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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL
PARANÁ SECRETARIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Campus Palmas
INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE DIREITO

RESUMO: JURISDIÇÃO E
COMPETÊNCIA

LUIZ EDUARDO SOARES

PALMAS – PR
2023
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

A jurisdição é um dos elementos essenciais do Estado, sendo responsável pela


solução dos conflitos de interesses que surgem na sociedade. É exercida pelo Estado,
que é o único detentor da soberania.
A jurisdição pode ser definida como a função estatal que tem por escopo a
aplicação do direito ao caso concreto, mediante a solução de conflitos de interesses.
Para Humberto Theodoro Júnior este define a jurisdição como
"a função estatal que tem por escopo a aplicação do direito ao caso
concreto, mediante a solução de conflitos de interesses".
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual
Civil. 55. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. v. 1. p. 142).

Essa definição destaca dois aspectos fundamentais da jurisdição:

• Função estatal: a jurisdição é exercida pelo Estado, que é o único detentor da


soberania.

• Aplicação do direito: a jurisdição tem por objetivo aplicar o direito ao caso


concreto, resolvendo os conflitos de interesses que surgem na sociedade.

A jurisdição apresenta as seguintes características:

• Exclusividade: a jurisdição é uma competência exclusiva do Estado, que não


pode ser delegada a particulares.

• Imparcialidade: o juiz deve ser imparcial, não podendo favorecer nenhuma das
partes.

• Contraditório: as partes devem ter a oportunidade de se manifestarem sobre


todas as questões relevantes ao processo.

• Publicidade: o processo deve ser público, permitindo que a sociedade


acompanhe o seu andamento.

Espécies de jurisdição
A jurisdição pode ser classificada em:

• Jurisdição contenciosa: é a jurisdição que tem como objetivo resolver os conflitos


de interesses entre as partes.

• Jurisdição voluntária: é a jurisdição que tem como objetivo prestar tutela


jurisdicional a situações que não envolvem conflitos de interesses.

Outro brilhante jurista Cândido Rangel Dinamarco afirma que a jurisdição é:

"a competência do Estado para solucionar conflitos de interesses


mediante a aplicação do direito". (DINAMARCO, Cândido Rangel.
Instituições de Direito Processual Civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros,
2017. v. 1. p. 33).

A divisão da jurisdição em contenciosa e voluntária é um tema importante do


Direito Processual Civil, que possui impacto significativo na prática forense. Essa divisão
se refere à natureza das demandas que podem ser submetidas ao Poder Judiciário,
sendo que as demandas contenciosas são aquelas que envolvem conflitos entre partes,
enquanto as demandas voluntárias não envolvem conflito, mas sim interesses de uma
ou mais partes.
As demandas contenciosas são aquelas em que existe uma lide, ou seja, um
conflito entre duas ou mais partes que precisam de uma solução judicial para dirimir o
impasse. A jurisdição contenciosa tem como objetivo principal a pacificação social,
sendo que o juiz é o responsável por aplicar o direito ao caso concreto e decidir qual
parte tem razão.
Por sua vez, as demandas voluntárias são aquelas em que não há lide, ou seja,
não há conflito entre as partes. Essas demandas têm como objetivo principal a proteção
de interesses privados e públicos que não dependem de conflitos para serem resolvidos.
Como exemplo de demandas voluntárias podemos citar a adoção, o registro de imóveis,
o divórcio consensual, entre outros.
Uma das principais diferenças entre a jurisdição contenciosa e a jurisdição
voluntária é a natureza da decisão judicial. Na jurisdição contenciosa, a decisão é
sempre impositiva e vinculante, ou seja, as partes são obrigadas a cumprir a decisão
judicial proferida pelo juiz. Já na jurisdição voluntária, a decisão judicial é apenas
homologatória, ou seja, o juiz apenas confirma a vontade das partes, sem impor
qualquer obrigatoriedade de cumprimento.
Outra diferença importante é em relação ao ônus da prova. Na jurisdição
contenciosa, cabe às partes comprovar suas alegações, sendo que o ônus da prova
recai sobre aquele que alega determinado fato. Na jurisdição voluntária, por outro lado,
o ônus da prova é diferenciado, sendo que o interessado na produção da prova é quem
deve arcar com os custos e providenciar a sua produção.
Além disso, é importante destacar que a jurisdição voluntária não é sinônimo de
ausência de conflito. Embora não haja um conflito de interesses entre as partes, pode
haver discussão sobre questões técnicas e jurídicas que precisam ser esclarecidas pelo
juiz.
Do ponto de vista jurídico, a divisão da jurisdição em contenciosa e voluntária
encontra respaldo na Constituição Federal de 1988, que estabelece a competência do
Poder Judiciário para processar e julgar as demandas contenciosas, bem como para
homologar acordos extrajudiciais e realizar procedimentos de jurisdição voluntária.
Em suma, a divisão da jurisdição em contenciosa e voluntária é um tema
relevante do Direito Processual Civil, que apresenta diferenças importantes entre si e
que encontra respaldo na Constituição Federal. A compreensão dessas diferenças é
fundamental para uma atuação efetiva na prática forense, garantindo uma melhor
prestação jurisdicional e atendendo aos interesses das partes envolvidas nos
processos.
É importante destacar que tanto na jurisdição contenciosa quanto na voluntária,
o objetivo principal é garantir a justiça e a efetividade do direito, de modo que ambas as
formas de atuação do Poder Judiciário são igualmente importantes para a manutenção
do Estado de Direito.

