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PLANO DE AULA

TEORIA GERAL DO PROCESSO


JURISDIÇÃO
AÇÃO
PROCESSO
ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO
COMPETÊNCIA
SUJEITOS DO PROCESSO
Bibliografia Básica:

1- CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 1. Ed.


Lumen Juris. Rio de Janeiro

2- CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e Competência – Editora Saraiva

3- GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel e CINTRA, Antônio


Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. Ed. Malheiros. São Paulo

4- THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol.I. Ed.


Forense. Rio de Janeiro

5- WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Ciivil – Vol. I – Editora


Revista dos Tribunais

Bibliografia complementar

6- MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil – vol. I . Ed.


Atlas. São Paulo

7- PINHO, Humberto Dalla Bernadina de. Teoria Geral do Processo Civil


Contemporâneo - Ed. Lúmen Júris, Rio de Janeiro – 2008.

8- RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de Direito Processual Civil – Editora


Revista dos Tribunais.

9- SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 1º


Volume. Ed. Saraiva. São Paulo

10- SANTOS, Ernane Fidélis. Manual de Direito Processual Civil. Vol I. Ed. Saraiva.
São Paulo

11- DINAMARCO, Candido Rangel. Curso de Direito Processual Civil.

12- GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 1º volume. Ed.
Saraiva. São Paulo
Jurisdição.

O Surgimento da Jurisdição

Nas fases primitivas da civilização ocidental, inexistia um Estado forte e


soberano, que pudesse impor ao indivíduo o respeito às regras de convívio em sociedade, até
porque, sequer existiam leis. Assim, naquela época, quem achasse que tinha um direito que
outro impedia de ser realizado, haveria de, com suas próprias forças, tratar de conseguir
satisfazer sua pretensão. Esse regime chamava-se autotulela (ou autodefesa). Durante este
período não havia justiça, mas a imposição do mais forte, do mais inteligente ou astuto. Hoje
a autotutela não só não é permitida (via de regra), como é vista como crime (art. 345 do CP
– exercício arbitrário das próprias razões).

Em período histórico posterior, percebendo as mazelas do sistema da


autotutela, as pessoas passaram a confiar as decisões dos litígios aos árbitros, que em geral
eram sacerdotes (com poderes divinos) ou anciãos (que tinham a sabedoria dos anos). Ou
seja, o julgamento era feito por um terceiro desinteressado. Assim, podemos dizer que a
figura do juiz surgiu antes da lei.

Já no séc. II a.C., no Império Romano (quanto então vigorava a Lei das XII
Tábuas), o Estado passou a participar da tarefa de julgar os litígios. Assim as partes em litígio
prestavam juramento, perante o pretor, de que iriam aceitar a decisão proferida pelo árbitro
particular (judex) escolhido por elas.

Já a partir do séc. III d. C. o Estado passou a tomar para si a função de julgar


os litígios entre os particulares. Para alguns autores, no entanto (Dalla, Marinoni e Moacir
Amaral Santos), esta atividade somente passou a ser feita exclusivamente pelo Estado, a
partir do séc. XIV, quando o Estado moderno passou a ter as feições atuais. Passou-se então
da fase da justiça particular para a justiça pública. NASCE ASSIM A JURISDIÇÃO.

Assim, a atividade mediante a qual os juizes estatais examinam as


pretensões e resolvem os conflitos dá-se o nome de jurisdição.

Os sujeitos da Jurisdição
A jurisdição tem estrutura tríade, ou seja, são
três os sujeitos essenciais para que a lide se
estabeleça: autor, réu e juiz.

A parte Autora é aquela que propõe a ação, ou seja, aquela que levará o
litígio a conhecimento do Estado, requerendo que este se pronuncie. A parte Ré é aquela
contra a qual o Autor aduz uma pretensão. Enfim, o terceiro sujeito do processo é o Estado,
personificado na figura do Juiz, órgão que irá aplicar o direito ao caso concreto que lhe foi
apresentado, após ouvir os argumentos de ambas as partes. Este terceiro deve ser,
necessariamente, desinteressado do conflito (vide art. 125, II, 134 e 135 do CPC).

Conceito de Jurisdição

Abaixo transcrevemos conceitos de vários autores, que muito nos serão


úteis quando formos tratar das características da jurisdição.

- “é uma função/poder/atividade do Estado, mediante a qual este substitui os titulares


do direito em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os
envolve, com justiça”. (Ada Pellegrini Grinover)

- “é o poder do Estado, entre suas atividades soberanas, de formular e fazer atuar


praticamente a regra jurídica concreta, por força do direito vigente, disciplinando
determinada situação jurídica”. (Humberto Theodoro Júnior)

- “é o poder dever do Estado de compor litígios, de dar efetivação ao que já se considera


direito, devidamente acertado e de prestar cautela aos processos em andamento ou a
se instaurarem, para que não percam sua finalidade prática.”(Ernane Fidelis dos
Santos).

- “função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da Lei por meio
da substituição, pela atividade de órgãos públicos, seja no afirmar a existência da
vontade da lei, seja no torna-la, praticamente, efetiva.”(Chiovenda).

- “é a função jurisdicional uma atividade com que o Estado, intervindo a instância dos
particulares, procura a realização dos interesses protegidos pelo direito, que restaram
insatisfeitos pela falta de atuação da norma jurídica que os ampara.”(Ugo Rocco).
- “é a função do Estado de atuar a vontade concreta do direito objetivo, seja afirmando-
o, seja realizando-o praticamente, seja assegurando a efetividade de sua afirmação ou
de sua realização prática.”(Alexandre Freitas Câmara).

Características da Jurisdição

Abaixo estão as principais características da jurisdição:

- Substitutividade: exercendo a jurisdição, o Estado substitui a atividade daqueles que


estão envolvidos no conflito trazido a sua apreciação. Não cabe a nenhuma das
partes envolvidas decidir se a razão está com ela ou com a outra.

- Existência de lide: esta é uma característica constante. Afinal, é a existência de um


conflito de interesses que leva o interessado a dirigir-se ao juiz e pedir-lhe a solução.

- Inércia: a jurisdição é inerte. Isto quer dizer que ela somente age quando provocada
pela parte interessada. O meio de provocar a jurisdição é a ação, ou seja, somente
após a propositura da ação o Estado toma conhecimento do litígio, devendo se
pronunciar a respeito. Vide art. 2º, 128 e 461 do CPC.

- Inafastabilidade: uma vez proposta a ação, ou seja, depois de provocada a jurisdição


não poderá o Estado esquivar-se de proferir uma decisão. Art. 5º, XXXV da CF/88
e 126 do CPC.

- Imparcialidade: o juiz que for julgar o litígio não pode estar previamente disposto a
decidir a favor desta ou daquela parte. Art. 125, I CPC. Para garantir a
imparcialidade do Estado-juiz, o CPC, em seu art. 134 e 135, prevê as causas de
impedimento e suspeição. A CF, art. 95, prevê garantias para os juízes. Tais
prerrogativas são garantias para a imparcialidade (vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de subsídio)

- Definitividade: a CF/88, em seu art. 5º, XXXVI, afirma que a lei não prejudicará a
coisa julgada. Isto quer dizer que os atos jurisdicionais, esgotados os prazos para
recurso, tornam-se imutáveis e definitivos.

- Aderência ao território: os órgãos do Poder Judiciários só têm autoridade nos limites


territoriais impostos pela lei. Assim, se algum ato tiver que ser praticado fora dos
limites territoriais, deve o juiz contar com a colaboração do juiz do local. Ex. a ação
foi proposta em Niterói, mas o Réu mora em Belo Horizonte. Neste caso o juiz da
comarca de Niterói deverá pedir ao juiz daquela cidade mineira para citar o Réu,
através de Carta Precatória.

- Inevitabilidade: uma vez prestada a jurisdição, ou seja, a partir do momento que


haja uma decisão definitiva do Estado Juiz, não pode a parte evitar o seu
comprimento, uma vez que a decisão impõe-se independente da vontade das partes.
Escopos (finalidades) da Jurisdição

São três os escopos da jurisdição:

Escopos jurídicos: - manter íntegro o ordenamento jurídico, aplicando-o ao


caso concreto;
Escopos sociais: - diminuir a instabilidade social e pacificar os conflitos com
justiça;
- educar a sociedade;
Escopos políticos - afirmação do poder estatal;

Espécies de Jurisdição

Antes de falarmos das espécies de jurisdição, cabe-nos dizer que, a bem da


verdade, a jurisdição é una, assim como é uno o poder estatal. A classificação abaixo é feita
pela doutrina com o único objetivo de facilitar o estudo. Assim, podemos dizer que, para
fins didáticos, podemos dividir a jurisdição nas seguintes espécies:

a) quanto à matéria - Jurisdição penal: relativa a todas as causas penais,


cujo direito material controvertido é de natureza
penal;
- Jurisdição civil: por exclusão, refere-se a todo litígio
de natureza não penal.
b) quanto aos órgãos - Comum: conhecem qualquer matéria não contida
judiciários que a exercem na competência especialmente reservada para a
justiça especial. São elas a Justiça Federal e Justiças
Estaduais ordinárias;
- Especial: a cada uma das chamadas justiças
especiais, a CF/88 atribui uma competência
determinada. São elas a Justiça Militar (art.
122/124), Justiça Eleitoral (118/121), Justiça do
Trabalho (111/117) e Justiças Militares Estaduais
(125, § 3º);
c) quanto à posição hierárquica - Inferior: aquela exercida pelos juizes que
do órgão ordinariamente conhecem do processo desde o seu
início;
- Superior: aquela exercida pelos órgãos
responsáveis por julgar os recursos contra decisões
proferidas pelos juizes inferiores. O órgão máximo,
que exerce a jurisdição mais superior, é o Supremo
Tribunal Federal.
d) quanto à fonte do direito - Jurisdição de direito: é a regra do nosso CPC. O
com base na qual foi proferida juiz tem de decidir com base na Lei.
a decisão - Jurisdição de equidade: é uma exceção. Na
jurisdição por equidade, o julgador pode decidir de
acordo com o que julgar mais conveniente e
oportuno, sem estar adstrito às regras do direito.
Este tipo de jurisdição é mais comum nos Juizados
Especiais. No penal é regra geral, uma vez que o
juiz é quem determinará a pena do condenado.

e) quanto ao objeto - Contenciosa: jurisdição propriamente dita, quando


há litígio. Ex. separação judicial, despejo etc;
- Voluntária: intervenção de natureza
administrativa. Ex. separação consensual

Ação

Conceito

Como vimos anteriormente, o Estado tem a obrigação de prestar a jurisdição


quando provocado (porque a jurisdição é inerte). E a jurisdição somente pode ser provocada
através da ação. Em poucas palavras podemos dizer que ação é o meio legal de provocar o
Estado a prestar a tutela jurisdicional. De forma mais completa, podemos dar os seguintes
conceitos:

“ ação é o direito a um pronunciamento estatal que solucione o litígio,


fazendo desaparecer a incerteza ou a insegurança gerada pelo conflito de interesses, pouco
importando qual seja a solução a ser dada pelo juiz” (Humberto Theodoro Júnior).

