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AULA 07/09/2023

O processo civil é um ramo do direito instrumental e é o ramo do direito processual subsidiário


que se pode aplicar em todos os ramos. Por isso, é imprescindível em qualquer área do Direito.

A cadeira é como uma primeira parte para a cadeira do segundo semestre de Marcha do Processo
Civil. Há uma unidade e uma continuidade.

Esta cadeira será uma “teoria geral do processo”, com aspetos mais gerais, e depois no segundo
semestre concretizaremos esses princípios e aprenderemos a tramitação do processo
propriamente dita.

INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL


(ponto 1 do programa: 1. Função e características do Direito Processual Civil enquanto
ramo do Direito. Justiça privada, justiça pública e direito de ação. O Direito Processual
Civil como ramo do direito que regula o exercício do direito de ação civil)

O processo civil é um ramo do direito que inclui as normas que regulam o exercício do direito de
ação civil. O que é que é isto do direito de ação civil? Existe um princípio jurídico de proibição de
auto tutela: ninguém pode fazer valer os seus direitos com recurso à força pelas suas próprias
mãos, salvo os casos excecionais legalmente determinados de auto tutela conhecidos (legitima
defesa, estado de necessidade e ação direta) — logo, fora estes casos excecionais, a regra é a do
principio da hetero tutela consagrada no artigo 1º do processo civil “a ninguém é licito o recurso à
força a fim de salvaguardar o seu próprio direito salvo os casos determinados e nos limites da lei”.
—— é daqui que parte a ideia do processo civil porque se há uma proibição de auto tutela então
em contrapartida o legislador teve de reconhecer a cada titular de um direito o correspondente
direito de ação para que possa ter um poder de recorrer à via judicial para fazer valer o seu
direito.
A via judicial é um sucedâneo da proibição de cada um poder fazer valer os seus direitos pelas suas
próprias mãos. Portanto, este direito de ação que é atribuído pelo legislador encontra nos tribunais
os órgãos do estado que vão dar resposta a este direito de ação
O direito de ação assegurado pelo estado através dos órgãos jurisdicionais competentes é a
contrapartida da proibição da auto tutela e, por isso, perante qualquer litígio em que alguém se
considera titular de um direito não há auto tutela, mas pode recorrer ao direito de ação.
Ex: B morre e deixa um testamento e os herdeiros do de cuius que não foram beneficiados pelo
testamento consideram que o testamento é inválido e portanto querem impugnar esse
testamento, não podem fazê-lo por sua própria autoridade ou seja impor aos outros herdeiros a
anulação mas podem pedir ao tribunal que invalide o testamento e condene os herdeiros
testamentários a proceder à restituição dos bens.
Ex: num contrato de arrendamento, se um inquilino não paga a renda do contrato e permanece no
local sem o abandonar eu não posso chegar lá pegá-lo pelo pescoço e expulsá-lo, tenho de recorrer
a tribunal para que seja resolvido o contrato de arrendamento e ele seja condenado. Só depois de
ter a sentença é que posso chamar a policia e expulsá-lo com recurso às autoridades estaduais.
Logo, o Processo civil vai regular o exercício deste direito de ação civil e, portanto, é o processo
civil que vai regular a forma de recorrer a juizes, como é que faço, quais são os direitos que tenho,
como posso exercer o meu direito de ação e em que termos, E MAIS: não é por alegar que tenho
um direito que posso livremente instaurar uma ação e ver o litígio resolvidos, existem
pressupostos processuais do recurso a tribunal que eu tenho de respeitar para que o tribunal
resolva o meu litígio e que são de natureza processual.
Ex: o tribunal tem de ser competente, eu tenho de ter capacidade judiciária (correspondente à
capacidade de exercício), personalidade judiciária (equivalente à personalidade jurídica), tenho de
ter legitimidade, tenho de estar em certos casos patrocinada por advogados —— são pressupostos
processuais que são necessários de respeitar previamente para que o tribunal resolva o litígio.

Temos também vários tipos de ação e formas de processo:


Há vários tipos de providencias que posso pedir ao tribunal: posso pedir ao tribunal que o réu
pague uma indemnização; que se anule um testamento; que declare a existência de um direito
meu de servidão de passagem — são providencias de natureza diferentes e consoante o pedido
que faça numa ação assim o tipo de ação será diferente e assim a forma processual poderá ser
diferente ——há uma serie de variedades em função daquilo que o autor pretenda e que peça em
tribunal

O processo civil é um conjunto de normas que regulam o exercício do direito de ação civil, ou seja,
que estão em causa direitos e apenas os direitos regulados pelo direito civil.
Todos os outros direitos de ação relativos a matérias de direito público (por exemplo: direito
administrativo, fiscal) ou mesmo algumas matérias do direito privado (direito do Trabalho) têm o
seu próprio direito processual.
O direito comercial como não tem atualmente nenhum processo próprio, o processo que se lhe
aplica subsidiariamente é o processo civil.
Por excelência e em primeiro lugar, aquilo que o processo civil regula direta e imediatamente é o
direito de ação civil. O processo civil também se aplica àqueles que têm um direito processual
próprio mas de forma subsidiária.

Quais são as características do processo civil enquanto ramo do direito:

1ª característica — é um ramo do Direito Público, mas que tem por objeto o Direito Privado

 o direito de ação tem por objeto o direito civil, mas ele próprio (pelo entendimento da
professora e grande parte da doutrina, não é pacífico na doutrina) é um ramo do direito
público com todas as consequências que dai advém.
 É um ramo do direito público porquê? Existem 3 critérios essencialmente para distinguir
entre o direito publico e privado (são os critérios clássicos):
1) Critério do interesse subjacente ao ramo do direito – saber se o interesse é de
natureza particular ou publica que é prosseguido com aquele ramo do direito
2) Critério da qualidade dos sujeitos da relação jurídica regulada por aquele ramo
do direito – se são sujeitos de natureza publica ou particulares
3) Critério da posição em que os sujeitos atuam na relação jurídica

Para a professora o critério predominante e que deve prevalecer é o terceiro, mas na


sua visão, por qualquer um destes critérios o direito processual civil é no ramo do
direito público — isto porque:
(Pelo 1º critério) o interesse subjacente à tramitação do processo civil não é um
interesse de nenhuma das partes, mas é um interesse superior às partes, da paz
social e da solução pacifica dos litígios, o tribunal declara o direito
independentemente do interesse das partes (o processo civil faz-se através de uma
relação triangular: existem as partes e o tribunal, e o que o tribunal decide é
superior ao interesse das partes);
(Pelo 2º critério) a relação processual faz-se através de uma pirâmide, em que na
base estão as partes e no topo o tribunal que tem alguma posição de autoridade
relativamente às partes no exercício do direito de ação e, portanto, naturalmente
que o tribunal, no exercício da sua função jurisdicional, o que está ali em causa é a
qualidade publica de um dos sujeitos da relação jurídica.
(Pelo 3º critério) A posição em que o tribunal intervém nesta posição jurídica é
uma posição de autoridade, é o exercício de especiais poderes de autoridades, de
iuris imperi e portanto também não há duvidas que por este critério o processo
civil é um ramo do direito de natureza pública.
Logo, apesar de regular o exercício do direito de ação civil é um ramo do direito
público (são coisas diferentes).

2ª característica — é um ramo do direito instrumental ou adjetivo

 O processo civil em si (as normas do processo civil), como qualquer ramo processual, não
têm a solução para o litígio em si existente entre as partes, para isto o tribunal vai ter de
recorrer às normas do código civil. Logo, o processo civil é auxiliar no sentido de levar à
pratica aquilo que são as normas de direito substantivo ou material. Isto não significa que
 Isto tem 1 consequência e 1 causa:
o Como consequência, isto significa que ao longo de todo o processo civil há duas
relações jurídicas em paralelo que funcionam quando está pendente uma ação:
 uma coisa é a relação de natureza substantiva (ou seja: no caso do
acidente de viação, o autor vai a tribunal contar tudo o que se passou “eu
ia a passar a passadeira, estava encarnado para os carros, etc etc e por isso
tenho direito a uma indemnização; actuou com culpa, responsabilidade
civil extra contratual, dolo etc” )
 outra coisa que corre em paralelo é a relação jurídica processual (vou
instaurar a ação contra o réu, a relação processual tem de ter certos
pressupostos, esta relação estabelece-se entre as partes e que pode dar
lugar a um direito de indemnização)
o Apesar do processo civil ser de natureza instrumental, não é secundário, a sua
importância não é menor
 não serve de nada uma pessoa ter razão em termos substantivos se não
consegue demonstrar que tem esse direito. Se eu não conseguir provar
que o automóvel vinha em excesso de velocidade, que tive danos, que
houve dolo, nexo de causalidade, etc, o direito substantivo não me serve
para nada — se não conseguir fazer um uso conveniente do direito
processual, o direito substancial não vale de nada.
 Para além disto, o processo civil também tem os seus valores próprios, ou
seja, há uma serie de princípios tão importantes como o direito material
que precisam de ser respeitados — logo o processo civil não é um direito
neutro e meramente instrumental. Um processo civil mal construído
destrói o direito das partes, pode não corresponder à justiça material do
direito das partes.
 Ademais, há soluções do processo civil que resultam conteúdos materiais
ex: há uma regra sobre um determinado processo que diz que se o réu não
contestar a ação, é condenado no pedido automaticamente —isto é uma
norma de direito processual mas tem consequências do ponto de vista do
direito material; ou uma norma sobre um caso julgado que diz que não
posso instaurar outra ação porque aquela já está instaurada, é uma norma
de direito processual que tem influencia no direito material.

O direito processual civil distingue-se dos demais ramos de direito processual, pelo ramo de direito
substantivo de que esses direitos processuais são instrumentais — processo civil é instrumental do
direito civil; proc administrativo do direito administrativo; etc.

Quais são as fontes do direito processual civil?


 A constituição: nesta encontramos a base legal os princípios que integram as normas do
processo civil.
o Artigo 20º CRP — dos artigos mais importantes para o processo civil, trata do
direito de acesso aos tribunais (ao direito de ação); consagra o pp do contraditório;
o pp do processo equitativo; pp da resolução do litígio em prazo razoável
o Artigo 13º — pp da igualdade
o Artigos 201º e ss — As regras básicas da organização judiciária
 Direito ordinário:
o temos como norma de fundo o Código de Processo Civil.
 É de 2013, é o 4º código do processo civil. O primeiro foi de 1876, antes
havia apenas legislação avulsa.
 típico da época liberal, em que o juiz era um mero arbitro e as
partes podiam dispor do processo como quisessem
 2º - 1939 – mais autoritário, mais poder ao juiz, código do Professor José
Alberto dos Reis
 3º - 1961 – sofreu várias alterações e foi substituído em 2013
 4º - 2013 – em 2011 foi criada uma comissão para rever o código, mas
havia alterações tão profundas que se decidiu fazer um novo código
o Leis processuais avulsas, que normalmente vêm em anexo nos códigos. As que
serão mais relevantes:
 Lei de organização do sistema judiciária, 62/2013 de 26 de agosto
 Lei da arbitragem voluntária
 Normas de direito da EU: São fundamentais no processo civil e que obrigam a ser
respeitadas pelas nossas normas
o Existem vários regulamentos em matéria processual, o mais relevante é o
regulamento 1215/2012 (deve estar na coletânea), relativo à competência e
cooperação judiciária; + saber qual é a matéria que vai ser aplicável
 Ex: A encomenda uma maquina a uma empresa com sede na Alemanha e
esta nunca chega, se o A quiser instaurar uma ação à empresa vai ter de
saber se instaura cá ou na Alemanha; saber qual é o tribunal competente
depende das normas da EU que o determinam.
AULA 11/09/2023
INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL
(ponto 2 do programa: 2. Princípio dispositivo e inquisitório)

Princípios gerais do processo civil:


Estes princípios são transversais a todas as fases do processo da marcha do processo.

A parte inicial do nosso Código é toda dedicada aos princípios.

1. Principio dispositivo vs princípio do inquisitório


 Estes dois princípios têm a ver com o equilíbrio de forças na relação processual (esta é uma
relação processual triangular que põe em relação as partes de um litígio, que podem ser só
duas ou mais – embora o natural seja um autor e um réu, mas pode haver mais do que um
réu e autor – é uma relação que se estabelece entre as duas partes que estão na base, e
depois em cima está o juiz, o tribunal que exerce poderes de autoridades, o exercício do
poder jurisdicional).
 Nesta relação triangular há que decidir em 1º lugar é decidir a quem é concedido maiores
poderes em termos de autoridade ou direção do processo. No fundo quem é que manda
nesta relação triangular? é ao tribunal ou as partes? – porque é que esta questão faz
sentido?
i. Porque os direitos subjacentes no processo civil regra geral são disponíveis. Os
direitos materiais que as partes exercem no processo civil são disponíveis, os
quais as partes têm liberdade de dispor deles (de os constituir e de dispor
deles). Se assim é, então no processo civil se calhar faz sentido que tb no
processo sejam as partes a “mandar na ação” — o que é que isto significa?
ii. Não estamos a falar em termos de resolução de litígio, mas em termos de por
ex: quem é que tem de dar o impulso processual, quem decide qual é o
pedido, quem dá a iniciativa ao processo, quem recolhe a prova, qual o valor
dos meios de prova, quem é que decide se o processo deve continuar ou se se
desiste do processo… — tudo isto pode ser atribuído ao tribunal ou às partes.
Tudo isto o legislador tem de decidir (nem sempre é uma questão valorativa,
mas sim política) saber se em determinada relação é o tribunal que deve
dirigir o processo ou as partes:
1. Quando a opção do legislador é no sentido de ser o juiz a ter mais
autoridade e as partes limitam-se a obedecer, estamos perante um
processo de cariz inquisitório — o pp dominante é o inquisitório; ideia
de que o processo tem natureza publica e portanto se é o tribunal que
exerce o ius imperi é o tribunal que tem de ter mais poder
a. Este principio permite uma maior verdade material.
2. Quando são as partes que têm mais poder no processo (ou seja,
quando este equilíbrio de força tende para o lado das partes), então
diz se que o processo é de cariz dispositivo (em virtude da
consequência de se dar importância à natureza disponível dos direitos
que são objeto do processo).
a. Quando as partes têm mais poder que o juiz, a verdade a que
o tribunal vai chegar tendencialmente será uma verdade mais
formal do que material, porque são as partes que decidem o
que levam ao processo, a prova que levam ao processo, se
desistem ou continuam etc, o que vai acontecer é que o
tribunal acaba por ser um mero enunciador da lei e verificar se
formalmente está tudo correto, mas não será um
interveniente ativo com muitos poderes. — este principio
permite uma verdade mais formal.
 Em abstrato isto é uma escolha do legislador, mas em abstrato é disto que se fala.
 O que é que isto significa na prática? Não há processos exclusivamente dispositivos ou
inquisitórios. Na verdade, a construção do processo é feita de um “equilíbrio
desequilibrado”:
i. Há processos que tendem mais para o principio inquisitório e outros com
tendência mais dispositiva, uma vez que não seria possível um processo em
que só as partes é que mandassem ou um processo em que o juiz não ouvisse
as partes. Logo, vamos ver que o nosso processo também é uma mistura
destas duas coisas.
ii. Ao longo da historia tivemos no inicio um Código com o principio dispositivo
como prevalente, o juiz era neutro/passivo, as partes é que comandavam o
processo. Pelo contrário, o CPC de 1939 era mais autoritário, o legislador
resolveu conceder mais poderes de intervenção ao tribunal. Atualmente
temos um bom equilíbrio entre matizes de natureza inquisitória e dispositivos,
inclusivamente o CPC atual (2013) criou uma tentativa de juntar os dois de
forma perfeita, estabelecendo o dever de haver cooperação entre as 3 partes
do processo: estes não devem ser partes opostas e todos devem cooperar para
a descoberta da verdade.

 Concretização abstrata no CPC para perceber quais foram as opções do legislador em


termos do princípio dispositivo ou inquisitório. Quais são as manifestações dos dois
princípios em vários pontos do processo:

1) O início do processo (“Quem da o inicio do processo?” – o inicio do processo não


deixa de ser um impulso processual, é um impulso processual inicial) e impulso
processual (“Quem dá o impulso processual subsequente?”)
a. Início do processo:
 Quem tem de dar inicio ao processo, ao contrário do processo penal,
são as partes como consequência da livre disponibilidade dos direitos
— é o autor que traz a sua pretensão ao juiz contra o réu. Não há
processo civil sem que o autor tome a iniciativa de propor a ação, cabe
exclusivamente ao autor a propositura da ação.
 Resulta do artigo 3nº1 1ª parte, é uma manifestação do principio
dispositivo — em matéria de inicio do processo o código é totalmente
dispositivo

b. Impulso subsequente:
 Imaginemos que, por exemplo, depois de a ação estar instaurada o
tribunal determina que uma das partes preste uma determinada
informação, não dá prazos e nunca mais chega essa informação; ou
que na pendência da ação morre uma das partes, quem é que deve ter
a iniciativa de reagir/ ter de impulsionar o processo quando este fica
parado? — é o juiz. Aqui o nosso processo é inquisitório
 Artigo 6º CPC
 A epígrafe do artigo 6º é “dever de gestão processual”, que é
uma manifestação forte do pp do inquisitório. Deste artigo
resultam aspetos como: o juiz deve promover as diligencias
necessárias ao prosseguimento da ação; deve recusar o que
for impertinente ou dilatório; e ainda, o nº2 deste artigo
determina que faltando um pressuposto processual o juiz tem
a obrigação de oficiosamente tentar sanar a falta desse
pressuposto processual (por ex: no caso de falta de advogado,
convidar as partes a constituir advogado sob pena de não
puder julgar o caso; se tiverem em juízo uma parte que é
menor e não está devidamente representada pelos seus pais,
há uma incapacidade judiciária e o tribunal deve
oficiosamente chamar os pais ao processo para representar-
me o menor).
 Logo, há uma intervenção não no momento inicial mas no
subsequente que revela um equilíbrio entre o dispositivo e o
inquisitório.

2) Definição do objeto do processo


a. O que é o objeto do processo? O processo civil é constituído por 3
elementos essenciais, os elementos que identificam uma ação:
 Sujeitos (elemento subjetivo da ação) – são as partes

 Pedido (elemento objetivo da ação) – é a pretensão que é formulada


na ação.
 Ex 1: se eu autor venho alegar na ação que sou proprietário de
um determinado imóvel e venho pedir ao tribunal que declare
que sou proprietária desse imóvel — peço ao tribunal que
declare a minha propriedade sobre o imóvel, o pedido é a
declaração de propriedade sobre o imóvel.
 Ex 2: se vou a tribunal dizer que celebrei um contrato de
empreitada com B e que esse B não cumpriu ou deixou a obra
a meio e eu quero que cumpra venho ao tribunal pedir que ele
seja condenado a cumprir o resto do contrato de empreitada –
o pedido é a condenação do cumprimento do contrato
 Ex 3: tenho um prédio encravado num determinado prédio
rústico, que para aceder à via pública tenho de atravessar um
prédio vizinho, se venho pedir ao tribunal a constituição de
uma servidão de passagem para poder aceder à via pública, o
pedido é a constituição da servidão legal de passagem.

 Causa de pedido (elemento objetivo da ação) — é o facto concreto


que serve de fundamento ao pedido, é no fundo a origem do pedido.
 Ex: Se quando venho pedir que o tribunal declare a minha
propriedade, a causa do pedido está no fundamento dessa
declaração: eu comprei aquela propriedade a um terceiro há
20 anos – a causa de pedido é a aquisição que vou alegar no
processo.
 Ex 2: se venho pedir que o réu seja condenado a cumprir o
contrato de empreitada, a causa de pedido é o contrato de
empreitada.
 Ex 3: se venho pedir a constituição da servidão de passagem, a
causa do pedido é a situação encravada do meu prédio.

 O nosso legislador dá uma definição indiretamente do que é o pedido


e a causa de pedido, no artigo 581º nº3 e nº4: este artigo vem a
propósito da matéria do caso julgado - quando as decisões judiciais a
partir de um certo momento se tornam definitivas e imutáveis e por
uma questão de segurança jurídica regulam definitivamente a situação
concreta e há regras para saber quando há identidade de ações, ou
seja, que ações é que não posso propor de seguida depois de uma
determinada decisão transitar em julgado.
 Segundo o artigo 581ºnº1 – existe identificada de causas para
efeitos de caso julgado quando haja identidade destes 3
elementos: sujeitos, pedido e causa de pedido. A propósito
disto dá uma definição do que são os sujeitos, pedido e causa
de pedido e devemos aproveitar esta definição para efeitos de
indicação do que é o objeto do processo para outros fins. O
fim que nos interessa é a caracterização do processo como
dispositivo ou inquisitório.
 Para a definição do objeto do processo a pergunta que se
coloca é: ”Quem é que determina o que e que é pedido e a
causa de pedido?” — Aqui o processo é claramente
dispositivo, ou seja, apenas ao autor compete a indicação do
pedido e da causa de pedido e o tribunal não pode ter
qualquer interferência. É obrigatório que sejam as partes a
definir o objeto do processo e o tribunal mesmo que veja que
seria mais favorável outro pedido este não pode fazê-lo
oficiosamente — resulta dos artigos:
o 5ºnº1: a causa de pedido tem de ser identificada pelo
autor
o 609º: o tribunal não pode desrespeitar o que é pedido
pelas partes – consagra o princípio da identificação do
pedido pelas partes.
 O tribunal está limitado pelo pedido do autor,
a não ser o determinado no Nº1: ex – eu peço
uma indemnização de 50 mil euros de danos
que me foram causados, e o tribunal conclui
que eu tenho direito a uma indemnização e
que houve um ilícito, mas que os danos que
eu sofri que ficaram provados não são
superiores a 20 mil euros. Se este pp do
pedido ou se a definição do pedido pelo autor
fosse rígida, o tribunal não podia os 20 mil e
só poderia condenar nos 50 mil euros ou
absolver. Logo, esta regra não é rígida e claro
que o tribunal pode condenar nos 20 mil
euros. Tem um teto máximo, mas dentro do
limite tudo o que está para baixo é possível.

3) Alegação de factos
a. Numa ação existem muito mais outros factos que integram na ação.
 Ex: eu como autor venho pedir no processo que o tribunal anule o
contrato que celebrei com o réu de compra e venda de um automóvel e
considere que a minha vontade foi viciada por erro sobre o objeto
porque achava que sabia as características mas não sabia e ptt estava
em erro.
 Há um pedido: a anulação do negócio; causa de pedido: o
erro. É tenho de alegar o erro e o pedido de anulação. Mas,
para além do erro, há muitos outros factos que tenho que
alegar:
 para proceder à anulação do negócios há outros factos
relevantes como a essencialidade do erro, (é necessário
a verificação da essencialidade do erro – ser
determinante aquele aspecto para a minha aquisição e
a minha vontade não seria aquela se eu soubesse que
as características eram outras), o conhecimento da
essencialidade do erro — no fundo, os pressupostos do
erro.
 Ou seja tenho de alegar factos concretos que
correspondem no caso concreto aos conceitos jurídicos
— isto são os restantes factos.
 Quem é que alega os restantes factos? O legislador do CPC é flexível:
por uma parte esses factos a regra é que são alegados pelo autor ou
pelo réu, mas o artigo 5ºnº2 abre algumas exceções: diz que há um
conjunto de factos que o tribunal pode considerar oficiosamente, ou
seja, sem serem alegados pelas partes: estes factos complementares
(são importantes para o processo mas que complementam a causa de
pedido), factos instrumentais (servem para a prova de outros factos
principais) — o tribunal pode considerar oficiosamente alguns factos
desde que resultem da instrução da causa (= prova): se resultar da
prova que temos outros factos que não foram alegados pelas partes, o
juiz pode considerá-lo oficiosamente. Claro que não convém que as
partes se fiem por este poder oficioso do tribunal, devem alegar logo
tudo se não ficam “nas mãos do juiz” porque mais tarde não vão puder
alegar mais factos.
 Também quanto à alegação dos factos, compete às partes como regra
alegar os factos – de principio é dispositivo, mas há uma cedência
através da possibilidade de consideração oficiosa pelo artigo 5ºnº2.
 Artigo 5ºnº3 – o que este numero diz não é oposta, apenas diferente: a
qualificação jurídica indica dos factos já compete ao juiz e não as
partes, isto não é uma exceção ao principio do dispositivo, mas o
principio iuris novit curia segundo o qual é ao tribunal que compete
escolher o direito aplicável. Logo, as partes “dominam os factos” e o
tribunal qualifica o direito mesmo que as partes tenham avançado com
uma qualificação
 Ex: numa ação o autor vem pedir que o réu seja levado a
cumprir um contrato de empreitada que celebrou com ele, e o
tribunal considera que aquilo não é uma empreitada mas uma
compra e venda e portanto qualifica o contrato como compra
e venda e vai aplicar o regime da compra e venda – isto não é
uma violação do dispositivo quanto aos factos, isto é a
incumbência do tribunal, que independentemente da
qualificação que os advogados das partes façam o tribunal não
está vinculado à qualificação jurídica. Assim, desde que os
factos estejam todos na ação, o tribunal é livre de alterar a
qualificação jurídica.

4) Prova
a. Temos de analisar dois pontos diante da prova para concluir se o sistema é
dispositivo ou inquisitório quanto à prova:
 1 – Saber a quem pertence a iniciativa da prova: ou seja, se o juiz pode
trazer oficiosamente meios de prova à ação ou está sujeito à iniciativa
das partes quanto à prova
 Resulta do artigo 411º que o juiz tem iniciativa probatória pelo
menos dentro dos factos que pode conhecer, ou seja, o
tribunal está limitado pelos factos mas quanto às provas pode
oficiosamente recolher prova. Pode pedir que, por exemplo, a
secretaria vá determinar a uma determinada instituição que
lhe conceda determinado documento.
 Duas notas relativamente a quando se fala no 411º
que o tribunal tem iniciativa probatória mas que
está limitado pelos facto:
o Num processo uma coisa é a alegação dos
factos e outra é a prova dos factos – são duas
coisas diferentes e necessárias. Se não venho
alegar os factos o tribunal não os pode
conhecer, mas se venho alegar factos e
depois não os consigo provar também não
serve de nada. Estas realizam-se em
momentos diferentes do processo e por isso
é que o artigo 411º diz que o tribunal tem
iniciativa probatória, mas está limitado pelos
factos que sejam alegados pelas partes.
o O que é que significa o tribunal recolher
prova? Há meios de prova que de facto as
partes não têm acesso. Portanto o papel do
tribunal é complementar.
 Ex: casos de ações de despejo com
fundamento em que o inquilino
não reside no local e isso é um
fundamento de despejo. Se o
senhorio vem propor a ação de
despejo vai ter de demonstrar que
o inquilino não reside lá, que é
uma prova difícil de fazer. Por ser
muito difícil, há uma prova que
muito frequentemente é pedida
nestes casos mas a que as partes
não têm acesso que é o registo dos
gastos de eletricidade, água e de
gás da habitação – é evidente que
se naquela habitação não há gastos
ou estes são muito reduzidos a
probabilidade de o inquilino não
viver lá é enorme. As partes não
podem ir às empresas
fornecedoras destes serviços e
pedir um registo de utilização sem
ser eu o titular do contrato, e
portanto o tribunal pede
oficiosamente a essas entidade
que apresentem a prova disto — é
um poder complementar, ainda
assim tem poderes oficiosos na
realização da prova; até pode
chamar pessoas que não foram
indicadas como testemunhas mas
que o tribunal quer ouvir, pode
determinar a realização de uma
prova pericial que não foi pedida
 Portanto, em matéria de prova, quanto à iniciativa
probatória o sistema é inquisitório, porque o
tribunal tem poderes oficiosos de recolha de prova.

 2 – Relativamente ao valor dos meios de prova: ou seja, saber como é


que o tribunal vai valorar os meios de prova, está sujeito a uma
valoração fixa e tabelada apresentada pelo CPC ou será que tudo
depende da livre apreciação do tribunal?
 Naturalmente que se for fixa, isso será uma manifestação do
dispositivo – para que as partes saibam à pratica com o que é
que podem contar; Se não for fixa, e portanto se for o tribunal
que ad hoc define qual é a credibilidade que merece aquela
testemunha A, então é uma manifestação do inquisitório.
 A regra no nosso Processo Civil está no artigo 607ºnº5, que
determina em que medida é que o tribunal vai valorar a prova
na sentença. Por exemplo, o autor apresenta uma escritura
pública da celebração da compra e venda, o tribunal é
obrigado a dar a compra e venda como provada com
fundamento naquela escritura pública? E se for apenas uma
testemunha, tem de dar como provado? — é disto que trata o
valor dos meios e prova.
 O que diz o artigo é que a regra é a da livre
apreciação da prova pelo tribunal, exceto alguns
casos de prova com valor probatório especial e
fixado, como é o caso dos documentos autênticos –
mas isto é a exceção, porque a regra é que é o
tribunal que de acordo com a sua sensibilidade
fundamentada faz a valoração dos meios de prova,
é isso que permite ao tribunal dar crédito a uma
testemunha e não dar a outra, considerar um
relatório pericial mas não considerar outro.
 Assim, o princípio é inquisitório, porque no fundo
as partes não sabem à partida quando apresentam
determinado meio de prova o que é que o tribunal
vai decidir. Estão no fundo à mercê num certo
sentido da decisão do tribunal.

5) Negócios processuais

Os negócios processuais são declarações das partes que põem termo ao litígios. Há 3 negócios
processuais: confissão, desistência e transação, regulados no 283º e ss. do código.

Confissão: quando o réu admite a verdade da pretensão do autor

Desistência: quando o autor prescinde da sua pretensão. Pode prescindir apenas no plano
processual ou também no material — ou seja, desistir da ação mas manter o seu direito e talvez no
futuro venha repor outra ação (a isto chama-se a desistência da instância), enquanto que quando o
autor desiste mesmo do pedido é quando prescinde do seu direito materialmente.

Transação: negocio bilateral entre as duas partes que por acordo chegam a uma decisão
intermedia para por fim ao processo.

Se este tipo de negócios processuais forem admitidos pelo nosso Código quer dizer que estamos
neste aspecto a um principio dispositivo, porque se for inquisitório as partes não têm qualquer
poder sobre o processo e portanto a partir do momento em que a ação está pendente vai ter que
ir até ao fim com a decisão do litígio. Se pelo contrário as partes têm esta disponibilidade sobre o
processo então estamos perante o princípio do dispositivo.

O que resulta dos artigos 283º e ss. é que as partes são livres de celebrar negócios processuais -
logo, nesta matéria o nosso código segue o principio dispositivo.

Em conclusão, o nosso processo civil é uma mistura entre os dois princípios sendo que os aspetos
mais importantes ainda estão na disponibilidade das partes, logo a professora diria que é mais
dispositivo, ou de principio é dispositivo e de forma complementar, em alguns aspetos, é
inquisitório.
AULA 14/09/2023

(PONTO 1 do programa (Introdução): continuação ponto 2. Princípios gerais do direito processual


civil e a sua concretização no Direito Português:
b) Princípio da cooperação;
c) principio do contraditório e da igualdade das partes;
d) principio da submissão aos limites substantivos;
e) principio da legalidade das formas processuais/da adequação formal;
f) principio da prevalência do fundo sobre a forma;
g) principio da preclusão;
h) principio da economia processual;
i) principio do direito a justiça em tempo útil;
j) principio da igualdade substancial das partes e do processo equitativo)

2. Princípio da Cooperação:
Só surgiu com o codigo de processo civil anterior, de 61 e mesmo assim não foi logo no seu inicio,
apenas na revisão de 95/96. Foi introduzido e tem relação com a oscilação entre o inquisitivo e o
inquisitório, vimos que esta relação leva a um equilibrio de forças e este é colmatado com o pp da
cooperação.

Este pp significa que todos os intervenientes no processo devem cooperar para o mesmo fim, que
é no fundo a justa realização/composição do litigio que é apresentado em tribunal. Todas as partes
estao vinculadas a cooperar para a descoberta da verdade no sentido de realizar a justa
concretização do litigio. Isto não significa que cada uma das partes não puxe para seu lado de
forma ao tribunal julgar para seu lado favorável, não significa que sejam neutras sem pensar no
seu lado, mas significa que dentro de um sentido objetivo, processual, devem cooperar – no
sentido de responder ao tribunal o que lhes for perguntado, comparecer quando isso lhes for
solicitado, informar o tribunal quando se justifique ou quando esteja em causa um elemento
fundamental, por outro lado, não faltar à verdade quando a parte é inquirida – tudo isto são
manifestações do principio da cooperação.

Este principio no fundo está aliado a deveres de boa fé no processo, é o exercicio de uma boa fé
processual no sentido de contribuir para a resolução de um litigo que leve a bom porto essa
resolução, no fundo, uma decisão justa do litigio.

Consagração em termos genéricos nos artigos 7º e 8º do CPC.

 Resulta expressamente do artigo 7º que o dever de cooperação não é só das partes, mas
tambem ao juiz é imposto que possa diligenciar todas as providencias necessárias a uma
solução do litigio mais facil caso as partes não consigam, como o ex da aula passada: ação
do despejo em que o autor não consegue documentos de prova de que não há consumos
de eletricidade, agua e gás, entao o tribunal tambem deve cooperar no sentido de
diligenciar para ordenar que estas entidades revelem esta informação, portanto, a
cooperação não é só das partes, mas do juiz com as partes.
 Há tambem ao longo do codigo manifestações pontuais deste dever de cooperação,
inclusivamente a estipulação de consequencias para a falta do dever de cooperação – se
não existissem sanções par aa não cooperação este dever ou pp seria muito mais frágil. Por
isso, as consequencias principais para a violação do pp da cooperação surgem no CPC
essencialmente em 2 pontos:
o por um lado nos artigos 542º e ss. que tratam da matéria de litigância de má fé,
que é um instituto no fundo que prevê as consequencias ou responsabilidade civil
como consequência da violação de deveres de natureza processual, que no fundo
é o equivalente à responsabilidade civil para a violação de deveres de natureza
material, temos a litigância de ma fe paras quando as partes viola,m deveres ao
longo do processo: cooperação, verdade, boa fé, etc –tudo isto são deveres que
caso sejam violados podem conduzir a que o tribunal condene a parte em
litigância de má fé (mesmo que seja a parte vencedora, porque uma coisa é ter o
direito do ponto de vista material, outra coisa é não respeitar os deveres do ponto
de vista processual). A condenação corresponde normalmente ao pagamento de
uma multa ou de uma quantia indemnizatória à contraparte. – consequencia mais
evidente
o em matéria de prova especificamente temos a estipulação do dever de cooperação
que é onde mais se manifesta, no artigo 417º - há varias consequencias para a
violação do dever de cooperação. Este artigo impõe ao tribunal e às partes e
também a terceiros – é mais amplo
 as consequencias podem ser várias:
 Se uma parte se recusa a depor o tribunal pode apreciar
livremente essa recusa para efeitos probatórios – a tendência
quando uma pessoa se recusa a apresentar um depoimento ou
apresentar determinado meio de prova é porque tem receio das
consequencias desse elemento que ira apresentar, e portanto o
tribunal pode dar o facto como provado com base nesta
conclusao.
 Ou pode acontecer ainda a inversão do ónus da prova – em todas
as ações cada uma das partes tem o encargo de provar
determinados factos, nem todos os factos é o autor ou reu,
depende das regras do ónus da prova. Se uma das partes se recusa
a apresentar um meio de prova pode ter como consequencia a
inversão do ónus, ou seja, se era a contraparte que tinha de
provar, passa a ser a parte que se recusa ou torna impossivel a
prova a ter de provar.

3. Principio do contraditório:
É dos princípios mais elementares, mais fundamentais do processo civil, está ligado ao pp da
igualdade das partes perante o juiz e perante a lei.
Isto significa que tem de ser dada a cada parte a possibilidade de contestar e controlar a atividade
da outra parte. É uma possibilidade de presença constante em todos os momentos de atividade
processual da contraparte relativamente à parte que pratica o ato, faz alegações, etc – ou seja, a
contraparte tem sempre o direito a ter uma palavra a dizer antes do tribunal decidir. Este princípio
manifesta-se portanto ao longo de todo o processo

É um pp fundamental do processo, a sua violação é causa de nulidade processual e depois da


sentença, é um pp fundamental - está consagrado na constituição (artigo 20º), em normas de
direito internacional, como a declaração universal dos direitos do homem (artigo 6º) e ainda no
codigo do processo civil: artigo 3º em termos gerais, em termos específicos em matérias de prova
encontramos no 415º, mas não é apenas na prova que temos este princípio, temos tambem nos
articulados, também no final do julgamento quando há alegações de ambas as partes.

O contraditório é uma manifestação da igualdade formal das partes, ou seja, é o mesmo que dizer
que o contraditório implica a igualdade de armas: o processo dá as duas partes as mesmas armas
para combater, têm iguais oportunidades, podem se pronunciar de forma igual. Isto é diferente da
igualdade substancial/material das partes: o facto de ambas terem os mesmos instrumentos não
significa que não haja uma delas que seja mais fraca que a outra – ex: uma delas pode ter menos
recursos financeiros para te um bom advogado. – há uma igualdade formal, há o contraditório das
duas partes mas do ponto de vista material ou substancial há uma parte inferior à outra
naturalmente.

Embora este pp seja fundamental no processo civil, há casos excecionais que o legislador previu a
possibilidade de o tribunal decidir sem o contraditório de uma das partes, ou seja, ouvindo apenas
uma das partes e não a outra:

 isto pode acontecer em algumas providencias cautelares: são medidas provisórias urgentes
para que enquanto a ação não chega ao fim e o tribunal não toma a decisão definitiva se
possa evitar que quando se chegar ao final a ação já seja inútil. No fundo acautelar
provisoriamente a situação.
o Ex: o arresto – a providencia cautelar mais comum, permite evitar que o devedor
vá dissipando a sua garantia patrimonial durante a ação e no fim quando vier a
sentença esta já não servir de nada ao credor porque já não há bens no
patrimonio do devedor. Visa garantir uma apreensão dos bens do devedor até à
data da execução da sentença para garantir que ainda há bens no patrimonio do
devedor.
 É uma providencia cautelar típica, em que o arrestado não é ouvido antes
de lhe serem apreendidos provisoriamente os bens. Se o receio desta PC é
que o devedor dissipe a sua garantia patrimonial, por ex pondo em nome
de outros ou alienando gratuitamente, se o devedor fosse avisado de que
contra ele podiam vir a ser arrestados os bens, é evidente que o risco que
o arresto visa evitar se poderia concretizar.
 Assim, o arresto tem este fator surpresa que é fundamental para a eficacia
do proprio arresta, e portanto há uma dispensa do principio do
contraditório – esta dispensa é provisória, até à execução do proprio
arresto o devedor não é ouvido, mas depois disso, claro que o devedor vai
ser ouvido, há apenas um adiamento do contraditório, uma supressão
deste principio, e não a sua inexistencia.

4. Princípio da submissão aos limites substantivos:


Significa que ninguém pode usar o processo/ o direito de ação para contornar as limitações do
direito substantivo — o processo não pode ser uma forma de defraudar as regra do direito
substantivo.

 Ex 1: artigo 877º do CC proíbe que os pais vendam bens a um dos filhos sem autorização
dos outros filhos, mas supomos que os pais querem efetivamente vender um bem móvel a
um dos filhos mas sabem que os outros filhos não vão deixar e ptt combinam com esse
filho que este vai propor contra os pais uma ação de reivindicação do móvel (que este lhe
pertence) e portanto que o pais sejam condenados a reconhecer que esse bem lhe
pertence e devolver esse bem e os pais não vão contestar a ação – quando não há uma
ação de contestação pelo reu essa não contestação tem um efeito concominatório, ou seja,
consideram-se provados todos os factos do autor.
o Indiretamente, atraves do processo, se isto for possivel e o juiz não fizer nada há
aqui um defraudar os limites substantivos do direito, e portanto o artigo 612º do
CPC atribui poderes ao juiz para que se este se aperceber que as partes estão a
fazer um uso anormal do processo, pode impedi-lo, como por exemplo: chamando
os outros filhos, absolvendo o reu da instancia, etc.
 Ex 2: artigo 612º - um menor no plano do direito material não pode praticar atos de
disposição sem a representação dos seus pais, mas imaginem que um menor quer vender
alguma coisa a um terceiro e combina o mesmo esquema – que vai fazer uma
reivindicação daquele bem e que o bem não vai contestar a ação, ninguém levanta a
questao da incapacidade e procedência da ação vai equivaler à transmissão da
propriedade.
 No fundo existem simulações processuais que o tribunal deve impedir se se aperceber
delas profunda manifestação do principio da submissão aos limites substantivos

5. Princípio da legalidade das formas processuais vs adequação formal


Os dois pp são contrários em termos de filosofia, e qual é a filosofia que está aqui?

 Se o legislador adotar o pp da legalidade das formas processuais, isso significa que existe
no processo um modelo típico de tramitação processual, ou seja, vou ao CPC e sei que
para aquele caso está no código uma tramitação rigorosa da marcha do processo, uma
descrição rigorosa do que é a tramitação processual e portanto o juiz não tem aqui
nenhuma margem de manobra e apenas vai aplicar a lei.
 O pp da adequação formal no fundo atribui ao juiz o poder de aplicar ao processo a
tramitação que entenda mais adequada ao caso. Ou seja, se o juiz achar que em vez de
fazer a audiência final num momento faz mais sentido fazer noutro pode fazê-lo, ou se
quiser alterar toda a ordem do processo de prova. — a adequação não prescinde de um
modelo de tramitação, mas este é supletivo em que o que prevalece é o que o juiz decide
em cada caso, é uma decisão ad hoc adaptada ao processo em concreto.

Antes da reforma de 95/96 o que vigorava era o principio da legalidade das formas processuais, no
entanto, a partir da reforma foi introduzido no nosso CPC o pp da adequação formal. No fundo o
que dizia em termos simples esta reforma era que se o tribunal considerasse que era de introduzir
alguma alteração à tramitação legal podia introduzi-lo excecionalmente – a regra era a legalidade
das formas processuais mas abriu-se uma possibilidade de o juiz excecionalmente introduzir
alterações, enquanto antes não havia esta hipotese.

Em 2013 reforçou-se este principio que atualmente consta do artigo 547º CPC, em vez de
estabelecer que esta adaptação é uma exceção quase que a transforma numa regra:

“o juiz deve adotar tramitação processual adequada às especificidades da causa e adaptar o


conteudo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir assegurando um processo
equitativo” – atualmente é um poder-dever do juiz ou um ónus de o tribunal adaptar as formas
processuais.

Este poder do juiz introduzido com o codigo de 2013 foi acompanhado de uma diminuição das
formas processuais legais típicas, enquanto se reforçou este poder do juiz havia 3 formas
processuais e foram reduzidas para apenas 1 porque ao mesmo tempo reforçou o poder do juiz.

Num certo sentido esta escolha entre estes dois princípios também se poderia considerar uma
manifestação do dispositivo e do inquisitório porque a legalidade das formas processuais acaba
por ser uma manifestação do dispositivo (as partes sabem com o que podem contar porque está
na lei) e a adequação formal do inquisitório porque esta dá poder ao juiz.

6. Princípio da prevalência do fundo sobre a forma:


Ideia de que as razões processuais em princípio serão instrumentais ou secundárias do mérito da
causa, das razoes substantivas. O mesmo é dizer que ninguém deve perder uma ação por razoes
processuais. Se o tribunal vê que a parte tem razão se calhar não deve ser por um pormenor
processual que a parte deve perder a ação, embora estas regras processuais não sejam
indiferentes, nem sempre são neutras e prosseguem elas proprias valores próprios, têm função de
garantia de direitos fundamentais.

Então em que é que se manifesta este princípio da prevalência do fundo sobre a forma? Sobretudo
na possibilidade em regra de dada ao tribunal de sanar certos vícios de natureza processual para
evitar que eles sejam a razão de decidir injustamente.

Ex: no caso dos pressupostos processuais (condições previas necessárias que se verifiquem para
que o tribunal possa julgar a ação: a competencia do tribunal, a legitimidade, etc) apesar de serem
importantes, sempre que for possivel, o legislador estabelece que o tribunal possa sanar a falta
destes pressupostos processuais precisamente para evitar que por causa destes pressupostos a
parte que até pode ter razão no mérito da causa perca a ação. --- um menor que é parte numa
ação, em pp sofre de uma incapacidade judiciaria e ptt o tribunal não deveria reconhecer o mérito
da causa, mas por força deste princípio resulta da lei nomeadamente do artigo 6ºnº2 que o
tribunal deve no que possa sanar pelo sofrimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis
de serem salvos pelo juiz oficiosamente. O mesmo é valido para o erro na forma de processo, o
caso em que uma das partes se engana na identificação da forma do processo aplicável à ação, se o
juiz pode corrigir não faz sentido rejeitar a ação com fundamento naquele vicio. No fundo, este pp
da prevalência faz com que sempre que possivel os juizes processuais possam sanar certos vícios.

7. Principio da preclusão:
Diz-nos que cada ato tem um momento proprio para ser praticado. Há regras, disciplina no
processo. Ex: se quero apresentar uma prova só o posso fazer até x dias antes da audiencia, se
quero contestar uma ação só o posso dentro de 30 dias após ser notificado da petição inicial do
autor. Se não o fizer perde a possibilidade de o fazer mais tarde. Isto pode ter consequencias
importantes porque posso perder uma ação porque deixei passar o prazo.

E não poderíamos dizer que isto viola o principio da prevalência do fundo sobre a forma? Se calhar
sim, mas há outros pp e interesses à razoes da disciplina processual, razoes de lealdade entre as
partes (as partes saberem que aquilo que tinha de ser dito já foi determinado e não serem
surpreendidas com algo novo, ao contrario do que acontece nos processos de Common law em
que de repente na audiencia aparece uma testemunha surpresa – isto não acontece no nosso
sistema porque todas as testemunhas têm de ser apresentadas até uma determinada data, a não
ser por razoes excecionais que sejam justificadas). No fundo, não há propriamente surpresas, é um
processo com momentos próprios e prazos próprios determinado pela lei ou pelo tribunal (se o
tribunal tiver este poder-dever de adequação formal).

Este pp tem exceções, exceções de bom senso, como é o caso de alguma ocorrência superveniente
que não pôde ter sido tida em conta na data da pratica do ato – ex: caso das testemunhas, se a
parte só teve conhecimento daquela testemunha fundamental para o processo porque entrou em
contacto com a parte e antes ela não podia conhecer; ou relativamente a factos supervenientes
em que por exemplo numa ação de responsabilidade civil o autor pede a indemnização de danos
com fundamento num acidente de viação e em que enumerei todos os danos que tive na ação mas
mais tarde depois da alegação destes danos venho a sofrer outros danos de que não tinha
conhecimentos na altura, por exemplo uma manifestação fisica ou psicologica daquele acidente
que só mais tarde iria sofrer, isto é um facto superveniente relativamente ao momento proprio
para alegar o facto.

8. Principio da economia processual:


Exprime a ideia de que através da atividade processual se deve obter o máximo de resultado,
eficiencia, com o menor gasto de atividade possível. No fundo, consiste na aplicação ao processo
da lei do menor esforço. No fundo, apenas devem ser praticados no processo os atos e
formalidades indispensáveis, uteis para o processo. Ou seja, é proibida a pratica de atos inúteis do
processo – o que resulta do artigo 130º CPC. Tudo o que seja considerado impertinente, dilatório,
o tribunal deve indeferir. Ex: se uma das partes pede que venha depor uma testemunha que o
tribunal considera que nada tem a ver com o objeto do processo, então deve indeferir porque não
faz sentido que esta esteja a ser ouvida na audiencia se não será relevante, seria uma violação do
principio da economia processual.

Há várias manifestações deste princípio ao longo de todo o processo, exemplos:

 Artigo 555º: Admissibilidade da cumulação de pedidos pelo autor; o legislador admite que
o mesmo autor formule não apenas um, mas vários pedidos contra o mesmo réu – tem de
obedecer a alguns requisitos, mas faz sentido por economia processual, se é o mesmo
autor e o mesmo réu já agora que o tribunal conheça todos os pedidos contra aquele réu.
Ademais, é possível que várias partes se juntem para que o tribunal conheça na sua
pretensão.
o Ex: 3 compradores do mesmo imóvel (compropriedade) e querem os 3 anular a
compra e venda porque esta tem um vício na sua vontade e querem anular o
negócio, se cada um tivesse de propor uma ação separadamente seria um
desperdício de economia processual e, portanto, este princípio permite que os 3
proponham a mesma ação.
 Tribunal puder sanar a falta de um pressuposto processual, é uma manifestação da
prevalência do fundo sobre a forma e da economia processual. Não adianta de nada
rejeitar a causa do menor com falta de representação se depois vêm mais tarde os pais
propor a mesma ação.
 Artigo 530ºnº7 alinea a): Aumenta as custas processuais para partes que apresentem
articulados desnecessariamente prolixos – isto significa articulados complexos sem
necessidade, quanto mais simples e seco quanto àquilo que é preciso melhor, o legislador
para proteger os juizes criaram este artigo.

9. Principio do direito à justiça em tempo útil:


Encontra consagração no artigo 20ºnº4 da CRP, artigo 6º da convenção europeia dos direitos do
homem, artigo 2ºnº1 do codigo processo civil, e sabemos que o estado português já foi condenado
por violação desta garantia do direito à justiça em tempo favorável (embora não seja a regra geral,
a média nos outros países é maior do que em Portugal, por exemplo em Itália – é um problema
comum da generalidade de alguns países europeus, mas é uma garantia constitucional).

