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A cadeira é como uma primeira parte para a cadeira do segundo semestre de Marcha do Processo
Civil. Há uma unidade e uma continuidade.
Esta cadeira será uma “teoria geral do processo”, com aspetos mais gerais, e depois no segundo
semestre concretizaremos esses princípios e aprenderemos a tramitação do processo
propriamente dita.
O processo civil é um ramo do direito que inclui as normas que regulam o exercício do direito de
ação civil. O que é que é isto do direito de ação civil? Existe um princípio jurídico de proibição de
auto tutela: ninguém pode fazer valer os seus direitos com recurso à força pelas suas próprias
mãos, salvo os casos excecionais legalmente determinados de auto tutela conhecidos (legitima
defesa, estado de necessidade e ação direta) — logo, fora estes casos excecionais, a regra é a do
principio da hetero tutela consagrada no artigo 1º do processo civil “a ninguém é licito o recurso à
força a fim de salvaguardar o seu próprio direito salvo os casos determinados e nos limites da lei”.
—— é daqui que parte a ideia do processo civil porque se há uma proibição de auto tutela então
em contrapartida o legislador teve de reconhecer a cada titular de um direito o correspondente
direito de ação para que possa ter um poder de recorrer à via judicial para fazer valer o seu
direito.
A via judicial é um sucedâneo da proibição de cada um poder fazer valer os seus direitos pelas suas
próprias mãos. Portanto, este direito de ação que é atribuído pelo legislador encontra nos tribunais
os órgãos do estado que vão dar resposta a este direito de ação
O direito de ação assegurado pelo estado através dos órgãos jurisdicionais competentes é a
contrapartida da proibição da auto tutela e, por isso, perante qualquer litígio em que alguém se
considera titular de um direito não há auto tutela, mas pode recorrer ao direito de ação.
Ex: B morre e deixa um testamento e os herdeiros do de cuius que não foram beneficiados pelo
testamento consideram que o testamento é inválido e portanto querem impugnar esse
testamento, não podem fazê-lo por sua própria autoridade ou seja impor aos outros herdeiros a
anulação mas podem pedir ao tribunal que invalide o testamento e condene os herdeiros
testamentários a proceder à restituição dos bens.
Ex: num contrato de arrendamento, se um inquilino não paga a renda do contrato e permanece no
local sem o abandonar eu não posso chegar lá pegá-lo pelo pescoço e expulsá-lo, tenho de recorrer
a tribunal para que seja resolvido o contrato de arrendamento e ele seja condenado. Só depois de
ter a sentença é que posso chamar a policia e expulsá-lo com recurso às autoridades estaduais.
Logo, o Processo civil vai regular o exercício deste direito de ação civil e, portanto, é o processo
civil que vai regular a forma de recorrer a juizes, como é que faço, quais são os direitos que tenho,
como posso exercer o meu direito de ação e em que termos, E MAIS: não é por alegar que tenho
um direito que posso livremente instaurar uma ação e ver o litígio resolvidos, existem
pressupostos processuais do recurso a tribunal que eu tenho de respeitar para que o tribunal
resolva o meu litígio e que são de natureza processual.
Ex: o tribunal tem de ser competente, eu tenho de ter capacidade judiciária (correspondente à
capacidade de exercício), personalidade judiciária (equivalente à personalidade jurídica), tenho de
ter legitimidade, tenho de estar em certos casos patrocinada por advogados —— são pressupostos
processuais que são necessários de respeitar previamente para que o tribunal resolva o litígio.
O processo civil é um conjunto de normas que regulam o exercício do direito de ação civil, ou seja,
que estão em causa direitos e apenas os direitos regulados pelo direito civil.
Todos os outros direitos de ação relativos a matérias de direito público (por exemplo: direito
administrativo, fiscal) ou mesmo algumas matérias do direito privado (direito do Trabalho) têm o
seu próprio direito processual.
O direito comercial como não tem atualmente nenhum processo próprio, o processo que se lhe
aplica subsidiariamente é o processo civil.
Por excelência e em primeiro lugar, aquilo que o processo civil regula direta e imediatamente é o
direito de ação civil. O processo civil também se aplica àqueles que têm um direito processual
próprio mas de forma subsidiária.
1ª característica — é um ramo do Direito Público, mas que tem por objeto o Direito Privado
o direito de ação tem por objeto o direito civil, mas ele próprio (pelo entendimento da
professora e grande parte da doutrina, não é pacífico na doutrina) é um ramo do direito
público com todas as consequências que dai advém.
É um ramo do direito público porquê? Existem 3 critérios essencialmente para distinguir
entre o direito publico e privado (são os critérios clássicos):
1) Critério do interesse subjacente ao ramo do direito – saber se o interesse é de
natureza particular ou publica que é prosseguido com aquele ramo do direito
2) Critério da qualidade dos sujeitos da relação jurídica regulada por aquele ramo
do direito – se são sujeitos de natureza publica ou particulares
3) Critério da posição em que os sujeitos atuam na relação jurídica
O processo civil em si (as normas do processo civil), como qualquer ramo processual, não
têm a solução para o litígio em si existente entre as partes, para isto o tribunal vai ter de
recorrer às normas do código civil. Logo, o processo civil é auxiliar no sentido de levar à
pratica aquilo que são as normas de direito substantivo ou material. Isto não significa que
Isto tem 1 consequência e 1 causa:
o Como consequência, isto significa que ao longo de todo o processo civil há duas
relações jurídicas em paralelo que funcionam quando está pendente uma ação:
uma coisa é a relação de natureza substantiva (ou seja: no caso do
acidente de viação, o autor vai a tribunal contar tudo o que se passou “eu
ia a passar a passadeira, estava encarnado para os carros, etc etc e por isso
tenho direito a uma indemnização; actuou com culpa, responsabilidade
civil extra contratual, dolo etc” )
outra coisa que corre em paralelo é a relação jurídica processual (vou
instaurar a ação contra o réu, a relação processual tem de ter certos
pressupostos, esta relação estabelece-se entre as partes e que pode dar
lugar a um direito de indemnização)
o Apesar do processo civil ser de natureza instrumental, não é secundário, a sua
importância não é menor
não serve de nada uma pessoa ter razão em termos substantivos se não
consegue demonstrar que tem esse direito. Se eu não conseguir provar
que o automóvel vinha em excesso de velocidade, que tive danos, que
houve dolo, nexo de causalidade, etc, o direito substantivo não me serve
para nada — se não conseguir fazer um uso conveniente do direito
processual, o direito substancial não vale de nada.
Para além disto, o processo civil também tem os seus valores próprios, ou
seja, há uma serie de princípios tão importantes como o direito material
que precisam de ser respeitados — logo o processo civil não é um direito
neutro e meramente instrumental. Um processo civil mal construído
destrói o direito das partes, pode não corresponder à justiça material do
direito das partes.
Ademais, há soluções do processo civil que resultam conteúdos materiais
ex: há uma regra sobre um determinado processo que diz que se o réu não
contestar a ação, é condenado no pedido automaticamente —isto é uma
norma de direito processual mas tem consequências do ponto de vista do
direito material; ou uma norma sobre um caso julgado que diz que não
posso instaurar outra ação porque aquela já está instaurada, é uma norma
de direito processual que tem influencia no direito material.
O direito processual civil distingue-se dos demais ramos de direito processual, pelo ramo de direito
substantivo de que esses direitos processuais são instrumentais — processo civil é instrumental do
direito civil; proc administrativo do direito administrativo; etc.
b. Impulso subsequente:
Imaginemos que, por exemplo, depois de a ação estar instaurada o
tribunal determina que uma das partes preste uma determinada
informação, não dá prazos e nunca mais chega essa informação; ou
que na pendência da ação morre uma das partes, quem é que deve ter
a iniciativa de reagir/ ter de impulsionar o processo quando este fica
parado? — é o juiz. Aqui o nosso processo é inquisitório
Artigo 6º CPC
A epígrafe do artigo 6º é “dever de gestão processual”, que é
uma manifestação forte do pp do inquisitório. Deste artigo
resultam aspetos como: o juiz deve promover as diligencias
necessárias ao prosseguimento da ação; deve recusar o que
for impertinente ou dilatório; e ainda, o nº2 deste artigo
determina que faltando um pressuposto processual o juiz tem
a obrigação de oficiosamente tentar sanar a falta desse
pressuposto processual (por ex: no caso de falta de advogado,
convidar as partes a constituir advogado sob pena de não
puder julgar o caso; se tiverem em juízo uma parte que é
menor e não está devidamente representada pelos seus pais,
há uma incapacidade judiciária e o tribunal deve
oficiosamente chamar os pais ao processo para representar-
me o menor).
Logo, há uma intervenção não no momento inicial mas no
subsequente que revela um equilíbrio entre o dispositivo e o
inquisitório.
3) Alegação de factos
a. Numa ação existem muito mais outros factos que integram na ação.
Ex: eu como autor venho pedir no processo que o tribunal anule o
contrato que celebrei com o réu de compra e venda de um automóvel e
considere que a minha vontade foi viciada por erro sobre o objeto
porque achava que sabia as características mas não sabia e ptt estava
em erro.
Há um pedido: a anulação do negócio; causa de pedido: o
erro. É tenho de alegar o erro e o pedido de anulação. Mas,
para além do erro, há muitos outros factos que tenho que
alegar:
para proceder à anulação do negócios há outros factos
relevantes como a essencialidade do erro, (é necessário
a verificação da essencialidade do erro – ser
determinante aquele aspecto para a minha aquisição e
a minha vontade não seria aquela se eu soubesse que
as características eram outras), o conhecimento da
essencialidade do erro — no fundo, os pressupostos do
erro.
Ou seja tenho de alegar factos concretos que
correspondem no caso concreto aos conceitos jurídicos
— isto são os restantes factos.
Quem é que alega os restantes factos? O legislador do CPC é flexível:
por uma parte esses factos a regra é que são alegados pelo autor ou
pelo réu, mas o artigo 5ºnº2 abre algumas exceções: diz que há um
conjunto de factos que o tribunal pode considerar oficiosamente, ou
seja, sem serem alegados pelas partes: estes factos complementares
(são importantes para o processo mas que complementam a causa de
pedido), factos instrumentais (servem para a prova de outros factos
principais) — o tribunal pode considerar oficiosamente alguns factos
desde que resultem da instrução da causa (= prova): se resultar da
prova que temos outros factos que não foram alegados pelas partes, o
juiz pode considerá-lo oficiosamente. Claro que não convém que as
partes se fiem por este poder oficioso do tribunal, devem alegar logo
tudo se não ficam “nas mãos do juiz” porque mais tarde não vão puder
alegar mais factos.
Também quanto à alegação dos factos, compete às partes como regra
alegar os factos – de principio é dispositivo, mas há uma cedência
através da possibilidade de consideração oficiosa pelo artigo 5ºnº2.
Artigo 5ºnº3 – o que este numero diz não é oposta, apenas diferente: a
qualificação jurídica indica dos factos já compete ao juiz e não as
partes, isto não é uma exceção ao principio do dispositivo, mas o
principio iuris novit curia segundo o qual é ao tribunal que compete
escolher o direito aplicável. Logo, as partes “dominam os factos” e o
tribunal qualifica o direito mesmo que as partes tenham avançado com
uma qualificação
Ex: numa ação o autor vem pedir que o réu seja levado a
cumprir um contrato de empreitada que celebrou com ele, e o
tribunal considera que aquilo não é uma empreitada mas uma
compra e venda e portanto qualifica o contrato como compra
e venda e vai aplicar o regime da compra e venda – isto não é
uma violação do dispositivo quanto aos factos, isto é a
incumbência do tribunal, que independentemente da
qualificação que os advogados das partes façam o tribunal não
está vinculado à qualificação jurídica. Assim, desde que os
factos estejam todos na ação, o tribunal é livre de alterar a
qualificação jurídica.
4) Prova
a. Temos de analisar dois pontos diante da prova para concluir se o sistema é
dispositivo ou inquisitório quanto à prova:
1 – Saber a quem pertence a iniciativa da prova: ou seja, se o juiz pode
trazer oficiosamente meios de prova à ação ou está sujeito à iniciativa
das partes quanto à prova
Resulta do artigo 411º que o juiz tem iniciativa probatória pelo
menos dentro dos factos que pode conhecer, ou seja, o
tribunal está limitado pelos factos mas quanto às provas pode
oficiosamente recolher prova. Pode pedir que, por exemplo, a
secretaria vá determinar a uma determinada instituição que
lhe conceda determinado documento.
Duas notas relativamente a quando se fala no 411º
que o tribunal tem iniciativa probatória mas que
está limitado pelos facto:
o Num processo uma coisa é a alegação dos
factos e outra é a prova dos factos – são duas
coisas diferentes e necessárias. Se não venho
alegar os factos o tribunal não os pode
conhecer, mas se venho alegar factos e
depois não os consigo provar também não
serve de nada. Estas realizam-se em
momentos diferentes do processo e por isso
é que o artigo 411º diz que o tribunal tem
iniciativa probatória, mas está limitado pelos
factos que sejam alegados pelas partes.
o O que é que significa o tribunal recolher
prova? Há meios de prova que de facto as
partes não têm acesso. Portanto o papel do
tribunal é complementar.
Ex: casos de ações de despejo com
fundamento em que o inquilino
não reside no local e isso é um
fundamento de despejo. Se o
senhorio vem propor a ação de
despejo vai ter de demonstrar que
o inquilino não reside lá, que é
uma prova difícil de fazer. Por ser
muito difícil, há uma prova que
muito frequentemente é pedida
nestes casos mas a que as partes
não têm acesso que é o registo dos
gastos de eletricidade, água e de
gás da habitação – é evidente que
se naquela habitação não há gastos
ou estes são muito reduzidos a
probabilidade de o inquilino não
viver lá é enorme. As partes não
podem ir às empresas
fornecedoras destes serviços e
pedir um registo de utilização sem
ser eu o titular do contrato, e
portanto o tribunal pede
oficiosamente a essas entidade
que apresentem a prova disto — é
um poder complementar, ainda
assim tem poderes oficiosos na
realização da prova; até pode
chamar pessoas que não foram
indicadas como testemunhas mas
que o tribunal quer ouvir, pode
determinar a realização de uma
prova pericial que não foi pedida
Portanto, em matéria de prova, quanto à iniciativa
probatória o sistema é inquisitório, porque o
tribunal tem poderes oficiosos de recolha de prova.
5) Negócios processuais
Os negócios processuais são declarações das partes que põem termo ao litígios. Há 3 negócios
processuais: confissão, desistência e transação, regulados no 283º e ss. do código.
Desistência: quando o autor prescinde da sua pretensão. Pode prescindir apenas no plano
processual ou também no material — ou seja, desistir da ação mas manter o seu direito e talvez no
futuro venha repor outra ação (a isto chama-se a desistência da instância), enquanto que quando o
autor desiste mesmo do pedido é quando prescinde do seu direito materialmente.
Transação: negocio bilateral entre as duas partes que por acordo chegam a uma decisão
intermedia para por fim ao processo.
Se este tipo de negócios processuais forem admitidos pelo nosso Código quer dizer que estamos
neste aspecto a um principio dispositivo, porque se for inquisitório as partes não têm qualquer
poder sobre o processo e portanto a partir do momento em que a ação está pendente vai ter que
ir até ao fim com a decisão do litígio. Se pelo contrário as partes têm esta disponibilidade sobre o
processo então estamos perante o princípio do dispositivo.
O que resulta dos artigos 283º e ss. é que as partes são livres de celebrar negócios processuais -
logo, nesta matéria o nosso código segue o principio dispositivo.
Em conclusão, o nosso processo civil é uma mistura entre os dois princípios sendo que os aspetos
mais importantes ainda estão na disponibilidade das partes, logo a professora diria que é mais
dispositivo, ou de principio é dispositivo e de forma complementar, em alguns aspetos, é
inquisitório.
AULA 14/09/2023
2. Princípio da Cooperação:
Só surgiu com o codigo de processo civil anterior, de 61 e mesmo assim não foi logo no seu inicio,
apenas na revisão de 95/96. Foi introduzido e tem relação com a oscilação entre o inquisitivo e o
inquisitório, vimos que esta relação leva a um equilibrio de forças e este é colmatado com o pp da
cooperação.
Este pp significa que todos os intervenientes no processo devem cooperar para o mesmo fim, que
é no fundo a justa realização/composição do litigio que é apresentado em tribunal. Todas as partes
estao vinculadas a cooperar para a descoberta da verdade no sentido de realizar a justa
concretização do litigio. Isto não significa que cada uma das partes não puxe para seu lado de
forma ao tribunal julgar para seu lado favorável, não significa que sejam neutras sem pensar no
seu lado, mas significa que dentro de um sentido objetivo, processual, devem cooperar – no
sentido de responder ao tribunal o que lhes for perguntado, comparecer quando isso lhes for
solicitado, informar o tribunal quando se justifique ou quando esteja em causa um elemento
fundamental, por outro lado, não faltar à verdade quando a parte é inquirida – tudo isto são
manifestações do principio da cooperação.
Este principio no fundo está aliado a deveres de boa fé no processo, é o exercicio de uma boa fé
processual no sentido de contribuir para a resolução de um litigo que leve a bom porto essa
resolução, no fundo, uma decisão justa do litigio.
Resulta expressamente do artigo 7º que o dever de cooperação não é só das partes, mas
tambem ao juiz é imposto que possa diligenciar todas as providencias necessárias a uma
solução do litigio mais facil caso as partes não consigam, como o ex da aula passada: ação
do despejo em que o autor não consegue documentos de prova de que não há consumos
de eletricidade, agua e gás, entao o tribunal tambem deve cooperar no sentido de
diligenciar para ordenar que estas entidades revelem esta informação, portanto, a
cooperação não é só das partes, mas do juiz com as partes.
Há tambem ao longo do codigo manifestações pontuais deste dever de cooperação,
inclusivamente a estipulação de consequencias para a falta do dever de cooperação – se
não existissem sanções par aa não cooperação este dever ou pp seria muito mais frágil. Por
isso, as consequencias principais para a violação do pp da cooperação surgem no CPC
essencialmente em 2 pontos:
o por um lado nos artigos 542º e ss. que tratam da matéria de litigância de má fé,
que é um instituto no fundo que prevê as consequencias ou responsabilidade civil
como consequência da violação de deveres de natureza processual, que no fundo
é o equivalente à responsabilidade civil para a violação de deveres de natureza
material, temos a litigância de ma fe paras quando as partes viola,m deveres ao
longo do processo: cooperação, verdade, boa fé, etc –tudo isto são deveres que
caso sejam violados podem conduzir a que o tribunal condene a parte em
litigância de má fé (mesmo que seja a parte vencedora, porque uma coisa é ter o
direito do ponto de vista material, outra coisa é não respeitar os deveres do ponto
de vista processual). A condenação corresponde normalmente ao pagamento de
uma multa ou de uma quantia indemnizatória à contraparte. – consequencia mais
evidente
o em matéria de prova especificamente temos a estipulação do dever de cooperação
que é onde mais se manifesta, no artigo 417º - há varias consequencias para a
violação do dever de cooperação. Este artigo impõe ao tribunal e às partes e
também a terceiros – é mais amplo
as consequencias podem ser várias:
Se uma parte se recusa a depor o tribunal pode apreciar
livremente essa recusa para efeitos probatórios – a tendência
quando uma pessoa se recusa a apresentar um depoimento ou
apresentar determinado meio de prova é porque tem receio das
consequencias desse elemento que ira apresentar, e portanto o
tribunal pode dar o facto como provado com base nesta
conclusao.
Ou pode acontecer ainda a inversão do ónus da prova – em todas
as ações cada uma das partes tem o encargo de provar
determinados factos, nem todos os factos é o autor ou reu,
depende das regras do ónus da prova. Se uma das partes se recusa
a apresentar um meio de prova pode ter como consequencia a
inversão do ónus, ou seja, se era a contraparte que tinha de
provar, passa a ser a parte que se recusa ou torna impossivel a
prova a ter de provar.
3. Principio do contraditório:
É dos princípios mais elementares, mais fundamentais do processo civil, está ligado ao pp da
igualdade das partes perante o juiz e perante a lei.
Isto significa que tem de ser dada a cada parte a possibilidade de contestar e controlar a atividade
da outra parte. É uma possibilidade de presença constante em todos os momentos de atividade
processual da contraparte relativamente à parte que pratica o ato, faz alegações, etc – ou seja, a
contraparte tem sempre o direito a ter uma palavra a dizer antes do tribunal decidir. Este princípio
manifesta-se portanto ao longo de todo o processo
O contraditório é uma manifestação da igualdade formal das partes, ou seja, é o mesmo que dizer
que o contraditório implica a igualdade de armas: o processo dá as duas partes as mesmas armas
para combater, têm iguais oportunidades, podem se pronunciar de forma igual. Isto é diferente da
igualdade substancial/material das partes: o facto de ambas terem os mesmos instrumentos não
significa que não haja uma delas que seja mais fraca que a outra – ex: uma delas pode ter menos
recursos financeiros para te um bom advogado. – há uma igualdade formal, há o contraditório das
duas partes mas do ponto de vista material ou substancial há uma parte inferior à outra
naturalmente.
Embora este pp seja fundamental no processo civil, há casos excecionais que o legislador previu a
possibilidade de o tribunal decidir sem o contraditório de uma das partes, ou seja, ouvindo apenas
uma das partes e não a outra:
isto pode acontecer em algumas providencias cautelares: são medidas provisórias urgentes
para que enquanto a ação não chega ao fim e o tribunal não toma a decisão definitiva se
possa evitar que quando se chegar ao final a ação já seja inútil. No fundo acautelar
provisoriamente a situação.
o Ex: o arresto – a providencia cautelar mais comum, permite evitar que o devedor
vá dissipando a sua garantia patrimonial durante a ação e no fim quando vier a
sentença esta já não servir de nada ao credor porque já não há bens no
patrimonio do devedor. Visa garantir uma apreensão dos bens do devedor até à
data da execução da sentença para garantir que ainda há bens no patrimonio do
devedor.
É uma providencia cautelar típica, em que o arrestado não é ouvido antes
de lhe serem apreendidos provisoriamente os bens. Se o receio desta PC é
que o devedor dissipe a sua garantia patrimonial, por ex pondo em nome
de outros ou alienando gratuitamente, se o devedor fosse avisado de que
contra ele podiam vir a ser arrestados os bens, é evidente que o risco que
o arresto visa evitar se poderia concretizar.
Assim, o arresto tem este fator surpresa que é fundamental para a eficacia
do proprio arresta, e portanto há uma dispensa do principio do
contraditório – esta dispensa é provisória, até à execução do proprio
arresto o devedor não é ouvido, mas depois disso, claro que o devedor vai
ser ouvido, há apenas um adiamento do contraditório, uma supressão
deste principio, e não a sua inexistencia.
Ex 1: artigo 877º do CC proíbe que os pais vendam bens a um dos filhos sem autorização
dos outros filhos, mas supomos que os pais querem efetivamente vender um bem móvel a
um dos filhos mas sabem que os outros filhos não vão deixar e ptt combinam com esse
filho que este vai propor contra os pais uma ação de reivindicação do móvel (que este lhe
pertence) e portanto que o pais sejam condenados a reconhecer que esse bem lhe
pertence e devolver esse bem e os pais não vão contestar a ação – quando não há uma
ação de contestação pelo reu essa não contestação tem um efeito concominatório, ou seja,
consideram-se provados todos os factos do autor.
o Indiretamente, atraves do processo, se isto for possivel e o juiz não fizer nada há
aqui um defraudar os limites substantivos do direito, e portanto o artigo 612º do
CPC atribui poderes ao juiz para que se este se aperceber que as partes estão a
fazer um uso anormal do processo, pode impedi-lo, como por exemplo: chamando
os outros filhos, absolvendo o reu da instancia, etc.
Ex 2: artigo 612º - um menor no plano do direito material não pode praticar atos de
disposição sem a representação dos seus pais, mas imaginem que um menor quer vender
alguma coisa a um terceiro e combina o mesmo esquema – que vai fazer uma
reivindicação daquele bem e que o bem não vai contestar a ação, ninguém levanta a
questao da incapacidade e procedência da ação vai equivaler à transmissão da
propriedade.
No fundo existem simulações processuais que o tribunal deve impedir se se aperceber
delas profunda manifestação do principio da submissão aos limites substantivos
Se o legislador adotar o pp da legalidade das formas processuais, isso significa que existe
no processo um modelo típico de tramitação processual, ou seja, vou ao CPC e sei que
para aquele caso está no código uma tramitação rigorosa da marcha do processo, uma
descrição rigorosa do que é a tramitação processual e portanto o juiz não tem aqui
nenhuma margem de manobra e apenas vai aplicar a lei.
O pp da adequação formal no fundo atribui ao juiz o poder de aplicar ao processo a
tramitação que entenda mais adequada ao caso. Ou seja, se o juiz achar que em vez de
fazer a audiência final num momento faz mais sentido fazer noutro pode fazê-lo, ou se
quiser alterar toda a ordem do processo de prova. — a adequação não prescinde de um
modelo de tramitação, mas este é supletivo em que o que prevalece é o que o juiz decide
em cada caso, é uma decisão ad hoc adaptada ao processo em concreto.
Antes da reforma de 95/96 o que vigorava era o principio da legalidade das formas processuais, no
entanto, a partir da reforma foi introduzido no nosso CPC o pp da adequação formal. No fundo o
que dizia em termos simples esta reforma era que se o tribunal considerasse que era de introduzir
alguma alteração à tramitação legal podia introduzi-lo excecionalmente – a regra era a legalidade
das formas processuais mas abriu-se uma possibilidade de o juiz excecionalmente introduzir
alterações, enquanto antes não havia esta hipotese.
Em 2013 reforçou-se este principio que atualmente consta do artigo 547º CPC, em vez de
estabelecer que esta adaptação é uma exceção quase que a transforma numa regra:
Este poder do juiz introduzido com o codigo de 2013 foi acompanhado de uma diminuição das
formas processuais legais típicas, enquanto se reforçou este poder do juiz havia 3 formas
processuais e foram reduzidas para apenas 1 porque ao mesmo tempo reforçou o poder do juiz.
Num certo sentido esta escolha entre estes dois princípios também se poderia considerar uma
manifestação do dispositivo e do inquisitório porque a legalidade das formas processuais acaba
por ser uma manifestação do dispositivo (as partes sabem com o que podem contar porque está
na lei) e a adequação formal do inquisitório porque esta dá poder ao juiz.
Então em que é que se manifesta este princípio da prevalência do fundo sobre a forma? Sobretudo
na possibilidade em regra de dada ao tribunal de sanar certos vícios de natureza processual para
evitar que eles sejam a razão de decidir injustamente.
Ex: no caso dos pressupostos processuais (condições previas necessárias que se verifiquem para
que o tribunal possa julgar a ação: a competencia do tribunal, a legitimidade, etc) apesar de serem
importantes, sempre que for possivel, o legislador estabelece que o tribunal possa sanar a falta
destes pressupostos processuais precisamente para evitar que por causa destes pressupostos a
parte que até pode ter razão no mérito da causa perca a ação. --- um menor que é parte numa
ação, em pp sofre de uma incapacidade judiciaria e ptt o tribunal não deveria reconhecer o mérito
da causa, mas por força deste princípio resulta da lei nomeadamente do artigo 6ºnº2 que o
tribunal deve no que possa sanar pelo sofrimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis
de serem salvos pelo juiz oficiosamente. O mesmo é valido para o erro na forma de processo, o
caso em que uma das partes se engana na identificação da forma do processo aplicável à ação, se o
juiz pode corrigir não faz sentido rejeitar a ação com fundamento naquele vicio. No fundo, este pp
da prevalência faz com que sempre que possivel os juizes processuais possam sanar certos vícios.
7. Principio da preclusão:
Diz-nos que cada ato tem um momento proprio para ser praticado. Há regras, disciplina no
processo. Ex: se quero apresentar uma prova só o posso fazer até x dias antes da audiencia, se
quero contestar uma ação só o posso dentro de 30 dias após ser notificado da petição inicial do
autor. Se não o fizer perde a possibilidade de o fazer mais tarde. Isto pode ter consequencias
importantes porque posso perder uma ação porque deixei passar o prazo.
E não poderíamos dizer que isto viola o principio da prevalência do fundo sobre a forma? Se calhar
sim, mas há outros pp e interesses à razoes da disciplina processual, razoes de lealdade entre as
partes (as partes saberem que aquilo que tinha de ser dito já foi determinado e não serem
surpreendidas com algo novo, ao contrario do que acontece nos processos de Common law em
que de repente na audiencia aparece uma testemunha surpresa – isto não acontece no nosso
sistema porque todas as testemunhas têm de ser apresentadas até uma determinada data, a não
ser por razoes excecionais que sejam justificadas). No fundo, não há propriamente surpresas, é um
processo com momentos próprios e prazos próprios determinado pela lei ou pelo tribunal (se o
tribunal tiver este poder-dever de adequação formal).
Este pp tem exceções, exceções de bom senso, como é o caso de alguma ocorrência superveniente
que não pôde ter sido tida em conta na data da pratica do ato – ex: caso das testemunhas, se a
parte só teve conhecimento daquela testemunha fundamental para o processo porque entrou em
contacto com a parte e antes ela não podia conhecer; ou relativamente a factos supervenientes
em que por exemplo numa ação de responsabilidade civil o autor pede a indemnização de danos
com fundamento num acidente de viação e em que enumerei todos os danos que tive na ação mas
mais tarde depois da alegação destes danos venho a sofrer outros danos de que não tinha
conhecimentos na altura, por exemplo uma manifestação fisica ou psicologica daquele acidente
que só mais tarde iria sofrer, isto é um facto superveniente relativamente ao momento proprio
para alegar o facto.
Artigo 555º: Admissibilidade da cumulação de pedidos pelo autor; o legislador admite que
o mesmo autor formule não apenas um, mas vários pedidos contra o mesmo réu – tem de
obedecer a alguns requisitos, mas faz sentido por economia processual, se é o mesmo
autor e o mesmo réu já agora que o tribunal conheça todos os pedidos contra aquele réu.
Ademais, é possível que várias partes se juntem para que o tribunal conheça na sua
pretensão.
o Ex: 3 compradores do mesmo imóvel (compropriedade) e querem os 3 anular a
compra e venda porque esta tem um vício na sua vontade e querem anular o
negócio, se cada um tivesse de propor uma ação separadamente seria um
desperdício de economia processual e, portanto, este princípio permite que os 3
proponham a mesma ação.
Tribunal puder sanar a falta de um pressuposto processual, é uma manifestação da
prevalência do fundo sobre a forma e da economia processual. Não adianta de nada
rejeitar a causa do menor com falta de representação se depois vêm mais tarde os pais
propor a mesma ação.
Artigo 530ºnº7 alinea a): Aumenta as custas processuais para partes que apresentem
articulados desnecessariamente prolixos – isto significa articulados complexos sem
necessidade, quanto mais simples e seco quanto àquilo que é preciso melhor, o legislador
para proteger os juizes criaram este artigo.
Este princípio é uma garantia constitucional porque uma sentença favorável que chegue daqui a 10
anos pode já não servir de nada. Mas o que é isto “prazo razoável?”, é um conceito indeterminado
— exige uma ponderação das circunstancias pelo tribunal sobre a complexidade da causa, o tipo
de crime, a quantidade de factos, os obstáculos processuais que existiam e portanto não se pode
criar uma regra abstrata que diga que um processo com mais de 2 anos é um processo que viola
este princípio, portanto tudo depende do caso concreto.
uma delas é precisamente a consagração das providencias cautelares que servem para
garantir que se a ação não permite ser rápida, então a providência cautelar estabelece
uma solução provisória que permita garantir que pelo menos a sentença não chega tarde
demais.
A possibilidade de responsabilizar o estado civilmente pelos atos jurisdicionais que chegam
tarde demais – isto é possivel no ambito internacional e a nivel interno, temos um regime
de responsabilidade civil do estado tambem por exercicio da função jurisdicional,
comporta a possibilidade de condenação do estado
No CPC quando este impoe aos magistrados e à secretaria limites para a pratica dos atos
processuais, no artigo 156º para os magistrados (em 10 dias têm de ser praticados os atos
dos magistrados) e no artigo 162º para a secretaria (têm 5 dias) – nem sempre são
cumpridos e não há propriamente uma sanção para este incumprimento, a preocupação
do legislador é estabelecer um prazo razoável para a solução dos litigios.
Este principio manifesta-se na preocupação do legislador tem em que as partes não só ganham as
mesmas armas processuais como tb tenham o mesmo estatuto real, e por isso a manifestação mais
evidente deste principio é a possibilidade conferida por lei de que as partes caso não tenham
meios económicos suficientes gozem do direito a um advogado oficioso – é possivel, perante a
falta de meios, que a uma determinada parte seja nomeado um advogado oficioso e
nomeadamente pode a parte ser dispensada do pagamento das custas processuais. Isto é uma
manifestação clara de que há uma parte em condições menos favoráveis e que portanto para
existir uma verdadeira igualdade material é preciso dar armas ou possibilidades que não são dadas
à outra parte.
Existem outros principios, mas estes são os mais relevantes e que vale a pena referir.
