipos de matérias)
Matérias da competência do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (art. 112º LOSJ) » Secção
Criminal do T. R. Lisboa (arts. 54º/2 LOSJ 2ª parte e 118º/5 LOSJ)
Matérias da competência dos juízos de famílias e menores dos Tribunais da Comarca » Secção Cível do tribunal
da Relação territorialmente competente
NOTA: são, contudo, competência da Secção Criminal do tribunal da Relação territorialmente competente, as
matérias referentes a processos tutelares educativos.
Refira-se que o art. 54º LOSJ, aqui invocado, aplica-se à competência dos tribunais da Relação por remissão do art.
74º/1 LOSJ.
2.3 Funcionamento
Os tribunais da Relação funcionam (art. 67º/2 LOSJ):
Em plenário: constituído por todos os juízes que compõem as respetivas secções (“juízes-desembargadores”),
não podendo funcionar sem a presença de 3/4 dos juízes em exercício de funções (art. 48º/2 LOSJ, aplicável
por remissão do art. 71º LOSJ);
Por secções: nas quais o julgamento é, em regra, efetuado por três juízes (um relator e dois adjuntos) (art.
56º/1 LOSJ, aplicável por remissão do art. 74º/1 LOSJ).
NOTA: nas secções criminais, quanto aos recursos, importa atentar nas especificidades:
Crimes comuns: o tribunal é constituído pelo presidente da secção, pelo relator e por um juiz adjunto;
Crimes estritamente militares: o tribunal é constituído pelo presidente da secção, pelo relator e por
dois juízes adjuntos, um dos quais tem que ser juiz militar (art. 116º/b) Código da Justiça Militar).
2.4 Competência
Em regra, tanto em matéria cível como em matéria penal, os tribunais da Relação apenas intervêm em via de recurso
das decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância que o admitam (art. 73º/a) LOSJ). Não obstante, os tribunais da
Relação possuem também competência em 1ª instância, a título excecional, tanto em matéria cível, como criminal.
a) Competência em via de recurso
Competência dos Tribunais da Relação em via de recurso
Em matéria cível Em matéria criminal

Recursos Ordinários Recursos Extraordinários Recursos Ordinários

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Recursos da competência do T. Relação em matéria cível
Recursos Ordinários Recursos Extraordinários
Recurso de apelação (arts. 627º/2 e 644º CPC e 79º-A Recurso extraordinário de revisão (art. 679º/1
CPT): recurso das decisões proferidas por tribunais de CPC): de acórdão proferido em secção cível ou
1ª instância se verificados 2 requisitos: social do próprio Tribunal da Relação.
a) Valor da causa superior ao valor da alçada
dos tribunais de 1ª instância (5.000€);
b) Sucumbência [vide supra; Cap. IV, I, 5.4].
Recursos de apelação admitidos independentemente
do valor da causa e da sucumbência (arts. 629º/2 e 3
CPC e arts. 40º/1, 79º e 186º-P CPT).
Quanto às secções competentes para a decisão dos recursos expostos, há que distinguir:
Julgamento de recursos de apelação: compete às secções cíveis, de acordo com a distribuição feita entre elas
(art. 73º/a) LOSJ e arts. 213º e 214º CPC), exceto quando estejam em causa matérias que em 1ª instância são
competência de juízos de trabalho, caso em que o julgamento do recurso compete à secção social;
Julgamento do recurso extraordinário de revisão: compete a secção cível ou a secção social, em matérias da
competência desta.
NOTA: embora a lei não seja explícita, parece ser de concluir que terá competência a mesma secção que
proferiu a decisão revidenda, porquanto não há lugar à distribuição do processo e ele corre por apenso – vide:
arts. 214º e 698º/1 CPC.
Em matéria criminal, são da competência dos tribunais da Relação os recursos das decisões proferidas em 1ª instância,
quando, sendo o recurso admitido, não haja recurso direto para o STJ, mormente sempre que seja aplicada pena de
prisão igual ou inferior a 5 anos (art. 427º/1 CPP). Os tribunais da Relação conhecem recurso de tais decisões tanto
em matéria de direito, como em matéria de facto (art. 428º CPP). O julgamento destes recursos compete às secções
criminais, de acordo com a distribuição efetuada (art. 12º/3/b) CPP, art. 73º/1/a) LOSJ e arts. 203º, 213º e 214º CPC,
aplicáveis por remissão do art. 4º CPP), sendo o tribunal constituído pelo presidente da secção, pelo relator e por um
juiz-adjunto (art. 429º/1 CPP).
Nos termos já enunciados, compete ainda às secções criminais o julgamento dos recursos de:
Decisões que apliquem medidas tutelares educativas;
Decisões proferidas em processos contra-ordenacionais;
Decisões do tribunal da concorrência, regulação e supervisão.
Estes dois últimos casos são remetidos para as secções criminais, exatamente, em virtude da natureza contra-
ordenacional das decisões aí proferidas. De facto, também o tribunal da concorrência, regulação e supervisão decide,
fundamentalmente, questões decorrentes de contra-ordenações.
b) Competência em 1ª instância
À semelhança do que acontece com o próprio STJ, também os tribunais da Relação têm, a título excecional,
competência em 1ª instância, designadamente nas seguintes matérias:
Julgar ações de regresso propostas contra juízes-de-direito (= juízes dos tribunais de 1ª instância) e juízes
militares de 1ª instância, procuradores da República e procuradores-adjuntos, por causa das suas funções (art.
73º/b) LOSJ) » secção cível;
Julgar processos por crimes cometidos pelos magistrados e juízes militares referidos na alínea anterior e
recursos em matéria contra-ordenacional a eles respeitantes (art. 12º/3/a) CPP e art. 73º/c) LOSJ) » secção
criminal;
Julgar processos judiciais de cooperação judiciária internacional em matéria penal (art. 73º/d) LOSJ),
designadamente processos judiciais de extradição (art. 12º/3/c) CPP) » secção criminal;
Julgar os processos de revisão e confirmação de sentença estrangeira (art. 73º/e) LOSJ, art. 979º CPC e art.
12º/3/d) CPP) » secção cível ou secção criminal (consoante a natureza da sentença revidenda);
Praticar os atos jurisdicionais relativos ao inquérito, dirigir a instrução criminal, presidir ao debate instrutório
e proferir despacho de pronúncia ou não pronúncia nos processos referidos na alínea a) do nº 3 do art. 12º
CPP e na al. c) do art. 73º LOSJ (art. 12º/6 CPP e art. 73º/g) LOSJ) » por cada juiz das secções criminais;
Julgar os processos por crimes estritamente militares cometidos por oficiais de patente idêntica à dos juízes
militares de 1ª instância (art. 109º/b) Código da Justiça Militar) » secção criminal.

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2.5 Representação do Ministério Público
O Ministério Público é representado nos tribunais da Relação pelo Procurador-Geral Distrital e por Procuradores-
Gerais-Adjuntos (art. 10º/1/b) LOSJ. A coordenação dessa representação é assegurada pelo Procurador-Geral Distrital,
designado em comissão de serviço pelo Conselho Superior do Ministério Público (art. 70º/2 LOSJ).
3. Tribunais de 1ª Instância
3.1 Espécies de tribunais de 1ª instância
! Os tribunais de 1ª instância são, em regra, os Tribunais de Comarca (art. 210º/3 CRP e arts. 29º/3 e 79º LOSJ).
Esta regra conta, todavia, com várias exceções, que ficaram já apontadas atrás:
Competência em 1ª instância do STJ ou dos Tribunais da Relação [vide supra: Cap. IV, II, 1.4 e 2.4];
Tribunais de competência territorial alargada [vide supra: Cap. IV, I, 5.2].
No sentido inverso, também pode afirmar-se que a regra é a de que os Tribunais da Comarca são os tribunais de 1ª
instância. A única exceção neste contexto é a que resulta da Lei nº 78/2001, que disciplina os Julgados de Paz: os
Tribunais de Comarca assumem-se como tribunais de recurso em relação às decisões proferidas por Julgados de Paz,
quando o valor da causa exceda metade da alçada dos tribunais de 1ª instância (2.500€) (art. 62º/1 Lei nº 78/2001).
3.2 Competência
Conclui-se, então, serem de dois tipos os tribunais de 1ª instância “comuns” (já que a competência do STJ e dos
Tribunais da Relação em 1ª instância é excecional):
a) Tribunais de Comarca;
b) Tribunais de Competência Territorial Alargada.
Vejam-se as caraterísticas principais de cada uma dessas categorias de tribunais e respetiva competência:
a) Tribunais de Comarca
Os “Tribunais de Comarca” são deste modo designados porque existe um tribunal judicial de 1ª instância em cada uma
das 23 Comarcas em que o território nacional está dividido – art. 33º/3 LOSJ.
Os tribunais de comarca são tribunais de competência genérica e especializada (art. 80º/2 LOSJ).
As unidades jurisdicionais em que se desdobram os tribunais de comarca são, atualmente (após as alterações
introduzidas em 2016), designadas de “Juízos”, existindo presentemente os juízos criados pelo ROFTJ. Os juízos podem
ser, nos termos expostos [vide supra: Cap. IV, II, 5.2] (arts. 81º/1 e 85º/2 LOSJ):
Juízos de competência genérica;
Juízos de competência especializada;
Juízos de proximidade (não têm um juiz).
Os tribunais de comarca possuem uma competência residual, competindo-lhes preparar e julgar as “causas não
abrangidas pela competência de outros tribunais” (art. 80º/1 LOSJ), designadamente pela competência dos tribunais
de competência territorial alargada, ou pela competência em 1ª instância do STJ e dos Tribunais da Relação.
Como já referido supra, a competência material dos tribunais de comarca encontra-se repartida pelos vários juízos,
correspondendo ao conjunto das competências atribuídas a estes. Veja-se a distribuição da competência, em primeiro
lugar, pelos juízos de competência especializada:
Juízos Centrais Cíveis » art. 117º LOSJ;
Juízos Locais Cíveis » art. 130º LOSJ – competência residual(*)
Juízos Centrais Criminais » art. 118º LOSJ
Juízos Locais Criminais » art. 130º LOSJ – competência residual(*)
Juízos de Pequena Criminalidade » art. 130º/4 LOSJ.
Juízos de Instrução Criminal » art. 119º LOSJ;
Juízos de Família e Menores » arts. 122º, 123ºe 124º LOSJ;
Juízos de Trabalho » art. 126º LOSJ;
Juízos de Comércio » art. 128º LOSJ;
Juízos de Execução » art. 129º LOSJ.
Quantos aos juízos de competência genérica, aplicar-se-á também o art. 130º LOSJ, uma vez que estes assumem uma
competência residual(*). Os juízos de proximidade, por sua vez, tem a competência definida no art. 130º/5 LOSJ.
(*) A propósito da competência residual, dos juízos locais cíveis e criminais e dos juízos de competência genérica, ficou
já exposto o modo por que é realizada a sua distribuição – com recurso ao critério do valor [vide supra: Cap. IV, I, 5.3].
b) Tribunais de competência territorial alargada