Este princípio é uma garantia constitucional porque uma sentença favorável que chegue daqui a 10
anos pode já não servir de nada. Mas o que é isto “prazo razoável?”, é um conceito indeterminado
— exige uma ponderação das circunstancias pelo tribunal sobre a complexidade da causa, o tipo
de crime, a quantidade de factos, os obstáculos processuais que existiam e portanto não se pode
criar uma regra abstrata que diga que um processo com mais de 2 anos é um processo que viola
este princípio, portanto tudo depende do caso concreto.

Há varias manifestações da proteção deste princípio:

 uma delas é precisamente a consagração das providencias cautelares que servem para
garantir que se a ação não permite ser rápida, então a providência cautelar estabelece
uma solução provisória que permita garantir que pelo menos a sentença não chega tarde
demais.
 A possibilidade de responsabilizar o estado civilmente pelos atos jurisdicionais que chegam
tarde demais – isto é possivel no ambito internacional e a nivel interno, temos um regime
de responsabilidade civil do estado tambem por exercicio da função jurisdicional,
comporta a possibilidade de condenação do estado
 No CPC quando este impoe aos magistrados e à secretaria limites para a pratica dos atos
processuais, no artigo 156º para os magistrados (em 10 dias têm de ser praticados os atos
dos magistrados) e no artigo 162º para a secretaria (têm 5 dias) – nem sempre são
cumpridos e não há propriamente uma sanção para este incumprimento, a preocupação
do legislador é estabelecer um prazo razoável para a solução dos litigios.

10. Principio da igualdade material ou substancial das partes:


Aquele que se opõe ao principio da igualdade formal em que no fundo se traduz o principio do
contraditório.

Este principio manifesta-se na preocupação do legislador tem em que as partes não só ganham as
mesmas armas processuais como tb tenham o mesmo estatuto real, e por isso a manifestação mais
evidente deste principio é a possibilidade conferida por lei de que as partes caso não tenham
meios económicos suficientes gozem do direito a um advogado oficioso – é possivel, perante a
falta de meios, que a uma determinada parte seja nomeado um advogado oficioso e
nomeadamente pode a parte ser dispensada do pagamento das custas processuais. Isto é uma
manifestação clara de que há uma parte em condições menos favoráveis e que portanto para
existir uma verdadeira igualdade material é preciso dar armas ou possibilidades que não são dadas
à outra parte.

Existem outros principios, mas estes são os mais relevantes e que vale a pena referir.
(PONTO 1 do programa (Introdução): ponto 3. Tipos de ações:
a) declarativas e executivas;
b) declarativas de condenação, constitutivas e de simples apreciação)

TIPOS DE AÇÕES:

Neste capítulo vamos tentar perceber quais são a nível de classificação em função do fim
pretendido pelo autor, qual é o tipo de ação que está em causa, portanto os tipos de ação são
determinados pelo fim que o autor pretende alcançar com esta.
Exemplos:

 1 - A instaura uma ação contra B para que seja decretado o divorcio litigioso e que o
tribunal considere dissolvido o casamento entre ambos. – o que A pretende é a dissolução
do casamento atraves do divorcio
 2 - A instaura uma ação contra B para que o tribunal declare que não deve nada a B, que
não tem nenhuma divida a B ao contrário do que este diz – pretende que o tribunal
declare que uma das partes não deve nada à outra
 3 - A instaura uma ação para que B (o meu vizinho) que roubou uma determinada parcela
do meu terreno seja condenado a reconhecer que aquela parcela do teereno me pertence
e que seja obrigado entregar-me a parte do terreno
 4 - Tenho um direito de crédito contra B que está reconhecido por este e quero executar
este crédito contra B e portanto quero instaurar uma ação para que o tribunal penhora os
bens de B, os venda e me entregue.

Temos 4 exemplos. Os pedidos do autor dependem da situação material descrita por este.

É diferente pedir ao tribunal que penhore os bens do devedor, ou que declare que não devo nada
ao réu, ou que considere que as partes estão divorciadas e que o casamento está dissolvido. Temos
aqui vários tipos de providencias. Em função da diferente natureza das providências tambem vou
ter diferentes tipos de ações com diferentes consequencias:

Encontramos uma classificação de diferente tipos de ação no artigo 10º CPC e a 1ª grande
distinção de tipos de ação é entre AÇÕES DECLARATIVAS E EXECUTIVAS:

 Como é que se distinguem?


O artigo 10º no nº4 define o que são as ações executivas, relativamente às declarativas não
dá uma definição, mas refere várias finalidades das ações declarativas no nº2 e nº3 – logo
conseguimos tirar do nº2 e do nº3 uma espécie de conceito de ação declarativa e opô-lo
ao conceito de ação executiva. Têm tramitações diferentes:

o Executivas (nº4) – as duas palavras mais importantes no nº4 são “realização


coativa”, ou seja, o que se pretende com esta ação é que o tribunal realize
coativamente, leve à pratica aquilo que é o direito/realize uma obrigação que foi
violada. Aqui o ponto de partida é o direito já declarado, por isso é que
normalmente uma ação executiva segue-se a uma ação declarativa em que já
houve uma sentença procedente, na ação executiva o objetivo é muito mais
prático: é que o agente de execução vá a casa do devedor que não pagou a sua
divida espontaneamente, penhore os seus bens, os venda e pague ao autor.
 Tribunal “faz” o direito
 Ponto de partida é o direito já declarado – regra é a de que só haja ação
executiva quando já houve uma sentença a declarar que o direito existe,
mas não é sempre assim (exceção): se o autor estiver munido de um titulo
executivo que não uma sentença (ex: um título de crédito) em que há uma
espécie de reconhecimento do direito, o autor pode instaurar diretamente
uma ação executiva.

o Declarativa – o objetivo de uma ação declarativa é que o tribunal componha o


conflito de interesses dizendo quem tem razão. Quando instauro uma ação
declarativa estou a pedir ao tribunal que diga quem tem razão, o ponto de
chegada é a declaração do direito. – o tribunal está apenas a declarar o direito. O
juiz vai com a aplicação do direito dizer quem tem razão.
 Tribunal “diz” o direito
 Ponto de chegada é a declaração do direito
AULA 18/09/2023

(PONTO 1 do programa (Introdução): continuação ponto 3. Tipos de ações:


a) declarativas e executivas;
b) declarativas de condenação, constitutivas e de simples apreciação)

(Resumo da aula passada):

Os tipos de ações variam em função da sentença, medida, que o autor vem pedir ao tribunal.
Temos vários exemplos:

Ex 1: Ação de responsabilidade civil em que o autor vem dizer que o réu lhe causou danos —
qualquer tipo de responsabilidade, e vem pedir ao tribunal que reconheça o seu direito e condene o
réu a cumprir a sua correspondente obrigação – objetivo é que o réu seja condenado a efetuar
uma determinada prestação

Ex 2: autor é proprietário de um prédio que está encravado no terreno de outra pessoa e não tem
acesso à via publica e pede para o tribunal constituir uma servidão legal de passagem para aceder
à via publica. --- nem sequer há um pedido de condenação, o pedido é que seja constituída uma
nova relação jurídica.

Ex 3: há um jornal que noticia que uma determina figura publica deve dinheiro ao banco, esta
pessoa para repor a sua imagem vem pedir que o tribunal declare, e instaura uma ação contra o
banco, que nada deve ao banco. --- peço que o tribunal declare “se sim ou se não”, uma simples
atividade declarativa.

Ex 4: o tribunal já tinha condenado o reu a pagar uma determinada quantia, e agora o que o autor
pede ao tribunal uma vez que o réu não pagou espontaneamente, é que o tribunal o obrigue a
pagar, apreenda os seus bens vendê-los e a atribuir o resultado dessa venda ao autor. – o objetivo
é que o tribunal implemente na pratica aquilo que já foi decidido.

O que está em causa nos 4 exemplos é o exercício do direito da ação judicial, mas estou a pedir
providências diferentes. Portanto o direito de ação civil pode corresponder a pedidos diferentes ao
tribunal, não há apenas um tipo de pedido possivel.

Em função dos pedidos formulados pelo autor contra o réu, assim as ações se classificam em tipos
diferentes:

 Artigo 10º CPC tem uma forma mais ou menos completa de identificar os tipos de ação que
existem. O que é que podemos retirar? Há uma grande distinção entre ações declarativas e
executivas:
o Declarativas: peço ao tribunal que declare o direito aplicável ao litigo, dizer quem
tem razão, aplicar a lei. – o ponto de chegada é o direito, o tribunal estabelecer a
solução teórica para o conflito.
o Executivas: peço que o tribunal faça o direito, ou seja, o que eu pretendo é que o
tribunal implemente aquilo que é a definição do direito no caso concreto. – vou
querer, porque normalmente o réu não cumpre espontaneamente, que o tribunal
implemente atos materiais.
 É algo muito pratico, não é o juiz mas agentes de execução que
vao ao terreno e o tribunal tem a função de controlar, por
exemplo: há regras sobre quais os bens que podem ser
penhorados e que não podem – há sempre um determinado valor
financeiro que não se pode penhorar, por exemplo, não se pode
penhorar mais do que o valor correspondente ao salário minimo
nacional.
 Como regra, a ação executiva segue-se a uma ação declarativa, ou seja, só
posso executar o direito quando com segurança já adquiri com a certeza
jurídica que a lei exige a definição ou solução do direito num caso
concreto.
 Desde o codigo de 2013 que as coisas estão mais facilitadas,
porque foi introduzido o artigo 626º em que se determina que a
execução não exige uma ação nova, ou seja, se quero instaurar a
ação executiva basta pedir ao tribunal depois da ação declarativa
para prosseguir com a fase executiva – antes era preciso instaurar
uma nova ação.
 Exceção: Nem sempre é necessário que a ação executiva proceda uma
ação declarativa.
 Há casos em que se tiver disponivel o chamado titulo executivo,
elencados taxativamente no artigo 703º, um documento de onde
resulte de forma suficientemente segura a existencia de um direito
do exequente, ele não precisa da sentença e pode ir diretamente à
ação executiva.
o Isto é relevante para o exercício do contraditório, porque
um executado numa ação executiva que foi precedida
numa ação declarativa terá muito menos direitos de
resposta do que um executado que nunca foi chamado a
juizo, portanto o contraditório será mais abrangente numa
ação executiva que não seja precedida de uma ação
declarativa: porque quando existe uma ação declarativa
anterior o executado já teve oportunidade de se defender.

(Nas ações declarativas o ponto de chegada é o direito, estabelecer a solução, enquanto na ação
executiva peço ao tribunal para alem da providencia declarativa, a executiva).

Em síntese, podemos ter 3 hipóteses:

 ação declarativa + ação executiva –– ainda que no mesmo processo, temos dois momentos
 só ação declarativa (se o réu cumprir espontaneamente ou se for absolvido não se justifica
a ação executiva)
 só ação executiva
AÇÕES DECLARATIVAS: Artigo 10ºNº2

Existem vários tipos de ações declarativas, o artigo 10º define no nº2 quais são os 3 tipos de ações
declarativas e no nº3 o fim de cada uma delas:

1.º. Alinea b) Ações de condenação — no fundo são as ações através das quais o autor pretende
que o tribunal condene o réu numa determinada prestação a partir do reconhecimento de que
o autor tem aquele direito e este foi violado. Temos 3 momentos nestas ações: a verificação da
existencia do direito que o autor alega; o reconhecimento pelo tribunal que esse direito foi
violado; em terceiro lugar a condenação do réu no restabelecimento da ordem jurídica através
de uma determinada prestação.
o Ex: esta ação de condenação corresponde ao exemplo anteriormente dado da
responsabilidade civil do acidente de viação — o que eu quero é que o tribunal
determine que o réu tem de me prestar uma determinada quantia neste caso.
i. Nas ações de condenação a partir do momento em que a sentença de
condenação está proferida termina, mas depois preciso da colaboração do réu
para ver o meu direito satisfeito – é daquelas em que as ações executivas
posteriores são muito frequentes.
o Ex: relativamente aos direitos reais – O artigo 1311º CC prevê as ações de
reivindicação e resulta claramente deste artigo que o objetivo é o reconhecimento do
direito real do autor, o reconhecimento de que este direito foi violado e a condenação
do reu a reintegrar o direito, ou seja, a restituir aquilo que lhe pertence. Logo, as ações
de reivindicação são ações claras de condenação.
o As ações de condenação que pressupõem a condenação do reu numa determinada
prestação não implicam necessariamente que seja uma prestação de facto positiva,
pode ser negativa – posso pedir ao tribunal que condene o réu a abster-se de uma
determinada conduta (ex: para que o réu se iniba de entrar na minha propriedade
privada).
i. São ações de condenação na inibição do comportamento que perturba o meu
direito, tambem é uma ação de condenação inibitória (= as que visam
condenar o réu numa determinada omissão).

o A expressão “pressupondo ou prevendo a violação de um direito” do artigo 10ºnº3


alinea b) parece que abre a porta à possibilidade de se condenar o reu mesmo quando
o direito do autor ainda não foi violado e apenas se prevê esta violação, ou seja, em
que medida é que posso pedir uma espécie de condenação para o futuro?
i. por exemplo, tenho um contrato de arrendamento com o réu e este deixou de
pagar a renda de julho, agosto e setembro e instauro uma ação para que além
de cessar o contrato de arrendamento peço que o reu seja condenado a pagar
estas 3 rendas e surge uma duvida
 Será que posso pedir a condenação do réu a pagar também as rendas
futuras e que eu suponho que ele também não vai pagar? Porque se
não pagou as anteriores também há uma grande probabilidade de não
pagar as rendas que se vão vencendo e se não puder pedir a
condenação do réu no pagamento das rendas futuras, entao posso ter
de estar sempre a propor novas ações para conseguir a condenação do
réu no pagamento das rendas que entretanto se forem vencendo, mas
a verdade é que o réu ainda não violou esse direito – ou seja, mesmo
não havendo violação do direito posso pedir ao tribunal que condene
o réu para o futuro?
 Qual é a vantagem do réu ser condenado para o futuro? É que se ele
não pagar tenho logo um titulo executivo para executar, não tenho de
estar sempre a instaurar novas ações declarativas para que o tribunal
declare que as rendas para trás não estão pagas.
 Se isto for admissível, será uma exceção – por 2 motivos:
1.º. A maquina da justiça tem um custo e portanto não
faz sentido que por ter medo que o réu não cumpra,
se o meu direito ainda não foi violado, pôr a atuar a
maquina da justiça de forma preventiva quando não
houve a violação do direito.
2.º. Existe uma parte mais frágil na ação e esta
normalmente é o réu – porquê? Em termos de
timings: o autor tem muito tempo para preparar
uma ação, pode preparar a ação o tempo que
quiser, ao passo que o réu é surpreendido com a
ação e tem 30 dias para contestá-la, logo o réu é
apanhado de surpresa e isto não é um pormenor (é
apanhado de surpresa na resposta, na necessidade
de constituir um advogado, etc). logo, não pode
qualquer razao justificar a instauração de uma ação
– se foi violado um direito compreende-se, mas
perante um receio de violação é preciso que o
legislador seja criterioso das ações em que é
possível esta condenação para o futuro.
 Assim, só são admissíveis ações de condenação para o futuro
nos 3 casos previstos na lei:

1) artigo 557ºnº1 – prestações periódicas (= são


aquelas que se vencem com uma periodicidade
certa)
 São diferentes de prestações fracionadas ou
pagas a prestações — casos em que existe
uma única divida mas é permitido que o
devedor pague em parcelas. Ex: compra e
venda a prestações, o seu pagamento é feito
de forma fracionada.
 As prestações periódicas: cada prestação é
individual, é independente da outra que vao
surgindo de forma periódica, ex: rendas.
 Este artigo permite que peça a condenação
do réu no pagamento das rendas todas que
não pagou e que já se venceram e as que se
vencerem durante a ação sem prejuízo do
prazo.
 Ex 2 prestação periódica: juros que se vão
vencendo de uma determinada divida
pecuniária, cada mês se vencem novos juros
daquela obrigação. O que acontece muitas
vezes quando se propõe uma ação a pedir a
condenação do réu na devolução de uma
determinada quantia que este deve ao autor,
pede-se tambem a condenação do reu no
pagamento dos correspondentes juros que já
se venceram até ao momento em que foi
proposta a ação como aqueles que ainda se
vão vencer na pendencia da ação.

2) Artigo 557ºnº2 – para as situações de contratos de


longa duração que tenham um momento pré-
determinado para a entrega da coisa em que o autor
anteveja que o reu não vai cumprir a obrigação de
entrega no final do contrato, o artigo permite, desde
que demonstrado isso, que o autor antecipe esta
violação do direito e peça a condenação do réu na
entrega da coisa para o momento em que o contrato
findar.

3) Artigo 610º - preve a possibilidade de havendo uma


obrigação em que o autor pede a condenação do reu,
se o tribunal verificar que essa obrigação ainda não
está vencida, o tribunal pode condenar na mesma o
réu sem prejuízo do prazo para obter o cumprimento
 Este artigo parece permitir de forma genérica
que afinal em todas as obrigações se possa
pedir uma condenação para o futuro: sempre
que exista uma obrigação e esta ainda não se
tenha vencido, o tribunal deve condenar. Este
artigo não pode ser interpretado com esta
amplitude sob pena de abrir a porta à
possibilidade genérica de as condenações
para o futuro, então em que é que é razoável
restringir a aplicação deste artigo 610º para
que este continue a constituir uma exceção?
a. O artigo 610º está incluído no capítulo
da sentença (ao passo que o artigo
557º está na parte do pedido) o que
nos faz interpretar no sentido de
apenas ser válido se se verificar no
momento da sentença, ou seja, só é
válido se o juiz só se aperceber do não
vencimento da obrigação no
momento da sentença. Porque se o
juiz se aperceber disso logo no inicio
da ação não deve julgá-la.
b. E se for no momento da sentença
porque é que deve julgar a ação ainda
que para o futuro? Pelo princípio da
economia processual, se já se chegou
ao final da marcha do processo e já se
despendeu uma séria de energia e
atividade processual e no final o
tribunal percebe que a obrigação
existe mas apenas se vence mais
tarde, deve condenar o réu sem
prejuízo do prazo, mas apenas na fase
da sentença.

As ações de condenação para o futuro visam no fundo prevenir litígios, porque acabam de certa
forma prevenir aquilo que ira acontecer no final do contrato.

2.º. Alínea c) do artigo 10: ações constitutivas. Visam autorizar uma mudança na ordem jurídica
existente. O objetivo é que o tribunal através da sentença altere a situação jurídica das partes
— o objetivo aqui já não é que o tribunal condene numa determinada prestação, mas o
objetivo aqui é que só pela sentença o tribunal altere a ordem jurídica. – está associado aos
direitos potestativos.
o Exemplo 1: constituição de servidão de passagem - estou a pedir ao tribunal que através
da sentença constitua a servidão de passagem (será diferente de se depois o reu não e
permitir passar); a servidão legal de passagem pode ser constituída por acordo ou por
sentença judicial, portanto a sentença constitui a servidão de passagem. Outra coisa
diferente é se depois o réu vier impedir que eu passe quando já tenho a servidão. Aqui já
tenho de instaurar uma ação de condenação. Se a única coisa que peço é a constituição da
servidão de passagem, então a ação é constitutiva.
o Exemplo 2: anulação de um negócio jurídico – apenas quero uma sentença que venha
decretar a anulação do negócio; a sentença é constitutiva;
o Exemplo 3: contrato de promessa não cumprido com eficácia real em que o vendedor já
vendeu a coisa a um terceiro e eu venho instaurar uma ação de execução específica em
que peço ao tribunal que me substitua ao outro comprador no negócio – o tribunal numa
ação de execução específica não vai mandar o vendedor celebrar um novo negócio
comigo, vai me substituir ao outro comprador; a sentença provoca uma alteração na
ordem jurídica mesmo contra a vontade do réu.
o Exemplo 4: divorcio litigioso, uma das partes pede a dissolução do casamento contra a
outra. Mesmo que o reu não esteja de acordo, se o tribunal decretar o divorcio, o estado
civil do réu altera-se mesmo contra a sua vontade --- basta a sentença de divorcio para que
o casamento fique dissolvido.

Assim, a simples sentença produz efeitos na ordem jurídica sem necessidade de colaboração do
réu. Ou seja, as ações constitutivas são ações em que está normalmente em causa o exercício de
direitos potestativos, em que posso provocar através do meu direito a alteração da esfera jurídica
da contraparte sem necessidade da sua vontade, aqui a diferença é que o exercicio do direito
potestativo é feita de forma judicial. Isto porque temos direitos potestativos que são de exercicio
obrigatoriamente judicial. Qual é a forma de exercer judicialmente o meu direito potestativo?
Através de uma ação constitutiva.

Podem inclusive produzir efeitos, no exemplo da ação de execução específica é o mais típico: posso
estar a produzir efeitos na esfera jurídica de um terceiro que não é parte desta relação entre
direito potestativo e sujeição. Ou seja, por exemplo no caso de incumprimento do contrato
promessa a minha relação juridica inicial é com o promitente vendedor que não cumpriu, mas eu
vou conseguir produzir efeitos através da ação constitutiva inclusive através da esfera juridica de
um terceiro que adquiriu a coisa —— as ações constitutivas podem ter um alcance mais amplo do
que apenas a relação juridica inicial.

3.º. Alinea a) do artigo 10: ações de simples apreciação: são as que pretendem obter unicamente
a declaração da existência ou inexistencia de um direito ou facto – quando queremos que o
tribunal reconheça um direito meu.
o Estas ações podem ser positivas ou negativas consoante o pedido seja a declaração da
existência de um direito ou facto ou da declaração da inexistência de um direito ou facto.
o Exemplo 1: a figura publica pede que o tribunal declare que nada deve ao banco –
não é preciso mais nada se não a sentença que declare isto.
o Exemplo 2: alguém vai vender um determinado terreno e o vizinho vem dizer que
tem uma servidão de passagem sobre esse terreno, vem invocar a titularidade da
possibilidade de passar sobre esse terreno. – Se eu quero vender o terreno então é
importante saber se esta servidão existe ou não, e portanto posso, para resolver
duvidas, pedir ao tribunal que declare a inexistencia desta servidão de passagem.
--- ação de simples apreciação negativa.
o Exemplo 3: ação de declaração de nulidade de um contrato – é diferente de uma
ação de anulação; na ação de anulação o efeito da sentença é constitutivo, eu
posso anular ou não, se não o anular o negocio este convalida-se e é válido; já um
negócio nulo é o desde o inicio, não produz efeitos, e portanto, o recurso a
tribunal para declaração de nulidade não é um pedido constitutivo, mas é apenas
uma declaração daquilo que é a realidade, apenas peço que o tribunal constate
que o negócio é nulo.
o São as menos comuns, porque na verdade os tribunais não são órgãos de consulta juridica,
não posso apenas por uma discórdia e porque quero que as coisas fiquem esclarecidas que
vou recorrer a tribunal para este declarar que uma caneta é minha.
o Logo, não posso pedir ao tribunal que se prenuncie perante as minhas duvidas,
logo é necessário alguma exigência, é preciso que exista:
 uma incerteza grave (= no sentido do valor que está em causa; se for
apenas uma questão sobre o meu direito de propriedade sobre uma
caneta não se justifica, mas se for a violação ao meu direito de
propriedade já é diferente)
 e uma incerteza objetiva (= ser provocada por elementos externos, como
o meu vizinho que veio dizer que é titular de uma servidão de passagem,
ou do jornal que publica uma noticia sobre uma certa pessoa) sobre a
existência de um direito.
o Uma ação de condenação integra também de certa forma uma ação de simples apreciação,
porque quando, por exemplo, peço a reivindicação da minha propriedade primeiro estou a
pedir ao tribunal que reconheça o meu direito de propriedade, a diferença é que na ação
de condenação estou a pedir mais do que isso: que o reu seja condenado a respeitar o
meu direito de propriedade, mas está integrada uma ação de simples apreciação.

Relacionando os 3 tipos de ação declarativa com a distinção entre ação declarativa e ação de
condenação:

A única ação declarativa que verdadeiramente comporta a possibilidade de execução é a ação de


condenação porque nas outras duas o efeito que eu pretendo com a ação esgota-se na sentença e
só a sentença de condenação é que exige uma colaboração do réu, so na ação de condenação é
que o tribunal condena um reu num determinado comportamento, nas outras não há qualquer
comportamento do reu que seja necessário: nas constitutivas basta a sentença da execução
especifica, por exemplo, eu posso registar a sentença e passo a ser o proprietário; nas ações de
simples apreciação a mesma coisa, a única coisa que o autor quer é uma declaração que o meu
terreno não está onerado pela servidão de passagem e, portanto, mostrar a sentença ao meu
comprador é o suficiente para vender aquele bem. Só na ação de condenação faz sentido haver
cumprimento ou incumprimento do réu, porque quando peço ao tribunal que anule o negócio ou
declare que o meu direito existe a minha pretensão esgota-se com a sentença. Claro que o réu
pode violar o meu direito ou não me devolver o que me foi prestado, mas aí tenho de propor outra
ação: uma ação de condenação.

Títulos executivos na verdade são as sentenças das ações de condenação, as outras, em princípio,
não serão títulos executivos porque não são suscetíveis de incumprimento, os efeitos
condenatórios dessas sentenças sim, mas não a sentença em sentido estrito, aquilo que eu
pretendo do tribunal. Isto não significa que não existam efeitos condenatórios colaterais de
sentenças de simples apreciação ou constitutivas, por exemplo: se o tribunal constitui a servidão
legal de passagem, e o reu no dia a seguir poe um trator a impedir-me a passagem, no fundo está
indiretamente a desrespeitar aquela ação constitutiva, mas se na única coisa que eu pedi na ação
foi a constituição da servidão eu não tenho ainda um titulo executivo – tenho de instaurar outra
ação a condenar o réu a respeitar o meu direito de servidão.

 O autor o que deve fazer porque pode cumular vários pedidos é pedir a declaração de
nulidade do negócio e a condenação do réu a restituir aquilo que prestei – se não juntar
um pedido de simples apreciação (neste caso) e um pedido de condenação, não tenho um
titulo executivo, porque preciso sempre de formular expressamente um pedido de
condenação ---- isto é uma consequencia de que princípio?
o A possibilidade de formular vários pedidos: economia processual
o Necessidade de fazer um pedido de condenação para o tribunal poder condenar o
réu: princípio do dispositivo
 O tribunal até podia acrescentar logo ao pedido de anulação do negócio a
condenação do réu a restituir tudo o que foi prestado – não pode fazer isto
ao abrigo do principio do dispositivo, ou o autor faz esse pedido ou então
nada feito.
INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL
(ponto 1 do programa: 4. Providências cautelares: função, características, estrutura, providências
cautelares em especial (inominadas e nominadas))

Providências cautelares: regulados nos artigos 362º e ss. CPC

Cada titular de direito tem o correspondente direito de ação se precisar de exercer o seu direito
pela força, mas na verdade a justiça demora e, por vezes, temos de esperar meses/anos até que
chegue uma sentença que reconheça o meu direito – problema disto: muitas vezes passado esse
tempo chega uma sentença que me é favorável mas já não me serve para nada, porque entretanto
as circunstancias alteraram-se de tal modo que a sentença é inútil. E, portanto, o meu direito de
ação é respeitado na teoria mas na prática não.

 Exemplo 1: tenho um credito sobre um devedor, ele não paga e vou a tribunal e peço que
o tribunal reconheça o meu direito de credito e condene o réu a pagar-me 20 mil euros em
função de uma compra e venda que celebrei com ele e este não me pagou. Passado 5 anos
chega uma sentença que diz que o autor tem razão e a condenar o réu no pagamento dos
20 mil euros. Depois disto vou então executar esta sentença mas descubro que durante
estes 5 anos o réu dissipou completamente o seu patrimonio e tem apenas um valor
irrisório no seu património comparativamente à quantia a que foi condenado – esta
sentença não me vai servir para nada na prática.
 Exemplo 2: alguém tem direito à prestação de alimentos de outrem que não presta os
alimentos mensais a que estaria obrigado. Instauro uma ação para que o reu seja obrigado
a prestar os alimentos mensais que são devidos. Passam vários anos e o reu é condenado a
pagar, no entanto, se eu precisava dos alimentos naquele momento, daqui a vários anos a
sentença já não me vão servir de nada.

Uma coisa é o direito de ação, direito à tutela judicial, outra coisa é uma tutela judicial efetiva.
artigo 20º CRP garante o direito a uma tutela judicial efetiva, e isso implica muito mais do que o
exercício do direito de ação e a possibilidade de ter uma sentença, implica a possibilidade que essa
sentença seja útil, tenha efeito prático.

É aqui que entram as providências cautelares:

 São medidas judiciais urgentes e provisórias que têm por função garantir que a sentença
final quando chegue não seja inútil. Têm uma função instrumental relativamente à
utilidade de uma sentença de uma ação. E por isso correm em paralelo com a ação
principal, no fundo há um mini procedimento urgente que vai ser instrumental da ação
propriamente dita e que visa tomar uma medida urgente e provisória para impedir que
quando chegue a sentença de condenação do reu esta seja inútil – por isso a providencia
cautelar tem uma função instrumental e por isso não é um tipo de ação propriamente dita,
porque não é autónoma, são instrumentais dos vários tipos de ação.

Portanto, o que é que o tribunal vai fazer nos vários exemplos se eu perceber que há o risco do
devedor dissipar a sua garantia patrimonial:
 1º exemplo – o tribunal vai pedir um arresto dos bens do devedor (= apreensão dos bens
do devedor, o equivalente à penhora só que esta ultima é definitiva e o arresto é uma
medida provisória, ainda não é uma sentença que dê razão). O que o tribunal vai fazer é
apreender aqueles bens para que fiquem ali à espera que venha a sentença. Se a sentença
for de condenação do réu o arresto vai ser convertido em penhora, se a sentença for de
absolvição do réu o arresto caduca. No fundo isto vai funcionar como um binómio
procedimental para combater os efeitos do decurso do tempo na ação.
 2º exemplo – vou pedir elementos provisórios, que provisoriamente obrigue o réu a pagar
alimentos até que seja decidido se tenho esse direito, se não tiver esse direito este caduca
e eventualmente vou ter de restituir o prestado.

O artigo 2º nº2 parte final CPC fala expressamente das providencias cautelares quando diz “a todo
o direito (…) corresponde a ação (…), bem como os procedimentos necessários para acautelar o
efeito útil da ação”.
AULA 21/09/2023

INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL


(ponto 1 do programa: 4. Providências cautelares: função, características, estrutura, providências
cautelares em especial (inominadas e nominadas))

Se aumentar o tempo para garantir a maior justiça e maior ponderação da decisão, estou a
prejudicar a sua eficácia – logo, o tempo é dificil de combater, e por isso só é possivel de combater
com este binómio de ações. Ou seja, por um lado temos uma ação principal em que o juiz tem
tempo para tomar a decisão ponderadamente e justa em que não há pressa dentro de um prazo
razoável para decidir, por outro lado, há um procedimento paralelo (o procedimento cautelar) em
que o tribunal aí se preocupa com a urgência na decisão em que não está preocupado com a
ponderação mas ao mesmo tempo garante que o tempo não vai prejudicar a eficácia da decisão.

José alberto dos reis tem um artigo sobre a providencia cautelar: “depressa e bem não é possivel”,
e portanto, a ação principal trata do bem permitindo que o procedimento cautelar trate do
depressa.

A tutela cautelar é um imperativo constitucional, porque o direito a uma tutela jurisdicional efetiva
que consta do artigo 20º da CRP exige a existencia de uma tutela cautelar que o garanta.

Como é que o nosso código concretiza então este imperativo constitucional? Em primeiro lugar, o
artigo 2º/2 ultima parte do CPC, embora em termos genéricos, diz “bem como os procedimentos
necessários a acautelar o efeito útil da ação” – fala-se aqui das providencias cautelares. Como é
que este artigo 2ºnº2 se concretiza? Nos artigos 362º e ss. encontramos a regulação dos
procedimentos cautelares e os seus requisitos

Por vezes usa-se a expressão procedimento cautelares e outras vezes providencias cautelares, que
não são exatamente a mesma coisa:

 Procedimento – falamos da tramitação, no fundo, da marcha do processo, da forma de


processo
 Providencia – falamos na medida pedida ao tribunal.

Ou seja, através de um procedimento cautelar o autor pede ao tribunal que adote uma
providencia cautelar.

1ª classificação:

 procedimento cautelar comum (artigo 362º e ss. - capítulo I) – a que correspondem as


providencias cautelares comuns que são resultado deste procedimento.
 procedimento cautelar especificado (artigo 377º e ss. – capítulo II) – a que correspondem
as providencias cautelares especificadas que são resultado deste procedimento.

A diferença entre estes dois é a mesma existente entre lei geral e especial.
 Ou seja, os procedimentos cautelares comuns são uma espécie de cláusula geral e aberta
para todas as situações em que exista um risco de inutilidade da sentença da ação
principal. sempre que isso aconteça em termos gerais, o artigo 362º permite que seja
requerida uma providencia adequada a evitar isso.
 Os procedimentos cautelares especificados têm uma lista de várias providencias concretas
que o legislador previu em especial, que são no fundo as mais vulgares. Ou seja, são
situações concretas de perigo para que o legislador previu providencia cautelares
concretas e previu exatamente os pressupostos típicos dessas providencias. Não são muito
diferentes das não especificadas (as comuns), a diferença é que aqui estao concretizados
todos os pressupostos.

No fundo temos um catálogo típico de providencias (as especificadas) e depois temos uma
providencia geral subsidiária (as comuns) – o artigo 362ºnº3 consagra uma regra de
subsidiariedade das providencias cautelares comuns: diz que as providencias comuns apenas se
aplicam quando esteja em causa o acautelar de um risco de lesão que não está especificamente
previsto nas providencias especificadas.
Há tambem uma regra de subsidiariedade entre procedimentos cautelares comuns –porque o
376ºnº1 diz que as disposições do procedimento cautelar comum também são aplicáveis aos
procedimentos cautelares especificados em tudo quanto não se ache especialmente previsto.
No fundo, do 362ºnº3 e do 376ºnº1 resulta uma regra de subsidiariedade entre
providencias e procedimentos.

Se não se cumprirem os requisitos das providencias especificadas eu posso ir pedir uma


providencia cautelar comum?

o Exemplo: para a suspensão de deliberações sociais existe um prazo de 10 dias para


requerer a suspensão dessa deliberação social desde que o socio lesado toma
conhecimento de uma deliberação social que o lesa. Se há um pp de subsidiariedade,
imaginemos que o sócio já está fora de prazo quando vai requerer a suspensão da
deliberação especial, será que podemos então de acordo com esta logica de
subsidiariedade requerer uma providencia cautelar não especificada com o mesmo fim
que a suspensão de deliberações sociais, mas não especificada?
 Claro que não, isso seria defraudar o regime das providencias cautelares
especificadas.
 Ou seja, sempre que estamos perante uma situação concretamente prevista nas
providências cautelares especificadas, não é por não se verificarem em concreto os
requisitos que aí são exigidos que vamos à válvula de escape das providencias cautelares
não especificadas (as comuns).

2ª classificação de providencias: artigo 362ºnº1 – embora esta classificação só esteja prevista


dentro das providencias cautelares comuns (/não especificadas), podemos aplicar esta
classificação às providencias cautelares especificadas.

 Providencias cautelares conservatórias


o No arresto vimos que o tribunal para garantir que a sentença que condena o reu
no pagamento de um credito não se torna inútil, a providencia cautelar vai
permitir a apreensão judicial dos bens do devedor. -- o arresto corresponde à
providência cautelar conservatória, porque este não vai dar ao requerido aquilo
que ele pretende na ação principal vai apenas conservar o estado de coisas
existente para quando chegar a sentença da ação principal eu possa ter a situação
na mesma para puder executar a minha sentença. Agora, o que eu quero em
termos definitivos não é a apreensão judicial dos bens mas o pagamento do meu
credito.

 Providencias cautelares antecipatórias


o Nos alimentos provisórios, pelo contrário, o que a providencia cautelar vai fazer é
impor ao requerido que comece logo (ainda que provisoriamente) a pagar todos
os meses uma quantia ao requerente que no fundo corresponde ao valor devido a
titulo de alimentos ainda que em termos provisórios. – os alimentos provisórios
correspondem à providencia cautelar antecipatória, porque se for comparar o
conteudo da providencia cautelar de alimentos provisórios com o conteudo da
futura sentença de ação principal, não há nenhuma diferença. Os alimentos
provisórios o que fazem é apenas antecipar ainda que provisoriamente a utilidade
que pretendo alcançar com a sentença da ação principal. o que eu quero aqui é
que os alimentos provisórios se convertam em definitivos, mas há uma
manutenção do conteudo que eu pretendo.
o As providencias antecipatórias são mais gravosas porque através delas o tribunal
está logo com base num conhecimento sumário e provisório a satisfazer o direito
do requerendo. Isto pode ser grave porque a medida é meramente provisória. Ao
antecipar o interesse do requerente, a providencia cautelar pode inclusivamente
estar a satisfazer definitivamente o interesse do requerente.
 Exemplo: numa campanha eleitoral, um candidato vê negada a
possibilidade de exercer o seu direito eleitoral através de tempo de antena
numa determinada estação televisiva, se for propor uma ação contra o
canal de televisão até chegar a sentença já teria passado a campanha
eleitoral, e por isso decide requerer uma providencia cautelar para que a
estação de televisão seja obrigada com urgência e imediatamente a
reconhecer o seu direito de antena. – esta providencia é antecipatória e o
que o tribunal está a fazer na prática está a decretar uma medida definitiva
porque esgota o interesse do requerente, portanto o facto de depois vir
uma ação principal é indiferente para este.
 Há tribunais que não decretam a providencia porque dizem que o
que está a ser pedido é uma medida definitiva, e há outros que
concedem, porquê?
o Porque consideram que se o candidato demonstrou o seu
direito de antena, negar-lhe a providencia cautelar é estar
a tutelar o requerido.
o Ou seja, providencia cautelar é um bocadinho como a
medicina de urgência: é preciso uma decisão urgente e o
doente pode morrer se o médico não fizer nada ou entao
as medidas que vai adotar podem não ser as medidas
certas, mas qualquer decisão que tome é uma decisão – é
como umas providencias cautelares, não decretar a
providencia está tambem a proteger o requerido quando
o requerente demonstrou (é preciso uma prova, ainda que
possa ser sumária, mas a prova é sempre necessária) que
tem direito de antena. Se o tribunal se imiscuir a decidir
tambem não está a tutelar um direito que apesar de tudo
é um direito aparente. – é uma decisão dificil e há
jurisprudência nos vários sentidos.
 A professora defende que o tribunal não pode
negar ser decretada a providência: em 1º lugar
porque existe um artigo 362ºnº1 que admite
providencias antecipatórias, e porque o
requerente demonstrou o seu direito e portanto
há uma parte que tem mais razao do que a outra
ainda que sumariamente, e mais vale causar um
prejuízo ao requerido que não demonstrou ter
nenhum direito do que causar um prejuízo ao
requerente que apesar de tudo demonstrou
sumariamente na ação que era titular de um
direito.
 Nem todas as antecipatórias são assim, mas a verdade é que as
providencias cautelares antecipatórias têm maior risco de se converterem
em definitivas e não é o que se pretende com as providencias cautelares.

Pressupostos de decretação da providencia cautelar não especificada (comum): -- isto porque as


especificadas têm pressupostos concretos para a decretação das providencias cautelares
especificadas.

Artigos 362º e ss.:

(1) A aparencia do direito do requerente: resulta do artigo 368ºnº1 – probabilidade séria da


existencia do direito.
o É necessária uma probabilidade séria da existencia do direito – por isso é que se
diz que é uma aparencia do direito, basta uma prova sumária da existencia do
direito.
o Há uma designação latina para identificar este pressuposto: “fumus boni iuris” =
fundo de bom direito – significa esta aparencia de direito.
 A providencia cautelar não é uma coisa automática, tem de haver algo que
justifique ao tribunal restringir a esfera juridica do requerido.
 Porquê só uma aparencia? Porque se não for uma aparencia a providencia
cautelar não pode ser urgente, seria uma ação principal.
 O momento em que numa ação se perde mais tempo é na
produção da prova, por isso, sem este mecanismo que reduz a
produção da prova, não seria possivel uma medida urgente.
 Isto porque sem demonstração do direito o tribunal não pode restringir a
esfera juridica do …. sem uma justificação

(2) Periculum in mora = perigo da demora: resulta do 362ºnº1


o É necessário que exista um risco para o direito, o risco de que na pendência da
ação principal, aquele direito perde utilidade.
o Ou seja, Se a ação principal consegue chegar ao fim e o meu direito ser satisfeito
sem risco nenhum, não se justifica a providencia cautelar. Se peço uma
indemnização ao reu e não há nenhum risco de dissipação da garantia patrimonial,
se a minha situação também é estável patrimonialmente e se na ação peço o valor
da indemnização e juros de mora, não há nenhum periculum in mora que
justifique a decretação de uma providencia cautelar.
o Alias, o artigo 362ºnº1 até determina mais do que o risco da demora. Diz que tem
de ser:
 um risco de lesão grave e dificilmente reparável ao direito – não basta
qualquer risco de lesão, é preciso que seja um risco grave e de dificilmente
reparável.
 Lesão grave:
o lesão que tenha alguma dimensão
 Dificilmente reparável:
o normalmente quando existe um risco de danos não
patrimoniais
 nestes casos é natural que automaticamente se
justifique a decretação de uma providencia
cautelar.
o Mas tambem com certos tipos de danos que não podem
ser reconstituídos in natura, não podem ser suscetíveis de
reconstituição natural.
 Exemplo: risco do credor, se não for satisfeito
aquele montante pecuniário, de ir à falência – isto
pode dar origem a danos patrimoniais mas que
não são reparáveis para o credor.

(3) Adequação – 362ºnº1:


o A providencia cautelar requerida tem de ser adequada a afastar o perigo de lesão.
o Ou seja, não posso descrever uma situação de perigo e depois requerer uma
providencia cautelar que não tenha nada a ver com aquele perigo, a providencia
requerida tem de dar resposta ao perigo de lesão em causa.
 Exemplo: não posso dizer que estou carecido de alimentos e que o réu não
me paga os alimentos devidos, e depois pedir um arresto.

(4) Proporcionalidade – 368ºnº2:


o Este requisito que compara os prejuízos que podem ser causados ao requerido
com a decretação da providência cautelar, com os prejuízos que serão causados ao
requerente se não for decretada a providencia cautelar.
 Esta comparação de prejuízos justifica-se porque estamos perante uma
medida provisória e com base numa mera aparência de direito.
 Numa ação principal, o tribunal quando condena o reu não
pondera os prejuízos que isso lhe vai causar, é irrelevante porque
se o autor tem direito o reu tem de ser condenado
independentemente do prejuízo que isso lhe vai causar.
 Porque é que a proporcionalidade é importante nas providencias
cautelares? Porque o tribunal está a decidir não com base numa certeza,
mas com base numa aparência e por isso têm de ser considerados os
prejuízos causados ao réu.
o O artigo 368ºnº2 não consagra um criterio de proporcionalidade estrita, ou seja,
não são comparáveis em rigor os dois prejuízos, porque o artigo diz: “a
providencia pode ser recusada pelo tribunal quando o prejuízo que dela resulte
para o requerido (o réu) exceda consideravelmente o dano que com ela o
requerente pretende evitar” – ou seja, é uma proporcionalidade um bocadinho
desequilibrada em favor do requerente.
 Porque é que o requerente tem uma situação de ligeira vantagem?
 O legislador optou por uma proporcionalidade desequilibrada em
favor do requerente porque este já demonstrou a aparencia do
seu direito e portanto está numa situação de vantagem, enquanto
o requerido não demonstrou nada.

Estes pressupostos são das providencias cautelares comuns (não especificadas), mas acabam por
estar concretizados em cada uma das providencias cautelares especificadas.

As caracteristicas das providencias cautelares em geral (de todas):

No fundo, todas estas caracteristicas acabam por ser uma consequencia da função das
providencias cautelares.

1. São medidas judiciais


a. A regra é de que as providencias apenas podem ser decretadas por um tribunal.
b. Única exceção: no caso do embargo de obra nova (providencia especificada) que
pode ser decretado extrajudicialmente, mas é necessário que o requerente peça a
ratificação judicial num prazo curto.

2. São medidas dependentes: artigos 364º; 373ºnº1 al a), b)


a. As providencias ou o procedimento cautelar não pode sobreviver sem a ação
principal, são dependentes da ação principal.
b. Regra geral a providencia cautelar é requerida já na pendencia da ação principal,
mas pode ser requerida antes desde que a ação principal seja instaurada num
curto prazo de tempo:
a. Exemplo: ainda estou a preparar a ação, ainda não consegui instaurá-la mas a
situação é tao urgente que peço já os alimentos provisórios.
2) Artigo 373ºnº1 a) – se for requerida antes, a ação principal vai ter de ser proposta no prazo de
30 dias a contar do transito em julgado da providencia cautelar.
3) Artigo 373ºnº1 b) – não apenas o requerente tem de propor a ação principal, como tem de ser
diligente na sua condução, ou seja, não basta propor a ação principal e depois deixá-la parada
em aspetos que dependam da sua iniciativa, é preciso que seja diligente na promoção da ação
principal – não pode deixar o processo parado mais de 30 dias por causa que lhe seja
imputável, se o fizer tambem caduca a providencia que lhe foi concedida.
ii. Assim, há um ónus de propositura da ação principal e um ónus de
diligencia na condução da ação principal.
c. Outras consequências desta dependência, desta ligação entre a ação principal e a
providencia cautelar:
i. A nivel de competencia:
1) A competencia do tribunal para a providencia cautelar é a mesma que será para a ação
principal – 364ºnº3 e 78ºnº1 c). O tribunal competente é o mesmo para as duas.

ii. Artigo 362ºnº4: não é admissível na dependência da mesma causa a


repetição de uma providencia que já tenha sido julgada. É natural que o
que conte para saber se há repetição de providencias seja a pendência ou
dependência da mesma causa – isto não quer dizer que eu autor não
possa pedir vários arrestos, não pode é ser na dependência da mesma
ação contra aquele réu, pode ser na dependência de outras ações.
Portanto, só há caso julgado relativamente à mesma causa.

iii. Artigo 374ºnº1: estabelece a responsabilidade civil do requerente que


tenha requerido uma providencia cautelar e que com isso tenha causado
danos ao requerido quando depois a ação principal foi julgada
improcedente. Embora exige culpa, mas no fundo é uma manifestação de
que as duas ações estao ligadas.

3. São medidas urgentes


a. Significa que as providencias passam à frente de todo o restante serviço judicial.
b. Se forem a um tribunal, há um monte dos processos normais e outros de
processos urgentes (onde se enquadram os procedimentos cautelares e outros
processos urgentes) – o monte dos urgentes é aquele que a secretaria e o tribunal
têm de dar prioridade e que correm em férias judiciais.
c. 363ºnº2 – resulta que há teoricamente um prazo máximo para a decisão das
providencias cautelares:
i. em 1ª instancia devem ser decididas no prazo máximo de 2 meses,
portanto há um prazo limite para serem decididas. Esse prazo limite é de
15 dias no caso em que o requerido não tenha sido ouvido. O que é que
isto significa?
1) Há casos em que o tribunal pode dispensar o contraditório prévio do requerido, isto acontece
nas situações em que a audição prévia do requerido possa pôr em causa a eficacia da
providencia cautelar.
a. Por exemplo: publicação não autorizada de um livro de uma figura pública, em que
a figura pública sabe que no dia a seguir vai ser publicado este livro sobre ela não
autorizado – não adianta ir instaurar uma ação principal porque no dia a seguir o
prejuízo que se pretendeu evitar já está completamente concretizado. Então o que
pode fazer é querer uma providencia cautelar para impedir pelo menos
provisoriamente que o livro seja publicado até que se decida na ação principal
quem tem razão.
i. Neste caso, o natural é que o requerente vá pedir ao tribunal e o
requerido seja ouvido – se for ouvido pode publicar logo enquanto não é
decretada a providencia cautelar, e porque é tao urgente que se o
requerido for ouvido no dia a seguir já não vai a tempo de impedir a
lesão ao direito de requerente.
d. Isto para dizer que, por razões de urgência, há casos em que não há contraditório
do requerido antes da providencia cautelar – resulta do artigo 366ºnº1 CPC.
e. A urgência tambem se manifesta no 363ºnº1: os procedimentos cautelares
passam à frente de qualquer outro serviço judicial não urgente
f. Artigo 138ºnº1 CPC: os prazos de processos urgentes não se suspendem em férias
judiciais
g. Artigo 366ºnº4: não há citação edital nos procedimentos cautelares.
1) Citação edital = citação de créditos, ou seja, quando não se encontra o paradeiro do reu ou do
requerido, a lei permite que a citação se faça editalmente, através da publicação de um
anuncio na porta da ultima morada, do tribunal, ou numa pagina oficial do ministério da
justiça.
ii. No entanto, esta citação edital não existe no procedimento cautelar,
portanto o processo continua sem a citação do requerido – isto é uma
manifestação de urgência porque se fôssemos fazer a citação edital esta é
extremamente demorada e portanto iria demorar em excesso o
procedimento cautelar.
h. Artigo 365ºnº3: a tramitação do procedimento cautelar é muito simples porque
este artigo remete-nos para as regras dos incidentes da instancia.
i. Temos outra manifestação que já vimos – o pressuposto do fumus boni iuris, ser
uma mera aparencia não é exigida a prova efetiva do direito mas a mera aparencia
deste direito.
4. São medidas provisórias
a. Significa que a partir do momento em que seja proferida uma decisão na ação
principal, a providencia cautelar caduca necessariamente – 373ºnº1 d), e): se uma
ação principal for proferida uma sentença de improcedência, portanto, se o reu for
absolvido, não faz sentido que a providencia cautelar não caduque. É uma
consequencia da provisoriedade.
i. O mesmo acontece se a decisão da ação principal não for uma apreciação
de merito, mas for uma decisão processual
b. Assim, por principio, quando existe uma decisão na ação principal a providencia
cautelar caduca – não é só se a decisão da ação principal for improcedente (se o
réu for absolvido), mas mesmo que condene o reu a providencia cautelar tem de
caducar e ser substituída pela medida definitiva.
i. Exemplo: o arresto não se vai manter indefinidamente mesmo que o reu
seja condenado, o que acontece é que se vai converter em penhora e os
bens do devedor vao ser executados. – quer seja a ação principal uma
decisão de procedência ou improcedência a providencia cautelar vai
sempre caducar. A diferença é que quando for uma decisão de
procedência esta dá lugar a uma medida definitiva e se for improcedente
esta simplesmente caduca.