(PONTO 1 do programa (Introdução): ponto 3. Tipos de ações:
a) declarativas e executivas;
b) declarativas de condenação, constitutivas e de simples apreciação)
TIPOS DE AÇÕES:
Neste capítulo vamos tentar perceber quais são a nível de classificação em função do fim
pretendido pelo autor, qual é o tipo de ação que está em causa, portanto os tipos de ação são
determinados pelo fim que o autor pretende alcançar com esta.
Exemplos:
1 - A instaura uma ação contra B para que seja decretado o divorcio litigioso e que o
tribunal considere dissolvido o casamento entre ambos. – o que A pretende é a dissolução
do casamento atraves do divorcio
2 - A instaura uma ação contra B para que o tribunal declare que não deve nada a B, que
não tem nenhuma divida a B ao contrário do que este diz – pretende que o tribunal
declare que uma das partes não deve nada à outra
3 - A instaura uma ação para que B (o meu vizinho) que roubou uma determinada parcela
do meu terreno seja condenado a reconhecer que aquela parcela do teereno me pertence
e que seja obrigado entregar-me a parte do terreno
4 - Tenho um direito de crédito contra B que está reconhecido por este e quero executar
este crédito contra B e portanto quero instaurar uma ação para que o tribunal penhora os
bens de B, os venda e me entregue.
Temos 4 exemplos. Os pedidos do autor dependem da situação material descrita por este.
É diferente pedir ao tribunal que penhore os bens do devedor, ou que declare que não devo nada
ao réu, ou que considere que as partes estão divorciadas e que o casamento está dissolvido. Temos
aqui vários tipos de providencias. Em função da diferente natureza das providências tambem vou
ter diferentes tipos de ações com diferentes consequencias:
Encontramos uma classificação de diferente tipos de ação no artigo 10º CPC e a 1ª grande
distinção de tipos de ação é entre AÇÕES DECLARATIVAS E EXECUTIVAS:
Os tipos de ações variam em função da sentença, medida, que o autor vem pedir ao tribunal.
Temos vários exemplos:
Ex 1: Ação de responsabilidade civil em que o autor vem dizer que o réu lhe causou danos —
qualquer tipo de responsabilidade, e vem pedir ao tribunal que reconheça o seu direito e condene o
réu a cumprir a sua correspondente obrigação – objetivo é que o réu seja condenado a efetuar
uma determinada prestação
Ex 2: autor é proprietário de um prédio que está encravado no terreno de outra pessoa e não tem
acesso à via publica e pede para o tribunal constituir uma servidão legal de passagem para aceder
à via publica. --- nem sequer há um pedido de condenação, o pedido é que seja constituída uma
nova relação jurídica.
Ex 3: há um jornal que noticia que uma determina figura publica deve dinheiro ao banco, esta
pessoa para repor a sua imagem vem pedir que o tribunal declare, e instaura uma ação contra o
banco, que nada deve ao banco. --- peço que o tribunal declare “se sim ou se não”, uma simples
atividade declarativa.
Ex 4: o tribunal já tinha condenado o reu a pagar uma determinada quantia, e agora o que o autor
pede ao tribunal uma vez que o réu não pagou espontaneamente, é que o tribunal o obrigue a
pagar, apreenda os seus bens vendê-los e a atribuir o resultado dessa venda ao autor. – o objetivo
é que o tribunal implemente na pratica aquilo que já foi decidido.
O que está em causa nos 4 exemplos é o exercício do direito da ação judicial, mas estou a pedir
providências diferentes. Portanto o direito de ação civil pode corresponder a pedidos diferentes ao
tribunal, não há apenas um tipo de pedido possivel.
Em função dos pedidos formulados pelo autor contra o réu, assim as ações se classificam em tipos
diferentes:
Artigo 10º CPC tem uma forma mais ou menos completa de identificar os tipos de ação que
existem. O que é que podemos retirar? Há uma grande distinção entre ações declarativas e
executivas:
o Declarativas: peço ao tribunal que declare o direito aplicável ao litigo, dizer quem
tem razão, aplicar a lei. – o ponto de chegada é o direito, o tribunal estabelecer a
solução teórica para o conflito.
o Executivas: peço que o tribunal faça o direito, ou seja, o que eu pretendo é que o
tribunal implemente aquilo que é a definição do direito no caso concreto. – vou
querer, porque normalmente o réu não cumpre espontaneamente, que o tribunal
implemente atos materiais.
É algo muito pratico, não é o juiz mas agentes de execução que
vao ao terreno e o tribunal tem a função de controlar, por
exemplo: há regras sobre quais os bens que podem ser
penhorados e que não podem – há sempre um determinado valor
financeiro que não se pode penhorar, por exemplo, não se pode
penhorar mais do que o valor correspondente ao salário minimo
nacional.
Como regra, a ação executiva segue-se a uma ação declarativa, ou seja, só
posso executar o direito quando com segurança já adquiri com a certeza
jurídica que a lei exige a definição ou solução do direito num caso
concreto.
Desde o codigo de 2013 que as coisas estão mais facilitadas,
porque foi introduzido o artigo 626º em que se determina que a
execução não exige uma ação nova, ou seja, se quero instaurar a
ação executiva basta pedir ao tribunal depois da ação declarativa
para prosseguir com a fase executiva – antes era preciso instaurar
uma nova ação.
Exceção: Nem sempre é necessário que a ação executiva proceda uma
ação declarativa.
Há casos em que se tiver disponivel o chamado titulo executivo,
elencados taxativamente no artigo 703º, um documento de onde
resulte de forma suficientemente segura a existencia de um direito
do exequente, ele não precisa da sentença e pode ir diretamente à
ação executiva.
o Isto é relevante para o exercício do contraditório, porque
um executado numa ação executiva que foi precedida
numa ação declarativa terá muito menos direitos de
resposta do que um executado que nunca foi chamado a
juizo, portanto o contraditório será mais abrangente numa
ação executiva que não seja precedida de uma ação
declarativa: porque quando existe uma ação declarativa
anterior o executado já teve oportunidade de se defender.
(Nas ações declarativas o ponto de chegada é o direito, estabelecer a solução, enquanto na ação
executiva peço ao tribunal para alem da providencia declarativa, a executiva).
ação declarativa + ação executiva –– ainda que no mesmo processo, temos dois momentos
só ação declarativa (se o réu cumprir espontaneamente ou se for absolvido não se justifica
a ação executiva)
só ação executiva
AÇÕES DECLARATIVAS: Artigo 10ºNº2
Existem vários tipos de ações declarativas, o artigo 10º define no nº2 quais são os 3 tipos de ações
declarativas e no nº3 o fim de cada uma delas:
1.º. Alinea b) Ações de condenação — no fundo são as ações através das quais o autor pretende
que o tribunal condene o réu numa determinada prestação a partir do reconhecimento de que
o autor tem aquele direito e este foi violado. Temos 3 momentos nestas ações: a verificação da
existencia do direito que o autor alega; o reconhecimento pelo tribunal que esse direito foi
violado; em terceiro lugar a condenação do réu no restabelecimento da ordem jurídica através
de uma determinada prestação.
o Ex: esta ação de condenação corresponde ao exemplo anteriormente dado da
responsabilidade civil do acidente de viação — o que eu quero é que o tribunal
determine que o réu tem de me prestar uma determinada quantia neste caso.
i. Nas ações de condenação a partir do momento em que a sentença de
condenação está proferida termina, mas depois preciso da colaboração do réu
para ver o meu direito satisfeito – é daquelas em que as ações executivas
posteriores são muito frequentes.
o Ex: relativamente aos direitos reais – O artigo 1311º CC prevê as ações de
reivindicação e resulta claramente deste artigo que o objetivo é o reconhecimento do
direito real do autor, o reconhecimento de que este direito foi violado e a condenação
do reu a reintegrar o direito, ou seja, a restituir aquilo que lhe pertence. Logo, as ações
de reivindicação são ações claras de condenação.
o As ações de condenação que pressupõem a condenação do reu numa determinada
prestação não implicam necessariamente que seja uma prestação de facto positiva,
pode ser negativa – posso pedir ao tribunal que condene o réu a abster-se de uma
determinada conduta (ex: para que o réu se iniba de entrar na minha propriedade
privada).
i. São ações de condenação na inibição do comportamento que perturba o meu
direito, tambem é uma ação de condenação inibitória (= as que visam
condenar o réu numa determinada omissão).
As ações de condenação para o futuro visam no fundo prevenir litígios, porque acabam de certa
forma prevenir aquilo que ira acontecer no final do contrato.
2.º. Alínea c) do artigo 10: ações constitutivas. Visam autorizar uma mudança na ordem jurídica
existente. O objetivo é que o tribunal através da sentença altere a situação jurídica das partes
— o objetivo aqui já não é que o tribunal condene numa determinada prestação, mas o
objetivo aqui é que só pela sentença o tribunal altere a ordem jurídica. – está associado aos
direitos potestativos.
o Exemplo 1: constituição de servidão de passagem - estou a pedir ao tribunal que através
da sentença constitua a servidão de passagem (será diferente de se depois o reu não e
permitir passar); a servidão legal de passagem pode ser constituída por acordo ou por
sentença judicial, portanto a sentença constitui a servidão de passagem. Outra coisa
diferente é se depois o réu vier impedir que eu passe quando já tenho a servidão. Aqui já
tenho de instaurar uma ação de condenação. Se a única coisa que peço é a constituição da
servidão de passagem, então a ação é constitutiva.
o Exemplo 2: anulação de um negócio jurídico – apenas quero uma sentença que venha
decretar a anulação do negócio; a sentença é constitutiva;
o Exemplo 3: contrato de promessa não cumprido com eficácia real em que o vendedor já
vendeu a coisa a um terceiro e eu venho instaurar uma ação de execução específica em
que peço ao tribunal que me substitua ao outro comprador no negócio – o tribunal numa
ação de execução específica não vai mandar o vendedor celebrar um novo negócio
comigo, vai me substituir ao outro comprador; a sentença provoca uma alteração na
ordem jurídica mesmo contra a vontade do réu.
o Exemplo 4: divorcio litigioso, uma das partes pede a dissolução do casamento contra a
outra. Mesmo que o reu não esteja de acordo, se o tribunal decretar o divorcio, o estado
civil do réu altera-se mesmo contra a sua vontade --- basta a sentença de divorcio para que
o casamento fique dissolvido.
Assim, a simples sentença produz efeitos na ordem jurídica sem necessidade de colaboração do
réu. Ou seja, as ações constitutivas são ações em que está normalmente em causa o exercício de
direitos potestativos, em que posso provocar através do meu direito a alteração da esfera jurídica
da contraparte sem necessidade da sua vontade, aqui a diferença é que o exercicio do direito
potestativo é feita de forma judicial. Isto porque temos direitos potestativos que são de exercicio
obrigatoriamente judicial. Qual é a forma de exercer judicialmente o meu direito potestativo?
Através de uma ação constitutiva.
Podem inclusive produzir efeitos, no exemplo da ação de execução específica é o mais típico: posso
estar a produzir efeitos na esfera jurídica de um terceiro que não é parte desta relação entre
direito potestativo e sujeição. Ou seja, por exemplo no caso de incumprimento do contrato
promessa a minha relação juridica inicial é com o promitente vendedor que não cumpriu, mas eu
vou conseguir produzir efeitos através da ação constitutiva inclusive através da esfera juridica de
um terceiro que adquiriu a coisa —— as ações constitutivas podem ter um alcance mais amplo do
que apenas a relação juridica inicial.
3.º. Alinea a) do artigo 10: ações de simples apreciação: são as que pretendem obter unicamente
a declaração da existência ou inexistencia de um direito ou facto – quando queremos que o
tribunal reconheça um direito meu.
o Estas ações podem ser positivas ou negativas consoante o pedido seja a declaração da
existência de um direito ou facto ou da declaração da inexistência de um direito ou facto.
o Exemplo 1: a figura publica pede que o tribunal declare que nada deve ao banco –
não é preciso mais nada se não a sentença que declare isto.
o Exemplo 2: alguém vai vender um determinado terreno e o vizinho vem dizer que
tem uma servidão de passagem sobre esse terreno, vem invocar a titularidade da
possibilidade de passar sobre esse terreno. – Se eu quero vender o terreno então é
importante saber se esta servidão existe ou não, e portanto posso, para resolver
duvidas, pedir ao tribunal que declare a inexistencia desta servidão de passagem.
--- ação de simples apreciação negativa.
o Exemplo 3: ação de declaração de nulidade de um contrato – é diferente de uma
ação de anulação; na ação de anulação o efeito da sentença é constitutivo, eu
posso anular ou não, se não o anular o negocio este convalida-se e é válido; já um
negócio nulo é o desde o inicio, não produz efeitos, e portanto, o recurso a
tribunal para declaração de nulidade não é um pedido constitutivo, mas é apenas
uma declaração daquilo que é a realidade, apenas peço que o tribunal constate
que o negócio é nulo.
o São as menos comuns, porque na verdade os tribunais não são órgãos de consulta juridica,
não posso apenas por uma discórdia e porque quero que as coisas fiquem esclarecidas que
vou recorrer a tribunal para este declarar que uma caneta é minha.
o Logo, não posso pedir ao tribunal que se prenuncie perante as minhas duvidas,
logo é necessário alguma exigência, é preciso que exista:
uma incerteza grave (= no sentido do valor que está em causa; se for
apenas uma questão sobre o meu direito de propriedade sobre uma
caneta não se justifica, mas se for a violação ao meu direito de
propriedade já é diferente)
e uma incerteza objetiva (= ser provocada por elementos externos, como
o meu vizinho que veio dizer que é titular de uma servidão de passagem,
ou do jornal que publica uma noticia sobre uma certa pessoa) sobre a
existência de um direito.
o Uma ação de condenação integra também de certa forma uma ação de simples apreciação,
porque quando, por exemplo, peço a reivindicação da minha propriedade primeiro estou a
pedir ao tribunal que reconheça o meu direito de propriedade, a diferença é que na ação
de condenação estou a pedir mais do que isso: que o reu seja condenado a respeitar o
meu direito de propriedade, mas está integrada uma ação de simples apreciação.
Relacionando os 3 tipos de ação declarativa com a distinção entre ação declarativa e ação de
condenação:
Títulos executivos na verdade são as sentenças das ações de condenação, as outras, em princípio,
não serão títulos executivos porque não são suscetíveis de incumprimento, os efeitos
condenatórios dessas sentenças sim, mas não a sentença em sentido estrito, aquilo que eu
pretendo do tribunal. Isto não significa que não existam efeitos condenatórios colaterais de
sentenças de simples apreciação ou constitutivas, por exemplo: se o tribunal constitui a servidão
legal de passagem, e o reu no dia a seguir poe um trator a impedir-me a passagem, no fundo está
indiretamente a desrespeitar aquela ação constitutiva, mas se na única coisa que eu pedi na ação
foi a constituição da servidão eu não tenho ainda um titulo executivo – tenho de instaurar outra
ação a condenar o réu a respeitar o meu direito de servidão.
O autor o que deve fazer porque pode cumular vários pedidos é pedir a declaração de
nulidade do negócio e a condenação do réu a restituir aquilo que prestei – se não juntar
um pedido de simples apreciação (neste caso) e um pedido de condenação, não tenho um
titulo executivo, porque preciso sempre de formular expressamente um pedido de
condenação ---- isto é uma consequencia de que princípio?
o A possibilidade de formular vários pedidos: economia processual
o Necessidade de fazer um pedido de condenação para o tribunal poder condenar o
réu: princípio do dispositivo
O tribunal até podia acrescentar logo ao pedido de anulação do negócio a
condenação do réu a restituir tudo o que foi prestado – não pode fazer isto
ao abrigo do principio do dispositivo, ou o autor faz esse pedido ou então
nada feito.
INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL
(ponto 1 do programa: 4. Providências cautelares: função, características, estrutura, providências
cautelares em especial (inominadas e nominadas))
Cada titular de direito tem o correspondente direito de ação se precisar de exercer o seu direito
pela força, mas na verdade a justiça demora e, por vezes, temos de esperar meses/anos até que
chegue uma sentença que reconheça o meu direito – problema disto: muitas vezes passado esse
tempo chega uma sentença que me é favorável mas já não me serve para nada, porque entretanto
as circunstancias alteraram-se de tal modo que a sentença é inútil. E, portanto, o meu direito de
ação é respeitado na teoria mas na prática não.
Exemplo 1: tenho um credito sobre um devedor, ele não paga e vou a tribunal e peço que
o tribunal reconheça o meu direito de credito e condene o réu a pagar-me 20 mil euros em
função de uma compra e venda que celebrei com ele e este não me pagou. Passado 5 anos
chega uma sentença que diz que o autor tem razão e a condenar o réu no pagamento dos
20 mil euros. Depois disto vou então executar esta sentença mas descubro que durante
estes 5 anos o réu dissipou completamente o seu patrimonio e tem apenas um valor
irrisório no seu património comparativamente à quantia a que foi condenado – esta
sentença não me vai servir para nada na prática.
Exemplo 2: alguém tem direito à prestação de alimentos de outrem que não presta os
alimentos mensais a que estaria obrigado. Instauro uma ação para que o reu seja obrigado
a prestar os alimentos mensais que são devidos. Passam vários anos e o reu é condenado a
pagar, no entanto, se eu precisava dos alimentos naquele momento, daqui a vários anos a
sentença já não me vão servir de nada.
Uma coisa é o direito de ação, direito à tutela judicial, outra coisa é uma tutela judicial efetiva.
artigo 20º CRP garante o direito a uma tutela judicial efetiva, e isso implica muito mais do que o
exercício do direito de ação e a possibilidade de ter uma sentença, implica a possibilidade que essa
sentença seja útil, tenha efeito prático.
São medidas judiciais urgentes e provisórias que têm por função garantir que a sentença
final quando chegue não seja inútil. Têm uma função instrumental relativamente à
utilidade de uma sentença de uma ação. E por isso correm em paralelo com a ação
principal, no fundo há um mini procedimento urgente que vai ser instrumental da ação
propriamente dita e que visa tomar uma medida urgente e provisória para impedir que
quando chegue a sentença de condenação do reu esta seja inútil – por isso a providencia
cautelar tem uma função instrumental e por isso não é um tipo de ação propriamente dita,
porque não é autónoma, são instrumentais dos vários tipos de ação.
Portanto, o que é que o tribunal vai fazer nos vários exemplos se eu perceber que há o risco do
devedor dissipar a sua garantia patrimonial:
1º exemplo – o tribunal vai pedir um arresto dos bens do devedor (= apreensão dos bens
do devedor, o equivalente à penhora só que esta ultima é definitiva e o arresto é uma
medida provisória, ainda não é uma sentença que dê razão). O que o tribunal vai fazer é
apreender aqueles bens para que fiquem ali à espera que venha a sentença. Se a sentença
for de condenação do réu o arresto vai ser convertido em penhora, se a sentença for de
absolvição do réu o arresto caduca. No fundo isto vai funcionar como um binómio
procedimental para combater os efeitos do decurso do tempo na ação.
2º exemplo – vou pedir elementos provisórios, que provisoriamente obrigue o réu a pagar
alimentos até que seja decidido se tenho esse direito, se não tiver esse direito este caduca
e eventualmente vou ter de restituir o prestado.
O artigo 2º nº2 parte final CPC fala expressamente das providencias cautelares quando diz “a todo
o direito (…) corresponde a ação (…), bem como os procedimentos necessários para acautelar o
efeito útil da ação”.
AULA 21/09/2023
Se aumentar o tempo para garantir a maior justiça e maior ponderação da decisão, estou a
prejudicar a sua eficácia – logo, o tempo é dificil de combater, e por isso só é possivel de combater
com este binómio de ações. Ou seja, por um lado temos uma ação principal em que o juiz tem
tempo para tomar a decisão ponderadamente e justa em que não há pressa dentro de um prazo
razoável para decidir, por outro lado, há um procedimento paralelo (o procedimento cautelar) em
que o tribunal aí se preocupa com a urgência na decisão em que não está preocupado com a
ponderação mas ao mesmo tempo garante que o tempo não vai prejudicar a eficácia da decisão.
José alberto dos reis tem um artigo sobre a providencia cautelar: “depressa e bem não é possivel”,
e portanto, a ação principal trata do bem permitindo que o procedimento cautelar trate do
depressa.
A tutela cautelar é um imperativo constitucional, porque o direito a uma tutela jurisdicional efetiva
que consta do artigo 20º da CRP exige a existencia de uma tutela cautelar que o garanta.
Como é que o nosso código concretiza então este imperativo constitucional? Em primeiro lugar, o
artigo 2º/2 ultima parte do CPC, embora em termos genéricos, diz “bem como os procedimentos
necessários a acautelar o efeito útil da ação” – fala-se aqui das providencias cautelares. Como é
que este artigo 2ºnº2 se concretiza? Nos artigos 362º e ss. encontramos a regulação dos
procedimentos cautelares e os seus requisitos
Por vezes usa-se a expressão procedimento cautelares e outras vezes providencias cautelares, que
não são exatamente a mesma coisa:
Ou seja, através de um procedimento cautelar o autor pede ao tribunal que adote uma
providencia cautelar.
1ª classificação:
A diferença entre estes dois é a mesma existente entre lei geral e especial.
Ou seja, os procedimentos cautelares comuns são uma espécie de cláusula geral e aberta
para todas as situações em que exista um risco de inutilidade da sentença da ação
principal. sempre que isso aconteça em termos gerais, o artigo 362º permite que seja
requerida uma providencia adequada a evitar isso.
Os procedimentos cautelares especificados têm uma lista de várias providencias concretas
que o legislador previu em especial, que são no fundo as mais vulgares. Ou seja, são
situações concretas de perigo para que o legislador previu providencia cautelares
concretas e previu exatamente os pressupostos típicos dessas providencias. Não são muito
diferentes das não especificadas (as comuns), a diferença é que aqui estao concretizados
todos os pressupostos.
No fundo temos um catálogo típico de providencias (as especificadas) e depois temos uma
providencia geral subsidiária (as comuns) – o artigo 362ºnº3 consagra uma regra de
subsidiariedade das providencias cautelares comuns: diz que as providencias comuns apenas se
aplicam quando esteja em causa o acautelar de um risco de lesão que não está especificamente
previsto nas providencias especificadas.
Há tambem uma regra de subsidiariedade entre procedimentos cautelares comuns –porque o
376ºnº1 diz que as disposições do procedimento cautelar comum também são aplicáveis aos
procedimentos cautelares especificados em tudo quanto não se ache especialmente previsto.
No fundo, do 362ºnº3 e do 376ºnº1 resulta uma regra de subsidiariedade entre
providencias e procedimentos.
Estes pressupostos são das providencias cautelares comuns (não especificadas), mas acabam por
estar concretizados em cada uma das providencias cautelares especificadas.
No fundo, todas estas caracteristicas acabam por ser uma consequencia da função das
providencias cautelares.
Desde o CPC 2013 foi criada uma figura nova em matéria de providencias cautelares e que veio
alterar um bocadinho o panorama das caracteristicas das providencias cautelares – este instituto
novo é a inversão do contencioso (artigos 369º- 371º CPC):
Permitiu que fossem decretadas providencias cautelares que deixaram de ser dependentes
e provisórias em certas circunstancias.
O legislador apercebeu-se que muitas vezes a providencia cautelar e a ação principal eram
uma duplicação da outra.
o Ou seja, a providencia cautelar era decretada o tribunal analisava aqueles meios
de prova e depois na ação principal o requerente vinha apresentar uma ação
idêntica com os mesmos meios de prova e o tribunal julgava a ação procedente –
havia uma duplicação desnecessária. E muitas vezes até, o proprio procedimento
cautelar apesar de ser suficiente numa mera aparencia do direito o que acontecia
era que o tribunal acabava por chegar à mesma conclusao na ação principal, os
meios de prova eram os mesmos.
Este instituto prevê que se o requerente quiser pode pedir ao tribunal que inverta o
contencioso = pedir ao tribunal que o dispense do ónus de propor a ação principal e que
onere o requerido/transfira ao requerido o ónus de propor a ação principal sob pena da
providencia se transformar em definitiva. – ou seja, a regra geral é a de que se o
requerente da providencia não instaurar a ação principal, a providencia cautelar caduca. Se
o tribunal inverter o contencioso a consequencia é que vai ser o requerido a ter de propor
a ação principal sob pena da providencia cautelar permanecer definitiva.
o Há aqui os dois lados do espelho – passa a ser o requerido a ficar onerado da
propositura da ação principal ou a providencia converte-se em definitiva.
O objetivo é o requerente ter interesse em que o tribunal o desonre a ele do ónus de
propor a ação principal e o transfira para o requerido e se este não o propor a providencia
mantem-se definitiva
Exemplo: os alimentos provisórios – o requerente dos elementos provisórios pede para
alem do tribunal decretar a providencia que este inverta o contencioso. O que é que isto
significa? Se não houvesse esta inversão o beneficiário dos alimentos provisórios vai ter de
instaurar em 30 dias uma ação de alimentos definitivos sob pena de se não o fizer
caducam os alimentos provisórios e deixa de beneficiar deles. Se o tribunal inverter o
contencioso o que acontece é que passa a ser o requerido (que tem de pagar os alimentos
provisórios), se não quiser que os alimentos se tornem definitivos, a propor uma ação
principal em que impugna o direito do requerente aos alimentos provisórios.
O tribunal só vai fazer isto se se verificarem certos pressupostos:
o Que o requerente tenha feito uma prova efetiva do seu direito – já não basta o
fumus boni iuris, é preciso uma prova efetiva do direito. Não faria sentido que a
providencia se pudesse transformar em definitiva com base numa aparencia do
direito, isto sim seria uma violação do direito a uma tutela jurisdicional efetiva
relativamente à outra parte. – o tribunal tem de ficar convencido que a ação
principal já não vai trazer nada de novo que já tem conhecimento de tudo o que é
necessário.
o Que seja uma ação antecipatória – só faz sentido a inversão do contencioso numa
providencia cautelar antecipatória, porque se a providencia se pode transformar
em definitiva só faz sentido que isso aconteça se tiver o mesmo conteudo da ação
principal porque se não nenhum credor vai querer que o arresto se transforme em
definitivo, apenas pretende que se transforme em definitivo uma providencia que
satisfaça antecipadamente o seu direito.
A inversão do contencioso é uma exceção à provisoriedade e à dependência – acaba por
admitir providencias cautelares que vao ser definitivas e que deixam de ser dependentes
de uma ação principal.
Temos:
o No CPC nos artigos 377º e ss.
o Há outras em legislação avulsa, por exemplo:
O diploma do arrendamento
Regime das clausulas contratuais gerais
As determinadas no CPC:
o Restituição provisória da posse – artigo 377º:
Sempre que alguem se veja privado da sua posse atraves de um esbulho
violento temos uma providencia cautelar especificada.
Se o esbulho é não violento também é possível prever uma providencia
cautelar, mas tem de ser não especificada.
Qual é a especificidade da restituição provisória da posse?
Esta é ordenada sem audiencia previa do esbulhador – é
obrigatório, a lei diz que o esbulhador não é citado, não depende
de uma analise em concreto de saber se a audiência pode ou não
pôr em causa a eficácia da providencia.
o Nunca existe audição do requerido.
Há quem diga até que não é uma providência cautelar porque não é
propriamente preventiva do risco da lesão. Neste caso a providência
cautelar atua quando já houve lesão e por isso se diz que é mais uma
sanção contra o esbulhador do que uma providencia cautelar preventiva
da lesão.
o Arresto:
Prevê-se tambem obrigatoriamente a não audição do requerido
o Arrolamento:
É uma descrição de bens que serve sobretudo para casos, por exemplo,
numa ação de divórcio em que um dos cônjuges receia que o que ficou na
casa de morada de família possa ocultar certos bens e para isso quer a
descrição de todos os bens que ficaram na casa – para evitar a ocultação
ou dissipação dos bens.
AULA 25/09/2023
Principal critica do regime processual civil experimental, em que as partes pediam uma
providência cautelar, e o tribunal decidia logo definitivamente:
A parte que seria mais prejudicada neste contexto seria o réu da providência cautelar, que poderia
vir dizer que não levou todas as provas que tinha - porque é que pode não ter levado todas as
provas? porque o procedimento cautelar é uma ação sumária. O requerido não estava a contar
com um ónus da sucumbência tão pesado, ou seja, achou que na pior das hipóteses iria ser
condenado provisoriamente e não definitivamente e quanto a isto não se pôde opor.
há aqui também uma certa violação do dispositivo – o autor pede uma providência cautelar e o
tribunal decide uma coisa diferente daquela que este pediu, a sentença da ação principal não é a
mesma coisa que uma decisão de uma providencia cautelar.
As críticas portanto eram estas: isto é demasiado grave, pode surpreender demasiado as partes e
por isso é que o nosso legislador acabou por escolher uma opção “menos radical” uma vez que o
requerido ainda tem alguma hipótese.
O juiz é o mesmo, o tribunal competente para julgar um é o mesmo para julgar outro, e mesmo
assim, o juiz da ação principal pode reverter totalmente a sua decisão. Pode decretar o arresto e
depois na ação principal não condenar. Porquê? A produção da prova na ação principal pode ser
muito mais extensa, o arresto nem tem audição da parte contrário e, portanto, o tribunal decide
com base naquilo que tinha no momento, e com base naquilo que tinha a decisão foi correta – não
é por o tribunal na ação principal decidir de forma diferente que se pode daí concluir que a decisão
do procedimento cautelar foi mal tomada. Não, com base nos elementos que o tribunal tinha
disponíveis, tomou a decisão.
Por isto é que existe nas providencias um regime de responsabilidade civil do requerente, porque
este é obrigado a atuar com verdade e se não o fizer (artigo 374ºnº1) responde pelos danos
culposamente causados.
FORMAS DE PROCESSO
(ponto 1 do programa: processos especiais e processo comum; o procedimento especial
destinado a obter o cumprimento de obrigações pecuniárias decorrentes de contrato)
Os tipos de ação são determinados em função da providencia que é pedida pelo autor – em função
daquilo que o autor pede ao tribunal eu vou qualificar aquela ação.
A forma de processo é outra coisa – no fundo são modelos de tramitação processuais que dão
resposta a um determinado pedido das partes para a resolução do litigio:
Numa ação declarativa tem de haver certas fases que são imperativas para a resolução de
um litigio, neste caso são 3 momentos imperativos: as partes formularem os seus pontos
de vista, um momento de prova e de decisão – é o modelo de tramitação mais simples,
sem estes 3 não há nenhuma forma processual. No entanto, podemos acrescentar muitos
elementos diferentes.
Podem-se acrescentar mais ou menos fases: podem ter mais momentos para as partes se
prenunciarem, que antes da produção da prova haja uma reuniao, etc. – Há vários modelos de
marcha do processo possiveis, ou seja, há varias formas processuais possiveis em abstrato que
podem ser criadas e que o tribunal pode decidir.
O que é que isso tem a ver com os tipos de ação? Pode se cruzar nuns aspetos – quando
distinguimos os tipos de ação e verificamos que cada um destes tem um fim diferente que o autor
pretende alcançar (entre ação declarativa e executiva), claro que marcha do processo não pode ser
igual: uma coisa é a decisão sobre a solução do litigio e outra é penhorar os bens, vender os bens e
dar o valor ao credor – a distinção destes dois tipos de ação vai se refletir em duas formas
processuais diferentes: forma de processo declarativa e forma de processo executiva.
Assim, quando falamos em declarativa e executiva podemos estar a falar dos tipos de ações ou em
forma de processo.
Nos casos de tipos de ação declarativa, não tem de se refletir necessariamente uma marcha
processual diferente porque o que se pretende é que o tribunal diga qual é a solução para o litigio
e portanto aí a forma de processo já não dependerá de saber qual é a providencia pedida. – para
efeitos de tramitação não é diferente (pode haver diferenças na legitimidade das partes,
competencia, etc)
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 1: noção, função e regime geral)
Os Pressupostos são condições que têm de estar verificadas para que o tribunal conheça do
mérito da causa (mérito significa que conheça da questão substantiva que é trazida a juizo).
Portanto, é necessário que se verifiquem certas condições sob pena do tribunal não puder decidir
a causa. – Logo, Não é pelo simples facto de alguém levar um conflito a juizo que o tribunal está
automaticamente obrigado a julgar a causa.
Estes pressupostos são cumulativos, basta que falte um para que o tribunal não possa reconhecer
do mérito da causa.
Os pressupostos processuais são requisitos essenciais para que o tribunal conheça do mérito da
causa. A primeira pergunta que vou responder no âmbito deste regime geral é:
Se o tribunal se apercebe que uma das partes não tem personalidade judiciária, por exemplo, o
autor propõe uma ação contra uma mesa, a mesa não tem personalidade judiciária e portanto não
pode ser parte em juizo, e portanto o que é que o tribunal faz?
Não pode conhecer do mérito da causa, mas isso não é uma decisão é o conceito. Na
prática qual é a decisão que o tribunal vai tomar uma vez que não pode tomar uma
decisão quanto ao litigio?
o Regra: A consequencia da falta de um pressuposto processual é uma decisão de
absolvição do réu da instância processual, não do pedido.
Quando falamos em absolvição ou condenação do pedido estamos a falar
da questao de mérito, mas é uma absolvição apenas da instancia
processual: o tribunal diz que o réu não pode ser julgado e por isso
absolve-o da instância, portanto esta absolvição não julga do direito (não
se diz quem é que tem razão).