COMPETÊNCIA

Já a competência trata-se da delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço em que


cada jurisdição vai ser aplicada. É o alcance do poder do juiz distribuído por lei.

Para Humberto Theodoro Jr:

“Se todos os juízes tem jurisdição, nem todos, porém, se


apresentam com competência para conhecer e julgar determinado
litígio. Só o Juiz competente tem legitimidade para fazê-lo.”
(THEODORO JR.).

A competência é estabelecida na fase inicial da distribuição do processo,


estabelece-se a competência, determinando qual órgão jurisdicional será responsável
por conduzir o caso. Essa distribuição ocorre de acordo com os princípios fundamentais,
sendo um deles o Princípio da Tipicidade. Este princípio preconiza que a competência
é previamente estabelecida por leis específicas, indicando qual órgão e juiz serão
encarregados do julgamento.
Essa padronização visa evitar a constante transferência de processos entre
diferentes instâncias, proporcionando estabilidade ao sistema judicial. A competência
pode ser determinada tanto por critérios fáticos, como o domicílio das partes envolvidas,
quanto por critérios legais, onde a legislação especifica, por exemplo, que casos
relacionados ao roubo de camisas azuis devem ser julgados no foro do domicílio do
demandado.
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da
distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

A competência pode ser classificada em duas categorias principais: originária e


derivada.
A competência originária refere-se ao estágio inicial do processo, quando este é
distribuído e onde a demanda é inicialmente conhecida. É o ponto de partida do
processo, marcando o início da tramitação.
Por outro lado, a competência derivada envolve a transferência de um processo
para outra instância competente. Nesse caso, ocorre a remessa do caso para um órgão
jurisdicional diferente, representando uma mudança de competência ao longo do
desenvolvimento do processo.

Ela pode ser dividida em Absoluta e Relativa:


Para Theodoro Jr a competência absoluta é:
" é a competência insuscetível de sofrer modificação, seja pela
vontade das partes, seja pelos motivos legais de prorrogação
(conexão ou continência de causas) "Theodoro Jr. (2008, p. 188).

Já a relativa para o mesmo autor é:


" ao contrário, é a competência passível de modificação por
vontade das partes ou por prorrogação, oriunda da conexão ou
continência de causas "Theodoro Jr. (2008, p. 188).
Critérios que determinam a competência:
A competência territorial, também conhecida como "competência de foro", refere-
se ao local geográfico onde a ação judicial deve ser iniciada. Na esfera da Justiça
Estadual, utiliza-se o termo "comarca" para indicar essa localidade específica, enquanto
na Justiça Federal, empregam-se os termos "seção" e "subseção". A definição do local
apropriado para propor a ação contribui para a organização e eficiência do sistema
judiciário, garantindo uma distribuição adequada dos processos conforme a jurisdição
territorial.

Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis
será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer
deles.
§ 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser
demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.
§ 3º Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será
proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil,
a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão
demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
§ 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua
residência ou no do lugar onde for encontrado.
Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o
foro de situação da coisa.
§ 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se
o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e
demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
§ 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa,
cujo juízo tem competência absoluta.
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para
o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última
vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as
ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último
domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o
cumprimento de disposições testamentárias.
Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de
seu representante ou assistente.
Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja
autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá
ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que
originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.
Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja
autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito
Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do
autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação
da coisa ou na capital do respectivo ente federado.
Art. 53. É competente o foro:
I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e
reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do
casal;
II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem
alimentos;
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa
jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou
associação sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o
cumprimento;
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no
respectivo estatuto;
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de
dano por ato praticado em razão do ofício;
IV - do lugar do ato ou fato para a ação:
a) de reparação de dano;
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano
sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves.

Prorrogação da competência
A prorrogação da competência ocorre quando um juízo inicialmente considerado
incompetente torna-se competente, seja por determinação legal ou por acordo entre as
partes. Essa prorrogação da competência relativa pode acontecer em razão da conexão
ou continência, conforme estabelecido pelo artigo 102 do Código de Processo Civil
(CPC).
Em situações em que duas ações são propostas em unidades territoriais
diferentes, cada uma competente para julgar um caso específico, a competência de
ambas é prorrogada. Nesse cenário, os processos são reunidos perante o juízo que
realizou a primeira citação do réu, aplicando-se o artigo 219 do CPC em vez do artigo
106.
É importante ressaltar que a competência material e hierárquica é sempre
absoluta, permanecendo inalterada. Por outro lado, a competência territorial e em
relação ao valor da causa é relativa, sujeita a modificações.
Em suma, a jurisdição e competência desempenham papéis cruciais no sistema
judiciário, delineando as fronteiras e atribuições dos órgãos judiciais. A jurisdição
representa a capacidade do Estado de julgar conflitos, enquanto a competência define
qual órgão específico dentro desse aparato legal é responsável por conduzir
determinado processo. A clareza e aplicação adequada desses conceitos são
essenciais para a eficácia e ordem no funcionamento do sistema judicial, garantindo a
distribuição justa e eficiente dos processos. Portanto, compreender as nuances da
jurisdição e competência é fundamental para assegurar a administração da justiça de
maneira equitativa e conforme os princípios legais.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial
da União: seção 1, Brasília, DF, ano 152, n. 56, p. 1-102, 17 mar. 2015.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil - Teoria geral do


direito processual civil e processo de conhecimento. 51. ed. Rio de Janeiro: Forense.
2010

Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 55. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2022. v. 1, p. 142.

Dinamarco, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 7. ed. São Paulo:
Malheiros, 2017. p. 33.

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