Desde o CPC 2013 foi criada uma figura nova em matéria de providencias cautelares e que veio
alterar um bocadinho o panorama das caracteristicas das providencias cautelares – este instituto
novo é a inversão do contencioso (artigos 369º- 371º CPC):

 Permitiu que fossem decretadas providencias cautelares que deixaram de ser dependentes
e provisórias em certas circunstancias.
 O legislador apercebeu-se que muitas vezes a providencia cautelar e a ação principal eram
uma duplicação da outra.
o Ou seja, a providencia cautelar era decretada o tribunal analisava aqueles meios
de prova e depois na ação principal o requerente vinha apresentar uma ação
idêntica com os mesmos meios de prova e o tribunal julgava a ação procedente –
havia uma duplicação desnecessária. E muitas vezes até, o proprio procedimento
cautelar apesar de ser suficiente numa mera aparencia do direito o que acontecia
era que o tribunal acabava por chegar à mesma conclusao na ação principal, os
meios de prova eram os mesmos.
 Este instituto prevê que se o requerente quiser pode pedir ao tribunal que inverta o
contencioso = pedir ao tribunal que o dispense do ónus de propor a ação principal e que
onere o requerido/transfira ao requerido o ónus de propor a ação principal sob pena da
providencia se transformar em definitiva. – ou seja, a regra geral é a de que se o
requerente da providencia não instaurar a ação principal, a providencia cautelar caduca. Se
o tribunal inverter o contencioso a consequencia é que vai ser o requerido a ter de propor
a ação principal sob pena da providencia cautelar permanecer definitiva.
o Há aqui os dois lados do espelho – passa a ser o requerido a ficar onerado da
propositura da ação principal ou a providencia converte-se em definitiva.
 O objetivo é o requerente ter interesse em que o tribunal o desonre a ele do ónus de
propor a ação principal e o transfira para o requerido e se este não o propor a providencia
mantem-se definitiva
 Exemplo: os alimentos provisórios – o requerente dos elementos provisórios pede para
alem do tribunal decretar a providencia que este inverta o contencioso. O que é que isto
significa? Se não houvesse esta inversão o beneficiário dos alimentos provisórios vai ter de
instaurar em 30 dias uma ação de alimentos definitivos sob pena de se não o fizer
caducam os alimentos provisórios e deixa de beneficiar deles. Se o tribunal inverter o
contencioso o que acontece é que passa a ser o requerido (que tem de pagar os alimentos
provisórios), se não quiser que os alimentos se tornem definitivos, a propor uma ação
principal em que impugna o direito do requerente aos alimentos provisórios.
 O tribunal só vai fazer isto se se verificarem certos pressupostos:
o Que o requerente tenha feito uma prova efetiva do seu direito – já não basta o
fumus boni iuris, é preciso uma prova efetiva do direito. Não faria sentido que a
providencia se pudesse transformar em definitiva com base numa aparencia do
direito, isto sim seria uma violação do direito a uma tutela jurisdicional efetiva
relativamente à outra parte. – o tribunal tem de ficar convencido que a ação
principal já não vai trazer nada de novo que já tem conhecimento de tudo o que é
necessário.
o Que seja uma ação antecipatória – só faz sentido a inversão do contencioso numa
providencia cautelar antecipatória, porque se a providencia se pode transformar
em definitiva só faz sentido que isso aconteça se tiver o mesmo conteudo da ação
principal porque se não nenhum credor vai querer que o arresto se transforme em
definitivo, apenas pretende que se transforme em definitivo uma providencia que
satisfaça antecipadamente o seu direito.
 A inversão do contencioso é uma exceção à provisoriedade e à dependência – acaba por
admitir providencias cautelares que vao ser definitivas e que deixam de ser dependentes
de uma ação principal.

Providencias cautelares especificadas que o código prevê:

 Temos:
o No CPC nos artigos 377º e ss.
o Há outras em legislação avulsa, por exemplo:
 O diploma do arrendamento
 Regime das clausulas contratuais gerais

As determinadas no CPC:
o Restituição provisória da posse – artigo 377º:
 Sempre que alguem se veja privado da sua posse atraves de um esbulho
violento temos uma providencia cautelar especificada.
 Se o esbulho é não violento também é possível prever uma providencia
cautelar, mas tem de ser não especificada.
 Qual é a especificidade da restituição provisória da posse?
 Esta é ordenada sem audiencia previa do esbulhador – é
obrigatório, a lei diz que o esbulhador não é citado, não depende
de uma analise em concreto de saber se a audiência pode ou não
pôr em causa a eficácia da providencia.
o Nunca existe audição do requerido.
 Há quem diga até que não é uma providência cautelar porque não é
propriamente preventiva do risco da lesão. Neste caso a providência
cautelar atua quando já houve lesão e por isso se diz que é mais uma
sanção contra o esbulhador do que uma providencia cautelar preventiva
da lesão.

o Suspensão das deliberações sociais – artigos 380º e ss.


 Está prevista para os casos em que uma associação ou sociedade toma
uma deliberação contrária à lei, qualquer sócio pode requerer que a
execução dessa deliberação seja suspensa.
 Exemplo: uma deliberação social que nomeia um novo
administrador e que um dos sócios considera que esta nomeação
foi invalida, pode pedir que fique suspensa, que não inicie as suas
funções neste caso, enquanto se decide se esta é válida ou não.

o Alimentos provisórios: artigos 384º e ss.


 A dependência de uma ação de alimentos definitivos.
 Temos um regime especial dentro dos alimentos provisórios que está nos
artigos 387º onde se prevê que só há responsabilidade civil do requerente
se estiver de má-fé, ao contrário do que acontece no regime geral da
responsabilidade civil do requerente em que se admite quer o dolo quer a
simples negligencia – é um requisito especial. Porque é que este existe?
 Porque os alimentos dão resposta a uma situação especial de
necessidade e portanto entende-se que este regime de
responsabilidade civil não seja inibidor do requerimento dos
alimentos provisórios.

o Arbitramento de reparação provisória: artigos 388º e ss.


 Aqui, em vez de ter de esperar pelo pagamento definitivo da indemnização
pode pedir uma renda mensal que depois seja descontada nessa
indemnização.

o Arresto:
 Prevê-se tambem obrigatoriamente a não audição do requerido

o Embargo de obra nova:


 Para aqueles casos em que sinta que uma obra está a lesar o meu direito
de propriedade ou outro direito real.
 Posso inclusive notificar o requerido extrajudicialmente perante duas
testemunhas que a obra está embargado tendo depois 5 dias para pedir a
ratificação judicial desse embargo.

o Arrolamento:
 É uma descrição de bens que serve sobretudo para casos, por exemplo,
numa ação de divórcio em que um dos cônjuges receia que o que ficou na
casa de morada de família possa ocultar certos bens e para isso quer a
descrição de todos os bens que ficaram na casa – para evitar a ocultação
ou dissipação dos bens.
AULA 25/09/2023

Relativamente ao documento que a professora vai pôr no moodle:

Principal critica do regime processual civil experimental, em que as partes pediam uma
providência cautelar, e o tribunal decidia logo definitivamente:

A parte que seria mais prejudicada neste contexto seria o réu da providência cautelar, que poderia
vir dizer que não levou todas as provas que tinha - porque é que pode não ter levado todas as
provas? porque o procedimento cautelar é uma ação sumária. O requerido não estava a contar
com um ónus da sucumbência tão pesado, ou seja, achou que na pior das hipóteses iria ser
condenado provisoriamente e não definitivamente e quanto a isto não se pôde opor.

há aqui também uma certa violação do dispositivo – o autor pede uma providência cautelar e o
tribunal decide uma coisa diferente daquela que este pediu, a sentença da ação principal não é a
mesma coisa que uma decisão de uma providencia cautelar.

As críticas portanto eram estas: isto é demasiado grave, pode surpreender demasiado as partes e
por isso é que o nosso legislador acabou por escolher uma opção “menos radical” uma vez que o
requerido ainda tem alguma hipótese.

Continuação do procedimento cautelar:

Há uma ligação incindível entre o procedimento cautelar e a ação principal: o procedimento


cautelar é dependente da ação principal, mas a ação principal em nada depende do procedimento
cautelar. Ou seja, o juiz da ação principal não está vinculado a nada que tenha sido decidido no
procedimento cautelar mesmo que estejam ligados em termos profissionais – resulta do artigo
364ºnº4 do regime do procedimento cautelar que diz: “nem o julgamento da matéria de facto,
nem a decisão final proferida do procedimento cautelar têm qualquer influencia no julgamento na
ação principal”.

O juiz é o mesmo, o tribunal competente para julgar um é o mesmo para julgar outro, e mesmo
assim, o juiz da ação principal pode reverter totalmente a sua decisão. Pode decretar o arresto e
depois na ação principal não condenar. Porquê? A produção da prova na ação principal pode ser
muito mais extensa, o arresto nem tem audição da parte contrário e, portanto, o tribunal decide
com base naquilo que tinha no momento, e com base naquilo que tinha a decisão foi correta – não
é por o tribunal na ação principal decidir de forma diferente que se pode daí concluir que a decisão
do procedimento cautelar foi mal tomada. Não, com base nos elementos que o tribunal tinha
disponíveis, tomou a decisão.

Por isto é que existe nas providencias um regime de responsabilidade civil do requerente, porque
este é obrigado a atuar com verdade e se não o fizer (artigo 374ºnº1) responde pelos danos
culposamente causados.

 Ex: vem se a descobrir que o requerente propositadamente no procedimento cautelar


escondeu meios de prova para evitar que o tribunal decidisse de forma diferente – pode-se
considerar que houve aqui culpa suscetivel de responsabilizar este quando depois a
providencia cautelar for revogada pela ação principal.
o O pedido de responsabilidade civil é um pedido de condenação: não há nenhuma
alteração na ordem jurídica, só decide que há um direito violado e condena o reu a
reintegrar esse direito, não é constitutivo.

O regime das providencias cautelares é um regime feito de equilíbrios, porque a decisão do


tribunal é tomada com base no conhecimento sumário, superficial, e, por isso, se o legislador
permite esta decisão superficial entao tem de dar as devidas contrapartidas. Seria impensável que
a lei permitisse com base num conhecimento superficial que o tribunal pudesse tomar uma
decisão definitiva – seria inconstitucional.

FORMAS DE PROCESSO
(ponto 1 do programa: processos especiais e processo comum; o procedimento especial
destinado a obter o cumprimento de obrigações pecuniárias decorrentes de contrato)

Os tipos de ação são determinados em função da providencia que é pedida pelo autor – em função
daquilo que o autor pede ao tribunal eu vou qualificar aquela ação.

A forma de processo é outra coisa – no fundo são modelos de tramitação processuais que dão
resposta a um determinado pedido das partes para a resolução do litigio:

 Numa ação declarativa tem de haver certas fases que são imperativas para a resolução de
um litigio, neste caso são 3 momentos imperativos: as partes formularem os seus pontos
de vista, um momento de prova e de decisão – é o modelo de tramitação mais simples,
sem estes 3 não há nenhuma forma processual. No entanto, podemos acrescentar muitos
elementos diferentes.

Podem-se acrescentar mais ou menos fases: podem ter mais momentos para as partes se
prenunciarem, que antes da produção da prova haja uma reuniao, etc. – Há vários modelos de
marcha do processo possiveis, ou seja, há varias formas processuais possiveis em abstrato que
podem ser criadas e que o tribunal pode decidir.

O que é que isso tem a ver com os tipos de ação? Pode se cruzar nuns aspetos – quando
distinguimos os tipos de ação e verificamos que cada um destes tem um fim diferente que o autor
pretende alcançar (entre ação declarativa e executiva), claro que marcha do processo não pode ser
igual: uma coisa é a decisão sobre a solução do litigio e outra é penhorar os bens, vender os bens e
dar o valor ao credor – a distinção destes dois tipos de ação vai se refletir em duas formas
processuais diferentes: forma de processo declarativa e forma de processo executiva.

Assim, quando falamos em declarativa e executiva podemos estar a falar dos tipos de ações ou em
forma de processo.
Nos casos de tipos de ação declarativa, não tem de se refletir necessariamente uma marcha
processual diferente porque o que se pretende é que o tribunal diga qual é a solução para o litigio
e portanto aí a forma de processo já não dependerá de saber qual é a providencia pedida. – para
efeitos de tramitação não é diferente (pode haver diferenças na legitimidade das partes,
competencia, etc)

Matéria está regulada nos artigos 546º e ss.:

 temos as disposições gerais (546º e 547º)


 processo de declaração (548º e 549º) + 552º e ss.
 processo de execução (550º e 551º) + 703º e ss.

Artigo 546º: o processo pode ser comum ou especiais:

 Especiais – para a forma de processo declarativa e executiva --- folhear as formas de


processo especiais
o aplica-se aos casos expressamente designados na lei (CPC e em legislação avulsa)
 CPC – 878º e ss.
 Legislação avulsa – DL 269/98 de 1 de setembro
o Porque é que existem processos especiais?
 Porque o legislador concluiu que existiam objetos processuais que
requeriam formas de tramitações diferentes, o que está subjacente
àquelas formas de processo foi a não adequação de um processo comum a
esse tipo de objeto.
 Exemplo 1: divorcio litigioso
 Exemplo 2: decretação de acompanhamento de maior
o Uma vez que se trata de temas de tanta sensibilidade em que se justifica a criação
de mais fases, concluiu-se que fazia sentido que a tramitação do negócio fosse
tratada através de uma marcha do processo adequada ao seu objeto.
o Em todas as formas de processo especiais aquilo que esteve subjacente à criação
dessa forma de processo foi a não adequação do processo comum a esse tipo de
objetos.
o Tudo o resto são formas de processo comum
o São mais simples porquê?
 Porque há uma regra que é a da aplicação subsidiária do regime do
processo declarativo comum às formas de processo declarativas especiais
– consagradas no artigo 549º. Há uma regra de que tudo o que não esteja
previsto no procedimento especial aplica-se as regras do procedimento
comum
o Há algumas formas de processo especiais, quer por serem as mais usadas ou por
terem algumas especificidades mais relevantes vamos olhar com mais detalhe:
 Ação especial para tutela da personalidade – artigos 878º a 880º (+
professora vai disponibilizar no moodle um artigo sobre esta forma de
processo especial que aconselha a ler para as aulas práticas porque vai
ajudar na resolução de casos práticos)
 Ação declarativa especial para o credor exigir o cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de contrato de valor não superior a
15 mil euros (não está no CPC, no DL 269/98, de 1 Setembro)
 Este DL tem como critério suplementar o valor especifico
 Categoria de processos especiais: processos especiais de jurisdição
voluntária – 986º e ss.
 São um conjunto de processos especiais a que se deu esta
designação porque têm principios comuns e são um bocadinho
diferentes dos outros. Tem as disposições gerais e depois os vários
capítulos dos vários processos de jurisdição voluntária.
 Estas ações especiais todas podem agrupar-se nesta categoria de
processos especiais, que estao sujeitos a pp comuns.
 Os processos de jurisdição voluntária podem se confrontar com
todos os outros processos especiais que se pode dizer que são os
de jurisdição contenciosa. Qual é a diferença?
o Ao contrario do que é regra no exercício da função
jurisdicional em que o tribunal é chamado a resolver um
conflito e a dizer quem tem razão (por isso chamam-se os
processos de jurisdição contenciosa, há um litigio), o que
há de comum aos processos de jurisdição voluntária é que
não há propriamente um litigio, mas uma determinada
situação em que o tribunal é chamado, não
necessariamente para resolver um litigio, mas para prover
a uma situação cujo interesse é superior às partes
 Ex 1: divorcio por mutuo consentimento –
pressupõe que as partes chegaram a um acordo e
apresentam este acordo ao tribunal. O que o
tribunal vai fazer é analisar os acordos para ver se
interesses fundamentais (como é o caso dos filhos
menores) estao salvaguardados, ou se há um
desiquilibrio flagrante em favor de algum dos
cônjuges. Assim, o tribunal vai homologar esses
acordos fazendo esta analise de principios
fundamentais.
 Ex 2: providencias relativas a menores —não vai
dizer quem tem razão, vai tentar prover a um
interesse maior e identificar qual é o superior
interesse do menor. O objetivo do tribunal não é
dizer qual é a parte que tem razao, mas fixar qual
é o regime que vai vigorar em função do interesse
do menor.
 Ex 3: ação especial de curadoria provisoria dos
bens do ausente – alguem que desaparece e é
preciso prover aos seus bens e pede-se ao tribunal
que o faça. Não há propriamente a resolução de
um litigio, mas o estabelecimento de soluções em
função do interesse maior que deve ser o
interesse do ausente
 Pede-se um apelo ao bom senso, equidade e justiça do caso
concreto.
 Portanto, nestes processos pode-se estar a pedir ao tribunal que
adote uma certa medida, que integre certos atos dos particulares,
que ateste a regularidade da prática de certos atos, mas não é a
resolução de um litigio. – por isso até se diz que nestes processos
o juiz está mais a exercer uma função administrativa do que
jurisdicional, não é tanto típico da função jurisdicional em que o
objetivo é a resolução de um litigio.
 Apenas se consideram processos de jurisdição voluntária os que
estao aí na lista dos artigos 989º e ss. – é uma lista taxativa a que
se aplicam estes princípios especiais.
o Portanto, não é por eu achar que há outro processo
especial em que se calhar o que está ali em causa não é
bem a resolução de um litigio que posso considerá-lo ad
hoc um processo de jurisdição voluntária e aplicar estes
principios.
o Considera-se que se o legislador não previu o tribunal não
pode fazê-lo. Embora o principio da adequação formal
permite muita coisa: o tribunal pode introduzir algumas
atenuantes no processo de jurisdição contenciosa
inspirando-se nestes de jurisdição voluntária, não violando
os princípios imperativos (não pode, por exemplo, aplicar
o principio que existe na jurisdição voluntária que
determina que não é o direito estrito que se aplica mas a
equidade, o tribunal não pode aplicar isto para os
processos de jurisdição contenciosa). Assim, há principios
imperativos que nem o principio da adequação formal
permite afastar.
 Quais são estes princípios aplicáveis a este conjunto de processos
de jurisdição voluntária (apenas no que diferem da jurisdição
contenciosa):
o Estao nos artigos 986º a 988º:
 (1) Prevalência quase absoluta do principio do
inquisitório
 Ao contrário do que é a norma nos outros
processos, nos de jurisdição voluntária o
tribunal tem muito mais poderes. Quais
são estes poderes?
o Sobretudo relativamente aos
factos e à prova – mas
relativamente à prova já tinhamos
concluído que isso é a regra geral
em matérias de processo
“normais”. Assim, esta regra tb
vale para os processos de
jurisdição voluntária, está
disposto no artigo 986º.
o A novidade é que o artigo 986º/2
preve que o tribunal pode
investigar livremente os factos –
quanto aos processos de
jurisdição não voluntária vimos
que a regra era que o tribunal tem
de ater-se aos factos alegados
pelas partes, salvo algumas
exceções pontuais a regra não é
que o tribunal pode por sua livre
iniciativa ir procurar os factos,
pode apenas é ir recolher prova
mas quanto aos factos que as
partes tenham trazido.
 Na jurisdição voluntária é
mais que isso, o tribunal
pode vir trazer ao
processo factos que as
partes não alegaram. Ex:
se o tribunal ao falar com
um menor se apercebe de
factos que as partes não
alegaram, pode
considerar esses factos
oficiosamente para vir
estabelecer uma solução
diferente daquela que as
partes tinham pedido. – o
juiz tem mais poder,
porque o interesse que
está em causa não é
estritamente das partes,
mas de um terceiro que
nem sequer é parte e, por
isso, a busca da verdade
material faz ainda mais
sentido. Há um interesse
maior que justifica os
poderes acrescidos
conferidos ao juiz

 (2) O critério de decisão do tribunal é um criterio


de conveniência ou oportunidade – artigo 987º
 No fundo, é um critério de
discricionariedade – isto não significa
liberdade total ou arbítrio, o tribunal está
vinculado a certos pressupostos objetivos
que tem de observar (processuais que são
necessários para a ação, que o filho seja
de ambos, etc). Fora as regras que o
tribunal tem de respeitar, a concretização
do que seja o interesse do menor só no
caso concreto é possivel aferir porque a
mesma solução que faz sentido num caso,
pode não fazer sentido noutro – saber
decidir com quem o menor fica a viver
pode viver em função da escola, amigos,
etc, coisas que não estão na lei, não há
critérios de legalidade em que o juiz chega
à lei e aplica-a como numa norma de
responsabilidade civil. Portanto, o
necessário é que o juiz perante o caso
concreto seja sensível e decida segundo
critérios de oportunidade.
 Isto é o oposto nos processos de
jurisdição contenciosa, em que o tribunal
está obrigado a aplicar a lei – artigo
607ºnº3
 (3) as decisões sobre processos de jurisdição
voluntária não têm força de caso julgado, podem
ser sempre alteradas em função de alterações
supervenientes das circunstâncias - 988ºnº1
 A regra em todas as ações é que as
decisões em regra são suscetíveis de
recurso e a partir do momento em que a
ultima instancia corre da decisão, aquela
decisão é definitiva, transita em julgado e
não há forma de alterar essa decisão por
uma razao de segurança juridica.
 No entanto, no caso das sentenças da
jurisdição voluntária, por exemplo o
provimento da solução para o filho menor,
pode esta sentença ser alteradas se as
circunstancias se alterarem, por exemplo:
se o menor mudar de escola, se um dos
pais que comparticipava mais da despesa
do menor fica desempregado – a decisão
nunca é estática, evolui e altera-se em
função da alteração das circunstancias
para permitir dar uma melhor resposta
aos interesses que estao em jogo.
 O Artigo 988ºnº2 determina que das soluções proferidas segundo
criterios de conveniência ou oportunidade, não é admissível
recurso para o supremo tribunal de justiça – não há recurso para o
supremo destas decisões tomadas pelo tribunal na jurisdição
voluntária de acordo com critérios de oportunidade. Porquê?
o Há 2 instancias de recurso nos tribunais:
 Temos os tribunais de 1ª instância, os tribunais da
relação e o Supremo Tribunal de Justiça
 As 2 primeiras instâncias conhecem de
matéria de facto e de direito, ou seja,
conhecem da prova dos factos.
o Se a parte que perdeu na 1ª
instancia acha que ficou provado
um facto que não devia, recorre à
Relação.
 No entanto, o recurso para o Supremo é
apenas um recurso de matéria de direito,
ou seja, o Supremo dá como assente os
factos que já foram fixados pela Relação e,
portanto, a única coisa que posso pedir ao
Supremo é que altere a aplicação do
direito àqueles factos – é uma instância
apenas juridica.
o Ora, se é uma instância apenas
juridica e se o tribunal nos
processos de jurisdição voluntária
não aplica o direito estrito, não
faz sentido que o tribunal vá
conhecer ou controlar os criterios
de conveniência ou de
oportunidade, porque não são
critérios legais. Isto não quer dizer
que não possa controlar
pressupostos vinculados
(pressupostos processuais,
pressupostos do menor ser filho
das partes, etc), mas a decisão de
conveniência ou de oportunidade
não vai controlar, a não ser que
haja com grande evidencia a
violação de principios como a
proporcionalidade, adequação,
etc – mas isto é uma vertente de
alguma forma juridica, por regra
não há recurso para o Supremo.

 Comum – vamos tratar apenas da declarativa


o aplicável a todos os casos a que não corresponda processo especial.
o Relativamente ao processo de declaração: o Artigo 548º determina que este
processo comum segue forma única – ou seja, só existe uma forma de processo
comum declarativa.
 Isto não foi sempre assim, só a partir de 2013 é que é assim.
 Antes de 2013, o legislador fazia a distinção entre processos de
valores diferentes: ordinária, sumária e sumaríssima (da mais
complexa para a mais simples possível: a ordinária era a mais
complexa, tinha mais atos, prazos maiores, possibilidade das
partes apresentarem o número de testemunhas era maior, dava
mais garantias). Como é que sabíamos qual adotar? Era
relativamente ao valor da ação: acima se 30 mil euros seguiam a
forma de processo ordinária, acima de 5 mil euros sumária e
abaixo de 5 mil euros sumaríssima. – havia uma presunção
associando que processos de valor mais elevado são mais
complexos e portanto justificam uma tramitação mais completa.
 Só foi possível passar para uma única forma de processo declarativa por
causa do artigo 547º que determina o principio da adequação formal:
 Atualmente o tribunal tem um papel importante ativo na
adequação das formas processuais. No fundo, as nossas formas de
processo são uma mistura entre a lei e a decisão do juiz.
 Temos um ponto de partida, uma marcha de processo, mas é
apenas um ponto de partida para o juiz, claro que os pp o juiz tem
de cumprir, mas se o juiz decidir que quer ouvir as testemunhas no
final em vez de agora, se o justificar, pode fazê-lo.
 Assim, o nosso processo hoje é um equilibrio: temos um modelo
base e a importancia de o tribunal introduzir alterações a este
modelo adequando ao caso concreto. Isto permite que se o
tribunal vir que a forma é demasiado complexa, simplificar e vice-
versa.
 A própria lei quando cria um modelo base, cria ao mesmo tempo
umas válvulas de escape. Isto quer dizer que há casos em que é a
própria tramitação processual que prevê possibilidades em aberto
da ação ser maior, ter um valor maior que outras
o Exemplo: o artigo 511º trata do limite do numero de
testemunhas – se temos apenas uma forma de processo
declarativa em pp devia ser o mesmo numero de
testemunhas admissível em todas as marchas de processo
declarativas, mas o artigo 511º diz que a regra é de que os
autores não podem oferecer mais de 10 testemunhas para
prova dos fundamentos da ação e, na 2ª parte diz que nas
ações de valor não superior a x o limite do numero de
testemunhas é reduzido para metade: a própria
tramitação legal processual cria distinções – é uma forma
única mas o legislador permite estas distinções.
 Assim, o 511º é um exemplo de uma válvula de
escape
 Este principio permite atenuar a rigidez da existência de apenas
uma forma única.

 Alguns pontos sobre o processo comum executivo:


o Dentro do processo executivo, o processo executivo comum não tem forma única,
ao contrario do declarativo: artigo 550º nº1 e nº4, temos várias formas.
 Estas distingue-se em função do titulo executivo que lhe serve de base à
ação. O titulo de executivo é aquele que permite instaurar a ação
executiva, não são apenas as sentenças judiciais que são títulos executivos,
há outros documentos. A tramitação da ação executiva é uma
consequencia destes diferentes títulos executivos, porquê? Se vou
executar uma sentença judicial faz sentido que a forma de processo
executiva seja mais simples, porque é um titulo executivo muito mais
forte, já houve todo um processo declarativo anterior, não se justifica que
o tribunal esteja outra vez a ouvir a ouvir partes, etc, enquanto se o titulo
executivo é um titulo de crédito a parte ainda não teve oportunidade de
vir dizer uma série de coisas. Por isso é que dentro do processo de
execução existem ainda várias formas de execução.
 Assim, temos:
 Forma de execução para pagamento de quantia certa
o Forma ordinária
o Forma sumária
 Forma de execução para prestação de facto
AULA 28/09/2023

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 1: noção, função e regime geral)

Os Pressupostos são condições que têm de estar verificadas para que o tribunal conheça do
mérito da causa (mérito significa que conheça da questão substantiva que é trazida a juizo).
Portanto, é necessário que se verifiquem certas condições sob pena do tribunal não puder decidir
a causa. – Logo, Não é pelo simples facto de alguém levar um conflito a juizo que o tribunal está
automaticamente obrigado a julgar a causa.

Dentro dos pressupostos processuais temos vários tipos de pressupostos:

 Os relativos as partes – capacidade judiciaria; legitimidade


 Os relativos ao tribunal – da competencia;
 Os relativos ao objeto do processo – tem de existir uma certa relação entre o objeto e as
partes (o pressuposto da legitimidade também diz respeito ao objeto do processo)

Estes pressupostos são cumulativos, basta que falte um para que o tribunal não possa reconhecer
do mérito da causa.

Os pressupostos não se confundem com algumas figuras afins nomeadamente:

1. Condições de procedência da ação – são o mesmo que os pressupostos processuais mas


aplicados ao julgamento do litigio, à relação controvertida
i. por ex: se instauro uma ação para anular um determinado contrato com
fundamento em erro sob o objeto, é necessário que o tribunal fique
convencido que houve erro - portanto os pressupostos do erro precisam
de se verificar para que o tribunal fique convencido, estes são as condições
de procedência da ação.
ii. Exemplo 2: se instauro uma ação de responsabilidade civil contra o réu, as
condições de procedência de ação são a demonstração da existencia de
um ilicito, dano, nexo de causalidade, dolo, culpa.
b. Estas dizem respeito à relação jurídica material, enquanto os pressupostos
processuais são prévios a isso porque dizem respeito à relação jurídica processual.

2. Questões prejudiciais – apesar dos pressupostos processuais serem no fundo condições


previas que podem prejudicar o conhecimento do merito da causa, quando falamos das
questoes prejudiciais estamos a falar de questoes que surgem no ambito do merito da
causa e das quais depende o conhecimento de outra questão de merito – é como se
tivéssemos 2 questoes de mérito e uma delas está dependente da decisão prévia da outra,
essa será a questao prejudicial, ou a questao prévia.
a. Exemplo: numa ação o autor pede ao tribunal que anule o casamento que
celebrou com o réu e para além disso dissolva o casamento através de divórcio.
i. Claro que uma destas questões é prejudicial relativamente à outra porque
não faz sentido que o tribunal decida a dissolução do casamento se
previamente não foi verificado se o casamento era válido.
1. Logo, a dissolução do casamento é uma questão prejudicial
relativamente à dissolução do casamento através do divórcio.
Quando falamos em questoes prejudiciais falamos de questoes de
merito e não processuais

3. Pressupostos de determinados atos do processo – quando falamos em pressupostos


processuais falamos em pressupostos da ação em geral/do conhecimento do mérito da
causa, quando falo da necessidade das partes terem advogado é um exemplo de um
pressuposto processual. Mas por vezes há atos que são passiveis de serem praticados na
ação e que tambem têm certos pressupostos para aquele ato,
a. por exemplo: na contestação o reu pode defender-se mas tambem formular
pedidos autónomos contra o autor, os chamados pedidos reconvencionais. Apesar
de ser possivel ao réu formular este pedido, a possibilidade de os formular
depende de uma serie de requisitos, ou seja o legislador não permitiu sem mais e
livremente que o réu formulasse um pedido contra o autor, é preciso que haja
alguma relação entre o pedido do autor e o pedido do reu porque se não isso iria
prejudicar a economia processual daquela ação permitindo que algo que não tem
nada a ver com aquela ação seja formulado naquele processo – assim, um dos
requisitos da possibilidade de formular o pedido convencional é a necessidade de
haver uma certa relação entre os dois pedidos que está taxativamente prevista no
artigo 266º CPC.
b. Isto não são pressupostos do processo, são pressupostos apenas daquele ato
processual em concreto e que portanto distinguem-se dos pressupostos
processuais que são transversais a todo o processo.

Qual é o regime geral destes pressupostos processuais?

Os pressupostos processuais são requisitos essenciais para que o tribunal conheça do mérito da
causa. A primeira pergunta que vou responder no âmbito deste regime geral é:

1 - Qual é a consequência da falta de verificação de um desses pressupostos processuais?

Se o tribunal se apercebe que uma das partes não tem personalidade judiciária, por exemplo, o
autor propõe uma ação contra uma mesa, a mesa não tem personalidade judiciária e portanto não
pode ser parte em juizo, e portanto o que é que o tribunal faz?

 Não pode conhecer do mérito da causa, mas isso não é uma decisão é o conceito. Na
prática qual é a decisão que o tribunal vai tomar uma vez que não pode tomar uma
decisão quanto ao litigio?
o Regra: A consequencia da falta de um pressuposto processual é uma decisão de
absolvição do réu da instância processual, não do pedido.
 Quando falamos em absolvição ou condenação do pedido estamos a falar
da questao de mérito, mas é uma absolvição apenas da instancia
processual: o tribunal diz que o réu não pode ser julgado e por isso
absolve-o da instância, portanto esta absolvição não julga do direito (não
se diz quem é que tem razão).

o Exceção para um certo tipo de incompetência: Há outra consequencia possível


mas que se verifica apenas no caso de um pressuposto processual, que é a
remessa do processo para o tribunal competente: só acontece quando o
pressuposto processual em falta seja de incompetência do tribunal e não é para
todos os tipos de incompetência, os casos mais graves de incompetência dão
origem à absolvição da instância, apenas os casos menos graves é que dão origem
à remessa do processo para o tribunal competente.

Então e onde é que estas consequencias estao previstas no código? Está no artigo 576ºnº2, mas
para perceber isto é preciso explicar as exceções dilatórias

O legislador quando define o conteúdo possível da contestação diz que na contestação o réu se
pode defender por impugnação ou por exceção – isto está previsto no artigo 571ºnº2:

 Defende-se por impugnação quando apenas contradiz os factos alegados pelo autor
 Defende-se por exceção quando vem acrescentar factos novos em relação ao que o autor
diz.
o 576º continua a distinção dos tipos de exceções: distingue entre dilatórias ou
perentórias.
 Dentro dos factos novos invocados pelo réu estes pode podem ser
relativos:
 ao mérito da causa, por exemplo dizendo “eu já paguei o preço
que o autor está a pedir”
o Quando as exceções (os factos novos) são relativas ao
mérito da causa designam-se de exceções perentórias.
o Qual é a consequência da existência de uma exceção
perentória?
 artigo 576ºnº3 - as exceções perentórias
importam a absolvição do pedido porque dizem
respeito ao mérito da causa.

 à relação processual, dizendo por exemplo “o tribunal é


incompetente; o autor é parte ilegítima, não tem interesse em agir
etc”
o Quando são relativos à questao processual designam-se
de exceções dilatórias: são o reverso da medalha da falta
de um pressuposto processual. Portanto, sempre que falte
um pressuposto processual existe no processo, invocado
pelo réu ou conhecido oficiosamente pelo tribunal, uma
exceção dilatória.
 São factos novos de consequencia processual.

Entao, qual é a consequencia da existencia de uma exceção dilatória? = que é o mesmo que
perguntar qual é a consequência da falta de um pressuposto processual? --- resposta à nossa
pergunta:

 O artigo 576ºnº2 determina que as exceções dilatórias obstam que o tribunal conheça do
mérito da causa e dão lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outra
tribunal.
o O 577º tem uma lista das exceções dilatórias, que é o reverso da falta de
pressupostos processuais: incompetência, falta de capacidade judiciária, entre
outras (nem todas são pressupostos processuais).

Quando falamos em pressupostos processuais ou exceções dilatórias estamos a falar do mesmo,


apenas em perspetivas diferentes:

 Exceções dilatórias existem sempre que faltam pressupostos processuais


 Pressupostos processuais estao presentes sempre que não exista uma exceção dilatória

2 - Os pressupostos processuais são de conhecimento oficioso?

Os pressupostos processuais são por regra de conhecimento oficioso, resulta expressamente dos
artigos: 278ºnº2 (se o tribunal pode sanar os pressupostos oficiosamente então também tem de
poder conhecer deles oficiosamente), 6ºnº2 (relativamente ao princípio da gestão processual),
578º (determina-o expressamente):

 Resulta destes artigos que o tribunal deve conhecer oficiosamente a falta de pressupostos
processual + deve tentar sanar oficiosamente a falta desse pressuposto, a não ser que o
pressuposto processual não seja sanável
 A regra é que a falta de pressuposto processual é sanável.
o Nem todas as exceções dilatórias são sanáveis:
 a falta de patrocínio judiciário, quando uma das partes é menor – são
exceções dilatórias sanáveis
 a personalidade judiciária – não é uma exceção dilatória sanável, porque
neste caso isso implicaria substituir as partes e o pp do dispositivo implica
que o objeto do processo e as partes na ação tenha de ser identificado
pelo autor e como a única solução seria substituir a parte sem
personalidade isso seria praticamente dar ao tribunal o poder de propor a
ação.
3 - Qual é a eficácia/força do caso julgado das decisões sobre os pressupostos processuais?
Ou seja:

 Quando o tribunal absolve o reu da instancia com fundamento na falta de um pressuposto


processual, essa decisão transita em julgado?
 Essa decisão vincula quaisquer outros tribunais onde essa mesma ação venha a ser
instaurada?

Quanto às decisões de mérito: As sentenças sobre decisões de merito adquirem, uma vez
transitadas em julgado, uma força probatória especial que significa (do 619º) que a decisão que
venha a ser tomada tem força obrigatória fora do processo. Ou seja, não é possivel instaurar outra
ação igual àquela e que outro tribunal venha a tomar uma decisão diferente porque esta transitou
em julgado. Diz se que a decisão transitou em julgado material, porque diz respeito ao merito da
causa e vincula todos os outros tribunais.

Quanto às decisões processuais tomadas no processo: Estas têm de ter alguma força obrigatória,
mas o caso julgado formado pelas decisões processuais (é um caso das decisões de absolvição da
instancia) é um caso julgado meramente formal – o que é que é o caso julgado meramente
formal? É o que está explicado no artigo 620º:

 Nº1 - as sentenças e despachos que recaiam unicamente sobre a relação processual (que é
o caso das decisões de absolvição da instância) têm força obrigatória dentro do processo
apenas.
o Isto significa que o proprio tribunal que profere a decisão está vinculado por essa
decisão, mas fora daquele processo nenhum outro tribunal está vinculado.
 Portanto se eu propor uma ação contra uma mesa e o tribunal na 1ª ação
absolve o reu da instancia, se o autor tentar instaurar outra vez a mesma
ação contra a mesa noutro tribunal este pode pelo contrário não
considerar que há falta de personalidade judiciária e julgar a ação contra a
mesa.
 Este é um exemplo caricato, apenas se quer chegar com este que
se em casos duvidosos o autor quiser continuar a insistir pode
continuar a insistir e o tribunal das outras ações não está
vinculado porque aquela decisão tem apenas força de caso julgado
formal.

4 - Quais são os momentos na marcha do processo próprios para o tribunal verificar se estão
reunidos os pressupostos processuais?

1º momento em que em que o tribunal pode verificar se estão reunidos os pressupostos


processuais:

Na fase dos articulados (em que as partes apresentam as suas pretensões).


Normalmente o processo só é entregue ao juiz no final de todos os articulados, e apenas depois
disto é que profere o despacho. No entanto, pode acontecer que o tribunal excecionalmente
depois da petição inicial tenha contacto com o processo e tenha proferido um despacho
preliminar. Isto acontece apenas em certas ações especiais com é o caso dos procedimentos
cautelares, existe um despacho preliminar logo a seguir a petição inicial em que o tribunal pode
verificar logo se é competente ou se falta algum pressuposto processual.
Quando exista despacho preliminar o tribunal pode conhecer logo da falta de um pressuposto
processual ou de uma exceção dilatória. Os casos em que existe despacho preliminar estão no
artigo 226ºnº4.

Segundo momento em que o tribunal pode verificar se estão reunidos os pressupostos


processuais: No despacho saneador ou pré-saneador.

há uma 2ª fase da marcha do processo que é o saneamento da condensação (?) no ambito do qual
o tribunal profere um despacho e dois eventualmente (o despacho saneador e o despacho pré-
saneador) e em qualquer um destes despachos a função do tribunal é verificar se estão reunidos
os pressupostos processuais e se não estiverem estes absolvem o reu da instância. O despacho
saneador está no artigo 595ºnº1 e o despacho pré-saneador no artigo 590ºnº2 alinea a).

Terceiro momento em que o tribunal pode verificar se estão reunidos os pressupostos processuais:
Na sentença (pouco provável).

Também na sentença pode o tribunal conhecer da falta do pressupostos processual, tal como
determinado no artigo 608º. Pode acontecer que o tribunal na sentença profira uma decisão de
absolvição do reu da instancia e não conheça portanto do mérito.
Por exemplo, o pressuposto da legitimidade das partes por vezes depende do tribunal aprofundar
um bocado melhor a história para saber se de facto o contrato foi mesmo celebrado entre as
partes ou se foi com outra.
Portanto, há pressupostos processuais que é preciso o juiz entrar um bocadinho dentro do mérito
da causa para perceber se estes se verificam. Assim, nestes casos é possível chegar à sentença e
decidir com base na falta de um pressuposto processual.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 2: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA)

É preciso que ambas as partes tenham personalidade judiciaria para que o tribunal possa
reconhecer do mérito da causa.

A personalidade judiciaria está regulada nos artigos 11º-14º CPC.

 O que é a personalidade judiciária? Artigo 11ºnº1 – consiste na suscetibilidade de ser parte


em juizo.
o Faz lembrar a personalidade jurídica, a personalidade judiciária é uma espécie de
transposição da suscetibilidade de ser titular de direitos e deveres – no processo vai
ser a suscetibilidade de ser parte.
 Por isso é que o artigo 11ºnº2 estabelece o princípio da coincidência entre a
personalidade juridica e judiciaria – há um critério de equiparação entre a
personalidade jurídica e a personalidade judiciária.
 Quem tiver personalidade juridica tem igualmente personalidade judiciaria –
O que é que isto quer dizer?
 Temos de ir ao CC verificar quem tem personalidade juridica e a partir
daí verificar se aquela pessoa pode ou não ser parte em juizo.
o Artigos 66º e 68º CC – sabemos que quer as pessoas
singulares desde o nascimento até à morte têm personalidade
jurídica
o Artigo 158º CC e o Código das Sociedades Comerciais – as
pessoas coletivas também têm personalidade jurídica (as
fundações associações, sociedades comerciais, sociedades
civis na forma comercial).

 Se isto é verdade, o legislador do CPC previu casos de extensão de


personalidade judiciaria: situações em que apesar de não existir personalidade
juridica, o CPC reconhece personalidade judiciaria a essas entidade por uma
questão de facilidade processual. O objetivo foi facilitar o exercício do direito
de ação admitindo que essas entidades tenham personalidade judiciária.
 Uma vez que estas não têm personalidade juridica, os efeitos
substantivos da ação não se podem repercutir nelas, porque depois
materialmente não são suscetíveis de ser titulares de direitos e
deveres – podem atuar em juizo (= ser demandados numa ação) e
depois os efeitos repercutem-se noutras pessoas.

 casos de extensão da personalidade judiciária – artigo 12º:


 Herança jacente – a que ainda não foi aceite nem declarada vaga para
o estado e como consequencia tem um regime especial de património
autónomo: regime especial de responsabilidade por dívidas e de
autonomia, não se confunde com outros patrimónios.
o Exemplo: um credor de uma determinada pessoa que
entretanto morre antes de ser instaurada a ação, a herança
está aberta mas ainda não há herdeiros e o credor quer
instaurar uma ação neste período intermedio no qual só existe
o património autónomo.
 O credor podia instaurar uma ação contra os réus
incertos, contra todos os herdeiros incertos da
herança, no entanto, esta ação assim instaurada é
muito complexa
 Assim, para facilitar a atuação judiciária por parte dos
credores das heranças jacentes, o legislador permite
que o autor instaure a ação contra a própria herança.
 A herança tem de estar representada pelo seu
administrador, mas é a herança que é a ré e um dia
quando for aceite os efeitos daquela ação os efeitos
da ação vao se repercutir nos futuros herdeiros.
o O património autónomo também pode ser autor – o
administrador da herança enquanto esta ainda não foi aceite
ou declarada vaga está a gerir a herança e vê que há pessoas
que têm dividas ao de cuiús, pode o administrador em nome
da herança jacente instaurar a ação.
 Quem é parte da ação não é o administrador, este é
apenas representante. A parte vai ser a herança
jacente.

 O condomínio resultante da propriedade horizontal


o Quem tem personalidade juridica são os condóminos.
 Exemplo: um dos condóminos quer instaurar uma
ação contra todos os outros condóminos devido a
uma deliberação que considera inválida, pode
instaurar uma ação contra o condomínio porque na
prática instaurar uma ação contra todos os
condóminos individualmente pode fazer com que esta
seja muito pesada e complexa.
o O representante vai ser o administrador e aquela ação vai
produzir efeitos na esfera jurídica de todos os condóminos

 Assim, o artigo 12º tem como objetivo a facilidade processual. Há uma


distinção entre personalidade juridica e judiciária.

Qual é a consequencia da falta de personalidade judiciária?

 A absolvição do réu da instancia – artigo 278ºnº1 alinea c)


 A falta de personalidade judiciária é dos poucos pressupostos que a sua falta não é
sanável, porque sanar a personalidade judiciária (que é uma qualidade, ou se tem ou não
se tem) implicaria trocar a pessoa parte da ação por outra, não posso dar personalidade
jurídica a alguem que não tem. E por isso, o tribunal não tem outra alternativa senão
absolver o réu da instância.
AULA 02/10/2023

Ponto essenciais da aula passada:

Principio equiparação entre a personalidade judiciaria e a juridica – uma equiparação entre o


processo e o direito substantivo e vimos que a personalidade judiciaria é a suscetibilidade de ser
parte e a suscetibilidade de ser titular de direitos e deveres.

Apesar deste principio em casos excecionais o legislador estendeu a personalidade judiciária a


entidades que não têm personalidade juridica – lista taxativa do artigo 12º CPC

A consequencia da falta de personalidade judiciária é a existencia de uma exceção dilatória e a


absolvição do réu da instância. – resulta do 577º alinea c) + 278ºnº1 alinea c).

Apesar do artigo 6ºnº2 dizer que o tribunal deve tentar saber a falta de pressupostos processuais,
a personalidade judiciária é um pressupostos processual que não é suscetível de sanação – porque
sanar a falta de personalidade judiciária implicava substituir alguma das partes e como vimos este
é um reduto indiscutível do principio do dispositivo que é a definição do objeto do processo e os
sujeitos (uma vez que o juiz não pode escolher quem é autor e réu na ação, não vai substituir as
partes havendo automaticamente uma absolvição do réu da instância).

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 2: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA) – Continuação:

Caso de extensão diferente/especial previsto no artigo 13º: estende a personalidade judiciária às


sucursais, agencias, filiais, delegações ou representações das pessoas coletivas, em certas
condições.

 É uma extensão porque quem tem personalidade juridica é a pessoa coletiva e estas são
apenas representações orgânicas da pessoa coletiva à qual pertencem – a filial de lisboa de
uma determinada pessoa coletiva não tem personalidade juridica autónoma.
 Por isso, nesta perspetiva estas entidades não teriam personalidade judiciária, portanto quem
seria autor seriam apenas as pessoas coletivas. No entanto, este artigo diz que estas
representações orgânicas podem demandar ou ser demandadas (portanto têm personalidade
ativa e passiva) quando a ação proceda de facto por elas praticado.
 Ou seja: temos um senhor A que contratou a entrega de uma maquina com uma filial em
setúbal de uma empresa que tem a sede no Porto (aquela sociedade vende determinadas
máquinas e tem uma filial em setúbal e foi com esta que A falou).
o Em rigor se A quiser propor uma ação porque a maquina não foi entregue, contra
quem teria de propor a ação seria contra a empresa situada no Porto. A sede
representa a empresa e, portanto, as ações contra as pessoas coletivas são propostas
contra a pessoa coletiva com sede no sitio x, e isto tem implicações a nível de
competencia do tribunal:
 A regra é que o tribunal competente é o tribunal da sede ou do domicilio do
reu. Neste caso sendo uma pessoa coletiva é a sede e, portanto, A teria de
propor a ação no Porto. – este seria o procedimento normal caso as
representações não tivessem tambem personalidade judiciária.