“ ação é o direito subjetivo público de pleitear ao Poder Judiciário uma


decisão sobre uma pretensão” (Vicente Greco Filho)

Teorias sobre a Ação

O conceito de ação evoluiu muito no decorrer da história. Vejamos:

a) Teoria Imanentista

Para os defensores dessa teoria, como Clóvis Bevilácqua, ação está aderida
ao direito material. Assim, somente teria direito de ação aquele que realmente fosse o
titular do direito material. Ex. uma ação de cobrança somente poderia ser proposta se não
pairassem dúvidas sobre o crédito do autor.

Tal teoria, hoje superada, exerceu grande influência até meados do século
XIX. Nesta época, o Direito Processual não era considerado autônomo, mas apêndice do
Direito Civil.
b) Teoria Concreta da Ação

Iniciou-se com a famosa polêmica Windscheid X Müther, ocorrida em


meados do século XIX. Defende tal teoria, que a ação é uma é um direito distinto do direito
material, entretanto que a ação somente existiria de fato se ao final ficasse comprovado que
existia o direito material, ou seja, a ação somente existiria se o resultado final do processo
fosse favorável ao autor.

Teve como um dos principais doutrinadores o alemão Adolf Wach e no


Brasil o professor Ignácio Botelho de Mesquita.
Por esta teoria ação seria o direito de obter em juízo uma sentença
favorável.

c) Teoria Abstrata da Ação

Também chamada de teoria do direito abstrato de agir, segundo a qual ação


seria simplesmente o direito de provocar o Estado-juiz, qualquer que fosse o resultado final.
Seus principais expoentes foram Heinrich Degenkolb e Alexander Plóz.

d) Teoria Eclética da Ação

Entre nós entretanto, predomina a teoria eclética, criada pelo jurista italiano
Enrico Tulio Liebmam (que viveu no Brasil durante anos). Esta também é uma teoria
abstrata, uma vez que entende que o demandante tem o direito de ação, mesmo que ao final
haja decisão desfavorável a ele. Difere da abstrata, entretanto, por considerar que para que
haja ação deverão estar presentes certos requisitos, ou seja, se o autor preencher certas
condições, na falta das quais o processo deverá ser extinto, sem que o juiz aprecie o mérito
da causa.

Tal teoria está consagrada em nosso Código de Processo Civil (art. 267,
VI) que determina que a extinção do processo sem julgamento do mérito se não estiverem
presentes as condições da ação.

As Condições da Ação

Caso não estejam presentes as condições abaixo enumeradas, o Estado


exime-se de prestar a tutela jurisdicional e extingue o processo sem julgamento do mérito,
fenômeno denominado carência de ação.

São as seguintes as condições da ação: possibilidade jurídica do pedido,


interesse de agir e legitimidade para a causa.

a) Possibilidade Jurídica do Pedido


Estará presente a possibilidade jurídica do pedido quando o ordenamento
jurídico não vedar o exame da matéria por parte do judiciário. Ex. não se pode discutir
em juízo herança de pessoa viva.

Não confundir com inexistência do direito do autor. Ex. João ingressa com
ação de cobrança contra Pedro, mas ao final fica comprovado que esta nada lhe devia. Neste
caso o pedido era juridicamente possível, ou seja, é possível se discutir em juízo se
determinada pessoa é ou não credora da outra.

b) Interesse de Agir

O processo não pode ser utilizado como mera consulta. A jurisdição


somente atua se a sua omissão puder, em tese, causar prejuízo ao Autor. Deve estar presente
o binômio utilidade/necessidade, ou seja, a tutela jurisdicional tem de ser útil e necessária
para o jurisdicionado. Ex. Filho que pleiteia reconhecimento de paternidade mas o pai já o
registrou como seu filho. Neste caso, não há interesse de agir ou seja, esta ação não interessa
para o Estado.

c) Legitimidade para a causa (legitimatio ad causam)

O art. 6º do CPC dispõe que ninguém poderá pleitear, em nome próprio,


direito alheio (salvo nos casos expressos em lei). Assim, somente quem entende ser o titular
do direito poderá pleitear em juízo.

Ex. Joaquim, teve seu apartamento danificado por infiltração proveniente


do apartamento de Antônio. Teresa, irmã de Joaquim, vendo que Joaquim nenhuma
providência tomou, ingressa com ação contra Antônio, requerendo que o mesmo indeniza
Joaquim. Neste caso, Teresa não tem legitimidade para propor ação.

A ilegitimidade pode ser ativa (se o autor não for parte legítima) ou passiva
(se for o réu parte ilegítima).

Distinção entre legitimidade para causa e legitimidade para o processo

Legitimidade para a causa é condição da ação. Qualquer pessoa pode ser


parte legítima para a causa, se estiver pleiteando direito próprio.

Legitimidade para o processo é um pressuposto processual, que se


relaciona com a capacidade de estar em juízo. Assim, um menor de 16 anos tem legitimidade
para propor ação contra o seu suposto pai, mas não tem legitimidade para o processo, ou
seja, não tem capacidade para estar em juízo, devendo ser representado. Um maior de 16 e
menor de 18, da mesma forma, não tem capacidade para estar em juízo, devendo ser assistido.
Legitimidade Ordinária e Extraordinária

O art. 6º determina que somente o titular do direito, ou seja, o sujeito ativo


da relação jurídica de direito material, tem direito de ação. Essa é a chamada legitimidade
ordinária.

Relação de Direito Material Sujeito Ativo X Sujeito Passivo


(titular do direito) (violador do direito)
Relação Processual Autor X Réu

Dizemos que a legitimidade é extraordinária quando a Lei autoriza outra


pessoa, que não o próprio titular do direito, a ingressar com ação.

A legitimidade extraordinária, também chamada de Substituição


Processual, é exceção e deve estar expressamente prevista em lei. Ex. art. 5º, Lei 7.347/85,
que prevê a Legitimidade Extraordinária para o MP propor Ação Civil Pública.

Classificação das Ações

Quando ao provimento jurisdicional pretendido, as ações podem ser


classificadas em:

a) Ação de Conhecimento (ou de cognição): visa a declaração de um


direito, constituição de um estado ou relação jurídica ou condenação do
réu a prestar uma obrigação. Ex. ação de reconhecimento de
paternidade, de divórcio ou de indenização;

b) Ação de Execução: busca a satisfação ou a realização de um direito já


declarado, constituído, através da sentença ou de um título
extrajudicial. Ex. Ação de execução contra o réu que foi condenado
na ação de indenização ou contra aquele que emitiu cheque sem
provisão de fundos;

c) Ação Cautelar: objetiva o acautelamento do processo de conhecimento


ou de execução, de forma a viabilizar a eficácia da prestação
juriscidional. Ação de arresto dos bens do devedor que começa a
desfazer-se de seu patrimônio para não pagar ao credor.

d) Ação Executiva lato sensu – com as novas alterações do CPC,


principalmente as trazidas pela Lei 11.232/05, em uma mesma ação, se
conjuga atividade jurisdicional de conhecimento e de Execução. Vide
arts. 461, 461-4 e 475-I a 475-R.
e) Ação Mandamental- tem por objetivo a obtenção de uma ordem
judicial, a ser dada contra uma autoridade coatora, ou seja que, no
exercício de função pública, violou direito líquido e certo. Ex. Ação
para requerer que a União (Marinha) pague imediatamente a pensão à
viúva de militar.

Elementos da Ação

São os seguintes os elementos da ação: partes, pedido e causa de pedir.

Partes: é quem pede e contra quem é pedida uma providência jurisdicional;

Pedido: é o que se pede. Desdobra-se em:


➢ pedido imediato (providência jurisdicional pretendida)- é o pedido feito contra o
Estado, ou seja, que refere-se à obrigação do Estado-juiz em prestar a tutela
jurisdicional. Ex: condenação do Réu, declaração de um direito;
➢ pedido mediato (bem jurídico pretendido). é o pedido formulado contra o réu; é o
que o autor espera que o réu faça. Ex: enquanto o pedido imediato é a condenação
do Réu, o mediato é o pagamento de indenização por danos morais.

Causa de pedir: é o motivo pelo qual se requer o provimento jurisdicional. Ex. em ação de
acidente de trânsito, a causa de pedir é, por exemplo, que o réu bateu no carro do autor,
causando-lhe danos, tendo portanto o dever de indenizar. Se divide em:
➢ cauda de pedir remota: é o fato jurídico (acidente por culta do réu) e as consequencias
do fato. Ex. fato – acidente de transito por culpa do réu causando ao autor ferimentos
que o afastaram do trabalho por mais de 30 dias.
➢ causa de pedir próxima: são as conseqüências jurídicas do fato. Ex: quem causa
dano tem obrigação de indenizar. Normalmente a causa de pedir próxima terá
embasamento em lei ou contrato, ou seja, na norma.

Cumulação de Ações

Cumulação de Ações nada mais é do que formular, em uma só ação, vários


pedidos. Também chamada de cumulação de pedidos, é prevista e autorizada pelo art. 292
do CPC.

Atende ao princípio da Economia Processual e está sujeita aos seguintes


requisitos (§ 1º do art. 292):

➢ que os pedidos sejam compatíveis entre si;


➢ que o juiz seja competente para julgar todos eles;
➢ que o mesmo rito (procedimento) possa ser aplicado a todos os
pedidos (vide § 2º do mesmo artigo);
Espécies de Cumulação

➢ Cumulação simples: é a prevista no próprio art. 292. Nesta espécie de cumulação,


os pedidos são independentes entre si. Assim, o que for decidido em um não vincula
o juiz a decidir nos outros. Ex: pedidos de indenização por danos morais +
indenização por danos materiais.