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Os tribunais de competência territorial alargada são assim designados em virtude da sua competência territorial
abranger mais do que uma comarca (arts. 33º/1, 43º/4 e 83º/1 LOSJ), sendo que alguns deles têm, inclusivamente,
competência territorial sobre todo o território nacional.
Em razão da matéria, estes são tribunais de competência especializada, pois conhecem somente de matérias
determinadas, referidas na lei, independentemente da forma de processo aplicável (art. 83º/2 e 3 LOSJ):
O tribunal da propriedade intelectual » art. 111º LOSJ;
O tribunal da concorrência, regulação e supervisão » art. 112º LOSJ;
O tribunal marítimo » art. 113º LOSJ;
O tribunais de execução de penas » art. 114º LOSJ;
O tribunal central de instrução criminal » art. 116º LOSJ (art. 120º).
3.3 Os tribunais de competência territorial alargada
Os tribunais de competência territorial alargada existentes entre nós são os acabados de elencar. Importante notar
que a área de competência territorial destes tribunais nem sempre corresponde a todo o território nacional, mesmo
quando existe apenas um tribunal do tipo específico em causa. Veja-se, então, a competência destes tribunais:
a) Tribunal da propriedade intelectual
Ao tribunal da propriedade intelectual cabe conhecer as matérias enunciadas no art. 111º LOSJ, nomeadamente:
a) Ações em que a causa de pedir verse sobre direito de autor e direitos conexos;
b) Ações em que a causa de pedir verse sobre propriedade industrial;
c) Ações de nulidade e de anulação previstas no Código de Propriedade Industrial;
d) Ações de declaração em que a causa de pedir verse sobre nomes de domínio na Internet;
e) Ações em que a causa de pedir verse sobre firmas ou denominações sociais;
f) Ações em que a causa de pedir verse sobre a prática de atos de concorrência desleal em matéria de
propriedade industrial;
Ao tribunal da propriedade intelectual compete ainda a execução das sentenças proferidas nas ações anteriores.
Existe somente um tribunal da propriedade intelectual, com sede em Lisboa – Anexo III à LOSJ, para que remete o art.
83º/4 LOSJ, e Mapa IV anexo ao ROFTJ. A sua área de competência territorial abrange todo o território nacional, como
se pode constatar pelo Anexo e Mapa referenciados.
b) Tribunal da concorrência, regulação e supervisão
O tribunal da concorrência, regulação e supervisão dispõe de competência para conhecer das questões respeitantes
a recurso, revisão e execução das decisões, despachos e demais medidas tomadas em processos de contra-ordenação
legalmente suscetíveis de impugnação, adotados pelas seguintes entidades (art. 112º/1 LOSJ):
a) Autoridade da Concorrência;
b) Autoridade Nacional de Comunicações;
c) Banco de Portugal;
d) Comissão do Mercado de Valores Mobiliários;
e) Entidade Reguladora para a Comunicação Social;
f) Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões;
[NOTA: o art. 2º/2 do Decreto-Lei nº 1/2015 determinou que passassem a valer como referências a esta Autoridade as
que antes se reportavam ao Instituto de Seguros de Portugal .]
g) Demais entidades administrativas independentes com funções de regulação e supervisão.
[Exs.: Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos; Autoridade Nacional de Aviação Civil; Entidade
Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos; Entidade Reguladora de Saúde – vide: Lei nº 67/2013.]
Ao tribunal da concorrência, regulação e supervisão compete ainda conhecer, nomeadamente, das seguintes questões
relativas a recurso, revisão e execução (art. 112º/2 LOSJ):
a) Decisões da Autoridade da Concorrência proferidas em procedimentos administrativos a que se refere o
regime jurídico da concorrência ;
b) Demais decisões da Autoridade da Concorrência que admitam recurso, de acordo com o respetivo regime.
A este tribunal compete ainda, por fim, a execução das respetivas decisões.
Na LOSJ continua a estar prevista a existência de um único tribunal da concorrência, regulação e supervisão, o qual
tem sede em Santarém, cuja competência abrange todo o território nacional – Anexo III à LOSJ, para que remete o art.
83º/4 LOSJ, e Mapa IV anexo ao ROFTJ.
c) Tribunal marítimo

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O tribunal marítimo é competente para conhecer das questões respeitantes às matérias indicadas no art. 113º LOSJ,
designadamente as relativas a:
a) Indemnizações devidas por danos causados ou sofridos por navios, embarcações e outros engenhos flutuantes
ou resultantes da sua utilização marítima;
b) Contratos de construção, reparação e compra e venda de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes;
c) Contratos de transporte por via marítima ou contratos de transporte combinado ou multimodal;
d) Contratos de utilização marítima de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes;
e) Contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes e suas cargas;
f) Hipotecas e privilégios sobre navios e embarcações, bem como quaisquer garantias reais sobre engenhos
flutuantes e suas cargas;
g) Responsabilidade civil emergente da poluição do mor e outras águas;
h) Questões em matéria de direito comercial marítimo;
i) Recurso das decisões do capitão do porto proferidas em processo de contra-ordenação marítima.
A competência deste tribunal abrange ainda a execução das suas decisões.
A LOSJ contempla a existência de um único tribunal especializado em matérias marítimas, o qual tem sede em Lisboa,
e cuja competência territorial abrange os departamentos marítimos do Norte, do Centro e do Sul – Anexo III à LOSJ,
para que remete o art. 83º/4 LOSJ, e Mapa IV anexo ao ROFTJ. Ficam, portanto, fora da sua competência os
departamentos marítimos dos Açores e da Madeira, nos quais são competentes, em matérias marítimas, os respetivos
tribunais de Comarca (arts. 80º/1 e 113º/3 LOSJ) – esta competência dos tribunais de Comarca distribui-se da seguinte
forma (consoante a natureza da questão):
Questões marítimas de natureza cível: juízos centrais cíveis (existindo) ou, na sua falta, juízos locais cíveis ou
juízos de competência genérica (competência residual);
Questões marítimas de natureza contra-ordenacional: juízos locais criminais ou juízos de competência
genérica.
Este é, então, um caso paradigmático de um tribunal de competência territorial alargada que é único e, todavia, não
tem competência sobre o território nacional na sua totalidade.
d) Tribunais de execução de penas
Uma nota prévia nesta matéria é a de que a epígrafe do art. 114º e o corpo do nº 3 do art. 83º LOSJ referem-se a
«“tribunal” de execução de penas», quando deveria referir-se a “tribunais”, na medida em que não há um único
tribunal desta especialidade.
Ora, a competência destes tribunais encontra-se enunciada no art. 114º LOSJ, abrangendo, designadamente, os
seguintes domínios:
a) Acompanhar e fiscalizar a execução das penas ou medidas privativas da liberdade e decidir da sua modificação,
substituição e extinção;
b) Conceder e revogar a liberdade condicional, a adaptação à liberdade condicional e a liberdade para prova;
c) Determinar a execução da pena acessória de expulsão, declarando extinta a pena de prisão, e determinar a
execução antecipada da pena acessória de expulsão;
d) Decidir sobre a homologação do plano de reinserção social e das respetivas alterações, as autorizações de
ausência, a modificação das regras de conduta e a revogação do regime, quando a pena de prisão seja
executada em regime de permanência na habitação;
e) Rever e prorrogar a medida de segurança de internamento de inimputáveis;
f) Declarar extinta a pena de prisão efetiva, a pena relativamente indeterminada e a medida de segurança da
internamento;
g) Emitir mandatos de detenção, de captura e de libertação;
h) Proferir a declaração de contumácia e decretar o arresto de bens, quanto a condenado que dolosamente se
tiver eximido, total ou parcialmente, à execução da pena de prisão ou de medida de internamento.
Os tribunais de execução de penas existentes presentemente são quatro – Anexo III á LOSJ e Mapa IV anexo ao ROFTJ:
Tribunal de Execução de Penas de Évora;
A respetiva área de competência territorial é
Tribunal de Execução de Penas de Lisboa;
também definia no Anexo III à LOSJ e no
Tribunal de Execução de Penas do Porto;
Mapa IV anexo ao ROFTJ.
Tribunal de Execução de Penas de Coimbra.
Estes tribunais retiram a denominação da respetiva sede (Évora, Lisboa, Porto e Coimbra).