 O nº1 do artigo 13º permite que, tendo em conta que o facto foi praticado ou
os contactos foram tidos com a filial de Setúbal, a filial pode ser parte na ação
apesar de não ter personalidade jurídica porque lhe é atribuída personalidade
judiciária.
 Isto significa que o senhor A vai propor a ação em Setúbal e vai lidar
com o representante da filial que no fundo foi com quem A contratou,
os factos dizem respeito à filial.
 A filial pode ter personalidade judiciária mas continua a não ter
personalidade jurídica – o artigo apenas estende a personalidade
judiciária
o Isto significa que os efeitos juridicos têm de se produzir na
mesma na pessoa coletiva (e não na filial).
 Exemplo: filial é condenada, isto significa que o autor
não pode executar o património da pessoa coletiva e
tem de executar apenas o património da filial? Não, a
ação instaurada contra estas representações orgânicas
não deixa de produzir efeitos na pessoa coletiva. Na
verdade, isto é mais uma possibilidade prática de
representação da pessoa coletiva do que
propriamente uma extensão da personalidade porque
não estou a atribuir a possibilidade daquela filial
depois ser responsabilizada.
 Assim, esta extensão é por razões práticas.

 No nº2 ainda fica mais patente esta vantagem de ordem prática relativamente
à extensão desta personalidade das sucursais porque este nº preve a
possibilidade de a sede da pessoa coletiva ser em pais estrangeiro, e a
sucursal, filial, agência, estar estabelecida em Portugal.
 Nestes situações, a filial pode demandar ou ser demandada mesmo
que a ação derive de facto praticado pela sede quando a obrigação
tenha sido contraída com um português ou estrangeiro domiciliado
em Portugal.
o Ainda facilita mais a propositura de ações contra as filiais no
caso de a sede se situar num pais estrangeiro. Em termos
práticos seria muito mais complexo em vez propor a ação no
Porto ter de a propor em Berlim.
 não se exige que o facto tenha sido pratica pela filial, basta que existe
em Portugal uma filial e que esteja em causa do outro lado alguem
que seja português ou domiciliado em Portugal – é suficiente para
puder propor a ação contra a filial. – visa proteger aqueles que são
domiciliados em Portugal.
 Exemplo: em Lisboa existe uma filial da Tesla (representação de uma
empresa com sede nos USA), alguem domiciliado em PT contratou
com a própria empresa dos estados unidos, o simples facto de existir
uma filial da empresa em PT é suficiente para puder propor a ação em
PT caso alguma coisa corra mal e exista um conflito na relação juridica.

Este caso de extensão do artigo 13º é especial porquê?

1) Não há bem aqui uma extensão da personalidade judiciária porque quem está por detrás da
filial é sempre a pessoa coletiva, é quem depois responde pelas consequências de uma
eventual condenação
2) Ao contrário do que acontece com o resto de casos com a falta de personalidade judiciária,
esta falta de personalidade judiciária é sanável e é sanável porque não é bem uma falta de
personalidade judiciária porque tenho a pessoa coletiva sempre por detrás desta
representação orgânica que está em juízo. Como é que é sanável esta personalidade judiciária?
a. Exemplo: no primeiro exemplo eu proponho a ação contra a filial de setubal quando
afinal se conclui que a origem do litigio não está em nenhum facto praticado pela
filial de Setúbal – como é que posso sanar esta falta de personalidade judiciária?
i. Artigo 14º - pode ser sanada mediante a intervenção da administração
principal e a sua ratificação ou repetição do processado.
1. Ou seja, o tribunal irá chamar a
administração principal para que venha à
ação dizer se sana esta falta de
personalidade judiciária, ratificando tudo
o que foi feito ou permitindo que repita
aquilo que não foi feito.
a. Se assim acontecer fica sanada a
falta de personalidade judiciária,
se não acontecer a ação não
continua porque temos uma filial
que não tem personalidade
judiciária para este efeito.
2. Só é possível esta sanação porque na
verdade é um caso especial de falta de
personalidade judiciária – não é um caso
como os outros em que o tribunal para
sanar esta falta teria de substituir a parte,
apenas conseguir que aquela entidade
que verdadeiramente tem personalidade
jurídica substitua aquela que não tem.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 3: capacidade judiciária)

Capacidade judiciária: regulada nos artigos 15º a 29º

Artigo 15ºnº1 – consiste na suscetibilidade de estar por si em juizo. Já não tem a ver com a
possibilidade de ser parte, a capacidade judiciária pressupõe ter personalidade judiciária e é a
possibilidade de aquela parte estar sozinha em juizo como parte.

Definindo a capacidade judiciária reconhecemos a semelhança a um conceito do ponto de vista


material que é equiparável a esta capacidade judiciária, que é a capacidade de exercício de
direitos: possibilidade de atuar pessoal e livremente no exercicio dos direitos e cumprimento dos
deveres – está aqui em causa um conceito do ponto de vista substantivo equiparável à capacidade
judiciária.

Por isso, existe aqui tal como acontece com a personalidade judiciária um princípio de coincidência
entre a capacidade judiciária e a capacidade de exercício, determinado no artigo 15ºnº2: a
capacidade judiciária tem por base e medida a capacidade do exercicio de direitos.

Logo, vou ter de ver no plano substantivo quais são as entidades que têm e não têm capacidade de
exercício para depois fazer uma transposição para a capacidade judiciária. Aqui ao contrário da
personalidade já não estamos a falar de uma suscetibilidade, mas numa medida – a capacidade de
exercício é a medida de direitos e deveres de que o titular é suscetivel de exercer pessoal e
livremente. Isto significa que eu posso ter uma maior ou menor capacidade judiciária.

Por exemplo, temos dois grandes grupos de incapacidades:

1. Menores
2. Maioridade acompanhada

Cada uma delas tem diferentes âmbitos de incapacidade, ou seja, alguem que tem incapacidade de
exercício não significa que essa seja genérica, pode ser específica, particular e portanto temos de ir
verificar os regimes do incapaz para depois transpor esses regimes para um plano processual. Pode
haver direitos que o incapaz pode exercer pessoal e livremente e outros que não pode, a mesma
coisa no plano processual – temos de fazer portanto uma pequena incursão no regime substantivo
da capacidade de exercício para depois fazermos esta transposição para o plano processual.

A diferença entre estas duas situações é que os menores sofrem de uma incapacidade genérica de
exercício, enquanto os maiores acompanhados têm uma incapacidade de exercício
relativa/pontual/limitada a certos atos. Isto tem influencia depois no regime processual da
incapacidade judiciária.

Temos várias formas de suprimento da incapacidade:

 a representação, que é a substituição da vontade.


 a assistência, que é uma cooperação. Quando o menor ou incapaz não pode praticar
nenhum ato sem que esteja presente o seu assistente que vai suprir a sua incapacidade.
Dentro da assistência temos a necessidade de uma autorização prévia ou uma ratificação
posterior.
Os Menores:

(PLANO SUBSTANTIVO)

No plano substantivo os menores sofrem de uma incapacidade genérica de exercício (resulta do


artigo 123º CC), apenas excecionada (=sem prejuízo) da possibilidade de praticar alguns atos
pontuais previstos na lei, os determinados no artigo 127º CC.

Os atos do artigo 127º podem ser praticados pelo menor sozinho (exemplos: negócios relativos à
profissão que o menor tenha sido autorizado a exercer, os negócios próprios da vida corrente do
menor) – são tudo exceções à incapacidade de exercício do menor.

A incapacidade é genérica de exercício (artigos 125º e 127º CC)

 No artigo 125º temos a regra da incapacidade genérica


 No artigo 127º temos as exceções da vida corrente do menor (exemplo: comprar um
bilhete de metro)
o temos capacidades pontuais de exercício: são atos que o legislador considerou
sem importancia e que visam não obstaculizar demasiadamente o funcionamento
prático da vida do menor.

Esta incapacidade genérica de exercício dos menores é suprível através da forma da representação
e o meio de suprimento podem ser as responsabilidades parentais ou subsidiariamente a tutela ou
administração de bens. Aquele que seja o representante do menor para suprir a sua incapacidade
vai substituí-lo.

Assim, no caso da menoridade o legislador escolheu a representação – o menor é substituído na


prática dos atos pela representação. Temos exceções, há alguns casos em que basta a assistência
(exemplo: casamento do menor, celebração do contrato de trabalho).

Quanto ao meio de suprimento da incapacidade:

 A regra é a de que o meio de suprimento da capacidade dos menores é feita atraves das
responsabilidades parentais – artigos 1877º a 1926º CC
 Quando por algum motivo não sejam os pais a representar o menor temos outros regimes
subsidiários: o caso da nomeação de um tutor ou administração de bens.
o Tutela – artigos 1921º a 1966º
o Administração de bens – artigos 1967º a 1972º CC

(PLANO PROCESSUAL)

Como é que transponho isto para o plano processual?

No plano processual o menor não está a praticar nenhum ato material, portanto não posso dizer
que há a prática de um ato, está a propor uma ação.
Exemplo: um menor vende um imóvel de que é proprietário e com a representação dos pais e
depois o comprador não paga o preço – Pode o menor propor a ação sozinho sem a representação
dos pais para que vendedor seja condenado a pagar o preço?

 Poderíamos dizer que isto não é um ato de natureza material, mas processual, para além
disso, não está em causa a prática de um ato é apenas a defesa do seu património, e
portanto, a incapacidade do menor se calhar não é equiparável, ou pode-se considerar que
está nas exceções do artigo 127º CC, é um ato na vida corrente do menor, está a defender
o seu património – não pode ser assim.

 A equiparação da capacidade de exercício à capacidade judiciária faz com que:


o Se os menores sofrem de uma incapacidade genérica de exercício também no
plano judiciário têm de sofrer de uma incapacidade genérica judiciária.
o Se no plano substantivo têm excecionalmente uma capacidade de exercicio nos
casos pontuais do artigo 127º CC, então também temos de considerar que
algumas ações pontuais excecionalmente possam ser instauradas estando o menor
presente sozinho em juízo – Tenho de fazer esta transposição e tenho de saber
quais são as exceções.
 Exemplo 1: menor celebra um contrato de compra e venda de um movel
representado pelos pais e o comprador não paga o preço – o menor pode
propor sozinho a ação da condenação do comprador a pagar o preço?
 Exemplo 2: menor como réu – alguém instaura uma ação de reivindicação
contra este. O menor pode estar presente sozinho ou tem de chamar os
pais à ação?
 Exemplo 3: Menor que é maior de 16 anos celebrou um contrato de
trabalho e de onde obtém rendimentos mensais e há um mês que não lhe
pagam e o menor quer instaurar uma ação contra a sua entidade
empregadora para cobrar o valor que não lhe pagaram. O menor pode
estar não representado pelos pais na ação?
o A pergunta não é se o menor pode ser parte, porque já sabemos que este ao ter
personalidade jurídica também tem personalidade judiciária – a pergunta é se, ao
ser parte, tem de estar representado pelos seus representantes legais.
 A parte não deixa de ser o menor, depois pode ou não ter de ser
representado

o Olhado aos 3 exemplos, como é que faço a equiparação entre o artigo 127º CC (as
exceções) e estes 3 casos?
 O que eu tenho de ver na ação é sempre averiguar se as possiveis
consequências negativas da ação para o menor se correspondem
ou não a atos que o menor podia praticar sozinho, pessoal e
livremente. – temos de ver qual é o pior resultado que pode
resultar desta ação (contra o menor, no fundo se o menor for réu,
se for condenado, ou se o menor for autor, se o réu for absolvido)
e se na pratica essas consequencias não são consequencias que no
plano material o menor não pode praticar:
 No exemplo 1 – o pior que pode acontecer ao menor é o reu ser
absolvido. Supomos que o menor exerce mal o seu direito de ação e o réu
é absolvido não sendo condenado a pagar o preço, como no plano
material não pagou o preço, na prática o que o menor está a conseguir
através desta ação é dispor sozinho de um direito que não poderia dispor
se fosse no plano substantivo. Ou seja, se não estiver representado vai
conseguir indiretamente praticar um ato que não poderia praticar se fosse
no plano material (que era pegar no bem e dá-lo ao comprador, porque
isso que acontece na realidade através da ação).
 Relativamente ao princípio da submissão aos limites substantivos
vimos que através do processo não se pode defraudar o direito
substantivo. Não se pode conseguir através do processo algo que
não é permitido pelo direito substantivo.
o Se o menor pudesse estar sozinho em juízo a discutir isto
na prática estava a conseguir através do processo dispor
do seu dinheiro.
 Exemplo 2 – Ação de reivindicação contra o menor: se o menor perder a
ação, na prática o que vai acontecer é que pode haver um bem que vai sair
do seu patrimonio e que não poderia sai no plano material.
 A razão de ser de o menor estar representado é porque o
legislador considerou que os seus interesses seriam melhor
defendidos se tivesse representado pelo poder paternal. Se o
menor está na ação não representado entao não está a defender
bem os seus direitos e, portanto, isso pode implicar a perda de um
direito que ele efetivamente tinha.
 Exemplo 3 – estamos a falar da possibilidade de dispor dos seus
rendimentos do seu trabalho. Equiparar isto ao plano substantivo implica
que possamos equiparar esta equiparação á exceção à incapacidade
prevista no artigo 127ºnº1 alinea c) em que diz que o menor tem
capacidade de exercício para os negocios juridicos relativos à profissão,
arte ou oficio que tenha sido autorizado a exercer ou praticados no
exercício da profissão. Se é possivel que o menor pratique estes atos,
então também tem de ser possível que defenda ou vá a juizo defender o
seu direito no caso em que estejam em causa atos que poderia praticar no
plano material.

Maiores acompanhados:

Este regime veio substituir o regime dos interditos e dos inabilitados (alteração de 2018)

 A interdição era uma forma de incapacidade mais grave e a inabilitação era uma forma de
incapacidade menos grave.
o Logo, enquanto a interdição gerava uma incapacidade genérica de exercício
equiparável aos menores, a inabilitação dependia do caso concreto e da sentença
embora tivesse um conteudo minimo que implicava a incapacidade de exercicio
para atos de disposição interditos.
 Houve uma alteração destes regimes para os adaptar à realidade atual pela figura do maior
acompanhado. Assim, hoje encontramos o regime dos maiores acompanhados e o
processo correspondente nos artigos: 138º e ss. CC e temos um processo especial que
permite a decretação da maioridade acompanhada no CPC (é uma forma de processo
especial porque tem uma série de questões próprias para as quais não é adaptado o
processo de declaração comum).

(NO PLANO SUBSTANTIVO)

O artigo 138º CC esclarece a quem é que se aplica o regime da maioridade acompanhada: “aplica-
se a todos aqueles que por razoes de saude, deficiência ou pelo seu comportamento, estão
impossibilitados de exercer plena, pessoal e conscientemente os seus direitos ou cumprir os seus
deveres” – engloba todas as situações que antes cabiam na interdição e inabilitação.

Qual é então o âmbito do conteúdo do acompanhamento?

 Resulta do artigo 145ºCC que tudo depende da sentença que decreta a maioridade
acompanhada.
o Ou seja, o juiz deve decidir no caso concreto qual é o regime mais adequado ao
acompanhamento podendo escolher se a sua incapacidade vai ser genérica,
pontual, se se aplica apenas a certos tipos de atos (como os de disposição,
administração, etc), se o meio de suprimento é através da representação ou
assistência, …
o No plano da maioridade acompanhada não há limites, o limite é o interesse do
maior acompanhado – deve ser criado o regime mais favorável à sua situação
concreta.

(PLANO PROCESSUAL)

Como é que transponho isto para o plano processual?

Aqui é mais difícil porque não temos uma incapacidade genérica de exercício, tenho de ir à
sentença para perceber se existe ou não no caso concreto uma incapacidade judiciária.

Vamos olhar para o respetivo regime que resulta da sentença e fazer o mesmo quanto aos
menores:

 Tenho de ver na sentença quais são os atos que o maior acompanhado pode ou não
praticar no plano substantivo – temos o princípio da equiparação – e ver se o maior pode
estar ou não sozinho em juízo.
o Mesmo que não possa estar sozinho e tenha de estar representado por alguém, o
artigo 19ºnº1 CPC é muito claro no sentido de: quer estejam ou não representados
por alguém, os maiores acompanhados têm de ser sempre citados para a ação
(citados ou notificados consoante sejam autores ou réus)
 Portanto, o maior acompanhado não é alguem que sofre de uma
incapacidade tao plena como os menores. E, por isso, do artigo 19º resulta
que apesar de tudo há sempre uma intervenção do maior acompanhado.
 Exemplo 1: a sentença dizia que o maior não podia praticar atos de disposição de bens
entre vivos sem ser com a representação do seu tutor.
o Neste caso decorrente da sentença o regime de suprimento da incapacidade era a
representação do tutor.
o Se o maior acompanhado está sozinho numa ação de reivindicação de um certo
bem, já sei que a pior consequência que pode resultar dali é que o maior
acompanhado perca aquele bem, portanto na prática pode estar a praticar através
do processo um ato de disposição de bens entre vivos sem a representação do seu
tutor se estiver sozinho na ação.
 É exatamente o mesmo plano e o mesmo exercício que temos de fazer,
temos de ver qual é a consequência pior da ação e fazer a correspondente
transposição.
 Exemplo 2: se os atos de administração de bens do maior acompanhado estavam
subtraídos à sua incapacidade, portanto, livremente poderia praticar qualquer ato de
administração de bens, por exemplo a gestão de uma quinta de que é proprietário. Se o
que estiver em causa for um ato de gestão normal da quinta (apanha da fruta, etc) então
se calhar uma ação/litígio que diga respeito a essa questão, nesta ação já poderá estar o
maior acompanhado sem qualquer representação.

Quanto ao suprimento da falta de capacidade judiciária:

 A regra é de que quando seja suprível, o juiz tem de oficiosamente tratar do suprimento da
falta de pressupostos processuais.
 Este pressuposto é suprível, já não estamos na falta de personalidade judiciária mas de
uma impossibilidade de o incapaz estar por si só em juizo, por isso, naturalmente que a
forma de suprimento será o tribunal chamar a juizo para representar o incapaz aquele que
tenha o poder legal de o fazer. Esta será a forma de suprir esta incapacidade.

(NO PLANO SUBSTANTIVO)

A incapacidade de exercício dos menores é suprida como regra pelo poder paternal e a questão
que se coloca no plano substantivo e também se transpõe para o plano processual é saber, quando
a representação do menor é feita pelo poder paternal com pais casados, se têm de estar presentes
os dois ou se basta a presença de um para suprir a incapacidade de exercício do menor:

 Temos o regime do CC dos artigos 1901º e 1902º:


o O artigo 1902ºnº1 diz-nos que apesar do exercício das responsabilidades parentais
caber a ambos os pais na constância do matrimónio, se apenas tiver intervenção
um dos pais presume-se que existe o acordo do outro – há uma presunção de
acordo.
o Exceção de 2 casos:
 Quando a lei expressamente exija a presença de ambos
 Quando esteja em causa um ato de particular importância.

Em caso de divórcio o exercício das responsabilidades parentais está regulado no artigo 1906º CC e
também acaba por determinar que apenas as responsabilidades parentais relativas às questoes de
particular importância para a vida do filho têm de ser exercidas em comum pelos dois.

(NO PLANO PROCESSUAL)

No plano processual pelo contrário não há uma equiparação absoluta. Podíamos ter uma
equiparação porque se aplicássemos o regime substantivo podíamos colocar a questão de se litigar
em tribunal se é uma questão de particular importância ou não: se for uma questão de particular
importancia então têm de estar os dois presentes em tribunal a representar o menor, se não for
cabe na presunção do outro cônjuge.

No entanto, o CPC esclarece no artigo 16º que é necessário o acordo e a presença de ambos os
pais para as questões processuais – nas questões processuais a presunção não vale e são sempre
necessários os dois pais. Se não estiver presente um deles então há uma irregularidade de
representação e o tribunal tem de tentar sanar esta incapacidade judiciária. A presença em juízo
de ambos os pais é fundamental e no fundo o legislador processual está indiretamente a
considerar que a propositura de uma ação é um ato de particular importância

E se não estiverem de acordo quanto à estratégia processual quer para instaurar a ação quer para
se defender da ação? O artigo 18º CPC preve várias formas de resolução, muitas vezes com a
intervenção do tribunal.

Então mas como é que se supre esta incapacidade?

O suprimento mais evidente é o tribunal chamar a juízo os pais ou o tutor, consoante a forma de
suprimento da incapacidade. No entanto a questão não é tão simples, os representantes legais
podem vir a juízo e depois? O tribunal só toma contacto com o processo numa fase em que já há
uma série de articulados, e portanto os representantes legais chegam ao processo, consultam-no e
depois podem estar ou não de acordo com aquilo que foi feito.

Então, o que é que acontece a partir do momento em que os representantes são chamados?

- O Artigo 27º dá-nos a resposta quanto ao processo de suprimento da incapacidade judiciária.

- O Artigo 28º também trata do suprimento da incapacidade mas mais especificamente da


iniciativa oficiosa do tribunal no suprimento.
 O juiz chama ao processo para intervir o representante legítimo do incapaz – se for
representante do réu diz-se que é citado e se for representante do autor diz-se que é
notificado.
 O representante é chamado a ratificar (=confirmar) o que foi processado – o representante
ratifica tudo o que foi processado e a partir dali está no processo e fica sanada a falta do
pressuposto processual.
 A dificuldade surge quando o representante legal não ratifica aquilo que foi processado –
pode acontecer quando sente que a estratégia processual não foi a adequada, considera
que não está na defesa do menor, etc – então o que é que acontece se não se ratificar
aquilo que foi processado?
o Resulta do artigo 27ºnº2 que se não houver ratificação começam a correr
novamente os prazos para a prática dos atos não ratificados.
 Ou seja, fica sem efeito aquilo que foi praticado pelo incapaz sozinho e
correm novamente os prazos para a prática dos atos não ratificados para
que os representantes legais possam voltar agora com a sua presença a
praticar os atos.
 Os representantes legais não têm apenas uma atuação de
pormenor. Numa ação são eles que vao falar com o advogado, é a
eles que é perguntado quais são os factos, o que é que aconteceu,
portanto não é uma representação de pormenor de estar
passivamente na ação.

 Temos de fazer uma distinção entre: embora o artigo 27º não o diga
diretamente, resulta de interpretação doutrinal e de lógica de sanação
deste pressuposto que se:
 Se o incapaz for réu: a não ratificação dos pais implica que
comecem a contar novos 30 dias para o prazo da contestação
o Por razões de economia processual faz sentido aproveitar
a petição inicial.
o O que é que acontece se o representante do incapaz que é
reu não ratificar a contestação e ao ter novo prazo para
contestar mesmo assim não apresenta nova contestação?
 Faz sentido dizer que temos falta de pressuposto
processual, temos uma exceção dilatória e a
consequência é a absolvição do réu da instância?
Faz sentido que o reu incapaz seja absolvido da
instância se os seus representantes legais não
vierem ratificar nem apresentar nova
contestação?
 Não faz sentido porque se assim fosse os
representantes legais nunca ratificariam
nem apresentavam nova contestação
porque o que o réu quer é ser absolvido
da instância. Se fosse absolvido da
instância nestas situações, os
representantes legais fariam sempre isto
para que o réu fosse absolvido.
 Se os representantes legais não
apresentarem uma nova contestação,
então aplica-se o regime regra da revelia:
é como se o réu não tivesse contestado e
sofre as consequencias da revelia. – este
cas de revelia é especial, não tem revelias
tao gravosas porque se está em causa um
incapaz o legislador teve o cuidado de não
prejudicar o incapaz com a negligencia
eventual dos seus representantes.
o No entanto, se o tribunal verificar
que os representantes não
contestaram por negligência tem
o dever de chamar o ministério
público nos termos do artigo 21º
CPC para vir substituir o
representante legal e puder
representar o incapaz. – no limite,
caso haja negligencia o tribunal
pode chamar o Ministério Público
 (atenção que há muitas
razões para os
representantes não
contestarem. Até podem
ter vindo ao processo e
concluir que o melhor é
não contestar do ponto
de vista da estratégia
processual, por exemplo,
porque o autor não
formulou uma boa
petição inicial). – assim,
não contestação não
significa necessariamente
negligencia).

 Se o incapaz for autor: entende-se que não faz sentido, se a


petição inicial cai, dar um novo prazo para apresentar uma nova
petição inicial. Isto porquê?
o Porque a petição inicial é o ato fundador do processo e
portanto, a partir do momento em que ele caí não faz
sentido que seja dado um novo prazo porque se ele caí
deixa de existir a ação.
o Portanto, o que se entende é que se a incapacidade é do
autor e se o representante não ratificar a petição inicial,
então o tribunal deve imediatamente absolver o réu da
instância e a ação caí.
o Os pais depois podem propor uma nova ação, o que não
faz sentido é aproveitar alguma coisa daqui, ao contrário
do que acontece se o incapaz fosse o réu.
o Assim, deve-se fazer uma interpretação restritiva deste
artigo 27º: a possibilidade de praticar novamente os atos
não ratificados apenas se aplica quando o incapaz é réu.

Quanto às PESSOAS COLETIVAS:

O regime da representação aplica-se também, embora não sejam casos de incapacidade de


exercicio como existem nas pessoas singulares, mas as pessoas coletivas têm uma incapacidade
natural de exercício (ou seja, não podem estar fisicamente em juízo porque não são pessoas
físicas) e, portanto, têm sempre a necessidade de alguma representação e se não estiverem
devidamente representadas também existe uma incapacidade judiciária da pessoa coletiva.

Exemplo: está em juízo uma determinada sociedade e está representada por alguem que não é o
representante legal da sociedade – irregularidade de representação ou mesmo uma incapacidade
judiciária se não houver ninguem a representar a sociedade.

Regime deste incapacidade:

 É suprida exatamente da mesma forma que as pessoas singulares – artigos 25º e 26º CPC:
o Artigo 25º : representação das pessoas coletivas e das sociedades e a forma de
sanação dessa incapacidade
o Artigo 26º: forma de representação das entidades sem personalidade jurídica
 São os casos de extensão da personalidade judiciária – casos particulares
 São entidades que não têm personalidade jurídica e portanto não têm
representantes legais, mas têm de ter representantes processuais.
 Exemplos:
o condomínio – não tem personalidade jurídica e quem é
que o representa? O seu administrador
o herança jacente – quem é que a representa se não tem
personalidade jurídica? o administrador da herança
 Quer para as pessoas coletivas do artigo 25º quer para as entidades sem personalidade
jurídica do artigo 26º aplica-se a ambas o regime da representação e da sanação da falta
ou irregularidade da representação.
AULA 9/10

Aula passada:

Também na capacidade judiciária rege um princípio da coincidência entre a capacidade de


exercício no plano substantivo e capacidade judiciária.

Dois tipos de incapacidade de exercício: Menores e maiores acompanhados e transpor esta


incapacidade para o dominio processual e ver no que é que se traduz – ver em que casos é que
necessário suprir a incapacidade e, portanto, em que circunstâncias é que quer os menores quer os
maiores acompanhados têm incapacidade judiciária porque vimos que há exceções à incapacidade
de exercício que têm de ser transpostas.

Pessoas coletivas - continuação:

Há certas entidades que sofrem de uma incapacidade natural de estarem presentes, por si só,
livremente em juízo uma vez que não têm uma realidade física.

A pessoa coletiva não pode estar presente em juízo por impossibilidade natural. E portanto,
também quanto às pessoas coletivas (num sentido diferente) se fala na necessidade de estarem
representadas em juízo. Portanto, se não estiverem representadas ou se estiverem indevidamente
representadas considera-se que também esta situação exige uma incapacidade judiciária, embora
em rigor não estejamos a falar propriamente de uma incapacidade de exercício.

É preciso que o CPC nos diga quem representa as pessoas coletivas:

 artigo 24º - refere-se à representação da pessoa coletiva Estado (O Ministério Público)


 artigo 25º - regra quanto às outras pessoas coletivas (são representadas por quem a lei, os
estatutos ou o pacto social designarem)

Sempre que em representação das pessoas coletivas ou esteja a pessoa errada em violação dos
artigos 24º e 25º, ou não esteja ninguém, diz-se que há uma incapacidade judiciária nos mesmos
termos em que vimos para os incapazes de exercício.

Por isso, quando isso aconteça, vigora também como forma de suprimento o disposto no artigo
27º CPC para as pessoas singulares:

 necessidade do tribunal tentar sanar a falta de personalidade judiciária, notificando os


representantes legais dando-lhes um prazo para ratificar
 se não ratificarem, vai depender se são autor ou réu
o igual ao disposto sobre este artigo para as pessoas singulares

(artigo 27º também se aplica para a falta ou irregularidade de representação das pessoas
coletivas)
Entidades sem personalidade jurídica:

Vamos estender também este regime da incapacidade judiciária, ou da necessidade de


representação, às entidades que não têm personalidade jurídica cuja representação está prevista
no artigo 26º.

Que entidades são estas?

 Vimos que a personalidade judiciária dependia da personalidade jurídica (também há um


pp de coincidência), mas vimos também que havia uma extensão, nos artigos 12º e 13º
CPC, da personalidade judiciária a entidades que não tinham personalidade jurídica.
 São casos que por razões de ordem prática (herança jacente, condomínio, etc), portanto
situações em que entidades sem personalidade jurídica tinham personalidade judiciária.
 Claro que apesar de terem personalidade judiciária é preciso saber quem é que as
representa em juizo (se não têm personalidade jurídica, por maioria de razão, não têm
personalidade judiciária).

Então, como é que se sana/como é que são representadas estas entidades que não têm
personalidade jurídica mas têm personalidade judiciária?

Artigo 26º: os patrimónios autónomos são representados pelos seus administradores; as


sociedades e associações que careçam de personalidade jurídica (bem como as sucursais, agências,
filiais ou delegações) são representados pelos seus diretores ou administradores. – no fundo é uma
regra especial que é absolutamente necessária pela circunstância da extensão da personalidade
judiciária a entidades que não têm personalidade jurídica.

Vimos quando falámos nas consequências e na necessidade do juiz oficiosamente tentar sanar a
falta de capacidade judiciária (e a resposta para isso encontrávamos no artigo 27º “suprimento da
incapacidade judiciária e da irregularidade de representação” = diz respeito à falta de
representação como também se estiver em juízo a representar alguém que não é a pessoa certa).

Há outros casos, previstos no artigo 29º “falta de autorização ou de deliberação”: são os casos em
que a parte está devidamente representada, mas apesar disso essa representação necessitava de
uma determinada autorização e esta não foi apresentada em juizo.

 Exemplo 1 - os pais representam os menores, mas há atos que estes não podem praticar
sem a apresentação da autorização do tribunal:
o Para praticar atos de disposição sobre bens dos menores, os pais apesar de
poderem representar os menores precisam de autorização do tribunal (resulta do
artigo 1889º CC). Transpondo este artigo 1889º CC para o plano processual,
evidentemente que se tiver a ser discutido um litígio em que está em causa um ato
de disposição, os pais representam os menores mas precisam de estar também
autorizados especificamente pelo tribunal para o efeito.
 Não é pelo tribunal em que está a ser decidida a questão, é pelo tribunal
de família de menores que oportunamente terá de dar autorização para a
pratica do ato de disposição.
o Se a autorização faltar: aplicamos para a sanação da falta de autorização o
disposto no artigo 29º em que o tribunal designa o prazo para que o representante
obtenha essa autorização. Determina um prazo e suspende o processo para esse
efeito.

 Exemplo 2: O Condomínio tem uma personalidade judiciaria e é representado pelo seu


administrador, mas há casos em que o administrador só pode representar o condomínio se
estiver autorizado pela assembleia de condóminos.
o Se estiver o administrador a representar o condomínio mas não tiver a autorização
da assembleia de condóminos, há uma situação equivalente à incapacidade
judiciária porque está o representante legal mas falta-lhe a autorização. Como é
que se resolve? Aplicando o artigo 29º.

Uma coisa é a falta de representação ou a irregularidade da representação que no fundo gera uma
incapacidade judiciária em sentido restrito, outra coisa é a falta de autorização para o
representante estar ali a representar o incapaz. Nesse caso, o que se aplica é o artigo 29º que são
situações diferentes, há uma incapacidade judiciária no sentido mais amplo.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 4: o patrocínio judiciário)

Patrocínio judiciário: artigos 40º-52º CPC

Consiste na representação das partes em juízo pelos chamados profissionais do foro:

o Aqueles a quem normalmente é atribuída esta qualificação são os advogados, mas


também temos os solicitadores, advogados estagiários, agente de execução
o São tudo desempenhos profissionais na área da administração da justiça cada um
deles com um papel diferente mas cujas funções por vezes se misturam e
confundem.
 Os únicos desses vários profissionais do foro que têm a possibilidade de exercer o mandato
judicial de forma ampla e não limitada são os advogados.
o Portanto, ao contrário dos outros profissionais do foro, os advogados podem
sempre, em qualquer ação, representar as partes, exercer o patrocínio judiciário.
o Os outros profissionais do foro apenas o podem fazer em certas situações em que
a lei não imponha obrigatoriamente a constituição de um advogado
 são casos muito residuais: em que, por exemplo, o valor da ação é muito
baixo e por isso não é obrigatória a constituição de advogado - aí sim
posso me fazer representar por alguém que seja profissional do foro, mas
que não seja advogado.

Quando se fala do patrocínio judiciário em sentido rigoroso falamos da representação em juízo por
advogados, porque se estou a falar do patrocínio judiciário como pressuposto processual estou a
falar do patrocínio judiciário quando seja obrigatório.
Só quando o patrocínio judiciário seja obrigatório é que é um pressuposto processual, se
estivermos perante uma ação em que não é obrigatório patrocínio judiciário então não é um
pressuposto processual e pode ser representado por qualquer profissional do foro, não gera
qualquer exceção dilatória. – O que interessa como pressuposto processual é a representação por
advogado.

Vantagens e Desvantagens da constituição como pressuposto processual de patrocínio judiciário:

As Desvantagens são evidentes e daí o legislador não ter imposto em todas as ações judiciárias

 o custo económico de suportar as despesas de um advogado


 a morosidade que pode acarretar:
o se a parte que quer instaurar uma ação em juizo tem de primeiro escolher um bom
advogado porque não pode chegar ao tribunal e contar por si a história, claro que
isto tem uma complexidade acrescida.
 Há um processo anterior à propositura de ação: de escolha de advogado,
de decisão sobre a estratégia processual, etc, que num certo sentido pode
atrasar a ação.
o Para o réu é ainda mais difícil do que para o autor: um réu que recebe uma citação
para em 30 dias responder a uma determinada ação que é complexa vai ter de
usar a maior parte deste tempo reduzido que tem para arranjar o advogado que
sirva para a ação – pode não ser fácil contratar um advogado
 Portanto, quando o advogado contratado pega na ação pode já só ter
poucos dias para contestar a ação (por isso é que há a possibilidade de, em
casos como estes, pedir ao tribunal que estenda o período para contestar)

As Vantagens:

 O processo em si é levado a cabo mais rápido que vai por os seus conhecimentos técnicos
ao serviço do seu cliente e da administração da justiça (o reverso da medalha da
morosidade). – conhecimentos técnicos são uma vantagem
 Mesmo em relação a alguém que tenha conhecimentos de direito, também é uma
vantagem o distanciamento psicológico do caso. “ninguém é bom advogado em causa
própria” e, portanto, é mais benéfico quando não é a própria parte a representar-se a si
mesma. É dificil ter distanciamento relativamente a uma causa em que estão envolvidos
interesses próprios. O advogado, apesar de também ter um interesse próprio porque claro
que está a ser pago para o efeito, o objeto do litigio nada tem a ver com o patrocínio
judiciário sendo, portanto, mais fácil para o advogado tomar decisões estrategicamente
convenientes e dos interesses da parte do que se fosse a própria parte em litigar em causa
própria.
o Isto não significa que não possa ser advogado em causa própria, mas apenas nos
casos em que não seja obrigatória a constituição de advogado. Só nos casos em
que o patrocínio judiciário não seja pressuposto processual (há casos em que se
quiser ser advogado em causa própria o posso ser).

Distinção do patrocínio judiciário de outras figuras afins:

Capacidade ou incapacidade judiciária – outro pressuposto processual mas não se confunde com o
patrocínio judiciário:

 Embora a confusão compreende-se porque nos 2 casos há uma representação, ou seja, nos
dois casos (incapacidade judiciária está em causa a representação dos incapazes e o caso
dos advogados que acabam por representar a parte na condução do processo) estao em
causa duas representações.
 Portanto como é que se distinguem os dois tipos de representações?
o São representações em planos diferentes e podem/devem conviver as duas
quando exista uma incapacidade judiciária.
 Exemplo, quando uma das partes é menor e é representada pelos seus
pais não significa que não tenha de estar simultaneamente representada
por um advogado -
 Uma das representações (representação dos pais) é no plano da
substituição de vontades – por exemplo, quem vai contactar o
advogado são os pais porque estao em substituição da vontade do
menor. Temos 2 níveis de representação: um técnico-jurídico
(advogado) e outro de substituição de vontades (pais).
 Pelo contrário, o advogado não está ali a substituir a vontade do
seu cliente/do seu representante. Está para conduzir
juridicamente/tecnicamente o processo – é apenas em decisões
técnicas, não é o advogado que decide qual é a historia que vai
contar, pode aconselhar contratar um perito para apresentar
provas periciais mas quem decide são os pais que estão a
representar a parte.
 Há vários níveis de representação no processo: representante legal, advogado, e mesmo o
próprio advogado, tal como determina o artigo 50º CPC, pode fazer-se acompanhar por
uma espécie de especialistas técnico em matérias de que não tenha tanto conhecimento,
em áreas não jurídicas.
o Exemplo: caso que tenha a ver com responsabilidade civil médica em que há uma
série de questoes não jurídicas que são relevantes para o caso – o proprio
advogado tem de se socorrer de auxiliares, por exemplo, de médicos que possam
ajudá-lo a construir a ação e depois durante o julgamento sugerir perguntas para
fazer às partes ou testemunhas.
o Portanto em juizo, sobretudo na audiência, é possível estarem presentes várias
partes que não são só a parte.
Apoio judiciário:

 Quando falamos de patrocínio judiciário estamos a falar de representação da parte por


profissionais do foro. – algo obrigatório independentemente da carência económica
 O apoio judiciário é o benefício conseguido àquelas pessoas que tenham uma situação
economica difícil que não lhes permite pagar as despesas do advogado e mesmo as custas
da ação. – pessoa com carência económica
o Está previsto na lei do acesso ao direito (lei 34/2004 de 29 julho): a lei estabelece o
regime do apoio judiciário e dessa lei resulta, nomeadamente no artigo 16º, que
existem várias modalidades de apoio judiciário diferentes.
o Pode compreender apenas o pagamento do advogado (os custos do advogado),
apenas o pagamento das custas da ação, ou pode compreender os dois.
 Consoante o caso, claro que o tribunal vai avaliar os documentos de
insuficiência económica apresentados pela parte que vem alegar essa
insuficiência e pode fazê-lo diretamente no tribunal ou na ordem dos
advogados. E depois há uma entidade que vai avaliar essa insuficiência e
vai determinar o tipo de apoio judiciário que aquela parte vai ter – pode
ser só o advogado, as custas da ação, ou podem ser as duas.

Como é que se constitui mandatário no processo? Ou seja, querendo a parte constituir advogado
no processo, como é que o faz?

Se eu digo a um advogado que quero que ele me represente na ação estou a celebrar um contrato
de mandato com esse advogado – a base contratual que estabelece a relação entre o advogado e
a parte é um contrato de mandato.

O contrato de mandato está regulado nos artigo 1157º e ss. CC:

 Artigo 1157º CC - definição do contrato de mandato: Contrato pelo qual uma das partes se
obriga a praticar um ou mais atos juridicos por conta da outra/no interesse da outra.
 Um contrato de mandato pode ser acompanhado, ou não, por poderes de representação:
o Mandato com representação – 1178º e 1179º CC
 os efeitos dos atos que o mandatário pratique projetam-se diretamente na
esfera juridica do mandante.
 o que o advogado faça produz os seus efeitos diretamente na
esfera jurídica do cliente.
o Mandato sem representação – 1180-1184º CC
 Os efeitos da pratica do ato projetam-se na esfera juridica do mandatário
que depois precisa de transmitir ao mandante. Não há uma produção de
efeitos imediata na esfera juridica do mandante como se fosse ele próprio
a praticar o ato.

 A constituição de advogado apenas pode ser feita através de mandato com representação.
o Porque se não fosse um mandato com representação os efeitos jurídicos da ação
produziam-se na esfera do advogado e não do cliente que não faz sentido – o
contrato que está por trás do patrocínio judiciário é um mandato com
representação.
 Artigo 43º CPC: normalmente este mandato é formalizado através da conceção ao
advogado de uma procuração a atribuir poderes forenses ao advogado que tem como
regra a forma escrita.
o Alinea a) - normalmente as partes atribuem procuração ao advogado através de
um documento particular.
 É o proprio advogado que muitas vezes tem a minuta da procuração e que
atribui ao cliente que preencher essa minuta. Portanto, muitas vezes é
através de um documento escrito particular que se junta ao processo em
tribunal quando se inicia a ação.
o Alinea b) – também é possível que o mandato seja concedido através de uma
declaração verbal da parte no auto ou qualquer diligência que se pratique no
processo.
 Exemplo: há uma parte que não juntou procuração ao processo e que
perante uma audiência em tribunal o advogado está presente e a atuar
como se fosse mandatário. Mesmo que não tenha junto procuração pode
estando a parte presente transmitir ao tribunal verbalmente que aquele é
o seu mandatário e, portanto, aquela declaração verbal também vale
como concessão do mandato ao advogado.
 Não é muito comum, pode acontecer em casos de substituição do
mandatário, por exemplo: situações em que já tinha junto ao processo
uma procuração mas entretanto esse advogado renunciou ao mandato e
durante a audiência de julgamento a parte aparece com outro advogado
no processo e aí basta uma declaração verbal para ficar substituído o
mandatário.

Portanto, o mandato judicial constitui-se através de um contrato de mandato com poderes de


representação que pode ser feito por escrito ou verbalmente nos termos do artigo 43º CPC.

É possível que o mandato seja concedido a mais do que um advogado: o mandato pode ser
concedido a vários advogados que são a equipa que vai trabalhar no processo e, portanto, pode
um advogado ter poderes para subscrever a petição inicial e outro estar presente em juízo na
audiência de julgamento. Portanto, não é necessário que o mandato seja unipessoal apenas
quanto a um advogado.

Normalmente o mandato prevê também a possibilidade de os advogados a quem é conferido o


mandato substabelecerem os seus poderes – artigo 44ºnº2nº3:

 Nº2 – “nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está o de substabelecer o
mandato”: ou seja, é preciso que a procuração diga expressamente que não é possível o
substabelecimento para que o advogado não possa delegar os seus poderes noutro
mandatário.
o Tem de ser por escrito, mas regra geral pode fazê-lo.
Quais são os conteúdos/poderes atribuídos ao advogado através deste contrato de mandato?
Resposta está nos artigos 44º-46º do CPC

Artigo 44º CPC:

 Nº1 – “o mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e
termos do processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante os tribunais superiores,
sem prejuízo das disposições que exijam a outorga de poderes especiais por parte do
mandante” – logo, temos de distinguir 2 tipos de poderes:
o Poderes forenses gerais – são em geral os poderes para representar a parte em todos
os atos que venham a ser praticados na ação ou nos recursos, portanto, enquanto a
ação estiver pendente.
 São poderes gerais, possibilidade de um mandatário praticar todos os atos
relativos à generalidade dos atos praticados em juízo seja em 1ª instância ou
em sede de recurso.
 Basta atribuir procuração ao advogado e presume-se que todos esses poderes
estao a ser concedidos ao advogado.
o Poderes forenses especiais – os poderes para a prática de certos atos que têm de estar
expressamente referidos na procuração para que o advogado os tenha. São poderes
quanto a atos mais gravosos:
 São os poderes de confessar, desistir ou transigir na ação – são os chamados
negócios processuais
 São negócios processuais muito gravosos.
 É preciso que a parte tenha consciência de que estes poderes podem
ser decisivos para o desfecho da ação.
o Por isso é que:

O Nº2 determina que os mandatários judiciais só podem ter estes poderes forenses especiais
“quando estejam munidos de procuração que os autorize expressamente a praticar qualquer
desses atos”.

 No fundo é preciso que a procuração diga: atribuo ao mandatário X os mais amplos


poderes forenses gerais, bem como os poderes especiais para confessar, desistir ou
transigir – se a procuração não tiver esta ultima parte significa que o advogado não pode
em nome da parte confessar, desistir nem transigir.
 Estes negócios processuais são importantíssimos pelos efeitos que produzem na esfera
jurídica do mandante e, por isso, exigem uma referência expressa para puderem ser
admitidos num mandato judicial.
o Em que é que consistem estes 3 negócios processuais? Estão regulados nos artigos
283º e ss. CPC
 Desistência – negócio processual da iniciativa do autor e pode ser apenas
da instância ou do pedido:
 Desistência da instância (artigo 285ºNº2) – apenas faz cessar o
processo que se instaurara. Está a desistir daquela ação, não quer
levar agora a cabo aquela ação, mas não está a admitir que não
tem direito àquela ação.
o Significa que está a desistir daquela ação, que não quer
levar a cabo naquele momento a ação, mas não significa
que esteja a admitir que afinal já não tem direito ao
pagamento.
o Ou seja, se quiser passado uns tempos voltar a instaurar a
ação pode fazê-lo.
o Os efeitos são gravosos porque aquela ação extingue-se.
 Desistência do pedido (artigo 285ºNº1) – extingue o direito que se
fazia valer. Se desisto do pedido do reu de pagar o preço é o
mesmo que admitir que o preço já me foi pago
o É mais grave, se desisto do pedido já não posso voltar a
instaurar a ação novamente
 Exemplo: se desisto de pedir que o réu seja
condenado a pagar o preço, significa que eu autor
estou a admitir que o preço já me foi pago – não
posso instaurar uma nova ação para pedir a
condenação do réu no pagamento do preço

 Confissão – estamos a falar da confissão do pedido


 só o réu é que o pode fazer.
 Quando existe a confissão do réu significa que está a reconhecer
no todo ou em parte o direito do autor
 É a admissão pelo réu da razão ou do direito do autor

 Transação – Acordo entre as partes que põe fim ao processo mediante


concessões reciprocas.

Para além destes poderes contidos no mandato há uma situação afim desta, que tem uma
regulamentação intermédia – tem a ver com a confissão de factos. Logo, a pergunta é, no âmbito
dos poderes do mandato judicial:

Em que medida é que o advogado pode ou não, mesmo sem poderes especiais, confessar factos?

A confissão de factos é diferente de confissão da instância ou do pedido: a confissão da instância


ou do pedido é um negócio processual que põe fim ao processo, enquanto:

Confissão de factos – podem acontecer no processo, não é um negócio processual que põe fim ao
processo. Uma das partes está apenas a admitir a verdade de certos factos alegados pela
contraparte, pode acorrer da parte do réu como do autor. É a admissão pontual de factos e
portanto, em rigor, não está coberto pelas regras da necessidade de atribuição de poderes
forenses gerais.

 Apesar da confissão de factos não ser tão grave como a confissão do pedido, claro que a
confissão de alguns factos também pode ter consequências gravosas.
 A confissão de factos é um meio de prova e esta confissão tem um valor probatório muito
elevado – está subtraída à livre convicção do juiz (há certas provas de valor mais elevado
que estão subtraídas á livre apreciação do juiz e um desses casos é a confissão de factos
como meio de prova):
o se confesso um facto que me é desfavorável, é natural que ele tenha um valor
probatório muito elevado, porque se é o próprio a quem o facto é desfavorável
que está a admitir o facto, a probabilidade daquela confissão ser verdadeira é
altíssima. Por isso se diz que a confissão é a rainha das prova.
o Os artigos 356º e ss. do CC regulam o valor probatório da confissão:
 o artigo 356º diz que há vários tipos de confissão começando logo por
definir o que é uma confissão judicial espontânea: aquela que é feita nos
articulados, podendo ser feita também durante o processo.
 o artigo 358º diz-nos que tem força probatória plena contra o confidente –
significa que o tribunal tem de dar o facto como provado.

Isto tudo para demonstrar que a confissão de factos é extremamente relevante devido ao seu valor
probatório. Logo, pode ou não o advogado em nome do cliente confessar apenas factos?

O artigo 46º:

 A confissão de factos feitas nos articulados, o advogado pode fazê-los independentemente


de poderes especiais, mas a parte tem ainda a possibilidade de revogar essas confissões
antes da outra parte os aceitar.
 Normalmente a contraparte no primeiro ato de intervenção que tenha no processo depois
da confissão de facto, por exemplo: se a confissão de facto for uma contestação a parte
tem intervenção na réplica, se houver réplica, e o que a parte faz muitas vezes é na sua
primeira intervenção dizer “eu aceito expressamente a confissão de factos feita pelo réu
nos artigos x da contestação”.
o A parte faz isto porque o legislador dá a possibilidade àquele que faz a confissão,
se a outra parte ainda não disse que a aceitava, de revogar aquela confissão.
 Portanto, no fundo o advogado tem poderes para fazer estas confissões de factos mas há
um equilibrio uma vez que a parte também os pode retirar ou revogar essa confissão
enquanto a parte beneficiada pela confissão não aceitar expressamente.
 Em todos os outros casos de confissões de facto feitas fora dos articulados, à contrario do
artigo 46º, não vinculam a parte a não ser que tenham sido atribuídos poderes especiais
ao mandatário
o Como o artigo 46º apenas refere a confissão de factos feita por mandatário nos
articulados. Entao tudo o que sejam confissões de factos feitas pelo mandatário
fora dos articulados, carecem de poderes forenses especiais.
o Não é muito comum uma confissão de factos fora dos articulados, porque este é o
momento próprio para que as partes se pronunciem sobre os factos quer sobre os
alegados por si quer sobre os alegados pela contraparte.