Então e onde é que estas consequencias estao previstas no código? Está no artigo 576ºnº2, mas
para perceber isto é preciso explicar as exceções dilatórias
O legislador quando define o conteúdo possível da contestação diz que na contestação o réu se
pode defender por impugnação ou por exceção – isto está previsto no artigo 571ºnº2:
Defende-se por impugnação quando apenas contradiz os factos alegados pelo autor
Defende-se por exceção quando vem acrescentar factos novos em relação ao que o autor
diz.
o 576º continua a distinção dos tipos de exceções: distingue entre dilatórias ou
perentórias.
Dentro dos factos novos invocados pelo réu estes pode podem ser
relativos:
ao mérito da causa, por exemplo dizendo “eu já paguei o preço
que o autor está a pedir”
o Quando as exceções (os factos novos) são relativas ao
mérito da causa designam-se de exceções perentórias.
o Qual é a consequência da existência de uma exceção
perentória?
artigo 576ºnº3 - as exceções perentórias
importam a absolvição do pedido porque dizem
respeito ao mérito da causa.
Entao, qual é a consequencia da existencia de uma exceção dilatória? = que é o mesmo que
perguntar qual é a consequência da falta de um pressuposto processual? --- resposta à nossa
pergunta:
O artigo 576ºnº2 determina que as exceções dilatórias obstam que o tribunal conheça do
mérito da causa e dão lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outra
tribunal.
o O 577º tem uma lista das exceções dilatórias, que é o reverso da falta de
pressupostos processuais: incompetência, falta de capacidade judiciária, entre
outras (nem todas são pressupostos processuais).
Os pressupostos processuais são por regra de conhecimento oficioso, resulta expressamente dos
artigos: 278ºnº2 (se o tribunal pode sanar os pressupostos oficiosamente então também tem de
poder conhecer deles oficiosamente), 6ºnº2 (relativamente ao princípio da gestão processual),
578º (determina-o expressamente):
Resulta destes artigos que o tribunal deve conhecer oficiosamente a falta de pressupostos
processual + deve tentar sanar oficiosamente a falta desse pressuposto, a não ser que o
pressuposto processual não seja sanável
A regra é que a falta de pressuposto processual é sanável.
o Nem todas as exceções dilatórias são sanáveis:
a falta de patrocínio judiciário, quando uma das partes é menor – são
exceções dilatórias sanáveis
a personalidade judiciária – não é uma exceção dilatória sanável, porque
neste caso isso implicaria substituir as partes e o pp do dispositivo implica
que o objeto do processo e as partes na ação tenha de ser identificado
pelo autor e como a única solução seria substituir a parte sem
personalidade isso seria praticamente dar ao tribunal o poder de propor a
ação.
3 - Qual é a eficácia/força do caso julgado das decisões sobre os pressupostos processuais?
Ou seja:
Quanto às decisões de mérito: As sentenças sobre decisões de merito adquirem, uma vez
transitadas em julgado, uma força probatória especial que significa (do 619º) que a decisão que
venha a ser tomada tem força obrigatória fora do processo. Ou seja, não é possivel instaurar outra
ação igual àquela e que outro tribunal venha a tomar uma decisão diferente porque esta transitou
em julgado. Diz se que a decisão transitou em julgado material, porque diz respeito ao merito da
causa e vincula todos os outros tribunais.
Quanto às decisões processuais tomadas no processo: Estas têm de ter alguma força obrigatória,
mas o caso julgado formado pelas decisões processuais (é um caso das decisões de absolvição da
instancia) é um caso julgado meramente formal – o que é que é o caso julgado meramente
formal? É o que está explicado no artigo 620º:
Nº1 - as sentenças e despachos que recaiam unicamente sobre a relação processual (que é
o caso das decisões de absolvição da instância) têm força obrigatória dentro do processo
apenas.
o Isto significa que o proprio tribunal que profere a decisão está vinculado por essa
decisão, mas fora daquele processo nenhum outro tribunal está vinculado.
Portanto se eu propor uma ação contra uma mesa e o tribunal na 1ª ação
absolve o reu da instancia, se o autor tentar instaurar outra vez a mesma
ação contra a mesa noutro tribunal este pode pelo contrário não
considerar que há falta de personalidade judiciária e julgar a ação contra a
mesa.
Este é um exemplo caricato, apenas se quer chegar com este que
se em casos duvidosos o autor quiser continuar a insistir pode
continuar a insistir e o tribunal das outras ações não está
vinculado porque aquela decisão tem apenas força de caso julgado
formal.
4 - Quais são os momentos na marcha do processo próprios para o tribunal verificar se estão
reunidos os pressupostos processuais?
há uma 2ª fase da marcha do processo que é o saneamento da condensação (?) no ambito do qual
o tribunal profere um despacho e dois eventualmente (o despacho saneador e o despacho pré-
saneador) e em qualquer um destes despachos a função do tribunal é verificar se estão reunidos
os pressupostos processuais e se não estiverem estes absolvem o reu da instância. O despacho
saneador está no artigo 595ºnº1 e o despacho pré-saneador no artigo 590ºnº2 alinea a).
Terceiro momento em que o tribunal pode verificar se estão reunidos os pressupostos processuais:
Na sentença (pouco provável).
Também na sentença pode o tribunal conhecer da falta do pressupostos processual, tal como
determinado no artigo 608º. Pode acontecer que o tribunal na sentença profira uma decisão de
absolvição do reu da instancia e não conheça portanto do mérito.
Por exemplo, o pressuposto da legitimidade das partes por vezes depende do tribunal aprofundar
um bocado melhor a história para saber se de facto o contrato foi mesmo celebrado entre as
partes ou se foi com outra.
Portanto, há pressupostos processuais que é preciso o juiz entrar um bocadinho dentro do mérito
da causa para perceber se estes se verificam. Assim, nestes casos é possível chegar à sentença e
decidir com base na falta de um pressuposto processual.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 2: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA)
É preciso que ambas as partes tenham personalidade judiciaria para que o tribunal possa
reconhecer do mérito da causa.
Apesar do artigo 6ºnº2 dizer que o tribunal deve tentar saber a falta de pressupostos processuais,
a personalidade judiciária é um pressupostos processual que não é suscetível de sanação – porque
sanar a falta de personalidade judiciária implicava substituir alguma das partes e como vimos este
é um reduto indiscutível do principio do dispositivo que é a definição do objeto do processo e os
sujeitos (uma vez que o juiz não pode escolher quem é autor e réu na ação, não vai substituir as
partes havendo automaticamente uma absolvição do réu da instância).
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 2: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA) – Continuação:
É uma extensão porque quem tem personalidade juridica é a pessoa coletiva e estas são
apenas representações orgânicas da pessoa coletiva à qual pertencem – a filial de lisboa de
uma determinada pessoa coletiva não tem personalidade juridica autónoma.
Por isso, nesta perspetiva estas entidades não teriam personalidade judiciária, portanto quem
seria autor seriam apenas as pessoas coletivas. No entanto, este artigo diz que estas
representações orgânicas podem demandar ou ser demandadas (portanto têm personalidade
ativa e passiva) quando a ação proceda de facto por elas praticado.
Ou seja: temos um senhor A que contratou a entrega de uma maquina com uma filial em
setúbal de uma empresa que tem a sede no Porto (aquela sociedade vende determinadas
máquinas e tem uma filial em setúbal e foi com esta que A falou).
o Em rigor se A quiser propor uma ação porque a maquina não foi entregue, contra
quem teria de propor a ação seria contra a empresa situada no Porto. A sede
representa a empresa e, portanto, as ações contra as pessoas coletivas são propostas
contra a pessoa coletiva com sede no sitio x, e isto tem implicações a nível de
competencia do tribunal:
A regra é que o tribunal competente é o tribunal da sede ou do domicilio do
reu. Neste caso sendo uma pessoa coletiva é a sede e, portanto, A teria de
propor a ação no Porto. – este seria o procedimento normal caso as
representações não tivessem tambem personalidade judiciária.
O nº1 do artigo 13º permite que, tendo em conta que o facto foi praticado ou
os contactos foram tidos com a filial de Setúbal, a filial pode ser parte na ação
apesar de não ter personalidade jurídica porque lhe é atribuída personalidade
judiciária.
Isto significa que o senhor A vai propor a ação em Setúbal e vai lidar
com o representante da filial que no fundo foi com quem A contratou,
os factos dizem respeito à filial.
A filial pode ter personalidade judiciária mas continua a não ter
personalidade jurídica – o artigo apenas estende a personalidade
judiciária
o Isto significa que os efeitos juridicos têm de se produzir na
mesma na pessoa coletiva (e não na filial).
Exemplo: filial é condenada, isto significa que o autor
não pode executar o património da pessoa coletiva e
tem de executar apenas o património da filial? Não, a
ação instaurada contra estas representações orgânicas
não deixa de produzir efeitos na pessoa coletiva. Na
verdade, isto é mais uma possibilidade prática de
representação da pessoa coletiva do que
propriamente uma extensão da personalidade porque
não estou a atribuir a possibilidade daquela filial
depois ser responsabilizada.
Assim, esta extensão é por razões práticas.
No nº2 ainda fica mais patente esta vantagem de ordem prática relativamente
à extensão desta personalidade das sucursais porque este nº preve a
possibilidade de a sede da pessoa coletiva ser em pais estrangeiro, e a
sucursal, filial, agência, estar estabelecida em Portugal.
Nestes situações, a filial pode demandar ou ser demandada mesmo
que a ação derive de facto praticado pela sede quando a obrigação
tenha sido contraída com um português ou estrangeiro domiciliado
em Portugal.
o Ainda facilita mais a propositura de ações contra as filiais no
caso de a sede se situar num pais estrangeiro. Em termos
práticos seria muito mais complexo em vez propor a ação no
Porto ter de a propor em Berlim.
não se exige que o facto tenha sido pratica pela filial, basta que existe
em Portugal uma filial e que esteja em causa do outro lado alguem
que seja português ou domiciliado em Portugal – é suficiente para
puder propor a ação contra a filial. – visa proteger aqueles que são
domiciliados em Portugal.
Exemplo: em Lisboa existe uma filial da Tesla (representação de uma
empresa com sede nos USA), alguem domiciliado em PT contratou
com a própria empresa dos estados unidos, o simples facto de existir
uma filial da empresa em PT é suficiente para puder propor a ação em
PT caso alguma coisa corra mal e exista um conflito na relação juridica.
1) Não há bem aqui uma extensão da personalidade judiciária porque quem está por detrás da
filial é sempre a pessoa coletiva, é quem depois responde pelas consequências de uma
eventual condenação
2) Ao contrário do que acontece com o resto de casos com a falta de personalidade judiciária,
esta falta de personalidade judiciária é sanável e é sanável porque não é bem uma falta de
personalidade judiciária porque tenho a pessoa coletiva sempre por detrás desta
representação orgânica que está em juízo. Como é que é sanável esta personalidade judiciária?
a. Exemplo: no primeiro exemplo eu proponho a ação contra a filial de setubal quando
afinal se conclui que a origem do litigio não está em nenhum facto praticado pela
filial de Setúbal – como é que posso sanar esta falta de personalidade judiciária?
i. Artigo 14º - pode ser sanada mediante a intervenção da administração
principal e a sua ratificação ou repetição do processado.
1. Ou seja, o tribunal irá chamar a
administração principal para que venha à
ação dizer se sana esta falta de
personalidade judiciária, ratificando tudo
o que foi feito ou permitindo que repita
aquilo que não foi feito.
a. Se assim acontecer fica sanada a
falta de personalidade judiciária,
se não acontecer a ação não
continua porque temos uma filial
que não tem personalidade
judiciária para este efeito.
2. Só é possível esta sanação porque na
verdade é um caso especial de falta de
personalidade judiciária – não é um caso
como os outros em que o tribunal para
sanar esta falta teria de substituir a parte,
apenas conseguir que aquela entidade
que verdadeiramente tem personalidade
jurídica substitua aquela que não tem.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 3: capacidade judiciária)
Artigo 15ºnº1 – consiste na suscetibilidade de estar por si em juizo. Já não tem a ver com a
possibilidade de ser parte, a capacidade judiciária pressupõe ter personalidade judiciária e é a
possibilidade de aquela parte estar sozinha em juizo como parte.
Por isso, existe aqui tal como acontece com a personalidade judiciária um princípio de coincidência
entre a capacidade judiciária e a capacidade de exercício, determinado no artigo 15ºnº2: a
capacidade judiciária tem por base e medida a capacidade do exercicio de direitos.
Logo, vou ter de ver no plano substantivo quais são as entidades que têm e não têm capacidade de
exercício para depois fazer uma transposição para a capacidade judiciária. Aqui ao contrário da
personalidade já não estamos a falar de uma suscetibilidade, mas numa medida – a capacidade de
exercício é a medida de direitos e deveres de que o titular é suscetivel de exercer pessoal e
livremente. Isto significa que eu posso ter uma maior ou menor capacidade judiciária.
1. Menores
2. Maioridade acompanhada
Cada uma delas tem diferentes âmbitos de incapacidade, ou seja, alguem que tem incapacidade de
exercício não significa que essa seja genérica, pode ser específica, particular e portanto temos de ir
verificar os regimes do incapaz para depois transpor esses regimes para um plano processual. Pode
haver direitos que o incapaz pode exercer pessoal e livremente e outros que não pode, a mesma
coisa no plano processual – temos de fazer portanto uma pequena incursão no regime substantivo
da capacidade de exercício para depois fazermos esta transposição para o plano processual.
A diferença entre estas duas situações é que os menores sofrem de uma incapacidade genérica de
exercício, enquanto os maiores acompanhados têm uma incapacidade de exercício
relativa/pontual/limitada a certos atos. Isto tem influencia depois no regime processual da
incapacidade judiciária.
(PLANO SUBSTANTIVO)
Os atos do artigo 127º podem ser praticados pelo menor sozinho (exemplos: negócios relativos à
profissão que o menor tenha sido autorizado a exercer, os negócios próprios da vida corrente do
menor) – são tudo exceções à incapacidade de exercício do menor.
Esta incapacidade genérica de exercício dos menores é suprível através da forma da representação
e o meio de suprimento podem ser as responsabilidades parentais ou subsidiariamente a tutela ou
administração de bens. Aquele que seja o representante do menor para suprir a sua incapacidade
vai substituí-lo.
A regra é a de que o meio de suprimento da capacidade dos menores é feita atraves das
responsabilidades parentais – artigos 1877º a 1926º CC
Quando por algum motivo não sejam os pais a representar o menor temos outros regimes
subsidiários: o caso da nomeação de um tutor ou administração de bens.
o Tutela – artigos 1921º a 1966º
o Administração de bens – artigos 1967º a 1972º CC
(PLANO PROCESSUAL)
No plano processual o menor não está a praticar nenhum ato material, portanto não posso dizer
que há a prática de um ato, está a propor uma ação.
Exemplo: um menor vende um imóvel de que é proprietário e com a representação dos pais e
depois o comprador não paga o preço – Pode o menor propor a ação sozinho sem a representação
dos pais para que vendedor seja condenado a pagar o preço?
Poderíamos dizer que isto não é um ato de natureza material, mas processual, para além
disso, não está em causa a prática de um ato é apenas a defesa do seu património, e
portanto, a incapacidade do menor se calhar não é equiparável, ou pode-se considerar que
está nas exceções do artigo 127º CC, é um ato na vida corrente do menor, está a defender
o seu património – não pode ser assim.
o Olhado aos 3 exemplos, como é que faço a equiparação entre o artigo 127º CC (as
exceções) e estes 3 casos?
O que eu tenho de ver na ação é sempre averiguar se as possiveis
consequências negativas da ação para o menor se correspondem
ou não a atos que o menor podia praticar sozinho, pessoal e
livremente. – temos de ver qual é o pior resultado que pode
resultar desta ação (contra o menor, no fundo se o menor for réu,
se for condenado, ou se o menor for autor, se o réu for absolvido)
e se na pratica essas consequencias não são consequencias que no
plano material o menor não pode praticar:
No exemplo 1 – o pior que pode acontecer ao menor é o reu ser
absolvido. Supomos que o menor exerce mal o seu direito de ação e o réu
é absolvido não sendo condenado a pagar o preço, como no plano
material não pagou o preço, na prática o que o menor está a conseguir
através desta ação é dispor sozinho de um direito que não poderia dispor
se fosse no plano substantivo. Ou seja, se não estiver representado vai
conseguir indiretamente praticar um ato que não poderia praticar se fosse
no plano material (que era pegar no bem e dá-lo ao comprador, porque
isso que acontece na realidade através da ação).
Relativamente ao princípio da submissão aos limites substantivos
vimos que através do processo não se pode defraudar o direito
substantivo. Não se pode conseguir através do processo algo que
não é permitido pelo direito substantivo.
o Se o menor pudesse estar sozinho em juízo a discutir isto
na prática estava a conseguir através do processo dispor
do seu dinheiro.
Exemplo 2 – Ação de reivindicação contra o menor: se o menor perder a
ação, na prática o que vai acontecer é que pode haver um bem que vai sair
do seu patrimonio e que não poderia sai no plano material.
A razão de ser de o menor estar representado é porque o
legislador considerou que os seus interesses seriam melhor
defendidos se tivesse representado pelo poder paternal. Se o
menor está na ação não representado entao não está a defender
bem os seus direitos e, portanto, isso pode implicar a perda de um
direito que ele efetivamente tinha.
Exemplo 3 – estamos a falar da possibilidade de dispor dos seus
rendimentos do seu trabalho. Equiparar isto ao plano substantivo implica
que possamos equiparar esta equiparação á exceção à incapacidade
prevista no artigo 127ºnº1 alinea c) em que diz que o menor tem
capacidade de exercício para os negocios juridicos relativos à profissão,
arte ou oficio que tenha sido autorizado a exercer ou praticados no
exercício da profissão. Se é possivel que o menor pratique estes atos,
então também tem de ser possível que defenda ou vá a juizo defender o
seu direito no caso em que estejam em causa atos que poderia praticar no
plano material.
Maiores acompanhados:
Este regime veio substituir o regime dos interditos e dos inabilitados (alteração de 2018)
A interdição era uma forma de incapacidade mais grave e a inabilitação era uma forma de
incapacidade menos grave.
o Logo, enquanto a interdição gerava uma incapacidade genérica de exercício
equiparável aos menores, a inabilitação dependia do caso concreto e da sentença
embora tivesse um conteudo minimo que implicava a incapacidade de exercicio
para atos de disposição interditos.
Houve uma alteração destes regimes para os adaptar à realidade atual pela figura do maior
acompanhado. Assim, hoje encontramos o regime dos maiores acompanhados e o
processo correspondente nos artigos: 138º e ss. CC e temos um processo especial que
permite a decretação da maioridade acompanhada no CPC (é uma forma de processo
especial porque tem uma série de questões próprias para as quais não é adaptado o
processo de declaração comum).
O artigo 138º CC esclarece a quem é que se aplica o regime da maioridade acompanhada: “aplica-
se a todos aqueles que por razoes de saude, deficiência ou pelo seu comportamento, estão
impossibilitados de exercer plena, pessoal e conscientemente os seus direitos ou cumprir os seus
deveres” – engloba todas as situações que antes cabiam na interdição e inabilitação.
Resulta do artigo 145ºCC que tudo depende da sentença que decreta a maioridade
acompanhada.
o Ou seja, o juiz deve decidir no caso concreto qual é o regime mais adequado ao
acompanhamento podendo escolher se a sua incapacidade vai ser genérica,
pontual, se se aplica apenas a certos tipos de atos (como os de disposição,
administração, etc), se o meio de suprimento é através da representação ou
assistência, …
o No plano da maioridade acompanhada não há limites, o limite é o interesse do
maior acompanhado – deve ser criado o regime mais favorável à sua situação
concreta.
(PLANO PROCESSUAL)
Aqui é mais difícil porque não temos uma incapacidade genérica de exercício, tenho de ir à
sentença para perceber se existe ou não no caso concreto uma incapacidade judiciária.
Vamos olhar para o respetivo regime que resulta da sentença e fazer o mesmo quanto aos
menores:
Tenho de ver na sentença quais são os atos que o maior acompanhado pode ou não
praticar no plano substantivo – temos o princípio da equiparação – e ver se o maior pode
estar ou não sozinho em juízo.
o Mesmo que não possa estar sozinho e tenha de estar representado por alguém, o
artigo 19ºnº1 CPC é muito claro no sentido de: quer estejam ou não representados
por alguém, os maiores acompanhados têm de ser sempre citados para a ação
(citados ou notificados consoante sejam autores ou réus)
Portanto, o maior acompanhado não é alguem que sofre de uma
incapacidade tao plena como os menores. E, por isso, do artigo 19º resulta
que apesar de tudo há sempre uma intervenção do maior acompanhado.
Exemplo 1: a sentença dizia que o maior não podia praticar atos de disposição de bens
entre vivos sem ser com a representação do seu tutor.
o Neste caso decorrente da sentença o regime de suprimento da incapacidade era a
representação do tutor.
o Se o maior acompanhado está sozinho numa ação de reivindicação de um certo
bem, já sei que a pior consequência que pode resultar dali é que o maior
acompanhado perca aquele bem, portanto na prática pode estar a praticar através
do processo um ato de disposição de bens entre vivos sem a representação do seu
tutor se estiver sozinho na ação.
É exatamente o mesmo plano e o mesmo exercício que temos de fazer,
temos de ver qual é a consequência pior da ação e fazer a correspondente
transposição.
Exemplo 2: se os atos de administração de bens do maior acompanhado estavam
subtraídos à sua incapacidade, portanto, livremente poderia praticar qualquer ato de
administração de bens, por exemplo a gestão de uma quinta de que é proprietário. Se o
que estiver em causa for um ato de gestão normal da quinta (apanha da fruta, etc) então
se calhar uma ação/litígio que diga respeito a essa questão, nesta ação já poderá estar o
maior acompanhado sem qualquer representação.
A regra é de que quando seja suprível, o juiz tem de oficiosamente tratar do suprimento da
falta de pressupostos processuais.
Este pressuposto é suprível, já não estamos na falta de personalidade judiciária mas de
uma impossibilidade de o incapaz estar por si só em juizo, por isso, naturalmente que a
forma de suprimento será o tribunal chamar a juizo para representar o incapaz aquele que
tenha o poder legal de o fazer. Esta será a forma de suprir esta incapacidade.
A incapacidade de exercício dos menores é suprida como regra pelo poder paternal e a questão
que se coloca no plano substantivo e também se transpõe para o plano processual é saber, quando
a representação do menor é feita pelo poder paternal com pais casados, se têm de estar presentes
os dois ou se basta a presença de um para suprir a incapacidade de exercício do menor:
Em caso de divórcio o exercício das responsabilidades parentais está regulado no artigo 1906º CC e
também acaba por determinar que apenas as responsabilidades parentais relativas às questoes de
particular importância para a vida do filho têm de ser exercidas em comum pelos dois.
No plano processual pelo contrário não há uma equiparação absoluta. Podíamos ter uma
equiparação porque se aplicássemos o regime substantivo podíamos colocar a questão de se litigar
em tribunal se é uma questão de particular importância ou não: se for uma questão de particular
importancia então têm de estar os dois presentes em tribunal a representar o menor, se não for
cabe na presunção do outro cônjuge.
No entanto, o CPC esclarece no artigo 16º que é necessário o acordo e a presença de ambos os
pais para as questões processuais – nas questões processuais a presunção não vale e são sempre
necessários os dois pais. Se não estiver presente um deles então há uma irregularidade de
representação e o tribunal tem de tentar sanar esta incapacidade judiciária. A presença em juízo
de ambos os pais é fundamental e no fundo o legislador processual está indiretamente a
considerar que a propositura de uma ação é um ato de particular importância
E se não estiverem de acordo quanto à estratégia processual quer para instaurar a ação quer para
se defender da ação? O artigo 18º CPC preve várias formas de resolução, muitas vezes com a
intervenção do tribunal.
O suprimento mais evidente é o tribunal chamar a juízo os pais ou o tutor, consoante a forma de
suprimento da incapacidade. No entanto a questão não é tão simples, os representantes legais
podem vir a juízo e depois? O tribunal só toma contacto com o processo numa fase em que já há
uma série de articulados, e portanto os representantes legais chegam ao processo, consultam-no e
depois podem estar ou não de acordo com aquilo que foi feito.
Então, o que é que acontece a partir do momento em que os representantes são chamados?
Temos de fazer uma distinção entre: embora o artigo 27º não o diga
diretamente, resulta de interpretação doutrinal e de lógica de sanação
deste pressuposto que se:
Se o incapaz for réu: a não ratificação dos pais implica que
comecem a contar novos 30 dias para o prazo da contestação
o Por razões de economia processual faz sentido aproveitar
a petição inicial.
o O que é que acontece se o representante do incapaz que é
reu não ratificar a contestação e ao ter novo prazo para
contestar mesmo assim não apresenta nova contestação?
Faz sentido dizer que temos falta de pressuposto
processual, temos uma exceção dilatória e a
consequência é a absolvição do réu da instância?
Faz sentido que o reu incapaz seja absolvido da
instância se os seus representantes legais não
vierem ratificar nem apresentar nova
contestação?
Não faz sentido porque se assim fosse os
representantes legais nunca ratificariam
nem apresentavam nova contestação
porque o que o réu quer é ser absolvido
da instância. Se fosse absolvido da
instância nestas situações, os
representantes legais fariam sempre isto
para que o réu fosse absolvido.
Se os representantes legais não
apresentarem uma nova contestação,
então aplica-se o regime regra da revelia:
é como se o réu não tivesse contestado e
sofre as consequencias da revelia. – este
cas de revelia é especial, não tem revelias
tao gravosas porque se está em causa um
incapaz o legislador teve o cuidado de não
prejudicar o incapaz com a negligencia
eventual dos seus representantes.
o No entanto, se o tribunal verificar
que os representantes não
contestaram por negligência tem
o dever de chamar o ministério
público nos termos do artigo 21º
CPC para vir substituir o
representante legal e puder
representar o incapaz. – no limite,
caso haja negligencia o tribunal
pode chamar o Ministério Público
(atenção que há muitas
razões para os
representantes não
contestarem. Até podem
ter vindo ao processo e
concluir que o melhor é
não contestar do ponto
de vista da estratégia
processual, por exemplo,
porque o autor não
formulou uma boa
petição inicial). – assim,
não contestação não
significa necessariamente
negligencia).
Exemplo: está em juízo uma determinada sociedade e está representada por alguem que não é o
representante legal da sociedade – irregularidade de representação ou mesmo uma incapacidade
judiciária se não houver ninguem a representar a sociedade.
É suprida exatamente da mesma forma que as pessoas singulares – artigos 25º e 26º CPC:
o Artigo 25º : representação das pessoas coletivas e das sociedades e a forma de
sanação dessa incapacidade
o Artigo 26º: forma de representação das entidades sem personalidade jurídica
São os casos de extensão da personalidade judiciária – casos particulares
São entidades que não têm personalidade jurídica e portanto não têm
representantes legais, mas têm de ter representantes processuais.
Exemplos:
o condomínio – não tem personalidade jurídica e quem é
que o representa? O seu administrador
o herança jacente – quem é que a representa se não tem
personalidade jurídica? o administrador da herança
Quer para as pessoas coletivas do artigo 25º quer para as entidades sem personalidade
jurídica do artigo 26º aplica-se a ambas o regime da representação e da sanação da falta
ou irregularidade da representação.
AULA 9/10
Aula passada:
Há certas entidades que sofrem de uma incapacidade natural de estarem presentes, por si só,
livremente em juízo uma vez que não têm uma realidade física.
A pessoa coletiva não pode estar presente em juízo por impossibilidade natural. E portanto,
também quanto às pessoas coletivas (num sentido diferente) se fala na necessidade de estarem
representadas em juízo. Portanto, se não estiverem representadas ou se estiverem indevidamente
representadas considera-se que também esta situação exige uma incapacidade judiciária, embora
em rigor não estejamos a falar propriamente de uma incapacidade de exercício.
Sempre que em representação das pessoas coletivas ou esteja a pessoa errada em violação dos
artigos 24º e 25º, ou não esteja ninguém, diz-se que há uma incapacidade judiciária nos mesmos
termos em que vimos para os incapazes de exercício.
Por isso, quando isso aconteça, vigora também como forma de suprimento o disposto no artigo
27º CPC para as pessoas singulares:
(artigo 27º também se aplica para a falta ou irregularidade de representação das pessoas
coletivas)
Entidades sem personalidade jurídica:
Então, como é que se sana/como é que são representadas estas entidades que não têm
personalidade jurídica mas têm personalidade judiciária?
Vimos quando falámos nas consequências e na necessidade do juiz oficiosamente tentar sanar a
falta de capacidade judiciária (e a resposta para isso encontrávamos no artigo 27º “suprimento da
incapacidade judiciária e da irregularidade de representação” = diz respeito à falta de
representação como também se estiver em juízo a representar alguém que não é a pessoa certa).
Há outros casos, previstos no artigo 29º “falta de autorização ou de deliberação”: são os casos em
que a parte está devidamente representada, mas apesar disso essa representação necessitava de
uma determinada autorização e esta não foi apresentada em juizo.
Exemplo 1 - os pais representam os menores, mas há atos que estes não podem praticar
sem a apresentação da autorização do tribunal:
o Para praticar atos de disposição sobre bens dos menores, os pais apesar de
poderem representar os menores precisam de autorização do tribunal (resulta do
artigo 1889º CC). Transpondo este artigo 1889º CC para o plano processual,
evidentemente que se tiver a ser discutido um litígio em que está em causa um ato
de disposição, os pais representam os menores mas precisam de estar também
autorizados especificamente pelo tribunal para o efeito.
Não é pelo tribunal em que está a ser decidida a questão, é pelo tribunal
de família de menores que oportunamente terá de dar autorização para a
pratica do ato de disposição.
o Se a autorização faltar: aplicamos para a sanação da falta de autorização o
disposto no artigo 29º em que o tribunal designa o prazo para que o representante
obtenha essa autorização. Determina um prazo e suspende o processo para esse
efeito.
Uma coisa é a falta de representação ou a irregularidade da representação que no fundo gera uma
incapacidade judiciária em sentido restrito, outra coisa é a falta de autorização para o
representante estar ali a representar o incapaz. Nesse caso, o que se aplica é o artigo 29º que são
situações diferentes, há uma incapacidade judiciária no sentido mais amplo.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 4: o patrocínio judiciário)
Quando se fala do patrocínio judiciário em sentido rigoroso falamos da representação em juízo por
advogados, porque se estou a falar do patrocínio judiciário como pressuposto processual estou a
falar do patrocínio judiciário quando seja obrigatório.
Só quando o patrocínio judiciário seja obrigatório é que é um pressuposto processual, se
estivermos perante uma ação em que não é obrigatório patrocínio judiciário então não é um
pressuposto processual e pode ser representado por qualquer profissional do foro, não gera
qualquer exceção dilatória. – O que interessa como pressuposto processual é a representação por
advogado.
As Desvantagens são evidentes e daí o legislador não ter imposto em todas as ações judiciárias
As Vantagens:
O processo em si é levado a cabo mais rápido que vai por os seus conhecimentos técnicos
ao serviço do seu cliente e da administração da justiça (o reverso da medalha da
morosidade). – conhecimentos técnicos são uma vantagem
Mesmo em relação a alguém que tenha conhecimentos de direito, também é uma
vantagem o distanciamento psicológico do caso. “ninguém é bom advogado em causa
própria” e, portanto, é mais benéfico quando não é a própria parte a representar-se a si
mesma. É dificil ter distanciamento relativamente a uma causa em que estão envolvidos
interesses próprios. O advogado, apesar de também ter um interesse próprio porque claro
que está a ser pago para o efeito, o objeto do litigio nada tem a ver com o patrocínio
judiciário sendo, portanto, mais fácil para o advogado tomar decisões estrategicamente
convenientes e dos interesses da parte do que se fosse a própria parte em litigar em causa
própria.
o Isto não significa que não possa ser advogado em causa própria, mas apenas nos
casos em que não seja obrigatória a constituição de advogado. Só nos casos em
que o patrocínio judiciário não seja pressuposto processual (há casos em que se
quiser ser advogado em causa própria o posso ser).
Capacidade ou incapacidade judiciária – outro pressuposto processual mas não se confunde com o
patrocínio judiciário:
Embora a confusão compreende-se porque nos 2 casos há uma representação, ou seja, nos
dois casos (incapacidade judiciária está em causa a representação dos incapazes e o caso
dos advogados que acabam por representar a parte na condução do processo) estao em
causa duas representações.
Portanto como é que se distinguem os dois tipos de representações?
o São representações em planos diferentes e podem/devem conviver as duas
quando exista uma incapacidade judiciária.
Exemplo, quando uma das partes é menor e é representada pelos seus
pais não significa que não tenha de estar simultaneamente representada
por um advogado -
Uma das representações (representação dos pais) é no plano da
substituição de vontades – por exemplo, quem vai contactar o
advogado são os pais porque estao em substituição da vontade do
menor. Temos 2 níveis de representação: um técnico-jurídico
(advogado) e outro de substituição de vontades (pais).