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e) Tribunal central de instrução criminal
A competência do tribunal central de instrução criminal encontra-se estabelecida no art. 120º LOSJ, para o qual remete
o art. 116º LOSJ. Este tribunal é competente para proceder à instrução criminal, decidir quanto à pronúncia e exercer
funções jurisdicionais relativas ao inquérito, quando a atividade criminosa ocorrer em comarcas pertencentes à área
de competência de diferentes tribunais da Relação, em relação aos seguintes crimes:
a) Crimes contra a paz e a humanidade;
b) Crimes em matéria de organização terrorista e terrorismo;
c) Crimes contra a segurança do Estado (com exceção dos crimes eleitorais);
d) Crimes de tráfico de estupefacientes, substância psicotrópicas e precursores;
e) Crimes de branqueamento de capitais;
f) Crimes de corrupção, peculato e participação económica em negócio;
g) Crimes de insolvência dolosa;
h) Crimes de administração danosa em unidade económica do setor público;
i) Crimes de fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito;
j) Infrações económico-financeiras cometidas de forma organizada;
k) Infrações económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional.
Como ficou explícito, é necessária a verificação de dois requisitos para que o tribunal central de instrução criminal
tenha competência:
1. Atividade criminosa verificada em várias comarcas pertencentes à área de competência de diferentes tribunais
da Relação (a competência de um tribunal de Comarca para decidir em 1ª instância geraria problemas quanto
ao Tribunal da Relação competente para conhecer do recurso dessa decisão);
2. Crime em juízo pertencer ao elenco do art. 120º LOSJ.
Existe atualmente um tribunal central de instrução criminal – Anexo III à LOSJ, para o qual remete o art. 83º/4 LOSJ, e
Mapa IV anexo ao ROFTJ –, com sede em Lisboa, e cuja competência territorial abrange todo o território nacional.
3.4 Representação do Ministério Público
Nos tribunais de competência territorial alargada e nos juízos locais, o Ministério Público é representado por
Procuradores-Gerais-Adjuntos, por Procuradores da República e por Procuradores-Adjuntos (art. 10º/1/c) LOSJ). Nos
juízos centrais a representação é assegurada, em regra, por Procurador da República (art. 10º/2 LOSJ).
3.5 Funcionamento dos tribunais de 1ª instância e seus juízos
Os tribunais de 1ª instância podem funcionar como:
Tribunal singular: composto por um juiz (art. 132º/1 LOSJ e art. 125º/2 LOSJ);
Tribunal coletivo: composto por três juízes privativos (art. 133º/1 LOSJ e art. 127º/1 LOSJ);
Tribunal do júri: constituído pelo presidente do tribunal coletivo, pelos restantes juízes que o constituem e por
quatro jurados (art. 136º/1 LOSJ e art. 1º/1 Decreto-Lei nº 387-A/87 – regime do júri em processo penal).
4. Os tribunais de comarca em especial e seus juízos
4.1 O desdobramento dos tribunais de comarca
Com a Lei nº 40-A/2016, os tribunais de comarca passaram a desdobram-se, como apontado, em (1) juízos de
competência especializada (art. 81º/2 LOSJ), (2) juízos de competência genérica e (3) juízos de proximidade. Estes
juízos podem agrupar-se em duas categorias:
Juízos dos tribunais de Comarca
Centrais Locais
Juízos Centrais Cíveis; Juízos Locais Cíveis;
Juízos Centrais Criminais; Juízos Locais Criminais;
Juízos de Instrução Criminal; Juízos de Competência Genérica;
Juízos de Família e Menores; Juízos de Pequena Criminalidade;
Juízos de Trabalho; Juízos de Proximidade.
Juízos de Comércio; [Competência prescrita no art. 130º LOSJ]
Juízos de Execução.
São juízos de competência residual ou de
No processo de determinação do tribunal competência secundária, aos quais só se
competente para concreta causa, haverá recorrerá em segunda linha (juízos locais e de
sempre que averiguar, em primeiro lugar, se há competência genérica) ou em situações
um juízo central com competência. específicas (juízos de pequena criminalidade e
de proximidade).

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4.2 Competência dos juízos dos tribunais de comarca
Cada um dos referidos juízos detém competência própria (ou residual, nos casos infra mencionados). Importa, então,
atentar nas disposições legais que distribuem as matérias pelos diversos juízos.
a) Juízos centrais cíveis
Os juízos centrais cíveis são competentes, nomeadamente, para (art. 117º LOSJ):
a) Preparar e julgar ações declarativas cíveis de processo comum de valor superior a 50.000€;
b) Exercer, no âmbito de ações executivas de natureza cível de valor superior a 50.000€, as competências
previstas no CPC, em circunscrições não abrangidas pela competência de outro tribunal (juízo de execução);
c) Preparar e julgar os procedimentos cautelares a que correspondam as ações da sua competência;
d) Preparação e julgamento de ações da competência material dos juízos de comércio quando (art. 117º/2 LOSJ):
1. Não existir juízo de comércio no tribunal da comarca territorialmente competente ou, existindo, esse
juízo não ser territorialmente competente em toda a comarca (não abrangendo o local em causa);
2. Ação reconduzir-se a uma das hipóteses mencionadas no nº 1 do art. 117º LOSJ.
[Caber-lhes-á o julgamento das ações declarativas de processo comum previstas no nº 1 do art. 128º
LOSJ, quando o seu valor exceda os 50.000€, mas já não as de processo especial].
Do exposto resulta implícito que os juízos centrais cíveis assumem uma competência quase que secundária dentro do
cômputo dos juízos centrais: só serão competentes quando não o forem outros tribunais, mormente tribunais de
competência territorial alargada, ou outros juízos centrais (verdadeiramente “especializados”).
Nesta linha, serão estes juízos competentes, designadamente, em matérias laborais, comerciais e executivas, quando
não exista o respetivo juízo especializado (desde que verificados os requisitos de competência dos juízos centrais cíveis
previstos no art. 117º LOSJ; pois, caso contrário, intervirão os juízos de competência verdadeiramente residual – juízos
locais cíveis e juízos de competência genérica).
Existe pelo menos um juízo central cível em todos os tribunais de comarca.
! Quando existe somente um juízo central cível no tribunal de comarca, a sua área de competência territorial abrange
a totalidade dos municípios que constituem essa circunscrição territorial – Mapa III anexo ao ROFTJ. Na hipótese de
haver dois ou mais juízos centrais cíveis, a competência territorial é repartida entre eles, cabendo a cada um parte dos
municípios da comarca – Mapa III anexo ao ROFTJ.
b) Juízos centrais criminais
Os juízos centrais criminais possuem competência, sobretudo, para (art. 118º LOSJ):
a) Proferir despacho nos termos dos arts. 311º a 313º CPP;
b) Proceder ao julgamento e aos termos subsequentes nos processos de natureza criminal da competência do
tribunal coletivo ou do júri.
Sublinhe-se que a especialização destes juízos não é determinada pela matéria (criminal) – até porque não lhes é
atribuída competência genérica em matéria criminal –, mas sim pela natureza dos atos processuais a praticar na fase
que precede o julgamento (alínea a)) e pela composição do tribunal a que cabem o julgamento e os termos
subsequentes dos processos (alínea b)). Assim sendo, verdadeiramente a especialização destes juízos diz respeito ao
tipo de crimes a que os processos para que são competentes dizem respeito.
Também existe pelo menos um juízo central criminal em todos os tribunais de comarca, sendo que em 7 tribunais da
comarca existem mais do que um.
! A área de competência territorial do único juízo central criminal (quando seja o caso), abrange a totalidade dos
municípios que constituem a respetiva comarca. No caso de existirem vários juízos centrais criminais, a cada um é
atribuída uma parcela da comarca – Mapa III anexo ao ROFTJ.
c) Juízos de instrução criminal
Aos juízos de instrução criminal compete proceder à instrução criminal, decidir quanto à pronúncia e exercer as
funções jurisdicionais relativas ao inquérito (art. 119º LOSJ).
Os nºs 2, 3 e 4 do art. 120º LOSJ estabelecem alguns critérios especiais de competência territorial para determinados
juízos de instrução criminal (trata-se de critérios especiais, que implicam uma entorse no regime geral, aplicando-se
somente a determinados juízos):
Os juízos de instrução criminal localizados na sede dos tribunais da Relação (portanto, os juízos de Coimbra,
Évora, Guimarães, Lisboa e Porto) são competente para proceder à instrução criminal, decidir quanto à
pronúncia e exercer funções jurisdicionais relativas ao inquérito em toda a área de competência dos respetivos