Basta conceder poderes forenses especiais para se incluir a confissão de factos, porque quem pode
o mais pode o menos, é menos gravoso a confissão de factos do que a confissão do pedido ou a
desistência.
AULA 12/10/2023

(Patrocínio judiciário – continuação):

Em que ações é obrigatório o patrocínio judiciário?

Vimos que é um pressuposto processual mas apenas nas ações em que a lei impõe a constituição
de advogado, e estes casos estao taxativamente previstas no artigo 40ºnº1 CPC:

 Alínea a) – “é obrigatória a constituição de advogado nas causas de competência de tribunais


com alçada, em que seja admissível recurso ordinário” (consubstancia a maior parte dos casos)
o Para isto é relevante determinar o que é “alçada” e “admissibilidade de recurso
ordinário”:
 A alçada de um tribunal consiste no limite de valor da ação dentro do qual
esse tribunal julga definitivamente.
 Ou seja, para efeitos de recurso existe uma hierarquia de tribunais:
temos na base da pirâmide os tribunais de 1ª instância (os de maior
quantidade), na fase intermedia temos os tribunais da Relação
(também tem alguns) e no topo temos o Supremo Tribunal de Justiça
(é só 1) – existem para poder recorrer, para que o objeto seja
apreciado de novo por um novo tribunal. Para que é que os tribunais
estão organizados hierarquicamente? Para puder interpor recurso de
tribunais de uma instancia inferior para tribunais de uma instancia
superior para que o objeto da minha causa seja apreciado novamente
por um tribunal superior.
 A racionalização do sistema jurídico e processual não permite o
recurso de todas as causas até ao STJ. Ou seja, não são todas as causas
que são recorríveis até ao supremo tribunal de justiça.
o Aliás, a interpretação da nossa CRP em que garante o direito a
uma tutela jurisdicional efetiva no artigo 20º é a de que nem
sequer aquele que perde tem o direito imperativo a um grau
de recurso, tem é o direito a que um tribunal se pronuncie
sobre a sua causa.
o Logo, há causas que nem sequer são recorríveis para a 2ª
instancia – vai depender do quê? Como é que eu sei se uma
causa, quando o tribunal de 1ª instância se pronuncia, se
aquela decisão é a última e transita em julgado ou se posso
recorrer para a Relação e esta decisão transita em julgado e é
a última, ou ainda se tenho pelo menos dois graus de recurso
até ao STJ? O artigo 629º CPC determina as condições para
existir recurso de uma determinada decisão:
Nº1 –
 É necessário distinguir aqui entre recurso ordinário
(recurso para a Relação e para o STJ) vs recurso
extraordinário (há outros recursos que são de
decisões transitadas em julgado que é o caso do
recurso para uniformização de jurisprudência que são
recursos com regras especiais)
 Estamos perante os recursos ordinários, sendo que
podem ser de 2 tipos:
 O recurso para a Relação = recurso de
apelação
 O recurso para o STJ = recurso de revista
 O recurso ordinário só é admissível quando estejam
preenchidos 2 requisitos cumulativos:
 Quando a causa tenha valor superior à alçada
do tribunal de que se recorre = 1º requisito
para recurso ser admissível: que o valor da
ação seja superior ao valor da alçada daquele
tribunal:
o É por isso que o tribunal de 1ª
instância e o tribunal da Relação têm
um valor de alçada – valor que é
fixado pela lei e até esse valor
qualquer decisão que aquele tribunal
tome não é recorrível.
o Artigo 44º lei de organização do
sistema judiciário:
 valor das alçadas dos
tribunais de 1ª instância é de
5 mil euros;
 valor da alçada dos tribunais
da Relação é de 30 mil euros
o Isto significa que:
 todas as ações que tenham
um valor inferior a 5 mil euros
não passam da 1ª instância;
 todas as ações que têm um
valor entre 5 e 30 mil euros as
decisões sobre elas só são
recorríveis até ao tribunal da
Relação
 todas as ações com valor
superior a 30 mil euros
podem chegar ao Supremo –
o É para isto que servem as alçadas dos
tribunais.
o Porque é que o legislador no artigo
629º não diz simplesmente “as ações
de valor de 5 mil euros são recorríveis
até x e as de 30 mil até y”? Porque em
vez de estar a mexer sempre no CPC
quando o legislador quer restringir o
direito de recurso e outros aspetos
que são consequencias da alçada. O
legislador limita-se a ir à lei de
organização do sistema judiciário e
altera o artigo 44º atualizando os
valores.
 Exemplo: legislador quer
dificultar o acesso ao STJ por
alguma razão e, portanto,
quer alterar o sistema de
recurso – vai ao artigo 44º e
passa o valor da alçada da
Relação de 30 mil para 40 mil
euros, é o suficiente para
diminuir as ações que chegam
ao STJ.
o Para o que nos interessa agora as
alçadas servem para isto: delimitar
que ações é que recorrem e até onde
recorrem.

 Que a decisão impugnada seja desfavorável ao


recorrente em valor superior a metade da
alçada desse tribunal = 2º requisito para
recurso ser admissível: valor da sucumbência
tem de ultrapassar o valor de metade da
alçada desse tribunal
o O valor da sucumbência é o valor em
que a parte que perde
sucumbe/perde.
 Exemplo: autor pede a
condenação do réu no
pagamento de 20 mil euros de
um contrato e o tribunal
condena o réu em 10 mil
euros e absolve dos restantes
10 mil euros. Apesar do valor
da ação serem 20 mil euros, o
valor da sucumbência foram
10 mil euros – o que é
relevante para este efeito é o
valor da sucumbência e não
da ação, porque se por
exemplo o tribunal condena o
reu a pagar 19 mil euros isso
significa que o valor da
sucumbência foram apenas
de mil euros e, portanto, não
justifica o recurso.

 O que é que este requisito (o 2º) implica na


obrigatoriedade de constituição de advogado
(voltando à alinea a) do artigo 40º)?
o O que resulta da alinea a) do artigo
40º é que em todas as causas de valor
superior a 5 mil euros é obrigatória a
constituição de advogado, porque
todas as causas de valor superior a 5
mil euros, em tese (quando instauro
uma ação e decido se vou constituir
advogado ou não tenho de falar em
tese porque não sei qual vai ser o
valor da sucumbência, isso é
irrelevante para a constituição de
advogado), são suscetíveis de recurso.
o Se a causa for de valor inferior a 5 mil
euros sei que não é recorrível, não é
obrigatória a constituição de
advogado.
o Tudo o que é superior a 5 mil euros é
obrigatória a constituição de
advogado – é o que resulta da alinea
a) do artigo 40ºnº1.
 Porquê nas causas de valor
superior e não nas causas de
valor inferior? No fundo o
valor da ação corresponde à
utilidade económica do
pedido, no fundo,
corresponde ao valor que está
em jogo quando proponho
uma ação. Portanto o risco
que as partes correm quando
é proposta uma ação – está
um risco bilateral naquele
valor (há critérios legais para a
fixação do valor de cada ação,
mas em termos gerais o que o
valor da ação representa é
precisamente esta utilidade
económica que está em jogo).
 Naturalmente que em ações
de um valor mais diminuto
está em jogo menos e por isso
o legislador considerou que
não é obrigatória a
constituição do patrocínio
judiciário – claro que não ser
obrigatório não quer dizer
que as partes não o possam
constituir, apenas não
constitui exceção dilatória.

 Alínea b) – “nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor”:
o A regra do artigo 629ºnº1 é a de que não recurso independentemente do valor (é
necessário a verificação dos 2 requisitos).
o No entanto, há casos excecionais que estão no 629ºnº3:
 Há certas ações em que o recurso é sempre admissível sem contar com o valor
da alçada – ou seja, situações em que mesmo que a causa tenha um valor de 2
mil euros é sempre admissível recurso.
 São casos que o legislador considerou independentemente do valor que está
em causa, colocam em causa valores de outra natureza não patrimonial e que
são valores que devem ser tutelados.
 a razão de ser de admissibilidade de recurso independentemente do
valor da ação está no valor legal atribuído ao direito.
 Contempla situações que o legislador achou de extrema importância, e
portanto, mesmo que sejam 2 mil euros, são suscetíveis de recurso
 Por essa mesma razão, nestas causas também é sempre obrigatória a
constituição de advogado.
 Exemplo: os casos mais evidentes são os casos das ações de despejo, nestas
ações é sempre obrigatória a constituição de advogados seja qual for o valor.

 Alinea c) – “nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores”


o A regra geral determina que em 1ª instância devo propor sempre as ações nos
tribunais de comarca/competência territorial alargada e só posso chegar a ter uma
decisão do STJ em sede de recurso, portanto só chego ao STJ se passar nos dois graus
de recurso.
o No entanto, há causas em que excecionalmente a ação deve ser proposta logo nos
tribunais da Relação ou logo no STJ pela 1ª vez.
o São causas excecionais e que constam da LOSJ – artigos 55º e 73º LOSJ
o Exemplo: as ações de indemnização propostas contra magistrados judiciais por atos
praticados no exercício das suas funções que devem ser propostas imediatamente no
tribunal superior àquele em que o magistrado exerce funções. – ação instaurada
contra um magistrado do tribunal de 1ª instância devido
 Não faria sentido propor uma ação contra um magistrado da comarca de Évora
num próprio tribunal de 1ª instância que hierarquicamente está ao mesmo
nível do magistrado que é réu na ação – até por razão de garantia de
independência tem de haver uma relação de hierarquia que permita ao
tribunal julgar de forma imparcial e independente. Por isso é que existe esta
regra:
 Se a ação for contra um magistrado de 1ª instância então a ação deve
ser instaurada num tribunal da Relação
 Se é contra um magistrado contra um tribunal da relação então tem de
ser instaurada pela 1ª vez no STJ
 Se for contra um magistrado do STJ, dentro deste há várias secções e
portanto há regras para esse efeito, como a possibilidade de se
convocar o plenário.
o Ações que independentemente também do valor são propostas pela 1ª vez num
tribunal superior
 Assim, nestas ações independentemente também das outras alineas é sempre obrigatória a
constituição de advogado, ou seja, o patrocínio judiciário é pressuposto processual.

Qual é a consequência da falta de constituição obrigatória de advogado?

Apenas para os casos em que a constituição de advogado é obrigatória, e, portanto, o patrocínio


judiciário é pressuposto processual. Se estivermos perante um caso em que essa constituição não
é obrigatória não há nenhuma consequência na não constituição de advogado.

De acordo com o regime geral dos pressupostos processuais, a consequência da falta de um


pressuposto processual é a existência de uma exceção dilatória e a consequência será a absolvição
do réu da instância: artigo 577º CPC (lista exceções dilatórias) + artigo 278º CPC (casos absolvição
do réu da instância)

Artigo 577º h) CPC: é exceção dilatória “a falta de constituição de advogado por parte do autor”.

 Apenas diz por parte do autor, o que significa que aparentemente só a não constituição de
advogado por parte do autor é que gera absolvição do réu da instância.

Artigo 278º CPC não fala expressamente do patrocínio judiciário, no entanto existe a alínea e) que
é uma cláusula aberta: “o réu é absolvido da instância quando o tribunal julgue procedente alguma
outra exceção dilatória”

 aqui inclui-se também apenas a falta de patrocínio judiciário do lado do autor.


Porquê é que só é exceção dilatória a falta de advogado do lado do autor?

Porque não faria sentido absolver o réu da instância se ele não constituísse advogado porque
assim nunca nenhum réu constituiria advogado para ser absolvido da instância – seria uma forma
fácil do réu se desfazer da ação contra ele intentada.

Qual é então a consequência da não constituição de advogado por parte do réu?

O artigo 41º: o juiz oficiosamente, antes de estabelecer a consequência para a falta de constituição
de advogado, deve oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, notificar a parte sem
advogado para constituir advogado dentro de um certo prazo que o juiz visa.

 Logo, é uma exceção dilatória sanável nos termos gerais do artigo 6ºnº2 que nos diz que o
juiz ao abrigo do seu poder de gestão processual deve tentar sanar oficiosamente a falta
de pressupostos processuais – 1º aspeto: o juiz notifica a parte para constituir advogado
dentro de certo prazo.
 2º aspeto: Se a parte não constituir advogado, a consequência é: “réu ser absolvido da
instância”; “não ter seguimento o recurso”; “ficar sem efeito a defesa” – legislador
estabelece aqui 3 consequências possíveis e temos de em articulação com os outros
artigos do regime determinar das 3 consequências a mais adequada para a não
constituição de advogado na sequência do convite do juiz.
o 1ª consequência – absolvição do réu da instância:
 Já vimos que apenas pode ser consequência na falta de constituição de
advogado por parte do autor, só esta é exceção dilatória (577º h) + 278º
e) CPC)
 Acontece quando o autor não constitui advogado desde o início nem na
sequência do convite do juíz.
o 2ª consequência – não ter seguimento o recurso:
 Só faz sentido na pendência dos recursos portanto isto não faz sentido
quando estamos a falar de uma causa de 1ª instância – só falamos dos
casos de pendência de recurso e nestes casos fica sem efeito o recurso
que foi interposto, não segue o recurso.
o 3ª consequência – ficar sem efeito a defesa:
 Este caso é aquele que mais se adequa para a falta de constituição de
advogado por parte do réu.
 Ou seja, se o réu apresenta uma contestação e esta não está assinada por
advogada, portanto não está representado por advogado, significa que o
tribunal não vai considerar essa contestação o que significa que o réu vai
ser considerado em revelia com todas as consequências que daí advém.
 No fundo a maior sanção para o réu para o pressionar de alguma forma a
constituir advogado é esta dizendo que se não tem advogado a ação não
para mas aquela defesa é como se não existisse.

É parecido com aquilo que vimos relativamente à capacidade judiciária em


que é consequência da não ratificação da contestação pelos representantes
legais do incapaz não pode ser a absolvição da instância – a consequência é
também que fica sem efeito a defesa apresentada pelo réu.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 5: Legitimidade)

Legitimidade:

É necessário, para que o tribunal conheça da ação, que as partes sejam partes legitimas. Não basta
a personalidade, capacidade, que estejam devidamente patrocinadas, têm de ser partes legitimas
processualmente.

O que é que significa partes legítimas processualmente?

 No plano substantivo legitimidade implica a titularidade do direito que se está a exercer ou


das relações juridicas em causa.
 No plano processual o que exerço é o direito de ação e sendo um direito de ação, tem de
haver alguma relação entre a parte e o objeto do litigio. Tem de existir uma relação direta
entre as partes que estão na ação e o objeto do litigio que está a ser discutido.
o Exemplo: instauro uma ação em que vinha alegar que celebrei um contrato com B
e este não cumpriu, quero que o tribunal condene o B a cumprir mas em vez de
chamar o B como réu chamo o C – não tem a ver com a relação jurídica. No fundo
o C não tem aqui qualquer legitimidade porque não tem aqui qualquer relação,
muito menos uma relação direta com o objeto do litigio que está ali a ser
discutido.
 Logo, ser parte legitima significa ter uma relação direta (não basta que C
tenha algum interesse na causa, que gostasse muito que o B ganhasse a
ação) com o objeto do litígio.
o A razao de ser da exigência da legitimidade das partes, que estejam em juizo as
partes legitimas e apenas estas é uma razão de utilidade social da sentença.
 Ou seja, é inútil uma sentença proferida contra uma parte que não tem
nada a ver com o objeto do litígio. Portanto, a razão de ser deste
pressuposto processual é que a sentença de mérito que o tribunal no final
da ação venha proferir seja uma sentença que tenha efeito na esfera
juridica das partes e que possa ter algum efeito, que não seja, portanto,
inútil.

Como é que se distingue o pressuposto da legitimidade de outros pressupostos e outras figuras


afins?

 Personalidade e capacidade judiciária vs legitimidade judiciária:


o A personalidade e capacidade judiciária são pressupostos processuais que têm a
ver com qualidades pessoais/juridicas que podem ser averiguadas em relação a
uma parte em abstrato independentemente do objeto do litígio. Ou seja, em geral
eu posso (e na personalidade judiciária é bastante evidente) olhar par a parte em
abstrato e saber se esta tem personalidade ou capacidade (nos casos de
capacidade restrita tenho de olhar ao objeto do litígio para determinar se tem ou
não capacidade, mas regra geral não é assim).
o Vs na legitimidade – não sei em abstrato se a parte A ou B é parte legitima ou não,
não há ninguem que seja parte legitima ou ilegítima em abstrato porque tudo
depende do objeto da ação. Tenho de analisar em concreto qual é o objeto
daquela ação para puder das resposta à legitimidade ou ilegitimidade das partes

 Legitimidade no plano substantivo vs legitimidade judiciária:


o São diferentes, embora tendencialmente estas duas coincidam.
o A legitimidade no plano substantivo tem a ver com a titularidade dos direitos que
se exerce, ou com as situações juridicas em causa. Enquanto quando falamos na
legitimidade processual falamos da titularidade da relação jurídica processual.
o Tendencialmente a parte que tem legitimidade substantiva significa que é parte na
relação juridica substantiva que se depois está em causa no objeto de uma
determinada ação, também são as mesmas partes que vao ser partes legitimas
naquela ação – a questão prévia era o objeto da ação, tem a ver com o
cumprimento de um contrato de compra e venda, naturalmente que as partes
legitimas no plano substantivo vao ser as mesmas enquanto legitimidade
processual.
o Mas nem sempre acontece assim: há casos em que o legislador entende a
legitimidade processual a partes que não teriam legitimidade do ponto de vista
substantivo.
 Exemplo: artigo 1405ºnº2 CC – em termos de compropriedade apesar de
um comproprietário não ter legitimidade substantiva para atuar sobre a
coisa como um todo, processualmente tem direito a sozinho reivindicar de
terceiro a coisa na sua totalidade. Sei que aquele que contratei é exercido
o direito de reivindicação e posso opor-lhe que ele não é o único titular da
coisa. – exemplo que a legitimidade processual não coincide com a
legitimidade substantiva. São casos excecionais, a regra é que de facto
coincidem.

 Condições de ação vs legitimidade judiciária:


o Quando falámos das condições de ação (que são os pressupostos materiais
necessários a que uma ação seja procedente). Portanto, sei que no caso de ação
de condenação de pagamento do preço a ação vai proceder se o tribunal ficar
convencido que o contrato foi celebrado, que o comprador não pagou o preço, etc.
– isto são as condições de ação, as condições de procedência da ação.
o Vs na legitimidade – posso ser parte legitima mas ver a ação ser julgada contra
mim, mas isso não me tira a legitimidade. Logo eu ter legitimidade de vir a juízo
discutir quem tem razao não significa que se verifiquem as condições de
procedência de ação. Eu posso ser parte legitima e a ação ser improcedente ou
posso ser parte legitima e a ação ser procedente, uma coisa não tem
necessariamente a ver com outra.
o Quando falamos em legitimidade processual falamos em abstrato imaginar que a
pessoa tem aquele direito e se tiver aquele direito entao é parte legitima para o
discutir em juizo.
o Assim:
 A legitimidade é relativa aos pressupostos processuais. Estamos a falar em
questões de forma, na relação jurídica processual.
 Quando falamos de condições de procedência da ação estamos a falar do
mérito da causa

Temos de distinguir 2 situações:

 Legitimidade singular: Há apenas 1 autor e 1 réu em juízo e temos de saber se estas são
partes legitimas
o A questão prende-se em saber se aquele autor e aquele réu têm ou não esta
relação direta com o litígio para puderem estar os dois em juízo ou se quem tem
de estar é um terceiro que substitua alguma das partes.

 Legitimidade plural: Quando numa ação existam uma pluralidade de partes (do lado ativo,
passivo ou em ambos os lados)
o Nesta legitimidade plural já falamos de uma coisa diferente que é saber se podem
estar todos em juízo, saber se são todas partes legitimas.

Legitimidade Singular:

 Quando se diz que parte legítima é ter uma relação direta com o objeto do litigio, no fundo
quem tem uma relação direta com o objeto do litigio são os sujeitos da relação material
controvertida.
o = relação material que está a ser discutida no processo. A questão material que é
objeto de litígio.
o No fundo sei qual é o objeto de ação, este objeto de ação cria ali uma relação jurídica
e eu vou saber quem são essas partes (como no caso da compra e venda, vou saber
quem são as partes da compra e venda que está a ser discutida em litígio) e essas são
as partes legitimas.
 No inicio do século passado, mais concretamente a partir de um acórdão de 1918 da Relação
de Lisboa, levantou-se uma questão que dividiu a doutrina em duas interpretações sobre o que
é ser parte legitima:
o O que estava na base do litigo do acórdão era a realização de um contrato de compra e
venda de toneladas de chumbo e o autor (que era o comprador B) vinha alegar que o
vendedor não cumpriu totalmente a obrigação que tinha assumido para com ele, no
fundo não tinha entregue o chumbo acordado, e vem propor uma ação a exigir a
entrega do chumbo em falta ou em alternativa o pagamento de uma respetiva
indemnização. A ação foi proposta contra um comerciante português (o réu) e o réu
veio alegar e provar que agiu naquele contrato como um mero intermediário de uma
sociedade espanhola que era o verdadeiro vendedor – o que o réu vem dizer é que, ao
contrário do que diz o autor eu não fui o vendedor, era o mero intermediário e
portanto quem é o verdadeiro réu ou quem devia ser o réu era a sociedade espanhola.
 A partir daqui suscitou-se uma discussão em torno de qual devia ser o critério
da legitimidade singular:
o Posição de Coimbra, do professor José Barbosa de Magalhães:
 Considerava que a relação controvertida que devia
servir de base era a relação controvertida descrita
pelo autor na ação, e portanto o que contava era o
que o autor dizia.
 aplicando ao caso do chumbo: se o autor
indicou B como o vendedor então ele era
parte legítima.
o Outra questao diferente era saber se
efetivamente B vendeu, se não tiver
vendido entao ele vai ser absolvido do
pedido – já é uma questao de mérito.
 Razão de ser:
 estando em causa um pressuposto processual,
este tem de ser aferido de forma liminar. Não
posso estar à espera de perceber quem é a
parte efetiva da relação jurídica existente
porque isso implica operações de prova (por
exemplo, que o juiz entre um bocadinho no
mérito da causa, e entrar no mérito da causa
não se justifica quando é para aferir à partida
da existência ou não de um pressuposto
processual). Logo deverá ser suficiente uma
análise superficial do litigio para perceber se a
parte é legitima ou não, não posso precisar de
chegar ao fim da ação depois de produzida a
prova para decidir na sentença se a parte é ou
não parte legítima. Por isso, considerava que
não fazia sentido ir à relação juridica
efetivamente existente.
 Para o réu, se no final se concluir que o réu
não foi o verdadeiro vendedor e que foi
apenas um intermediário, é preferível ser
absolvido do mérito do que ser absolvido
meramente da instância na sentença. Neste
sentido também é mais protetor do réu que
no fim se se concluir que era um mero
intermediário que ele seja absolvido do
pedido, porque uma absolvição do mérito
significa que não pode mais ser incomodado
com a questão enquanto numa absolvição
apenas da forma permite que ele volte a ser
incomodado.

o Posição de Lisboa, do professor José Alberto dos Reis:


 Defendia que o critério não devia ser o da relação
controvertida que o autor descrevia, mas a relação
material controvertida efetivamente existente – é
necessário ver qual é a relação efetiva material
existente.
 aplicando ao caso do chumbo: se se concluir
que aquele B era um mero intermediário
entao ele deve ser absolvido da instância
porque não é parte legítima. – não será do
pedido mas da instância.
 Razão de ser:
 Com base na utilidade social das sentenças de
mérito. Ou seja, considerava que se o juiz
chega a proferir uma sentença sobre o mérito
da causa ela tem de necessariamente que
estar a ser proferida contra a pessoa sobre
quem produz efeitos. Absolver do pedido o
réu intermediário que afinal não era o
vendedor segundo o professor era
absolutamente inútil. Era uma sentença de
mérito inútil. Portanto, do ponto de vista
rigoroso de facto não faz sentido absolver
aquele réu do pedido que é o que reu que não
tem a ver com a verdadeira relação
controvertida.
 Considerava que na prática a tese do
professor Barbosa de Magalhães nunca
contemplava casos de ilegitimidade. Porque se
a ilegitimidade é aferida com base na história
que o autor conta, para uma parte ser
ilegítima é preciso que o autor conte uma
historia e chame outra pessoa que não tem
nada a ver com a história, que é pouco
provável. Portanto se a história do autor é
aquela que constitui padrão para aferir a
ilegitimidade entao os casos de ilegitimidade
serão praticamente nulos.
 Semelhanças entre os dois professores:
o Os dois entendiam que partes legitimas eram os titulares da
relação controvertida, a diferença era saber qual relação
controvertida é que devia servir de base a esta investigação.
o A consequencia da ilegitimidade é que para os dois há a
absolvição do réu da instância – a diferença é o que é que
cada um considera ser a legitimidade.

o Qual é o critério que foi adotado?


 O artigo 30ºnº3 vem aprofundar o que é que se deve considerar então os
titulares deste interesse para efeitos de legitimidade:
 “são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da
legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é
configurada pelo autor” – o legislador veio aderir expressamente à
tese de Coimbra do professor Barbosa de Magalhães.
o Veio considerar que era mais útil poder fazer esta análise
preliminar e para que o tribunal possa concluir sobre a
legitimidade ou ilegitimidade da parte, ainda que depois a
sentença de mérito de absolvição do pedido da parte que não
faz parte da relação controvertida como é efetivamente existe,
seja uma sentença inútil.
 Atenção, o nº3 determina que adere à tese do professor barbosa de
Magalhães “na falta de indicação da lei em contrário”- sempre que se
considere que a lei expressamente, por algum motivo, retira quem é
parte legítima mesmo que não coincida com o critério estabelecido no
nº3, essa parte será a parte legítima.
o Exemplo 1: o cabeça de casal de uma herança que a
representa, a lei determina que este seja parte legítima ainda
que não seja o titular ou titular exclusivo daquela relação
material controvertida
o Exemplo 2: artigo 1405ºnº2 CC que permite que o
comproprietário venha exigir a coisa de um terceiro mesmo
que não seja o único titular da relação controvertida.
o Exemplo 3: artigo 31º CPC relativamente às ações populares –
está previsto quem tem legitimidade para intentar as ações
populares.
 As ações populares são ações que servem para a
tutela de direitos e interesses como os interesses
difusos (aqueles que são insuscetíveis de apropriação
individual, como o direito à saúde e o direito ao
ambiente, etc) ou os direitos individuais homogéneos
e o legislador constitucional e também o legislador
ordinário que através da lei da ação titular
regulamenta este direito e permite que apenas alguns
em representação de todos os titulares desse
interesse ou direito, desde que não exerça o direito de
exclusão (portanto remetemos para a lei da ação
popular) – a legitimidade que é concedida apenas a
alguns para sozinhos e em representação de todos
poderem vir discutir direitos de quem podem nem
sequer ser titulares. Ou seja, há casos em que aquele
é um dos titulares dos direitos mas há outros casos
em que se permite a associações, por exemplo, da
defesa dos consumidores, defender o interesse de
todos os consumidores e como é evidente a
associação não é titular da relação material
controvertida, nem sequer da descrita pelo autor.
 No fundo, o artigo 31º CPC regula a legitimidade nas
ações para a tutela de interesses difusos e, portanto, é
um caso típico em que o critério não é uma
titularidade da relação controvertida descrita pelo
autor, é o critério da determinação da lei.
AULA 16/10/2023

Resumo aula passada:

Legitimidade – significa uma relação da parte com a relação material controvertida (= atuação
juridica que esta em litígio)

É necessario distinguir 2 tipos de legitimidade – as partes legitimas aferem-se de forma diferente


consoante estejamos numa ação em que o que está em causa é apenas uma relação de um autor
com um réu ou numa ação em que o que esteja em causa/presentes uma pluralidade de partes do
lado passivo/ativo/de ambos:

 Singular – autor com réu


 Coletiva – pluralidade de partes, ativo ou passivos

Legitimidade singular: discussão entre Coimbra e Lisboa

 As partes legitimas seriam para o professor barbosa de Magalhães os titulares da relação


material controvertida descrita pelo autor
 Para o professor Alberto dos Reis partes legítimas seriam os titulares da relação
controvertida efetivamente existente.

O CPC adotou a concessão do prof barbosa de Magalhães no artigo 30ºnº3.

 Principal critica a esta adoção: seria muito superficial esta apreciação da legitimidade,
sendo que não existiriam praticamente casos de ilegitimidade e no fundo a sentença a
professor seria inútil porque iriamos ter uma sentença de mérito relativamente a partes
que não eram as partes da relação controvertida descrita e portanto poderia gerar uma
inutilidade da sentença que é exatamente o objetivo contrário ao conceito de legitimidade
das partes.
 Neste artigo está consagrada a teoria das partes da relação controvertida tal como é
descrita pelo autor – portanto o saber se foram ou não aquelas partes que na prática
foram as partes da relação jurídica já é uma questao de mérito, não é uma questão de
pressuposto processual. É uma questao de mérito e portanto ilegitimidade só existe se o
autor disser, por exemplo, que contratou com B e afinal chama C como réu que não tem
nada a ver com a história que conta, aqui sim seria ilegitimidade.

Legitimidade plural:

Na legitimidade plural a questão já é outra:

 Na legitimidade singular o que estou a tentar perceber é se estão em juízo as pessoas


certas, se têm a relação certa com a relação controvertida.
 Na Legitimidade plural a pergunta é diferente, é: “se aquelas partes podem estar juntas em
juízo, e mais, se falta alguém que tinha de estar”. Estamos noutra perspetiva, na
legitimidade plural eu sei se as partes são legítimas aferindo sobre se podem estar em
conjunto com as outras, ou se há alguma que devia estar e não está.
 Mesmo quando falamos de legitimidade plural isso não significa a
dispensa da legitimidade singular em relação a cada uma delas. Portanto,
mesmo em questões de legitimidade plural tenho de saber se aquela em
concreto é parte legitimo em termos singulares – tem de ser alguém que
faz parte da relação controvertida tal como descrita pelo autor, mas para
além disso temos de aferir também se esta pode estar em conjunto com as
outras.
o Na legitimidade plural estamos a pensar no conjunto: “o conjunto/a presença de
todos estes réus é possivel? ou tem de estar cada um individualmente? E falta
algum na ação ou podem ser só estes?”

Quando falamos em cumulação subjetiva de partes (= legitimidade plural) nem todas a cumulações
subjetivas revestem a mesma natureza. Ou seja, podemos ter consoante a sua natureza vários
tipos de pluralidade de partes – posso ter uma pluralidade de partes em que todas as partes fazem
parte da mesma relação juridica, são sujeitos da mesma relação juridica controvertida que está a
ser discutida, ou posso ter em juizo várias partes que fazem parte de relações jurídicas
controvertidas diferentes.

Temos portanto 2 tipos de pluralidade de partes consoante a sua natureza:

1. A uma pluralidade de partes corresponde apenas uma relação material controvertida: litis
consórcio
 Exemplo 1: A empresta a B, C e D a quantia de 2 mil euros. A obrigação
não é cumprida, não é devolvida a A e este quer instaurar uma ação contra
os 3 (B,C e D). logo temos uma dívida contraída pelos 3 e são instaurados
em juízo – o que nos interessa aqui é ver o tipo de pluralidade de partes
em causa
 há apenas uma relação material controvertida em juízo porque o
que está subjacente é o contrato que foi celebrado em conjunto
com os três e que não foi cumprido (para o efeito são irrelevantes
as circunstâncias particulares de B,C e D.
o A consequência: apesar da pluralidade de partes normalmente o pedido será só
um, vamos ter um pedido comum a todos – o que o autor vai pedir é que os
autores sejam condenados a pagar, é uma consequência que está em causa à
mesma relação controvertida
o Estamos perante um litis consórcio – no litis consorcio existe, apesar da
pluralidade de partes, apenas uma relação material em litigio que junta todas das
partes.

2. A uma pluralidade de partes corresponde uma pluralidade de relações materiais


controvertidas: coligação de partes
 Exemplo 2: B, C e D entraram num determinado transporte publico que
teve um acidente, e na sequência deste acidente cada um sofreu danos.
Os 3 em conjunto querem acionar o condutor porque consideram que
houve culpa da sua parte.
 apesar de haver uma mesma causa de pedido que é o acidente de
aviação, a relação controvertida que se forma entre o condutor e
cada um deles em função dos danos causados a cada um, a
relação jurídica é individual de cada um dos autores. Cada um
destes vai ter de explicar os danos que sofreu, o nexo de
causalidade em relação a si, e isso é diferente relativamente a
cada autor porque a relação jurídica danosa que se estabelece
entre o réu e cada um dos 3 é diferente, e portanto, embora os
autores sintam vantagem em se associarem por vários motivos,
cada um deles estabelece e descreve uma relação controvertida
diferente com o condutor. Apesar das semelhanças, há mais do
que uma relação controvertida diferente.
o a consequencia: sempre que estejam em causa várias relações juridicas para além
da pluralidade de autores, o normal é que cada um deles peça uma indemnização
diferente, cada uma em função dos seus danos próprios. Cada um dos pedidos é
uma manifestação de que está em causa mais do que uma relação material
controvertida.
o Estamos perante uma coligação de partes: há várias relações materiais
controvertidas que abarcam a pluralidade de partes (claro que têm de ter alguma
relação entre elas).

Isto é importante porque processualmente os regimes são diferentes, porque naturalmente se


existe uma pluralidade de partes com uma mesma relação material controvertida é normal que o
legislador não seja tão exigente para a presença de todas as partes como é no caso da coligação. Se
na coligação há várias relações controvertidas o que é que justifica que os 3 lesados se juntem para
estar em litigio a discutir a indemnização contra o condutor do transporte público. Portanto as
condições para que haja legitimidade plural num e noutro caso serão diferentes, e por isso, vamos
ter de tratar separadamente cada um destes casos.

Coligação de partes: pluralidade de partes e pluralidade de relações materiais controvertidas e de


pedidos, como consequência

A questão é saber quais são os requisitos que são necessários para que todas as partes possam
estar coligadas em juízo sejam elas autoras ou rés.

O legislador admite a coligação de partes por razões de economia processual – é muito melhor
que os 3 autores estejam na mesma ação juntos contra o mesmo réu com base em factos
semelhantes do que cada um ir instaurar a sua ação para conseguir a sua indemnização, portanto,
é uma vantagem do ponto de vista de economia processual.

 No entanto tem de existir necessariamente uma relação entre os 3 pedidos porque se não
existir uma relação há um desperdício de economia processual.
o Se não existir nenhuma relação entre estas 3 relações controvertidas isto pelo
contrário, não vai agilizar o processo, só vao fazer demorar mais o processo – daí a
necessidade de requisitos para ser possivel juntar tudo na mesma ação.
O regime está entre os artigos 36º, 37º e 555º CPC. O regime da legitimidade das partes está entre
artigo 30º-39º CPC e o que se refere à coligação: 36º e 37º CPC

Quais são os pressupostos da admissibilidade da coligação?

1. Ligação entre os pedidos (artigo 36º) – conexão entre os diversos pedidos formulados na
mesma ação
i. há outras situações processuais que vamos estudar e que vamos perceber
que também é necessária esta ligação entre os pedidos.
1. Por exemplo: os pedidos reconvencionais – é um pedido
formulado pelo réu contra o autor. Para a formulação de pedidos
reconvencionais é necessário que haja uma certa ligação entre o
pedido do réu e o pedido do autor senão não se justificava que
aquele pedido reconvencional pudesse ser formulado na mesma
ação.

b. Quais são as ligações entre pedidos que o legislador considerou relevantes para
admitir a coligação? São os previstos no Artigo 36º
i. Nº1 e Nº2 são alternativos – desde que se verifique uma das ligações
previstas no nº1 ou nº2 do artigo 36º é suficiente para ser admitida a
coligação quanto a este pressuposto.
1. Artigo 36º Nº1 – mesma causa de pedido:
a. Exemplo 1: caso do acidente de viação previsto à pouco
i. A causa de pedir para todos os autores lesados é
o mesmo acidente – aqui está uma relação em
que apesar de serem relações jurídicas diferentes
a causa de pedir é a mesma.
ii. É muito comum nas situações em que um mesmo
ato/ uma mesma realidade provoca lesões a
vários lesados diferentes.
b. Exemplo 2: uma empresa farmacêutica põe e a circular
um medicamente que causa lesões a várias doentes e
eles juntam-se para acionar a empresa farmacêutica –
causa de pedidos é mesma e única ainda que cada um vá
alegar danos diferentes, danos de causalidade diferentes,
etc.

2. Artigo 36º Nº1 - quando exista uma relação de prejudicialidade


ou dependência dos pedidos:
a. Ex: A vendeu a B uma coisa e B vende a C. A vem alegar
que celebrou o contrato com B em erro e vem pedir a
anulação desse contrato, demanda B para anular o
contrato de compra e venda e vem pedir que C seja
condenado a entregar-lhe a coisa uma vez que vem alegar
que a venda foi feita de má-fé contra ele.
i. Há várias relações controvertidas: a compra e
venda inicial e a compra e venda subsequente,
mas a verdade é que há uma relação de
prejudicialidade entre elas – porque C só terá de
vender a coisa se o pedido contra B for
procedente.
ii. Só se for procedente o pedido de anulação da
compra e venda é que o C terá a obrigação de
devolver a coisa. Portanto temos aqui uma
relação de prejudicialidade ou dependência entre
os pedidos

3. Artigo 36º Nº2 – a procedência dos pedidos principais dependa


essencialmente da apreciação dos mesmos factos ou da
interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de
cláusulas de contratos perfeitamente análogas
a. Exemplo típico: recurso a cláusulas contratuais gerais
numa determinada empresa que apresenta aos seus
consumidores contratos de adesão, todos levam
contratos diferentes mas de conteudo semelhante. Todos
os consumidores juntam-se para pedir a declaração de
nulidade de uma série de clausulas dos seus contratos.
b. A apreciação deste caso implica a aplicação das mesmas
regras de direito ou a apreciação de clausulas de contrato
análogas. – há uma pluralidade de relações
controvertidas, há uma coligação, mas há uma conexão
dos pedidos que resulta do artigo 36ºnº2.

2. Compatibilidade processual entre os pedidos (artigo 37º)


a. Este requisito da compatibilidade processual está subdividida em dois sub-
requisitos:
i. é necessária uma identidade das formas de processo para os vários
pedidos
ii. é preciso que haja um mesmo tribunal competente em razão da
competência internacional, da matéria e da hierarquia

b. Porquê esta exigência da compatibilidade processual?


i. Relativamente ao 1º sub-requisito - necessidade de identidade das formas
de processo para os vários pedidos:
1. Não fazia sentido admitir a junção de dois pedidos em que, por
exemplo, se o pedido 1 isoladamente seguisse uma forma de
processo especial (tutela da personalidade) e o pedido 2 seguisse
a forma de processo declarativa comum, claro que juntar estes
dois pedidos numa mesma ação implicaria prejudicar a forma de
processo adequada para um dos pedidos. Por isso o legislador
considera que do ponto de vista da economia processual não faz
sentido se as formas de processo forem diferentes juntá-las na
mesma ação, até porque uma mesma ação só pode prosseguir
uma forma de processo e portanto necessariamente um dos
pedidos sairia prejudicado.
2. No entanto, o tribunal ao apreciar os pedidos, apesar da
diferença de forma do processo, pode considerar que as formas
de processo são compatíveis e criar uma espécie de 3ª forma de
processo ao abrigo do seu poder de gestao processual e
adequação formal.
a. Por isso é que o artigo 37ºnº2 prevê a possibilidade,
mesmo quando as formas de processo sejam
incompatíveis, do juiz autorizar a cumulação sempre que
não siga uma tramitação manifestamente incompatível
e haja interesse na junção da apreciação conjunta dos
dois pedidos. – este artigo cria portanto uma válvula de
escape para esta necessidade da identidade das formas
de processo.
3. Claro que se cada um dos pedidos seguir uma forma de processo
especial, é dificil que estes possam ser compatíveis.

ii. Relativamente ao 2º sub-requisito – seja o mesmo o tribunal competente


para os dois pedidos em função da competência internacional, matéria e
hierarquia:
1. Os processos das ações estão distribuídos pelos vários tribunais
existentes no território português em função de vários critérios, e
os critérios que permitem determinar o tribunal competente para
julgar um determinado litígio são 5 critérios (artigos 59º e 60º
CPC):
a. Competência internacional – para situações em que há
um litigio plurilocalizado
b. Competência em razão da matéria
c. Competência em razão da hierarquia
d. Competência em razão do território
e. Em razão do valor ou forma de processo
2. Os 3 primeiros critérios são mais importantes que os outros 2, a
violação destes 3 determina a incompetência absoluta do tribunal
enquanto a violação dos 2 últimos critérios apenas determina a
incompetência relativa do tribunal.
3. O artigo 37º apenas exige a identidade de competência absoluta
apenas - é irrelevante aqui que haja dois tribunais
territorialmente diferentes para cada um dos pedidos ou dois
tribunais diferentemente competentes em função do valor ou da
forma de processo – o que interessa é que sejam o mesmo
tribunal competente do ponto de vista internacional, matéria e
hierarquia.
a. O que é que cada um destes critérios significa?
i. Competência Internacional – visa determinar se o
tribunal portugues é ou não competente para
julgar um litigio plurilocalizado.
a. Exemplo: litígio em que o autor é
francês mas tem domicílio em
Portugal, um dos réu é alemão
outro do Brasil e o objeto do
litigio situa-se no Canadá
domiciliário em Portugal e o réu
é francês e o objeto do processo
está no Canadá
2. O tribunal português é competente?
a. O nosso CPC tem critérios dos
artigos 62º e 63º que nos dizem
quando é que o tribunal
português é competente nestes
casos e temos também normas
da união europeia (regulamento
1215/2012) que contem normas
de competencia internacional
dos tribunais dos diferentes
estados-membros.
i. Logo, os artigos do CPC
aplicam-se apenas
quando não se aplica
este regulamento da
união europeia.
b. Num caso de coligação se o
tribunal competente para um dos
pedidos for o tribunal português
mas para outros dos pedidos não
for o tribunal português, a
coligação dos vários autores ou
dos vários réus não é permitida.
Por isso, este é um pressuposto
para a possibilidade da coligação
– é necessário que o tribunal
português seja
internacionalmente competente
para todos os pedidos.

ii. Competência da matéria – agora já na ordem


interna, os tribunais portugueses estão divididos
em função das matérias, temos várias ordens de
tribunais em que se incluem tanto os tribunais
judiciais como os comuns, e temos para alem dos
tribunais judiciais os tribunais administrativos,
constitucional, de contas – são tudo ordens de
tribunais onde se incluem também os tribunais
judiciais com competencia residual.
1. Os tribunais judiciais são os tribunais
com competência comum ou residual
para todas as matérias. Tudo o que não
seja da competencia das outras ordens
de tribunais caí na competencia dos
outros tribunais judiciais – são aqueles
que têm um maior volume de trabalho.
a. Dentro dos próprios tribunais
judiciais e precisamente por
terem um maior volume de
trabalho, os tribunais judiciais
estão especializados/organizados
em função da matéria da
especialização em função das
matérias. Por isso, dentro dos
tribunais judiciais temos os
tribunais de família e menores,
os tribunais criminais, tribunais
marítimos, etc, e temos também
tribunais judiciais com
competência residual que são os
tribunais cíveis (não têm uma
competência para nenhuma
matéria em especial).
2. Para ser permitida a coligação, tenho de
necessariamente ter um mesmo tribunal
materialmente competente para os
vários pedidos – se para um dos pedidos
tenho como competente um tribunal de
competência especializada e para o outro
um tribunal de competência genérica,
não posso coligar as várias partes na
mesma ação.
a. Exemplo 1: se para um dos
pedidos é competente um
tribunal adminsitrativo e para o
outro pedido é competente um
tribunal judicial – não pode haver
coligação
b. Exemplo 2: para um dos pedidos
é competente o tribunal de
família e menores e para o outro
dos pedidos é competente o
tribunal marítimo – não pode
haver coligação, mesmo que haja
a mesma causa de pedido, os
mesmos factos ou qualquer
relação de prejudicialidade e
dependência.
3. Este limite é intransponíveis porque se os
tribunais estão organizados em função da
matéria para melhor decidirem, permitir
que um pedido que seja da competência
de um tribunal especializado seja julgado
por um tribunal comum é degradar a
qualidade do conhecimento desse
pedido.
4. Não quer dizer que depois o outro autor
ou o réu não possa vir propor uma ação
na mesma, apenas não podem propor em
conjunto.

iii. Em razão da hierarquia


1. Os tribunais estão divididos entre:
a. assuntos de competência dos
tribunais de 1ª instância
b. assuntos de competência dos
tribunais da Relação
c. assuntos de competência do
Supremo Tribunal de Justiça.
2. Por princípio todas as ações são
propostas pela primeira vez nos tribunais
de 1ª instancia/de comarca e há ações
que pela primeira vez devem ser
instauradas nos tribunais superiores (é o
caso das ações de comunicação contra
orgãos de soberania ou magistrados
judiciais)
3. Não posso coligar vários autores ou
vários réus quando a ação contra um
seria da competência do tribunal de
primeira instância e contra outro seria da
competência do tribunal da Relação ou
do STJ.

3. Compatibilidade substantiva dos pedidos - Artigo 555º


i. O artigo está previsto a propósito da chamada cumulação simples de
pedidos (≠ da coligação).
1. A cumulação simples de pedidos existe quando há legitimidade
singular, mas o autor formula vários pedidos contra o mesmo réu
– não há pluralidade de partes, mas há pluralidade de pedidos.
2. A propósito desta cumulação simples regulada na fase dos
articulados da marcha do processo (artigo 555º e ss.), o legislador
exige aqui um requisito que faz sentido aplicar por maioria de
razão também à coligação, porquê?
a. Porque na coligação existe necessariamente também uma
pluralidade de pedidos.
b. Não apenas pluralidade de partes, mas por maioria de
razão também pluralidade de pedidos e, portanto,
nalguma forma aquilo que é aplicável à cumulação
simples de pedidos, tem de ser também aplicado à
coligação.

b. Compatibilidade substantiva = A procedência de um dos pedidos não pode


conduzir à improcedência do outro.
i. Exemplo 1: numa mesma ação em que A vende a B uma determinada
coisa e depois B vende a C. com isto o A demanda B e C: contra B pede a
anulação da compra e venda celebrada com C; e contra C pede a
declaração da validade da compra e venda celebrada entre B e C
1. Estes dois pedidos não podem proceder ao mesmo tempo porque
são incompatíveis (ou procede um ou o outro): se o autor está a
formular contra os dois numa mesma ação os dois pedidos para
que procedam isto significa que não se verifica este requisito da
coligação da compatibilidade substantiva.
2. Os dois pedidos têm de puder proceder ao mesmo tempo.
ii. Exemplo 2 (não com pluralidade de partes, mas apenas um réu e autor): A
diz que celebra com B um contrato e depois pede o cumprimento do
contrato e a resolução do contrato como pedidos cumulativos
1. Temos uma incompatibilidade substantiva, os dois pedidos não
podem proceder ao mesmo tempo: ou se anula ou contrato ou
exige-se o cumprimento deste, não é possível que os dois
aconteçam ao mesmo tempo.
iii. Exemplo 3: A é casado com B e vai pedir ao tribunal que decrete o
divórcio (ou seja, dissolva o casamento com fundamento no divórcio) e
para além disso que anule o casamento
1. Os dois pedidos são incompatíveis porque ou se anula o
casamento ou se dissolve o casamento por razoes
supervenientes.

iv. Aplica-se este requisito por maioria de razão à coligação de autores e réus

Qual a consequência da não verificação destes requisitos?

Vai depender dos requisitos violados:

 Se for a violação do requisito da ligação dos pedidos (da conexão do artigo 36º):
o Nos termos do artigo 577º alinea f) estamos perante uma exceção dilatória que
como consequência, nos termos do artigo 278º, gera a absolvição do réu da
instância
o No entanto, o artigo 38º prevê a possibilidade de sanação desta exceção dilatória
ao estabelecer que ocorrendo coligação sem que entre os pedidos exista a
conexão exigida pelo artigo 36º, o juiz notifica o autor para indicar qual os pedidos
pretende ver apreciado. – se não existir esta relação, o autor pode ao menos
escolher um dos pedidos para que o tribunal conheça de um deles.

 Se for a violação do critério da competência absoluta dos tribunais – ou seja, se um dos


pedidos não for da competência daquele tribunal em que está proposta a ação em função
da competencia internacional, matéria ou hierarquia:
o estamos perante uma incompetência absoluta com as consequencias que daí
resultam, tal como previsto no artigo 96º alinea a) o que, nos termos do artigo
99º, acaba por gerar a absolvição do réu na instância.

 Se for a violação da identidade das formas de processo:


o Existe um erro na forma do processo pelo menos quanto a algum dos pedidos,
regulado no artigo 193º CPC embora a estatuição que está prevista relativamente
ao erro na forma de processo em que diz que o tribunal deve corrigir e adaptar o
erro na forma do processo não pode ser aqui aplicado porque temos um dos
pedidos que segue a forma de processo correta e os outros não, portanto o
tribunal não vai puder adaptar.
 O que se considera existir neste caso entao? Considera-se existir uma
exceção dilatória inominada que deve conduzir também à absolvição do
réu da instância quanto àqueles pedidos que não seguem a forma de
processo adequada.