Pelo contrário, o advogado não está ali a substituir a vontade do
seu cliente/do seu representante. Está para conduzir
juridicamente/tecnicamente o processo – é apenas em decisões
técnicas, não é o advogado que decide qual é a historia que vai
contar, pode aconselhar contratar um perito para apresentar
provas periciais mas quem decide são os pais que estão a
representar a parte.
Há vários níveis de representação no processo: representante legal, advogado, e mesmo o
próprio advogado, tal como determina o artigo 50º CPC, pode fazer-se acompanhar por
uma espécie de especialistas técnico em matérias de que não tenha tanto conhecimento,
em áreas não jurídicas.
o Exemplo: caso que tenha a ver com responsabilidade civil médica em que há uma
série de questoes não jurídicas que são relevantes para o caso – o proprio
advogado tem de se socorrer de auxiliares, por exemplo, de médicos que possam
ajudá-lo a construir a ação e depois durante o julgamento sugerir perguntas para
fazer às partes ou testemunhas.
o Portanto em juizo, sobretudo na audiência, é possível estarem presentes várias
partes que não são só a parte.
Apoio judiciário:
Como é que se constitui mandatário no processo? Ou seja, querendo a parte constituir advogado
no processo, como é que o faz?
Se eu digo a um advogado que quero que ele me represente na ação estou a celebrar um contrato
de mandato com esse advogado – a base contratual que estabelece a relação entre o advogado e
a parte é um contrato de mandato.
Artigo 1157º CC - definição do contrato de mandato: Contrato pelo qual uma das partes se
obriga a praticar um ou mais atos juridicos por conta da outra/no interesse da outra.
Um contrato de mandato pode ser acompanhado, ou não, por poderes de representação:
o Mandato com representação – 1178º e 1179º CC
os efeitos dos atos que o mandatário pratique projetam-se diretamente na
esfera juridica do mandante.
o que o advogado faça produz os seus efeitos diretamente na
esfera jurídica do cliente.
o Mandato sem representação – 1180-1184º CC
Os efeitos da pratica do ato projetam-se na esfera juridica do mandatário
que depois precisa de transmitir ao mandante. Não há uma produção de
efeitos imediata na esfera juridica do mandante como se fosse ele próprio
a praticar o ato.
A constituição de advogado apenas pode ser feita através de mandato com representação.
o Porque se não fosse um mandato com representação os efeitos jurídicos da ação
produziam-se na esfera do advogado e não do cliente que não faz sentido – o
contrato que está por trás do patrocínio judiciário é um mandato com
representação.
Artigo 43º CPC: normalmente este mandato é formalizado através da conceção ao
advogado de uma procuração a atribuir poderes forenses ao advogado que tem como
regra a forma escrita.
o Alinea a) - normalmente as partes atribuem procuração ao advogado através de
um documento particular.
É o proprio advogado que muitas vezes tem a minuta da procuração e que
atribui ao cliente que preencher essa minuta. Portanto, muitas vezes é
através de um documento escrito particular que se junta ao processo em
tribunal quando se inicia a ação.
o Alinea b) – também é possível que o mandato seja concedido através de uma
declaração verbal da parte no auto ou qualquer diligência que se pratique no
processo.
Exemplo: há uma parte que não juntou procuração ao processo e que
perante uma audiência em tribunal o advogado está presente e a atuar
como se fosse mandatário. Mesmo que não tenha junto procuração pode
estando a parte presente transmitir ao tribunal verbalmente que aquele é
o seu mandatário e, portanto, aquela declaração verbal também vale
como concessão do mandato ao advogado.
Não é muito comum, pode acontecer em casos de substituição do
mandatário, por exemplo: situações em que já tinha junto ao processo
uma procuração mas entretanto esse advogado renunciou ao mandato e
durante a audiência de julgamento a parte aparece com outro advogado
no processo e aí basta uma declaração verbal para ficar substituído o
mandatário.
É possível que o mandato seja concedido a mais do que um advogado: o mandato pode ser
concedido a vários advogados que são a equipa que vai trabalhar no processo e, portanto, pode
um advogado ter poderes para subscrever a petição inicial e outro estar presente em juízo na
audiência de julgamento. Portanto, não é necessário que o mandato seja unipessoal apenas
quanto a um advogado.
Nº2 – “nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está o de substabelecer o
mandato”: ou seja, é preciso que a procuração diga expressamente que não é possível o
substabelecimento para que o advogado não possa delegar os seus poderes noutro
mandatário.
o Tem de ser por escrito, mas regra geral pode fazê-lo.
Quais são os conteúdos/poderes atribuídos ao advogado através deste contrato de mandato?
Resposta está nos artigos 44º-46º do CPC
Nº1 – “o mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e
termos do processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante os tribunais superiores,
sem prejuízo das disposições que exijam a outorga de poderes especiais por parte do
mandante” – logo, temos de distinguir 2 tipos de poderes:
o Poderes forenses gerais – são em geral os poderes para representar a parte em todos
os atos que venham a ser praticados na ação ou nos recursos, portanto, enquanto a
ação estiver pendente.
São poderes gerais, possibilidade de um mandatário praticar todos os atos
relativos à generalidade dos atos praticados em juízo seja em 1ª instância ou
em sede de recurso.
Basta atribuir procuração ao advogado e presume-se que todos esses poderes
estao a ser concedidos ao advogado.
o Poderes forenses especiais – os poderes para a prática de certos atos que têm de estar
expressamente referidos na procuração para que o advogado os tenha. São poderes
quanto a atos mais gravosos:
São os poderes de confessar, desistir ou transigir na ação – são os chamados
negócios processuais
São negócios processuais muito gravosos.
É preciso que a parte tenha consciência de que estes poderes podem
ser decisivos para o desfecho da ação.
o Por isso é que:
O Nº2 determina que os mandatários judiciais só podem ter estes poderes forenses especiais
“quando estejam munidos de procuração que os autorize expressamente a praticar qualquer
desses atos”.
Para além destes poderes contidos no mandato há uma situação afim desta, que tem uma
regulamentação intermédia – tem a ver com a confissão de factos. Logo, a pergunta é, no âmbito
dos poderes do mandato judicial:
Em que medida é que o advogado pode ou não, mesmo sem poderes especiais, confessar factos?
Confissão de factos – podem acontecer no processo, não é um negócio processual que põe fim ao
processo. Uma das partes está apenas a admitir a verdade de certos factos alegados pela
contraparte, pode acorrer da parte do réu como do autor. É a admissão pontual de factos e
portanto, em rigor, não está coberto pelas regras da necessidade de atribuição de poderes
forenses gerais.
Apesar da confissão de factos não ser tão grave como a confissão do pedido, claro que a
confissão de alguns factos também pode ter consequências gravosas.
A confissão de factos é um meio de prova e esta confissão tem um valor probatório muito
elevado – está subtraída à livre convicção do juiz (há certas provas de valor mais elevado
que estão subtraídas á livre apreciação do juiz e um desses casos é a confissão de factos
como meio de prova):
o se confesso um facto que me é desfavorável, é natural que ele tenha um valor
probatório muito elevado, porque se é o próprio a quem o facto é desfavorável
que está a admitir o facto, a probabilidade daquela confissão ser verdadeira é
altíssima. Por isso se diz que a confissão é a rainha das prova.
o Os artigos 356º e ss. do CC regulam o valor probatório da confissão:
o artigo 356º diz que há vários tipos de confissão começando logo por
definir o que é uma confissão judicial espontânea: aquela que é feita nos
articulados, podendo ser feita também durante o processo.
o artigo 358º diz-nos que tem força probatória plena contra o confidente –
significa que o tribunal tem de dar o facto como provado.
Isto tudo para demonstrar que a confissão de factos é extremamente relevante devido ao seu valor
probatório. Logo, pode ou não o advogado em nome do cliente confessar apenas factos?
O artigo 46º:
Basta conceder poderes forenses especiais para se incluir a confissão de factos, porque quem pode
o mais pode o menos, é menos gravoso a confissão de factos do que a confissão do pedido ou a
desistência.
AULA 12/10/2023
Vimos que é um pressuposto processual mas apenas nas ações em que a lei impõe a constituição
de advogado, e estes casos estao taxativamente previstas no artigo 40ºnº1 CPC:
Alínea b) – “nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor”:
o A regra do artigo 629ºnº1 é a de que não recurso independentemente do valor (é
necessário a verificação dos 2 requisitos).
o No entanto, há casos excecionais que estão no 629ºnº3:
Há certas ações em que o recurso é sempre admissível sem contar com o valor
da alçada – ou seja, situações em que mesmo que a causa tenha um valor de 2
mil euros é sempre admissível recurso.
São casos que o legislador considerou independentemente do valor que está
em causa, colocam em causa valores de outra natureza não patrimonial e que
são valores que devem ser tutelados.
a razão de ser de admissibilidade de recurso independentemente do
valor da ação está no valor legal atribuído ao direito.
Contempla situações que o legislador achou de extrema importância, e
portanto, mesmo que sejam 2 mil euros, são suscetíveis de recurso
Por essa mesma razão, nestas causas também é sempre obrigatória a
constituição de advogado.
Exemplo: os casos mais evidentes são os casos das ações de despejo, nestas
ações é sempre obrigatória a constituição de advogados seja qual for o valor.
Artigo 577º h) CPC: é exceção dilatória “a falta de constituição de advogado por parte do autor”.
Apenas diz por parte do autor, o que significa que aparentemente só a não constituição de
advogado por parte do autor é que gera absolvição do réu da instância.
Artigo 278º CPC não fala expressamente do patrocínio judiciário, no entanto existe a alínea e) que
é uma cláusula aberta: “o réu é absolvido da instância quando o tribunal julgue procedente alguma
outra exceção dilatória”
Porque não faria sentido absolver o réu da instância se ele não constituísse advogado porque
assim nunca nenhum réu constituiria advogado para ser absolvido da instância – seria uma forma
fácil do réu se desfazer da ação contra ele intentada.
O artigo 41º: o juiz oficiosamente, antes de estabelecer a consequência para a falta de constituição
de advogado, deve oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, notificar a parte sem
advogado para constituir advogado dentro de um certo prazo que o juiz visa.
Logo, é uma exceção dilatória sanável nos termos gerais do artigo 6ºnº2 que nos diz que o
juiz ao abrigo do seu poder de gestão processual deve tentar sanar oficiosamente a falta
de pressupostos processuais – 1º aspeto: o juiz notifica a parte para constituir advogado
dentro de certo prazo.
2º aspeto: Se a parte não constituir advogado, a consequência é: “réu ser absolvido da
instância”; “não ter seguimento o recurso”; “ficar sem efeito a defesa” – legislador
estabelece aqui 3 consequências possíveis e temos de em articulação com os outros
artigos do regime determinar das 3 consequências a mais adequada para a não
constituição de advogado na sequência do convite do juiz.
o 1ª consequência – absolvição do réu da instância:
Já vimos que apenas pode ser consequência na falta de constituição de
advogado por parte do autor, só esta é exceção dilatória (577º h) + 278º
e) CPC)
Acontece quando o autor não constitui advogado desde o início nem na
sequência do convite do juíz.
o 2ª consequência – não ter seguimento o recurso:
Só faz sentido na pendência dos recursos portanto isto não faz sentido
quando estamos a falar de uma causa de 1ª instância – só falamos dos
casos de pendência de recurso e nestes casos fica sem efeito o recurso
que foi interposto, não segue o recurso.
o 3ª consequência – ficar sem efeito a defesa:
Este caso é aquele que mais se adequa para a falta de constituição de
advogado por parte do réu.
Ou seja, se o réu apresenta uma contestação e esta não está assinada por
advogada, portanto não está representado por advogado, significa que o
tribunal não vai considerar essa contestação o que significa que o réu vai
ser considerado em revelia com todas as consequências que daí advém.
No fundo a maior sanção para o réu para o pressionar de alguma forma a
constituir advogado é esta dizendo que se não tem advogado a ação não
para mas aquela defesa é como se não existisse.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 5: Legitimidade)
Legitimidade:
É necessário, para que o tribunal conheça da ação, que as partes sejam partes legitimas. Não basta
a personalidade, capacidade, que estejam devidamente patrocinadas, têm de ser partes legitimas
processualmente.
Legitimidade singular: Há apenas 1 autor e 1 réu em juízo e temos de saber se estas são
partes legitimas
o A questão prende-se em saber se aquele autor e aquele réu têm ou não esta
relação direta com o litígio para puderem estar os dois em juízo ou se quem tem
de estar é um terceiro que substitua alguma das partes.
Legitimidade plural: Quando numa ação existam uma pluralidade de partes (do lado ativo,
passivo ou em ambos os lados)
o Nesta legitimidade plural já falamos de uma coisa diferente que é saber se podem
estar todos em juízo, saber se são todas partes legitimas.
Legitimidade Singular:
Quando se diz que parte legítima é ter uma relação direta com o objeto do litigio, no fundo
quem tem uma relação direta com o objeto do litigio são os sujeitos da relação material
controvertida.
o = relação material que está a ser discutida no processo. A questão material que é
objeto de litígio.
o No fundo sei qual é o objeto de ação, este objeto de ação cria ali uma relação jurídica
e eu vou saber quem são essas partes (como no caso da compra e venda, vou saber
quem são as partes da compra e venda que está a ser discutida em litígio) e essas são
as partes legitimas.
No inicio do século passado, mais concretamente a partir de um acórdão de 1918 da Relação
de Lisboa, levantou-se uma questão que dividiu a doutrina em duas interpretações sobre o que
é ser parte legitima:
o O que estava na base do litigo do acórdão era a realização de um contrato de compra e
venda de toneladas de chumbo e o autor (que era o comprador B) vinha alegar que o
vendedor não cumpriu totalmente a obrigação que tinha assumido para com ele, no
fundo não tinha entregue o chumbo acordado, e vem propor uma ação a exigir a
entrega do chumbo em falta ou em alternativa o pagamento de uma respetiva
indemnização. A ação foi proposta contra um comerciante português (o réu) e o réu
veio alegar e provar que agiu naquele contrato como um mero intermediário de uma
sociedade espanhola que era o verdadeiro vendedor – o que o réu vem dizer é que, ao
contrário do que diz o autor eu não fui o vendedor, era o mero intermediário e
portanto quem é o verdadeiro réu ou quem devia ser o réu era a sociedade espanhola.
A partir daqui suscitou-se uma discussão em torno de qual devia ser o critério
da legitimidade singular:
o Posição de Coimbra, do professor José Barbosa de Magalhães:
Considerava que a relação controvertida que devia
servir de base era a relação controvertida descrita
pelo autor na ação, e portanto o que contava era o
que o autor dizia.
aplicando ao caso do chumbo: se o autor
indicou B como o vendedor então ele era
parte legítima.
o Outra questao diferente era saber se
efetivamente B vendeu, se não tiver
vendido entao ele vai ser absolvido do
pedido – já é uma questao de mérito.
Razão de ser:
estando em causa um pressuposto processual,
este tem de ser aferido de forma liminar. Não
posso estar à espera de perceber quem é a
parte efetiva da relação jurídica existente
porque isso implica operações de prova (por
exemplo, que o juiz entre um bocadinho no
mérito da causa, e entrar no mérito da causa
não se justifica quando é para aferir à partida
da existência ou não de um pressuposto
processual). Logo deverá ser suficiente uma
análise superficial do litigio para perceber se a
parte é legitima ou não, não posso precisar de
chegar ao fim da ação depois de produzida a
prova para decidir na sentença se a parte é ou
não parte legítima. Por isso, considerava que
não fazia sentido ir à relação juridica
efetivamente existente.
Para o réu, se no final se concluir que o réu
não foi o verdadeiro vendedor e que foi
apenas um intermediário, é preferível ser
absolvido do mérito do que ser absolvido
meramente da instância na sentença. Neste
sentido também é mais protetor do réu que
no fim se se concluir que era um mero
intermediário que ele seja absolvido do
pedido, porque uma absolvição do mérito
significa que não pode mais ser incomodado
com a questão enquanto numa absolvição
apenas da forma permite que ele volte a ser
incomodado.
Legitimidade – significa uma relação da parte com a relação material controvertida (= atuação
juridica que esta em litígio)
Principal critica a esta adoção: seria muito superficial esta apreciação da legitimidade,
sendo que não existiriam praticamente casos de ilegitimidade e no fundo a sentença a
professor seria inútil porque iriamos ter uma sentença de mérito relativamente a partes
que não eram as partes da relação controvertida descrita e portanto poderia gerar uma
inutilidade da sentença que é exatamente o objetivo contrário ao conceito de legitimidade
das partes.
Neste artigo está consagrada a teoria das partes da relação controvertida tal como é
descrita pelo autor – portanto o saber se foram ou não aquelas partes que na prática
foram as partes da relação jurídica já é uma questao de mérito, não é uma questão de
pressuposto processual. É uma questao de mérito e portanto ilegitimidade só existe se o
autor disser, por exemplo, que contratou com B e afinal chama C como réu que não tem
nada a ver com a história que conta, aqui sim seria ilegitimidade.
Legitimidade plural:
Quando falamos em cumulação subjetiva de partes (= legitimidade plural) nem todas a cumulações
subjetivas revestem a mesma natureza. Ou seja, podemos ter consoante a sua natureza vários
tipos de pluralidade de partes – posso ter uma pluralidade de partes em que todas as partes fazem
parte da mesma relação juridica, são sujeitos da mesma relação juridica controvertida que está a
ser discutida, ou posso ter em juizo várias partes que fazem parte de relações jurídicas
controvertidas diferentes.
1. A uma pluralidade de partes corresponde apenas uma relação material controvertida: litis
consórcio
Exemplo 1: A empresta a B, C e D a quantia de 2 mil euros. A obrigação
não é cumprida, não é devolvida a A e este quer instaurar uma ação contra
os 3 (B,C e D). logo temos uma dívida contraída pelos 3 e são instaurados
em juízo – o que nos interessa aqui é ver o tipo de pluralidade de partes
em causa
há apenas uma relação material controvertida em juízo porque o
que está subjacente é o contrato que foi celebrado em conjunto
com os três e que não foi cumprido (para o efeito são irrelevantes
as circunstâncias particulares de B,C e D.
o A consequência: apesar da pluralidade de partes normalmente o pedido será só
um, vamos ter um pedido comum a todos – o que o autor vai pedir é que os
autores sejam condenados a pagar, é uma consequência que está em causa à
mesma relação controvertida
o Estamos perante um litis consórcio – no litis consorcio existe, apesar da
pluralidade de partes, apenas uma relação material em litigio que junta todas das
partes.
A questão é saber quais são os requisitos que são necessários para que todas as partes possam
estar coligadas em juízo sejam elas autoras ou rés.
O legislador admite a coligação de partes por razões de economia processual – é muito melhor
que os 3 autores estejam na mesma ação juntos contra o mesmo réu com base em factos
semelhantes do que cada um ir instaurar a sua ação para conseguir a sua indemnização, portanto,
é uma vantagem do ponto de vista de economia processual.
No entanto tem de existir necessariamente uma relação entre os 3 pedidos porque se não
existir uma relação há um desperdício de economia processual.
o Se não existir nenhuma relação entre estas 3 relações controvertidas isto pelo
contrário, não vai agilizar o processo, só vao fazer demorar mais o processo – daí a
necessidade de requisitos para ser possivel juntar tudo na mesma ação.
O regime está entre os artigos 36º, 37º e 555º CPC. O regime da legitimidade das partes está entre
artigo 30º-39º CPC e o que se refere à coligação: 36º e 37º CPC
1. Ligação entre os pedidos (artigo 36º) – conexão entre os diversos pedidos formulados na
mesma ação
i. há outras situações processuais que vamos estudar e que vamos perceber
que também é necessária esta ligação entre os pedidos.
1. Por exemplo: os pedidos reconvencionais – é um pedido
formulado pelo réu contra o autor. Para a formulação de pedidos
reconvencionais é necessário que haja uma certa ligação entre o
pedido do réu e o pedido do autor senão não se justificava que
aquele pedido reconvencional pudesse ser formulado na mesma
ação.
b. Quais são as ligações entre pedidos que o legislador considerou relevantes para
admitir a coligação? São os previstos no Artigo 36º
i. Nº1 e Nº2 são alternativos – desde que se verifique uma das ligações
previstas no nº1 ou nº2 do artigo 36º é suficiente para ser admitida a
coligação quanto a este pressuposto.
1. Artigo 36º Nº1 – mesma causa de pedido:
a. Exemplo 1: caso do acidente de viação previsto à pouco
i. A causa de pedir para todos os autores lesados é
o mesmo acidente – aqui está uma relação em
que apesar de serem relações jurídicas diferentes
a causa de pedir é a mesma.
ii. É muito comum nas situações em que um mesmo
ato/ uma mesma realidade provoca lesões a
vários lesados diferentes.
b. Exemplo 2: uma empresa farmacêutica põe e a circular
um medicamente que causa lesões a várias doentes e
eles juntam-se para acionar a empresa farmacêutica –
causa de pedidos é mesma e única ainda que cada um vá
alegar danos diferentes, danos de causalidade diferentes,
etc.
iv. Aplica-se este requisito por maioria de razão à coligação de autores e réus
Se for a violação do requisito da ligação dos pedidos (da conexão do artigo 36º):
o Nos termos do artigo 577º alinea f) estamos perante uma exceção dilatória que
como consequência, nos termos do artigo 278º, gera a absolvição do réu da
instância
o No entanto, o artigo 38º prevê a possibilidade de sanação desta exceção dilatória
ao estabelecer que ocorrendo coligação sem que entre os pedidos exista a
conexão exigida pelo artigo 36º, o juiz notifica o autor para indicar qual os pedidos
pretende ver apreciado. – se não existir esta relação, o autor pode ao menos
escolher um dos pedidos para que o tribunal conheça de um deles.
Litis consórcio: situações em que existe uma pluralidade de partes mas apenas 1 relação material
controvertida
No litis consórcio a questão coloca-se de forma diferente daquela que se põe na coligação.
o porque à partida uma vez que estamos perante apenas uma relação material
controvertida, já está garantida a ligação entre as várias partes. Se todas fazem parte
de uma mesma relação jurídica então não se justifica exigir todos os requisitos que são
exigidos para a coligação porque alguns vão estar já garantidos (conexão entre os
pedidos, competência, incompatibilidade substantiva).
A questão põem-se em termos de saber se: havendo várias partes de uma mesma relação
jurídica, têm de estar todas presentes ou se basta estar uma presente para garantir a
legitimidade?
Exemplo – caso de compra e venda em que temos dois vendedores (A e B) e o
comprador não paga o preço (C).
o O A tem de se associar a B que também é titular da relação controvertida ou pode
sozinho de forma legitima propor a ação contra C (apenas A apesar de serem dois
elementos)?
o Temos de distinguir entre dois casos:
Litis consórcio voluntário – quando basta a presença de uma das partes da
relação jurídica para garantir a legitimidade das partes
Neste caso o autor sozinho poderia propor a ação contra o réu e seria
parte legítima
Litis consórcio necessário – exige que estejam em juízo todas as partes da
relação controvertida para garantir a legitimidade de todas as partes
Neste caso, A e B teriam de propor a ação contra o réu juntos para
serem partes legítimas.
Assim, a dúvida que se coloca é saber se o litis consórcio deve ser voluntário ou necessário:
Nº2 artigo 32º - prevê casos em que se a lei ou negócio permitir que o direito seja exercido
por um só ou que a obrigação comum seja exigida de um só dos interessados, basta que
um deles intervenha para assegurar a legitimidade
o Ou seja, há casos em que apesar de intervir apenas uma das partes na relação
jurídica controvertida o tribunal pode conhecer da totalidade do pedido.
o A lei ou o negócio podem permitir que o tribunal conheça do todo o interesse em
causa:
Exemplo 1: empréstimo que A faz a B, C e D no valor de 10 mil euros, tinha
ficado convencionado que a obrigação que resulta para os devedores é
uma obrigação solidária.
Se ficar convencionado que a obrigação é solidária, ainda que o A
demande apenas um dos devedores o tribunal pode conhecer da
totalidade da dívida dos 10 mil euros, não precisa de conhecer por
quotas-partes. Porquê? Porque ficou convencionado entre as
partes que a regra seria a solidariedade.
o Depois o direito de regresso vai ter de ser discutido numa
ação à parte porque apenas as partes que estão em juízo
ficam vinculadas pelo caso julgado. Se o devedor quiser
pode é chamar os outros a juízo na ação ficando estes
vinculados para efeitos de direito de regresso, mas se não
o fizer terá de discutir o direito de regresso noutra ação.
o (e não a conjunção que é a regra na falta de estipulação
das partes) – logo é um caso em que o negócio entre as
partes (a convenção entre as partes) permite que o
tribunal, apenas estando presente um deles, conheça de
toda a quota-parte, de todo o interesse que está ali em
causa.
Exemplo 2: comproprietários de uma coisa em que um deles instaura uma
ação de reivindicação sozinho.
Nos termos do 32ºnº1 o tribunal só podia reconhecer a
reivindicação daquela quota-parte. No entanto, o artigo 1405ºnº2
CC permite que apenas um dos comproprietários reivindique a
coisa na sua totalidade de um terceiro. A lei permite que o
tribunal conheça da totalidade da quota-parte.
o Mais um caso de exceção da regra que o tribunal só
conhece da quota-parte no caso de litis consórcio
voluntário.
1)Litis consórcio necessário legal (Nº1): existe sempre que a lei exija que estejam presentes todos
em juízo para garantir a legitimidade.
Exemplo 2: ações que têm de ser proposta por ambos ou contra ambos os cônjuges,
situações em que está em causa bens comuns ou próprios consoante o regime de bens.
Artigo 34ºnº2 CPC prevê estes casos, de litis consórcio necessário ativo ou
passivo porque nesses casos é necessária a presença dos dois.
o Ambos os cônjuges são titulares da relação material controvertida mas a lei não
permite que esteja presente apenas um a discutir a sua quota-parte, o interesse
tem de estar nos dois nos casos do artigo 34º CPC.
AULA 19/10/2023
Aula passada:
2)Litis consórcio necessário convencional (Nº1): que resulta de um acordo das partes
Pressupõe que as partes tenham acordado entre si que aquele direito só pode ser exercido
ou aquela obrigação exigida, na presença de todos os sujeitos da relação materialmente
controvertida. Que as partes tenham combinado (normalmente em momento anterior ao
litígio) que só é possivel exigir aquela obrigação/exercer o seu direito caso o faça contra as
várias partes.
o Exemplo: contrato entre várias partes, um devedor e vários credores e nesse
contrato há uma clausula que determina que só é possivel exigir a obrigação do
devedor se todos os credores o fizerem em conjunto – convenção que exige a
presença de todos os titulares da relação controvertida, e portanto obriga a um
litis consórcio necessário convencional.
Esta convenção que impõe o litis consórcio tem de ser uma convenção que tenha efeitos
no plano substantivo, e não no plano exclusivamente processual.
Isto significa que não é válida uma convenção que diga que se houver um
litígio em tribunal só é possivel exigir a obrigação do devedor se estiverem
todos os credores. – restringe o direito de ação
Se esta convenção apenas tiver efeitos no plano processual para o
direito de ação ela não é válida. E porquê? Porque o direito de
ação é um direito irrenunciável e não restringível e isso seria uma
restrição do direito de ação.
Outra coisa diferente é uma cláusula que tenha efeitos no plano
substantivo e consequentemente no plano processual.
Ou seja, uma cláusula do contrato que diga que no plano
substantivo a obrigação só é exigível por todos, naturalmente que
isso terá efeitos no plano processual mas aqui já não é uma
restrição que apenas limita o direito de ação, é uma mera
consequência.
Mas não é válida uma cláusula que apenas limite o direito de ação, que
diga que qualquer credor pode exigir do devedor extra-processualmente
mas que no processo têm de estar todos presentes para garantir a
legitimidade - porque isto é uma cláusula com efeitos apenas restritos ao
direito de ação e portanto não se consideram válidos.
Sempre que a presença de todos seja imprescindível para que a decisão produza o seu
efeito útil normal, considera-se que têm de estar todos presentes sob pena de
ilegitimidade.
O nº3 dá a definição de a decisão produzir o seu efeito útil normal:
o (…) sempre que, não vinculando embora os restantes interessados, possa regular
definitivamente a decisão concreta das partes relativamente ao pedido formulado
“não vinculando embora os restantes interessados”:
os efeitos vão estar limitados à quota-parte do autor, porque se
proponho a ação apenas contra 1 réu o juiz não vai puder
conhecer da totalidade do pedido se estivermos perante uma
pluralidade de partes do lado passivo mas apenas 1 deles
constituído como réu.
o Esta ação apenas vai produzir efeitos contra o réu em
juízo, o outro não pode ficar vinculado por aquela decisão.
o A sentença apenas produz efeitos relativamente às partes
que estiveram presentes na ação – regra básica do caso
julgado: principio da eficácia relativa do caso julgado (das
sentenças judiciais):
não posso impor ao que não esteve em juízo
aquela decisão
critério é, portanto, o do efeito útil normal: que a decisão relativamente apenas àquela
parte que está em juízo possa ser definitiva, possa ser exequível.
Exemplos que se não estiverem todas as partes em juízo a decisão não é definitiva:
o Exemplo 1: ação de constituição de servidão legal de passagem – temos um prédio
encravado e o prédio dominante. O titular do prédio encravado propõe uma ação
contra o titular do prédio dominante para constituir uma servidão legal de
passagem, mas o prédio dominante pertence a dois comproprietários (temos dois
titulares do prédio dominante) e o autor instaura a ação apenas contra um dos
comproprietários
Para saber se o autor pode garantir a legitimidade, o exercício que temos
de fazer é verificar se a ação proposta apenas contra um dos
comproprietários, com efeitos limitados à sua quota-parte, vai produzir
efeitos úteis ou não:
Se o tribunal julgar a ação procedente (tem direito à servidão) e
portanto condenar o comproprietário1 a reconhecer a servidão
legal de passagem e a deixar o autor passar pela sua propriedade,
será que a ação produz o seu efeito útil normal?
o Temos de ver se a decisão é definitivamente exequível e se
permite ao autor passar pelo prédio vizinho:
No dia em que o autor quiser passar, o
comproprietário1 não vai puder opor-se mas o
comproprietário2 pode opor-se à passagem do
autor.
Isto significa que o autor não vai conseguir
através da ação de procedência apenas
contra um dos comproprietários o efeito
útil normal daquela decisão (que a
servidão legal de passagem o permita
passar pelo prédio dominante).
o Isto acontece porque a
compropriedade é uma
comunhão de quotas ideias
(presume-se que 50% pertence a
cada um mas não é de uma zona
do terreno delimitada), isto não
aconteceria se cada um dos
comproprietários tivesse quotas
divididas em termos físicos, ou
seja, parcelas de terreno que
pertenciam a cada um deles -
neste caso se a ação fosse
procedente ao menos podia
passar pela parcela do
comproprietário que esteve em
juízo.
O autor teria de propor uma segunda ação contra
o comproprietário2 para puder passar, mas se
nesta segunda ação a decisão for de
improcedência (que pode acontecer, porque o
tribunal nesta 2ª ação não está vinculado pelo
efeito de caso julgado do decidido na primeira
ação porque estão em causa partes diferentes
apesar do objeto ser o mesmo – os tribunais
podem decidir de formas diferentes) o que vai
acontecer é que a primeira decisão não produza
os seus efeitos uteis normais.
Este é o critério do litis consórcio necessário natural – ver se a decisão
proferida apenas contra uma das partes da relação material controvertida
pode ou não produzir os seus efeitos.
Haveria toda a vantagem que os dois compradores estivessem para evitar a contradição de
julgados, mas esse não é o critério do litis consórcio necessário natural porque exigir a presença de
todos vai limitar o exercicio do direito de ação: há situações em que as partes da relação material
controvertida podem ser 30 e exigir ao autor que se junte a outros autores para propor aquela
ação ou que demande todos os réus significa uma limitação do direito de ação, e por isso é que a
interpretação do litis consórcio necessário natural tem de ser uma interpretação necessariamente
restritiva.
Depois temos recursos de uniformização de jurisprudência e outros mecanismos que permitem
depois a uniformização dos julgados, mas para a exequibilidade das sentenças temos apenas este
critério do litis consórcio necessário natural.
Quais são as consequências da ilegitimidade?
Na coligação
o o que está em causa em termos de ilegitimidade é saber se estão verificados os
pressupostos para instaurar a ação em coligação
As consequências da não verificação dos pressupostos são diferentes
consoante o pressuposto que falte)
No Litis Consórcio:
Quando estamos perante um litis consórcio necessário e está apenas em juízo alguma
parte da relação material controvertida (claro que quando o litis consórcio é voluntário
não se coloca nenhuma questão de legitimidade plural, quando muito pode-se colocar
uma questão de legitimidade singular).
o A ilegitimidade plural no litis consórcio necessário é sanável:
Nos termos gerais do artigo 6ºnº2: “o juiz providencia oficiosamente pelo
suprimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis de sanação,
(…), quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas
partes, convidando estas a praticá-lo”
O juiz vai convidar as partes que estão em juízo a chamarem
aquelas que faltam e que deviam estar em juízo para que esteja
respeitado o litis consórcio necessário.
O juiz não pode chamar (temos a obediência ao
princípio do dispositivo) o que vai fazer é convidar
a parte interessada a chamar a juízo as partes que
ali faltam, no fundo, os outros titulares da relação
material controvertida sob pena de absolver o réu
da instância.