➢ Cumulação Sucessiva: não há dispositivo específico. Nesta espécie de cumulação,


há relação de dependência entre o pedido posterior e o anterior. Assim, o pedido
posterior somente será julgado se o pedido anterior for julgado procedente. Ex.
pedidos de declaração de paternidade e alimentos.

➢ Cumulação Eventual: prevista no art. 289 do CPC. Também há relação de


dependência entre os pedidos. Só que neste caso, o pedido posterior somente será
julgado se o anterior for descartado pelo juiz. Ex. pedidos de troca do produto ou
devolução do valor pago. Há uma clara ordem de preferência indicada pela ordem
na qual os pedidos são formulados.

➢ Cumulação Alternativa: algumas doutrinas mencionam esta espécie de cumulação


(art. 288). Ocorre que, no caso, não há uma cumulação de pedidos. O que há é que
a Lei, deixa a critério do devedor cumprir a obrigação de mais de um modo. Não
cabe ao credor escolher e sim ao devedor. Portanto, não há cumulação de pedidos.
Note que no caso da cumulação Eventual, muito semelhante, a escolha fica a cargo
do credor e pode ser ou não acatada pelo juiz.

Processo

Introdução

Recapitulando...

Nós já vimos que jurisdição é o poder/dever do Estado de dizer o direito,


aplicando-o ao caso concreto. Vimos também que a jurisdição é inerte, somente podendo
agir depois de provocada e que o meio de provocar a jurisdição é a ação.

Como veremos adiante, a ação inicia-se com a distribuição da petição


inicial do Autor e termina com a prestação da tutela jurisdicional. Entretanto, o caminhar da
ação deve obedecer a um método estabelecido em lei, sob pena de nulidade dos atos
praticados e da decisão proferida ao final. Podemos dizer que a ação provoca a jurisdição,
que por sua vez atua através do processo.

Processo e Procedimento
Etimologicamente processo significa “marcha avante”, “caminhada” (do
latim procedere). Por isso, durante muito tempo, como veremos adiante, ele foi confundido
com uma simples sucessão de atos processuais (procedimento). Entretanto processo e
procedimentos são coisas distintas.

Processo é o método pelo qual se opera a jurisdição, com vistas à


composição dos litígios. É um instrumento de realização da justiça. Como bem disse
Humberto Dalla1, “processo é o instrumento de que se utiliza o Estado para, no exercício
da função jurisdicional, resolver os conflitos de interesses apresentados pelas partes”.

Já o procedimento é o modus faciendi, o rito, o caminho trilhado pelos


sujeitos do processo. Enquanto o processo é o instrumento da jurisdição, o procedimento é
o instrumento do processo, é o modo através do qual o processo é realizado, ou seja,
procedimento é a forma material com que o processo se realiza em cada caso concreto 2.

Obs: também não confundir processo com autos do processo. Os autos


são a representação gráfica, o registro dos atos processuais e o conjunto de documentos que
serão utilizados para análise e aplicação do direito pelo juiz.
Assim, esta tecnicamente incorreto dizer “peguei o processo no cartório”. É impossível
pegar o processo porque processo é abstrato. O que é palpável são os autos do processo.

Conceitos de Processo

Primeiramente, há que se destacar que quando conceituamos processo


neste estudo, a bem da verdade estamos falando de processo jurisdicional, já que existem
outros tipos de processo cujo estudo não nos interessa no momento (processo administrativo,
processo legislativo, arbitragem).

Podemos, em poucas palavras, conceituar processo como o método


previsto em lei que vincula as partes e o juiz na composição do litígio. Outros autores,
assim definem:

“processo é o procedimento em contraditório animado pela relação jurídica


processual.” (Candido Rangel Dinamarco)

“processo é o método, isto é, o sistema de compor a lide em juízo através


de uma relação jurídica vinculativa de direito público” (Humberto Theodoro Júnior)

Natureza jurídica do Processo

1
PINHO, Humberto Dalla Bernadina. Teoria Geral do Processo Civil Contemporâneo
– Lúmen Júris – 2008.
Na ciência do Direito há diversos institutos (espécies) que são agrupados
em categorias jurídicas mais amplas (gêneros). Quando buscamos a natureza jurídica de um
instituto, tentamos fixar em que categoria jurídica o mesmo integra.

Ex. os institutos da fiança, compra e venda e locação pertencem à categoria


dos contratos, ou seja, tem natureza jurídica de contrato. Já os institutos da apelação, agravo
e embargos infringentes pertencem à categoria dos recursos, ou seja, tem natureza jurídica
de recurso.

Quando buscamos a natureza jurídica do processo, tentamos inseri-lo em


uma categoria. Para explicar a natureza jurídica do processo surgiram várias teorias, umas
pouco aceitas e outras que contaram com a adesão de ilustres juristas.

Alguns juristas, principalmente na fase imanentista da ação, ou seja,


quando se considerava que o direito de ação estava aderido (imã) ao direito material,
voltavam seus estudos para as formas e atos que o compõe o processo, ou seja, não se
estudava o processo, mas a prática forense. O maior praxista (estudioso da prática forense)
brasileiro foi Francisco de Paula Baptista.

Outra teoria, chamada de contratualista, era baseada na fase do direito


romano denominada litiscontestatio na qual as partes compareciam perante o magistrado e
prestavam o juramento ou compromisso de que aceitariam a decisão que seria proferida. Esta
teoria defende que o processo tem natureza jurídica contratual. Tal teoria, entretanto, é
imprestável para explicar o processo moderno, na qual o réu é trazido ao processo através da
citação, independentemente da sua vontade.

Posteriormente, a teoria quase-contratualista, criada pelo jurista francês


Arnault de Guényvau no séc. XIX, continuava tentando enquadrar o processo entre as
categorias de direito privado, o que também já está superado.

Outras teorias defendem que o processo tem natureza jurídica de situação


jurídica. Há autores que defendem ser o processo uma instituição. Outros advogam que
é um procedimento em contraditório. As mais duas teorias mais aceitas atualmente
defendem que o processo é uma relação processual ou uma categoria jurídica autônoma.

Categoria Jurídica Autônoma

É uma teoria que tenha explicar a natureza jurídica do processo e que tem
grande aceitação na doutrina. Segunda esta teoria, o processo é uma categoria jurídica
autônoma, não podendo ser incluído em nenhuma das categorias jurídicas já conhecidas.
Seus defensores afirmam que o processo não é espécie de nenhum gênero, mas é ele mesmo
um gênero que por sua vez comporta várias espécies (processo de conhecimento, processo
de execução e processo cautelar).
Teoria da Relação Processual

Desenvolvida pelo alemão Oskar von Bülow, é a teoria mais aceita pela
doutrina até os dias atuais. O processo somente passou a ser encarado como uma relação
processual, pertencente a uma categoria de direito público quando adquiriu autonomia
científica, em meados do séc. XIX.

Explica o processo como uma relação intersubjetiva, ou seja, uma relação


entre pessoas, dinâmica e de direito público. Já é pacífico na doutrina que a relação
processual tem uma configuração tríplice, sendo os sujeitos essenciais dessa relação Autor,
Réu e Estado-juiz.

O Direito Processual Ciência

Podemos dizer que o Direito Processual passou por uma longa fase de
evolução científica. Hoje, os processualistas têm outra preocupação, qual seja, fazer com
que o Direito Processual (e o processo) evoluam de forma a garantir a todos o ACESSO À
JUSTIÇA e a EFETIVIDADE DO PROCESSO.

Mas, como dito, historicamente, o Direito Processual não existia. O


máximo que se concebia era a criação de regras procedimentais. Isto porque, o Processo,
assim como o direito de ação, eram vistos como meros apêndices do Direito material. No
Direito Romano vigorava a máxima: “para cada direito existe uma ação que o garanta”.

No Brasil, à época do Império, vigoravam as Ordenações (Afonsinas,


Manuelinas e Filipinas). As Ordenações Afonsinas, promulgadas em 1456, traziam em seu
livro III, composto de 128 capítulos, regras de direito processual, abrangendo o procedimento
de cognição, execução e recursos.

Nas Ordenações Manuelinas, não havia separação entre os processo de


conhecimento e execução (tal como hoje, após as recentes alterações do CPC).
Por último, as ordenações Filipinas, trouxeram como inovação, a divisão
do processo em fases (postulatória, instrutória, decisória e executória), muito próximas do
que dispõe o nosso CPC em vigor).

Com a independência e o advento da Constituição de 1824, o poder


Judiciário passou a ter autonomia, passando a ser independente.

O Regulamento 737 de 1850 é considerado o primeiro diploma processual


brasileiro.

Após a proclamação da República (1891), foi editado, em 1916, o Código


Civil Brasileiro, que trazia, também, algumas regras processuais. Naquele mesmo ano e nos
anos que se seguiram, foram promulgados vários Códigos de Processo Civil (ou Códigos
Judiciários) em diversos Estados da Federação, com destaque para o CPC do Distrito Federal,
de 1924.

Com a Constituição de 1934 e 1937, a competência para legislar sobre


matéria processual passou a ser exclusiva da União. Veio, em 1939, o primeiro CPC
nacional. Tinha 1.052 artigos, dispostos em dez livros.

Em 1973, foi aprovada a Lei 5.869/73, o atual Código de Processo Civil,


baseado no anteprojeto de Alfredo Buzaid. Diploma moderno para a época. Vêm passando
por diversas alterações ou melhor, Reformas Processuais.

As Reformas Processuais

Primeiro Ciclo: 1973 a 1988

Segundo Ciclo: 1988 a 2004 (que culminou com a reforma do Judiciário,


pela Emenda Constitucional nº 45.

Terceiro Ciclo: 2004 em diante. Teve o seu início justamente com a EC


nº 45 e o “Pacto de Estado em favor de um Judiciário mais rápido e republicano”. Vários
projetos foram então enviados ao Congresso e geraram as recentes alterações do CPC.
Podemos destacar, a título de exemplo, a orientação contida no inciso VXXVIII do art. 5º da
CF/88 (acesso à justiça e efetividade processual).