 Se for a violação do requisito da compatibilidade substantiva entre os pedidos:


o considera-se que existe uma ineptidão da petição inicial (artigo 186ºnº2 alinea c)
CPC), portanto se formulo pedidos que são contraditórios entre si isso significa que
a petição inicial é inepta, ou seja, não está apta para exercer a sua função. De
acordo com o artigo 278º alinea b) como consequência da ineptidão da petição
inicial.

Litis consórcio: situações em que existe uma pluralidade de partes mas apenas 1 relação material
controvertida

Exemplo 1: relação de crédito, empréstimo celebrado entre duas partes


Exemplo 2: – mais comum: situações em que existe um contrato com várias partes, constitui a
origem daquela ação se vendo um imóvel a B e C e estes não cumprem – a ação que instauro
contra os dois estabelecerá um litis consórcio porque há apenas um contrato com 3 partes desse
mesmo contrato, portanto, uma identidade de relação material controvertida.

 No litis consórcio a questão coloca-se de forma diferente daquela que se põe na coligação.
o porque à partida uma vez que estamos perante apenas uma relação material
controvertida, já está garantida a ligação entre as várias partes. Se todas fazem parte
de uma mesma relação jurídica então não se justifica exigir todos os requisitos que são
exigidos para a coligação porque alguns vão estar já garantidos (conexão entre os
pedidos, competência, incompatibilidade substantiva).
 A questão põem-se em termos de saber se: havendo várias partes de uma mesma relação
jurídica, têm de estar todas presentes ou se basta estar uma presente para garantir a
legitimidade?
 Exemplo – caso de compra e venda em que temos dois vendedores (A e B) e o
comprador não paga o preço (C).
o O A tem de se associar a B que também é titular da relação controvertida ou pode
sozinho de forma legitima propor a ação contra C (apenas A apesar de serem dois
elementos)?
o Temos de distinguir entre dois casos:
 Litis consórcio voluntário – quando basta a presença de uma das partes da
relação jurídica para garantir a legitimidade das partes
 Neste caso o autor sozinho poderia propor a ação contra o réu e seria
parte legítima
 Litis consórcio necessário – exige que estejam em juízo todas as partes da
relação controvertida para garantir a legitimidade de todas as partes
 Neste caso, A e B teriam de propor a ação contra o réu juntos para
serem partes legítimas.
Assim, a dúvida que se coloca é saber se o litis consórcio deve ser voluntário ou necessário:

Artigo 32º - regra é a de que o litis consorcio é voluntário:

 O legislador optou por desonerar as partes do encargo que é só poderem ir a juízo


também na presença das outras partes todas da relação controvertida. Impor o litis
consorcio necessário iria dificultar a vida às partes neste sentido porque teriam de estar
todas juntas em juizo: o autor teria de convencer o outro autor a ir a juízo com ele ou tinha
de se chamar os réus todos quando se calhar há um deles que está em parte incerta, etc.
 No entanto, o tribunal só pode conhecer da quota parte do interesse da parte que está
em juizo – não faria sentido dizer que o litis consórcio é voluntário mas que apenas aquela
parte pode conseguir tudo.
o Exemplo: dois vendedores que vendem a mesma coisa a um comprador que não
paga o preço.
 temos uma relação jurídica com várias partes e a pergunta é: este autor
tem de chamar o outro vendedor? Já sabemos que não tem porque a
regra é do litis consórcio voluntário.
 No entanto, se o preço da compra e venda for de 5 mil euros, ele não vai
poder ter uma sentença no valor dos 5 mil euros porque só está ali uma
das partes vendedoras. Portanto o que o tribunal tem de fazer mesmo que
o autor peça os 5 mil euros, é apenas conhecer da quota-parte dos 2 mil e
500 euros.
 Depois se o outro vendedor quiser pode propor outra ação.

 Nº2 artigo 32º - prevê casos em que se a lei ou negócio permitir que o direito seja exercido
por um só ou que a obrigação comum seja exigida de um só dos interessados, basta que
um deles intervenha para assegurar a legitimidade
o Ou seja, há casos em que apesar de intervir apenas uma das partes na relação
jurídica controvertida o tribunal pode conhecer da totalidade do pedido.
o A lei ou o negócio podem permitir que o tribunal conheça do todo o interesse em
causa:
 Exemplo 1: empréstimo que A faz a B, C e D no valor de 10 mil euros, tinha
ficado convencionado que a obrigação que resulta para os devedores é
uma obrigação solidária.
 Se ficar convencionado que a obrigação é solidária, ainda que o A
demande apenas um dos devedores o tribunal pode conhecer da
totalidade da dívida dos 10 mil euros, não precisa de conhecer por
quotas-partes. Porquê? Porque ficou convencionado entre as
partes que a regra seria a solidariedade.
o Depois o direito de regresso vai ter de ser discutido numa
ação à parte porque apenas as partes que estão em juízo
ficam vinculadas pelo caso julgado. Se o devedor quiser
pode é chamar os outros a juízo na ação ficando estes
vinculados para efeitos de direito de regresso, mas se não
o fizer terá de discutir o direito de regresso noutra ação.
o (e não a conjunção que é a regra na falta de estipulação
das partes) – logo é um caso em que o negócio entre as
partes (a convenção entre as partes) permite que o
tribunal, apenas estando presente um deles, conheça de
toda a quota-parte, de todo o interesse que está ali em
causa.
 Exemplo 2: comproprietários de uma coisa em que um deles instaura uma
ação de reivindicação sozinho.
 Nos termos do 32ºnº1 o tribunal só podia reconhecer a
reivindicação daquela quota-parte. No entanto, o artigo 1405ºnº2
CC permite que apenas um dos comproprietários reivindique a
coisa na sua totalidade de um terceiro. A lei permite que o
tribunal conheça da totalidade da quota-parte.
o Mais um caso de exceção da regra que o tribunal só
conhece da quota-parte no caso de litis consórcio
voluntário.

Artigo 33º - casos de exceção em que o litis consórcio é necessário:

 Há casos em que o legislador determinou que o litis consórcio é necessário: ou seja, só


está garantida a legitimidade das partes se estiverem em juízo todas as partes da relação
material controvertida.
 O que resulta é que existem 3 fontes de litis consórcio necessário, sob pena de
ilegitimidade – artigo 33º:
o Quando a lei o imponha: litis consórcio necessário legal
o Quando o negócio juridico celebrado entre as partes o imponha: litis consórcio
necessário convencional
 ou seja, as partes convencionaram ao abrigo da sua autonomia privada
que assim seria
o Quando a natureza da relação jurídica o imponha: litis consórcio necessário
natural
 Perante qualquer uma destas 3 fontes o litis consórcio pode ser necessário

1)Litis consórcio necessário legal (Nº1): existe sempre que a lei exija que estejam presentes todos
em juízo para garantir a legitimidade.

 Exemplo 1: sub-rogação do credor / devedor.


o Situação em que o devedor1 tem créditos perante terceiro e que está numa
passividade, no fundo, que não promove diligentemente a cobrança dos seus
créditos e o credor desse devedor1 pode substituir-se para conseguir a cobrança
desses mesmos créditos.
o A questão que se coloca é saber nesta relação juridica de sub-rogação (em que
está em jogo o exercicio desta relação controvertida de sub-rogação) quem é que
tem de estar presente na ação de sub-rogação: o credor tem de estar e o terceiro
devedor também, a questão é se o devedor primitivo também de estar ou não em
juízo.
 O artigo 608º CC – é necessário que estejam as 3 partes em juízo
obrigatoriamente, “o devedor também tem de ser citado e estar na ação”

 Exemplo 2: ações que têm de ser proposta por ambos ou contra ambos os cônjuges,
situações em que está em causa bens comuns ou próprios consoante o regime de bens.
 Artigo 34ºnº2 CPC prevê estes casos, de litis consórcio necessário ativo ou
passivo porque nesses casos é necessária a presença dos dois.
o Ambos os cônjuges são titulares da relação material controvertida mas a lei não
permite que esteja presente apenas um a discutir a sua quota-parte, o interesse
tem de estar nos dois nos casos do artigo 34º CPC.
AULA 19/10/2023

Aula passada:

O critério de aferição da legitimidade singular e plural era um critério diferente:

 Singular – estava em causa a relação material controvertida descrita pelo autor


 Plural – tudo dependia de estarmos perante uma coligação ou um litis consórcio e,
dependendo disso, os requisitos de várias partes estarem presentes em juízo são
diferentes.
o Coligação – existiam várias relações materiais controvertidas e portanto era
necessário a verificação de certos requisitos para ser possível a coligação de
autores ou réus
o Litis consórcio – perante uma mesma relação material controvertida havia uma
pluralidade de partes.
 Regra é do litis consórcio voluntário (perante uma pluralidade de
autores/réus basta que esteja um deles em juízo para garantir a
legitimidade) – artigo 32º
 em pp basta a presença apenas uma das partes da relação
controvertida para garantir a legitimidade, apesar do tribunal
apenas puder conhecer da quota-parte em juízo.
 Apesar de ser litis consórcio voluntário o tribunal por vezes pode
conhecer da totalidade do interesse caso isso resulte da lei ou da
vontade dos interessados (exemplos: obrigação solidária ou
regime da compropriedade)
 Exceção do litis consórcio necessário – artigo 33º (casos é que todas essas
partes têm de estar simultaneamente em juízo para garantir a
legitimidade). Só será necessário caso resulte de uma de 3 fontes:
 Litis consórcio necessário legal
 Litis consórcio necessário convencional
 Litis consórcio necessário natural

2)Litis consórcio necessário convencional (Nº1): que resulta de um acordo das partes

 Pressupõe que as partes tenham acordado entre si que aquele direito só pode ser exercido
ou aquela obrigação exigida, na presença de todos os sujeitos da relação materialmente
controvertida. Que as partes tenham combinado (normalmente em momento anterior ao
litígio) que só é possivel exigir aquela obrigação/exercer o seu direito caso o faça contra as
várias partes.
o Exemplo: contrato entre várias partes, um devedor e vários credores e nesse
contrato há uma clausula que determina que só é possivel exigir a obrigação do
devedor se todos os credores o fizerem em conjunto – convenção que exige a
presença de todos os titulares da relação controvertida, e portanto obriga a um
litis consórcio necessário convencional.
 Esta convenção que impõe o litis consórcio tem de ser uma convenção que tenha efeitos
no plano substantivo, e não no plano exclusivamente processual.
 Isto significa que não é válida uma convenção que diga que se houver um
litígio em tribunal só é possivel exigir a obrigação do devedor se estiverem
todos os credores. – restringe o direito de ação
 Se esta convenção apenas tiver efeitos no plano processual para o
direito de ação ela não é válida. E porquê? Porque o direito de
ação é um direito irrenunciável e não restringível e isso seria uma
restrição do direito de ação.
 Outra coisa diferente é uma cláusula que tenha efeitos no plano
substantivo e consequentemente no plano processual.
 Ou seja, uma cláusula do contrato que diga que no plano
substantivo a obrigação só é exigível por todos, naturalmente que
isso terá efeitos no plano processual mas aqui já não é uma
restrição que apenas limita o direito de ação, é uma mera
consequência.
 Mas não é válida uma cláusula que apenas limite o direito de ação, que
diga que qualquer credor pode exigir do devedor extra-processualmente
mas que no processo têm de estar todos presentes para garantir a
legitimidade - porque isto é uma cláusula com efeitos apenas restritos ao
direito de ação e portanto não se consideram válidos.

3)Litis consórcio necessário natural (Nº2 + º3):

 Sempre que a presença de todos seja imprescindível para que a decisão produza o seu
efeito útil normal, considera-se que têm de estar todos presentes sob pena de
ilegitimidade.
 O nº3 dá a definição de a decisão produzir o seu efeito útil normal:
o (…) sempre que, não vinculando embora os restantes interessados, possa regular
definitivamente a decisão concreta das partes relativamente ao pedido formulado
 “não vinculando embora os restantes interessados”:
 os efeitos vão estar limitados à quota-parte do autor, porque se
proponho a ação apenas contra 1 réu o juiz não vai puder
conhecer da totalidade do pedido se estivermos perante uma
pluralidade de partes do lado passivo mas apenas 1 deles
constituído como réu.
o Esta ação apenas vai produzir efeitos contra o réu em
juízo, o outro não pode ficar vinculado por aquela decisão.
o A sentença apenas produz efeitos relativamente às partes
que estiveram presentes na ação – regra básica do caso
julgado: principio da eficácia relativa do caso julgado (das
sentenças judiciais):
 não posso impor ao que não esteve em juízo
aquela decisão
 critério é, portanto, o do efeito útil normal: que a decisão relativamente apenas àquela
parte que está em juízo possa ser definitiva, possa ser exequível.
 Exemplos que se não estiverem todas as partes em juízo a decisão não é definitiva:
o Exemplo 1: ação de constituição de servidão legal de passagem – temos um prédio
encravado e o prédio dominante. O titular do prédio encravado propõe uma ação
contra o titular do prédio dominante para constituir uma servidão legal de
passagem, mas o prédio dominante pertence a dois comproprietários (temos dois
titulares do prédio dominante) e o autor instaura a ação apenas contra um dos
comproprietários
 Para saber se o autor pode garantir a legitimidade, o exercício que temos
de fazer é verificar se a ação proposta apenas contra um dos
comproprietários, com efeitos limitados à sua quota-parte, vai produzir
efeitos úteis ou não:
 Se o tribunal julgar a ação procedente (tem direito à servidão) e
portanto condenar o comproprietário1 a reconhecer a servidão
legal de passagem e a deixar o autor passar pela sua propriedade,
será que a ação produz o seu efeito útil normal?
o Temos de ver se a decisão é definitivamente exequível e se
permite ao autor passar pelo prédio vizinho:
 No dia em que o autor quiser passar, o
comproprietário1 não vai puder opor-se mas o
comproprietário2 pode opor-se à passagem do
autor.
 Isto significa que o autor não vai conseguir
através da ação de procedência apenas
contra um dos comproprietários o efeito
útil normal daquela decisão (que a
servidão legal de passagem o permita
passar pelo prédio dominante).
o Isto acontece porque a
compropriedade é uma
comunhão de quotas ideias
(presume-se que 50% pertence a
cada um mas não é de uma zona
do terreno delimitada), isto não
aconteceria se cada um dos
comproprietários tivesse quotas
divididas em termos físicos, ou
seja, parcelas de terreno que
pertenciam a cada um deles -
neste caso se a ação fosse
procedente ao menos podia
passar pela parcela do
comproprietário que esteve em
juízo.
 O autor teria de propor uma segunda ação contra
o comproprietário2 para puder passar, mas se
nesta segunda ação a decisão for de
improcedência (que pode acontecer, porque o
tribunal nesta 2ª ação não está vinculado pelo
efeito de caso julgado do decidido na primeira
ação porque estão em causa partes diferentes
apesar do objeto ser o mesmo – os tribunais
podem decidir de formas diferentes) o que vai
acontecer é que a primeira decisão não produza
os seus efeitos uteis normais.
 Este é o critério do litis consórcio necessário natural – ver se a decisão
proferida apenas contra uma das partes da relação material controvertida
pode ou não produzir os seus efeitos.

o Exemplo 2: uma ação de divisão de coisa comum – Temos 3 comproprietários que


têm um determinado terreno dividido partes iguais cada um deles com a sua
quota e um deles quer cessar a situação de comunhão, mas instaura a ação apenas
contra um dos outros 2 comproprietários porque sabe que um deles está de
paradeiro incerto. A instaura a ação apenas contra B e este vem dizer que é parte
ilegítima porque falta o C para se puder decidir a ação.
 O exercício que o tribunal vai ter de fazer para ver se existe um litis
consórcio necessário natural é imaginar que a ação é proposta apenas
contra um deles e é proferida uma decisão de mérito nessa ação e o que o
tribunal vai fazer é, por exemplo, dividir a propriedade em 3 faixas na
horizontal, mas esta decisão não é oponível ao C que não esteve presente.
Quando C chega e vê as faixas dividias, como não está vinculado, para
além de não respeitar aquela decisão vai propor ele uma ação de divisão
de coisa comum ou vai o A propor uma ação de divisão de coisa comum, e
o tribunal na segunda ação (porque não está vinculado pela primeira
decisão) vai dividir o terreno em faixas verticais.
 Estas duas sentenças não podem ser exequíveis as duas, não
produzem o seu efeito útil normal, nem sequer por quotas-partes
porque aqui não podemos distinguir as duas quotas-partes.
 Neste caso, estas duas decisões diferentes não podem cada uma
na sua quota-parte produzir o seu efeito útil normal. Portanto,
entende-se que há um litis consórcio necessário natural – o
tribunal proferiu uma decisão apenas contra um e isso implicava
uma decisão inútil, é isto que o litis consórcio necessário natural
visa evitar.
o Exemplo 3 (um caso em que o mesmo não acontece – ou seja, é perfeitamente
possível executar a sentença em quotas-partes) – temos uma compra e venda com
A vendedor e B e C compradores. A considera que o preço da compra e venda não
lhe foi pago no valor de 20 mil euros e propõe uma ação apenas contra B na
condenação do pagamento dos 20 mil euros. Não sendo a obrigação solidária o
tribunal vai condenar o B apenas no pagamento dos 10 mil euros, apenas vai
conhecer da quota-parte do B. A não fica satisfeito e propõe uma segunda ação
contra o C para o condenar a pagar os 10 mil euros que faltam e nesta 2ª ação o
tribunal absolve o C no pagamento do valor restante.
 Será isto um litis consórcio necessário natural?
o Não é, porque cada uma das sentenças na sua quota-
parte, apesar de serem contraditórias no plano teórico
(porque são – faz muita confusão que com base na mesma
causa de pedido, factos, etc, que os dois tribunais tomem
decisões diferentes) são as duas exequíveis nas suas
quotas-partes, cada uma delas produz o seu efeito útil
normal e o litis consórcio necessário natural não é para
garantir a não contradição dos julgados (para isso temos
outros mecanismos), é apenas para garantir a
possibilidade de exequibilidade das decisões.
 Para percebermos se as duas decisões são exequíveis separadamente
temos de pressupor a hipótese delas serem contrárias/diferentes – se as
duas forem favoráveis e condenarem as partes não se levanta grande
questão – onde se levanta a questão é na hipótese da segunda decisão ser
diferente: se é possível executar cada uma na sua quota-parte em sentidos
diferentes e percebemos que neste caso é possível, embora teoricamente
contraditórias as duas decisões, elas são exequíveis nas suas quotas-partes
e portanto considera-se que este não é um litis consórcio necessário
natural.

Haveria toda a vantagem que os dois compradores estivessem para evitar a contradição de
julgados, mas esse não é o critério do litis consórcio necessário natural porque exigir a presença de
todos vai limitar o exercicio do direito de ação: há situações em que as partes da relação material
controvertida podem ser 30 e exigir ao autor que se junte a outros autores para propor aquela
ação ou que demande todos os réus significa uma limitação do direito de ação, e por isso é que a
interpretação do litis consórcio necessário natural tem de ser uma interpretação necessariamente
restritiva.
Depois temos recursos de uniformização de jurisprudência e outros mecanismos que permitem
depois a uniformização dos julgados, mas para a exequibilidade das sentenças temos apenas este
critério do litis consórcio necessário natural.
Quais são as consequências da ilegitimidade?

(resumo do que está para trás:

Em relação á ilegitimidade singular:

 já sabemos que a consequência é a absolvição do réu da instância – consequência normal


da falta de um pressuposto processual/ existência de uma exceção dilatória – e esta
ilegitimidade não é sanável porque isso implicaria substituir as partes.

Relativamente à ilegitimidade plural:

 Na coligação
o o que está em causa em termos de ilegitimidade é saber se estão verificados os
pressupostos para instaurar a ação em coligação
 As consequências da não verificação dos pressupostos são diferentes
consoante o pressuposto que falte)
 No Litis Consórcio:

ILEGITIMIDADE NO LITIS CONSÓRCIO:

 Quando estamos perante um litis consórcio necessário e está apenas em juízo alguma
parte da relação material controvertida (claro que quando o litis consórcio é voluntário
não se coloca nenhuma questão de legitimidade plural, quando muito pode-se colocar
uma questão de legitimidade singular).
o A ilegitimidade plural no litis consórcio necessário é sanável:
 Nos termos gerais do artigo 6ºnº2: “o juiz providencia oficiosamente pelo
suprimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis de sanação,
(…), quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas
partes, convidando estas a praticá-lo”
 O juiz vai convidar as partes que estão em juízo a chamarem
aquelas que faltam e que deviam estar em juízo para que esteja
respeitado o litis consórcio necessário.
 O juiz não pode chamar (temos a obediência ao
princípio do dispositivo) o que vai fazer é convidar
a parte interessada a chamar a juízo as partes que
ali faltam, no fundo, os outros titulares da relação
material controvertida sob pena de absolver o réu
da instância.
 A parte interessada a chamar aqueles que faltam
é o autor seja a ilegitimidade do lado ativo ou
passivo – só o autor é que tem interesse em que o
réu não seja absolvido da instância e em que se
possa continuar com a ação.
o Assim, vai convidar o autor a chamar os outros autores
(ilegitimidade do lado ativo) ou os réus (ilegitimidade do
lado passivo). – será isto possível depois da ação
instaurada? Porque o momento da petição inicial é o
momento da identificação dos elementos essenciais da
causa sendo que estes são os sujeitos, o pedido e a causa
de pedido e existe o princípio da estabilidade da instância
nos termos do qual em princípio os elementos essenciais
da causa se devem manter os mesmos (artigo 260º CPC).
No entanto, a parte final deste artigo 260º determina uma
exceção: “salvas as possibilidades de modificações
consignadas na lei”.
 Quanto aos sujeitos há casos em que a lei permite
a alteração dos sujeitos da ação (alteração não é
no sentido de substituição porque isso não é
possível, o autor não pode substituir as partes
inicialmente identificadas) – o autor pode
acrescentar partes ao processo sendo uma das
razões precisamente para dar a possibilidade do
suprimento da ilegitimidade resultante do litis
consórcio necessário.
 De forma superveniente há a
possibilidade de haver uma alteração da
instância no que respeita aos elementos
subjetivos de forma a sanar a
ilegitimidade plural.
 Estes casos de intervenção de partes que
não o eram desde o inicio mas que são de
forma superveniente, encontra-se nos
artigos 311º e ss. através da figura da
“intervenção de terceiros”:

Assim, a forma de sanação da ilegitimidade plural vai ser:

Intervenção de terceiros – artigos 311º e ss.

Consagra os casos em que é possível que terceiros venham a juízo para ser partes não o tendo sido
inicialmente.

Este regime prevê dois critérios de distinção/classificação da intervenção de terceiros e estes


criterios são: por um lado a ligação do terceiro com o objeto do litigio e por outro, o critério da
iniciativa da intervenção.

 Critério da conexão do terceiro com o objeto do litígio:


 O terceiro pode intervir na ação como interveniente principal, ou seja,
vem assumir um papel de parte principal ao lado do autor ou réu – vem a
processo mais um autor ou mais um réu.
 O terceiro pode vir a juízo como interveniente acessório, ou seja, há um
terceiro que intervém como parte com um interesse dependente da parte
principal mas subordinando a essa parte principal – intervém, no fundo,
como auxiliar.
 Exemplo: casos de direito de regresso – numa ação pedem a
condenação de A no pagamento de uma determinada
indemnização e A considera que se for condenado tem o direito de
regresso em relação a B que foi causa do seu incumprimento. A
pode chamar o B a intervir nesta causa como parte acessória do
réu para ficar vinculado pelo caso julgado da sentença que seja
proferida naquela ação.
o Intervém como parte acessória porque relativamente a
quem está a ser pedida a condenação naquela ação é
apenas o devedor principal que eventualmente,
dependendo do conteúdo da decisão, poderá fazer atuar o
seu direito de regresso em relação ao terceiro.
o Por isso é que interessa para efeitos de âmbito de caso
julgado que este terceiro esteja na ação mesmo como
parte acessória.

 O terceiro pode intervir ainda como opoente através da figura da


oposição:
 Significa que o terceiro intervém na ação assumindo um papel
diferente do autor e do réu, tem um terceiro interesse
incompatível com os interesses do autor e do réu.
 Exemplo: ação de reivindicação de A contra B – os dois alegam ser
os proprietários e há um C que se considera ele proprietário, sabe
que a ação está pendente e vem intervir nessa ação como opoente
dizendo que o imóvel não pertence a A ou B, mas que lhe
pertence a si.
o Aqui não é parte principal nem acessória (porque não se
associa a nenhuma das partes), mas é um terceiro.

o A forma de sanar o litis consorcio necessário que não foi respeitado será através
da intervenção principal. É necessário para sanar a ilegitimidade que intervenha
um terceiro quer ao lado do autor ou do réu como parte da relação material
controvertida.

 Critério da iniciativa da intervenção, a intervenção pode ser:


 Uma intervenção espontânea
 É aquela que ocorre por iniciativa do interveniente
 Uma intervenção provocada
 Resulta de um requerimento de uma das partes que já está em
juízo.

 A forma de sanação da ilegitimidade plural no caso de litis consórcio (a intervenção


daquele que falta em juízo) tem de ser uma intervenção principal e será provocada pelo
autor (parte a quem o juiz convidou para sanar) – artigo 316º CPC
o Nº1 – prevê a figura para sanação da ilegitimidade neste caso.
o Nº2 – permite nos casos de litis consórcio voluntário, a parte se quiser pode a
posteriori chamar também outras partes da relação material controvertida

 Estes dois critérios podem cruzar-se (nos artigos 311º e ss. vemos estes cruzamentos)
 posso ter uma intervenção principal que seja espontânea ou provocada
 posso ter uma intervenção acessória que seja espontânea ou provocada
 apenas a oposição é que em regra é espontânea, porque nenhuma das
partes tem interesse em chamar o opoente – pode ter interesse no caso
de querer estender o caso julgado, mas é menos frequente

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 6: Interesse em agir)

Pressuposto do interesse em agir: necessidade de intervenção dos tribunais perante um


determinado litigio

 Consiste na necessidade justificada do autor de recorrer ao processo, da necessidade


fundada e justificada de se instaurar uma determinada ação.
o Daqui resulta que tem de haver uma situação objetiva de carência para ir a
tribunal – não posso quando nada faz prever a violação ou a ameaça ao meu
direito recorrer aos tribunais, o tribunal não é um órgão de consulta jurídica.
 Exemplo: quero saber que direitos é que vou ter quando determinada
pessoa morrer – não posso propor uma ação em tribunal só porque tenho
dúvidas quando posso consultar um advogado.

Tem de existir portanto uma situação objetiva de carência que justifique eu recorra a tribunal. –
por isso é que se considera que o interesse em agir apesar de não estar expressamente previsto no
CPC (os outros pressupostos processuais estavam no CPC na lista das exceções dilatórias do artigo
577º e vimos lá todos os pressupostos processuais estudados até agora) o artigo 577º é um artigo
meramente exemplificativo porque diz que são dilatórias “entre outras”. Por isso considera-se que
O interesse em agir é um pressuposto processual inominado, que não está expressamente
previsto, mas a sua razão de ser leva também na sua ausência á absolvição do réu da instância.

Esta opinião não é unanime, nem toda a doutrina considera que o interesse em agir é um
pressuposto processual autónomo:

 Representativo desta posição de que o interesse em agir não é um pressuposto processual


autónomo é o professor Castro Mendes:
o Considera que não se deve considerar o interesse em agir como um pressuposto
processual autónomo não porque não seja relevante ou que não seja necessário
que as partes tenham de ter necessidade de recorrer a juízo para recorrer ao
processo, mas porque a consequência da falta de interesse em agir segundo este
prof. não deve ser a absolvição do réu da instância mas deve ser a condenação
em custar daquele que recorre a juízo sem necessidade.
o Logo, ninguém diz que a necessidade de recorrer a juízo não é relevante apenas
diz que a consequência deve ser outra, logo não sendo a consequência a
absolvição do réu da instância, não será um pressuposto processual.

Razões pelas quais a maioria da doutrina considera que o interesse em agir deve ser um
pressuposto processual:

 1º - razão de interesse público - Tem de existir uma racionalização do recurso à justiça:


o ou seja, não faz sentido que os tribunais sejam órgãos de consulta jurídica que
deem resposta a caprichos do autor mesmo sem necessidade de recorrer a juízo.
 Assim, é imperativo que haja este requisito de que o autor só possa
recorrer a tribunal quando haja uma necessidade séria e objetiva de assim
acontecer.

 2º - razão de interesse privado de tutela do réu - está subjacente a este pressuposto uma
razão de proteção do réu:
o a parte frágil na propositura de uma ação não é o autor (apesar de ser este que
alega a violação do seu direito) mas o réu porque é este que se vê surpreendido
pela propositura da ação, que se vê na necessidade de apresentar imediatamente
a sua defesa num prazo curto e, portanto, por tutela do réu não se justifica que
sem necessidade o autor possa importunar o réu.

Quando falamos de interesse em agir, normalmente falamos do lado do autor porque é este que
propõe a ação – automaticamente, a partir do momento em que o autor propõe a ação existe
interesse em agir da parte do reu no sentido que este tem interesse em contestar a ação, em
recorrer a juízo um interesse absolutamente fundado – é um dado adquirido da parte do réu mas
não do autor.

 No entanto, também se pode considerar o interesse processual do réu nas situações em


que o autor pretenda desistir da ação.
 Exemplo: autor instaura a ação mas depois não pretende continuar com
essa ação.
o Em que medida é que nestes casos o réu tem ou não interesse em agir na
manutenção dessa ação? – temos de distinguir duas desistência diferentes:
 Desistência do pedido – desistir do direito que o autor está a fazer valer,
tem efeitos de caso julgado material (= o autor não pode propor outra
ação com o mesmo objeto). No fundo, o réu fica definitivamente
deliberado daquela ação.
 Artigo 268ºNº2:
o A desistência do pedido é livre.
 É uma renuncia ao direito que se faz valer, protege
o reu porque este não vai puder ter uma mesma
ação instaurada contra ele sobre o mesmo objeto,
logo aqui considera-se que não há interesse em
agir da parte do réu.
o Caso em que haja pedido reconvencional: neste caso
existe um interesse em agir do réu, mas é como autor. No
fundo quando o réu formula um pedido reconvencional é
autor simultaneamente e por isso, não faria sentido que a
desistência do pedido afetasse também o pedido
reconvencional.
 Desistência da instância – desistir apenas da relação processual, significa
que o efeito do caso julgado, uma vez que é uma decisão formal, é
meramente formal (= não produz efeitos fora do processo e o autor pode
voltar a propor uma nova ação com o mesmo objeto)
 Artigo 286ºnº1:
o A desistência da instância depende da aceitação do réu.
 Porque se o réu pode voltar a ter uma ação igual
instaurada contra ele se calhar prefere que aquela
ação chegue até ao fim do que estar a sujeitar-se a
ter uma nova ação instaurada contra ele.

o Logo, o caso em que se dá relevância autónoma ao interesse em agir da parte do


réu é no caso da desistência da instância do artigo 286ºNº1

Como é que se distingue o interesse em agir dos outros pressupostos processuais:

 Capacidade judiciária, personalidade judiciária e patrocínio judiciário – no fundo são


pressupostos que estão ligados às pessoas dos litigantes. Ou seja, estes pressupostos são
aferidos em função de cada parte.
 Vs interesse em agir – já estamos a falar da relação com o objeto do litígio, já não é o
pressuposto que diga respeito exclusivamente às partes. Não posso saber se a parte tem
interesse em agir ou não se não olhar para a sua relação com o objeto do litigio. Logo,
nesse aspeto é um pressuposto processual mais parecido com a legitimidade do que com a
personalidade, capacidade ou patrocínio.

 Legitimidade – é o pressuposto processual mais parecido com o processo em agir. A


legitimidade implica uma relação direta com o litigio em termos de titularidade da relação
material controvertida. As partes podem ser titulares da relação material controvertida,
mas não terem interesse em agir.
o Exemplo: uma compra e venda em que o comprador vem pedir a condenação do
réu no pagamento do preço, no entanto, vem alegar e assumir que ainda não
passou o prazo para pagar o preço, ainda não foi violado o direito. Vem pedir a
condenação do comprador no pagamento do preço, mas ainda não foi violado o
direito.
 As partes são legitimas, são titulares da relação material controvertida tal
como descrita pelo autor (são comprador e vendedor), mas o autor não
tem interesse em agir porque o seu direito ainda não foi violado e não
estamos perante aqueles casos de possibilidade de condenação para o
futuro que vimos que eram casos absolutamente excecionais.
 Não há uma razão justificativa para recorrer a juizo, no entanto, isto não
significa que as partes chamadas a juizo não sejam partes legítimas.
o A legitimidade afere-se pela relação das partes com a relação material
controvertida
o O interesse em agir afere-se com a relação da parte (neste caso apenas do autor)
com a sua necessidade ou não de recorrer a litígio.
o Ambas têm a ver com o objeto, mas aferem-se de formas diferentes:
 Logo, posso ser parte legítima e não ter interesse em agir e, ter interesse
em agir e não ter legitimidade no caso da ilegitimidade plural (posso ter
interesse em agir porque a ação foi violada mas havendo um litis consórcio
necessário sou parte ilegítima para atuar sozinho).

Como é que se afere no caso concreto se existe ou não interesse em agir?

Depende do tipo de ação que está em causa: tenho de ir a cada tipo de ação (ação de condenação,
constitutiva ou de simples apreciação) para ver o que está aí em causa e saber quando é que existe
interesse em agir:

 Ações de condenação – as mais frequentes


o Uma vez que o que se pretende é a condenação do réu no cumprimento da
realização de uma prestação uma vez reconhecida a violação do direito, fica
patente que o interesse em agir resulta da violação do direito como regra.
 Para serem instauradas estas ações é necessário, como regra, que o direito
tenha sido violado, precisamente porque temos o pp da proibição da
autotutela e portanto, uma vez que não é licito a ninguem fazer justiça
pelas suas proprias mãos o recurso ao direito de ação é a única forma
possível de conseguir a restauração do meu direito, e, portanto, a violação
do direito é no fundo a garantia de uma existência de interesse em agir
numa ação de condenação.
 No entanto, temos exceções: sabemos que existem casos excecionais que
são os casos previstos nos artigos 557º e 610º - casos em que é possível
instaurar ações de condenação para o futuro - é mesmo prescindido a
violação do direito e o legislador admite que as ações possam ser
instauradas.
 Isto significa que o legislador nestes casos prescindiu do interesse
em agir do autor permitindo-lhe instaurar ações sem interesse em
agir? Não (para a doutrina maioritária):
o O professor Castro Mendes entende que sim:
 Um dos argumentos que o professor adianta para
dizer que o interesse em agir não é pressuposto
processual são precisamente as ações de
condenação para o futuro porque vem dizer que
nesses casos mesmo sem necessidade de
recorrer a juizo o legislador permite que o autor
instaure uma ação em juizo.
 Sendo claro que interesse em agir nas
ações de condenação só existiria caso o
direito já tivesse sido violado, entao deve-
se considerar que a possibilidade de
existirem ações de condenação para o
futuro podendo o tribunal julgá-las seria
uma manifestação de que o interesse em
agir não era um pressuposto processual,
porque se fosse o legislador não admitia
ações de condenação para o futuro.
o A doutrina que defende que o interesse em agir é um
pressuposto processual, nomeadamente o professor
Antunes Varela e toda a doutrina mais atual entendem
que a resposta é não:
 1º argumento – as ações de condenação para o
futuro não são uma regra e só podem ser
admitidas nos casos expressamente determinados
na lei
 2º argumento – os casos especiais expressamente
previstos por lei foram previstos porque aí existe
um interesse em agir diferente das outras
situações. Que interesse em agir é este?
 Artigo 557º Nº1: prevê a possibilidade de,
não cumprida uma obrigação periódica, o
autor poder pedir não só as vencidas
como as vincendas.
o Acontece assim porque há uma
probabilidade grande de uma vez
não cumprida uma, não serem
cumpridas as outra. Ainda que
residualmente, pode haver aqui
um interesse em agir da parte do
autor que pede não só as
prestações vencidas como as
vincendas.
 Artigo 557º Nº2: nos contratos de longa
duração em que se prevê que causaria
prejuízo à parte não conseguir o título
executivo logo no momento da violação
do contrato.
o Aqui está também um interesse
em agir relevante.

Assim, os casos do artigo 557º são casos


pontuais em que se justifica a necessidade
de recorrer a juízo, logo não se pode dizer
que não há interesse em agir, este é
apenas diferente.

 Artigo 610º: permite que o tribunal


condene a parte no cumprimento da
obrigação mesmo que ela não esteja
vencida.
o Razão de ser é a razão da
economia processual porque este
artigo está previsto no capitulo da
sentença o que significa que ele
não vale sem mais para todo o
processo, só vale para o caso em
que o juiz chega à fase da
sentença e se aperceba que afinal
não havia interesse em agir.
o O artigo 610º diz que o tribunal
condena na mesma sem prejuízo
do prazo - significa que nesse
caso, no fundo, a economia
processual superou a falta de
interesse em agir.
Assim, no artigo 610º não há interesse
em agir, há falta de interesse em agir, mas
aí o legislador afastou a consequência da
absolvição do réu da instância por razões
de economia processual.

 Assim, nenhuma destas possibilidades de


condenação para o futuro é justificação
para considerar que o interesse em agir
não é um pressuposto processual.
o Aliás, o artigo 610º para
compensar esta possibilidade de o
tribunal condenar mesmo na falta
de interesse em agir, o nº3
sanciona o autor dizendo que este
é condenado nas custas e a
satisfazer os honorários do
advogado do réu – aqui a
consequência é o pagamento das
custas.
 Todos os outros casos em que não haja
interesse em agir ou que o tribunal se
aperceba disso antes da sentença, absolve
o réu da instância como consequência da
existencia de uma exceção dilatória
inominada.
AULA 23/10/2023

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 6: Interesse em agir)

(resumo da aula passada)

É um pressuposto processual inominado porque não vem na lista das exceções dilatórias do artigo
577º (não vem expressamente referido), mas como esta lista é meramente exemplificativa
havendo a possibilidade de existirem outros pressupostos.

O interesse em agir é a necessidade de recorrer a juizo – Necessidade que o autor tem de recorrer a
juizo (embora do lado do reu tambem há casos em que se justificava contemplar o interesse em
agir para o seu lado).

 Isto não é unanime:


o Há autores que são representados por uma voz minoritária na doutrina que é a do
prof Marques Pimento:
 Entendem que o interesse em agir não é um pressuposto processual
porque em termos genéricos entendem que há casos em que não existe o
interesse em agir e o legislador admite essas ações embora sancione o
autor com a sanção do pagamento das custas, mas admite-a.
 Era o Prof. Castro Mendes que dizia isto e dizia-o sobretudo a
proposito das ações de condenações para o futuro – No entanto,
vimos na aula passada que mesmo nestas ações do artigo 557º
existia uma razão para o legislador admitir a condenação para o
futuro e os casos do artigo 610º só valiam por razoes de economia
processual e, por isso, não é que o interesse em agir não fosse um
pressuposto processual mas aí seria perante o CPC.
 O artigo 610º não se aplica a outras fases do processo, ou seja, se
o juiz se aperceber noutras fases do processo que de facto não
houve violação daquele direito entao deve absolver o reu com
fundamento em falta de interesse em agir.

Concretização do interesse em agir a propósito de cada tipo de ação: Como é que em concreto em
cada uma víamos que o autor tinha interesse em agir ou necessidade em juizo para instaurar
aquela ação.

 Ações de condenação (continuação):


o Salvo aquelas exceções de condenação para o futuro que a lei admite, o interesse
em agir resulta da violação do direito
 Portanto, se numa ação de condenação, o autor vem invocar que o réu
violou o seu direito então automaticamente isso justifica a existencia do
interesse em agir.
 O principio é o da hétero-tutela, portanto não podendo o autor fazer
justiça por proprias mãos e não tendo este obrigação de tentar resolver o
litigio extrajudicialmente antes de instaurar a ação em juizo (não é possivel
o reu vir dizer que o autor não podia instaurar a ação porque não tentou
resolver o litigio ou chegar a acordo com ele) – não há qq obrigação da
parte do autor cujo direito foi violado em antes de instaurar a ação tentar
chegar a acordo com o réu), isso não retira o seu interesse em agir porque
este afere-se pela violação do direito.
o Outro aspeto invocado pelo professor Castro Mendes para vir defender que o
interesse em agir não era um pressuposto processual: vinha invocar o que
atualmente consta do artigo 535ºnº2 c) que nos diz que o autor paga as custas
caso instaure uma ação declarativa mesmo tendo um título executivo – como
vimos, o autor que tendo um titulo executivo instaure ainda assim uma ação
declarativa o que resulta deste artigo é que pode fazê-lo mas paga as custas. O que
o professor vinha dizer era que o autor não tem interesse em agir nenhum em
instaurar uma ação declarativa porque tem um titulo executivo, podia ir
diretamente à ação executiva, ainda assim o legislador admite-o apenas o faz
pagar as custas. Ou seja, o que o professor Castro Mendes retira daqui é que o
legislador admite que o autor sem necessidade recorra à ação declarativa e admite
o julgamento dessa ação apenas exigindo o pagamento das custas.
 Visão da professora e o que aprendemos nas aulas práticas: não é verdade
que o autor que tenha um titulo executivo não tenha qualquer interesse
em agir na instauração de uma ação declarativo: porque vimos que é
muito mais vantajoso para alguem que instaura uma ação executiva ser
portador de um titulo executivo judicial (uma sentença declarativa) do
que ir diretamente à ação executiva com um titulo executivo extra
judicial, isto porque a ação executiva é muito mais complexa e demorada
quando o titulo executivo seja extrajudicial porque o executado tem muito
mais possibilidades de se defender quando o TE é extrajudicial porque
quando o TE é uma sentença o executado já teve possibilidade de
apresentar os seus meios de defesa na ação declarativa.
 Por isso, se compararmos os artigos 729º com o artigo 731º
percebemos que os fundamentos de oposição à execução baseada
em sentença que estão no 729º são muito reduzidos, são meios de
defesa supervenientes ao transito em julgado da sentença
enquanto, tal como determina o artigo 731º, os fundamentos de
oposição à execução baseada noutro titulo já são os fundamentos
do 729º mais todos os fundamentos que podiam ser invocados
numa ação declarativa. – isto para concluir que não é verdade que
o titular de um titulo executivo extrajudicial não tenha qualquer
interesse em agir em instaurar a ação declarativa, e portanto
assim se rebate no outro argumento do prof Castro Mendes.

 Ações constitutivas: aquelas em que o autor pretendia introduzir uma alteração na ordem
juridica através de um ato unilateral que substituía a vontade do réu.
 Caso das ações de divórcio; constituição de servidão legal de passagem;
execução especifica (é enganadora a ação especifica porque esta não é
uma ação executiva mas declarativa, diz-se execução especifica no sentido
precisamente de através da sentença se alterar a ordem juridica portanto
é execução nesse sentido, mas não é uma ação executiva).
o Em que medida é que o autor que tem um direito potestativo tem ou não o
interesse em agir para recorrer a uma ação judicial para exercer esse direito. – a
resposta a esta questao não é uniforme, eu não posso dizer sem mais que
qualquer titular de um direito potestativo tem automaticamente direito a recorrer
a ação judicial para fazer valer o seu direito. Ao contrário dos direitos de créditos
que são restaurados através de uma ação de condenação o direito potestativo não
é violado, o exercicio processa-se por simples manifestação de vontade unilateral
da parte do seu titular, portanto não é suscetivel de ser violado. A pergunta é,
entao, se o titular do direito potestativo pode exercer o seu direito de forma
unilateral, como é que se pode dizer que ele alguma vez tem interesse em agir em
instaurar uma ação constitutiva?
 É necessário distinguir o tipo de direito potestativo que está em causa:
 Direito potestativo de exercicio exclusivamente judicial: aqueles
que o titular só pode exercer por meios judiciais.
 Caso da ação de divórcio litigioso não pode ser,
apesar de cada um dos cônjuges ter o direito
potestativo ao divorcio, não pode fazê-lo
unilateralmente. Não é por um dos cônjuges dizer
ao outro que estao divorciados que estao
divorciados.
 O direito potestativo apenas é válido se for de
exercício judicial
o Não há duvidas de que aqui existe um interesse em agir na
instauração de uma ação constitutiva. – não preciso de
justificar nada para que o titular do direito ao divorcio
possa instaurar uma ação de divorcio e ter interesse em
agir para a instauração dessa ação.
 Direitos potestativos que podem ser exercidos
extrajudicialmente:
 Resolução do negócio juridico, revogação do
mandato – pode ser feita através da simples
declaração à contraparte. Só a manifestação de
vontade do titular é suficiente, não é necessária a
formalização judicial desta manifestarão de
vontade.
o Aqueles em que com a simples declaração à contraparte
se produz um efeito imediato. Se formos ao regime do CC
do artigo 1670º e 436º vemos que basta uma declaração
unilateral da outra parte, portanto tambem não temos
duvidas de que se estes direitos podem ser exercidos
desta forma não existe qualquer interesse em agir em
instaurar uma ação apenas para resolver um contrato ou
revogar um mandato.
 Isto não significa que depois da resolução ou
revogação vir instaurar uma ação de simples
apreciação, por exemplo, para que o tribunal
declare que aquele contrato foi bem resolvido,
mas isso já não será uma ação constitutiva, na
ação de simples apreciação já parto do
pressuposto de que aquele direito foi exercido
extrajudicialmente.
 Portanto, não existe interesse em agir em
instaurar uma ação constitutiva para resolver um
contrato, mandato no caso em que posso exercê-
lo extrajudicialmente.
 Direitos potestativos de exercicio misto: podem ser exercidos
judicialmente mas também através de acordo entre as partes
 A constituição da servidão legal de passagem –
resulta da lei substantiva que pode ser constituída
através de acordo entre as partes ou pode ser
constituída através de sentença judicial --- artigo
1547ºnº2 CC: na falta de constituição voluntária as
servidões podem ser constituídas por sentença
judicial ou por decisão administrativa.
 Esta aqui em causa um direito potestativo de
exercicio simultaneamente judicial e extrajudicial
por acordo.
o A duvida que se pode colocar surge sobretudo no caso em
que o exercicio do direito potestativo possa ser um
exercicio não apenas atraves de exercicio extra judicial,
como tambem através de acordo das partes.
 Em que medida é que o titular deste direito
potestativo, neste caso o titular do prédio
encravado, é obrigado antes de instaurar a ação
constitutiva tentar chegar a um acordo com a
outra parte antes de recorrer a tribunal – é
exigível, obrigado a tentar chegar a acordo em
primeiro lugar, ou pode imediatamente recorrer a
tribunal?
 A doutrina e jurisprudência consideram
que não é exigivel ao titular do direito
potestativo tentar o acordo primeiro –
considera-se que seria um encargo
excessivamente pesado porque uma coisa
é que eu o pudesse exercer de forma
unilateral, uma vez que não é o caso
sendo um acordo bilateral não se justifica
exigir ou impor este ónus e portanto
considera-se que existe neste caso
tambem um interesse em agir.
o Logo, só não existe interesse em agir nos casos em que unilateralmente e por
simples declaração à contraparte o titular pudesse exercer esse direito.

 Ações de simples apreciação:


o O que é que justifica que o titular de um direito que ainda não foi violado (é o que
acontece nas ações de simples apreciação – vou pedir ao tribunal que declare a
existencia de um direito ou a ocorrência de um facto) que o tribunal se vá
pronunciar sobre essas realidades quando não houve uma situação previa de
violação desse direito. Por isso aqui a doutrina é mais exigente no que toca aos
requisitos que se exigem para que se verifique interesses em agir.
 A doutrina considera que para que exista interesse em agir no recurso a
uma ação de simples apreciação, é necessário que na sua base esteja uma
situação de incerteza grave e objetiva:
 Ou seja, não basta uma situação qualquer de incerteza, é
necessario que esta seja grave e objetiva – o que é que isto
significa?
 Grave – tem a ver com a sua dimensão e com a
dimensão do prejuízo possivel que pode resultar
aquela situação de incerteza.
 Objetiva – a origem da incerteza não estar no
próprio titular, mas numa fonte externa.
o Exemplo: um meio de comunicação social veio noticiar
que um candidato não era uma pessoa séria porque devia
uma quantia a um determinado banco e que não pagava a
quantia que devia. Esta situação gerou a que o candidato
da eleição instaurasse uma ação de simples apreciação
negativa contra o banco para que o tribunal declarasse
que nada devia – queria apenas a declaração de que nada
devia ao banco portanto a parte da relação material
controvertida em causa era o banco e levantou-se a
questao de saber se havia ou não interesse em agir.
 Claro que aqui há interesse em agir: o prejuízo
resultante desta incerteza pode ser grave (a
própria incerteza em si pode ter consequencias
gravosas a vários níveis: imagem do candidato) e
para além disso era uma incerteza objetiva, no
sentido que a origem da incerteza não está no
próprio titular do direito, mas numa fonte externa
(neste caso era o meio de comunicação social que
veio divulgar a notícia). Se não tivesse existido
nenhuma circunstancia que justificasse de forma
objetiva a existência daquela situação de incerteza
não se justificava a instauração da ação, a
necessidade de ir a juizo no caso desta ação.
Aquilo que justifica o interesse em agir numa ação
de simples apreciação negativa é a existencia de
uma existencia grave e objetiva.