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tribunais da Relação, quanto aos crimes previsto no nº 1 do art. 120º LOSJ, quando a atividade criminosa
decorra em comarcas diferentes (dentro da área de competência do mesmo tribunal da Relação);
Importa distinguir o que é agora exposto com o que atrás referimos quanto ao tribunal central de
instrução criminal (que é um tribunal de competência territorial alargada):
Tribunal Central de Instrução Criminal Juízos de Instrução Criminal dos T. De Comarca
Competente quando a atividade criminosa se Competentes quando a atividade criminosa se
verifica em várias comarcas pertencentes à verifica em várias comarcas, mas todas elas
área de competência de diferentes tribunais pertencentes à área de competência do mesmo
da Relação; tribunal da Relação;
Competência depende de estarem em causa Estando em causa os crimes previstos no art.
os crimes previstos no art. 120º/1 LOSJ. 120º/1 LOSJ a competência territorial dos juízos
[Estando em juízo outro crime, a competência em da sede dos tribunais da Relação é alargada.
1ª instância será do tribunal da Comarca] [Em termos gerais têm competência p/ outros crimes.]
Os juízos de instrução criminal onde tenham sido criados “Departamentos de Investigação e Ação Penal”
(DIAP), em virtude do avultado movimento processo do tribunal da comarca, são competentes na área
abrangida pelos referidos departamentos;
As unidades orgânicas de instrução criminal militar dos juízos de instrução criminal de Lisboa e do Porto são
competentes, quanto aos crimes estritamente militares, nas áreas indicadas no Código da Justiça Militar.
Não há juízos de instrução criminal em todos os tribunais de comarca (há 6 tribunais onde tais juízos não existem –
tribunais das comarcas de Beja, Bragança, Castelo Branco, Guarda, Portalegre e Vila Real).
! Nos tribunais em que existe um só juízo de instrução criminal, a sua área de competência territorial é, em regra,
constituída por todo o território integrado na respetiva comarca – Mapa III anexo ao ROFTJ. Esta regra conhece,
contudo, duas exceções:
Juízo de instrução criminal do tribunal de comarca dos Açores: a área de competência territorial é constituída
somente por 6 dos 19 municípios da comarca;
Juízo de instrução criminal do tribunal de comarca da Madeira: a área de competência territorial não abrange
o município de Porto Santo.
Quanto há dois ou mais juízos com esta especialização no mesmo tribunal de comarca, cada um deles é
territorialmente competente numa parte dessa circunscrição – Mapa III anexo ao ROGTJ.
d) Juízos de família e menores
Os juízos de família e menores têm três grandes domínios de competência:
1. Estado civil das pessoas e família – art. 122º LOSJ;
2. Menores e filhos maiores – art. 123º LOSJ;
3. Matéria tutelar educativa e de proteção – art. 124º LOSJ.
Em relação ao estado civil das pessoas e à família, compete aos juízos de famílias e menores (art. 122º LOSJ):
a) Preparar e julgar os processos de jurisdição voluntária respeitantes a cônjuges;
b) Preparar e julgar os processos de jurisdição voluntária respeitantes a situações de união de facto ou de
economia comum;
c) Preparar e julgar ações de separação de pessoas e bens e de divórcio;
d) Preparar e julgar ações de declaração de inexistência ou de anulação do casamento civil;
e) Preparar e julgar as ações respeitantes aos efeitos do casamento putativo e as destinadas a apurar a boa fé
do cônjuge, ao abrigo do disposto nos arts. 1647º e 1648º CC;
f) Preparar e julgar as ações e execuções por alimentos entre cônjuges e ex-cônjuges;
g) Preparar e julgar outras ações relativas ao estado civil das pessoas e à família;
h) Exercer as competências que a lei confere aos tribunais nos processos de inventário, bem como nos casos
especiais de separação de bens a que se aplica o regime de tais processos.
No que diz respeito a menores e a filhos maiores, estes juízos são competentes, nomeadamente, para (art. 123º LOSJ):
a) Constituir o vínculo de adoção;
b) Regular o exercício das responsabilidades parentais;
c) Fixar os alimentos devidos a menores e a filhos maiores nos termos do art. 1880º CC;
d) Ordenar a confiança judicial de menores (em processo de promoção e proteção da confiança);
e) Decretar a medida de promoção e proteção de confiança a pessoa selecionada para a adoção ou a instituição
com vista a futura adoção;

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f) Constituir relação de apadrinhamento civil e decretar sua revogação;
g) Decretar inibição total ou parcial de responsabilidades parentais e estabelecer limitações ao seu exercício;
h) Proceder à averiguação oficiosa da maternidade e da paternidade;
i) Preparar e julgar ações de impugnação e de investigação da maternidade e da paternidade;
j) Converter, revogar e rever a adoção.
Por último, em matéria de promoção e proteção dos direitos das crianças e jovens em perigo e em matéria tutelar
educativa, compete aos juízos de família e menores, designadamente (art. 124º LOSJ):
a) Preparar, apreciar e decidir os processos de promoção e proteção;
b) Aplicar medida de promoção e proteção de crianças e jovens em perigo e acompanhar a respetiva execução;
c) Praticar atos jurisdicionais relativos ao inquérito tutelar educativo;
d) Apreciar factos qualificados pela lei como crime, quando praticados por menor com idade compreendida entre
os 12 e os 16 anos, com vista à aplicação de medida tutelar;
e) Declarar a cessação ou extinção das medidas tutelares.
Também os juízos de família e menores não existem em todos os tribunais de comarca (não existem em 3 tribunais de
comarca – os de Bragança, Guarda e Portalegre).
! Saliente-se que nos tribunais de comarca dotados de apenas um juízo de família e menores, este não goza de
competência territorial em todos os municípios que constituem a comarca – Mapa III anexo ao ROFTJ. Ademais,
mesmo quando há dois ou mais juízos de famílias e menores, as parcelas territoriais que lhes são atribuídas quando
consideradas em conjunto também nem sempre coincidem com toda a área territorial da comarca respetiva (há 8
comarcas em que essa coincidência se verifica, mas nas demais a competência territorial destes juízes não cobre toda
a área da comarca).
Como é evidente, nas comarcas em cujos tribunais não existe juízo de família e menores, bem como na parte das
comarcas em o(s) juízo(s) existente(s) não têm competência territorial, a competência caberá aos juízos locais cíveis
ou aos juízos locais criminais, ou aos juízos de competência genérica (consoante o que exista) – art. 130º/1 LOSJ. Esta
é, aliás, a solução aplicável às matérias da competência de todos os juízos – quando não há juízo especializado ou,
havendo, ele não em competência na parte da comarca em causa, haverá que recorrer aos juízos com competência
residual (juízos locais cíveis e criminais e juízos de competência genérica).
Os juízos locais asseguram ainda a prática de atos urgentes (1)nos processos respeitantes a menores e a filhos maiores
previstos no art. 123º LOSJ e (2)nos processos em matéria tutelar educativa e de promoção e proteção a que se refere
o art. 124º LOSJ, quando o juízo de família e menores territorialmente competente se encontre sediado em município
diferente (arts. 123º/4 e art. 124º/6 LOSJ).
e) Juízos do trabalho
Antes de mais, uma nota impõe-se a este respeito: a epígrafe do art. 126º LOSJ fala em “competência cível”, mas,
efetivamente, os juízos do trabalho também têm competência em matéria contra-ordenacional, concretamente no
que diz respeito a contra-ordenações laborais e da segurança social (nº 2 do art. 126º LOSJ).
Não obstante, em matéria cível, compete aos juízos do trabalho conhecer (art. 126º/1 LOSJ):
a) Questões emergentes de relações de trabalho subordinado e de relações estabelecidas com vista à celebração
de contratos de trabalho;
b) Questões emergentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais;
c) Ações destinadas a anular atos e contratos celebrados por quaisquer entidades responsáveis com o fim de se
eximirem ao cumprimento de obrigações resultantes da aplicação da legislação sindical ou laboral;
d) Questões emergentes de contratos equiparados por lei aos de trabalho;
e) Questões entre instituições de previdência ou de abono de família e seus beneficiários, quando respeitem a
direitos, poderes ou obrigações legais, regulamentares ou estatutárias;
f) Execuções fundadas nas suas decisões ou noutros títulos executivos;
g) Questões cíveis relativas à greve.
Presentemente, todos os tribunais de comarca têm um ou mais juízos do trabalho.
! Quando existe um único juízo do trabalho no tribunal da comarca, a sua área de competência territorial abrange
toda a comarca, salvo no caso do juízo do trabalho de Ponta Delgada.
Nas comarcas em que existem dois ou mais juízos do trabalho, a circunscrição territorial é dividida pelos vários juízos,
ficando todo o território coberto pela sua competência.