A parte interessada a chamar aqueles que faltam
é o autor seja a ilegitimidade do lado ativo ou
passivo – só o autor é que tem interesse em que o
réu não seja absolvido da instância e em que se
possa continuar com a ação.
o Assim, vai convidar o autor a chamar os outros autores
(ilegitimidade do lado ativo) ou os réus (ilegitimidade do
lado passivo). – será isto possível depois da ação
instaurada? Porque o momento da petição inicial é o
momento da identificação dos elementos essenciais da
causa sendo que estes são os sujeitos, o pedido e a causa
de pedido e existe o princípio da estabilidade da instância
nos termos do qual em princípio os elementos essenciais
da causa se devem manter os mesmos (artigo 260º CPC).
No entanto, a parte final deste artigo 260º determina uma
exceção: “salvas as possibilidades de modificações
consignadas na lei”.
Quanto aos sujeitos há casos em que a lei permite
a alteração dos sujeitos da ação (alteração não é
no sentido de substituição porque isso não é
possível, o autor não pode substituir as partes
inicialmente identificadas) – o autor pode
acrescentar partes ao processo sendo uma das
razões precisamente para dar a possibilidade do
suprimento da ilegitimidade resultante do litis
consórcio necessário.
De forma superveniente há a
possibilidade de haver uma alteração da
instância no que respeita aos elementos
subjetivos de forma a sanar a
ilegitimidade plural.
Estes casos de intervenção de partes que
não o eram desde o inicio mas que são de
forma superveniente, encontra-se nos
artigos 311º e ss. através da figura da
“intervenção de terceiros”:
Consagra os casos em que é possível que terceiros venham a juízo para ser partes não o tendo sido
inicialmente.
o A forma de sanar o litis consorcio necessário que não foi respeitado será através
da intervenção principal. É necessário para sanar a ilegitimidade que intervenha
um terceiro quer ao lado do autor ou do réu como parte da relação material
controvertida.
Estes dois critérios podem cruzar-se (nos artigos 311º e ss. vemos estes cruzamentos)
posso ter uma intervenção principal que seja espontânea ou provocada
posso ter uma intervenção acessória que seja espontânea ou provocada
apenas a oposição é que em regra é espontânea, porque nenhuma das
partes tem interesse em chamar o opoente – pode ter interesse no caso
de querer estender o caso julgado, mas é menos frequente
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 6: Interesse em agir)
Tem de existir portanto uma situação objetiva de carência que justifique eu recorra a tribunal. –
por isso é que se considera que o interesse em agir apesar de não estar expressamente previsto no
CPC (os outros pressupostos processuais estavam no CPC na lista das exceções dilatórias do artigo
577º e vimos lá todos os pressupostos processuais estudados até agora) o artigo 577º é um artigo
meramente exemplificativo porque diz que são dilatórias “entre outras”. Por isso considera-se que
O interesse em agir é um pressuposto processual inominado, que não está expressamente
previsto, mas a sua razão de ser leva também na sua ausência á absolvição do réu da instância.
Esta opinião não é unanime, nem toda a doutrina considera que o interesse em agir é um
pressuposto processual autónomo:
Razões pelas quais a maioria da doutrina considera que o interesse em agir deve ser um
pressuposto processual:
2º - razão de interesse privado de tutela do réu - está subjacente a este pressuposto uma
razão de proteção do réu:
o a parte frágil na propositura de uma ação não é o autor (apesar de ser este que
alega a violação do seu direito) mas o réu porque é este que se vê surpreendido
pela propositura da ação, que se vê na necessidade de apresentar imediatamente
a sua defesa num prazo curto e, portanto, por tutela do réu não se justifica que
sem necessidade o autor possa importunar o réu.
Quando falamos de interesse em agir, normalmente falamos do lado do autor porque é este que
propõe a ação – automaticamente, a partir do momento em que o autor propõe a ação existe
interesse em agir da parte do reu no sentido que este tem interesse em contestar a ação, em
recorrer a juízo um interesse absolutamente fundado – é um dado adquirido da parte do réu mas
não do autor.
Depende do tipo de ação que está em causa: tenho de ir a cada tipo de ação (ação de condenação,
constitutiva ou de simples apreciação) para ver o que está aí em causa e saber quando é que existe
interesse em agir:
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 6: Interesse em agir)
É um pressuposto processual inominado porque não vem na lista das exceções dilatórias do artigo
577º (não vem expressamente referido), mas como esta lista é meramente exemplificativa
havendo a possibilidade de existirem outros pressupostos.
O interesse em agir é a necessidade de recorrer a juizo – Necessidade que o autor tem de recorrer a
juizo (embora do lado do reu tambem há casos em que se justificava contemplar o interesse em
agir para o seu lado).
Concretização do interesse em agir a propósito de cada tipo de ação: Como é que em concreto em
cada uma víamos que o autor tinha interesse em agir ou necessidade em juizo para instaurar
aquela ação.
Ações constitutivas: aquelas em que o autor pretendia introduzir uma alteração na ordem
juridica através de um ato unilateral que substituía a vontade do réu.
Caso das ações de divórcio; constituição de servidão legal de passagem;
execução especifica (é enganadora a ação especifica porque esta não é
uma ação executiva mas declarativa, diz-se execução especifica no sentido
precisamente de através da sentença se alterar a ordem juridica portanto
é execução nesse sentido, mas não é uma ação executiva).
o Em que medida é que o autor que tem um direito potestativo tem ou não o
interesse em agir para recorrer a uma ação judicial para exercer esse direito. – a
resposta a esta questao não é uniforme, eu não posso dizer sem mais que
qualquer titular de um direito potestativo tem automaticamente direito a recorrer
a ação judicial para fazer valer o seu direito. Ao contrário dos direitos de créditos
que são restaurados através de uma ação de condenação o direito potestativo não
é violado, o exercicio processa-se por simples manifestação de vontade unilateral
da parte do seu titular, portanto não é suscetivel de ser violado. A pergunta é,
entao, se o titular do direito potestativo pode exercer o seu direito de forma
unilateral, como é que se pode dizer que ele alguma vez tem interesse em agir em
instaurar uma ação constitutiva?
É necessário distinguir o tipo de direito potestativo que está em causa:
Direito potestativo de exercicio exclusivamente judicial: aqueles
que o titular só pode exercer por meios judiciais.
Caso da ação de divórcio litigioso não pode ser,
apesar de cada um dos cônjuges ter o direito
potestativo ao divorcio, não pode fazê-lo
unilateralmente. Não é por um dos cônjuges dizer
ao outro que estao divorciados que estao
divorciados.
O direito potestativo apenas é válido se for de
exercício judicial
o Não há duvidas de que aqui existe um interesse em agir na
instauração de uma ação constitutiva. – não preciso de
justificar nada para que o titular do direito ao divorcio
possa instaurar uma ação de divorcio e ter interesse em
agir para a instauração dessa ação.
Direitos potestativos que podem ser exercidos
extrajudicialmente:
Resolução do negócio juridico, revogação do
mandato – pode ser feita através da simples
declaração à contraparte. Só a manifestação de
vontade do titular é suficiente, não é necessária a
formalização judicial desta manifestarão de
vontade.
o Aqueles em que com a simples declaração à contraparte
se produz um efeito imediato. Se formos ao regime do CC
do artigo 1670º e 436º vemos que basta uma declaração
unilateral da outra parte, portanto tambem não temos
duvidas de que se estes direitos podem ser exercidos
desta forma não existe qualquer interesse em agir em
instaurar uma ação apenas para resolver um contrato ou
revogar um mandato.
Isto não significa que depois da resolução ou
revogação vir instaurar uma ação de simples
apreciação, por exemplo, para que o tribunal
declare que aquele contrato foi bem resolvido,
mas isso já não será uma ação constitutiva, na
ação de simples apreciação já parto do
pressuposto de que aquele direito foi exercido
extrajudicialmente.
Portanto, não existe interesse em agir em
instaurar uma ação constitutiva para resolver um
contrato, mandato no caso em que posso exercê-
lo extrajudicialmente.
Direitos potestativos de exercicio misto: podem ser exercidos
judicialmente mas também através de acordo entre as partes
A constituição da servidão legal de passagem –
resulta da lei substantiva que pode ser constituída
através de acordo entre as partes ou pode ser
constituída através de sentença judicial --- artigo
1547ºnº2 CC: na falta de constituição voluntária as
servidões podem ser constituídas por sentença
judicial ou por decisão administrativa.
Esta aqui em causa um direito potestativo de
exercicio simultaneamente judicial e extrajudicial
por acordo.
o A duvida que se pode colocar surge sobretudo no caso em
que o exercicio do direito potestativo possa ser um
exercicio não apenas atraves de exercicio extra judicial,
como tambem através de acordo das partes.
Em que medida é que o titular deste direito
potestativo, neste caso o titular do prédio
encravado, é obrigado antes de instaurar a ação
constitutiva tentar chegar a um acordo com a
outra parte antes de recorrer a tribunal – é
exigível, obrigado a tentar chegar a acordo em
primeiro lugar, ou pode imediatamente recorrer a
tribunal?
A doutrina e jurisprudência consideram
que não é exigivel ao titular do direito
potestativo tentar o acordo primeiro –
considera-se que seria um encargo
excessivamente pesado porque uma coisa
é que eu o pudesse exercer de forma
unilateral, uma vez que não é o caso
sendo um acordo bilateral não se justifica
exigir ou impor este ónus e portanto
considera-se que existe neste caso
tambem um interesse em agir.
o Logo, só não existe interesse em agir nos casos em que unilateralmente e por
simples declaração à contraparte o titular pudesse exercer esse direito.
Apesar de ser um pressuposto inominado, ou seja, não estar previsto no artigo 577º, continua a
ser um pressuposto processual, é uma exceção dilatória inominada.
Sabemos que a consequência da existência de uma exceção dilatória (artigo 278º) é a absolvição
do réu da instância.
No entanto, sendo uma exceção dilatória inominada o artigo 278º quando prevê a consequência
da absolvição do réu da instância, prevê na alinea e) também uma válvula de escape para as
exceções inominadas – cabem também as exceções inominadas e portanto é aqui que podemos
também inserir a consequencia da falta de interesse em agir.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 7: A competência)
A competência: O tribunal tem de ser competente para puder julgar o mérito da causa.
A função jurisdicional pertence exclusivamente aos tribunais, resulta da CRP no artigo 202º. No
entanto, este poder não é atribuido em bloco a todos os tribunais, ou seja, o poder jurisdicional
está repartido segundo diversos critérios por diversos tribunais. Portanto, cada tribunal apenas
tem o poder de julgar um círculo limitado de ações.
Nem todos os tribunais têm competência para julgar todas as ações, se assim fosse o pressuposto
processual da competência estava logo garantido – isto não acontece porque o poder jurisdicional
está repartido em função de vários critérios.
Por isso podemos dizer que a competência é a fração do poder jurisdicional que é atribuída a um
determinado tribunal. Isto não significa que todos os tribunais a quem seja atribuída essa fração
de poder possam julgar todas as ações cujo objeto caia nesse corpo.
Existem tribunais judiciais que são os chamados de propriedade intelectual que têm competência
em abstrato para julgar ações que versem sobre direitos de autor – alguma ação que tenha por
objeto a violação de direitos de autor compete o seu procedimento a um tribunal de propriedade
intelectual. No entanto, isto não é suficiente: isto não significa que em concreto tenha
competencia para todas as ações dessa matéria, porquê? Porque mesmo dentro do poder
jurisdicional, as ações estão repartidas por vários tribunais em função de criterios de distribuição.
Por exemplo, há tribunais de família e menores espalhados pelo pais e o facto destes terem em
abstrato competencia para julgar matérias relacionadas com família e menores não significa que
todos sejam competentes para julgar todas as ações.
Temos a competencia em abstrato (que é a fração do poder jurisdicional atribuída aos tribunais) e
os criterios de repartição em concreto que nos vao ser essenciais para determinar qual é o tribunal
competente para julgar uma determinada ação concreta e não apenas qual é o tribunal
competente em abstrato.
Como é que em concreto consigo determinar qual é o tribunal competente? Quais é que são os
critérios de repartição da competencia que me vao levar a decidir qual é o tribunal concretamente
competente naquele caso concreto?
A distribuição do poder jurisdicional entre os vários tribunais é feita através de alguns critérios,
nomeadamente 5 que permitem no limite determinar qual é o tribunal em concreto
adequado/competente para julgar um determinado caso.
Se tiver perante uma situação juridica que tenha uma serie de elementos mas que estes não
tenham qualquer contacto com ordens juridicas estrangeiras, claro que o tribunal português é
automaticamente competente, exemplo: um litigio em que as partes são PT, domiciliadas em PT, o
objeto situa-se em PT, o contrato foi celebrado em PT, o local do cumprimento era em PT, etc; não
precisamos de ir á procura de uma regra internacional que nos diga que o tribunal PT é o
competente.
Logo, o recurso às regras que determinam a competência internacional dos tribunais apenas se
justifica quando estamos perante uma situação juridica plurilocalizada.
Para determinar se o tribunal PT era ou não competente, podíamos ter várias fontes/ instrumentos
para determinar essa competência. Naturalmente que os instrumentos de direito internacional têm
prioridade em relação aos instrumentos legais internos, e portanto, a 1ª coisa que começamos por
ver é se existem instrumentos de direito internacional que nesta matéria da competencia vinculam
o estado PT – estes instrumentos de direito internacional a existir serão multilaterais porque
vinculam vários estados, e portanto, são preferíveis aos instrumentos de direito interno que temos
no CPC, nomeadamente os artigos 62º e 63º que estabelecem regras para determinar quando é
que o tribunal PT é competente internacionalmente, mas é só isso – porque não existem outros
estados que estejam vinculados aos nossos artigos do CPC e, portanto, a probabilidade de um
conflito de jurisdições internacionais é muito maior se cada um dos estados aplicar as suas regras
de determinação de competência internacional.
Por isso é que os estados celebram entre si acordos precisamente para evitar esses conflitos de
jurisdição, sejam eles positivos ou negativos: o caso de vários estados se considerarem
simultaneamente competentes para julgar o litigio ou seja o caso de nenhum dos casos se
considerar competente para julgar o litígio.
Estas são as 3 fontes de determinação da competência internacional, exatamente por esta ordem
hierárquica: Regulamento de Bruxelas, Convenção de Lugano, normas de direito interno nos
artigos 62º e 63º CPC.
Não vamos estudar a Convenção de Lugano porque tem um conteúdo muito parecido com o
regulamento de Bruxelas – o importante de saber é que ela existe e que no fundo estende a
aplicação do regulamento de Bruxelas aos países-membros da EFTA (Suíça, noruega e Islândia).
Regulamento de Bruxelas:
A única coisa que vimos até agora é saber os casos em que o Regulamento é aplicável ou não, mas
isso não nos diz qual é o Estado/tribunal competente para julgar o litígio – para isso temos de ir ao
conteúdo do regulamento ver em matéria de competência internacional o que é que este
conteúdo nos diz.
Assim, qual é o Estado/o tribunal que vai ser competente para julgar o litigio?
Competência regra (critério geral no sentido da nossa ordem jurídica, diz-nos em regra como é
que eu escolho qual é o tribunal competente para julgar a ação):
o Artigo 4ºnº1: “ sem prejuízo do disposto no presente regulamento, as pessoas
domiciliadas num Estado-Membro devem ser demandadas, (…) nos tribunais desse
estado-membro”.
A regra é a do domicílio do réu, não é a nacionalidade.
Para efeitos de determinação da competência internacional e mesmo
interna como iremos ver, o elemento de conexão relevante é o do
domicílio do réu.
Porque é que não é a regra da nacionalidade? Porque esta regra geral
do domicílio tem como objetivo proteger o réu, parte do pp que o reu
é de facto a parte mais fraca e portanto faz sentido proteger o réu
estabelecendo como jurisdição competente a do réu.
o Sendo esta a razão, não faria sentido que o elemento
relevante fosse a nacionalidade, o réu pode ser nacional num
estado e já não residir nele há muitos anos e já não ter
praticamente conexão com o seu estado de origem. E,
portanto, para proteção do reu o que faz sentido é o seu
domicílio e não a nacionalidade.
Depois para saber o que é o domicílio temos de ir às regras internas do CC:
artigos 82º e ss. é aquilo que vai determinar se o réu tem ou não domicílio em
PT.
Aliás, os artigos 62º e 63º do RB remetem precisamente para a lei
interna de cada estado a determinação do que é o domicílio para se
puder saber qual é o domicílio do réu.
Claro que isto depois pode levantar outras questoes, porque se o
direito interno de cada estado determinar de forma diferente o que é
o domicílio, podemos ter conflitos na aplicação desta regra geral.
Competências especiais:
Ao contrário do que acontece no sistema juridico português (temos um
conceito de relação entre o geral e o especial em que o especial afasta o geral),
em matéria deste regulamento o critério de relação quando se fala entre
competência especial ou geral é diferente: O regulamento prevê que a
competência geral e as competências especiais são alternativas, ou seja, o
autor que propõe a ação pode escolher entre propor no tribunal que seria
competente de acordo com a regra geral, ou escolher uma das regras
especiais).
o + é do artigo 5º que resulta o caráter alternativo entre a competência geral e as
competências especiais, porque este artigo diz: “as pessoas domiciliadas num EM só
podem ser demandadas nos tribunais de outro EM nos termos das regras enunciadas
nas secções 2 a 7 do presente capítulo” – estas secções são as secções relativas às
competencias especiais.
É o autor que vai escolher qual é a jurisdição que lhe dá mais jeito.
o Artigos 7º e ss. estabelecem as competências especiais:
estabelecem em matérias diferentes soluções diferentes.
Por exemplo:
o Nº1 a): em matéria contratual a ação deve ser proposta
perante o tribunal do lugar onde foi ou deva ser cumprida a
obrigação.
o Nº2: em matéria extracontratual, perante o tribunal do lugar
onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso.
o Etc
Competencias exclusivas (critério especial no sentido da nossa ordem jurídica, estas é que são
as imperativas, sempre que exista esta competência exclusiva esta afasta as outras
competências – geral e especial):
o Artigo 24º:
São tão imperativas que funcionam simultaneamente como critério de
aplicação do regulamento de Bruxelas (1º passo da análise
relativamente ao âmbito espacial – saber se o regulamento é
aplicável), como também de determinação da competência do tribunal
em concreto (2º passo de análise – saber qual o estado competente
para julgar o litígio).
o Aplicamos novamente para saber qual é o estado membro em
concreto que é competente.
São especiais porque interferem com a jurisdição e a soberania ou poder de
atuação por cada estado sobre alguns elementos que caem no seu território e
em que é irrelevante se o réu é domiciliado num EM ou não.
Não faria sentido que relativamente a bens situados em PT que o
tribunal competente para decidir sobre bens situados em PT fosse o
tribunal do domicilio do réu que pode ser o dos EUA - tem a ver com o
exercicio territorial da soberania de cada estado e por isso é que se
justifica a existência destas regras de competencia exclusiva.
o Estas regras de competencia exclusiva têm repercussões no regime do RB em várias
matérias, nomeadamente:
Tudo o que tem a ver com reconhecimento de sentenças estrangeiras em PT
tem como limite a violação de competências exclusivas
ou seja, se um autor vem tentar reconhecer uma sentença proferida
por tribunal estrangeiro que quer executar em PT, PT não vai aceitar o
reconhecimento da sentença se esta tiver sido proferida com violação
das competencias exclusivas do estado PT.
o Portanto, se um autor quiser executar uma sentença sobre
bens em PT proferida por um tribunal dos EUA, o tribunal não
a vai reconhecer e não a vai executar.
o Portanto, tem caráter imperativo em matéria de competência
Há outro efeito para as quais estas competências são relevantes e que tem a
ver com a possibilidade de as partes celebrarem pactos de jurisdição (no
ambito do RB), previstos no artigo 25º RB:
o O pacto de jurisdição é um acordo entre as partes em que
estas alteram o tribunal internacionalmente competente para
julgar a ação (se for um pacto que apenas altere as
competências na ordem interna será um pacto de
competência).
o Os pactos de jurisdição normalmente são celebrados quando
as partes estabelecem as relações negociais e não quando vão
instaurar a ação – são pactos que normalmente constam de
contratos internacionais: as partes celebram o contrato
internacional e há a clausula final que estabelece um pacto de
jurisdição que determina que na eventualidade de surgir um
litígio resultante da interpretação e execução do presente
contrato, é competente para o efeito o tribunal x.
O Nº1 deste artigo diz que esta competência é exclusiva: retira a
competência ao tribunal que seria competente de acordo com o RB e
passa a ser apenas daquele tribunal.
o Isto significa que se uma das partes violar o pacto de
jurisdição, esse tribunal deve julgar-se incompetente.
Para estes pactos serem válidos é necessário que cumpram os seus
requisitos
o das alíneas do Nº1 – requisitos positivos:
Por escrito ou verbalmente com confirmação escrita
De acordo com os usos que as partes tenham
estabelecido, ou:
no comercio internacional, de acordo com os usos que
as partes conheçam ou devam conhecer (…)
o Nº4 – requisito negativo de validade dos pactos de jurisdição –
e é por isso que falámos aqui dos pactos de jurisdição:
“os pactos atributivos de jurisdição (…) não produzem
efeitos se (…), ou se os tribunais cuja competência
pretendam afastar tiverem competência exclusiva por
força do artigo 24º”.
Os pactos são válidos desde que os tribunais
cuja competência esse pacto pretende afastar
não tenham competência exclusiva por força
do artigo 24º.
No fundo, outro dos efeitos da imperatividade da competencia
exclusiva do artigo 24º é que estas competências não podem ser
afastadas nem por acordo das partes. Todas as outras podem ser
afastadas por acordo das partes, as competencias exclusivas não
podem.
Há varias fontes para o regulamento de Bruxelas da competência internacional dos tribunais da UE,
nomeadamente a:
competencia geral
competencia especial
competencia exclusiva
+ professora acrescenta ainda os pactos de jurisdição (porque se as partes estão a alterar
as regras então também são fonte de competencia internacional para o RB)
+ um caso especial previsto no artigo 26º RB (pacto de jurisdição tácito):
o Para além de todos os casos das competências que já vimos, é tambem
competente “o tribunal de um Estado-Membro no qual o requerido compareça”:
Ou seja, ainda que o tribunal não seja competente de acordo com as
regras anteriores, se por acaso o autor propuser uma ação num tribunal
que seria incompetente a nivel internacional e o requerido comparecer
sem invocar a incompetência do tribunal, este artigo 26º interpreta essa
passividade/omissão como uma espécie de aceitação tácita da
competência do tribunal onde foi proposta a ação
No fundo, está a permitir que as partes tacitamente celebrem um pacto de
jurisdição nesse momento.
E por ser um pacto de jurisdição tático, há um limite a esta possibilidade
que é o de não interferir com as competencias exclusivas – nº1 parte final
o Professora entende que o artigo 26º prevê ainda uma continuação do artigo 25º,
prevendo um pacto de jurisdição tácito de certa forma.
Competência internacional na ordem interna – Normas de ordem interna que dão competencia
ao tribunal PT como internacionalmente competente: artigos 62º e 63º CPC
Situações em que não se verifica o âmbito de aplicação de regulamento de Bruxelas, não se aplica
a Convenção de Lugano e os tribunais PT têm de decidir perante um determinado litígio qual é o
tribunal competente. – para isto temos normas de direito interno nos artigos 62º e 63º CPC
Nestes artigos é o legislador português que decide unilateralmente quando é que se considera
competente ou não para julgar uma ação.
Estes artigos, pelo facto de serem unilateralmente estabelecidos pelo legislador PT a dizer
quando é que se assume competente não vincula os outros estados. Portanto a única coisa
que estes artigos nos dizem é quando é que o tribunal PT se considera competente para julgar
a ação, mas não nos permitem dizer se competente é o tribunal PT ou o tribunal estrangeiro,
porque as nossas regras de direito interno não vinculam os outros estados.
Como é que sei se o tribunal PT é ou não competente para julgar os litígios? Para isso, temos 3
critérios alternativos de determinação da competencia internacional dos tribunais PT – basta
um para que o tribunal PT seja internacionalmente competente:
o Alinea a) – “quando a ação possa ser proposta em tribunal PT, segundo as regras
de competencia territorial estabelecidas na lei portuguesa”
Ou seja, esta alinea a) remete-nos para os artigos 70º e ss. CPC que são os
artigos em que estão consagradas as regras de competencia territorial dos
tribunais portugueses:
Há vários critérios de atribuição de competência como sabemos:
internacional e depois vários critérios na ordem jurídica interna
sendo um deles o de competência territorial – não basta dizer que
o tribunal PT é competente, preciso no território PT escolher qual
o tribunal especificamente competente e isso quem vai decidir ou
o critério que vai decidir esta segunda fase de competência já é o
critério de competência territorial interna, porque o critério da
competencia internacional apenas serve para determinar qual é o
Estado cujos tribunais são competentes, mas não diz no território
desse estado qual é o tribunal que vai ser competente.
Por isso, o 1º critério que é o critério da coincidência (precisamente
porque estabelece uma coincidência entre a competência internacional e
a competência territorial interna) diz-nos que:
o Se ao abrigo dos artigos 70º e ss. (dizem-nos diante o
Estado PT qual é o tribunal competente) o elemento
relevante do litigio cair no território português isso
significa que o tribunal PT é internacionalmente
competente – não nos interessa saber aqui onde no
estado PT se situa o elemento, apenas que seja em
território PT.
Exemplo: no artigo 70ºnº1, diz-nos que devem ser
propostas no tribunal da situação dos bens as
ações referentes a direitos reais ou pessoais de
gozo sobre imóveis, a ação de divisão de coisa
comum, de despejo, de preferência e de execução
específica sobre imóveis, etc… - vamos a um
exemplo de uma ação de divisão de coisa comum:
Exemplo: ação de divisão de coisa comum
de um imóvel situado na África do sul mas
o autor é domiciliado em PT e o réu
domiciliado em Brasil.
Não se aplica o regulamento de Bruxelas
(nem o réu é domiciliado num estado
membro nem há nenhuma competência
exclusiva porque o imóvel não se situa em
nenhum EM), e portanto aplicamos o
artigo 62º para saber se o tribunal
português é competente:
o Vamos começar por analisar o pp
da coincidência: este pp da alinea
a) remete-nos para as regras de
competência territorial e vou
aplicar logo o artigo 70ºnº1
porque se trata de uma ação de
divisão de coisa comum:
O artigo 70º determina
que é competente o
tribunal do local onde se
situa o imóvel que vai ser
dividido. O artigo quando
diz isto não é para dizer
que o tribunal PT é
competente ou não, é
para decidir dentro do
território PT qual é o
tribunal competente mas
por via do artigo 62º
alinea a) aí sim
indiretamente o critério
de competência territorial
também nos está a indicar
se o tribunal PT é
competente ou não:
– Neste caso o tribunal PT
não vai ser competente,
mas sim o da africa do sul
porque é aí que se situa o
imóvel.
Ou seja, se o elemento
relevante de conexão não
se situa no Estado PT
então o tribunal PT não é
competente.
Se o imóvel a dividir se
situasse em Portugal, aí
pelo pp da coincidência já
seria competente o
Estado PT.
o Assim, o PP da coincidência socorre-se de outros critérios
de competência - competência territorial que não servem
para isto, na sua génese os critérios de competência
territorial servem para quando já está decidido que o
tribunal PT é competente para ir ver dentro do território
PT qual é o tribunal competente.
o Mas o artigo 62º alinea a) dá-nos uma dupla função: ao
mesmo tempo decidem qual é o tribunal competente
internamente mas também podem decidir se o tribunal
portugues é competente ou não, porque se aqueles
elementos de competência territorial se situarem fora de
Portugal então o tribunal PT não é competente. Ou seja,
se o artigo 70º diz que o tribunal competente para a ação
de divisão de coisa comum é o tribunal do local onde se
situa o imóvel, se o imóvel não se situar em PT então o
tribunal PT não vai ser competente.
Não sendo estes critérios cumulativos ou exclusivos, temos de olhar ainda às
outras alineas do artigo 62º:
o Alinea b) – estabelece o princípio da causalidade.
Causalidade na medida em que permite que ainda que pelo pp da
coincidência o tribunal PT não seja competente, se algum dos factos (não
tem de ser toda a causa de pedir, basta que seja algum dos factos) que a
integrem tiver o corrido em PT este é competente.
o Exemplo: um acidente de viação que ocorreu em PT, mas
mais nenhum dos elementos de conexão foram em
Portugal (nem as partes, a empresa contratada, nem o
local de celebração do contrato), apenas o acidente de
viação que justificou o pedido de indemnização – tendo o
acidente de viação que faz parte da causa de pedir da
ação ocorrido em Portugal deve entender-se de acordo
com o pp da causalidade que o tribunal PT é
internacionalmente competente;
Quem diz a causa de pedir ou algum dos factos que a integram diz
que, por exemplo: acidente não tinha sido em PT mas uma das
partes veio depois para PT e foi internada num hospital PT porque
os danos manifestaram-se em PT – deve-se considerar que pelo
menos parte da causa de pedir, que foram os danos, ocorreram
em PT, e isso já seria suficiente para o tribunal PT se considerar
competente de acordo com o pp da causalidade.
Este critério seria impensável numa convenção internacional ou num
regulamento – porque aqui no estabelecimento dos critérios internos
aquilo que é tido em conta não é a proteção das partes, mas a jurisdição
do tribunal PT por isso é excessivamente amplo – o tribunal PT considerar-
se internacionalmente competente nestes casos não significa que afaste a
competencia de outros tribunais, a não ser nos casos do artigo 63º (aqui o
tribunal PT não admite). Agora se a parte for propor a ação noutro Estado
isso nada impede que depois que a sentença seja reconhecida desde que
não viole o artigo 63º.
Artigo 60ºNº2 – Na ordem interna, a jurisdição reparte-se pelos diferentes tribunais segundo os 4
critérios: matéria, valor da causa, hierarquia, território.
Relativamente à competência interna, e apesar de estar prevista no artigo 60º e ss. do CPC, existe
um outro diploma e que é fundamental em matéria de repartição da competencia interna: a lei de
organização do sistema judiciário (62/2013 de 26 de Agosto).
Esta lei dedica-se a um sistema judiciário e à distribuição da competência pelos vários tribunais na
ordem interna. Esta lei em alguns pontos é muito repetitiva do CPC .
Esta repartição justifica-se pela vantagem da especialização dos tribunais e dos próprios juizes
relativamente às questões que vão julgar.
No fundo por uma razão de, por um lado, facilidade daquele que os vai julgar e qualidade das
suas decisões. Um juiz sabe que e quando concorre à magistratura corre para determinadas
matérias – um juiz dos tribunais administrativos está especializado em matérias
administrativas e apesar de ter competência em teoria para exercer funções de juiz porque
tem formação jurídica, no entanto precisa de um acesso próprio para garantir a qualidade das
decisões e especialização das decisões.
As regras de distribuição da competência em razão da matéria são de tal forma importantes
que são absolutamente imperativas (ou seja, não podem ser derrogadas) e a sua violação
determina a incompetência absoluta do tribunal.
o Incompetência absoluta do tribunal – não é sanável (apenas os casos mais graves
de incompetência é que geram esta incompetência)
o Incompetência relativa do tribunal – sanável
AULA 30/10/2023
Claro que quando concluímos que o tribunal PT não é competente para julgar uma determinada
ação, já não se justifica ir averiguar na ordem jurídica interna qual é o tribunal competente –
apenas passamos para este critério seguinte se o critério da competência internacional determinar
que o tribunal competente para julgar a ação é o tribunal PT.
Como é que se divide a competência dos tribunais em razão desta especialização em função da
matéria?
Em 1º lugar é importante ter em conta que os tribunais estão distribuídos em várias categoriais ou
ordens de tribunais:
Tribunais Judiciais
o Competência residual
Tribunal Constitucional
Tribunais Administrativos e fiscais
Tribunal de Contas
Estas são as categorias de tribunais que existem na ordem jurídica portuguesa, estão
contempladas no artigo 209º da CRP + 29ºnº1 da Lei de organização do sistema judiciário. – Assim,
a primeira coisa que tenho de fazer para determinar qual o tribunal competente em razão da
matéria é saber a categoria de tribunais a que irá ser atribuída competência para julgar o caso em
concreto – Como é que sei como é que se distribui a competência por estas categorias/ordens de
tribunais?
Os tribunais judiciais têm uma competência residual para o julgamento de todas as matérias de
domínio cível relativamente aos outros tribunais (artigo 64º CPC; artigo 40ºnº1 LOSJ + artigo
211ºnº1 CRP) - ou seja, a sua competência é atribuída pela negativa: só é da competência dos
tribunais judiciais aquela matéria que não esteja atribuída a nenhum dos outros tribunais, cuja
competência é atribuída pela positiva.
Portanto, como é que sei quais são as causas que são da competência dos outros tribunais
(Administrativos e Fiscais; de Contas; Constitucional)?
Tenho de ir às leis próprias desses tribunais verificar qual é a competência de cada um desses
tribunais. São as leis onde vamos encontrar quais são as competências destas categorias de
tribunais em razão da matéria.