Princípios do Direito Processual

O Direito Processual, assim como as demais ciências, está sujeito a


determinados princípios, alguns já consagrados pela Constituição Federal, outros pelo
próprios Códigos de Processo. Tais princípios servem para nortear a interpretação dos
institutos.
Poderíamos dizer que os princípios de Processo Civil podem ser divididos
em gerais e informativos. São princípios gerais os preceitos fundamentais que dão forma e
caráter aos sistemas processuais. Já os princípios informativos representam uma aspiração
de melhoria do aparelhamento processual.

Alguns princípios processuais são mais aplicados aos processo civil,


enquanto outros são inerentes ao processo penal. Nós nos ateremos aqueles que, de alguma
forma, são aplicados ao processo civil.

1- Princípio do Acesso à Justiça

Consagrado no inciso VXXVIII do art. 5º da CF/88. Demonstra a


preocupação do processualista moderno em garantir a todos o mais amplo e irrestrito acesso
aos meios judiciais para proteção dos direitos. Destaca-se neste contexto, a criação dos
Juizados Especiais e a facilitação do acesso para os juridicamente pobres, inclusive com a
expansão da Defensoria Pública.

2- Princípio da Efetividade do Processo

Também consagrado no inciso VXXVIII do art. 5º da CF/88. Garante a


chamada “duração razoável do processo”, ou seja, indica que um processo justo tem de ser,
necessariamente um processo célere e no qual se dê ao titular do direito aquilo e somente
aquilo a que tem direito.

3- Princípio da Imparcialidade do Juiz

Como dito, o caráter de imparcialidade é inseparável da jurisdição. Assim,


o juiz deve ser imparcial, não podendo privilegiar qualquer das parte. Está intimamente
ligado ao princípio do juiz natural. Vide arts. 125, 134 e 135 do CPC e 95 da CF/88.

4- Princípio do Juiz Natural

Consagrado no art. 5º, XXXVII e LIII da CRFB/88. Somente podem


exercer a função de juiz os órgãos jurisdicionais instituídos pela Constituição. Este princípio
traz também a idéia de que ninguém poderá ser julgado por órgão constituído após a
ocorrência do fato.

5- Princípio da Igualdade (ou da Isonomia)

As partes e procuradores devem merecer tratamento igualitário, devendo


ter as mesmas oportunidades em juízo (art. 125, I do CPC). As vezes, entretanto, para se
chegar a igualdade proporcional, é preciso dar tratamento igual aos iguais e desigual aos
desiguais.
6- Princípio da Publicidade

É uma preciosa garantia das partes. Por este princípio, todos os atos
praticados são públicos, assim como os autos de qualquer processo podem ser examinados
por qualquer pessoa, salvo nos casos dos processos que correm em segredo de justiça.

7- Princípio da Lealdade

Trata-se de um princípio informativo. Por este princípio, as partes e


advogados devem agir pautando-se pela verdade e jamais usando meios fraudulentos. Deve
haver equilíbrio com o principio do contraditório. Assim, ninguém é obrigado a produzir
provas contra si. Ex. o devedor, em uma ação de execução, não é obrigado a indicar onde
estão seus bens.

8- Princípio do Contraditório

É um dos mais importantes princípios, uma vez que não há processo justo
que não se realize em contraditório e boa parte da doutrina afirma até que não existe processo
sem contraditório. Está consagrado no art. 5º LV da CRFB/88. Pode ser definido que tal
princípio é a garantia de ciência bilateral dos atos praticados no processo, de forma que esta
possa se manifestar sobre os mesmos. Assim, está garantido que ninguém será condenado
sem que lhe seja dada a oportunidade de contradizer o que lhe é imputado, ou seja, sem que
tenha a oportunidade de defender-se.

9- Princípio da Ampla Defesa

A parte poderá valer-se de todos os meios legais e permitidos disponíveis


para produzir provas e defender-se. Art. 5º, LV CF/88.

10- Princípio do Devido Processo Legal

Também é um princípio informativo, na verdade, o mais relevante dos


princípios, podendo-se dizer que a maioria dos outros são corolários deste. Ninguém será
condenado sem julgamento justo e legal (art. 5º, LIV CRFB/88). Por este princípio procura-
se garantir o “acesso à ordem jurídica justa” 3. Assim, o Judiciário deve garantir não apenas
o acesso a prestação jurisdicional, mas a prestação jurisdicional com qualidade, entendendo-
se com tal aquela existente quando se pratica justiça.

11- Princípio da Economia Processual

Também se trata de princípio de caráter informativo. Aconselha-se a busca


do resultado máximo na atuação do direito com o mínimo de emprego de atividades
processuais. Ex. conexão, reconvenção, litisconsórcio etc.

3
Kazuo Watanabe
12- Princípio da Instrumentalidade das Formas

Somente serão anulados os atos imperfeitos se o objetivo não tiver sido


alcançado (CPC, art. 154, 244 e 249, §1º), ou ainda, se causar importante prejuízo a outra
parte.

13- Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

É garantida a possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já


julgadas pelo juízo de primeiro grau.

14- Princípio da Inércia da Jurisdição

O Estado somente poderá agir depois de provocado, ou seja, é necessário


que a parte interessada provoque a jurisdição através da propositura da ação. Art. 2º, 128 e
461 do CPC.

15- Princípio do Impulso Oficial

Uma vez instaurada a relação processual, ou seja, após citado o réu, deve o
juiz mover o procedimento até exaurir a função jurisdicional. Art. 262 CPC.

16- Princípio da Persuasão Racional do Juiz

O juiz está livre para apreciar as provas contidas nos autos, formando
livremente sua convicção. Situa-se ente o sistema da prova legal e do julgamento “secundum
conscientiam”, ou seja, o juiz só decide com base nos elementos existentes no processo, mas
os avalia segundo critérios críticos e racionais, desde que fundamente sua decisão (art. 131
e 436 do CPC).

17- Princípio da Motivação das Decisões Judiciais

Segundo determina o art. 93, IX do CPC, todas as decisões deverão ser


motivadas, sob pena de nulidade, ou seja, toda decisão deve ser fundamentada.

18- Princípio da Verdade Formal X Princípio da Verdade Formal

Pelo princípio da verdade formal, o juiz deve julgar com base apenas nas
provas apresentadas pelas partes, até porque, sua conclusão deverá basear-se apenas nos fatos
e circunstâncias constantes nos autos. A máxima “o que não está nos autos não está no
mundo” traduz este princípio, que sempre vigorou no processo civil.
No processo penal, prevalece o princípio da verdade real, ou seja, o juiz
não deve ater-se aos elementos produzidos nos autos, devendo ele mesmo, determinar a
produção de provas se estas forem necessárias ao seu convencimento.

Hoje, tem-se que o principio da verdade formal, inerente ao processo civil,


não elimina o compromisso do juiz de buscar a verdade real, ou seja, poderá o juiz, se julgar
que as provas contidas nos autos não são suficientes (art. 130 do CPC).

19- Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional

O art. 5º, XXXV da CRFB determina que não ser excluirá da apreciação
do Judiciário lesão ou ameaça a direito. Isto equivale a dizer que, estando presentes as já
estudadas condições da ação, o Poder Judiciário não poderá se eximir de prestar a tutela
jurisdicional no caso concreto.

20- Princípio da Eventualidade

Cada faculdade processual deve ser executada dentro da fase adequada, sob
pena de se perder a oportunidade de praticar o ato respectivo, ou seja, sob pena de preclusão.
Dá-se a preclusão quando, a parte perde o direito de praticar determinado ato processual por
já se ter ultrapassado o momento oportuno para tal.

21- Princípio dispositivo

Está a disposição das partes produzir as provas dos fatos por ela alegados,
não devendo o juiz, até porque, tem de ser imparcial, transformar-se em um “investigador”.
Assim, tem-se que a produção de provas “ex officio” é uma exceção.

Obs: procure na doutrina e na jurisprudência, alusão a algum outro princípio não incluído
neste estudo.

Classificação das Espécies de Processo

Como vimos, as ações se classificam conforme o tipo de providencia


jurisdicional pretendida. As espécies de processo seguem o mesmo raciocínio. Enquanto
ação de conhecimento é aquela na qual a parte pretende a acertamento do direito, o processo,
dada a sua instrumentalidade, é a meio através do qual o Estado juiz irá prestar tal tutela.

O CPC, como você já sabe, é dividido em livros. Cada um dos três


primeiros livros referem-se aos tipos de processo. Assim temos, o processo de conhecimento,
o processo de Execução e o Processo Cautelar.
Procedimentos

Procedimento, por sua vez, é o modus faciendi, é o conjunto de atos a serem


praticados no processo. O CPC assim se estrutura quando aos procedimentos:

Procedimentos PROCEDIMENTO Livro I Ordinário – art. 282 a 495


do COMUM Sumário – art. 275 a 281
CPC PROCEDIMENTOS Livro IV De Jurisdição Voluntária
ESPECIAIS De Jurisdição Contenciosa

Destaque-se que aplica-se a todas as causas o procedimento Comum, salvo


disposição em contrário na Lei. Assim, quando a Lei ou o próprio CPC não dispuser de modo
diferente, as causas seguirão o rito comum.

Quanto a este, é bom destacar que o procedimento Ordinário é o “mais


comum”, ou melhor, tem aplicação residual. Uma vez que não haja dispositivo indicando
que a causa deva seguir procedimento especial, aplica-se o comum. Se não for hipótese do
art. 275 do CPC, que dispões sobre o Rito Sumário, aplica-se o procedimento Ordinário.

O Procedimento Sumário é mais simplificado e mais célere que o


Ordinário.

Pressupostos Processuais e Sujeitos da Relação Processual

Pressupostos Processuais

Nas unidades anteriores, vimos que para que uma pessoa tenha direito do
ação, é preciso que estejam presentes as chamadas condições da ação, sem as quais, o
processo não poderia ser instaurado e se o for, deverá ser extinto sem julgamento do mérito
(267, VI do CPC), porque o Estado não está obrigado a prestar a tutela jurisdicional quando
ausentes tais condições. São as seguintes as condições da ação: possibilidade jurídica do
pedido, interesse de agir e legitimidade para a causa.