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Na parte da comarca dos Açores em que o juízo do trabalho de Ponta Delgada não é territorialmente competente, a
competência em matéria cível que a lei atribui aos juízos do trabalho cabe aos juízos locais cíveis ou ao juízo de
competência genérica (consoante o que exista), salvo nas ações declarativas cíveis de valor superior a 50.000€, em
que são competentes os juízos centrais cíveis (pois, relembre-se, estamos no domínio da matéria cível).
f) Juízos de comércio
Aos juízos de comércio compete, em especial, preparar e julgar (art. 128º LOSJ):
a) Processos de insolvência e processos especiais de revitalização;
b) Ações de declaração de inexistência, nulidade e anulação do contrato de sociedade;
c) Ações relativas ao exercício de direitos sociais;
d) Ações de suspensão e de anulação de deliberações sociais;
e) Ações de liquidação judicial de sociedades;
f) Ações de dissolução de sociedades gestoras de participações sociais;
g) Ações de liquidação de instituição de créditos e de sociedades financeiras;
h) Execução das suas próprias decisões.
Presentemente, não existem juízos de comércio em todas as comarcas (não existem tais juízos em 8 comarcas: Açores,
Beja, Bragança, Évora, Guarda, Portalegre, Viana do Castelo e Vila Real) – Mapa III anexo ao ROFTJ.
! E regra, quando existe somente um juízo de comércio no tribunal da comarca, a sua área de competência territorial
corresponde a toda a circunscrição territorial da respetiva comarca. Há, todavia, uma exceção a esta regra: o juízo de
comércio do Funchal não abrange o município de Porto Santo. Nas comarcas em que existem dois ou mais juízos de
comércio, a circunscrição territorial da comarca é dividida pelos vários juízos, cuja competência territorial conjunta
cobrirá todo o território da comarca.
Tanto no caso de não haver juízo de comércio como no caso de ele existir mas não abranger toda a comarca, a
competência nas áreas não abrangidas cabe aos juízos centrais cíveis, se estiver em causa uma ação de processo
comum com valor superior a 50.000€ (art. 117º/1 e 2 LOSJ), ou aos juízos locais cíveis ou juízos de competência
genérica (consoante o que existir).
g) Juízos de execução
Aos juízos de execução compete exercer, no âmbito dos processos de execução de natureza cível, as competências
previstas no Código de Processo Civil (art. 129º/1 LOSJ).
No entanto, haverá que excluir desta competência, desde logo:
Processos de execução atribuídos a tribunais de competência territorial alargada:
Tribunal da propriedade intelectual;
Tribunal da concorrência, regulação e supervisão;
Tribunal marítimo.
Processos de execução atribuídos a outros juízos especializados do tribunal de comarca:
Juízos de família e menores;
Juízos do trabalho;
Juízos do comércio.
Processos de execução de sentenças proferidas por secção criminal que, nos termos da lei processual penal,
não devam correr perante um juízo cível.
Nem todos os tribunais de comarca dispõem, atualmente, de juízos de comércio (não estão instalados juízos de
comércio nas comarcas dos Açores, de Beja, de Bragança, de Castelo Branco, da Guarda, de Portalegre e de Viana do
Castelo) – Mapa III anexo ao ROFTJ.
! Quando existe um único juízo de execução no tribunal de comarca, em princípio, a sua competência territorial
corresponde a toda a circunscrição dessa comarca. Exceciona-se, porém, o juízo de execução do Funchal, que não
abrange o município de Porto Santo. Nas comarcas em que existem dois ou mais juízos de execução, é-lhes atribuída
uma parcela do território, sendo que a competência territorial conjunta corresponderá à totalidade da comarca.
Nas comarcas em que não existe qualquer juízo de execução e no município de Porto Santo (não abrangido pelo juízo
de execução do Funchal), cabe aos juízos centrais cíveis exercer as competências previstas no CPC, nas ações
executivas de natureza cível cujo valor seja superior a 50.000€ (art. 117º/1/b) LOSJ), e caberá esse exercício aos juízos
locais cíveis ou aos juízos de competência genérica (consoante o que exista), nos demais casos.
h) Juízos locais cíveis, juízos locais criminais e juízos de competência genérica

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Como já foi mencionado, os juízos locais cíveis e criminais e os juízos de competência genérica dispõem de
competência residual, que é, refira-se, uma competência residual alternativa (art. 130º/1 LOSJ):
Competência residual alternativa
Residual Alternativa
» competência relativa a causa não atribuídas a » em cada comarca haverá ou um juízo local
qualquer outro juízo especializado ou a qualquer cível/criminal ou um juízo de competência genérica
tribunal de competência territorial alargada competente (mas não os dois em simultâneo)
Saliente-se, a este respeito, uma nota que temos vindo já a evidenciar: o facto de uma causa dizer respeito a
uma matéria específica e não existir (ou não ter competência territorial plena) o respetivo juízo especializado, não
significa automaticamente a competência dos juízos locais cíveis/criminais ou dos juízos de competência genérica.
Antes de partir para esta conclusão, haverá que averiguar se não poderá ser competente um juízo central cível, nos
termos do art. 117º LOSJ – assim sucederá, mormente, na falta de juízos do trabalho, de comércio ou de execução. E
isto decorre daquilo que ficou apontado logo de início: antes de concluir pela competência de um “juízo local”, haverá
que eliminar qualquer possibilidade de ser competente um “juízo central”. Nestes termos, os juízos centrais cíveis,
como referido, acabam por ter também uma competência quase residual, pois os pressupostos da sua competência
são latos. De facto, a sua especialização não é uma especialização em razão da matéria, mas sim em razão do valor da
ação (superior a 50.000€) e do processo (comum, e não especial) em causa.
Além da competência residual prevista no nº 1 do art. 130º LOSJ, é também reconhecida aos juízos em apreço
competência nas questões enunciadas no nº 2 desse preceito:
a) Proceder à instrução criminal, decidir quanto à pronúncia e exercer as funções jurisdicionais relativas ao
inquérito onde não houver juízos de instrução criminal » competência dos juízos locais criminais ou dos juízos
de competência genérica;
b) Exercer funções jurisdicionais relativas aos inquéritos penais, fora dos municípios onde estejam instalados os
juízos de instrução criminal (mesmo que a área territorial em causa seja abrangida pela competência territorial
destes juízos) » competência dos juízos locais criminais ou dos juízos de competência genérica;
c) Exercer, no âmbito do processo de execução, as competências previstas no CPC, onde não houver juízo de
execução ou outro juízo ou tribunal de competência especializada competente » competência dos juízos locais
cíveis ou dos juízos de competência genérica;
d) Julgar os recursos das decisões das autoridades administrativas em processo de contra-ordenação, salvo os
expressamente atribuídos a juízos centrais de competência especializada ou a tribunal de competência
territorial alargada » competência dos juízos locais criminais ou dos juízos de competência genérica;
e) Exercer as demais competências conferidas por lei.
Na competência residual prevista no nº 1 do art. 130º LOSJ, pertencente aos juízos locais cíveis ou aos juízos de
competência genérica, cabem, em particular:
Preparação e julgamento de ações (1)declarativas cíveis de (2)processo comum com (3)valor igual ou inferior a
50.000€ (por isso excluídas da competência dos juízos centrais cíveis), quando (4)não sejam da competência de
tribunais de competência territorial alargada ou de juízos centrais especializados (de família e menores, do
trabalho e de comércio);
Preparação e julgamento de (1)ações da competência material dos juízos de família e menores e que seguem
o (2)processo comum, cujo (3)valor é sempre igual ao da alçada da Relação mais 1 cêntimo (= 30.000,01€) (por
isso nunca serão da competência dos juízos centrais cíveis), (4)nas comarcas onde esses juízos não existam, ou
nos municípios que não sejam abrangidos pela competência territorial do(s) juízo(s) existentes;
Preparação e julgamento das (1)ações da competência material dos juízos de família e menores que seguem a
forma de (2)processo especial, (3)nas comarcas onde esses juízos não existam, ou nos municípios que não sejam
abrangidos pela competência territorial do(s) juízo(s) existentes;
Preparação e julgamento das (1)ações da competência material dos juízos do comércio que sigam o (2)processo
de declaração comum, cujo (3)valor seja igual ou inferior a 50.000€, (4)nas comarcas onde esses juízos não
existam, ou nos municípios que não sejam abrangidos pela competência territorial do(s) juízo(s) existentes;
Preparação e julgamento das (1)ações da competência material dos juízos do comércio que sigam a forma de
(2)
processo especial, (3)nas comarcas onde esses juízos não existam, ou nos municípios que não sejam
abrangidos pela competência territorial do(s) juízo(s) existentes;