Temos de ir a estas normas que disciplinam especificamente a competência de cada um dos outros
tribunais, e depois, caso a matéria não se inclua na competência de um deles (cada um destes
tribunais têm competências muito concretas, portanto o que é residual será a maior parte das
matérias) entao irá ser da competência dos tribunais judiciais.
O que vimos quando estudamos o Processo Civil é que este são as normas que disciplinam o
funcionamento ou o exercício do direito de ação nos tribunais judiciais.
Se determinarmos que dentro das várias ordens de tribunais o tribunal competente é o tribunal
judicial:
Dentro dos próprios tribunais judiciais há uma distribuição da competência em razão da matéria,
ou seja, dentro dos tribunais judiciais os tribunais têm competência para um mundo de matérias
precisamente por serem de competência residual/subsidiária e por isso existem vários tribunais
judiciais cuja competencia é atribuída em razão da matéria.
Relativamente aos tribunais judiciais – Artigo 40ºnº2 LOSJ: “a presente lei determina a
competência, em razão da matéria, entre os juízos dos tribunais de comarca, estabelecendo as
causas que competem aos juízos de competência especializada e aos tribunais de competência
territorial alargada”:
Ainda dentro de cada um dos tribunais de comarca existem juízos (no sentido de secções do
tribunal) que também podem ter uma competência especializada para certas matérias.
Portanto, por exemplo, não há um tribunal de comarca de Lisboa e ponto, sem haver
nenhuma especialização em termos de matéria. Portanto dentro do próprio tribunal de
comarca de Lisboa existem secções/juízos cuja competência pode ser dividida em função
da matéria.
Artigo 81ºnº3 LOSJ temos uma lista de juízos de competência especializada que podem
ser criados: matérias relativas ao direito do trabalho, família e menores, comércio, etc.
o A criação destes juízos de competência especializada depende do quê?
Do volume de litígios que cada tribunal tem:
Exemplo 1: em Lisboa todos estes juízos de competência
especializada existem porque é uma comarca com muita dimensão
e muita diversidade de trabalho.
Exemplo 2: noutro tipo de comarcas em que temos questões
menos especializadas a nível de matéria em que as questões são
todas semelhantes, muitas vezes o que acontece é que o
legislador cria apenas juízos dentro de certas matérias e não cria
de outras.
Portanto, vai depender das comarcas o saber se há muitos ou poucos
juízos de competência especializada.
Temos de nos informar quando propomos uma ação dentro do
tribunal da comarca X, se este tem juizos especializados para todas
as matérias ou não:
o 1ª hipótese: se for um tribunal de comarca com juízos de
competência especializada
Na verdade, mesmo que tenha juízos
especializados para todas as matérias tem sempre
de existir um juízo com competência residual
porque não é possível criar juízos (especializar o
tribunal) para todas as matérias. É possível criar os
juízos referidos no artigo 81ºnº3 LOSJ, mas tem
sempre de existir um juízo com competência
residual para todas as outras – o chamado juízo
cível.
Basta que haja apenas um juízo de
competência especializada em função da
matéria num tribunal de comarca para
que seja necessário a existência de um
juízo de competência residual, o juízo
cível.
o 2ª hipótese: se for um tribunal de comarca que não exista
esses juízos de competência especializada (uma comarca
mais pequena em que o legislador entende que não se
justifica a especialização por matérias):
Diz-se que aquele tribunal de comarca é um
tribunal de competência genérica/sem
especialização. – é raro.
o Se quisermos saber quais são as matérias concretas que cabem na competência
destes juizos de competência especializada do artigo 81ºnº3, temos de ir aos
artigos 117º e ss..
Um nível mais elevado que insere o objeto da minha ação dentro das várias ordens do
tribunal: Judicial; Constitucional; Administrativo e Fiscal; de Contas
Um segundo nivel de competência em razão da matéria que caso a competência daquela
ação caiba aos tribunais judiciais, então dentro destes mesmos tribunais judiciais tenho de
ir ver:
o 1º se existe algum tribunal de competência territorial alargada com competência
sobre matérias específicas que vai julgar a minha ação (artigos 83º + 111º e ss.
LOSJ)
o 2º Não havendo, a competência é de um tribunal de comarca tendo de ir ver
dentro do tribunal de comarca se:
O tribunal é de competência genérica
Há juízos especializados dentro do tribunal em função da matéria:
Havendo vários juízos de competência especializada tem de existir
necessariamente de competência residual, o juízo cível (o juízo
com competência residual para todas as outras matérias).
1ª pergunta - Como é que sabemos dentro de cada comarca se existem ou não os juizos de
competência especializada?
2ª pergunta - Como é que sei cada tribunal de competencia territorial alargada, que comarcas é
que a sua competência abrange?
Tribunais de 1ª instância:
Tribunais da Relação:
Não existe um tribunal da Relação por Comarca, existem apenas 5 tribunais da Relação:
Coimbra, Évora, Guimarães, Lisboa e Porto
o No anexo I temos a área de circunscrição abrangida pela competencia territorial de
cada um desses tribunais da Relação
Exceções à regra de que os tribunais superiores apenas são competentes em sede de recurso:
Casos em que as ações devem ser propostas em 1ª instância nos Tribunais da Relação ou STJ:
1º caso de exceção – casos de conflitos de competencia e de jurisdição: artigos 109º e ss. CPC:
2ª caso de exceção - as ações de indemnização propostas contra magistrados judiciais por atos
praticados no exercicio das suas funções:
Os magistrados, tal como determinado pelo artigo 5º do estatuto dos magistrados judiciais, não
podem ser responsabilizados por atos praticados no exercício das suas funções. É uma garantia de
independência no exercício da função jurisdicional. No entanto, o Estado pode ser
responsabilizado em certas circunstancias muito exigentes (nomeadamente casos de erros
grosseiros) e condenado a pagar uma indemnização aos que foram lesados pelos tribunais ou pelo
juiz no exercicio da sua função jurisdicional – O Estado pode ser responsabilizado, o magistrado
não (resulta da lei da responsabilidade civil extra-contratual contra o Estado onde se encontram as
regras através das quais é possível responsabilizar o Estado no exercício da sua função
jurisdicional).
Apesar dos lesados não puderem diretamente acionar os magistrados, o Estado tem direito de
regresso contra os magistrados que no exercício da usa função causaram danos aos particulares, e,
portanto, quando falamos aqui de ações instauradas contra os magistrados estamos a falar de
ações normalmente instauradas no exercício do direito de regresso. Existe para este efeito uma
forma especial de ação (processo especial dos artigos 967º e ss. CPC que iniciam um título que
consagra um processo especial “da ação de indemnização contra magistrados”) – exercício deste
direito de regresso.
Por uma razão de dignidade do exercício da função jurisdicional não faz sentido que sendo
demandado um juiz de um tribunal de 1ª instancia que seja um colega seu do tribunal de
1ª instância a julgar esta ação, e por isso, resulta da lei de organização do sistema
judiciário, artigo 55º alinea c) (competência do STJ) e artigo 73º alinea b):
o Artigo 55º alinea c) – STJ tem competência para julgar estes por que é o tribunal
superior em relação aos magistrados do tribunal da Relação e contra os
magistrados do Supremo não há alternativa.
o Artigo 73º alinea b) – Tribunal da Relação tem competência para julgar juízes de
1ª instância por causa das suas funções. Portanto, tem competência de 1ª
instância para julgar ações cometidas pelos juízes dos tribunais inferiores no
exercício das suas funções.
Mesmo uma ação que tenha um valor superior à alçada da Relação (ou seja, 30 mil euros – o que
significa que pode chegar ao STJ) não significa que a competência em razão da hierarquia para
julgar essa ação em 1ª instância não seja dos tribunais de comarca. Quando se fala em
competência em razão de hierarquia isto não tem a ver com o valor da causa, apenas tem a ver
com o valor da causa em sede de recurso. Se vou instaurar a ação pela 1ª vez é irrelevante para
saber se proponho a ação no tribunal de comarca ou da Relação ou STJ o valor da causa, apenas
em sede de recurso é que é relevante. – É ERRADO DIZER QUE: de acordo com o criterio da
distribuição em razão da hierarquia é competente o STJ porque a ação tem um valor superior a 30
mil euros.
3º critério – valor:
A toda a ação é atribuido um valor determinado por uma série de citérios que se encontram nos
artigo 296º e ss. CPC – criterios para saber o valor de uma determinada ação (todo o tipo de ações
têm critérios gerais e especiais de certo tipo de ações).
4º critério – do território:
Artigo 43º LOSJ: em traços largos distingue o âmbito de competência territorial dos vários graus da
hierarquia dos tribunais.
Como é que sei perante um determinado litígio no território nacional, querendo propor a ação em
1ª instancia ou em sede de recurso, que tribunal vai ser competente? De Faro, Évora, Porto, etc.
a 1ª coisa que tenho de fazer e que resulta do artigo 43º é saber em abstrato qual é a área
geográfica em que cada tribunal exerce jurisdição
o Tenho de saber até onde vai a circunscrição da competência de uma determinada
comarca e, para isso, tenho de ir à LOSJ sabendo que essa lei faz uma divisão do
território nacional em circunscrições e depois desta divisão diz-nos o que está
abrangido por cada circunscrição. – vamos encontrar nos anexos à lei de OSJ
Anexo I – determina qual é a área de circunscrição dos tribunais da
Relação:
Determina os 5 tribunais da Relação que existem e quais são as
comarcas abrangidas pela competência de cada um dos tribunais.
A circunscrição de cada Tribunal vai abranger várias comarcas
porque são apenas 5 tribunais.
o Exemplo: o Tribunal da Relação de Guimarães – se
tivermos uma sentença proferida por um tribunal de
comarca de Vila Real, se quiser recorrer para o tribunal da
Relação vou recorrer para o tribunal da Relação de
Guimarães.
Tenho de saber em abstrato quais são as áreas de
circunscrição abrangidas pelos tribunais da
Relação.
Temos de comparar os anexos à LOSJ com os artigos 70º e ss. CPC e aplicá-los ao caso concreto.
Servem diretamente para determinar dentro do território nacional qual é o tribunal
concretamente competente.
Temos uma regra geral e várias regras especiais para certas ações em concreto.
Ou seja, temos de ver em 1º lugar se há uma regra especial para a minha ação em concreto. Se não
existir nenhuma regra especial aplicável então vou aplicar a regra geral.
Regra geral dos artigos 80º e 81º CPC: domicilio do réu ou da pessoa coletiva
Esta regra geral tem por detrás um princípio de proteção do réu: é muito mais benéfico/favorável
ser réu numa ação no tribunal do meu domicilio, do que ter de ir a Faro cada vez que há uma
audiência por várias razões: tempo, custos do advogado, etc.
Este artigo já pressupõe que o tribunal PT é internacionalmente competente, por isso, este artigo
vai desesperadamente tentar encontrar dentro do território nacional qual é o tribunal, que vai ser
o domicílio do réu (portanto se o réu estiver noutro país vamos ter de descobrir aqui um domicílio
sucedâneo) – se o domicilio for de pais estrangeiro no limite tenho de arranjar cá algum tribunal
competente. Se o tribunal português é competente e a regra geral é a que se aplica então tenho de
arranjar em PT um tribunal competente.
O problema deste artigo é que não pode ser aplicado por remissão do artigo 62º alínea a), pode
ser aplicado internamente quando já se definiu que o tribunal PT é internacionalmente
competente mas não pode ser aplicado por remissão para definir se o tribunal PT é competente ou
não, porque é um momento prévio. Porque se não o tribunal PT por coincidência (artigo 62º a) por
remissão para o artigo 83º) seria sempre competente internacionalmente. Porque no limite era em
lisboa que iria recair um elemento de conexão.
O artigo 80ºnº3 só se pode aplicar quando já se tenha concluído previamente que o tribunal PT é
competente (por via direta na determinação da competência territorial na ordem interna). Não se
pode aplicar por remissão do artigo 62º a).
Artigo 70º:
Este artigo compreende-se por razão de prova, ou seja, naturalmente em ações que têm
por objeto imediato o próprio imóvel, é relevante saber qual é o local da situação do
imóvel, ou saber que o tribunal competente é o tribunal da situação do imóvel.
o A interpretação que a doutrina faz do artigo 70º é que apenas cabem aqui as ações
que tenham por objeto imediato o imóvel – há muitas ações que indiretamente
têm por objeto mediato um imóvel
Exemplo 1: ação de anulação de um contrato de compra e venda de um
imóvel com fundamento em simulação/erro (tanto faz o vício para o
efeito).
O objeto imediato nesta ação de anulação do contrato não é o
imóvel, é o contrato e o vicio do contrato. O imóvel é apenas um
objeto mediato
Exemplo 2: reivindicação; execução específica; etc
Aqui, pelo contrário, o objeto imediato já é o próprio imóvel
o Há uma única exceção a esta doutrina que é o professor
Castro Mendes – considera que nestas ações se devem
enquadrar as ações que direta ou indiretamente tenham
que ver com o imóvel;
defende que deve ser relativo ao objeto mediato
ou imediato
o Resto da doutrina – consideram de forma unanime que
este artigo deve ser interpretado restritivamente
precisamente por razões de prova, só se justifica para as
ações cujo objeto imediato seja um imóvel.
Artigo 71º:
Nº1 – diz respeito às ações que direta ou indiretamente esteja em causa o cumprimento
de um contrato, portanto para questões de cumprimento contratual e remete-nos para o
tribunal do domicílio do réu.
A 1ª parte corresponde com a regra geral
o Porque é que são ações que são direta ou indiretamente relacionadas com o
cumprimento?
Porque incluem-se ações para exigir o cumprimento mas também a
indemnização por não cumprimento (portanto, responsabilidade civil
contratual, o cumprimento defeituoso, resolução do contrato, etc) – no
fundo são questões contratuais, questões relativas ao cumprimento
contratual em geral.
o No entanto, se fosse apenas esta a regra não se compreendia porque a regra geral
é igual portanto tem alguma especialidade:
2ª parte – pode o credor optar pelo tribunal no lugar onde a obrigação
devia ser cumprida quando o réu seja uma pessoa coletiva.
No fundo, o que o artigo diz é que quando o réu é pessoa coletiva
não merece tanta proteção, e portanto, o autor pode escolher
outro tribunal territorialmente competente que é o do
cumprimento da obrigação.
Nº2 – trata dos casos das ações de responsabilidade civil extra contratual, que remete para
o local onde ocorreu o facto Ilicito (dos artigos mais aplicados em matéria de competência
territorial)
Artigo 82º: “pluralidade de réus e cumulação de pedidos” – é aqui que vamos descobrir as regras
para a fixação do tribunal competente na sequência de uma coligação.
No fundo o tribunal competente para julgar uma determinada ação é uma soma de todas as peças
do puzzle. Passo por todos os critérios:
Critério internacional: se o tribunal PT for competente
o Critério Material: se o tribunal competente for um tribunal judicial e de juízo X
Critério da Hierarquia: 1ª ou 2ª instância
Critério do valor e da forma de processo
Critério do território: qual o local do território do tribunal dentro de PT
Juntando estas peças todas, posso concluir que é competente para julgar a ação, por
exemplo, “o juízo central cível do tribunal judicial da comarca de Setúbal”.
A extensão da competência:
Ou seja, se há varias questões que se suscitam numa ação e que não são o
pedido principal, a questão que se coloca é: Saber se o tribunal
competente para conhecer o pedido principal propriamente dito também
pode conhecer das outras questões? Porque imaginemos que o tribunal
não era o competente para conhecer das questões isoladamente
colocadas.
Exemplo: para uma ação de cumprimento o tribunal competente
seria 1 e para conhecer da anulação do contrato seria outro; ou
para conhecer do pedido reconvencional do réu seria outro
tribunal o competente.
o Portanto, a pergunta que se coloca aqui é: Se a competência principal do tribunal
do pedido principal se estende também a estas questões. – estes 3 artigos
respondem a estas questões:
91º - questões incidentais
92º - questões prejudiciais
93º - questões reconvencionais
o Artigo 92º Nº1 – se o tribunal quiser pode suspender o processo à espera, por
exemplo, que no tribunal criminal seja decidido se houve ou não a prática de um
crime.
Resulta à contrario que se o tribunal não quiser suspender tambem não
precisa de o fazer – pode suspender ou pode julgar ele próprio, quando o
que esteja em causa seja uma questão prejudicial criminal ou
administrativa. Porque quando estiver em causa uma questão prejudicial
da competência de outra jurisdição aí o tribunal tem de decidir, não pode
suspender.
Por exemplo: se a questao prejudicial fosse da competência de um
juizo de família e menores estando a ação principal a decorrer da
competência de um juízo cível, o tribunal vai ter de decidir tudo –
tem competência para decidir tudo porque existe esta extensão.
o Se uma depende da outra não faria sentido estar a separar
as duas.
São os dois alterações da competencia através de um acordo das partes. Uma alteração da
competencia por via convencional (alteração da competência que resultaria da aplicação
da lei se não existisse o pacto).
Logo, o artigo 95º remete para o artigo 104º dizendo que estas
regras não podem mesmo ser afastadas.
Absoluta:
o O artigo 96º determina quais são os casos de incompetência absoluta:
Alinea a) sempre que sejam infringidas as regras de competência em
razão da:
matéria
hierarquia
competência internacional
o também se inclui aqui a violação de um pacto de
jurisdição, porque no fundo se tenho um pacto de
jurisdição inválido estou a desrespeitar as regras de
competência internacional.
Relativa:
o Artigos 102º determina que são os casos de infração das regras:
do valor
de território
ou de uma violação de um pacto de competência
+ professora acrescenta ainda o critério da forma de processo (se está
associado ao valor da causa, o critério da distribuição da competência em
função da forma de processo também tem de gerar incompetência
relativa e não absoluta).
AULA 6/11/2023
Aula passada:
Incompetência é uma exceção dilatória, mas se formos ao 278º onde tem a lista das ED que geram
a absolvição da instancia na alinea a) apenas temos a incompetência absoluta do tribunal – isto
significa que existirá outro tipo de incompetência, que será a relativa que não gera como
consequencia a absolvição do reu da instancia.
O que gera a incompetência absoluta: artigo 96º - é consequencia das infrações … da matéria da
hierarquia ou internacional + alinea b) a … do tribunal arbitral + violação de um pacto de
jurisdição, que apesar de não ser referido no artigo 96º é indiretamente referido no 97ºnº1
Incompetência relativa: ……
A analise… pressupõe tb a apreciação desse …. De pacto de competencia – artigo 95º para verificar
se o pacto é válido. Não faria sentido s eo tribunal não fosse valido….. --- Previamente a tudo, tem
de oficiosamente, averiguar da sua validade.
Quanto à incompetência absoluta: resulta do 97ºnº1 que pode ser arguida por ambas as
partes ou suscitada oficiosamente pelo tribunal.
o na verdade, a única parte para eguir a incompetência é o reu – seria um venire
contra factum proprio que o autor viesse instaurar a ação num tribunal e depois
viesse arguir a incompetência ….. quando seja reu de um pedido reconvencional.
Quem tem legitimidade é apenas o reu da ação e não o autor.
o O proprio artigo 97ºnº1 consagra 2 exceções ao conhecimento oficioso:
A violação de um pacto privativo de jurisdição
…. Implica que as partes por acordo era um tribunal estrangeiro e
apesar disso o autor …. E o reu não vem suscitar essa
incompetência. O tribunal não pode suscitar, porque na verdade
houve uma aceitação tácita das partes … se não vem … não faria
sentido que o tribunal obrigasse a cumprir o seu proprio acordo –
não há um interesse da ordem publica que justifique ….. por isso é
que é uma exceção
Preterição de um tribunal arbitral
É determinada pelas mesma ordem de razões da 1ª exceção
Vamos ver que a fonte da competencia de um tribunal arbitrtal é o
acordo entre as partes e, por isso, pela mesma razao se o reu não
vem arguir …. Não faz sentido que seja o tribunal que venha ….
Incompetência relativa: artigos 103º e 104º resulta que a regra é que apenas cabe ao réu
o ….
o O aritgo 104º no entanto determina o conhecimento oficioso … - afinal o que
resulta deste artigo é que o nº2 …. É sempre de conhecimento oficioso …. O valo
está sempre associado á forma de processo e ainda o …. A incompetência de
território é de conhecimento oficioso (estas regras não podem ser laterada spor
um pacto de competencia)
o Logo, apesar da regra parecer que esta incompetência …… há vários casos de
conhecimento oficioso
Momento até ao qual a incompetência pode ser suscitada pelas partes ou conhecida
oficiosamente pelo tribunal:
Absoluta – aritgo 97ºnº1 CPC: pode ser conhecida e suscitada até ao transito em julgado
da decisão sobre o fundo da causa.
o É de tal forma a importancia …. Que pode ser suscitada a incompetência absoluta
até ao transito em julgado.
o Exceção: artigo 97nº2 – quando estejam em causa apenas a violação das regras da
competencia em razao da matéria dentro dos tribunais judiciais, ….. na
competencia em razao da matéria haviam 2 planos diferentes (determinação da
ordem … distingua entre os judiciais e outras ordens….. ; e numa segunda dase, se
fosse dos judiciais tinhamos de ver se era de ….. competencia alargada…. ) se a
violação das regras de competencia for aoenas no ambito dos tribunaus judiciais
não é tao grave …. Nestes casos, o 97ºn2 resulta que pode ser conhecida ou
suscitada até ao despacho saniador apenas ou não havendo lugar a este, até ao
inicio da audiencia final. No fundo há uma antecipação ….
Relativa - …. Como regra apenas pode ser arguida, artigo 104ºnº3, pelo réu e, portanto, se
o réu apenas pode suscitar a questao da icnompetencia relativs até a contestação, isso
significa que o omoento para o tribnal tb será o despacho saneador, porque é este que é o
despacho imediatamente á contestação. E o ester artigo determina que o juix, quiando
possa conhecer da incompetência apenas o pode fazer até ao despacho saneador. Não
havendo … apenas ao ….
o Faz sentidso que apenas possa ser conhecida ate ao Desp saneador …. Porque ….
Remssa par aoutro tribunal, não faz sentido que fosse remetido na fase da
sentença ….. fazx sentido que seja neste momento e que o proximo tribunal siga a
ação a partir daí.
Relativa – artigo 105ºnº2, a decisão sobre incom relativa resolve definitivamente a questao
da competencia
o Aqui não é meramente formal, o obejtvo é … se o truibnal competente rejeitase a
competencia tinhamos um “ping-pong” que não se justiifca – é a forma de evitar
conflitos em matéria de competência relativa.
Impugnação ……
Absoluta-
o Exemplo, o tribnal onde prupor a ação é absolutamente incompetente para julgar
a causa e eu não concordo, a forma de impugnar é atraves de recurso. este recurso
tem uma especialidade a circunstancia de ser sempre admissível até ao STJ
independentemente do valor da causa - -artigo 629ºnº2 alinea a).
Apesar do valor da causa ser um pressuposto, havia causas cuja
admissibilidade existe independente do valor e os casos …..
Relativa – 105ºnº4
o A forma de impugnação é através de reclamação para o presidente do tribunal
superior – menor gravosidade de ….. incompetência relativa
Apenas determina a remessa para outro tribunal, não fico sem tribunal
competente, não fico sem ação – é menor grave que absoluta
Onde vem este meio? Podemos dizer que existe um pp de adm da jautiça que é o pp da …. Há uma
proibição de auto tutela que faz com que o estado assegure o monopólio da adminsitração da
justiça e crie os orgaos necessários para ….. têm por vocação administrar a justiça.
No entanto, ao longo do tempo, … houve uma evolução da sociedade no sentido de uma amaior
consciencia dos direitos que faz com que o recurso a tribunal seja maior, mas tambem uma maior
litigância que vai levar uma maior morosidade… e os custos maiores . por isso, para garantir que os
tribunais conseguam conrinuar a dar resposta …. E respeitar os pp do processo equitativo, no qual
se inclui o direito à justiça num prazo razoável, o legislador começou a admitir a entrada de meios
extrajudiciais de composição dos litigios que resultam de um acordo das partes. Foi assim, através
de acordos que se criaram e administram aos poucos estes meios alternativos de resolução de
litigios. Admitir …. Que permitem uma maior celeridade e alivio do sistema processual …
1. Arbitragem – sistema de resolução de litigios em que as partes por acordo decidem recorrer a
um tribunal constituido pelas proprias, ou escolhido pelas próprias, para resolver o litigio.
Artigo 8º – como é que são escolhidos/nomeados os árbitros que vao resolver o litígio:
Nº1 – pode ser constituído ou apenas por um arbitro ou várias desde que em número
impar (a decisão é tomada por maioria, logo é preciso que o nº de árbitros seja impar).
Nº2 – regra supletiva para quando as partes não tiverem acordado o número de árbitros,
este é composto por 3 na falta de decisão das partes.
Assim, estes artigos são as regras supletivas para o número de árbitros e forma de escolha.
Temos na lei de arbitragem apenas uma serie de princípios imperativos que estão no artigo
30º
o estão consagrados os princípios do processo equitativo: igualdade, contraditório,
etc - princípios gerais processuais e que são imperativos.
Fora desses princípios, quem escolhe qual é o regulamento aplicável à arbitragem são as
partes – portanto, é por convenção das partes ou se as partes não tiverem convencionado
será o tribunal arbitral a decidir qual é o regulamento de arbitragem que vai aplicar,
podendo inclusivamente usar e discorrer supletivamente às regras do CPC.
Muitas vezes o que acontece, sobretudo com os tribunais arbitrais com existência
permanente (caso do tribunal arbitral da Universidade Católica), é que estes têm um
regulamento de arbitragem pré-constituido que os árbitros depois seguirão no processo
arbitral.
No entanto, se for um tribunal arbitral constituido ad hoc por 3 árbitros constituido pelas
partes, nesse caso não há um regulamento pré-constituido e, portanto, das duas uma:
o Na convenção de arbitragem as partes determinam por acordo que regulamento
se aplica (podem remeter para um regulamento previamente existente com um
centro permanente) ou então atribuem ao tribunal arbitral a competência para a
escolha das regras.
Artigo 20ºnº1 – prevê-se que o tribunal arbitral tem competencia para decretar procidências
cautelares, apenas não tem competência para as executar, porque tudo o que implica o exercício
do iuris imperi carece de recurso ao tribunal estadual. Mas de resto, o tribunal arbitral tem
competência para decretar providências cautelares.
Artigo 39ºnº4 – estabelece que a regra nos processos arbitrais é de que a sentença que poe termo
ao processo arbitral não é suscetivel de recurso, a não ser que as partes tenham expressamente
convencionado em sentido inverso.
A lei anterior determinava a regra oposta: sentenças arbitrais eram recorríveis para os
tribunais estaduais, em concreto para o tribunal da Relação (considerava-se que a
sentença dos tribunais arbitrais eram o equivalente à 1ª instância), a não ser que as partes
convencionassem que não havia recurso.
o Na maior parte dos casos as partes esqueciam-se de convencionar o contrário, e,
portanto, o que acontecia era que, em regra, as sentenças arbitrais acabavam por
ser recorríveis e isso era extremamente prejudicial para a arbitragem – porque a
razão de ser na maioria dos casos de recurso à arbitragem era o fugir ao peso do
sistema judiciário estadual.
Portanto, se a sentença do tribunal arbitral for recorrível volta a entrar-se
no circuito de funcionamento dos tribunais estaduais que é o que as
partes que escolhem a arbitragem não querem.
o Logo, o legislador entendeu com a nova lei que se devia presumir que as partes
não queriam o recurso, salvo se o disserem o contrário.
Artigo 39ºNº1 – embora os árbitros julgam segundo o direito constituído, as partes podem
determinar por acordo que julguem segundo a equidade
Assim, é possível num julgamento arbitral (nunca num tribunal estadual, a não ser que a lei
remeta expressamente para a equidade) que as partes decidam que os árbitros devem
decidir segundo a justiça do caso concreto.
É frequente, sobretudo quando os árbitros não são juristas – quando os árbitros escolhidos
sejam médicos, engenheiros, etc, muitas vezes as partes podem preferir em vez de
determinar a aplicação do direito constituído, remeter para a equidade.
As sentenças arbitrais por regra não são recorríveis, mas podem ser objeto de pedido de
anulação com os fundamentos determinados neste artigo.
o A razão de ser do pedido de anulação não é um controlo de conteúdo da sentença
porque se assim fosse era uma forma de recurso, os fundamentos são coisas
como: o tribunal arbitral condenar com valor superior ao objeto diverso do pedido,
violação da convenção de arbitragem, violação dos pp gerais previstos no artigo
30º.
o Ou seja, estao em causa são razões de natureza formal e não de natureza material.
Nº3 alinea b) ii) – Há um único fundamento de anulação que por vezes permite (a
professora acha que é por isso que está nesta norma) uma revisão de conteúdo material
da decisão
o determina que o tribunal pode anular a sentença se se verificar que o conteúdo da
sentença ofende os princípios da ordem pública internacional do Estado
português.
Ninguem sabe bem o que é que este princípio significa – o que a parte
vencida num processo arbitral tenta é alterar de uma decisão que não
pode ser objeto de recurso vem a este fundamento para dizer que o
conteúdo da sentença é claramente violador do princípio da igualdade,
etc, e tentam por essa via alterar o que a impossibilidade de recurso não
permite.
Artigo 42ºnº7 – a sentença arbitral transitada em julgado tem o mesmo carater obrigatório entre
as partes que a sentença de um tribunal estadual transitado em julgado, e a mesma força
executiva. Ou seja, há uma equiparação da força da sentença do tribunal arbitral à força de uma
sentença de um tribunal estadual. – é extremamente relevante: quer o caso julgado quer a força
de titulo executivo são exatamente as mesmas daquelas que resultam da sentença de um tribunal
estadual..
O que é que acontece quando haja uma violação da convenção arbitral e a ação seja proposta num
tribunal estadual?
A violação e uma convenção arbitral gera incompetência absoluta – artigo 96º CPC e inclui
na alinea b) a preterição do tribunal arbitral como fundamento para incompetência
absoluta do tribunal estadual.
o Significa que o tribunal deve seguir o regime da incompetência absoluta:
de conhecimento oficioso
consequencia é a absolvição do réu da instância.
o No entanto, apesar da regra ser de conhecimento oficiosos, também vimos
quando estudámos o regime da incompetência absoluta que há uma exceção a
este conhecimento oficioso: a violação de uma convenção de arbitragem.
Não é de conhecimento oficioso porque se a fonte da competência do
tribunal arbitral é a convenção, se o autor propõe a ação no tribunal
estadual e o reu não vem arguir essa incompetência entao temos uma
revogação tacita da convenção de arbitragem que faz com que o tribunal
estadual passe a ser competente.
o Porque é que então a incompetência é absoluta e não relativa?
Porque a consequência tem de ser necessariamente a absolvição da
instancia, não pode ser a remessa do processo para o tribunal
competente. Não fazia sentido que um tribunal estadual remetesse o
processo para um tribunal arbitral que ainda não está sequer constituído.
isto podia ter sido uma opção do legislador, já com o CPC de 1961,
a violação do tribunal arbitral não gerava competencia absoluta,
mas relativa sendo que a consequência era a absolvição da
instância (o conhecimento não era oficioso, mas a consequência
deixava de ser a adequada porque não era a remessa para o
tribunal competente). Atualmente a consequencia da
incompetência é absoluta com a exceção de que deve ser arguido
pelas partes – é o que resulta do artigo 97ºnº1 CPC.
o Artigo 61º (para efeitos executivos): As decisões dos julgados de paz têm o valor
de uma sentença de 1ª instância apara efeitos executivos, ou seja, posso pegar
também nessa sentença tal como a sentença arbitral e executá-la através de um
processo executivo
o Artigo 62º (para efeitos de recurso): as decisões proferidas nos processo cujo valor
exceda metade do valor da alçada do tribunal de 1ª instância (ou seja, 2500 euros)
podem ser impugnadas por meio de recurso a interpor para o tribunal de 1ª
instancia, as outras não são recorríveis.
Portanto, a sentença do julgado de paz por um lado tem o valor de sentença de 1ª
instância para efeitos de exequibilidade (artigo 61º), mas não para efeitos de recurso
porque a sentença de julgado de paz apenas é recorrível em ações de valor superior a
2500 euros e, mesmo assim, o recurso é para os tribunais de 1ª instância e não para os
tribunais da Relação (artigo 62º)
o O legislador quase que dá mais valor às sentenças do tribunal arbitral do que às
decisões do julgado de paz
Competência de um julgado de paz – determina-se através de 3 elementos:
o Matéria – artigos 6º e 9º
Artigo 6ºNº1 - Os Julgados de paz apenas têm competência declarativa,
portanto, apenas para ações declarativas e não executivas.
Artigo 9º: dentro das ações declarativas apenas são competentes para
apreciar e decidir as matérias que estão na lista deste artigo 9ºnº1.
Alinea d), por exemplo: ações resolução de litigios entre
proprietários de prédios relativos entre a passagem forçada
momentânea
o Ou seja, são ações em respeito às relações de proximidade
entre as pessoas.
o Valor – artigo 8º
Os Julgados de Paz só julgam ações cujo valor não exceda os 15 mil euros.
Não são ações de grande valor
o Território – artigo 3º
A jurisdição não abrange todo o território nacional, não estão
estabelecidos em todo o território
São criados por diploma do Governo + o diploma de criação define a
circunscrição territorial dos julgados de paz.