Trataremos agora dos pressupostos processuais, que não devem ser


confundidos com as condições da ação. As condições da ação, como vimos, são requisitos
que legitimam o autor a pleitear a tutela jurisdicional do Estado, portanto, ausente uma das
condições da ação, este problema não poderá ser sanado e o processo fatalmente deverá ser
extinto sem apreciação do mérito da causa.

Os pressupostos processuais, como o termo denuncia, relaciona-se mais


com o processo, ou seja, são requisitos para o desenvolvimento válido do processo. Em
resumo, pode-se dizer que o processo está sujeito aos mesmos requisitos do ato jurídico
perfeito, isto é, agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei. Tais
requisitos, no que concerne ao processo, se desdobram nos seguintes:
- competência do juiz
Pressupostos subjetivos - capacidade das partes
(relacionam-se com os sujeitos) - representação por advogado
- forma processual adequada
Pressupostos Objetivos - citação válida
(relacionam-se com a forma processual - inexistência de litispendência, coisa
ou com fato que impeça a regular julgada, perempção e nulidades
constituição do processo) - petição apta (não inepta)

Assim, se estiverem ausentes os pressupostos processuais, o juiz assinalará


prazo para que o problema seja sanado (art. 13, I CPC). Não sanado, ou não sendo possível
que o problema (ausência de determinado pressuposto) seja sanado, poderá ocorrer:

- deslocamento para outro juízo (incompetência do juízo);


- nulidade (incapacidade processual do autor ou irregularidade de sua
representação);
- extinção do processo sem julgamento do mérito (litispendência, coisa
julgada e inépcia da inicial).

Sujeitos do Processo

Como já vimos anteriormente, o processo tem três sujeitos que compõe o


que chamamos de estrutura tríplice, ou seja, em um processo jurisdicional haverá
obrigatoriamente, pelo menos três sujeitos.

Sujeito imparcial
Estado-juiz
Sujeitos parciais Autor
Réu

Entretanto, este é apenas um esquema mínimo, ou seja, outros sujeitos


poderão fazer parte desta estrutura, levando-se em conta que:

a) os órgãos auxiliares são também indispensáveis ao funcionamento do


processo;

b) os juizes podem suceder-se funcionalmente no processo ou integrar


órgãos colegiados;

c) pode haver pluralidade de Autores (litisconsórcio ativo) ou de réus


(litisconsórcio passivo), ou ainda de autores e réus simultaneamente
(litisconsórcio misto ou recíproco), além da intervenção de terceiros;

d) o advogado é essencial à administração da justiça.


2.1 O juiz

É importante não confundir Estado-juiz com juiz apenas, já que este último,
pessoa natural, é mero agente do Estado. O sujeito da relação processual é o Estado-juiz ou
simplesmente Estado.

O Estado na relação jurídica uma posição de supremacia (o poder do


Estado é soberano) e eqüidistância das partes (o Estado-juiz tem de ser imparcial).

Logicamente, para que o Estado-juiz seja imparcial, é preciso que o agente


estatal que irá exercer a função jurisdicional no caso concreto também o seja. Para garantir
tal qualidade, a Constituição Federal, em seu art. 95, prevê determinadas garantias para os
juízes. São elas:

I- vitaliciedade: o juiz, após o período de dois anos de exercício, não


poderá perder o seu cargo, salvo se a perda for determinada por
sentença judicial transitada em julgado;

II- inamovibilidade: não poderá o juiz ser transferido contra a sua


vontade, mesmo que por motivo de promoção, salvo por motivo de
interesse público a ser decidido por pelo menos dois terços do
tribunal a que estiver vinculado;

III- irredutibilidade de subsídio: jamais o salário de um juiz poderá


ser reduzido;

Também para garantir a imparcialidade do juiz, o nosso Código de


Processo Civil previu em que hipóteses o juiz poderia ter questionada a sua imparcialidade.
No art. 134, estão enumeradas as hipóteses em que o juiz deve ser considerado impedido de
julgar o processo. Já no art. 135, dispõe sobre as hipóteses em que poderá ser argüida a
suspeição, ou seja, quando há riscos de que o julgamento não seja imparcial.

2.1.1 Impedimento

O impedimento é mais grave que a simples suspeição, de forma que poderá


ser argüido a qualquer tempo ou instância e mesmo depois do trânsito em julgado, através da
ação rescisória.

Está impedido de julgar determinado processo o juiz quando:

- for parte do processo;


- interveio no processo como mandatário da parte, foi perito, atuou como MP ou foi
testemunha;
- proferiu decisão no processo, em outra instância;
- tiver atuado como advogado da parte seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim,
em linha reta ou na colateral até o segundo grau;
- for cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou
na colateral até o terceiro grau;
- quando fizer parte da direção ou de administração pessoa jurídica parte na causa;

2.1.2 Suspeição

Deve ser argüida no prazo previsto no art. 305. Após tal prazo, o reputar-
se-á aceito o juiz por ambas as partes. Segundo o art. 135 do CPC, considera-se suspeito o
juiz quando:

- for amigo ou inimigo capital de qualquer das partes;


- for ele, seu cônjuge ou parente, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau,
credor ou devedor de qualquer das partes;
- for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;
- receber presentes ou aconselhar a parte, ou ainda oferecer meios para fazer frente às
despesas do processo;
- tiver interesse que qualquer das partes seja ganhadora;
- por motivo de “foro íntimo”.

Observações: Deverá o juiz declarar-se suspeito ou impedido de ofício, independentemente


de provocação da parte.
Tais hipóteses aplicam-se também ao Ministério Público, ao serventuário da
justiça, ao perito e ao intérprete.

Auxiliares da Justiça

- Os auxiliares de justiça podem ser divididos em: permanentes e eventuais;

- Os auxiliares permanentes são aqueles que atuam continuamente, em todos os


processos em trâmite perante determinado juiz ou tribunal, como o escrivão e o oficial
de justiça;

- Os auxiliares eventuais são aqueles que são convocados excepcionalmente pelo juiz,
com o fim de ajudá-lo em um processo determinado, como se dá com o perito e o
interprete;

2.2 As partes

- Partes da Demanda: é aquele que pleiteia (autor) e aquele em face de quem se


pleiteia (réu) a tutela jurisdicional;
- Partes do Processo: são todas as pessoas que participam do procedimento em
contraditório (advogados, escreventes, oficiais de justiça, etc);

“Parte para o direito processual é a pessoa que pede ou perante a qual se


pede, em nome próprio, a tutela jurisdicional” 4, ou ainda “é uma das pessoas que fazem o
processo, seja no sentido ativo, seja no passivo” 5.

A parte autora é aquela que invoca a tutela jurisdicional do Estado através


da propositura da ação. Parte ré, é o sujeito que, independentemente de sua vontade, é trazido
ao processo através da citação, se sujeitando à relação processual instaurada pelo autor.

2.2.1 Nomenclatura das Partes

No processo de conhecimento
Autor Réu
Demandante Demandado
Nas exceções Excipiente Exceto
Na reconvenção Reconvinte Reconvindo
Nos recursos em geral Recorrente Recorrido
Na apelação Apelante Apelado
No agravo Agravante Agravado
Nos embargos de Embargante Embargado
Declaração
Nas intervenções de Interveniente
Terceiro Denunciado
Chamado
Assistente

No processo de execução
Exeqüente Executado
Credor Devedor
Nos embargos de Embargante Embargado
Execução ou de Terceiro

No processo cautelar
Requerente Requerido

Nos procedimentos de jurisdição voluntária


Não há partes, apenas interessados.

4
Humberto Theodoro Júnior in Curso de Direito Processual Civil, 39ª ed. Editora Forense, Rio de Janeiro:
2003.
5
Carnelutti, apud Humberto Theodoro Júnior.
2.2.2 Substituição Processual (ou Legitimação Extraordinária)

O art. 6º do Código de Processo Civil determina que ninguém poderá


pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. Ou seja,
somente excepcionalmente poderá a parte do processo ser diferente daquela que é a titular
do direito material controvertido. Quando isso ocorre dá-se o que a doutrina denomina de
substituição processual. Podemos dizer que substituição processual ocorre quando a parte
demanda, em nome próprio, direito controvertido de outra pessoa. A substituição processual,
repetimos, não decorre somente da vontade das partes, deve ser prevista em lei.

Exemplos:
- Art. 42, caput do CPC- quando a parte, no decorrer do processo, aliena
a coisa litigiosa ou cede o direito pleiteado em juízo. Neste caso,
embora o alienante deixe de ser o sujeito material da lide, continua a
figurar na relação processual como parte, agindo em nome próprio na
defesa de direito material de terceiro;

- Art. 68 do CPP- reconhece a legitimidade do Ministério Público para


promover ação civil de reparação de dano ex delito, quando o titular do
direito à indenização for pobre;

- Lei 7.347/85- legitima as associações e outras entidades a demandar


através de ação civil pública, a tutela de interesses difusos;

- Art. 5º, XXI da CRFB/88- dá legitimidade para certas associações


pleitearem em juízo direito de seus associados.

2.2.3 Diferença entre Substituição Processual e Substituição de Parte (sucessão


processual)

É importante não confundir substituição processual, acima explicada, e


substituição de partes.

Na substituição de partes, a parte é substituída (sucedida por outra),


ocorrendo uma alteração nos pólos subjetivos do processo. Assim, uma outra pessoa passa
a ocupar o lugar do primitivo sujeito da relação processual. Um bom exemplo é o §1º do
art. 42 do CPC, quando o alienante é substituído pelo adquirente do bem litigioso. O outro
exemplo de substituição de partes é obrigatório e ocorre quando acontecer a morte de
qualquer das partes, caso em que esta deverá ser substituída pelo espólio ou por seus
sucessores (art. 43, CPC)

Já na substituição processual não há alteração nos sujeitos do processos,


apenas um deles, por expressa autorização legal, age na defesa de direito material de quem
não é parte na relação processual.
2.2.4 Capacidade de ser parte e capacidade de estar em juízo (capacidade processual ou
legitimação processual)

Qualquer pessoa que seja sujeito de direitos e/ou deveres tem capacidade
de ser parte. Uma criança de colo, que nem saiba falar ou expressar seus sentimentos já é
titular de direitos e, portanto, tem capacidade de ser parte. Assim, se o seu pai não lhe tiver
oferecendo meios de alimentar-se tem direito a exigir deste, através de ação de alimentos, a
satisfação do direito.