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(1)
Preparação e julgamento das ações da competência material do tribunal marítimo que sigam a forma de
(2)
processo de declaração comum e que tenham (3)valor igual ou inferior a 50.000€ , (4)na parte do território
em que o referido tribunal não tem competência;
Preparação e julgamento dos procedimentos cautelares a que correspondem ações da sua competência.
Na competência residual prevista no nº 1 do art. 130º LOSJ, pertencente aos juízos locais criminais ou aos juízos de
competência genérica, cabem, em particular:
Julgamento e os termos subsequentes nos (1)processos de natureza criminal da competência do (2)tribunal
singular (indicados no art. 16º CPP);
Julgamento dos (1)processos tutelares educativos, (2)nas comarcas e nos municípios não abrangidos pela
competência de juízos de família e menores;
Julgamento dos (1)processos respeitantes aos crimes previstos no Capítulo II, do Título V do Livro II do Código
Penal (“crimes contra a autoridade pública”) – art. 16º/2/a) CPP;
Julgamentos dos (1)processos respeitantes a crimes cuja pena máxima abstratamente aplicável seja igual ou
inferior a 5 anos de prisão – art. 16º/2/b) CPP;
Julgamento dos (1)processos por crimes previstos na alínea b) do nº 2 do artigo 14 º CPP, mesmo em caso de
concurso de infracções, (2)quando o Ministério Público, na acusação, ou, em requerimento, quando seja
superveniente o conhecimento do concurso, entender que não deve ser aplicada, em concreto, pena de prisão
superior a 5 anos – art. 16º/3 CPP.
O nº 4 do art. 130º LOSJ elenca as competências dos juízos de pequena criminalidade, são elas, designadamente:
a) Causas a que corresponde forma de processo sumário, abreviado e sumaríssimo;
b) Recurso das decisões das autoridades administrativas em processo de contra-ordenação a que se refere a
alínea d) do nº 2 do art. 130º LOSJ, quando o valor da coima aplicável seja igual ou inferior a 15.000€,
independentemente da sanção acessória.
Quanto à competência dos juízos de proximidade, dispõe os nºs 5 e 6 do art. 130º LOSJ:
a) Assegurar a realização (com exclusão dos julgamentos em processo sumário – art. 82º/3 e 4 LOSJ) das
audiências de julgamento dos processos de natureza criminal de competência do tribunal singular;
b) Assegurar a realização das demais audiências de julgamento ou outras diligências processuais que sejam
determinadas pelo juiz competente, nomeadamente quando da realização dessas diligências pelo juízo de
proximidade resultem vantagens para a aquisição da prova ou quando condições de acessibilidade dificultem
gravemente a deslocação dos intervenientes processuais;
c) Prestar informações de caráter processual, no âmbito dos tribunais sediados na respetiva comarca, em razão
do especial interesse nos atos ou processos;
d) Proceder à receção de papéis, documentos e articulados destinados a processos que corram ou tenham
corrido termos em qualquer tribunal sediado na comarca;
e) Operacionalizar e acompanhar as diligências de audição com recurso a equipamento tecnológico que permita
a comunicação, por meio visual e sono, em tempo real;
f) Praticar os atos que venham a ser determinados pelos órgãos de gestão.

Capítulo V – Tribunais Administrativos e Fiscais


1. Considerações iniciais
Os tribunais administrativos e fiscais são uma das categorias de tribunais previstas na Constituição, sendo o respetivo
órgão superior o Supremo Tribunal Administrativo (art. 209º/1/b) CRP).
À jurisdição administrativa e fiscal compete, nos termos do art. 212º/2 CRP:
“o julgamento das acções e recursos contenciosos que tenham por objecto dirimir os litígios emergentes das
relações jurídicas administrativas e fiscais.”
Este preceito contém terminologia manifestamente desatualizada, sobretudo em face das novas redações do ETAF e
do CPTA (designadamente, após a alteração introduzida a estes diplomas com o Decreto-Lei nº 214-G/2015, de 02/10).
Não obstante, retira-se deste preceito uma reserva material de jurisdição: compete aos tribunais administrativos e
fiscais a jurisdição sobre questões emergentes de relações jurídicas administrativas e fiscais, compreendidas enquanto
relações de direito administrativo e fiscal.
Esta reserva não, todavia, uma reserva absoluta, já que tanto a Constituição como a Lei a limitam:
Questões de direito administrativo e fiscal da competência do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas:

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Julgamento de questões eleitorais;
Declarar a ilegalidade de normas de direito administrativo e fiscal;
Apreciar a ilegalidade das contas de entidades públicas.
Questões de direito administrativo e fiscal da competência dos Tribunais Judiciais:
Impugnação das decisões de autoridades administrativas que apliquem coimas em processos de
contra-ordenação (arts. 55º/b), 73º/c), 111º/1/e), 112º/1, 113º/1/t), 126º/2 e 130º/1/e) LOSJ);
Recurso das decisões arbitrais que fixem indemnização nos processos de expropriação litigiosa por
entidade pública (arts. 38º/1 e 3 e 91º/7 Código das Expropriações – CE);
Fixação da indemnização devida pela requisição de imóveis e de direitos e eles inerentes, quando
o proprietário não se conforme com o montante estabelecido pelo Ministro (art. 84º/4/b) e c) CE).
! Em suma, o que verdadeiramente decorre do art. 212º/3 CRP é a consagração dos tribunais administrativos e fiscais
como tribunais comuns em matéria administrativa e fiscal.
A delimitação legal do âmbito material da jurisdição administrativa e fiscal encontra-se no art. 4º ETAF, no qual se
enunciam, quer os litígios atribuídos aos tribunais administrativos e fiscais (nºs 1 e 2), quer os litígios excluídos da
respetiva jurisdição (nºs 3 e 4). Este preceito conta com disposições que se limitam a concretizar a regra geral do art.
212º/3 CRP – normas concretizadoras (positivas e negativas) – , com disposições que restringem o âmbito da jurisdição
administrativa e fiscal decorrente dessa regra – normas inovadoras subtrativas – e ainda com disposições que ampliam
esse âmbito de jurisdição regra – normas inovadoras aditivas.
2. Órgãos da jurisdição administrativa e fiscal
2.1 Órgãos jurisdicionais
A Constituição limita-se a fazer referência ao Supremo Tribunal Administrativo e aos “demais tribunais administrativos
e fiscais”, cuja criação e individualização deixa para a lei ordinária (art. 209º/1/b) CRP). Ainda nesta matéria, dispõe o
art. 212º/1 CRP que o STA é o “órgão superior da hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais”.
A enunciação dos tribunais pertencentes a esta ordem jurisdicional encontra-se no art. 8º ETAF, o qual prevê as
seguintes categorias de tribunais:
Supremo Tribunal Administrativo;
Secção do Contencioso Administrativo;
Secção do Contencioso Tributário.
Tribunais Centrais Administrativos;
Tribunal Central Administrativo Norte:
Secção do Contencioso Administrativo;
Secção do Contencioso Tributário.
Tribunal Central Administrativo Sul:
Secção do Contencioso Administrativo;
Secção do Contencioso Tributário.
Tribunais Administrativos de Círculo e Tribunais Tributários.
2.2 Recurso entre tribunais administrativos e fiscais
Os tribunais administrativos e fiscais também se encontram hierarquizados para efeito de recurso, ocupando o STA a
posição mais elevada nessa hierarquia (art. 212º/1 CRP e art. 11º/1 ETAF).
Em princípio, a admissibilidade de recurso ordinário das decisões desses tribunais depende igualmente do valor da
causa ser superior à alçada do tribunal de que se recorre e da sucumbência (art. 142º/1 CPTA e art. 280º/4 CPPT).
Todavia, é sempre admissível recurso, independentemente do valor da causa e da sucumbência, das decisões referidas
no art. 142º/2 CPTA (além dos casos previstos no CPC, com aplicação aqui):
a) Decisões de improcedência de pedidos de intimação para a proteção de direitos, liberdades e garantias;
b) Decisões proferidas em matéria sancionatória;
c) Decisões proferidas contra jurisprudência uniformizada pelo STA;
d) Decisões que ponham termo ao processo sem se pronunciarem sobre o mérito da causa.
Em matéria administrativa e fiscal, são admitidos os seguintes recursos ordinários:
Recurso de apelação: recurso da decisão proferida em 1ª instância pelos Tribunais Administrativos de Círculo
ou pelos Tribunais Tributários para os Tribunais Centrais Administrativos (do Norte ou do Sul), desde que
verificados dois requisitos (art. 142º/1 CPTA e art. 280º/1 e 4 CPPT):
a) Valor da causa ser superior ao valor da alçada dos Tribunais Centrais Administrativos;