Se estiver numa circunscrição cujo elemento de conexão da
competência territorial nesse território/circunscrição não exista
julgado de paz, então não se pode recorrer a JP.
Capítulo 4 – PROVA: não vamos dar toda a matéria da prova neste semestre
Prova como atividade das partes: quando dizemos que o processo entrou na fase da prova,
A tem de provar o facto X
o falamos de prova como uma atividade para demonstrar a realidade dos factos
Prova como um meio: os meios que proporcionam a possibilidade de demonstrar a
realidade dos factos; o autor juntou aos autos as provas
Prova como um resultado: quando aquela atividade criou no espirito do julgador uma
certa convicção.
o quando dizemos que algo ficou provado.
o Implica a criação de uma convicção da verdade dos factos no espírito do julgador.
No entanto, a necessidade de prova para o julgador julgar a favor daquela parte
nem sempre adquire a mesma dimensão consoante o tipo de processo. Por isso, se
opõe a chamada prova à verosimilhança: aquilo que é suficiente nos
procedimentos cautelares para que o tribunal decrete uma providência cautelar,
devido ao caráter urgente da situação
Prova – criar no espírito do julgador a convicção da realidade daquele
facto, que este ocorreu.
Verosimilhança – já não é uma certeza, não é uma convicção mas uma
simples probabilidade da verificação.
Mas isto é uma exceção
Artigo 341º CC: prova é considerada matéria de direito substantivo e, portanto está regulada no CC
Aula passada:
O direito probatório é o conjunto das normas que regulam as questões relativas à prova, é isto que
consubstancia o direito probatório.
A escolha por um ou outro entendimento pode ter relevancia não apenas no código que
venha a conter as normas (CPC ou CC) – portanto é relevante do ponto de vista da
localização sistemática das normas.
E ainda, saber se uma norma tem natureza de direito material ou processual é a diferença
entre saber se é uma norma de direito público ou de direito privado de que as partes
possam dispor.
o Direito processual tem uma natureza de direito público
o Direito material tem uma natureza de direito privado
Tem relevância a nível da aplicação no tempo: se estiver em causa uma norma de direito
substantivo então a sua aplicação no tempo tem de salvaguardar os direitos adquiridos,
enquanto se for uma norma de direito processual a sua aplicação é imediata, está em
causa a salvaguarda do bom funcionamento da justiça.
Logo, esta discussão sobre a natureza do direito probatório ser material ou processual não é
um pormenor.
Há de facto razões para olharmos para o direito probatório e ver que há normas que até podem ter
um cariz mais processual e outras mais material. Por isso é que, dentro do direito probatório, a
doutrina dividiu entre direito probatório material e o direito probatório formal, portanto, dentro
das normas relativas às provas vamos ter normas de 2 naturezas diferentes:
Direito probatório material – as que são consideradas terem uma natureza substantiva ou
material
Direito probatório formal – é constituido pelas normas puramente adjetivo-processuais.
Esta questão da natureza das normas foi largamente debatida durante os trabalhos preparatórios
do atual CCivil para decidir se as normas de direito probatório deviam estar reguladas no CPC ou
no CCivil. Depois de se considerar que dependia porque há normas com natureza mais material e
outras mais processual, decidiu-se distinguir estes dois tipos de direito probatório e entender que:
aquelas normas que fossem caracterizadas como sendo de direito probatório material
deviam ser reguladas pelo CCivil
enquanto as normas de direito probatório puramente processuais seriam reguladas
apenas pelo CPC.
(só vamos tratar das regras de direito probatório material, as regras de direito probatório formal
tem a ver com a marcha do processo)
Já tratámos dos principios gerais do Processo Civil. Alguns destes princípios vão ser comuns
(encontram concretização no direito probatório) e outros são próprios do direito probatório (são
apenas especificos do direito probatório).
Os princípios vamos encontrar no CPC, não aqui ainda uma distinção entre direito probatório
material e formal.
O nosso CPC ainda tinha uma tendência sobretudo dispositiva, era um equilibrio de forças
em que as partes ainda tinham mais poderes, mas uma das exceções a esta prevalência do
dispositivo é precisamente a matéria da prova em que vigora com mais força o princípio
do inquisitório:
o Manifesta-se em vários aspetos dentro do direito probatório:
1) Iniciativa probatória – artigo 411º CPC
Este artigo é uma manifestação do inquisitório porque permite ao
tribunal não ter de ficar à mercê dos meios de prova apresentados
pelas partes uma vez que pode o tribunal oficiosamente trazer
meios de prova.
o “trazer meios de prova” não é no sentido de que o
tribunal vai investigar – mas pode ordenar/pedir a certas
entidades para fornecer documentos, etc; pode querer
dirigir-se ao local do acidente para verificar uma série de
aspetos que só se podem verificar em concreto (como
marcas de travão na estrada, se o semáforo está a
funcionar, etc), tudo isto o tribunal pode ter iniciativa e
não tem de esperar pelo requerimento do despacho.
o Não obstante esta iniciativa probatória reconhecida ao
juiz, normalmente é interpretada e de forma correta pela
jurisprudência como sendo um poder complementar:
Ou seja, se as partes não trouxerem nenhum meio
de prova ao processo não faz sentido que o
tribunal se substitua totalmente às partes na
aquisição de meios de prova, é um poder
complementar em face daquilo que sejam os
meios de prova que são trazidos ao processo pelas
próprias partes.
Parte final deste artigo “relativamente aos factos de que lhe é
lícito conhecer” – ou seja, esta iniciativa probatória do tribunal não
prescinde da circunstância de que os factos estejam no processo.
o Vimos que há casos de exceções em que o juiz pode
oficiosamente considerar certos factos – estão no artigo
5º CPC relativamente ao dispositivo e inquisitório em
termos gerais e quanto à alegação dos factos.
No entanto, uma coisa é a alegação dos factos,
outra coisa é a prova dos factos alegados.
o Se os factos não estão no processo é irrelevante a prova
que vou trazer: o objeto da prova são os factos e, se isto é
assim, o tribunal até pode oficiosamente recolher prova
mas se os factos não estão no processo o tribunal não se
pode substituir às partes a não ser nas exceções do artigo
5º CPC.
o Portanto esta parte final do artigo 411º é uma limitação
importante a este poder inquisitório em matéria da
iniciativa de prova.
2) Produção da prova
Já não tem a ver com a questão de quem tem a iniciativa de
recolher a prova, mas da questão de saber em que termos é que
se produz a prova.
Ou seja, o tribunal tem de aceitar tudo o que as partes pedem? ou
é ele que lidera a forma como é que é produzida a prova, se aceita
ou não os meios probatórios trazidos pelas partes, quem é que
tem o impulso processual e dirige a produção da prova?
o Para esse efeito rege a regra geral do poder-dever de
gestão processual do artigo 6º de onde resulta que é o
tribunal que durante a produção da prova que deve
exercer esses poderes, sobretudo o artigo 6ºnº1 dizendo
que “cumpre ao juiz dirigir ativamente o processo,
providenciar pelo seu andamento célere, promovendo as
diligencias necessárias ao andamento da ação e
recusando o que for impertinente ou meramente dilatório”
Portanto acontece muitas vezes que as partes
requerem um certo meio de prova e o tribunal
indefere, porque, por exemplo: não tem nada a
ver com o objeto da ação; é desnecessário; etc
Logo, também a nível de produção de prova o
tribunal tem um papel de uma iniciativa
importante.
2º princípio da colaboração (pp geral): traduz uma imposição legal às partes do processo e a
terceiros da colaboração no processo para a descoberta da verdade. Há um dever geral imposto a
todos os que têm contacto com o processo judicial de cooperação para a descoberta da verdade.
Claro que as partes estão em sentidos opostos, há um limite dentro do qual cada parte está no
cumprimento do seu papel pela circunstância de não estar num papel imparcial como o juiz de
levar a juízo tudo o que interessa independentemente de lhe ser conveniente – falamos de uma
cooperação processual e não numa cooperação ao nível do direito substantivo.
Logo, este princípio da cooperação tem consequências para terceiros e para as partes.
Do CPC:
o princípios gerais aplicados a todo o Processo civil:
artigo 7º (pp de cooperação)
artigo 8º (dever de boa fé processual)
artigo 542º e ss. (litigância de má-fé)
o em matéria de prova temos um artigo específico.
Artigo 417º:
Nº1 – consequências para as partes
Nº2 – consequências para todos
3º principio do contraditório – é um princípio geral mas tem uma aplicação muito relevante em
matéria de produção de prova.
princípio geral está no artigo 3ºnº1 CPC fala em geral do contraditório que a contra parte
tem de ser sempre chamada à sua posição
A regra é a de que a prova produzida numa certa ação pode ser aproveitada numa outra ação pela
parte interessada.
Não é relativamente a todo o tipo de prova, até porque se for uma prova pré-constituída
este princípio não faz sentido porque quando junto aquela prova ao processo não significa
que não fique com o original
o É relevante sobretudo para a prova constituenda (a produzida em audiência).
Numa segunda ação em que aquele facto é relevante, como é que posso
aproveitar aquela prova?
Exemplo: na 1ª ação a contra parte confessou que era um contrato
de trabalho e não uma prestação de serviços e isso fez com que o
autor ganhasse a ação; Numa 2ª ação em que o autor quer a
condenação do réu ao pagamento de uma indemnização das – a
questão é saber em que medida pode o autor da 1ª ação ir buscar
uma certidão da confissão daquela 1ª ação e apresentá-la na 2ª
ação tendo em conta que foi uma prova constituenda daquela 1ª
ação.
o O que nos diz este princípio é que, mediante certas
circunstâncias pode fazê-lo. Nomeadamente, a
necessidade de na 1ª ação ter sido observado o
contraditório, pode aproveitá-lo e pedir uma certidão
daquela prova para usar na 2ª ação.
o No entanto, e o artigo 421º acaba por dizer isso, uma
confissão produzida na 1ª ação não vai ter o mesmo valor
tabelado do que teve na 1ª. Porquê?
Porque nem toda a confissão tem o
mesmo valor. A confissão processual
(produzida no processo) tem mais valor
do que uma confissão extraprocessual –
compreende-se porque as garantias não
são as mesmas.
Mas se for buscar uma confissão feita no processo
da 1ª ação e a usar na 2ª, o legislador entende
(artigo 355ºnº3 CC para onde remete o 421ºn1)
que há uma degradação do valor da confissão,
mas posso aproveitá-la.
O valor extraprocessual das provas não significa que o tribunal na 2ª ação tenha de considerar
provados os mesmos factos dos que foram considerados na 1ª ação – o princípio do valor
extraprocessual da prova apenas diz que posso usar no 2º processo uma prova constituenda, mas
no 2º vai ser o tribunal que, de acordo com as regras, se a prova for sujeita a livre apreciação, o juiz
pode ter uma opinião diferente da do juiz na 1ª ação.
Logo, valor extra processual das provas = posso usar uma prova constituenda no 2º processo, mas
não significa que os factos vao ser dados igualmente pelo juiz da 2ª ação.
7º princípio da imediação
Impõe a existencia de um contacto direto entre o juiz e as provas pessoais (relativamente a outras
provas, exemplo: as documentais, claro que o juiz tem contacto direto).
Provas pessoais são no fundo as provas por depoimento: a testemunha, uma parte, o
perito que depõe sobre o seu relatório pericial.
o Significa que essas provas são resultado de um depoimento em frente ao juiz (um
contacto direto) e não através de, por exemplo, um relatório escrito.
Na arbitragem é muito frequente que as testemunhas não vão a juizo mas
apresentam documentos escritos assinados por elas e depois só vao a
juizo se por acaso houver dúvidas.
O princípio vigente no CPC é o da imediação, não é que haja um artigo que o consagre
expressamente, mas os artigos que regulam a produção de prova em audiência levam a crer
claramente que os depoentes devem ir diretamente a juizo perante o tribunal na audiência que
está desse depoimento. – resulta do artigo 604ºnº3 (não o determina expressamente, mas resulta
daí).
Em que medida é que este princípio estava a ser observado na altura da pandemia?
E por isso, a razão de ser do princípio da imediação é esta: se o juiz lesse o depoimento não iria
captar nem metade disso.
Isto não tem nada a ver com a gravação das audiências que é uma regra de que todas as
audiências são gravadas – é uma consequência, uma garantia extra deste princípio, mas não é o
princípio da imediação. A vantagem da gravação é o facilitar o recurso da matéria de facto,
portanto se a parte que perdeu quiser impugnar o julgamento da matéria de facto que o tribunal
fez, vai ter de recorrer à gravação das audiências.
AULA 16/11/2023
(Livro da universidade católica sobre as regras do ónus da prova: “a inversão do ónus da prova no
direito civil português” da professora Rita Lynce de Faria)
Direito probatório material tem 3 elementos: ónus da prova; admissibilidade dos meios de prova e
o valor dos meios de prova.
Ónus da prova: (estudar pelo livro da professora, bom resumo sobre esta matéria
O juiz não pode chegar ao final de uma ação e dizer que não tem condições para julgar
porque as partes não levaram ao processo prova suficiente para que possa proferir
julgamento, o juiz não pode dizer que não está convicto da decisão e que portanto não vai
decidir do processo- isto não é permitido, o juiz tem um dever de julgar: artigo 8º Código
Civil, artigo 2ºnº1 CPC e artigo 20ºnº4 CRP determinam todos isto.
o Artigo 8º CCivil: “o tribunal não pode abster-se de julgar invocando a falta ou
obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos em litígio” –
não pode mesmo com dúvida deixar de julgar.
Então como é que o tribunal vai decidir se anula ou não determinado contrato quando não
tem a certeza de que o vício se verificou?
o É neste contexto que surgem as regras sobre o ónus da prova – são regras que
determinam contra quem é que o juiz deve julgar em caso de dúvida insanável
sobre os factos, vão dar uma resposta ao juiz em caso de dúvida.
o Estas regras são muito importantes porque é raro existir uma ação em que o juiz
não tenha dúvida sobre facto nenhum. Há factos que ficarão provados e outros
que não.
Portanto, são raros os processos em que o juiz não tem de recorrer a estas
regras, mesmo que não sobre todos os factos (há factos que ficam
provados e outros que não) – relativamente aos não provados como é que
o juiz julga? Contra o autor a consequência será absolver o réu; contra o
réu será condená-lo.
Onde é que encontramos as regras sobre o ónus da prova? Encontramos no Código Civil porque
são regras de direito probatório material. Neste caso é muito evidente que são regras com uma
natureza e um conteúdo material e substantivo, porque o tribunal vai usar estas regras para decidir
se vai absolver ou condenar o réu. Apesar de aparentemente serem normas sobre prova, ao
mesmo tempo vão determinar quem é que vai ganhar a ação, portanto, no fundo, são regras que
dizerem algo do género: “se o autor numa ação de anulação não provar o vicio do negócio jurídico
então o tribunal tem de absolver o réu” (são regras deste género) — logo, no fundo, são regras de
direito material. Apesar de ser sobre prova, esta regra vai determinar o conteúdo material da
sentença do tribunal – é o mesmo que ter uma norma que diga “quem tem razão nesta
circunstância é o réu”.
Portanto, são regras com um conteúdo material porque vão determinar o conteúdo de mérito da
sentença.
As regras sobre o ónus da prova em sentido objetivo são regras que se aplicam apenas no
momento em que o tribunal vai formular a sentença porque é apenas nesse momento em que
o tribunal vai olhar para o conjunto dos meios de prova independentemente da sua origem e
considerar que os factos estão verificados ou não vs num sistema de sentido subjetivo para
além do juiz não poder trazer prova ao processo, não existe o princípio da aquisição processual
e, portanto, relevam as regras do ónus da prova no momento em que as partes vão proceder à
instrução dos factos que lhes aproveitam.
Como o nosso processo é colaborativo o ónus da prova ganha um significado na sentença.
Enquanto nos sistemas subjetivos ganha significado na fase da instrução para cada parte saber
o que é que tem de provar e, se não provar, as consequências que terá.
Apesar do nosso ónus da prova ser objetivo, isso não significa que cada parte não vá tentar
provar os factos que lhe aproveitam: seria uma insanidade de uma das partes se pensasse que
como o tribunal pode recolher prova oficiosamente e como pode ser que da prova
apresentada da outra parte alguma coisa lhe seja favorável, então não vai produzir prova sobre
os factos de que tem ónus da prova — o provável é cada parte se dedicar a essa prova de
qualquer forma porque quando o juiz vai aproveitar as regras do ónus da prova é só no final.
Em qual dos sentidos é que as regras sobre prova são o verdadeiro ónus? No sentido objetivo ou
subjetivo?
No subjetivo, porque no sentido objetivo em que tudo o que é recolhido é usado e aproveitado
para a prova há um ónus tendencial mas o que há verdadeiramente é um risco. Portanto, quando
falamos em ónus da prova o nosso sistema processual não é um ónus propriamente é um risco da
prova não ter sido feita por alguém mas não é necessariamente um ónus porque a parte pode não
ter trazido ao processo prova do facto que lhe aproveita mas o tribunal ter conseguido recolhê-la e
a ação não ser julgada contra si na mesma.
As regras do ónus da prova estão no Código Civil porque estão em causa regras de direito
substantivo: artigos 342º e ss.
Não vai falar em ações em concreto, é uma norma geral e abstrata para todo o tipo de
ações:
o Nº1 – “àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos
do direito alegado”.
o Nº2 – “a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
invocado compete àquele contra quem a invocação é feita”.
o Nº3 – para casos irresolúveis, casos de dúvida que nem o nº1 nem o nº2 resolvem:
os factos devem ser considerados como constitutivos do direito
é de aplicação excecional
Logo, a aplicação dos nºs do artigo 342º faz depender o ónus da prova da classificação dos
factos na ação — temos de saber o que é um facto constitutivo, extintivo, modificativo ou
impeditivo:
o Para aplicar o artigo 342º não posso classificar um facto independentemente de
analisar a situação em concreto e o direito que está a ser invocado na ação,
porque o 342º diz “àquele que invocar um direito compete a prova dos factos
constitutivos desse direito”, logo não posso qualificar um facto como constitutivo
sem saber em 1º lugar qual é o direito que está a ser invocado porque um mesmo
facto em ações diferentes pode ter uma natureza diferente.
o Exemplo de ação:
ação de cumprimento de um negócio jurídico, de pagamento do preço - o
que estou a invocar é o direito ao cumprimento do negócio celebrado.
Factos constitutivos serão os relativos ao nascimento da relação
jurídica, portanto quais foram os factos que deram origem àquele
direito (a fonte do direito do autor):
o a celebração do negócio jurídico é desde logo um facto
constitutivo do meu direito ao cumprimento.
Situações que se suscita na doutrina discussão sobre saber o que é aquele facto:
1º exemplo: se quando peço a celebração de um negócio jurídico, se facto constitutivo do direito é
apenas a celebração do negocio jurídico, ou se será a celebração de um negócio jurídico válido
Ou seja, será que facto constitutivo do direito para alem do negócio jurídico não é
também a necessidade de demonstrar que este não tinham nenhum vicio do NJ? Será que
isso não é também facto constitutivo? Ou será que esses vícios serão factos extintivos ou
ainda impeditivos do NJ?
Concluiu-se que, e o professor José Alberto dos reis fala disso: o que deve vingar é uma
teoria da normalidade, ou seja, temos de partir do princípio de que um NJ se é
apresentado é valido, há um princípio de validade dos NJ – porque se não fosse assim
seria quase impossível demonstrar o facto constitutivo, seriam factos negativos. Teria que
demonstrar a ausência de vícios, que foi tudo celebrado corretamente e isso é quase
impossível de provar. Logo a normalidade deve prevalecer
o autor é quem tem o ónus da prova dos factos constitutivos (nº1 342º):
o se considerarmos o não pagamento um facto constitutivo do direito do autor – se
o juiz ficar na dúvida sobre se o réu pagou ou não, vai julgar contra o autor, ou
seja, absolver o réu do pedido.
o enquanto se considerarmos que o não pagamento é um facto extintivo, quem
tinha de mostrar o pagamento como facto extintivo do direito do autor seria o réu
(nº2 342º) — então nesse caso que, se não ficar provado o pagamento, então o
réu será condenado.
A resposta da jurisprudência em geral considera que o pagamento é um facto extintivo
do direito do autor, por razões de facilidade de prova.
Há vários critérios que ao longo do tempo a doutrina foi criando e a jurisprudência também para
complementar este artigo 342º e facilitar a interpretação do que serão factos constitutivos,
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito:
Temos também critérios que não foram teorizados, que foram criados ad hoc que muitas vezes a
jurisprudência inova (vai pela intuição olhando a quem é que faria sentido imputar este facto em
vez de o qualificar):
Rosenberg criou uma teoria que teve muita adesão e aplicou-se na Alemanha:
Teoria da Norma e foi adotada em PT como critério complementar de interpretação do
artigo 342º:
o Dizia que a cada parte cabe a prova dos factos que constituem a previsão da
norma que a parte invoca.
O autor quando instaura uma ação vai fundamentar a sua pretensão numa
norma. Como é que eu sei quais são os factos constitutivos do direito do
autor?
Olhando para a previsão da norma o autor tem de demonstrar
todos os factos que integram a previsão da norma só assim
podendo aplicar-se a estatuição da norma – a estatuição da norma
é aquela de onde resulta do direito do autor.
o Em termos gerais de acordo com esta teoria, cada parte tem o ónus de provar os
factos que integram a previsão da norma que invoca, para garantir a existência do
seu direito.
Exemplo 1: responsabilidade civil extra-contratual do artigo 483º CC
relativo a um acidente de viação - vai invocar como fundamento jurídico,
ainda que não invoque a norma, este é o fundamento jurídico do seu
direito à indemnização.
Vamos ao artigo 483º CCivil para determinar qual é a previsão e a
estatuição:
o a estatuição é “fica obrigado a indemnizar o lesado pelos
danos resultantes da violação”.
o Quem vem invocar esta norma é o autor.
o A pergunta que se coloca é saber quais são os factos
constitutivos do seu direito para o tribunal saber, no final,
se esses factos não ficarem provados, que tem de julgar
contra o autor que é quem tem o ónus da prova dos factos
constitutivos = Quais são os factos que integram a
previsão deste artigo 483ºnº1 CCivil?
os factos que integram serão: o acidente que
corresponde à violação ilícita do direito; a culpa,
nexo de causalidade porque os danos têm de
resultar da ilicitude, e os danos (no fundo são
todos os pressupostos na responsabilidade civil).
Os factos constitutivos são os factos que integram
estes conceitos jurídicos: o acidente; a
demonstração de que o autor sofreu danos;
demonstrar que o réu vinha em exceções de
velocidade ou outra forma de culpa; que os danos
que sofri foram consequência do embate — o que
releva no processo são factos e não conceitos
jurídicos
Logo tenho de subssumir os factos, o juiz
quando vai decidir e aplicar a norma o
que vai fazer é pegar nos factos da ação e
subssumi-los à norma.
Portanto, quando dizemos “factos
constitutivos do direito do autor à
indemnização que são o dano, etc” — são
os factos que integra a ilicitude, o dano, o
nexo de causalidade, etc.
o Esta teoria de alguma forma cria uma formula aparentemente intuitiva e fácil para
percebermos que quem invoca a norma é quem tem de provar.
A mesma coisa se, por exemplo, o réu vem dizer na sua contestação que o
direito do autor à indemnização já prescreveu - aqui será o réu que está a
invocar aquela norma que se quer que se aplique a consequência da
prescrição (que é a extinção do direito do autor), tem de demonstrar a
passagem do tempo.
Sei que o ónus da prova de demonstrar que já passaram X anos
pertence ao réu.
Se o autor conseguir provar os factos constitutivos do seu direito e
o réu não conseguir provar os factos extintivos do direito do autor,
então o tribunal irá julgar contra o réu – condena o réu no pedido.
Exemplo 2: ação de anulação com fundamento em erro – autor instaura
ação para anular o negócio celebrado com o réu dizendo que houve um
erro sobre o objeto do NJ. Achava que tinha uma determinada
caracteristica e afinal tem outra, estava em erro e portanto quer a
anulação do NJ.
Nesta ação de anulação o tribunal chega ao final e depois de muita
prova efetuada (prova sujeita à livre convicção do tribunal) vamos
supor que a prova não tem uma força probatória suficiente e,
portanto o tribunal fica na dúvida.
o Temos de saber quais é que são os factos constitutivos do
direito do autor para saber se é contra ele que tenho de
julgar ou se é contra o autor.
o Os factos constitutivos do direito à anulação:
tenho de ir à norma de direito substantivo (Código
Civil) e em particular ao artigo 251º porque é
aquele que prevê o erro sobre a pessoa ou sobre o
objeto do NJ:
temos de olhar à previsão e à estatuição:
estatuição – “torna este anulável”
previsão (os factos que constam da
previsão da norma) –
o do artigo 251º: “erro que atinja os
motivos determinantes da
vontade” “quando se refira à
pessoa do declaratário ou ao
objeto do NJ”
Logo, tenho de demonstrar que:
estava em erro, que
houve uma divergência
das vontades;
que esta divergência
recaiu sobre o objeto do
negócio (que eu achava
que o automóvel tinha
uma característica e afinal
tinha outra);
a celebração do próprio
NJ
o do artigo 247º: “o declaratário
tem de conhecer ou não devesse
ignorar a essencialidade do
elemento sobre o que incidiu o
erro”
temos a essencialidade do
erro – tem de ter sido
determinante da vontade
de contratar (que já
estava no 251º)
que o declaratário
conhecesse ou não
devesse ignorar a
essencialidade do erro.
o Vamos ao conjunto destes dois
artigos, vamos à norma, e
retiramos todos os factos
constitutivos.
o O réu vem invocar que o direito à
anulação já caducou e vem
invocar para o efeito o artigo 287º
Para certo tipo de ações temos casos especiais. Porque é que o legislador criou estes casos
especiais? Por 2 motivos:
1) Porque eram ações em que na altura já existiam duvidas, ou seja, ações que
suscitavam dúvidas na doutrina sobre a quem cabia o ónus da prova. Portanto o o
legislador esclareceu a quem competia, resolveu as dúvidas
2) Nestes casos especiais o legislador quis alterar as regras gerais.
Portanto há casos que foi para esclarecer dúvidas e outros casos que foi para alterar as
regras gerais.
o Pormenor deste artigo: “do direito que se arroga” – ou seja, podemos retirar da
parte final deste artigo que este ónus da prova especial (esta inversão do ónus da
prova) só faz sentido quando seja o réu a dar origem à situação de dúvida ou de
incerteza, quando foi o réu que se arrogou do direito.
É como se fosse uma sanção para o réu – se ele se arrogou então vai ser
ele que em primeiro lugar vai ter de demonstrar os factos constitutivos do
seu direito.
Esta é a regra geral: numa ação de simples apreciação negativa
sabemos que só existe interesse em agir quando haja uma
incerteza grave e objetiva que, normalmente, terá sido criada pelo
réu.
No entanto, (embora menos comum) se por acaso estivermos
numa situação de incerteza causada por um terceiro (como é o
caso do exemplo do jornal que noticiou a existência de uma dívida
do autor sobre o devedor), se vou instaurar a ação contra o
devedor para que se declare que o direito não existe, neste caso já
não se aplica a regra especial do artigo 343ºnº1 porque não foi o
réu que se arrogou do direito – aqui será o autor que terá o ónus
da prova pelos factos, no fundo, extintivos, modificativos e
impeditivos em primeiro lugar e se não o fizer então o tribunal não
pode julgar a ação procedente.
Há muita jurisprudência diferente sobre esta parte final do artigo.
o Suscitaram-se dúvidas sobre se, quando vou invocar o direito à anulação, será que
não tenho de demonstrar que estou a exercer o direito dentro do prazo? Não
devia ter de demonstrar como facto constitutivo do meu direito que desde o
conhecimento do vício até à instauração da ação ainda não decorreu 1 ano? – este
Nº2 esclarece-nos que não.
o Porquê?
É uma razão de dificuldade de prova: é muito mais fácil para o réu provar
que o autor numa data em específico já sabia do vício e a partir daí contar-
se o prazo para saber se a ação foi proposta dentro do prazo (= fazer a
prova de um facto positivo), do que para o autor demonstrar que não
conhecia do vício – até pode demonstrar que no dia x não conhecia, mas
nada garante que não tenha conhecido antes o vício –, teria de
demonstrar que durante todo aquele tempo não conheceu o vício, que só
conheceu naquela data e que desde aí não passou 1 ano (= fazer prova de
um facto negativo).
Seria mais difícil para o autor a prova de um facto negativo, do que para o réu
a prova de um facto positivo.
AULA 20/11/2023
Aula passada:
Temos regras gerais de distribuição do ónus da prova (artigos 342º do CC) – há dificuldade pratica
de aplicar estas regras, e para isso temos um criterio auxiliar de interpretação deste artigo que é o
criterio/teoria da norma de autor alemão Rosenberg, este critério consiste na distinção dentro das
normas de 2 partes:
critério da teoria da alegação – também é útil embora não tão fidedigno como a teoria da
norma.
o Vem dizer que tendencialmente aquele que alega um facto é aquele que tem o
ónus da prova desse facto, porque em principio, claro que a parte vai alegar
aqueles factos que lhe interessam e no fundo o resumo geral do que está no artigo
342º quando diz que o autor tem de provar os factos constitutivos e o reu os factos
impeditivos, modificativos ou extintivos, o que a norma está a dizer é que cada
parte tem o ónus de provar os factos que lhe aproveitam. Por isso, a tendência é
que (se são os factos que lhe aproveitam) cada parte venha alegar esses mesmos
factos que lhe aproveitam.
Embora o CPC não tenha normas de distribuição do ónus da prova que estão contidas no CCivil
(porque são normas de direito material, com um conteúdo material), a verdade é que o CPC tem o
artigo 414º CPC que apesar de não ser tão desenvolvido sintetiza a ideia do 342º CC.
Tem por epigrafe “princípio a observar em caso de duvida”: a dúvida sobre a realidade de
um facto e sobre a repartição do ónus da prova resolve-se contra a parte a quem o facto
aproveita (isto depois está concretizado no artigo 342º CC).
o Ou seja, o resumo do 342º é este: cada parte tem o ónus da prova do facto que lhe
aproveita.
o Tendencialmente cada parte vem alegar apenas os factos que lhe aproveita, não é
natural que o réu venha alegar no processo factos que aproveitam ao autor. Se isto
é assim então temos um critério também auxiliar que é o da alegação dos factos –
em princípio quem alegou o facto tem de o provar.
Mas este não é o critério que se deve adotar como auxiliar segundo a professora, e
porquê?
Logo, este critério da alegação como auxiliar do artigo 342º Código Civil é
frágil, o critério mais fidedigno é o da teoria da norma de Rosenberg.
Artigo 343º estabelece casos especiais – estabelece ónus da prova em casos especiais
No fundo, em vez de recorrermos ao 342º para determinar quem tem o ónus da prova há
casos especiais que suscitavam dúvidas particulares (ou porque o legislador quis esclarecer
ou porque quis inverter o ónus da prova), o legislador considerou que nos tipos de ações
previstas nos seus nºs 1, 2 e 3 estabeleceu diretamente em vez de o fazer através de uma
norma geral do 342º passou a fazê-lo através de uma norma especial que dá uma resposta
concretamente.
Nº1 – vimos na aula passada: ação de simples apreciação negativa
Nº2 – vimos na aula passada: caducidade
o No entanto, este Nº3 deixa por esclarecer uma situação mais complexa que
suscitava duvidas na jurisprudência e que não foi esclarecida:
O que é que acontece quando uma das partes no caso do autor vem invocar o
negócio jurídico (de onde retira o seu direito) e o réu vem dizer que esse negócio
jurídico estava sujeito a uma condição ou a um termo, que não era um NJ puro
mas sujeito a condição ou termo?
Isto é diferente do que está previsto no artigo 343ºN3 do CCivil: no
artigo 343ºN3 já se parte do princípio de que o NJ está sujeito a
termo ou condição, já ficou demonstrado isso.
A questão aqui é diferente porque a duvida existe não
relativamente à verificação da condição ou do termo, mas da
verificação da própria existencia da condição ou do termo: o autor
vem dizer que o NJ é puro e, portanto, não há nenhuma condição
ou termo a verificar enquanto o réu vem dizer que o NJ é
condicional ou sujeito a termo.
O artigo 343ºNº3 não resolve esta questão, só se pode aplicar à posteriori,
quando está esclarecido de que o negócio não é puro ou não há dúvidas
entre as partes de que o NJ foi sujeito a condição ou a termo.
Então como é que vamos considerar o termo ou a condição? Que tipo de
facto é que é?
Para isto vamos ter de aplicar o artigo 342º CC porque a resposta
não está nos casos especiais do 343ºNº3
Há uma divergencia na doutrina:
o Prof. Antunes Varela considera que as cláusulas acessórias
do NJ fazem parte das declarações de vontade dos
contraentes, e, portanto, fazem parte do NJ:
A consequência disto é que se é o autor que tem
de demonstrar o NJ então tem de mostrá-lo com
todo o seu conteúdo incluindo a existencia ou não
clausulas acessórias (condição ou termo)
Portanto, isto seria um facto constitutivo do
direito do autor e, portanto, seria o autor que
quando invoca um determinado NJ tem de
demonstrar que esse NJ não estava sujeito a
qualquer condição ou termo, que era um NJ puro.
o A conselheira Maria dos Prazeres Beleza (com quem a
professora concorda): considera que a existência de uma
condição ou termo é um facto impeditivo do direito do
autor que impede que o direito do autor surja naqueles
termos.