Têm capacidade de figurar como parte:


- as pessoas naturais;
- as pessoas jurídicas;
- as pessoas formais (certas massas patrimoniais que embora não tenham
personalidade jurídica, podem figurar em relações processuais com parte.
Ex. Massa falida, espólio, herança jacente);
- o nascituro (art. 4º do CC), que não é pessoa, mas como titular de direitos
desde a concepção, tem capacidade de ser parte.

Entretanto, um menor impúbere não tem capacidade processual, pois é


absolutamente incapaz, não podendo exercer, pessoalmente, os atos da vida civil (art. 5º e 40
do novo Código Civil). Portanto, os incapazes têm capacidade de ser parte, mas não tem
capacidade processual.

Em resumo, não tem capacidade processual os menores e os alienados


mentais. Na forma do Código Civil, os absolutamente incapazes deverão ser representados
e os relativamente incapazes (maiores de 16 e menores de 18 anos) deverão ser assistidos
para estarem em juízo. Destaque-se ainda que, sempre que a parte for civilmente incapaz,
embora devidamente representada ou assistida, haverá intervenção do Ministério Público
(art. 82, I e 84 do CPC).

Quem tem capacidade de estar em juízo, tem capacidade de ser parte, mas
a recíproca não é verdadeira.

No quadro abaixo, veremos alguns exemplos de pessoas que precisam ser


representadas em juízo:

Necessitam ser representadas em juízo Representados por


- incapaz - representante legal ou curador especial
(art. 9º, I)
- União, Estados, Territórios, Distrito - por seus procuradores (art. 12, I) ou pelo
Federal e Municípios; Prefeito ou procurador (12, II);
- Massa falida e massa de insolvência - por seu síndico (art. 12,III) ou
administrador (art. 766, III);
- Herança jacente ou vacante e espólio - curador (art. 12 IV) ou inventariante (art.
12, V);
- Pessoa Jurídica - pelos diretores ou por quem os estatutos
designarem (art. 12, VI);
- Pessoa Jurídica estrangeira - gerente, representante ou administrador
da filial (art. 12VIII)
- Condomínio - o síndico ou administrador;

A responsabilidade processual civil das partes pode ser dividida em duas partes:

. A responsabilidade por dano processual (art. 16, do CPC); e


. A responsabilidade pelas despesas processuais;

- O Direito Processual Civil brasileiro adota o princípio da sucumbência, segundo o


qual o vencido responde pelo pagamento das despesas processuais (honorários
advocatícios, as custas judiciais, os honorários periciais);

- Deve- se considerar, também, o princípio da causalidade (o responsável pelas


despesas processuais é aquele que tiver dado causa à instauração do processo);

- Nos casos em que o vencedor deu causa ao processo, a responsabilidade processual


pelas despesas deverá recair sobre ele (embora o adversário seja o sucumbente);

- Ao decidir cada incidente deverá o juiz condenar quem lhe tiver dado causa ao
pagamento das despesas a ele referentes;

- Art. 20, parágrafo 4º, do CPC – serão devidos honorários advocatícios no processo
de execução, tenha ou não o executado oposto embargos, pouco importando tratar-se
de execução fundada em título judicial ou extrajudicial;

- Sucumbência Recíproca (Art. 21, do CPC);

O Advogado:

- O advogado é essencial ao regular desenvolvimento do processo (exige-se para a


validade do processo capacidade postulatória);

- Possuem capacidade postulatória: os advogados, o Ministério Público, a Defensoria


Pública, a Procuradoria da Fazenda Pública, etc;

- Chama-se de advogado a “pessoa versada em Direito com a função de orientar e


patrocinar quem têm direitos ou interesses jurídicos a pleitear ou defender em
juízo”; e logicamente, devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil,
Autarquia Federal responsável pela fiscalização da profissão de Advogado, bem
como para defesa dos interesses coletivos ou individuais homogêneos da classe.

- As partes devem-se fazer representar em juízo por advogados;

- Somente poderá atuar em juízo o advogado que tenha sido constituído procurador da
parte, por meio de um mandato judicial;

- O mandato judicial pode ser outorgado por instrumento público ou particular;

O Ministério Público

Noções Gerais
M.P. evolui de mero acusador para defensor de interesses sociais. Atualmente não representa
o Estado. Atua em defesa da sociedade. Art. 127 CRFB/88.

Natureza Jurídica de sua atuação


Na atual Constituição Federal está incluído no capítulo denominado das funções essenciais a
justiça. Promove a execução de leis fiscalizando o seu cumprimento.

Princípios Institucionais.

a) Indepedência Funcional
Cada membro do M.P. tem plena liberdade de atuação

b) Unidade
Todos fazem parte de uma sío corporação

c) Indivisibilidade
Seus membros podem ser substituidos indiferentemente um por outro.

Formas da Atuação
• Como Parte – art. 81 CPC
• Como fiscal da lei – art. 81 CPC e art. 1.105

Consequências da não Intervenção do M.P. Quando Obrigatória


• Se não for intimado
Nullidade do processo (a menos que a decisão tenha sido favorável ao interesse justificador
da atuação).

• Se houver intimação
Não há nulidade ainda que não tenha se manifestado.
Poderes e Ônus do M.P.
• Intimação é sempre pessoal e vista dos autos fora da secretária – Art. 83,I CPC
• Prazo em quadrúplo para contestar e em dobro para recorrer – Art. 188 CPC
• Não está sujeito a adiantamento de custas nem é condenado nelas.

Garantias dos Membros do M.P. – Art. 128, § 5º CRFB


• Vitalicidade
• Inamovibilidade
• Irredutibilidade de Subsídio

Intervenção determinada pelo Juiz


• O M.P. não pode recusar-se a intervir
• Se a determinação não tem amparo legal – comução parcial
• Se o M.P. se recusar a intervir, o juiz pode:
a) dar prosseguimento ao processo – não haverá nulidade
b) remeter os autos ao Procurador de Justiça art. 28 CPC por analogia.

Impedimento e Suspeição do Membro do M.P.


• Como fiscal da lei – aplicam-se todos os motivos elencados nos arts. 134 135 (art. 138,I
CPC) CPC
• Como parte – aplicam-se os motivos de suspeição dos incisos I a IV do art. 135 CPC.
Aplicam-se também os casos de impedimento quandop compatíveis.

Incompetência
Não se aplica ao M.P. O M. P. não exerce a jurisdição, logo não há que se falar em
competência, mas sim em atribuição.

Exemplos de Intervenção do M.P

• Ação de investigação de paternidade e alimento art. 201, III, ECA


• Procedimentos de jurisdição voluntária art. 1.105 do CPC
• Ação de acidente do trabalho

Legitimidade para o M.P recorrer


Sempre terá art. 499

OBS: Nem sempre terá interessa. Interesse é diferente de legitimidade.


Competência

Introdução

Embora a jurisdição seja una, sabemos que, conforme art. 92 da


Constituição Federal, são vários os órgãos que a exercem, ou seja, que em nome do Estado,
aplicam o direito ao caso concreto.

Assim, podemos dizer que o exercício da jurisdição é distribuído entre os


muitos órgãos jurisdicionais, que exercerão a jurisdição dentro de determinados limites. Tais
limites são exatamente a competência, ou seja, jurisdição é a medida da jurisdição, uma vez
que todos os juizes exercem a jurisdição, mas a exercem numa certa medida, sendo, portanto,
competentes somente para processar e julgar determinadas causas.

Alguns conceitos

- “competência é a quantidade de jurisdição cujo exercício é a atribuído a cada órgão”


(Enrico Tullio Liebman)

- “é o conjunto de limites dentro dos quais cada órgão do Judiciário pode exercer
legitimamente a função jurisdicional” (Alexandre Freitas Câmara)

- “competência é o critério de distribuir, entre os vários órgãos jurisdicionais, as


atribuições relativas ao desempenho da jurisdição” (Humberto Theodoro Júnior)

- “competência significa idéia de legitimidade do exercício de um determinado poder,


num determinado momento e sob determinadas circunstâncias” (Eduardo Arruda
Alvin)

Fontes das normas de competência

As normas que determinam a competência encontram-se principalmente nas


seguintes fontes:

A) Constituição Federal
- art. 102 – prevê a competência do STF;
- art. 105- prevê a competência do STJ;
- art. 109 e 110- prevê a competência da Justiça Federal;
- art. 124- prevê a competência da Justiça Militar;
- art. 121- prevê a competência da Justiça Eleitoral;
- art. 114- prevê a competência da Justiça do Trabalho;
B) No Código de Processo Civil (art. 86 a 124) e Código de Processo Penal-
contêm a maior parte das normas de competência, principalmente aquelas
referentes à competência territorial e competência de foro.

C) Leis Federais ordinárias: Ex. Lei de Falências, Lei das Desapropriações, Lei
das Duplicatas etc.

D) Lei de Organização Judiciária: conforme determina o art. 91 do CPC, a


competência em razão da matéria e em razão do valor da causa, ressalvadas
os casos expressos na CF/88 ou em Lei Federal, regem-se pelas leis de
organização judiciária. No Rio de Janeiro temos o CODJERJ (Código de
Organização e Divisão Judiciária do Estado do Rio de Janeiro). Ex. determina
o CODJERJ que a comarca da Capital terá 48 varas Cíveis e que as causas
relativas a inventário serão julgadas pelas Varas de Órfãos e Sucessões. Já na
comarca de São Gonçalo, os inventários e demais ações envolvendo órfãos e
sucessões serão processadas e julgadas pela 6ª Vara Cível.

E) Regimentos Internos dos Tribunais- podem, nos limites da lei, definir


competência interna do Tribunal (Vide art. 96, I da CF/88). Ex: no Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro, todos os Agravos de Instrumento são recebidos
pela 3ª Vice Presidência.

Critérios Determinativos da Competência Segundo o CPC e a doutrina:

A competência poderá ser determinada segundo alguns critérios:

A) O valor da causa: o art. 91 do CPC prevê que as normas fixadoras da


competência em razão do valor da causa deverão ser determinadas nas normas de organização
Judiciária, ressalvados os casos expressos em lei. Poderia o Legislador estadual, por exemplo,
criar varas especializadas para julgar causas com valor superior a 20 salários mínimos.