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b) Decisão impugnada ser desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da alçada desse
tribunal – sucumbência (não aplicável aos tribunais tributário)
Recurso de revista: excecionalmente, poderá ter lugar recurso das decisões proferidas em 2ª instância pelos
Tribunais Centrais Administrativos para o STA, quando (art. 150º CPTA):
Esteja em causa a apreciação de uma questão que, pela sua relevância jurídica ou social, se revista de
importância fundamental; ou
A admissão do recurso seja claramente necessária para uma melhor aplicação do direito.
Recurso per saltum: recurso das decisões proferidas em 1ª instância por Tribunais Administrativos de Círculo
e dos Tribunais Tributários interposto diretamente para o STA, quando verificados os seguintes pressupostos
(art. 151º/1 CPTA e art. 280º/1 CPPT in fine):
a) Questões exclusivamente de direito;
b) Valor da causa superior a 500.000 € ou indeterminado (ex.: declaração de ilegalidade de norma) (não
aplicável aos tribunais tributários).
No que diz respeito aos recursos extraordinários, estão previstos os seguintes:
Recurso de uniformização de jurisprudência administrativo: recurso para o STA de sentença proferida, quando,
sobre a mesma questão fundamental de direito, exista contradição entre (art. 152º/1 CPTA):
a) Entre acórdão do Tribunal Central Administrativo e acórdão anteriormente proferido pelo mesmo
Tribunal ou pelo Supremo Tribunal Administrativo;
b) Entre dois acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo.
Recurso de uniformização de jurisprudência tributária: recurso para o STA de decisões que (art. 280º/5 CPPT):
a) Perfilhem solução oposta, relativamente ao mesmo fundamento de direito, com:
Mais de três sentenças do mesmo Tribunal ou de outro Tribunal de igual grau;
Decisão de tribunal de hierarquia superior.
b) Ausência substancial de regulamentação jurídica.
A alçada dos tribunais da jurisdição administrativa e fiscal encontra-se estabelecida em função da fixada para os
tribunais judiciais – art. 6º/2, 3 e 4 ETAF:
Alçada dos tribunais tributários: nesta matéria encontramos uma antinomia normativa: segundo o art. 6º/2
do ETAF, a alçada corresponde ¼ da alçada estabelecida para os tribunais judiciais de 1ª instância – 1.250€ ;
segundo o art. 105º da Lei Geral Tributária (com a alteração introduzida em 2014) a alçada é igual à dos
tribunais judiciais de 1ª instância – 5.000€. O STA tem entendido ser esta última a alçada a considerar, para os
processos iniciados a partir de 01/01/2015.
Alçada dos tribunais administrativos de círculo: igual à alçada dos tribunais judiciais de 1ª instância – 5.000€;
Alçada dos tribunais centrais administrativos: igual à alçada dos tribunais da Relação – 30.000€.
Nos processos em que os Tribunais Centrais Administrativos e o Supremo Tribunal Administrativo exerçam
competência em 1ª instância (nos casos em que a lei lhes atribui essa competência), a respetiva alçada é de 5.000€,
tanto para a Secção de Contencioso Administrativo, como para a Secção de Contencioso Tributário, por ser igual à dos
tribunais administrativos de círculo e à dos tribunais administrativos tributários.
3. Desdobramento e agregação dos tribunais administrativos e fiscais
Nos termos do art. 9º/1 ETAF, os tribunais administrativos de círculo podem ser desdobrados em juízos. Este
desdobramento é determinado por portaria do Ministro da Justiça, sob proposta do Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais (art. 9º/3 ETAF).
Igual possibilidade está prevista relativamente aos tribunais tributários, com a particularidade de aqui se tratar de um
desdobramento de “juízos especializados” (art. 9º-A/1 e 2 ETAF):
1. Juízos de pequena instância tributária;
2. Juízos de média instância tributária;
3. Juízos de grande instância tributária.
Os tribunais administrativos de círculo e os tribunais tributários podem igualmente funcionar agregados, mediante
portaria do Ministro da Justiça. Quando assim seja, o tribunal de agregação passa a designar-se de “tribunal
administrativo e fiscal” (art. 9º/2 ETAF). Presentemente, quase todos os tribunais existente funcionam agregados.
4. Competência territorial
Tal como acontece nos tribunais judiciais, também na ordem jurisdicional dos tribunais administrativos e fiscais o
território é o critério que permite repartir o poder jurisdicional entre os vários tribunais de cada um dos níveis

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hierárquicos – entre os diversos Tribunais Administrativos de Círculo, entre os vários Tribunais Tributários e entre os
dois Tribunais Centrais Administrativos.
A competência territorial de cada um destes tribunais é determinada pela (1) circunscrição territorial que lhes está
adstrita, a qual é indicada nos arts. 2º/1 e 2 e 3º/1, 2 e 3 do Decreto-Lei nº 325/2003 e no Mapa anexo ao mesmo, e
pelo (2) elemento de conexão territorial relevante em cada matéria, fixado no CPTA e no CPPT. Deste modo,
territorialmente competente será o tribunal cujo poder jurisdicional abrange o território com o qual o litígio se
mantém em conexão, sendo que esta conexão é determinada segundo os elementos fixados na lei.
Para a determinação do tribunal territorialmente competente em 1ª instância, relativamente a ações declarativas, o
CPTA consagra, designadamente, os seguintes elementos de conexão:
Residência habitual ou sede do autor ou da maioria dos autores » critério geral (art. 16º/1 e 2 CPTA);
Situação dos bens » processos relacionados com bens imóveis (art. 17º CPTA);
Lugar onde se deu o facto constitutivo da responsabilidade » processos em matéria de responsabilidade civil
extracontratual, incluindo ações de regresso (art. 18º/1 CPTA);
Sede da entidade demandada » processos em matéria de responsabilidade civil extracontratual decorrente da
prática ou omissão de ato administrativo ou de norma (arts. 18º/2 e 20º/1 CPTA);
Lugar do cumprimento do contrato » processos relativos a contratos, na falta de convenção das partes (art.
19º/1 e 2 CPTA);
Sede da entidade demanda » processos relativos à prática ou omissão de normas ou atos administrativos por
Regiões Autónomas, Autarquias Locais e demais entidades de âmbito local, pessoas coletivas de utilidade
pública e concessionários (art. 20º/1 CPTA);
Lugar onde deva ser realizada a prestação, a consulta ou a passagem de certidão » pedidos de intimação para
a prestação de informações, consulta de documentos e passagem de certidões (art. 20º/4 CPTA).
Uma vez determinado o tribunal territorialmente competente para o processo de declaração, em 1ª instância, fica
igualmente estabelecida a competência para a execução da respetiva sentença (se a Administração não a executar
espontaneamente): esta competência pertence ao tribunal que tiver proferido a sentença em primeiro grau de
jurisdição (arts. 164º/1 e 176º/1 CPTA).
O CPPT, por sua vez, estabelece, para o julgamento em 1ª instância do processo judicial tributário, os seguintes
elementos de conexão:
Serviço periférico local (serviço de finanças, delegação aduaneira, posto aduaneiro da Autoridade Tributária e
Aduaneira) onde foi praticado o ato objeto da impugnação (art. 12º/1 CPPT 1ª parte);
Domicílio ou sede do executado » processos de execução fiscal (art. 12º/1 CPPT 2ª parte);
Domicílio ou sede do contribuinte, situação dos bens ou lugar da transmissão » processos relativos a atos
tributários ou em matéria tributária praticados por outros serviços da Administração Tributária (art. 12º/2).
À determinação da competência territorial dos tribunais tributários são ainda aplicáveis, subsidariamente, os critérios,
definidos no CPTA, para os tribunais administrativos de círculo (art. 50º ETAF).
5. Supremo Tribunal Administrativo
5.1 Composição
O Supremo Tribunal Administrativo tem sede em Lisboa e a sua área de competência corresponde a todo o território
nacional (art. 11º/2 ETAF).
Como mencionado, o STA está organizado em secções, que funcionam em formação de três juízes (“juízes
conselheiros”) ou em pleno, nos termos do art. 12º/2 ETAF.
Supremo Tribunal Administrativo
Secção do Contencioso Administrativo Secção do Contencioso Tributário
Competência para conhecer dos (art. 24º/1 ETAF): Competência para conhecer dos (art. 26º ETAF):
a) Processos em matéria administrativa relativo a ações e a) Recursos dos acórdãos proferidos pelos Tribunais
omissões das entidades elencadas na alínea a) do nº 1 Centrais Administrativos em 1ª instância;
do art. 24º ETAF; b) Recursos das decisões dos Tribunais Tributários, em
b) Processo relativos a eleições; matéria de direito;
c) Pedidos de adoção de providências cautelares em c) Recursos de atos administrativos do Conselho de
matéria da sua competência; Ministros, em matéria fiscal;
d) Pedidos relativos à execução das suas sentenças; d) Requerimentos de adoção de providências cautelares
e) Ações de regresso, fundadas em responsabilidade por em matéria da sua competência;
danos causados no exercício das suas funções, e) Pedidos de produção antecipada de prova em
processo nela pendente;