Qual é a consequência da falta de interesse em agir?

Apesar de ser um pressuposto inominado, ou seja, não estar previsto no artigo 577º, continua a
ser um pressuposto processual, é uma exceção dilatória inominada.

Sabemos que a consequência da existência de uma exceção dilatória (artigo 278º) é a absolvição
do réu da instância.

No entanto, sendo uma exceção dilatória inominada o artigo 278º quando prevê a consequência
da absolvição do réu da instância, prevê na alinea e) também uma válvula de escape para as
exceções inominadas – cabem também as exceções inominadas e portanto é aqui que podemos
também inserir a consequencia da falta de interesse em agir.

A única exceção a esta consequencia é o previsto no artigo 610ºnº2: o tribunal se só na sentença


se aperceber da falta de interesse em agir, deve condenar o réu sem prejuízo do prazo. Se o
tribunal se tivesse apercebido disto numa fase processual mais precoce o que tinha de ter feito era
absolver o reu da instancia porque a obrigação ainda não estava violada. Uma vez que só se
apercebe na sentença, por razoes de economia processual, condena sem prejuízo do prazo e não
absolve da instância.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
(ponto 7: A competência)

A competência: O tribunal tem de ser competente para puder julgar o mérito da causa.

A função jurisdicional pertence exclusivamente aos tribunais, resulta da CRP no artigo 202º. No
entanto, este poder não é atribuido em bloco a todos os tribunais, ou seja, o poder jurisdicional
está repartido segundo diversos critérios por diversos tribunais. Portanto, cada tribunal apenas
tem o poder de julgar um círculo limitado de ações.

Nem todos os tribunais têm competência para julgar todas as ações, se assim fosse o pressuposto
processual da competência estava logo garantido – isto não acontece porque o poder jurisdicional
está repartido em função de vários critérios.
Por isso podemos dizer que a competência é a fração do poder jurisdicional que é atribuída a um
determinado tribunal. Isto não significa que todos os tribunais a quem seja atribuída essa fração
de poder possam julgar todas as ações cujo objeto caia nesse corpo.

Existem tribunais judiciais que são os chamados de propriedade intelectual que têm competência
em abstrato para julgar ações que versem sobre direitos de autor – alguma ação que tenha por
objeto a violação de direitos de autor compete o seu procedimento a um tribunal de propriedade
intelectual. No entanto, isto não é suficiente: isto não significa que em concreto tenha
competencia para todas as ações dessa matéria, porquê? Porque mesmo dentro do poder
jurisdicional, as ações estão repartidas por vários tribunais em função de criterios de distribuição.
Por exemplo, há tribunais de família e menores espalhados pelo pais e o facto destes terem em
abstrato competencia para julgar matérias relacionadas com família e menores não significa que
todos sejam competentes para julgar todas as ações.

Temos a competencia em abstrato (que é a fração do poder jurisdicional atribuída aos tribunais) e
os criterios de repartição em concreto que nos vao ser essenciais para determinar qual é o tribunal
competente para julgar uma determinada ação concreta e não apenas qual é o tribunal
competente em abstrato.

Como é que em concreto consigo determinar qual é o tribunal competente? Quais é que são os
critérios de repartição da competencia que me vao levar a decidir qual é o tribunal concretamente
competente naquele caso concreto?

Os critérios de repartição da competência encontram-se em várias fontes legais:

 Temos alguns critérios na CRP – artigos 202º e ss.


 Codigo de processo civil – artigos 59º e ss.
 Lei avulsa mas muito importante em matéria de competencia interna: lei da organização
do sistema judiciário (62/2013, 26 de Agosto)

Quais são os critérios? Artigos 59º e 60º CPC

 Critério de competência Internacional (artigo 59º)


 Aquilo que estamos a tentar identificar é saber se o tribunal português é
competente ou não para resolver determinado litigio.
 Se não for declara-se incompetente e acaba a questão, mas se for
internacionalmente competente então temos de passar de
seguida aos critérios de determinação da competência interna
porque dentro do território portugues vou ter de saber em
concreto qual é o tribunal competente para julgar aquela ação.
o A questão da competência internacional coloca-se sempre que o litígio seja
plurilocalizado – ou seja, sempre que o litigo tenha elementos de conexão com
várias ordens juridicas.
 Por exemplo, um português domiciliado em Lisboa instaura uma ação
contra um espanhol domiciliado em Madrid em que vem pedir a anulação
do contrato celebrado entre ambos no Brasil de compra e venda de um
imóvel no São Paulo – Coloca-se aqui uma questão de competência sobre
onde é que o português instaura a ação, claro que temos uma questao de
competencia internacional.
 (Perante um litigio plurilocalizado para além da questão da
incompetência internacional do tribunal português, há outras
questões a saber aqui: como a legislação aplicável – o tribunal
portugues admite nestes casos legislação estrangeira; algo
resolvido pelo direito internacional privado).

o Quais é que são as fontes para saber quem é competente?


 O ideal é que existam convenções entre vários estados através dos quais
estes acordem sobre em determinados litigios quais é que se vão
considerar competentes - através de normas multilaterais e que vinculam
os vários estados para determinar qual deles será competente. – esta é a
solução ideal porquê?
 Porque se cada Estado unilateralmente fixar as regras que vão
determinar em que situações é que os seus tribunais se vão julgar
competentes, o risco de existirem conflitos positivos e negativos
de competência internacional é enorme, porque cada estado vai
estabelecer os seus critérios e portanto provavelmente se as
normas dos vários estados não forem idênticas é natural que haja
conflitos.
o Exemplo em que Portugal se considere competente para
julgar todos os litigios em que o réu seja domiciliário em
Portugal e em Espanha vigora a mesma regra mas
relativamente às situações em que o autor é domiciliado
em Espanha, vai haver aqui um conflito negativo de
competências.
 Assim, o ideal é que o estabelecimento da competência internacional seja
feita através de instrumentos multilaterais. Isto nem sempre é possível, há
estados com quem Portugal tem convenções, há regulamentos
multilaterais a que Portugal está sujeito por fazer parte da união europeia.
 Relativamente aos estados com quem não está vinculado através de
convenção nem regulamento e portanto tem de ser o Estado Portugues a
determinar quais são as regras aplicáveis.

 Assim, as fontes vão ser (determinadas por ordem hierárquica):


 Os Regulamentos europeus – vincula automaticamente PT uma
vez que faz parte da uniao europeia
o Existem vários sobre matérias sectoriais
(responsabilidades parentais, insolvências) em que fixam
regras especiais para a competencia dos tribunais. – são as
excecionadas no artigo 1ºnº2 do regulamento
determinado a seguir.
o No entanto, em termos gerais quando as matérias são de
natureza civil e comercial existe um regulamento mais
abrangente:
 Regulamento 1215/2012 do parlamento europeu
e do conselho de 12 de Dezembro de 2012
relativo à competencia judiciária e trata também
do reconhecimento e execução de decisões
estrangeiras em matéria civil e comercial.

 Convenções internacionais – a que PT tenha aderido


o Até 1997 o atual regulamento 1215/2012 (conhecido
também agora como o regulamento de Bruxelas 1) era
uma convenção. Existia uma convenção celebrada por
todos os estados-membros da uniao europeia que era a
chamada convenção de Bruxelas em que cada vez que
entrava um novo estado-membro este tinha de ratificar
aquela convenção para estar obrigado por aquela
convenção.
 A partir do tratado de Amsterdão, a matéria da
competencia internacional passou a ter de
vincular (passou a regulamento) precisamente
para se tornar imperativa automaticamente para
todos os estados-membros que viessem a integrar
a uniao europeia.
o Portanto, atualmente não existe nenhuma convenção que
vincule os estados-membros da uniao europeia porque
existe este regulamento que dispensou a existencia de
uma convenção.
o No entanto, existe uma convenção de que Portugal é
parte, a convenção de Lugano celebrado em 1988 e que
vincula os estados-membros da uniao europeia mas
tambem os países EFTA (Suíça, noruega e Islândia) e que
tem um conteúdo equivalente ao regulamento de Bruxelas
mas extensível através de convenção a estes 3 países que
tambem se quiseram vincular àquelas normas.

 Normas de direito interno – se existirem regulamentos ou


convenções estas prevalecem sobre as normas de direito interno,
se não existirem então vão ser estas a determinar quando é que o
tribunal PT é competente.
o Artigos 62º e 63º CPC e no fundo são as regras unilaterais
e internas que apenas se aplicarão quando não existirem
regulamentos nem convenções internacionais.
 Pactos de jurisdição – é possivel em certos casos que as partes na
ação acordem sobre qual o tribunal internacionalmente
competente em que querem propor a ação derrogando as regras
das convenções, dos regulamentos e até de direito interno.

 Critérios de ordem interna (artigo 60ºnº2):


1. Matéria
2. Valor da causa
3. Hierarquia
4. Território
AULA 26/10/2023

(resumo da aula passada)

A distribuição do poder jurisdicional entre os vários tribunais é feita através de alguns critérios,
nomeadamente 5 que permitem no limite determinar qual é o tribunal em concreto
adequado/competente para julgar um determinado caso.

O primeiro critério é o da competência internacional – portanto saber perante uma determinada


relação juridica plurilocalizada qual seria o tribunal competente para conhecer da ação.

Se tiver perante uma situação juridica que tenha uma serie de elementos mas que estes não
tenham qualquer contacto com ordens juridicas estrangeiras, claro que o tribunal português é
automaticamente competente, exemplo: um litigio em que as partes são PT, domiciliadas em PT, o
objeto situa-se em PT, o contrato foi celebrado em PT, o local do cumprimento era em PT, etc; não
precisamos de ir á procura de uma regra internacional que nos diga que o tribunal PT é o
competente.

Logo, o recurso às regras que determinam a competência internacional dos tribunais apenas se
justifica quando estamos perante uma situação juridica plurilocalizada.

Para determinar se o tribunal PT era ou não competente, podíamos ter várias fontes/ instrumentos
para determinar essa competência. Naturalmente que os instrumentos de direito internacional têm
prioridade em relação aos instrumentos legais internos, e portanto, a 1ª coisa que começamos por
ver é se existem instrumentos de direito internacional que nesta matéria da competencia vinculam
o estado PT – estes instrumentos de direito internacional a existir serão multilaterais porque
vinculam vários estados, e portanto, são preferíveis aos instrumentos de direito interno que temos
no CPC, nomeadamente os artigos 62º e 63º que estabelecem regras para determinar quando é
que o tribunal PT é competente internacionalmente, mas é só isso – porque não existem outros
estados que estejam vinculados aos nossos artigos do CPC e, portanto, a probabilidade de um
conflito de jurisdições internacionais é muito maior se cada um dos estados aplicar as suas regras
de determinação de competência internacional.

Por isso é que os estados celebram entre si acordos precisamente para evitar esses conflitos de
jurisdição, sejam eles positivos ou negativos: o caso de vários estados se considerarem
simultaneamente competentes para julgar o litigio ou seja o caso de nenhum dos casos se
considerar competente para julgar o litígio.

A nivel internacional, PT está em 1º lugar vinculado por um regulamento europeu: regulamento da


união europeia 1215/2012 do conselho de 12 de Dezembro de 2012, chamado Regulamento de
Bruxelas1 – não serve apenas para regular a competencia internacional dos tribunais, serve
também para o reconhecimento e execução de sentenças estrangeiras proferidas nos estados-
membros.

PT está também vinculado a uma convenção de Lugano + as normas de direito interno.

Estas são as 3 fontes de determinação da competência internacional, exatamente por esta ordem
hierárquica: Regulamento de Bruxelas, Convenção de Lugano, normas de direito interno nos
artigos 62º e 63º CPC.
Não vamos estudar a Convenção de Lugano porque tem um conteúdo muito parecido com o
regulamento de Bruxelas – o importante de saber é que ela existe e que no fundo estende a
aplicação do regulamento de Bruxelas aos países-membros da EFTA (Suíça, noruega e Islândia).

Regulamento de Bruxelas:

Qual é o seu âmbito de aplicação?

 Este regulamento regula a competência judiciária internacional


 Sabemos que PT está vinculado por ser estado-membro da EU, mas
o Exemplo 1: se tivermos um litigio em que os elementos de conexão do litígio com
ordens juridicas estrangeiras forem todos com ordens juridicas de estados-membros
da União europeia, não há duvidas de que vou aplicar o regulamento de Bruxelas
o No entanto, Exemplo 2: um litigio plurilocalizado que tem elementos de contacto com
estados-membros da União Europeia mas também tem elementos de contacto com
estados não membros da UE
 Logo, temos de saber quando é que vamos aplicar o regulamento de Bruxelas.
Não é por PT ser estado-membro da UE que em todos os estados vai aplicar o
regulamento de Bruxelas – podemos ter uma série de contactos com outras
ordens jurídicas que não têm nada a ver com os estados-membros da União
Europeia.

Como é que sabemos qual é o âmbito de aplicação deste regulamento?

 Temos 3 âmbitos de aplicação (são pressupostos cumulativos):


o 1 – âmbito de aplicação material do regulamento:
 O artigo 1º do RB que determina o âmbito de aplicação material diz-nos que
 o nº1:
o o regulamento se aplica em:
 matéria civil
 matéria comercial
o não abrangendo as matérias – parte final do nº1:
 fiscais
 aduaneiras ou administrativas
 responsabilidade civil do estado
 o nº2 do mesmo artigo determina:
o mais casos em que não se aplica o regulamento:
 ao estado e à capacidade jurídica das pessoas
singulares ou aos regimes de bens do casamento ou
de relações que, de acordo com a lei que lhes é
aplicável, produzem efeitos comparáveis ao
casamento
 às falências, concordatas e processos análogos
 à segurança social
 à arbitragem
 às obrigações de alimentos decorrentes de uma
relação familiar, parentesco, casamento ou afinidade
 aos testamentos e sucessões, incluindo as obrigações
de alimentos resultantes de óbito.
 Assim, embora este regulamento se aplique a matéria civil e comercial, ou
seja, determina a competência dos tribunais em matéria civil e comercial, há
várias matérias inclusive de natureza civil e comercial a que o regulamento não
se aplica porque são excecionadas pelo Nº2 ou pelo Nº1 2ª parte.

o 2 – âmbito temporal do regulamento: ou seja, aplica-se a todos os litígios


independentemente da ocorrência dos factos?
 O artigo 66º do RB: o regulamento aplica-se apenas às ações judiciais
intentadas a partir de 10 de janeiro de 2015
o Tudo o que sejam ações judiciais anteriores a esta data não se
aplica este regulamento.
o No entanto, antes deste regulamento de 2012 existia um outro
de 2001 (regulamento 44/2001) que tinha um conteúdo muito
parecido com este e que se aplicava matéria de competência
internacional aos litigios instaurados antes de 10 de Janeiro de
2015. Foi alterado e substituído por este novo, não por razões
de competência internacional (nesta matéria mudou pouco o
conteudo), mas sobretudo sobre execução de sentença
estrangeira.
 Logo o que nos interessa é, se a ação for anterior a 2015 ainda assim
há um regulamento aplicável que é este de 2001 que acaba por
conduzir à mesma solução (e ainda antes deste de 2001 tinhamos a
convenção de Bruxelas)

o 3 – âmbito de aplicação espacial (subjetivo): artigos 4º, 6º ( + artigo 24º)


 Resulta dos artigos que o regulamento é aplicável:
 Artigo 4º - quando o reu é domiciliado num estado-membro
o sempre que o réu seja domiciliar no estado-membro, o
regulamento é aplicável ao litígio
 artigo 6º - se o reu não for domiciliado num EM, então não se aplicará
o regulamento, a não ser que se verifique um dos casos do artigo 24º.
o artigo 24º - se se verificarem as competencias exclusivas do
artigo 24º
 O artigo 24º tem uma série de competências
imperativas de tribunais da EU, portanto casos em que
independentemente do domicilio do reu é obrigatória
a propositura da ação num estado-membro da união
europeia. São casos em que se considerou que razões
de soberania implicavam da parte da jurisdição de
cada um dos estados-membros que a ação fosse por
eles julgada.
 Exemplo: diz o nº1 que têm competencia exclusiva os
tribunais de um estado-membro em matéria de
direitos reais imóveis, os tribunais do EM onde se
situa o imóvel - isto é uma competencia exclusiva do
estado-membro do local do imóvel
independentemente do réu ser domiciliado num EM.
Portanto, neste caso o domicilio das partes não tem
nada a ver com um estado-membro, mas cujo imóvel
cuja reivindicação é pedida está situado no território
de um estado-membro.
 Nestes casos, aplica-se sempre o Regulamento
de Bruxelas, mesmo não sendo o reu
domiciliado num estado membro.
 Assim, aplica-se o regulamento e o artigo 24º
que dá competência exclusiva a esse estado
membro.

o Apenas se se verificarem estes 3 âmbitos de aplicação do regulamento é que vamos


aplicar o regulamento para determinar qual é o tribunal internacionalmente
competente para julgar o litígio.

A única coisa que vimos até agora é saber os casos em que o Regulamento é aplicável ou não, mas
isso não nos diz qual é o Estado/tribunal competente para julgar o litígio – para isso temos de ir ao
conteúdo do regulamento ver em matéria de competência internacional o que é que este
conteúdo nos diz.
Assim, qual é o Estado/o tribunal que vai ser competente para julgar o litigio?

Há 3 tipos de competências previstas por esse regulamento:

 Competência regra (critério geral no sentido da nossa ordem jurídica, diz-nos em regra como é
que eu escolho qual é o tribunal competente para julgar a ação):
o Artigo 4ºnº1: “ sem prejuízo do disposto no presente regulamento, as pessoas
domiciliadas num Estado-Membro devem ser demandadas, (…) nos tribunais desse
estado-membro”.
 A regra é a do domicílio do réu, não é a nacionalidade.
 Para efeitos de determinação da competência internacional e mesmo
interna como iremos ver, o elemento de conexão relevante é o do
domicílio do réu.
 Porque é que não é a regra da nacionalidade? Porque esta regra geral
do domicílio tem como objetivo proteger o réu, parte do pp que o reu
é de facto a parte mais fraca e portanto faz sentido proteger o réu
estabelecendo como jurisdição competente a do réu.
o Sendo esta a razão, não faria sentido que o elemento
relevante fosse a nacionalidade, o réu pode ser nacional num
estado e já não residir nele há muitos anos e já não ter
praticamente conexão com o seu estado de origem. E,
portanto, para proteção do reu o que faz sentido é o seu
domicílio e não a nacionalidade.
 Depois para saber o que é o domicílio temos de ir às regras internas do CC:
artigos 82º e ss. é aquilo que vai determinar se o réu tem ou não domicílio em
PT.
 Aliás, os artigos 62º e 63º do RB remetem precisamente para a lei
interna de cada estado a determinação do que é o domicílio para se
puder saber qual é o domicílio do réu.
 Claro que isto depois pode levantar outras questoes, porque se o
direito interno de cada estado determinar de forma diferente o que é
o domicílio, podemos ter conflitos na aplicação desta regra geral.

 Competências especiais:
 Ao contrário do que acontece no sistema juridico português (temos um
conceito de relação entre o geral e o especial em que o especial afasta o geral),
em matéria deste regulamento o critério de relação quando se fala entre
competência especial ou geral é diferente: O regulamento prevê que a
competência geral e as competências especiais são alternativas, ou seja, o
autor que propõe a ação pode escolher entre propor no tribunal que seria
competente de acordo com a regra geral, ou escolher uma das regras
especiais).
o + é do artigo 5º que resulta o caráter alternativo entre a competência geral e as
competências especiais, porque este artigo diz: “as pessoas domiciliadas num EM só
podem ser demandadas nos tribunais de outro EM nos termos das regras enunciadas
nas secções 2 a 7 do presente capítulo” – estas secções são as secções relativas às
competencias especiais.
 É o autor que vai escolher qual é a jurisdição que lhe dá mais jeito.
o Artigos 7º e ss. estabelecem as competências especiais:
 estabelecem em matérias diferentes soluções diferentes.
 Por exemplo:
o Nº1 a): em matéria contratual a ação deve ser proposta
perante o tribunal do lugar onde foi ou deva ser cumprida a
obrigação.
o Nº2: em matéria extracontratual, perante o tribunal do lugar
onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso.
o Etc

 Competencias exclusivas (critério especial no sentido da nossa ordem jurídica, estas é que são
as imperativas, sempre que exista esta competência exclusiva esta afasta as outras
competências – geral e especial):
o Artigo 24º:
 São tão imperativas que funcionam simultaneamente como critério de
aplicação do regulamento de Bruxelas (1º passo da análise
relativamente ao âmbito espacial – saber se o regulamento é
aplicável), como também de determinação da competência do tribunal
em concreto (2º passo de análise – saber qual o estado competente
para julgar o litígio).
o Aplicamos novamente para saber qual é o estado membro em
concreto que é competente.
 São especiais porque interferem com a jurisdição e a soberania ou poder de
atuação por cada estado sobre alguns elementos que caem no seu território e
em que é irrelevante se o réu é domiciliado num EM ou não.
 Não faria sentido que relativamente a bens situados em PT que o
tribunal competente para decidir sobre bens situados em PT fosse o
tribunal do domicilio do réu que pode ser o dos EUA - tem a ver com o
exercicio territorial da soberania de cada estado e por isso é que se
justifica a existência destas regras de competencia exclusiva.
o Estas regras de competencia exclusiva têm repercussões no regime do RB em várias
matérias, nomeadamente:
 Tudo o que tem a ver com reconhecimento de sentenças estrangeiras em PT
tem como limite a violação de competências exclusivas
 ou seja, se um autor vem tentar reconhecer uma sentença proferida
por tribunal estrangeiro que quer executar em PT, PT não vai aceitar o
reconhecimento da sentença se esta tiver sido proferida com violação
das competencias exclusivas do estado PT.
o Portanto, se um autor quiser executar uma sentença sobre
bens em PT proferida por um tribunal dos EUA, o tribunal não
a vai reconhecer e não a vai executar.
o Portanto, tem caráter imperativo em matéria de competência

 Há outro efeito para as quais estas competências são relevantes e que tem a
ver com a possibilidade de as partes celebrarem pactos de jurisdição (no
ambito do RB), previstos no artigo 25º RB:
o O pacto de jurisdição é um acordo entre as partes em que
estas alteram o tribunal internacionalmente competente para
julgar a ação (se for um pacto que apenas altere as
competências na ordem interna será um pacto de
competência).
o Os pactos de jurisdição normalmente são celebrados quando
as partes estabelecem as relações negociais e não quando vão
instaurar a ação – são pactos que normalmente constam de
contratos internacionais: as partes celebram o contrato
internacional e há a clausula final que estabelece um pacto de
jurisdição que determina que na eventualidade de surgir um
litígio resultante da interpretação e execução do presente
contrato, é competente para o efeito o tribunal x.
 O Nº1 deste artigo diz que esta competência é exclusiva: retira a
competência ao tribunal que seria competente de acordo com o RB e
passa a ser apenas daquele tribunal.
o Isto significa que se uma das partes violar o pacto de
jurisdição, esse tribunal deve julgar-se incompetente.
 Para estes pactos serem válidos é necessário que cumpram os seus
requisitos
o das alíneas do Nº1 – requisitos positivos:
 Por escrito ou verbalmente com confirmação escrita
 De acordo com os usos que as partes tenham
estabelecido, ou:
 no comercio internacional, de acordo com os usos que
as partes conheçam ou devam conhecer (…)
o Nº4 – requisito negativo de validade dos pactos de jurisdição –
e é por isso que falámos aqui dos pactos de jurisdição:
 “os pactos atributivos de jurisdição (…) não produzem
efeitos se (…), ou se os tribunais cuja competência
pretendam afastar tiverem competência exclusiva por
força do artigo 24º”.
 Os pactos são válidos desde que os tribunais
cuja competência esse pacto pretende afastar
não tenham competência exclusiva por força
do artigo 24º.
 No fundo, outro dos efeitos da imperatividade da competencia
exclusiva do artigo 24º é que estas competências não podem ser
afastadas nem por acordo das partes. Todas as outras podem ser
afastadas por acordo das partes, as competencias exclusivas não
podem.

Há varias fontes para o regulamento de Bruxelas da competência internacional dos tribunais da UE,
nomeadamente a:

 competencia geral
 competencia especial
 competencia exclusiva
 + professora acrescenta ainda os pactos de jurisdição (porque se as partes estão a alterar
as regras então também são fonte de competencia internacional para o RB)
 + um caso especial previsto no artigo 26º RB (pacto de jurisdição tácito):
o Para além de todos os casos das competências que já vimos, é tambem
competente “o tribunal de um Estado-Membro no qual o requerido compareça”:
 Ou seja, ainda que o tribunal não seja competente de acordo com as
regras anteriores, se por acaso o autor propuser uma ação num tribunal
que seria incompetente a nivel internacional e o requerido comparecer
sem invocar a incompetência do tribunal, este artigo 26º interpreta essa
passividade/omissão como uma espécie de aceitação tácita da
competência do tribunal onde foi proposta a ação
 No fundo, está a permitir que as partes tacitamente celebrem um pacto de
jurisdição nesse momento.
 E por ser um pacto de jurisdição tático, há um limite a esta possibilidade
que é o de não interferir com as competencias exclusivas – nº1 parte final
o Professora entende que o artigo 26º prevê ainda uma continuação do artigo 25º,
prevendo um pacto de jurisdição tácito de certa forma.

Competência internacional na ordem interna – Normas de ordem interna que dão competencia
ao tribunal PT como internacionalmente competente: artigos 62º e 63º CPC

Situações em que não se verifica o âmbito de aplicação de regulamento de Bruxelas, não se aplica
a Convenção de Lugano e os tribunais PT têm de decidir perante um determinado litígio qual é o
tribunal competente. – para isto temos normas de direito interno nos artigos 62º e 63º CPC

Nestes artigos é o legislador português que decide unilateralmente quando é que se considera
competente ou não para julgar uma ação.

 Estes artigos, pelo facto de serem unilateralmente estabelecidos pelo legislador PT a dizer
quando é que se assume competente não vincula os outros estados. Portanto a única coisa
que estes artigos nos dizem é quando é que o tribunal PT se considera competente para julgar
a ação, mas não nos permitem dizer se competente é o tribunal PT ou o tribunal estrangeiro,
porque as nossas regras de direito interno não vinculam os outros estados.

Artigo 62º “fatores de atribuição da competência internacional”:

 Como é que sei se o tribunal PT é ou não competente para julgar os litígios? Para isso, temos 3
critérios alternativos de determinação da competencia internacional dos tribunais PT – basta
um para que o tribunal PT seja internacionalmente competente:
o Alinea a) – “quando a ação possa ser proposta em tribunal PT, segundo as regras
de competencia territorial estabelecidas na lei portuguesa”
 Ou seja, esta alinea a) remete-nos para os artigos 70º e ss. CPC que são os
artigos em que estão consagradas as regras de competencia territorial dos
tribunais portugueses:
 Há vários critérios de atribuição de competência como sabemos:
internacional e depois vários critérios na ordem jurídica interna
sendo um deles o de competência territorial – não basta dizer que
o tribunal PT é competente, preciso no território PT escolher qual
o tribunal especificamente competente e isso quem vai decidir ou
o critério que vai decidir esta segunda fase de competência já é o
critério de competência territorial interna, porque o critério da
competencia internacional apenas serve para determinar qual é o
Estado cujos tribunais são competentes, mas não diz no território
desse estado qual é o tribunal que vai ser competente.
 Por isso, o 1º critério que é o critério da coincidência (precisamente
porque estabelece uma coincidência entre a competência internacional e
a competência territorial interna) diz-nos que:
o Se ao abrigo dos artigos 70º e ss. (dizem-nos diante o
Estado PT qual é o tribunal competente) o elemento
relevante do litigio cair no território português isso
significa que o tribunal PT é internacionalmente
competente – não nos interessa saber aqui onde no
estado PT se situa o elemento, apenas que seja em
território PT.
 Exemplo: no artigo 70ºnº1, diz-nos que devem ser
propostas no tribunal da situação dos bens as
ações referentes a direitos reais ou pessoais de
gozo sobre imóveis, a ação de divisão de coisa
comum, de despejo, de preferência e de execução
específica sobre imóveis, etc… - vamos a um
exemplo de uma ação de divisão de coisa comum:
 Exemplo: ação de divisão de coisa comum
de um imóvel situado na África do sul mas
o autor é domiciliado em PT e o réu
domiciliado em Brasil.
Não se aplica o regulamento de Bruxelas
(nem o réu é domiciliado num estado
membro nem há nenhuma competência
exclusiva porque o imóvel não se situa em
nenhum EM), e portanto aplicamos o
artigo 62º para saber se o tribunal
português é competente:
o Vamos começar por analisar o pp
da coincidência: este pp da alinea
a) remete-nos para as regras de
competência territorial e vou
aplicar logo o artigo 70ºnº1
porque se trata de uma ação de
divisão de coisa comum:
 O artigo 70º determina
que é competente o
tribunal do local onde se
situa o imóvel que vai ser
dividido. O artigo quando
diz isto não é para dizer
que o tribunal PT é
competente ou não, é
para decidir dentro do
território PT qual é o
tribunal competente mas
por via do artigo 62º
alinea a) aí sim
indiretamente o critério
de competência territorial
também nos está a indicar
se o tribunal PT é
competente ou não:
– Neste caso o tribunal PT
não vai ser competente,
mas sim o da africa do sul
porque é aí que se situa o
imóvel.
 Ou seja, se o elemento
relevante de conexão não
se situa no Estado PT
então o tribunal PT não é
competente.
 Se o imóvel a dividir se
situasse em Portugal, aí
pelo pp da coincidência já
seria competente o
Estado PT.
o Assim, o PP da coincidência socorre-se de outros critérios
de competência - competência territorial que não servem
para isto, na sua génese os critérios de competência
territorial servem para quando já está decidido que o
tribunal PT é competente para ir ver dentro do território
PT qual é o tribunal competente.
o Mas o artigo 62º alinea a) dá-nos uma dupla função: ao
mesmo tempo decidem qual é o tribunal competente
internamente mas também podem decidir se o tribunal
portugues é competente ou não, porque se aqueles
elementos de competência territorial se situarem fora de
Portugal então o tribunal PT não é competente. Ou seja,
se o artigo 70º diz que o tribunal competente para a ação
de divisão de coisa comum é o tribunal do local onde se
situa o imóvel, se o imóvel não se situar em PT então o
tribunal PT não vai ser competente.
Não sendo estes critérios cumulativos ou exclusivos, temos de olhar ainda às
outras alineas do artigo 62º:
o Alinea b) – estabelece o princípio da causalidade.
 Causalidade na medida em que permite que ainda que pelo pp da
coincidência o tribunal PT não seja competente, se algum dos factos (não
tem de ser toda a causa de pedir, basta que seja algum dos factos) que a
integrem tiver o corrido em PT este é competente.
o Exemplo: um acidente de viação que ocorreu em PT, mas
mais nenhum dos elementos de conexão foram em
Portugal (nem as partes, a empresa contratada, nem o
local de celebração do contrato), apenas o acidente de
viação que justificou o pedido de indemnização – tendo o
acidente de viação que faz parte da causa de pedir da
ação ocorrido em Portugal deve entender-se de acordo
com o pp da causalidade que o tribunal PT é
internacionalmente competente;
 Quem diz a causa de pedir ou algum dos factos que a integram diz
que, por exemplo: acidente não tinha sido em PT mas uma das
partes veio depois para PT e foi internada num hospital PT porque
os danos manifestaram-se em PT – deve-se considerar que pelo
menos parte da causa de pedir, que foram os danos, ocorreram
em PT, e isso já seria suficiente para o tribunal PT se considerar
competente de acordo com o pp da causalidade.
 Este critério seria impensável numa convenção internacional ou num
regulamento – porque aqui no estabelecimento dos critérios internos
aquilo que é tido em conta não é a proteção das partes, mas a jurisdição
do tribunal PT por isso é excessivamente amplo – o tribunal PT considerar-
se internacionalmente competente nestes casos não significa que afaste a
competencia de outros tribunais, a não ser nos casos do artigo 63º (aqui o
tribunal PT não admite). Agora se a parte for propor a ação noutro Estado
isso nada impede que depois que a sentença seja reconhecida desde que
não viole o artigo 63º.

o Alinea c) – estabelece o princípio da Necessidade


 Este princípio da necessidade é aplicável em situações excecionais.
 O que é que significa esta necessidade de instaurar a ação em PT? No
fundo são situações de impossibilidade quer de facto quer de
direito/jurídica.
o Exemplo: o tribunal que seria competente para julgar é o
tribunal de um país que está em guerra e onde os orgãos
jurisdicionais não estão a funcionar. Temos uma
impossibilidade de facto, de fazer valer o meu direito nos
tribunais desse Estado.
 Nesta circunstância funciona o pp da necessidade
e o tribunal considera-se competente para julgar a
ação + é preciso que haja algum elemento
ponderoso de conexão, pessoal ou real.
 Claro que é preciso alguma relação com a ordem portuguesa jurídica para
que o tribunal se considere competente – não faria sentido que o tribunal
PT se considera-se o garante da jurisdição de todo o mundo, tem de ter
alguma conexão com a ordem juridica PT para que o tribunal PT perante
uma situação destas de necessidade (no fundo uma situação excecional de
impossibilidade de facto) se considere competente.
 Aqui a doutrina considera também contemplado outras situações de
impossibilidade - nomeadamente impossibilidade juridica:
 em situações de, por exemplo: suponhamos que o tribunal que
era considerado competente pelo tribunal português se considera
incompetente para conhecer da questão - ou seja, situações de
conflito negativo de competências em que as partes propõem a
ação no tribunal que segundo as normas de direito interno seria
competente mas este tribunal não se considera competente e,
portanto, depois a parte propõe a ação em PT
o Se PT também se considerasse incompetente isso seria
uma forma de negação da justiça de certa forma e,
portanto considera-se que estamos aqui também perante
uma situação de necessidade.
 Claro que é preciso algum elemento de conexão que una o Estado
PT.

Artigo 63 º “competencia exclusiva dos tribunais portugueses”:

 É um bocadinho o equivalente na nossa ordem jurídica interna ao artigo 24º do RB:


o logo a 1ª alinea equivale à 1ª do artigo 24º - “os tribunais portugueses são
exclusivamente competentes em matéria de direitos reais, sobre imóveis e de
arrendamento de imoveis situados em território PT (…)”.
o Tem aqui várias outras normas equivalentes ao artigo 24º.
 Aplica-se quando o regulamento de Bruxelas não seja aplicado:
o Portanto, as competências exclusivas têm exatamente a mesma função, tanto que:
 o nosso legislador considera que não podem ser reconhecidas sentenças
estrangeiras quando violem regras de competência previstas no artigo
63º CPC, portanto, regras de competência exclusiva - é o que resulta do
artigo 980º alinea c) 2ª parte CPC que no fundo impede o reconhecimento
das sentenças estrangeiras quando essas sentenças violem a competência
exclusiva dos tribunais portugueses
 também tem impacto em matéria de pactos de jurisdição celebrados ao
abrigo da lei portuguesa:
 Vimos os pactos de jurisdição do artigo 25º do RB cujas regras são
aplicáveis quando se aplique o regulamento de Bruxelas.
 Quando não se aplica o RB, também o legislador PT admite pactos
de jurisdição mas aí já são regulados pelo artigo 94º CPC, também
muito parecido com o RB.
o O facto de PT estar na UE faz com que haja uma influência
dos regulamentos a que PT está vinculado nas nossas
normas de direito interno, até para evitar conflitos.
 E portanto, este artigo também nos diz que
apenas são válidos pactos de jurisdição desde que
não violem as competências exclusivas do
tribunal português (Nº3 alinea d) CPC).
 Temos os restantes requisitos no Nº3

Criterios de distribuição de competência na ordem interna – artigo 60º CPC:

Artigo 60ºNº2 – Na ordem interna, a jurisdição reparte-se pelos diferentes tribunais segundo os 4
critérios: matéria, valor da causa, hierarquia, território.

Relativamente à competência interna, e apesar de estar prevista no artigo 60º e ss. do CPC, existe
um outro diploma e que é fundamental em matéria de repartição da competencia interna: a lei de
organização do sistema judiciário (62/2013 de 26 de Agosto).

Esta lei dedica-se a um sistema judiciário e à distribuição da competência pelos vários tribunais na
ordem interna. Esta lei em alguns pontos é muito repetitiva do CPC .

1º critério – em razão da matéria: um dos critérios mais relevante

 Fonte da distribuição da competência em razão da matéria:


o CPC: artigos 64º, 65º
o Lei da organização do sistema judiciário: artigos 37º, 40º, 80º, 81º, 111º e ss., 117º
e ss. 130º
o CRP: artigos 209º e ss.

Razão de ser da repartição da competência em razão da matéria:

 Esta repartição justifica-se pela vantagem da especialização dos tribunais e dos próprios juizes
relativamente às questões que vão julgar.
 No fundo por uma razão de, por um lado, facilidade daquele que os vai julgar e qualidade das
suas decisões. Um juiz sabe que e quando concorre à magistratura corre para determinadas
matérias – um juiz dos tribunais administrativos está especializado em matérias
administrativas e apesar de ter competência em teoria para exercer funções de juiz porque
tem formação jurídica, no entanto precisa de um acesso próprio para garantir a qualidade das
decisões e especialização das decisões.
 As regras de distribuição da competência em razão da matéria são de tal forma importantes
que são absolutamente imperativas (ou seja, não podem ser derrogadas) e a sua violação
determina a incompetência absoluta do tribunal.
o Incompetência absoluta do tribunal – não é sanável (apenas os casos mais graves
de incompetência é que geram esta incompetência)
o Incompetência relativa do tribunal – sanável
AULA 30/10/2023

(continuação 1º critério – em razão da matéria)

Claro que quando concluímos que o tribunal PT não é competente para julgar uma determinada
ação, já não se justifica ir averiguar na ordem jurídica interna qual é o tribunal competente –
apenas passamos para este critério seguinte se o critério da competência internacional determinar
que o tribunal competente para julgar a ação é o tribunal PT.

Como é que se divide a competência dos tribunais em razão desta especialização em função da
matéria?

Em 1º lugar é importante ter em conta que os tribunais estão distribuídos em várias categoriais ou
ordens de tribunais:

 Tribunais Judiciais
o Competência residual
 Tribunal Constitucional
 Tribunais Administrativos e fiscais
 Tribunal de Contas

Estas são as categorias de tribunais que existem na ordem jurídica portuguesa, estão
contempladas no artigo 209º da CRP + 29ºnº1 da Lei de organização do sistema judiciário. – Assim,
a primeira coisa que tenho de fazer para determinar qual o tribunal competente em razão da
matéria é saber a categoria de tribunais a que irá ser atribuída competência para julgar o caso em
concreto – Como é que sei como é que se distribui a competência por estas categorias/ordens de
tribunais?

Os tribunais judiciais têm uma competência residual para o julgamento de todas as matérias de
domínio cível relativamente aos outros tribunais (artigo 64º CPC; artigo 40ºnº1 LOSJ + artigo
211ºnº1 CRP) - ou seja, a sua competência é atribuída pela negativa: só é da competência dos
tribunais judiciais aquela matéria que não esteja atribuída a nenhum dos outros tribunais, cuja
competência é atribuída pela positiva.

Portanto, como é que sei quais são as causas que são da competência dos outros tribunais
(Administrativos e Fiscais; de Contas; Constitucional)?
Tenho de ir às leis próprias desses tribunais verificar qual é a competência de cada um desses
tribunais. São as leis onde vamos encontrar quais são as competências destas categorias de
tribunais em razão da matéria.

 Tribunais Administrativos e Fiscais: Estatuto dos tribunais administrativos e fiscais


(questões administrativas em que o Estado surge como parte)
 Tribunal Constitucional: Lei de organização e funcionamento do tribunal constitucional
(questões relacionadas com a apreciação da constitucionalidade das várias normas)
 Tribunal de Contas: Lei de organização e processo do tribunais de Contas (questões de
avaliação e fiscalização do respeito das contas do Estado)
Enquanto o tribunal de Contas e o Constitucional são tribunais isolados, no caso dos tribunais
administrativos e Fiscais ou dos tribunais judiciais há uma ordem hierárquica de tribunais.

Temos de ir a estas normas que disciplinam especificamente a competência de cada um dos outros
tribunais, e depois, caso a matéria não se inclua na competência de um deles (cada um destes
tribunais têm competências muito concretas, portanto o que é residual será a maior parte das
matérias) entao irá ser da competência dos tribunais judiciais.

O que vimos quando estudamos o Processo Civil é que este são as normas que disciplinam o
funcionamento ou o exercício do direito de ação nos tribunais judiciais.

Se determinarmos que dentro das várias ordens de tribunais o tribunal competente é o tribunal
judicial:

Dentro dos próprios tribunais judiciais há uma distribuição da competência em razão da matéria,
ou seja, dentro dos tribunais judiciais os tribunais têm competência para um mundo de matérias
precisamente por serem de competência residual/subsidiária e por isso existem vários tribunais
judiciais cuja competencia é atribuída em razão da matéria.

Relativamente aos tribunais judiciais – Artigo 40ºnº2 LOSJ: “a presente lei determina a
competência, em razão da matéria, entre os juízos dos tribunais de comarca, estabelecendo as
causas que competem aos juízos de competência especializada e aos tribunais de competência
territorial alargada”:

 Dentro dos tribunais judiciais temos dois tipos de tribunais:


o Tribunais de comarca: o território está dividido em varias circunscrições judiciais e em
cada uma dessas existe um tribunal (essa circunscrição abrange uma série de
freguesias) – estes são os chamados tribunais de comarca.
o Tribunais de competência territorial alargada: são tribunais judiciais cuja competência
abrange várias comarcas e as vezes até o pais inteiro.
 Isto só faz sentido (a existência de tribunais que têm competência em cada
comarca e tribunais com competência mais alargada) porque estes tribunais
de competência territorial alargada são tribunais que têm competência
especializada em determinadas matérias.
 Portanto são matérias que o legislador considerou que se justificava ter um
tribunal especifico para exercer a função jurisdicional sobre essas matérias,
mas ao mesmo tempo considerou que não se justificava existir um tribunal
com competência sobre essas matérias em cada comarca e, portanto, criou
tribunais de competência territorial alargada com competência para essas
matérias.
 Encontramos a lista dos tribunais de competência territorial alargada
no artigo 83ºnº3 na lei de organização do sistema judiciário: caso do
tribunal da propriedade intelectual; concorrência, regulação e
supervisão; marítimo; entre outros
o ou seja, são matérias para as quais apenas aquele tribunal tem
competência e em vez de existir um em cada comarca, existe
um cuja competência abrange várias comarcas.
 Se quisermos perceber quais são as matérias que são da competência
especificamente destes tribunais temos de ir aos artigos 111º e ss.
LOSJ que desenvolvem a propósito de cada um destes tribunais de
competência alargada quais são as matérias cuja competência são
desses tribunais.
 Portanto, a 1ª coisa que tenho de ver é se a matéria em causa é matéria da
competência de algum destes tribunais de competência territorial alargada,
se não for então a competência (também residual) será dos tribunais de
comarca (os que existem em cada jurisdição).

Ainda dentro de cada um dos tribunais de comarca existem juízos (no sentido de secções do
tribunal) que também podem ter uma competência especializada para certas matérias.

 Portanto, por exemplo, não há um tribunal de comarca de Lisboa e ponto, sem haver
nenhuma especialização em termos de matéria. Portanto dentro do próprio tribunal de
comarca de Lisboa existem secções/juízos cuja competência pode ser dividida em função
da matéria.
 Artigo 81ºnº3 LOSJ temos uma lista de juízos de competência especializada que podem
ser criados: matérias relativas ao direito do trabalho, família e menores, comércio, etc.
o A criação destes juízos de competência especializada depende do quê?
Do volume de litígios que cada tribunal tem:
 Exemplo 1: em Lisboa todos estes juízos de competência
especializada existem porque é uma comarca com muita dimensão
e muita diversidade de trabalho.
 Exemplo 2: noutro tipo de comarcas em que temos questões
menos especializadas a nível de matéria em que as questões são
todas semelhantes, muitas vezes o que acontece é que o
legislador cria apenas juízos dentro de certas matérias e não cria
de outras.
 Portanto, vai depender das comarcas o saber se há muitos ou poucos
juízos de competência especializada.
 Temos de nos informar quando propomos uma ação dentro do
tribunal da comarca X, se este tem juizos especializados para todas
as matérias ou não:
o 1ª hipótese: se for um tribunal de comarca com juízos de
competência especializada
 Na verdade, mesmo que tenha juízos
especializados para todas as matérias tem sempre
de existir um juízo com competência residual
porque não é possível criar juízos (especializar o
tribunal) para todas as matérias. É possível criar os
juízos referidos no artigo 81ºnº3 LOSJ, mas tem
sempre de existir um juízo com competência
residual para todas as outras – o chamado juízo
cível.
 Basta que haja apenas um juízo de
competência especializada em função da
matéria num tribunal de comarca para
que seja necessário a existência de um
juízo de competência residual, o juízo
cível.
o 2ª hipótese: se for um tribunal de comarca que não exista
esses juízos de competência especializada (uma comarca
mais pequena em que o legislador entende que não se
justifica a especialização por matérias):
 Diz-se que aquele tribunal de comarca é um
tribunal de competência genérica/sem
especialização. – é raro.
o Se quisermos saber quais são as matérias concretas que cabem na competência
destes juizos de competência especializada do artigo 81ºnº3, temos de ir aos
artigos 117º e ss..

(Resumo do 1º critério – em razão da matéria) Temos 2 níveis de competência em razão de


matéria:

 Um nível mais elevado que insere o objeto da minha ação dentro das várias ordens do
tribunal: Judicial; Constitucional; Administrativo e Fiscal; de Contas
 Um segundo nivel de competência em razão da matéria que caso a competência daquela
ação caiba aos tribunais judiciais, então dentro destes mesmos tribunais judiciais tenho de
ir ver:
o 1º se existe algum tribunal de competência territorial alargada com competência
sobre matérias específicas que vai julgar a minha ação (artigos 83º + 111º e ss.
LOSJ)
o 2º Não havendo, a competência é de um tribunal de comarca tendo de ir ver
dentro do tribunal de comarca se:
 O tribunal é de competência genérica
 Há juízos especializados dentro do tribunal em função da matéria:
 Havendo vários juízos de competência especializada tem de existir
necessariamente de competência residual, o juízo cível (o juízo
com competência residual para todas as outras matérias).

Temos ainda 2 questões que vao se tratadas melhor no critério do território:

1ª pergunta - Como é que sabemos dentro de cada comarca se existem ou não os juizos de
competência especializada?
2ª pergunta - Como é que sei cada tribunal de competencia territorial alargada, que comarcas é
que a sua competência abrange?

Temos de ir aos anexos da lei de organização do sistema judiciários e em concreto ao anexo II


(tem a área abrangida pelos tribunais de comarca – quais são as freguesias abrangidas pela
competencia de um tribunal de comarca) e III (tem a área da circunscrição dos tribunais de
competência territorial alargada)

2º critério – hierarquia: artigo 37ºnº1 LOSJ

A base legal desta distribuição:

 artigos 67º a 69º CPC


 artigo 42º da lei de organização do sistema judiciário

Os tribunais judiciais estão hierarquicamente organizados: os tribunais da 1ª instância, os tribunais


da Relação e o STJ.

Tribunais de 1ª instância:

 os já estudados Tribunais de Comarca e Tribunais de competência Territorial Alargada

Tribunais da Relação:

 Não existe um tribunal da Relação por Comarca, existem apenas 5 tribunais da Relação:
Coimbra, Évora, Guimarães, Lisboa e Porto
o No anexo I temos a área de circunscrição abrangida pela competencia territorial de
cada um desses tribunais da Relação

Supremo Tribunal de Justiça:

 Em termos de dimensão de casos que chegam a cada um destes tribunais hierarquicamente


naturalmente que ao STJ chegam muito menos processos, existindo apenas 1 STJ apesar de
integrar várias secções de competência especializada.

A relevância da existência desta hierarquia é o permitir a interposição de recurso. Existe esta


hierarquia de tribunais para que eu possa recorrer da sentença do tribunal de 1ª instância, para a
Relação e para o STJ (embora não sendo obrigatória a existencia de recurso, vai depender do valor
da ação e do valor da sucumbência) – artigo 68ºnº2 CPC: “compete às Relações o conhecimento
dos recursos interpostos de decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância”; artigo 69ºnº2 CPC:
“compete ao STJ o conhecimento dos recursos interpostos de decisões proferidas pelas Relações (e,
nos casos especialmente previstos, pelos tribunais de 1ª instância)”.
O Artigo 42ºnº1nº2 determina a mesma coisa, ideia de que sabemos qual é o tribunal
hierarquicamente competente em função do sistema de recurso.