B) Em razão da matéria: Segundo o mesmo art. acima, podem ser


criadas regras para fixar a competência de determinadas varas para julgar processos
envolvendo determinadas matérias. Ex.: processos envolvendo direito de família: varas de
família.

C) Em razão da pessoa: embora não seja um critério enumerado no


código de Processo Civil, na prática, é largamente utilizado para fixação da competência.
Ex.: Vara de Fazenda Pública, Vara de Órfãos, Vara Empresarial.

Obs.: Para se definir, por exemplo a competência dos Juizados Especiais


Cíveis devemos analisar os três critérios acima. (valor da causa – até 40 s.m; matéria:
hipóteses dos incisos II, III e IV do art. 30 da lei 9.099/95; pessoa: art. 80 excetua as pessoas
que não poderão ser parte).
D) Competência Funcional: leva em conta a função exercida por cada
órgão jurisdicional para praticar atos do processo ou o grau de jurisdição. Ex.: execução em
curso em uma comarca e que incide sobre bens situados em outra; processo em São Paulo
cujas testemunhas se encontram no Rio de Janeiro; ação rescisória, que é processo de
competência originária dos Tribunais superiores, sempre que houver prova a colher, a
competência para tal colheita será delegada ao juiz de direito onde deva a mesma ser
produzida.

E) Competência Territorial: parte do pressuposto de que o território


nacional é dividido em diversas circunscrições judiciárias, correspondente a um município
ou mais, denominadas comarcas. O Tribunal de Justiça de cada Estado tem competência
sobre o respectivo estado e o juiz de cada comarca sobre esta.

ESTRUTURA JUDICIÁRIA BRASILEIRA

Antes de darmos continuidade aos nossos estudos sobre as regras de


competência, seria de bom alvitre analisarmos a estrutura judiciária brasileira, com base no
modelo apresentado pela Constituição Federal, em seus arts. 92 a 126.

ORGANOGRAMA DO PODER JUDICIÁRIO

S.T.F.

CNJ
(Art.92 C.F)

Justiças Especiais Justiça Comum

S.T.J.
T.S.T. T.S.E. S.T.M.
(111, I, (118, I, (112, I,
CF) CF) CF)
T.R.F T. J
T.R.T. T.R.E.

Juízes Juízes
Just. Justiça Federais Estaduais
Trab. Eleitoral Auditoria Militar

Junta
Eleitoral
Os Juizados Especiais Estaduais fazem parte da Estrutura da Justiça Estadual e os
Juizados Especiais Federais, da Justiça Federal

Juizados Especiais Federais (Lei 10.259/01) Juizados Especiais Estatuais


(Lei 9.099/95)

Turma de
Uniformização

Turmas Recursais Turmas Recursais

Juizados Especiais Juizados


Federais Especiais dos
Estados

Metodologia para determinação da Competência

Observe o organograma em anexo, reproduzido do livro de Athos Gusmão


Carneiro (Jurisdição e Competência – 11ª edição). Levando-se em conta a estrutura judiciária
do Brasil, podemos ressaltar como linhas gerais que:

A) Existem órgãos jurisdicionais isolados, no ápice da pirâmide judiciária (STF


e STJ);
B) Existem diversos organismos jurisdicionais autônomos entre si (ex.: Justiça
do Trabalho, Juizados Especiais, etc.);
C) Existem órgãos judiciários superiores e inferiores (duplo grau);
D) Há distribuição de órgãos por todo território nacional (comarcas, seções
judiciárias);
E) Pode existir mais de um órgão judiciário de igual categoria no mesmo lugar
(ex.: mais de uma Vara Cível);
F) Há juizes substitutos e auxiliares, com competência reduzida.

Assim, podemos determinar os passos que deverão ser seguidos ou


questões que terão de ser respondidas para fixação da competência:

- 1º - Qual a Justiça competente: nacional ou estrangeira?

Na verdade é questão anterior à problemática da competência, mas


relacionada à jurisdição. Assim, antes de falarmos sobre os critérios para a determinação da
competência deste ou daquele órgão jurisdicional, há de se perguntar se, no caso concreto, o
Estado brasileiro tem o poder de prestar a jurisdição.

Sobre esta questão, há previsão nos arts. 88 e 89 do CPC.

- O art. 88 regula a competência Internacional concorrente, ou seja, aqueles casos onde


a Jurisdição poderá ser exercida por autoridade Judiciária brasileira. São eles:

A) Quando o réu, brasileiro ou estrangeiro, estiver domiciliado no Brasil;


B) Quando a obrigação tiver de ser cumprida no território nacional;
C) Quando o fato que gerou a ação tiver ocorrido no Brasil.

Note-se, que não haverá litispendência neste caso, podendo ser executada
a sentença estrangeira se esta for proferida primeira que aquela relativa a processo com
trâmite no território nacional, desde que a decisão estrangeira seja homologada pelo Supremo
Tribunal Federal, na forma do que preceitua o art. 483 do CPC.

- Já o art. 89, fala dos casos em que a Jurisdição deverá obrigatoriamente ser exercida
pelo Poder judiciário brasileiro. São eles:

A) relativos a imóveis situados no Brasil;


B) relativo à inventário e partilha de bens situados no Brasil;

Ultrapassada a questão e verificado que a ação pode ser ajuizada perante


órgão judiciário brasileiro, passamos à análise da competência interna, ou seja, aos critérios
para fixar qual órgão jurisdicional brasileiro é competente para determinado processo.

Lembremos, antes de tudo que, conforme preceitua o art. 87 do CPC, a


competência é fixada no momento da propositura da ação, podendo apenas modificar-se nos
casos previstos no art. 102, como veremos adiante.

- 2º- A ação deverá ser proposta na justiça comum ou na justiça especializada?

É a chamada Competência de Jurisdição. A Constituição Federal fixa a


competência da Justiça especializada (arts. 114, 121, 124, e 125, §1º). A competência da
justiça comum é residual. Assim, o que não for da competência da justiça especializada será
da justiça comum. Ex.: questão envolvendo relação de emprego: Justiça do Trabalho
(especializada).

- 3º- A demanda deve ser proposta na justiça comum federal ou na justiça comum
estadual?

A justiça federal comum é a competente nas causas que se incluem entre


aquelas da competência dos juizes federais, ou seja, é fixada em razão da pessoa ou da matéria
(art. 109 da CF/88). Ex. causas envolvendo direitos indígenas.

A competência da justiça estadual comum é residual, ou seja, não sendo a


causa da competência da justiça especializada (estadual ou federal), nem da justiça federal
comum, será da competência da justiça comum estadual. Ex. Separação Judicial.

- 3º- O conhecimento da demanda cabe a órgão superior ou inferior?

Em regra podemos dizer que a jurisdição inferior tem competência


originária e que a superior (tribunais) têm competência recursal. Entretanto, há casos,
definidos na Constituição Federal (art. 102 e 105 da CF/88) e nas Constituições Estaduais,
que a competência originária é do órgão superior. Ex.1: Ação direta de Inconstitucionalidade:
STF (art. 102, I, a da CF/88); Ex.2: Crimes comuns dos Governadores de estado: STJ (art.
105, I, a da CF/88); Ex.3: Ação direta de inconstitucionalidade de lei estadual face à
Constituição daquele Estado da federação: Tribunal de Justiça.

Assim, se a questão não estiver dentre aquelas enumeradas no art. 102 e


105 da CF/88 nem entre as enumeradas como de competência originária dos Tribunais
Estaduais, a competência será da jurisdição inferior (juízos monocráticos)

- 4º- Em qual a comarca (foro) deve ser proposta a ação?

Definido que a ação pode ser proposta no Brasil, em órgão inferior da Justiça
comum estadual, é de se indagar a questão da chamada de competência de foro ou seja: qual
a comarca ou seção judiciária competente?

Trata-se de competência territorial, portanto regulada pelo Código de


Processo Civil. Neste caso, deve-se verificar se o CPC prevê ou não foro especial, não se
esquecendo que o foro geral (domicílio do réu) é a residual, ou seja, será aplicado sempre
que não for previsto foro especial. Ex.: Ação de separação judicial: na comarca onde reside
a mulher (art. 100, I do CPC).

- 5º- Qual o Juízo (Vara) competente?

Em se tratando de comarcas pequenas de Juízo único (vara única) ou com


varas sem especialização a questão da competência já está resolvida. Entretanto em comarcas
como a do Rio de Janeiro, há diversas varas, muitas especializadas em razão da matéria e das
pessoas (e em alguns estados em razão do valor da causa). Neste caso teremos de nos
perguntar sobre qual é o Juízo competente.
Ex.: na Comarca da Capital do Rio de Janeiro, qual será a Vara competente
para julgar uma ação de inventário? - uma das Varas de Órfãos e Sucessões. Nas cidades que
não tenham Vara de Órfãos: uma das Varas Cíveis. A competência da vara cível é residual,
ou seja, se em razão da matéria ou da pessoa não houver previsão de vara especializada, a
competência será da vara cível.

- 6º- Qual é o juiz competente?

Por último, deveremos em alguns casos perguntar qual o juiz competente.


Ex.: Uma ação de dano moral corre na 33ª Vara Cível, onde é Juiz titular o Dr. Rodinha, que
está de férias e só volta daqui a 15 dias. Hoje foi feita a oitiva das testemunhas pela juíza
substituta, Dra. Carlota. Quem será o juiz competente para proferir a sentença? É juiz que
ficou vinculado ao processo, ou seja juiz que fez a audiência, a Dra. Carlota (art. 132 do
CPC).

- 7º- Quem é competente para julgar o recurso?

É uma espécie de competência funcional, só que em sentido vertical.


Havendo insatisfação da parte e desejando ela recorrer da decisão proferida, há de ser
questionar de quem será a competência para julgar recurso. Em geral, tal competência é do
tribunal imediatamente superior, mas há exceções como, por exemplo, para julgar Embargos
de Declaração (art. 536 do CPC). Ex1: Recurso contra sentença proferida pelo Juiz da 3ª Vara
Cível de Niterói, o tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ex2: Recurso Especial (STJ) e
Recurso Extraordinário (STF).