A questão de existir uma cláusula que condiciona
aquela negócio seria um facto impeditivo do
direito do autor nos termos em que o autor o
alega.
Porquê um facto impeditivo?
Porque é contemporâneo ao surgimento
do NJ e impede que o direito que o autor
vem invocar em termos puros exista em
termos puros. Não quer dizer que não
exista, mas está condicionado.
Portanto, se considerarmos que é um
facto impeditivo do direito do autor então
a sua prova compete ao réu.
o Se o réu não conseguir provar a
existência de uma condição ou de
um termo, parte-se do princípio
de que não há qualquer condição
ou termo.
o Se o réu conseguir demonstrar a
existência da sujeição do contrato
a uma condição ou termo então
aquilo que falta provar é se a
condição ou termo se verificaram
e para isso já vamos ao 343ºnº3.
já não estamos a falar de regras especiais, este artigo são inversões do ónus da prova em relação à
regra geral do 342º. O artigo 344º joga por confronto com o 342º porque se se fala em inversão é
em relação ao que resultaria da regra geral.
Casos em que o ónus da prova muda de lado: se pelas regras gerais competisse a uma das partes,
havendo inversão transmite-se para a contraparte.
No nosso sistema jurídico estas situações de inversão do ónus da prova são taxativas, ou seja, o
juiz não pode inventar inversões que não estão previstas neste artigo – o tribunal não pode criar
uma espécie de distribuição dinâmica do ónus da prova.
Não é assim em todos os sistemas juridicos: no Brasil é concedida ao tribunal a possibilidade de
alterar as regras de distribuição do ónus da prova se considerar que faz mais sentido, por exemplo,
em virtude da dificuldade de prova alterar essas regras (tem de o fazer no início de cada ação, não
pode decidir no final) – ao abrigo do seu poder de adequação formal e de gestão processual pode
determinar esta inversão.
Nº2 – Atitude culposa de uma das partes: culpa no sentido de dolo ou negligência
Claro que há formas do tribunal atenuar a dificuldade de prova de uma das partes, não alterando o
ónus da prova – o tribunal tem poderes inquisitórios em matéria de prova. E portanto, se se
percebe que a maioria dos meios de prova estão na posse da parte que não tem o ónus da prova o
tribunal pode oficiosamente determinar que aquela parte seja obrigada a apresentar os meios de
prova que possui, sob pena do tribunal inverter as regras do ónus da prova (está no 344º) – MAS é
só depois disto e só se houver culpa da parte.
Apenas se aplica quando haja uma atitude culposa de uma das partes a quem seja pedida a prova.
Temos dois tipos de presunções: as legais e as judiciais/naturais, apenas invertem o ónus da prova
as presunções legais.
Artigo 349º CC: Presunções – “são as ilações que a lei/julgador tira de um facto conhecido para
afirmar um facto desconhecido”.
As presunções legais: são as que ilações que a lei tira e não o julgador
o Artigo 350º - “quem tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o facto a
que ela conduz; as presunções legais podem, todavia, ser ilididas mediante prova
em contrário, exceto nos casos em que a lei o proibir”
Uma presunção legal implica o estabelecimento pela lei de que a partir de
um determinado facto se pode extrair a ilação de outro facto
desconhecido. – há um nexo causal entre o facto base e o facto
presumido.
Exemplo: Artigo 799º CC - presume culpa, no caso de RC
contratual, do devedor no caso de incumprimento do NJ – há uma
associação de que havendo contrato pré estabelecido, o devedor
tem uma obrigação maior e portanto se não cumpre presume-se
que atuou com culpa.
o Porque é que o legislador estabelece estas presunções? Qual é a vantagem?
Normalmente as presunções justificam-se porque o facto base é mais facil
de demonstrar do que o facto presumido. Se o facto presumido fosse mais
fácil de demonstrar então a presunção não servia para nada.
São os casos em que o legislador expressamente dispensa a parte que estava onerado com o ónus
da prova de certos facto e determina que esta não tem de provar.
Isto não é uma presunção, aqui o legislador dispensa a parte da prova do facto, não tem sequer de
provar um facto base que conduza àquela presunção.
Como é que sei quando existe uma convenção válida de inversão do ónus da prova?
Sempre que exista uma norma que expressamente altera as regras do ónus da prova do 342º.
Considera-se que é valido que o legislador o faça livremente através de lei expressa nesse sentido.
Exemplo: Artigo 343ºnº1 – esta norma cria uma regra especial para as ações de simples
apreciação negativa.
o No fundo o que este nº está a fazer é inverter as regras gerais do ónus da prova.
Portanto, pode-se considerar que este nº se pode subsumir a estes casos que a lei
expressamente o determina.
O regime de inversão do contencioso foi muito debatido pela comissão da revisão do código. O
artigo 371ºnº1 que determina quais são as regras para a propositura da ação principal pelo
requerido começa por dizer “sem prejuízo das regras sobre a distribuição do ónus da prova” – ou
seja, mesmo que o requerido tenha de propor a ação as regras do ónus da prova são as gerais. Isto
suscitou muitas dúvidas porque:
havia quem defendia (Prof. Miguel Teixeira de Sousa) que quando fosse o requerido a
propor a ação, devia ser ele a ter o ónus da prova sempre, porque se já ficou demonstrado
na providência cautelar o direito do requerente então é o requerido que tem de ter o ónus
da prova da nova ação.
No entanto, esta parte inicial do nº1 veio dar razão a quem entendia o contrário, ou seja,
na ação principal proposta pelo requerido as regras são as mesmas.
o Isto quer dizer que vai depender da ação que o requerido proponha:
se o requerido propuser uma ação de simples apreciação negativa, o
direito do requerente na ação principal, é o requerente que tem o ónus da
prova;
se a ação que o requerido propuser não for de simples apreciação negativa
(ação de reivindicação no caso da restituição provisória da posse) aí já é
ele que tem o ónus da prova.
se o requerido for inteligente, na ação principal que proponha vai tentar inventar uma ação de
simples apreciação negativa para que seja o réu que tenha o ónus da prova.
Esta é uma das razões que se entende que talvez a inversão do contencioso não seja tão atrativa
como poderia ser para os requerentes. Porque mesmo que não tenham de propor a ação principal
se tiver o ónus da prova na mesma então se calhar preferem ser eles a comandar no fundo os
termos em que propõe a ação – Portanto, esta é uma fragilidade do regime da inversão do
contencioso que se pode considerar que não dá tanta vantagem ao requerente como se poderia
pensar.
AULA 27/11/2023
Saber em que medida é que os meios de prova são ou não admissíveis de serem usados
em juizo para a demonstração de determinado facto.
ideia de que apesar de na lei existirem tipificados certos meios de prova, são admissíveis
outros.
o No CPC temos uma espécie de catálogo onde se regula vários meios de prova:
prova documental 423º e ss. CPC
prova testemunhal 495º e ss. CPC
inspeção judicial
prova pericial
verificações não judiciais qualificadas
depoimentos de partes
confissões
o Esta lista não é taxativa e daí a regra da livre admissibilidade dos meios de prova –
qualquer meio de prova, aprovados os limites de legalidade, é admissível para
contribuir para formar a livre convicção do julgador.
Portanto esta regra da livre admissibilidade dos meios de prova conjuga-se com o princípio da livre
apreciação da prova: A regra é que cada meio de prova tem o valor relativo à convicção que possa
criar no espírito do julgador e aí associa-se a ideia de que qualquer meio de prova (desde que
admitido de forma legitima) é admissível – quer esteja regulado no CPC ou no CC (plano
substantivo que se encontra no CC) e para além desses meios é possivel admitir outros meios.
1ª exceção - resulta dos casos em que a lei exige documento escrito para a prova de certas
declarações negociais – artigo 364ºnº2 CC
o Este artigo prevê 2 tipos de exigência legal de documento escrito:
Nº1 prevê os casos em que o documento escrito é exigido como
forma da declaração negocial – está em causa as formalidades ad
substancia,
Nº2 prevêem-se os casos em que o documento é exigido apenas
para prova da declaração – estão em causa as formalidades ad
probacionem.
Dentro destes dois tipos de forma, há um caso que está no Nº2 onde se
prevê que há casos em que a lei exige que para a prova de determinada
declaração negocial se use apenas documento escrito.
Como consequencia deste artigo 364ºNº2 naturalmente que
indiretamente há aqui uma limitação à regra da livre
admissibilidade dos meios de prova, porque quando estejam em
causa declarações negociais para as quais o documento escrito
seja exigido como requisito de prova há uma limitação à regra
geral da livre admissibilidade dos meios de prova.
No entanto, o 364º nº2 diz-nos que ainda quando o documento
exigido o seja para prova da declaração, pode ser substituído por
confissão expressa judicial ou extra judicial contando que neste
ultimo caso a confissão conste de documento de igual ou superior
valor probatório
o É uma limitação que também ela tem exceção: pode ainda
ser substituída por uma confissão que conste de um
documento de valor probatório superior.
2ª exceção - casos em que um determinado meio de prova goze de uma força probatória
especial:
o Existem meios de prova que não estão sujeitos à livre apreciação do julgador e que
têm uma força obrigatória tabelada.
Exemplo: Confissão ou certos meios de prova documental - têm
uma certa força probatória, uma credibilidade especial que o
legislador entendeu dotá-los desta força probatória mais forte.
O que é que acontece com estes meios de prova com uma força probatória
especial?
Para destruir a força probatória de uma prova com força especial,
só posso fazê-lo através de outro meio de prova que tenha uma
força probatória de valor igual ou superior.
3ª exceção – há limitações a admissibilidade dos meios de prova que resultam da busca da verdade
material. Ou seja, a procura da verdade material pode justificar (e a tutela de valores de natureza
substantiva) que o legislador crie limitações à admissibilidade de um certo meio de prova.
Exemplo: prova por confissão não é válida quando esteja em causa a prova de factos
relativos a direitos indisponíveis. – artigo 354º alinea b) CCivil
o Nestes casos a confissão não é admissível
Exemplo: matéria de direitos familiares que estão em causa direitos
indisponíveis a confissão não é valido.
O facto da outra parte reconhecer como verdadeiros certos factos
(pode ser livremente apreciado pelo tribunal) não vale como
confissão, porque esta não pode ter como objeto direitos
indisponíveis.
o Se fosse admitida a confissão sobre direitos indisponíveis
seria uma forma indireta de admitir a disponibilidade
desses direitos (a prova da parte que é titular desses
direitos ao admitir um facto que lhe é desfavorável estaria
indiretamente a dispor desse direito).
o portanto, é para evitar a fraude a esta regra relativamente
à qual há certos direitos que são indisponíveis.
4ª exceção - circunstância de existirem convenções probatórias (345º CC) que admitem a exclusão
de certos meios de prova
Nº2: indiretamente admite a existência de convenções que excluam algum meio legal de
prova.
Portanto, também constitui uma exceção á regra da livre admissibilidade dos meios de
prova.
– 3ª parte do direito probatório material: O valor dos meios de prova (346º e 347º CC)
Como regra, temos o princípio da livre apreciação da prova – artigo 607ºnº5 CPC:
1ª parte do artigo – é a regra geral: o juiz aprecia livremente as provas segundo a sua
prudente convicção relativamente a cada facto.
2ª parte do artigo - exceciona alguns casos: não abrange os factos para cuja prova a lei
exige a formalidade especial nem aqueles que só possam ser provados por documentos ou
que estejam plenamente provados por documentos ou por acordo/confissão das partes
o Esta última parte significa que há casos em que há meios de prova que não estão
sujeitos à livre convicção do tribunal – o tribunal não tem margem de apreciação
desses factos, apenas pode ir à lei ver qual é a força probatória e tirar os factos
como provados em função do meio de prova apresentado --- mas esta não é a
regra, é preciso que a lei o diga expressamente para que exista uma força
probatória especial de determinado meio de prova. quando a lei nada diga
significa que o tribunal aprecia a prova de acordo com a sua livre convicção.
Quando estamos no domínio da regra (livre apreciação dos factos) diz-se que:
Temos mais 2 níveis acima na hierarquia da força probatória dos meios de prova:
São níveis de valor de prova que já correspondem a prova legal ou tabelada – já não são a
regra, são as exceções e correspondem aos casos em que a lei atribui especificamente uma
determinada força a um determinado meio de prova. Estes 2 níveis de força probatória
apenas pode ser concedida pela lei, depende de atribuição legal que diga (embora possa
não dizer expressamente que “tem força probatória plena ou pleníssima”).
A lei ao atribuir força probatória legal ou tabelada a esses meios de prova (ou seja, que
não está dependente da livre apreciação do julgador) cria 2 níveis superiores de força legal
ou tabelada:
Nível logo acima da força probatória bastante: nível da prova plena – força probatória
plena: há meios de prova que fazem prova plena sobre determinados factos
o Consiste num grau de força probatória atribuída pela lei a certos meios de prova
Exemplo: documentos autênticos e alguns documentos particulares –
portanto, a prova documental em geral tem uma força probatória plena
que lhe é conferida por lei.
o Quando a lei diz que um meio de prova tem força probatória plena significa que:
O tribunal tem de dar como provado aquele facto, a não ser que a parte
contrária faça prova do contrário:
Ou seja não basta a simples contraprova que é o que acontece
com a prova bastante em que basta criar a dúvida no espírito do
julgador – para destruir a força plena é preciso a prova do
contrário:
o Na contraprova (bastante) – basta criar a duvida no
espirito do juiz de que aquele facto tenha ocorrido, destrói
imediatamente a força probatória bastante
o Na prova do contrário (plena) – é essencial que a
contraparte convença o juiz sobre a existencia do facto
oposto. Não basta criar a dúvida, é necessário que o juiz
fique convencido da existência do facto oposto para não
dar como provado aquele facto que lhe resultou
inicialmente provado através do meio com força
probatória plena.
Exemplo: artigo 371ºNº1 1ª parte CCivil – há atos que o próprio
notário atesta na escritura pública que praticou. Imaginemos que
há uma parte que vem apresentar esta escritura pública donde
resulta da escritura publica que fica plenamente provado que o
notário leu o documento às partes. No entanto, a outra parte vem
dizer que o notário nunca leu o documento às partes nem nunca
nos perguntou se concordávamos com o conteúdo.
o Uma vez que este facto está provado com força probatória
plena, não basta a parte vir alegar ou criar dúvidas sobre
se um notário leu ou não o documento ás partes, é preciso
que venha provar o contrário – provar o contrário só é
admitido através de meios de prova com força probatória
igual ou superior ou, neste caso, o legislador criou o
chamado incidente de falsidade (artigo 372º CCivil) em
que é preciso que através deste meio processual a
contraparte venha provar o contrário, ou seja, demonstrar
que não é verdade que o notário tenha lido o documento
às partes.
É necessário nestes casos que fique provado o contrário porque temos um
meio de prova com força probatória plena.
Nível acima da prova plena, temos a prova pleníssima – força probatória pleníssima:
o A força provatória pleníssima não admite sequer prova do contrário. Ou seja, se
apresento um meio de prova com força probatória pleníssima isso significa que o
facto fica automaticamente provado sem possibilidade de prova do contrário.
Exemplo 1: presunções inilidíveis – aquelas que não há a possibilidade de a
outra parte vir demonstrar o contrário. Temos um meio de prova com
força probatória pleníssima e isso significa que não é sequer possível a
prova do contrário
A presunção do artigo 1260ºnº3 CC: a posse adquirida por
violência é sempre considerada de má-fé, mesmo quando seja
titulada – temos uma presunção inilidível.
o Através desta presunção vou conseguir provar sem
possibilidade de prova do contrário, a MF do possuidor.
Exemplo 2: ficções legais em que se associa uma determinada
consequência a um determinado facto que também não sejam ilidíveis
Exemplo 3: declarações fictas.
o São casos raros.
DOS MEIOS DE PROVA EM ESPECIAL:
O que mais nos interessa porque tem uma força probatória especial são os documentos
escritos:
o Temos vários tipos de documentos:
Classificação dos documentos escritos em função do critério do tipo de
conteúdo:
pode representar apenas uma declaração de ciência
o é um documento narrativo ou informativo
exemplo: um atestado, um recibo, fatura, etc.
pode conter uma declaração de vontade –
o são documentos dispositivos/negociais/constitutivos
exemplo: NJ, sentença
Documentos que não se limitam a
descrever uma realidade mas incorporam
em si mesmos uma declaração de vontade
destinada a introduzir alguma alteração
na ordem jurídica.
A modalidade com classificação mais importante do documento escrito
está no artigo 363º CC – segundo o critério da autoria:
Documentos autênticos (Nº2 1ª parte)
o Documentos da autoria de:
uma autoridade pública
um notário
ou outro oficial público provido de fé pública
(conservador do registo)
A lei apenas dota de uma força probatória especial os documentos escritos (os não escritos
estão sujeitos à livre apreciação do julgador) e esta força varia consoante o documento
seja autêntico e, dentro dos particulares, consoante tenha ou não havido intervenção
notarial.
o É necessário ainda distinguir 2 tipos de força probatória válido para qualquer
documento – são DUAS FASES NECESSÁRIAS no que respeita aos documentos:
1º Força probatória formal de um documento – a averiguação da força
probatória formal de um documento implica saber em que medida é que a
sua autoria está provada, no sentido de provir da pessoa a quem é
imputada a sua autoria.
Autoria do documento – força probatória formal: preciso de saber
se me apresentam um documento que está assinado pela pessoa
X e se uso esse documento em tribunal, em que medida é que só a
apresentação do documento assinado é suficiente para que fique
provado que aquele documento é da pessoa X.
o Temos de ter uma forma de verificar se o X é o autor do
documento.
o Quando se fala em força probatória de um documento
Exemplo: temos uma escritura pública – tem uma força probatória elevada
porque é um oficial público/entidade pública que está atestar de
determinados factos, mas quem é que me garante que a escritura pública
foi elaborada pelo oficial público?
Antes disso não posso passar a saber se o conteúdo do documento
está ou não plenamente provado, antes tenho de ter como
assente que aquela escritura foi de facto da autoria do notário que
a assina.
A força probatória de um documento só é relevante quando a contraparte
o venha impugnar – se apresento uma escritura e se a contraparte não
vem pôr em causa a veracidade da escritura, a questao da força probatória
formal é relativa. A questão coloca-se quando há 2 versões diferentes e é
necessário saber como é que o juiz vai atribuir força àquele meio de prova.
Logo, a verdadeira força probatória de um determinado meio de
prova coloca-se ou está em jogo, quando as partes tenham visões
diferentes dos factos.
1 - Dos Documentos autênticos: artigos 370º e 371º CCivil (artigo que rege relativamente
aos documentos autênticos)
Existe um regime especial aplicável aos documentos eletrónicos que é um regime que consta
atualmente do DL 12/2021 de 9 de Fevereiro:
O que é a confissão?
o Artigo 352º CC “Confissão como meio de prova”: reconhecimento que a parte faz
da realidade de um facto que lhe é desfavorável e que favorece a parte contrária.
Pressupõe, portanto:
1º uma declaração de ciência e não uma declaração da vontade – é o
reconhecimento da realidade de um facto
+
2º esta declaração de ciência provém da parte a quem o facto
desfavorece: o autor daquela declaração está a proferir uma
declaração que não lhe é favorável.
É por isso que a confissão tem uma força probatória
especialíssima – se alguém profere uma declaração
desfavorável é porque quase com toda a certeza a declaração
é verdadeira e o facto objeto da declaração é verdadeiro.
o Em cada processo há uma distribuição das regras
sobre o ónus da prova e cada parte tem o ónus de
provar os factos que lhe aproveitam.
Quando existe uma confissão, isso significa
que a declaração é feita pela parte que não
tinha o ónus da prova:
Se digo que a confissão é uma
declaração de um facto desfavorável à
parte, então isso significa que seria a
contraparte que teria o ónus da prova.
o Nesta ação em que o autor
pede a condenação do réu do
pagamento do preço, se o
autor declara através de um
documento que o réu já
pagou o preço então é
evidente que isso é uma
confissão porque está a
declarar um facto que lhe é
desfavorável e cujo ónus da
prova caberia à contraparte.
o Portanto seria o réu a ter o
ónus da prova de que já
pagou o preço, através da
confissão o réu vai conseguir
que fique provado através de
uma declaração da
contraparte.
o A confissão pode vir do autor ou do réu.
Esta distinção tem como critério o momento no qual é efetuada a confissão. Ou seja, será:
o Judicial – quando é feita em juizo
o Extrajudicial – é feita por qualquer outro modo que não em juízo
355º Nº3 – confissão feita no processo só vale como judicial nesse processo
o O princípio do valor extra processual das provas (Artigo 421º CPC) determina que
posso aproveitar meios de prova produzidos numa ação, posso usá-lo noutra ação
contra a mesma parte.
A questão do valor extra processual das provas coloca-se relativamente a
meios de prova produzidos em processo (exemplo - prova testemunhal,
pericial, por confissão)
o Prova por confissão emitida naquele processo
Exemplo: o réu confessou alguns factos naquela ação – em que medida
posso usar essa confissão contra o mesmo réu noutra ação?
Se tenho várias ações contra o mesmo réu, e embora estejam em
causa pedidos/ações diferentes, há factos semelhantes e a
questão é saber em que medida posso usar a confissão de um
facto feita pelo réu numa ação do réu noutra ação – já sabemos
que podemos usar através deste princípio do valor extra
processual das provas.
No entanto, esta utilização extra processual da confissão tem uma
consequência:
o A degradação do meio de prova por confissão
Nº3 – a confissão judicial na 1ª ação passa a
confissão extrajudicial na 2ª ação em que é
aproveitado aquele meio de prova.
A confissão extra judicial tem um valor
probatório muito mais frágil do que a
confissão judicial – como regra geral a
confissão judicial tem um valor probatório
muito elevado porque precisamente é
feita num processo perante um juiz.
Confissão Judicial: aquela que é feita em juízo e apenas é judicial nesse mesmo processo.
Confissão Extrajudicial: aquela que é realizada fora de qualquer ação, ou realizada em juizo mas
num processo diferente.
Temos uma outra classificação verdadeira para qualquer um dos tipos de confissão acima
referidos:
Confissão expressa/ficta:
Confissão presumida:
Embora a regra seja a da livre admissibilidade dos meios de prova, há limites que a lei coloca a este
princípio. Alguns destes limites justificam-se por razões de garantia desses meio de prova e
garantia de que o meio de prova corresponde à realidade dos factos.
Exemplo: a confissão não é admitida em relação a direito indisponíveis
o Se o fosse, na medida em que a confissão é uma declaração que provém do
próprio titular do direito de um facto que lhe é desfavorável, isso poderia equivaler
na prática à disponibilidade do direito.
o Exemplo – nas ações familiares: impugnação da paternidade, regulação do poder
paternal, etc – se vou admitir um facto que me é desfavorável estou a contribuir
para ser condenado e isso pode significar na prática à disponibilidade do meu
direito.
2º - Legitimidade:
É necessário que a confissão seja feita por quem tem “o poder de
dispor do direito a que o facto confessado se refere”
o Este requisito tem particular importância relativamente a
3 casos:
1º caso: representantes dos incapazes e das pessoas
coletivas - em que medida o representante do incapaz ou
da pessoa coletiva pode ou não confessar factos relativos
ao seu representado?
Artigo 453ºNº2 que remete para os poderes de
representação
Ou seja, tenho de ir aos poderes de
representação que são conferidos ao
representante (do menor, do maior
acompanhado ou da pessoa coletiva) e só
a partir desses poderes atribuídos ao
representante é que sabemos quais são os
factos que este tem legitimidade para
confessar.
o No caso de ser pessoa coletiva
tem de se ir aos estatutos da
pessoa coletiva e ver quais são os
poderes do representante
naquele caso.
Exemplo: se há uma incapacidade genérica de
exercício e o representante tem poderes genéricos
sobre os bens do representado, então também
terá legitimidade para confessar algum facto
relativo à disponibilidade desses direitos.
confissões complexas
exemplo: na mesma ação o réu vem dizer que ainda não pagou,
mas porque tinha ficado combinado com o autor que a devolução
do dinheiro só tinha de ser feita daqui a 1 ano
o aqui a admissibilidade de um facto que é desfavorável ao
réu, mas vem acrescentar um facto que no fundo altera o
seu desfavor (porque só tinha de pagar daqui a 1 ano e,
portanto, não está em incumprimento).
o O que torna a confissão semi desfavorável é o acrescentar
de novos factos que acabam por favorecer o confitente – o
que favorece o confitente são novos factos.
A confissão devido à sua dignidade especial, diz-se que é a rainha das provas – quem consegue
uma confissão num facto importante tem a ação ganha. O facto da confissão ser uma prova com
especial dignidade reflete na força probatória da confissão.
É dos graus mais elevados de prova - é quase pleníssima, algures a meio caminho entre a
força probatória plena e pleníssima
Artigo 358º CC – faz uma distinção entre os vários tipos de confissão e associa-os à força
probatória:
o Confissão judicial escrita – Nº1 força probatória plena contra o confidente
é preciso que seja escrita em qualquer tipo de documento
o habitual é que a confissão judicial seja escrita: nos articulados não há
duvida que é escrita, mas há confissões que a parte pode fazer
espontaneamente (por exemplo, na audiência quando está a ser ouvida
através de declarações de parte ou de depoimento de parte)
o depoimento de parte – meio processual através do qual
eu peço audição da contra parte para ver se ela confessa.
o declarações de parte – meio processual através da qual eu
peço a minha própria audição.
Se por acaso surgir uma confissão num depoimento de qualquer
das partes essa confissão é oral (se estiver a ser interrogado na
audiência), a não ser que a parte que se quer aproveitar da
confissão peça para que conste da ata aquela confissão – para que
isso se torne uma confissão judicial escrita, que é a que tem maior
força probatória.
Assim, a parte que quer destruir a força probatória desse meio de prova
tem de provar o contrário.
Exemplo: o autor quer que o réu seja condenado a pagar e o réu
vem admitir nos articulados que de facto ainda não pagou
(confissão judicial escrita do réu que tem força probatória plena) e
o réu quer vir destruir a força probatória da própria confissão e
vem ao processo e vem provar que não é verdade
o Isto é suficiente para destruir a força probatória da
confissão?
Não pode ser, porque se isso fosse suficiente para
destruir a força probatória da confissão
estaríamos a violar o princípio da irretratabilidade.
Se para o confitente bastasse provar o contrário
para afastar a confissão então estaria a arranjar
uma forma de voltar atrás na sua confissão
Assim, é necessário que venha anular a confissão
através do artigo 359º CCivil
É preciso que venha demonstrar que
confessou porque a sua vontade estava
viciada.
É por isso que se diz que a confissão
judicial escrita tem uma força probatória
quase pleníssima.
3) Prova por Declarações de Parte: Coexiste com outro meio de prova - a prova por depoimento
de parte.
Assim, apesar destas duas figuras serem meios instrumentais para adquirir um outro meio de
prova às vezes confundem-se com o próprio meio de prova e, portanto, a designação do
instrumento e do meio de prova é o mesmo sobretudo quando não desencadeiam uma confissão –
porque quando desencadeiam uma confissão temos outro meio de prova.
A sua base legal está apenas no CPC porque é mais instrumento de um resultado do que
propriamente um meio de prova
4) Prova Pericial
Do regime substantivo:
Como consequência disto tudo, o perito tem uma função essencialmente ativa
(investiga), ao passo que a testemunha tem um papel passivo (porque é interrogada, é
ouvida)
o Perito – investiga e depois apresenta ao tribunal um relatório pericial sobre o
qual depois pode ser interrogado.
Muitas vezes o tribunal para além do relatório pericial chama os
peritos a juízo para puder interrogá-los sobre determinadas questões
relativas ao relatório pericial, mas na verdade, a função do perito é
uma função essencialmente ativa.
Do regime substantivo:
Artigo 390º CC – “a prova por inspeção tem por fim a perceção direta de factos pelo tribunal”:
O tribunal vai avaliar consoante a sua livre convicção os resultados da sua apreciação.
Do regime substantivo:
Distingue-se:
do depoimento de parte e das declarações de parte – implicam que os seus autores sejam
partes, ao contrário da prova testemunhal
da prova pericial – (desenvolvido nesta matéria)
Artigo 495º CPC – “todos os que tiverem aptidão mental para depor sobre os factos que
constituam objeto da prova”
o Regra geral: todas as pessoas podem depor como testemunhas
independentemente de serem maiores, menores ou maiores acompanhados,
incapazes ou não.
Claro que o tribunal avaliará livremente qual a capacidade da pessoa – nº2
do 495º: é o próprio tribunal que faz a triagem daquele depoimento para
saber se vale a pena considerá-lo ou não. No entanto, a regra é que todas
as pessoas podem depor como testemunhas.
o Exceções:
O juiz pode apreciar a capacidade natural da pessoa naquele momento,
para além disso há um outro impedimento que está no artigo 496º CPC:
Estao impedidos de depor os que na causa possam depor como
partes.
Apesar de não estarem impedidos de depor como testemunhas, existem causas legitimas
para uma testemunha que seja chamada se recusar a depor – é diferente da incapacidade
para depor: artigo 497º CPC
À contrario deste artigo, as testemunhas têm uma obrigação de depor
O dever de cooperação que existe em matéria de prova do artigo
417º CPC: quem se recusasse a colaborar sofre as
correspondentes soluções
o Situações que podem por em causa a liberdade do testemunho – não é um
impedimento, mas uma possibilidade de recusarem por razões de liberdade que
podem impedir a verdade do testemunho e que impeçam que a testemunha seja
sincera.
o Nº3 497º – permite que se recusem a depor os que estejam adstritos ao segredo
profissional ou de funcionário público ou segredo de Estado.
Condições de admissibilidade da prova testemunhal:
O direito probatório material inclui 3 pontos: o ónus da prova, a admissibilidade dos meios de
prova, o valor – a regra geral em termos de admissibilidade era de que todos os meios de prova (os
previstos na lei quer os não previstos na lei e que as partes tragam ao processo) são livremente
admissíveis. No entanto, há exceções: estas são especialmente extensas no caso da prova
testemunhal pela pouca credibilidade que a prova testemunhal pode dar em relação a outros
meios de prova.
Por isso, é admitida em regra sobre quaisquer factos que constem dos temas da prova
(artigo 392º CC) – regra da admissão
Temos uma série de situações em que a prova testemunhal não é admitida (artigos 393º,
394º e 395º CC)
o Artigo 393º:
Nº1 – “não é admitida prova testemunhal de DN que tivessem de ser
reduzidas a escrito”:
Ou seja, quando seja exigido quer por lei ou convenção das partes
que a forma de uma determinada declaração ou NJ seja uma
forma escrita, não pode essa forma ser substituída por forma
testemunhal – compreende-se, porque se a forma exigida é, por
exemplo, uma escritura publica e A instaura uma ação de
reivindicação contra B de um imóvel e B na contestação vem dizer
que o imóvel não pertence a A mas a ele, porque este comprou o
imóvel ao autor através de um contrato de c/v celebrado com o
autor e para o efeito junta uma testemunha que vem dizer que
testemunhou que houve um acordo entre as partes e que
efetivamente B comprou o imóvel ao A – esta prova testemunhal
não é admitida.
o Se esta prova testemunhal fosse admitida para provar que
um negócio para cuja validade é necessária forma escrita
e neste caso escritura pública, estaria a defraudar a
exigência de forma – estaria a admitir indiretamente
através de um processo que aquele negócio de c/v tivesse
sido feito sem ser através de escritura pública
o Artigo 395º:
Estende a proibição da prova testemunhal quando a obrigação tenha de
ser reduzida a escrito também aos factos extintivos das obrigações
Ou seja, proíbe-se que as próprias partes do negócio que tenha de
ser reduzido a escrito ou que conste de documento escrito.
Também todos os negócios supervenientes não podem ser
provados através de testemunha desde que o negócio original
tenha de ser reduzido a escrito ou tenha sido reduzido a escrito.
Todas estas limitações resultam da hierarquia dos meios de prova, são uma consequência
neste caso da pouca fiabilidade da prova testemunhal.
É o meio de prova mais utilizado, mas o mais falível e por isso está sujeito à livre
apreciação do tribunal. – é o mais fácil de obter, no entanto é muito fácil instruir
testemunhas num determinado sentido mas muitas vezes não há outro meio de prova.
Mesmo que as testemunhas não venham mentir, a sua perceção é muito frágil e, portanto,
2 testemunhas no mesmo local à mesma hora podem ter perceções completamente
diferentes dos mesmos factos
O tempo que medeia entre a ocorrência dos factos e o depoimento das testemunhas pode
ser muito longo, e, portanto, o normal é que não se lembre de muitos dos factos.
Consideram-se testemunhas:
o As pessoas que não sendo parte na ação nem seus representantes, são chamadas
a juizo para narrar as suas perceções sobre factos passados e que interessam ao
julgamento da causa.
1º - não ser parte nem representante
2º - chamadas a narrar perceções de factos passados
3º - factos que relevam ao julgamento da causa.