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propostas contra juízes do STA e dos TCA e f) Conflitos de competência entre tribunais tributários.
magistrados do MP que aí exerçam funções;
f) Recursos dos acórdãos proferidos pelos Tribunais
Centrais Administrativo em 1ª instância;
g) Conflitos de competência entre tribunais
administrativos;
h) Recursos de revista de decisões dos TCA ou dos TAC,
em matéria de direito.
5.2 Funcionamento
O STA funciona nos seguintes termos (não obstante a referência do art. 12º ETAF apenas às secções):
Por secção: as secções (do contencioso administrativo e do contencioso tributário) funcionam em formação
de três juízes – um relator e juízes adjuntos, sendo que cada secção por dividir-se em subsecções (arts. 12º/2,
14º/2 e 17º/1 ETAF);
No pleno de secção: as secções (do contencioso administrativo e do contencioso tributário) podem funcionar
no pleno, procedendo ao julgamento um juiz relator e todos os demais juízes em exercício de funções nessa
secção; o pleno só pode funcionar com a presença de, pelo menos, 2/3 dos juízes (art. 17º/2 e 3 ETAF);
Em plenário: o plenário do STA é composto pelo Presidente, pelos Vice-Presidentes e pelos três juízes mais
antigos de cada uma das secções (de contencioso administrativo e de contencioso tributário); o plenário só
pode funcionar com a presença de, pelo menos, 4/5 dos juízes que deviam intervir na conferência, com
arredondamento por defeito (arts. 28º e 30º/1 ETAF).
5.3 Competência
Além da competência em via de recurso, como ficou já exposto, o STA detém ainda competência em 1º grau de
jurisdição, sempre que se trate de causas de grande alcance nacional ou de grande valor financeiro, que sevam ser
decididas por tribunal mais qualificado, ou ainda em função da dignidade dos cargos dos intervenientes.
Tendo em consideração o elenco supra exposto das matérias de competência das Secções do Contencioso
Administrativo e do Contencioso Tributário, podem distinguir os graus de jurisdição implícitos:
Competência em primeiro grau de jurisdição:
Secção do Contencioso Administrativo » alíneas a), b), c), d), e), f) e h) do nº 1 do art. 24º ETAF;
Secção do Contencioso Tributário » alínea c) do art. 26º ETAF.
Competência em via de recurso:
Secção do Contencioso Administrativo:
Em secção » alínea g) do nº 1 do art. 24º, art. 24º/2 (recurso de revista e recurso per saltum,
nos termos em que são admitidos pelo CPTA) ETAF;
No pleno » recurso dos acórdãos proferidos por esta secção em 1º grau de jurisdição (art.
25º/1/a) ETAF).
Secção do Contencioso Tributário:
Em secção » alíneas a) e b) do art. 26º ETAF;
No pleno » recursos dos acórdãos proferidos por esta secção em 1º grau de jurisdição (art.
27º/1/a) ETAF.
6. Tribunais Centrais Administrativos (TCA)
6.1 Composição
Segundo o disposto no art. 31º/1 ETAF, existem dois tribunais centrais administrativos, compostos por duas secções
cada, as quais, por sua vez, se podem dividir em subsecções (art. 32º/ 1 e 2 ETAF):
Tribunal Central Administrativo do Norte » sede no Porto.
Secção do Contencioso Administrativo;
Secção do Contencioso Tributário.
Tribunal Central Administrativo do Sul » sede em Lisboa.
Secção do Contencioso Administrativo;
Secção do Contencioso Tributário.
A competência territorial destes tribunais é fixada nos nºs 1 e 2 do Decreto-Lei nº 325/2003 e no Mapa anexo.
Cada Tribunal Central Administrativo tem um Presidente, coadjuvado por dois Vice-Presidentes, um por cada secção
(arts. 33º e 34º ETAF). Cada secção (do contencioso administrativo ou do contencioso tributário) é composta pelo
Presidente do Tribunal, pelo Vice-Presidente dessa Secção e pelos demais juízes (“juízes desembargadores”).

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6.2 Competência
Também os Tribunais Centrais Administrativos detêm, além de competência em via de recurso, competência em 1º
grau de jurisdição:
Competência em 1º grau de jurisdição:
Secção do Contencioso Administrativo: art. 37º/c) ETAF – ações de regresso, fundadas em
responsabilidade por danos resultantes do exercício das suas funções, propostas contra juízes dos
Tribunais Administrativos de Círculo e dos Tribunais Tributários, bem como dos magistrados do
Ministério Público que prestem serviço junto desses tribunais;
Secção do Contencioso Tributário: art. 38º/b) e c) ETAF:
b) Impugnação de atos administrativos praticados por membros do Governo, em matéria fiscal;
c) Pedidos de declaração de ilegalidade de normas administrativas de âmbito nacional, emitidas
em matéria fiscal.
Competência em via de recurso:
Secção do Contencioso Administrativo: art. 37º/a) e b) ETAF:
a) Recursos das decisões dos Tribunais Administrativos de Círculo para os quais não seja
competente o Supremo Tribunal Administrativo, segundo o disposto no CPTA;
b) Recursos de decisões arbitrais sobre matérias de contencioso administrativo.
Secção do Contencioso Tributário: art. 38º/a) ETAF e art. 280º/1 CPPT 1ª parte – recursos de decisões
dos Tribunais Tributários, salvo o disposto na alínea b) do artigo 26 º ETAF.
7. Tribunais Administrativos de Círculo e Tribunais Tributários
Os Tribunais Administrativos de Círculo e os Tribunais Tributários funcionam apenas com juiz singular, a cada juiz
competindo a decisão, de facto e de direito, dos processos que lhe sejam distribuídos (arts. 40º/1 e 46º/1 ETAF).
A sede destes tribunais encontra-se regulada no Decreto-Lei nº 325/2003, em cujo art. 3º/1 se dispõe: “Os Tribunais
Administrativos de Círculo e os Tribunais Tributários têm sede em Almada, Aveiro, Beja, Braga, Castelo Branco,
Coimbra, Funchal, Leiria, Lisboa, Loulé, Mirandela, Penafiel, Ponta Delgada, Porto, Sintra e Viseu.”
Como já foi referido, quando funcionem agregados (que é o que sucede na maior parte dos casos na prática), os
tribunais adquires a designação de “Tribunais Administrativos e Fiscais”.
Os Tribunais Administrativos de Círculo têm competência residual para conhecimento, em 1ª instância, dos processos
do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal que incidam sobre matéria administrativa (art. 44º/1 ETAF).
A competência dos Tribunais Tributários consta do art. 49º ETAF, sendo que, no caso de desdobramento em secções
especializadas é aplicável o disposto no art. 49º-A ETAF.

Capítulo VI – Tribunais de Conflitos


1. Espécies de conflitos
Os conflitos que surgir e exigir a intervenção de tribunais de conflitos distinguem-se em duas categorias:
Conflitos de Jurisdição VS Conflitos de Competência
» duas ou mais autoridades, pertencentes a diversas » dois ou mais tribunais da mesma ordem jurisdicional
atividades do Estado, ou dois ou mais tribunais, consideram-se competentes (conflito positivo) ou
integrados em ordens jurisdicionais diferentes, arrogam- incompetentes (conflito negativos) para conhecer da
se (conflito positivo) ou declinam (conflito negativo) o mesma questão – art. 109º/2 CPC
poder de conhecer da mesma questão – art. 109º/1 CPC
Não existe, contudo, conflito (nem de jurisdição nem de competência) enquanto as decisões proferidas sobre a
competência forem suscetíveis de recurso (art. 109º/3 CPC).
2. Tribunal de Conflitos
2.1 Composição
O Tribunal de Conflitos é o órgão jurisdicional com competência para resolver os conflitos de jurisdição. Já os conflitos
de competência serão solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre as
autoridades em conflito (art. 110º CPC e art. 42º/1 CPA).
O Tribunal de Conflitos é presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Administrativo e, no julgamento dos conflitos
que a lei lhe atribui, intervêm três Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça – art. 17º DL nº 23 185.
Este tribunal é constituído para cada processo em que seja suscitado um conflito de jurisdição de que lhe caiba
conhecer; é, portanto, um tribunal ad hoc.

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Maria Paixão Organização Judiciária – 2017/2018
Nas hipóteses em que o conflito de jurisdição é suscitado entre o Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal
Administrativo, a constituição do Tribunal de Conflitos é especial: a presidência é atribuída ao Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça, contando ainda o tribunal com dois juízes do Tribunal de Contas e dois juízes do Supre Tribunal
Administrativo – art. 1º/3 LOPTContas e art. 149º/3 LOSJ.
2.2 Competência
Em suma, cabe ao Tribunal de Conflitos a resolução dos seguintes conflitos:
Conflitos, positivos ou negativos, entre entidades administrativas e tribunais judicias;
Conflitos, positivos ou negativos, entre entidades administrativas e tribunais administrativos e fiscais;
Conflitos, positivos ou negativos, entre tribunais judiciais e tribunais administrativos e fiscais.
3. Conflitos de competência
Como decorre do exposto, o Tribunal de Conflitos não resolve conflitos de competências entre tribunais judiciais.
A resolução dos conflitos de competência entre tribunais judiciais pertence aos:
Presidente do Supremo Tribunal de Justiça: art. 62º/3 LOSJ e art. 11º/2/a) e 6/a) CPP:
Conflitos entre os plenos das secções;
Conflitos entre as secções;
Conflitos entre os Tribunais da Relação;
Conflitos entre os Tribunais da Relação e os Tribunais de Comarca ou os Tribunais de Competência
Territorial Alargada.
Presidente do Tribunal da Relação:
Conflitos de competências entre secções em matéria penal (art. 12º/2/a) CPP);
Conflitos de competência entre Tribunais de Comarca da área de competência do respetivo tribunal
ou entre algum deles e um Tribunal de Competência Territorial Alargada (art. 76º/2 LOSJ).
Presidentes das Secções Criminais dos Tribunais da Relação: conflitos de competência entre tribunais de 1ª
instância do respectivo distrito judicial (art. 12º/5/a) CPP).
De igual forma, o Tribunal de Conflitos também não resolve conflitos de competência entre tribunais administrativos
e fiscais. O conhecimento destes conflitos cabe:
Secção do Contencioso Administrativo do Supremo Tribunal Administrativo: conflitos entre tribunais
administrativos (art. 24º/1/h) ETAF);
Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: conflitos entre tribunais tributários
(art. 26º/g) ETAF).

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