Competência Relativa e Competência Absoluta

Com relação à questão acima, podemos, para fins didáticos, expor o


seguinte esquema:

Competência Absoluta Competência Relativa


- Prevalência do interesse público. É por - Prevalência do interesse particular dos
isso, indisponível. litigantes. É disponível;
- o juiz deve declarar-se incompetente “de - o juiz não pode, em hipótese nenhuma,
ofício” (art. 113, CPC); declarar-se incompetente “de ofício”.
Somente poderá faze-lo o réu através de
exceção de incompetência (art. 112, 304,
305 e 307 do CPC e súmula 33 do STJ);
- qualquer das partes ou intervenientes - somente o réu pode suscitar a exceção de
podem invocar a incompetência, a incompetência, no prazo de 15 dias (CPC,
qualquer tempo (art. 113 e 301, II do art. 112 e 305);
CPC);
- em face da indisponibilidade, é incabível - em face da disponibilidade, lícita a
“eleição de foro” em desacordo com a cláusula contratual de eleição de foro, com
competência absoluta (art. 111); ressalvas nos casos de contrato de adesão;
- a incompetência absoluta do juiz torna - não provocam nulidades;
nulos qualquer atos decisórios por ele
proferidos (art. 113, §3º e 485, II);
- competência em razão da matéria; - competência territorial;
- competência em razão da pessoa, - competência em razão do valor da
vinculada a atributo pessoal do causa (do mais para menos), pois o
litigante. Art. 109, I da CF: causas em juiz que pode mais pode menos;
que for parte a União, autarquia ou - competência em razão da situação do
empresas pública federal; imóvel (art. 95 do CPC).
- competência em razão da situação
do imóvel, nas ações fundadas em
direito real sobre imóveis (propriedade,
vizinhança, servidão, posse,
demarcação de terras e nunciação de
obra nova;
- competência funcional, em razão de
determinar qual juiz deverá funcionar
no plano horizontal ou qual tribunal
deverá julgar o recurso, no plano
vertical;
- competência em razão do valor da
causa, do menos para o mais. O juiz de
menor alçada não poderá julgar causa
de maior valor.

Competência (continuação)

e) Recapitulando

Nós aprendemos que:


a) na competência absoluta prevalece o interesse do Estado; que o juiz
pode declarar-se incompetente de ofício; que qualquer parte pode argüi-
la a qualquer tempo; que os atos decisórios praticados por juiz
absolutamente incompetente são nulos, logo não podem as partes dispor
ou escolher um juízo absolutamente incompetente. Aprendemos
também que gera incompetência absoluta o desrespeito as regras
relativas a competência em razão da matéria, da pessoa, da situação do
imóvel, funcional ou em razão do valor da causa (o juiz que somente é
competente para julgar causas até, por exemplo, 60 s.m. não pode julgar
causa de valor superior).
b) na competência relativa prevalece o interesse dos particulares; que o
juiz não pode declarar-se incompetente de ofício (somente provocado
pelo réu); que a incompetência somente pode ser suscitada por meio
próprio, no mesmo prazo para contestar; que os atos praticados pelo juízo
incompetente são válidos; que as partes, podem dispor e escolher o juízo.

Causas de Modificação da Competência

Em primeiro lugar, antes de falarmos das causas de modificação da


competência, devemos ter em mente que elas somente serão aplicadas em se tratando de
competência relativa, uma vez que a competência absoluta não pode ser modificada.

Pois bem: quando de fala em competência relativa, existem quatro causas


que derrogam as regras originais de fixação da competência. São elas: conexão, continência,
vontade das partes e inércia.

a) Conexão

Regulada no art. 103 do CPC, ocorrerá conexão quando entre duas ou mais
ações lhes for comum o objeto ou a causa de pedir.
Ex. Jacinto propõe ação de consignação em pagamento das parcelas de
condomínio que entende devidas. Em outra vara ou em outra comarca, o condomínio propõe
ação de cobrança em face de Jacinto. As ações são conexas, pois tem o mesmo objeto (as
parcelas de condomínio de Jacinto).

Neste caso, estas poderão ser reunidas para serem julgadas por um só juiz,
o juiz prevento, evitando desta forma, decisões contraditórias. A determinação do juiz
prevento segue os critérios contidos nos arts. 106 e 219 do Diploma Processual (CPC).

Assim:

a) se as demandas conexas foram propostas na mesma comarca, ou seja,


perante juízos de mesma competência territorial, será prevento o juízo
que proferir o primeiro despacho positivo (art. 106);
b) se as demandas conexas foram proposta perante juízos de competência
territorial diversa (comarcas diferentes), prevento será aquele que
realizou a primeira citação válida (art. 219).

Obs: há divergência na doutrina quanto a obrigatoriedade ou não de se reunir as ações


quando haja conexão ou continência, uma vez que o art. 105 do CPC diz que a reunião das
demandas “pode” se ordenada. Há autores que entendem que a expressão “podem” tem de
ser entendida com o sentido de “devem”. O bom senso, entretanto, manda que haja a reunião
sempre que houver possibilidade de decisões contraditórias, ou quando a decisão de uma
ação afetar a decisão da outra.
b) Continência

A segunda causa de modificação da competência é a continência, instituto


regulado no art. 104 do CPC, sendo uma espécie qualificada de conexão. Dá-se continência
quando duas ou mais demandas tiverem em comum as partes e a causa de pedir, e ainda
quando o pedido formulado em uma for mais amplo que o formulado na outra.

Ex. Carlos ingressa com ação pretendendo seja declarado nulo o contrato
de compra e venda que celebrou com a empresa Unseteum Automóveis. A empresa, por sua
vez, propõe ação de cobrança das parcelas que Carlos não pagou, tendo como base aquele
mesmo contrato de compra e venda. Há entre as duas demandas continência, sendo o pedido
da primeira mais amplo do que o da segunda.

Da mesma forma, as ações deverão ser reunidas para serem julgadas pelo
juiz prevento, valendo neste caso as mesmas regras que na conexão, ou seja: mesma
competência territorial, prevento o juiz que primeiro despachar (art. 106); competência
territorial diversa, prevento o juízo que efetuar a primeira citação válida (art. 219).

c) Vontade das Partes

Quando falamos de competência relativa temos de ter em mente que esta


pode ser modificada por vontade das partes. Assim, estas podem por via contratual, de mútuo
acordo, elegerem o foro (comarca) que será competente para o processo (foro de eleição).
Ex. contrato de locação (imóvel situa-se em Niterói, o locador mora em Nova Iguaçu e o
locatário em São Gonçalo) onde há clausula elegendo o foro da Cidade do Rio de Janeiro.

Obs: não podem entretanto, eleger o juízo (vara) ou o juiz.

d) Inércia

Também é uma forma de vontade. Proposta ação perante um juízo


relativamente incompetente, pode o réu oferecer exceção de incompetência, no prazo da
contestação. Passado este prazo, se o réu não oferecer exceção, estará prorrogada a
competência do juízo, ou seja, o juízo inicialmente incompetente torna-se competente.

Alegação de Incompetência

Há que se tratar em separado as formas de alegação de incompetência,


conforme se trate de incompetência absoluta ou relativa.

a) Alegação de Incompetência Absoluta

Dispõe o art. 113 do CPC, em caso de incompetência absoluta, esta deverá


ser declarada de ofício, pelo juiz. Se este então assim não fizer, poderão qualquer das partes
ou intervenientes fazê-lo, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, através de
simples petição.
Destaque-se contudo, que se o réu não o fizer em sua contestação ou na
primeira oportunidade de peticionar nos autos, responderá integralmente pelas custas do
processo (art. 113, § 2º) Tal medida visa impedir que o réu deixe de argüir a incompetência
absoluta no primeiro momento, com o objetivo de procrastinar o feito.

Declarada a incompetência, os autos serão remetidos ao juízo competente.

b) Alegação de Incompetência Relativa

Como vimos, a incompetência relativa não poderá ser declarada de ofício,


mas apenas pelo réu, no prazo para contestar. O meio de provocar o juízo para que este se
declare incompetente é a exceção de incompetência 6. Se esta não for apresentada, prorroga-
se a competência.

Obs: oferecendo a parte ré exceção de incompetência, deve o juiz apreciar


e decidir, podendo declarar-se incompetente (remetendo os autos ao Juízo competente) ou
competente. Inconformada com a decisão do juiz, poderá a parte ré recorrer da decisão
através de Agravo de Instrumento.

Declarada a incompetência, os autos serão remetidos ao juízo competente.

Conflito de competência

c) O que ocorrerá se dois juízos diferente se declarem competentes para julgar uma
mesma causa?
d) E se ao contrário, dois juízos declararem-se incompetentes?
e) E se alegada a conexão ou a continência, os dois juízos se considerarem preventos,
ou seja competentes para julgar as ações conexas?
f) E se em caso de conexão ou continência, os dois juízos se considerarem
incompetentes?

A resposta é: estaremos diante de um conflito de competência (ler art. 115 do CPC)

O conflito será positivo se os dois ou mais juízos se declarem competentes


e será negativo no caso inverso, se os dois ou mais juízo se considerarem incompetentes.

Para resolver esta questão, a parte deverá suscitar um conflito de


competência, para que o Tribunal aprecie a questão e indique qual é o juízo competente.

Obs: mais uma vez, há divergência na doutrina acerca da natureza jurídica do conflito de
competência. Alguns autores defendem que se trata de verdadeira ação declaratória e outros
entendem ser mero incidente processual. Nos filiamos a última corrente e preferimos

6
Existem três modalidades de resposta do réu: contestação, reconvenção e exceção.
considerar o conflito de competência um incidente processual, capaz de alterar o andamento
do processo.

Podem suscitar o conflito qualquer das partes, o juízo (razão pela qual
refutamos o entendimento de que o conflito é uma ação) ou o Ministério Público, devendo
este último ser obrigatoriamente ouvido pelo tribunal de não tiver suscitado o incidente (art.
116, parágrafo único do CPC).

O art. 117 do nosso Código Processual determina que a parte que ofereceu
exceção não poderá suscitar conflito de competência. Alguns autores preferem interpretar
este dispositivo de forma amena, entendendo que o referido artigo apenas proíbe a utilização
simultânea dos dois meios.

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