Exceções à regra de que os tribunais superiores apenas são competentes em sede de recurso:

 Há casos em que a competencia da Relação ou do STJ é uma competência de 1ª instância,


apesar de normalmente chamarmos aos tribunais de comarca e de competência territorial
alargada os tribunais de 1ª instância. – a Relação e o STJ também podem funcionar como
tribunais de 1ª instância.
 Por esta razão se diz, quando vamos perceber qual é a competência em razão da hierarquia
que tenho de ver se é um caso que cabe nestas exceções (Relação ou STJ como 1ª instância) ou
se cabe na regra geral (Comarca ou Competência Territorial Alargada como 1ª instância) em
função do recurso.
 Quando falámos do patrocínio judiciário falámos destes casos em que as ações deviam ser
propostas logo pelos tribunais de Recurso e que nestas ações é sempre preciso patrocínio
judiciário.

Casos em que as ações devem ser propostas em 1ª instância nos Tribunais da Relação ou STJ:

1º caso de exceção – casos de conflitos de competencia e de jurisdição: artigos 109º e ss. CPC:

 Artigo 109º determina o que é um conflito de jurisdição e um conflito de competência:


o Conflito de jurisdição (Nº1): quando 2 ou mais tribunais pertencentes a ordens
jurisdicionais diferentes OU quando um tribunal (poder jurisdicional) e uma
autoridade não jurisdicional se recusam, ou aceitam ao mesmo tempo, o poder de
conhecer de uma mesma questão
 Exemplo 1: se o tribunal administrativo e o tribunal judicial se consideram
os dois competentes para julgar uma mesma ação.
 Acontece várias vezes quando, por exemplo, há duvidas se um
determinado órgão/uma determinada entidade que interveio num
contrato, se se deve entender que havendo um litígio que essa
entidade atua em representação do Estado e, portanto se a
competencia será de um tribunal Administrativo ou de um tribunal
Judicial
o Muitas vezes o que acontece é que a parte que põe a ação
num tribunal judicial, por exemplo, e o tribunal judicial
considera que quem é competente é o tribunal
Administrativo, e quando a parte propõe a ação no
tribunal Adminsitrativo este determina que quem é
competente é o tribunal Judicial.
o Nestes casos a parte fica num vazio de competência e
chama-se a isto um conflito de jurisdição
 Exemplo 2: um conflito entre os tribunais e entidades administrativas – a
autoridade da concorrência considera que há uma questão que é da sua
competência e o tribunal (poder jurisdicional) considera também que
aquele caso é da sua competência.

o Conflito de competência (Nº2): “quando 2 ou mais tribunais da mesma ordem


jurisdicional se consideram competentes ou incompetentes para conhecer da
mesma questão”.
 Exemplo 1: um tribunal de comarca de juizo cível e outro de juízo de
família e menores consideram-se os dois competentes ou os dois
incompetentes para julgar a mesma.
 Exemplo 2: o tribunal de competência territorial alargada da Concorrência
e o tribunal de Comarca estarem em conflito quanto à competência para
julgar a mesma causa.

 Artigo 110º determina a resolução destes conflitos:


o Conflitos de Jurisdição (Nº1): são resolvidos conforme os casos pelo STJ ou pelo
Tribunal dos Conflitos
 Resolvidos pelo Tribunal dos Conflitos: é uma espécie de um tribunal ad
hoc criado só para resolver aquele litigio em concreto.
 É regulado por uma lei própria: lei 91/2019 de 4 de Setembro
 É um tribunal presidido pelo Presidente do STJ ou do STA e depois
é composto por juízes conselheiros de cada um destes dois
tribunais.
 Serve para resolver os conflitos entre a ordem dos tribunais
judiciais e a ordem dos tribunais administrativos.
 Resolvidos pelo STJ:
 Nos restantes casos de outros conflitos – entre duas funções do
Estado ou outros órgãos jurisdicionais que não os tribunais
judiciais e os tribunais administrativos.

Em termos de competência hierárquica resulta daqui que o STJ tem


uma competência para resolver em 1ª instância tudo o que são
conflitos de jurisdição cuja competência não caiba ao Tribunal dos
Conflitos – temos neste sentido uma exceção à regra que consta da
atribuição da competência só em função do recurso.

o Conflitos de Competência (Nº2):


 são resolvidos pelo Presidente do tribunal de menor categoria que exerça
jurisdição sobre as autoridades em conflito.
 Exemplo 1: conflito entre um juizo cível e um juízo de família e
menores, quem é competente para resolver este conflito de
competência é o presidente do tribunal da Relação, uma vez que
este nos termos do 110ºnº2 é o tribunal de menor categoria que
exerce jurisdição sobre as autoridades em conflito.
 Exemplo 2: se o conflito for entre um tribunal da 1ª instância e um
tribunal da Relação, a competência já pertence ao STJ.
 No fundo, os casos de conflitos de competência e de jurisdição são
exceções à regra de que em 1ª instância os tribunais de comarca têm
sempre a competência para resolver os litígios.

2ª caso de exceção - as ações de indemnização propostas contra magistrados judiciais por atos
praticados no exercicio das suas funções:

Os magistrados, tal como determinado pelo artigo 5º do estatuto dos magistrados judiciais, não
podem ser responsabilizados por atos praticados no exercício das suas funções. É uma garantia de
independência no exercício da função jurisdicional. No entanto, o Estado pode ser
responsabilizado em certas circunstancias muito exigentes (nomeadamente casos de erros
grosseiros) e condenado a pagar uma indemnização aos que foram lesados pelos tribunais ou pelo
juiz no exercicio da sua função jurisdicional – O Estado pode ser responsabilizado, o magistrado
não (resulta da lei da responsabilidade civil extra-contratual contra o Estado onde se encontram as
regras através das quais é possível responsabilizar o Estado no exercício da sua função
jurisdicional).

Apesar dos lesados não puderem diretamente acionar os magistrados, o Estado tem direito de
regresso contra os magistrados que no exercício da usa função causaram danos aos particulares, e,
portanto, quando falamos aqui de ações instauradas contra os magistrados estamos a falar de
ações normalmente instauradas no exercício do direito de regresso. Existe para este efeito uma
forma especial de ação (processo especial dos artigos 967º e ss. CPC que iniciam um título que
consagra um processo especial “da ação de indemnização contra magistrados”) – exercício deste
direito de regresso.

Qual o tribunal com competência para julgar estes magistrados?

 Por uma razão de dignidade do exercício da função jurisdicional não faz sentido que sendo
demandado um juiz de um tribunal de 1ª instancia que seja um colega seu do tribunal de
1ª instância a julgar esta ação, e por isso, resulta da lei de organização do sistema
judiciário, artigo 55º alinea c) (competência do STJ) e artigo 73º alinea b):
o Artigo 55º alinea c) – STJ tem competência para julgar estes por que é o tribunal
superior em relação aos magistrados do tribunal da Relação e contra os
magistrados do Supremo não há alternativa.
o Artigo 73º alinea b) – Tribunal da Relação tem competência para julgar juízes de
1ª instância por causa das suas funções. Portanto, tem competência de 1ª
instância para julgar ações cometidas pelos juízes dos tribunais inferiores no
exercício das suas funções.

Mesmo uma ação que tenha um valor superior à alçada da Relação (ou seja, 30 mil euros – o que
significa que pode chegar ao STJ) não significa que a competência em razão da hierarquia para
julgar essa ação em 1ª instância não seja dos tribunais de comarca. Quando se fala em
competência em razão de hierarquia isto não tem a ver com o valor da causa, apenas tem a ver
com o valor da causa em sede de recurso. Se vou instaurar a ação pela 1ª vez é irrelevante para
saber se proponho a ação no tribunal de comarca ou da Relação ou STJ o valor da causa, apenas
em sede de recurso é que é relevante. – É ERRADO DIZER QUE: de acordo com o criterio da
distribuição em razão da hierarquia é competente o STJ porque a ação tem um valor superior a 30
mil euros.

3º critério – valor:

 artigos 66º CPC


 artigos 41º, 117º, 130º lei da organização do sistema judiciário.

A toda a ação é atribuido um valor determinado por uma série de citérios que se encontram nos
artigo 296º e ss. CPC – criterios para saber o valor de uma determinada ação (todo o tipo de ações
têm critérios gerais e especiais de certo tipo de ações).

Este valor da ação serve:

 Para efeitos de determinação da forma de processo: caso em que forma do processo


depende do valor da ação é DL 169/98 que cria uma ação especial para cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de um contrato mas apenas para obrigações
pecuniárias que não ultrapassem o valor de 15 mil euros. Para esse efeito temos de ver
qual o valor da causa.
 Outro caso em que o valor da causa é relevante é para efeitos de recurso: nos termos do
artigo 629º CPC um dos pressupostos para a possibilidade de recurso é que o valor da
causa exceda o valor da alçada do tribunal que se recorre.
o Sabendo que o valor das alçadas está no artigo 44º da LOSJ: que o valor da alçada
da 1ª instância é de 5 mil euros e o tribunal da Relação é de 30 mil euros, vou ter
de comparar o valor da ação com o da alçada para saber se é ou não recorrível a
ação.
 Serve ainda para o efeito de determinar qual o tribunal competente:
o Este critério está relacionado com o critério de competencia em razao da matéria,
vimos que dentro dos tribunais de comarca podem existir vários juizos de
competência especializada e, havendo estes juízos, há um ultimo juízo de
competência especializada que tem sempre de existir que é o juízo cível que tem
competência residual (basta que exista apenas 1 juízo para que este tenha de
existir)
 Quando seja competente um juízo cível (os residuais – e, portanto, este
critério apenas releva na realidade quando seja competente um juízo cível,
é um critério mais restrito), a competência pode ser de um:
o Juízo Central cível – serve para julgar ações de valor mais
elevado
o Juízo Local cível – serve para julgar ações de valor mais
baixo (menos relevante)
 É por esta distinção que se diz que a distribuição de processos
entre juizo cível central e local é feito em função do valor da ação.
 Como é que sei o que é que cabe ao juízo central e ao local?
o Artigo 117º LOSJ – temos a delimitação da competência
dos juízos centrais: “Alinea a) - compete aos juízos centrais
cíveis a preparação e julgamento das ações declarativas
cíveis de processo comum de valor superior a 50 mil
euros”:
 Os juízos centrais cíveis têm competência para
julgar as ações de valor superior a 50 mil euros
+
 desde que sigam a forma de processo declarativa
comum
 Temos outro critério que permite
determinar a competência entre juízos
centrais e locais que é o critério da forma
do processo
 O que significa que apesar do legislador
não o dizer temos um outro critério da
distribuição da competência que temos de
associar ao critério do valor que é o
critério da forma do processo (está
implicitamente também previsto o critério
da forma de processo na distinção entre a
competência dos juízos locais ou centrais
cíveis).

o Artigo 130º LOSJ (a contrario) – temos a competência dos


juízos locais cíveis, que é uma competência residual:
 Compete ao juízos locais cíveis todas as causas
que não sejam atribuídas a outros juízos (tudo o
que não caiba no artigo 117º tem competência os
juízos locais cíveis):
 Ou seja, vao ser da competência dos
juízos locais cíveis tudo o que são ações
que sigam:
o forma de processo especial
ou
o todas as ações que sigam a forma
de processo declarativas comum
inferiores a 50 mil euros
AULA 2/11/2023

4º critério – do território:

 CPC: artigos 70º e ss.


 Lei de organização do sistema judiciário: artigo 43º

Artigo 43º LOSJ: em traços largos distingue o âmbito de competência territorial dos vários graus da
hierarquia dos tribunais.

Como é que sei perante um determinado litígio no território nacional, querendo propor a ação em
1ª instancia ou em sede de recurso, que tribunal vai ser competente? De Faro, Évora, Porto, etc.

Para isto tenho de cruzar dois elementos:

 a 1ª coisa que tenho de fazer e que resulta do artigo 43º é saber em abstrato qual é a área
geográfica em que cada tribunal exerce jurisdição
o Tenho de saber até onde vai a circunscrição da competência de uma determinada
comarca e, para isso, tenho de ir à LOSJ sabendo que essa lei faz uma divisão do
território nacional em circunscrições e depois desta divisão diz-nos o que está
abrangido por cada circunscrição. – vamos encontrar nos anexos à lei de OSJ
 Anexo I – determina qual é a área de circunscrição dos tribunais da
Relação:
 Determina os 5 tribunais da Relação que existem e quais são as
comarcas abrangidas pela competência de cada um dos tribunais.
A circunscrição de cada Tribunal vai abranger várias comarcas
porque são apenas 5 tribunais.
o Exemplo: o Tribunal da Relação de Guimarães – se
tivermos uma sentença proferida por um tribunal de
comarca de Vila Real, se quiser recorrer para o tribunal da
Relação vou recorrer para o tribunal da Relação de
Guimarães.
 Tenho de saber em abstrato quais são as áreas de
circunscrição abrangidas pelos tribunais da
Relação.

 Anexo II – determina a circunscrição dos tribunais de Comarca:


 Temos todos os tribunais judiciais que existem dentro de cada
comarca e dentro de cada comarca temos os municípios que estão
abrangidos pela circunscrição deste tribunal
o Exemplo: Tribunal da comarca de Lisboa, a circunscrição
deste tribunal abrange os municípios de Alcochete,
Almada, Barreiro, Lisboa, Moita, Montijo e Seixal – não
coincide exatamente com o município de Lisboa, a
comarca é mais abrangente do que isso.
 Anexo III – determina a área dos tribunais de competencia territorial
alargada
Com os anexos fico a saber em abstrato qual é circunscrição de cada um dos
tribunais, mas isso não chega:
 A 2ª coisa que vou ter de fazer é comparar estes elementos abstratos da circunscrição de cada
tribunal com o litigio em concreto, e no litigio em concreto vou saber qual é o elemento desse
litígio relevante para a determinação da competência territorial e vou saber para onde é que
esse elemento reverte.
o Exemplo 1: há 2 partes em litigio – uma domiciliada em lisboa e outra no Porto,
estao em litigio pela propriedade de um imóvel situado em Faro e uma das partes
instaura contra a outra uma ação de reivindicação desse imóvel mas uma das
partes é domiciliada em lisboa e outra no porto – onde vou propor a ação de
reivindicação?
 Temos de ir aos artigos 70º e ss. do CPC ver em cada litigio qual é o
elemento relevante que me vai dizer qual vai ser a zona do território
nacional onde vai cair a competência do tribunal.
 Numa ação de reivindicação o elemento relevante vai ser a localização do
imóvel – artigo 70º determina isso: nas ações reais o elemento relevante é
o local do imóvel. O imóvel situa-se em Faro, portanto sei que vai ser
competente territorialmente o Tribunal da Comarca de Faro.
 Resta saber se existe em Faro algum tribunal de comarca ou se será outro
tribunal que abrange o município de Faro. Vamos ao anexo II e vemos que
existe a Comarca de Faro que abrange vários municípios incluindo o de
Faro.
o Exemplo 2: imóvel situa-se em Albufeira. Não existe nenhum tribunal de Comarca
de Albufeira, mas sim um Tribunal da Comarca de Faro que incluí o município de
Albufeira.

Temos de comparar os anexos à LOSJ com os artigos 70º e ss. CPC e aplicá-los ao caso concreto.
Servem diretamente para determinar dentro do território nacional qual é o tribunal
concretamente competente.

Artigos 70º e ss. CPC:

Temos uma regra geral e várias regras especiais para certas ações em concreto.

 A regra geral consta dos artigos 80º e 81º


o Artigo 80º - temos a regra geral para as pessoas singulares: é competente o tribunal do
domicílio do réu
o Artigo 81º - temos a regra geral para as pessoas coletivas: é competente o tribunal da
sede da pessoa coletiva

 Regras especiais: os restantes artigos


o Quando é que sei que se aplicam as regras especiais? Vou a estes artigos e vejo que, por
exemplo:
 Artigo 70º - diz respeito a ações reais
 Artigo 71º - diz respeito a ações de cumprimento e de responsabilidade
civil extra-contratual
 Artigo 72º - divórcio e separação
 Artigo 73º - matéria sucessória

Ou seja, temos de ver em 1º lugar se há uma regra especial para a minha ação em concreto. Se não
existir nenhuma regra especial aplicável então vou aplicar a regra geral.

Regra geral dos artigos 80º e 81º CPC: domicilio do réu ou da pessoa coletiva

Esta regra geral tem por detrás um princípio de proteção do réu: é muito mais benéfico/favorável
ser réu numa ação no tribunal do meu domicilio, do que ter de ir a Faro cada vez que há uma
audiência por várias razões: tempo, custos do advogado, etc.

 Artigo 80º - relativamente às pessoas singulares:


o Nº3 – pode fazer alguma confusão principalmente se articularmos com o critério da
competência internacional da coincidência.
 O nº3 diz-nos que: “se o réu tiver o domicilio e residência em país estrangeiro
é demandando no tribunal do lugar em que se encontrar. Não se encontrando
em território português é demandado no do domicílio do autor, e quando este
domicílio for em país estrangeiro é competente para a causa o tribunal de
Lisboa”.
 parece que anda à procura de um tribunal competente em PT – se se
aplica a regra geral mas o reu é domiciliado fora de PT então vamos
arranjar uma maneira em que no limite é competente o tribunal de
Lisboa.
 Este artigo não pode ser aplicado quanto à determinação da
competência internacional do tribunal português através do critério da
coincidência.
o O artigo 62º alinea a) dizia que o tribunal PT era competente
sempre que pelos critérios de competência territorial o
elemento relevante de conexão caísse em território nacional.
Ou seja, as regras de competência territorial têm uma função
direta que é determinar no território PT qual é o tribunal
territorialmente competente, mas têm também uma função
secundária/acessória que é por remissão do artigo 62º
indiretamente também decidem se o tribunal português é
internacionalmente competente o não.
o Se aplicássemos por remissão do artigo 62º a) o artigo 80ºnº3
isso significava que no limite o tribunal PT seria sempre
internacionalmente competente, porque se no limite o artigo
80ºnº3 nos diz que é competente o tribunal de Lisboa então
se aplicássemos este artigo 80ºnº3 também pelo pp da
coincidência não teria nenhum efeito útil.

Este artigo já pressupõe que o tribunal PT é internacionalmente competente, por isso, este artigo
vai desesperadamente tentar encontrar dentro do território nacional qual é o tribunal, que vai ser
o domicílio do réu (portanto se o réu estiver noutro país vamos ter de descobrir aqui um domicílio
sucedâneo) – se o domicilio for de pais estrangeiro no limite tenho de arranjar cá algum tribunal
competente. Se o tribunal português é competente e a regra geral é a que se aplica então tenho de
arranjar em PT um tribunal competente.

O problema deste artigo é que não pode ser aplicado por remissão do artigo 62º alínea a), pode
ser aplicado internamente quando já se definiu que o tribunal PT é internacionalmente
competente mas não pode ser aplicado por remissão para definir se o tribunal PT é competente ou
não, porque é um momento prévio. Porque se não o tribunal PT por coincidência (artigo 62º a) por
remissão para o artigo 83º) seria sempre competente internacionalmente. Porque no limite era em
lisboa que iria recair um elemento de conexão.

O artigo 80ºnº3 só se pode aplicar quando já se tenha concluído previamente que o tribunal PT é
competente (por via direta na determinação da competência territorial na ordem interna). Não se
pode aplicar por remissão do artigo 62º a).

Exemplo: contrato simulado celebrado em PT entre simuladores domiciliados no Canadá – um


deles quer instaurar a ação contra outra para declarar a nulidade do contrato simulado e quer
saber onde tem de propor a ação. Se será em PT ou se será no Canadá:

 1º ver se se aplica o Regulamento de Bruxelas:


o não se aplica o regulamento de Bruxelas – só se aplicava se o réu fosse domiciliado
num estado-membro ou se o imóvel estiver situado em PT sendo a ação uma ação
real e aqui estamos perante uma ação de anulação de um contrato, a ação não
tem diretamente a ver com o imóvel mas sim a declaração de anulação do
contrato (é considerado uma ação real uma ação de reivindicação, execução
específica, etc).
 2º isto remete-nos para a lei interna, temos de ver se o tribunal PT é competente – artigo
62º e vamos começar pelos critérios (que são alternativos)
o Princípio da coincidência – alínea a): este artigo remete-nos para os artigos 70º e
ss. para saber quais são os elementos de conexão.
 Não existe para esta ação um critério de competência territorial especial e
portanto vamos aplicar o artigo 80º:
 O nº1 diz que será o local do domicílio do réu – mas o réu não é
domiciliado em PT portanto iria se concluir que o tribunal PT não é
competente.
 Se aplicássemos o nº3 do artigo 80º então no limite o tribunal PT
era sempre competente, porque no limite íamos sempre chegar ao
tribunal de Lisboa – não pode funcionar aqui.
o Princípio da causalidade – alínea b): a causa de pedir desta ação é a simulação.
 À luz do pp da causalidade o tribunal PT é internacionalmente
competente. Mas isto não chega, temos de ver no território nacional qual
é o tribunal territorialmente competente – dizer que o tribunal PT é
competente pelo pp da causalidade não diz qual dos tribunais na ordem
interna em termos de território é que é o competente.
 Portanto, temos de ir novamente aos artigos 70º e ss. (num segundo
momento em que já está decidido que o tribunal competente é o PT).
 Temos de ir outra vez à regra geral (é uma ação para a qual não há
regra especial como já vimos), aplicamos o artigo 80ºnº1 mas é
contraditório:
o o domicilio do réu é no Canadá mas o artigo 62º disse que
o tribunal PT era competente, onde é que vamos instaurar
a ação? Agora sim em Lisboa do artigo 80 nº3

(só pode funcionar quanto à competencia territorial direta e


não por remissão da competência internacional)

Critérios especiais (os que têm mais aplicação):

Artigo 70º:

 Este artigo compreende-se por razão de prova, ou seja, naturalmente em ações que têm
por objeto imediato o próprio imóvel, é relevante saber qual é o local da situação do
imóvel, ou saber que o tribunal competente é o tribunal da situação do imóvel.
o A interpretação que a doutrina faz do artigo 70º é que apenas cabem aqui as ações
que tenham por objeto imediato o imóvel – há muitas ações que indiretamente
têm por objeto mediato um imóvel
 Exemplo 1: ação de anulação de um contrato de compra e venda de um
imóvel com fundamento em simulação/erro (tanto faz o vício para o
efeito).
 O objeto imediato nesta ação de anulação do contrato não é o
imóvel, é o contrato e o vicio do contrato. O imóvel é apenas um
objeto mediato
 Exemplo 2: reivindicação; execução específica; etc
 Aqui, pelo contrário, o objeto imediato já é o próprio imóvel
o Há uma única exceção a esta doutrina que é o professor
Castro Mendes – considera que nestas ações se devem
enquadrar as ações que direta ou indiretamente tenham
que ver com o imóvel;
 defende que deve ser relativo ao objeto mediato
ou imediato
o Resto da doutrina – consideram de forma unanime que
este artigo deve ser interpretado restritivamente
precisamente por razões de prova, só se justifica para as
ações cujo objeto imediato seja um imóvel.

Artigo 71º:

 Nº1 – diz respeito às ações que direta ou indiretamente esteja em causa o cumprimento
de um contrato, portanto para questões de cumprimento contratual e remete-nos para o
tribunal do domicílio do réu.
 A 1ª parte corresponde com a regra geral
o Porque é que são ações que são direta ou indiretamente relacionadas com o
cumprimento?
 Porque incluem-se ações para exigir o cumprimento mas também a
indemnização por não cumprimento (portanto, responsabilidade civil
contratual, o cumprimento defeituoso, resolução do contrato, etc) – no
fundo são questões contratuais, questões relativas ao cumprimento
contratual em geral.
o No entanto, se fosse apenas esta a regra não se compreendia porque a regra geral
é igual portanto tem alguma especialidade:
 2ª parte – pode o credor optar pelo tribunal no lugar onde a obrigação
devia ser cumprida quando o réu seja uma pessoa coletiva.
 No fundo, o que o artigo diz é que quando o réu é pessoa coletiva
não merece tanta proteção, e portanto, o autor pode escolher
outro tribunal territorialmente competente que é o do
cumprimento da obrigação.

 Nº2 – trata dos casos das ações de responsabilidade civil extra contratual, que remete para
o local onde ocorreu o facto Ilicito (dos artigos mais aplicados em matéria de competência
territorial)

Artigo 82º: “pluralidade de réus e cumulação de pedidos” – é aqui que vamos descobrir as regras
para a fixação do tribunal competente na sequência de uma coligação.

 Aplica-se também a uma matéria que já demos que é a coligação de réus.


o Quando estudámos a coligação vimos os requisitos da coligação, um deles
resultava do artigo 37º era a competência absoluta (consiste em competência em
função da matéria, competência internacional e hierarquia) – o que significa que
não é necessário existir o mesmo tribunal territorialmente competente para todos
os pedidos numa coligação para esta ser admitida.
 Isso significa que o legislador admite coligações em que o tribunal
competente para cada um dos pedidos é um tribunal territorialmente
diferente, não é um impedimento à coligação.
 E se isto não é um impedimento então tem de haver um artigo que me diz
onde vou propor a ação.
 Se for um autor que coliga 2 réus (instaura uma ação com 2 réus) e
fórmula um pedido contra cada um e o tribunal competente para
conhecer do pedido contra o réu 1 é o tribunal de Guimarães e o
tribunal competente para conhecer do pedido contra o réu 2 é o
Tribunal dos Açores – como é que se resolve isto? Através dos
critérios do artigo 82º:
o Isto quando o critério for o critério do domicilio do réu
 1 – havendo mais do que 1 réu na mesma causa
devem todos ser demandados no tribunal do
domicílio do maior número
 2 – se for igual o numero dos diferentes domicílios
pode o autor escolher de qualquer deles.
o Quando o critério não for o do domicílio do réu temos as
regras no Nº2 e Nº3
 Nº2 – se o autor cumular pedidos para cuja
apreciação sejam territorialmente competentes
diferentes tribunais pode escolher qualquer deles,
a não ser que um dos pedidos diga respeito a um
critério de competência territorial de
conhecimento oficioso.
 Há casos de incompetência territorial mais
graves que outros, e esses mais graves do
artigo 104º CPC são de conhecimento
oficioso e têm prevalência, e no caso de
pluralidade de réus, tem de ser o
escolhido.
 Nº3 – quando se cumulam pedidos entre os quais
haja uma relação de dependência ou
subsidiariedade a ação deve ser proposta no
tribunal competente para a apreciação do pedido
principal.
 Se peço contra 1 réu a anulação de um
contrato e contra o outro réu a devolução
da coisa que lhe foi vendida na sequência
desse contrato claro que o pedido
principal é o 1º e o outro é uma
consequência do 1º e, portanto, não faz
sentido admitindo esta coligação, que
possa escolher como tribunal competente
o tribunal competente para o 2º pedido.

No fundo o tribunal competente para julgar uma determinada ação é uma soma de todas as peças
do puzzle. Passo por todos os critérios:
 Critério internacional: se o tribunal PT for competente
o Critério Material: se o tribunal competente for um tribunal judicial e de juízo X
 Critério da Hierarquia: 1ª ou 2ª instância
 Critério do valor e da forma de processo
 Critério do território: qual o local do território do tribunal dentro de PT
Juntando estas peças todas, posso concluir que é competente para julgar a ação, por
exemplo, “o juízo central cível do tribunal judicial da comarca de Setúbal”.

A extensão da competência:

 Artigos 91º - 93º CPC


o Para que é que servem estes artigos?
 Numa ação não existe só o conhecimento do pedido principal. ou
seja, o autor propõe a ação para que o tribunal conheça do pedido
formulado pelo réu, mas ao longo da ação vão surgindo pedidos
incidentais.
o Exemplo: autor instaura uma ação de incumprimento de
um contrato e o réu defende-se a dizer que o contrato não
é válido, temos uma defesa por exceção;
 O réu pode-se vir defender formulando um pedido
reconvencional (fazer um contra-ataque)
 Ou pode o conhecimento da questão principal depender de outra
questão
o Exemplo: numa ação de indemnização com fundamento
na prática de um crime, o conhecimento do pedido
principal depende do conhecimento de outra questão da
competência do tribunal criminal.

 Ou seja, se há varias questões que se suscitam numa ação e que não são o
pedido principal, a questão que se coloca é: Saber se o tribunal
competente para conhecer o pedido principal propriamente dito também
pode conhecer das outras questões? Porque imaginemos que o tribunal
não era o competente para conhecer das questões isoladamente
colocadas.
 Exemplo: para uma ação de cumprimento o tribunal competente
seria 1 e para conhecer da anulação do contrato seria outro; ou
para conhecer do pedido reconvencional do réu seria outro
tribunal o competente.
o Portanto, a pergunta que se coloca aqui é: Se a competência principal do tribunal
do pedido principal se estende também a estas questões. – estes 3 artigos
respondem a estas questões:
 91º - questões incidentais
 92º - questões prejudiciais
 93º - questões reconvencionais

o Destes 3 artigos resulta a extensão da competência do tribunal: o tribunal


competente para o pedido principal é também competente para essas questões.

o Artigo 92º Nº1 – se o tribunal quiser pode suspender o processo à espera, por
exemplo, que no tribunal criminal seja decidido se houve ou não a prática de um
crime.
 Resulta à contrario que se o tribunal não quiser suspender tambem não
precisa de o fazer – pode suspender ou pode julgar ele próprio, quando o
que esteja em causa seja uma questão prejudicial criminal ou
administrativa. Porque quando estiver em causa uma questão prejudicial
da competência de outra jurisdição aí o tribunal tem de decidir, não pode
suspender.
 Por exemplo: se a questao prejudicial fosse da competência de um
juizo de família e menores estando a ação principal a decorrer da
competência de um juízo cível, o tribunal vai ter de decidir tudo –
tem competência para decidir tudo porque existe esta extensão.
o Se uma depende da outra não faria sentido estar a separar
as duas.

o Artigo 93º - por principio, o tribunal da ação é também competente para as


questões reconvencionais (desde que tenha competência absoluta para as
questões reconvencionais).
 Ou seja, tem de ser o mesmo tribunal competente para a ação principal e
para o pedido reconvencional em razão da nacionalidade, matéria e
hierarquia.
 Se não, quer dizer que a questão reconvencional não pode ser conhecida?
O réu não tem o direito de formular um pedido autónomo contra o autor?
Tem, através de uma ação autónoma.
 A diferença entre a defesa por exceção e o pedido reconvencional
do réu
o Claro que para a defesa por exceção o tribunal tem de ser
– é um imperativo do direito do contraditório que o
tribunal da ação seja também competente para conhecer
dos meios de defesa do réu.
o Quanto a um pedido autónomo do réu já não é um
imperativo do contraditório porque o réu é livre de
formular aquele pedido numa outra ação, não é uma
defesa. Por isso é que há requisitos para a formulação de
um pedido reconvencional quanto à competência do réu.
Pactos de competência: artigo 95º

Temos os pactos de jurisdição e os pactos de competência:

 São os dois alterações da competencia através de um acordo das partes. Uma alteração da
competencia por via convencional (alteração da competência que resultaria da aplicação
da lei se não existisse o pacto).

Pactos de jurisdição vs Pactos de competência:

 Pactos de Jurisdição (Artigo 94º) – são os que alteram normas de competencia


internacional
o determinam que o tribunal competente para julgar um litigio plurilocalizado é, por
exemplo, um tribunal português.
 Pactos de Competência (Artigo 95º) – são os que alteram as normas de competência na
ordem interna.
o um pacto que diga que o tribunal competente para julgar a ação é o tribunal de
Lisboa.
o O artigo 95º é enganador:
 parece que os pactos de competência são admitidos, mas depois da leitura
desse artigo diz-nos que: os pactos de competência são admitidos mas
apenas para alteração de matérias de competência territorial.
 Ou seja, o único criterio que pode ser alterado através de um
pacto de competência é o critério territorial.
o A única coisa que o pacto pode dizer é que em vez de ser
o de lisboa ser de Évora
 (mas não pode alterar em razao da matéria ou em
razão do valor e da forma de processo ou em
razão da hierarquia).
 No entanto, mesmo em relação às regras de competência
territorial, o próprio artigo 95ºNº1 exceciona algumas que
considera de natureza imperativa:
o As regras que considera serem de natureza imperativa são
as que estão no artigo 104º – são regras de competência
territorial imperativa e que são de conhecimento oficioso.

Logo, o artigo 95º remete para o artigo 104º dizendo que estas
regras não podem mesmo ser afastadas.

 Exemplo: 2 sociedades celebram um contrato do qual consta uma


clausula que consagra um pacto de competência em que se diz
que o tribunal competente para conhecer dos litigios do contrato
é o tribunal de Aveiro, sendo que o tribunal de Aveiro não é
domicilio do réu nem do autor nem o local do cumprimento do
contrato e, no caso em questão, estamos perante uma ação de
cumprimento de uma obrigação emergente do contrato. É valido
este pacto de competencia?
o É válido por remissão para o artigo 104ºnº1 alinea a) que
nos remete por sua vez para o artigo 71ºNº1 2ª parte
 A competencia territorial desta ação cairia no
artigo 71ºnº1 2ª parte e este artigo determina que
pelo facto do réu ser pessoa coletiva não é uma
norma imperativa de competência territorial, só a
primeira parte.
 Ou seja, para que o pacto não fosse válido era
preciso o réu fosse uma pessoa singular – neste
caso o pacto de competência já não seria válido
porque o artigo 71ºnº1 1ª parte é uma regra
imperativa de acordo com o artigo 104º alinea a).

Regime da incompetência – introdução:

Nem todos os criterios de determinação de competencia têm a mesma relevância. A forma de o


legislador distinguir a relevância dos vários criterios de competência é aferida através de duas
modalidades de incompetência:

 Absoluta – artigos 96º e ss. (tipo de competência mais gravosa).


 Relativa – artigos 102º e ss.

O que é que gera incompetência absoluta e relativa?

 Absoluta:
o O artigo 96º determina quais são os casos de incompetência absoluta:
 Alinea a) sempre que sejam infringidas as regras de competência em
razão da:
 matéria
 hierarquia
 competência internacional
o também se inclui aqui a violação de um pacto de
jurisdição, porque no fundo se tenho um pacto de
jurisdição inválido estou a desrespeitar as regras de
competência internacional.

 A alinea b) diz-nos que ainda é causa de incompetência absoluta:


 A preterição de tribunal arbitral

 Relativa:
o Artigos 102º determina que são os casos de infração das regras:
 do valor
 de território
 ou de uma violação de um pacto de competência
 + professora acrescenta ainda o critério da forma de processo (se está
associado ao valor da causa, o critério da distribuição da competência em
função da forma de processo também tem de gerar incompetência
relativa e não absoluta).
AULA 6/11/2023

Aula passada:

Incompetência é uma exceção dilatória, mas se formos ao 278º onde tem a lista das ED que geram
a absolvição da instancia na alinea a) apenas temos a incompetência absoluta do tribunal – isto
significa que existirá outro tipo de incompetência, que será a relativa que não gera como
consequencia a absolvição do reu da instancia.

O 576ºnº2 – as ED obstam a que o tribunal conheça do kmertio da causa .. ou a remssa do proceso


para outro tribunal. Nem todas as ed dao lugar á abolsição, há umas que se dá a remessa para
outro tribunal---- que é a incompetência relativa.

A consequencia destas duas incompetências é diferente: no caso da absoluta a consequencia é a


absolvição do reu da instância (278º alinea a); 576ºnº2; 99º)

Absoluta: Artigo … determina que a consequencia é a absolvição do réu da instância

Relativa: o Artigo 105ºnº3 determina a remessa do processo para o tribunal competente

O que gera a incompetência absoluta: artigo 96º - é consequencia das infrações … da matéria da
hierarquia ou internacional + alinea b) a … do tribunal arbitral + violação de um pacto de
jurisdição, que apesar de não ser referido no artigo 96º é indiretamente referido no 97ºnº1

 …. Altera regras de competencia internacional, se alter aregras de competencia


internacional entao violar o pacto de jurisdição é a mesma coisa que violar regras de
competencia internacional.
o Os pactos de ocmpdtencia apenas pdoem alterar regras de competencia nacional,
e não de competencia internacional, e por isso, nunca geram competencia
absoluta, apenas relativa.
o ….
o Estes pactos de jurisdição regulados no artigo 94º CPC – quando não se aplique o
regulamento de Bruxelas aplicamos a lei interna e estes são regulados pelos
artigos 94º e ss.
 Artigo 94º - pactos privativos ou atributivos de jurisdição:
 Pactos de jurisdição – alteram o tribunal internacionalmente
competente tendo em conta as normas dos artigod 94º e ss.
 É privativo: devemos adortar a perspetiva do tribunal portugues,
ou seja, um pacto é privativo de jurisdição se retira comeptencia
ao tribunal portugues quando ele à partida o tinha
 É atributivo: quando o tribunal PT não seria competente de acordo
com estas regras do 62º e 63º, mas através de pacto de jurisdição
lhe é atrobuida essa comeptencia.
 As regras plaicadas são as mesmas, as do artigo 94º, mas naturalmente, a
questao só se vai colocar no tirbunla PT nos casos dos pactos atributivcos,
porque em pp um oacto atributivo vai … a poropusitura da ação noutro
tribunal. A ao ser que, apesar do pacto privativo, as partes venham
instauraer a mesma a ação no tribunal.
 A questao que se pode colocar de violação de pactos de jurisdição
– só se coloca para os pactos privativos, em que o tribunal tenha
sido privado da competencia, mas ainda assim o autor em,
violação desse ato, vem propor a ação no tribunal PT.
o O que é que o tribunal deve fazer nestes casos?
 As regras da incompetência absolita determinam
que devem gerar a absolvição do reu da instancia.
o A violação de um pacto atirbutivo nunca se coloca no
tribunal PT, mas num esttrangeiro.
 Assim, Em relação ao tribunal PT a violação de um pacto de
jurisdição apenas lhe diz respeito quando estes sejam privativos.

Incompetência relativa: ……

Naturalmente, os pactos de ocmpetecia alteram regras de comp territorial e ptt geram


incompetência relativa que geram a remessas para o tribunal competente.

A analise… pressupõe tb a apreciação desse …. De pacto de competencia – artigo 95º para verificar
se o pacto é válido. Não faria sentido s eo tribunal não fosse valido….. --- Previamente a tudo, tem
de oficiosamente, averiguar da sua validade.

Para alem das causas e efeitos, temos a:

Legitimidade para suscitar a incompetência: a legitimidsde pertence ás partes e quando ou saber


se pertence não apenas as partes mas é tambem de conhecimento oficioso?

 Quanto à incompetência absoluta: resulta do 97ºnº1 que pode ser arguida por ambas as
partes ou suscitada oficiosamente pelo tribunal.
o na verdade, a única parte para eguir a incompetência é o reu – seria um venire
contra factum proprio que o autor viesse instaurar a ação num tribunal e depois
viesse arguir a incompetência ….. quando seja reu de um pedido reconvencional.
Quem tem legitimidade é apenas o reu da ação e não o autor.
o O proprio artigo 97ºnº1 consagra 2 exceções ao conhecimento oficioso:
 A violação de um pacto privativo de jurisdição
 …. Implica que as partes por acordo era um tribunal estrangeiro e
apesar disso o autor …. E o reu não vem suscitar essa
incompetência. O tribunal não pode suscitar, porque na verdade
houve uma aceitação tácita das partes … se não vem … não faria
sentido que o tribunal obrigasse a cumprir o seu proprio acordo –
não há um interesse da ordem publica que justifique ….. por isso é
que é uma exceção
 Preterição de um tribunal arbitral
 É determinada pelas mesma ordem de razões da 1ª exceção
 Vamos ver que a fonte da competencia de um tribunal arbitrtal é o
acordo entre as partes e, por isso, pela mesma razao se o reu não
vem arguir …. Não faz sentido que seja o tribunal que venha ….

 Incompetência relativa: artigos 103º e 104º resulta que a regra é que apenas cabe ao réu
o ….
o O aritgo 104º no entanto determina o conhecimento oficioso … - afinal o que
resulta deste artigo é que o nº2 …. É sempre de conhecimento oficioso …. O valo
está sempre associado á forma de processo e ainda o …. A incompetência de
território é de conhecimento oficioso (estas regras não podem ser laterada spor
um pacto de competencia)
o Logo, apesar da regra parecer que esta incompetência …… há vários casos de
conhecimento oficioso

Momento até ao qual a incompetência pode ser suscitada pelas partes ou conhecida
oficiosamente pelo tribunal:

 Absoluta – aritgo 97ºnº1 CPC: pode ser conhecida e suscitada até ao transito em julgado
da decisão sobre o fundo da causa.
o É de tal forma a importancia …. Que pode ser suscitada a incompetência absoluta
até ao transito em julgado.
o Exceção: artigo 97nº2 – quando estejam em causa apenas a violação das regras da
competencia em razao da matéria dentro dos tribunais judiciais, ….. na
competencia em razao da matéria haviam 2 planos diferentes (determinação da
ordem … distingua entre os judiciais e outras ordens….. ; e numa segunda dase, se
fosse dos judiciais tinhamos de ver se era de ….. competencia alargada…. ) se a
violação das regras de competencia for aoenas no ambito dos tribunaus judiciais
não é tao grave …. Nestes casos, o 97ºn2 resulta que pode ser conhecida ou
suscitada até ao despacho saniador apenas ou não havendo lugar a este, até ao
inicio da audiencia final. No fundo há uma antecipação ….

 Relativa – artigos 103ºnº1 e 104ºnº3


o 103ºnº1 - … reu tem de obrigatoriamente de suscitar até à contestação.
o 104ºnº3 - … pode ser conhecida até ao despacho saneador
o Não havendo lugar a despacho saneados (revelia do réu, etc) será até á prolação
…. Deve ser conhecida a incompetência logo no 1º momento em que o tribunal
intervenha e profira despacho. O que vimos neste ponto é, até que momento quer
as partes quer o tribunal devem conhecer a incompetência.

Quais são no processo os momentos proprio em que o tribunal pode julgar a


incompetência/conhecer da incompetência:

 Absoluta – pode ser conhecida em vários momentos da marcha do processo.


o O momento mais adequado para o conhecimento é o saneamento e condensação,
mais concretamente, o despacho saneador. Porque a função deste (595ºnº1 a)) é o
conhecimento das exceções dilatórias, logo é normal que neste momento o
tribunal conheça imediatamente da incompetência.
o Há um momento anterior, mas não existem em todas as ações – aregra é que não
existe em todas a sações, que é o despacho liminar (depsacho proferidpo logo
depois da petição inicial antes do reu ser citado, há ações em que o tribunal toma
conhecimento da ação ainda antes do réu, no fundo faz uma triagem antes do réu
ser citado – são casos excecionais do 226nº4??) – artigos 590ºnº1 e 526ºnº4
o Em todas tendo em conta o prazo alargado, nautralmete em todas, as utras
incompetência sabsolutas podem ser conhecidas mais á frente, na sentença –
artigo 608ºnº1 que nos explica o conteudo e função da sentença
 Em 1º lugar, conhece das questoes processuais que possam determinar a
absolvição da instancia – sentença o tribunal pode ainda conhece r…..
 Pode haver circunstancias que não tinha conhecimento e que
apenas conheceu aqui

 Relativa - …. Como regra apenas pode ser arguida, artigo 104ºnº3, pelo réu e, portanto, se
o réu apenas pode suscitar a questao da icnompetencia relativs até a contestação, isso
significa que o omoento para o tribnal tb será o despacho saneador, porque é este que é o
despacho imediatamente á contestação. E o ester artigo determina que o juix, quiando
possa conhecer da incompetência apenas o pode fazer até ao despacho saneador. Não
havendo … apenas ao ….
o Faz sentidso que apenas possa ser conhecida ate ao Desp saneador …. Porque ….
Remssa par aoutro tribunal, não faz sentido que fosse remetido na fase da
sentença ….. fazx sentido que seja neste momento e que o proximo tribunal siga a
ação a partir daí.

Quanto ao valor do caso julgado da decisão sobre incompetência relativa ou absoluta:

 Absoluta – artigo 100º e 101ºnº1


o …. Não têm valor fora do processo, ou seja, têm força de caso julgado meramente
formal que é a regra

 Relativa – artigo 105ºnº2, a decisão sobre incom relativa resolve definitivamente a questao
da competencia
o Aqui não é meramente formal, o obejtvo é … se o truibnal competente rejeitase a
competencia tinhamos um “ping-pong” que não se justiifca – é a forma de evitar
conflitos em matéria de competência relativa.

Impugnação ……

 Absoluta-
o Exemplo, o tribnal onde prupor a ação é absolutamente incompetente para julgar
a causa e eu não concordo, a forma de impugnar é atraves de recurso. este recurso
tem uma especialidade a circunstancia de ser sempre admissível até ao STJ
independentemente do valor da causa - -artigo 629ºnº2 alinea a).
 Apesar do valor da causa ser um pressuposto, havia causas cuja
admissibilidade existe independente do valor e os casos …..

 Relativa – 105ºnº4
o A forma de impugnação é através de reclamação para o presidente do tribunal
superior – menor gravosidade de ….. incompetência relativa
 Apenas determina a remessa para outro tribunal, não fico sem tribunal
competente, não fico sem ação – é menor grave que absoluta

Meios de resolução alternativa de litigios:

Onde vem este meio? Podemos dizer que existe um pp de adm da jautiça que é o pp da …. Há uma
proibição de auto tutela que faz com que o estado assegure o monopólio da adminsitração da
justiça e crie os orgaos necessários para ….. têm por vocação administrar a justiça.

No entanto, ao longo do tempo, … houve uma evolução da sociedade no sentido de uma amaior
consciencia dos direitos que faz com que o recurso a tribunal seja maior, mas tambem uma maior
litigância que vai levar uma maior morosidade… e os custos maiores . por isso, para garantir que os
tribunais conseguam conrinuar a dar resposta …. E respeitar os pp do processo equitativo, no qual
se inclui o direito à justiça num prazo razoável, o legislador começou a admitir a entrada de meios
extrajudiciais de composição dos litigios que resultam de um acordo das partes. Foi assim, através
de acordos que se criaram e administram aos poucos estes meios alternativos de resolução de
litigios. Admitir …. Que permitem uma maior celeridade e alivio do sistema processual …

Temos 3 principais meios de resolução alternativa de litígios: Arbitragem, mediação, julgados de


paz

1. Arbitragem – sistema de resolução de litigios em que as partes por acordo decidem recorrer a
um tribunal constituido pelas proprias, ou escolhido pelas próprias, para resolver o litigio.

a. Neste sentido, são tribunais privados. Ou seja, …. O estado ao reconhecer


constitucionalmente estes tribunais e a sua competência (artigos 209ºnº2 da CRP), não
são estaduais. Há uma especia de legação … nos tribunais arbitrais. Isto ocnsittui um
aliviio dos tribunaus estaduais, mas tem muitas vantagens.
b. Porque é que cada vez mais as partes escolhem recorrer à arbitragem? As vantagens:
i. É muito mais rápido – razao de celeridade, há um prazo máximo de resolução
dos litigios sob pena de responsabilidade dos árbitros – artigo 43º da lei de
arbitragem: prazo de 12 meses….
ii. O sigilo – na verdade, a justiça nos tribunais judicia sé publica, e ptt a
possibilidade … de chegar a publico um litigo que está pendente nos tribunais
judiciais, do que num tribunal arbitral …
iii. Possibilidade de escolha de árbitros especializados em determinadas matérias
mais técnicas.
1. Há matérias em que a questao mais complexa da resolução nem
sequer é a questao juridica.
a. Exemplo: empreitadas – o típico: empreiteiro instaura uma
ação por não ter pago o que devia ….
i. As empreitadas de grande dimensão, é muito dificil
par aum juiz para saber exatamente o que perguntar
às testemunhas, … a parte juridica é simples porque
quem não cumopre…. Mas a questao é saber quem é
que cumpriu e quem não cumpriu – exemplo: chuva é
um defeito da obra ou não, etc.
ii. Ou seja, em algumas empreitada smuito especificas
de navios, com aspetos muito especificos, é mt dificil a
um juiz …. Muitas vezes fazem se acompanhar de
técnicos…
iii. Muitas vezes o recurso a arvitragem destes litigos
resigna na possibilidade …. De escolher como arbittro
pessoas não formada sem dirieto: um arquiteto,
engenheiro, farmacêutico ……
1. Posso escolher partes especializadas no
assunto e portanto isso é uma vantagem
c. Desvantagens:
i. Os custos são enormes - …. São as parte sque tªêm de suportar todos os
custos com a arbitragem sendo que o mais alto é o exercicio da função
jurisdição…..

d. Tipos de arbitragem que existem:


i. Arbitragem voluntária - lei 63º/2011 de 14 de Dezembro (pagina 617): Tem
como fonte a vontade das partes, a arbitragem …..
1. Grande parte da arbitragem são voluntárias.
a. Podemos ter um recurso das partes a um tribunal constituido
pelas proprias partes – as proprias escolhem cada um dos
árbitros e esse tribunal constitui-se ad hoc para resolver
aquele litigio. … depois desaparece o tribuna, é arbitral não
permanente/ad hoc.
b. Podem recorrer a tribunais arbitrais previamente constituídos
i. Exemplo: tribunal arbitral do desporto; da camara de
comércio; de litigios de consumo; tribunal arbitral da
universidade católica portuguesa – são tribunais
previamente constituídos mas a que as partes apernas
recorrem por vontade própria. Aqui poupam-se a
escolher os árbitros e o regulamento ….
2. De onde resulta a fonte da competencia do tribunal arbitral, onde
vamos buscar o acordo … como é que o acordo se celebra. No fundo
está em causa ……. A chamada convenção de arbitragem. Temos dois
tipos, estabelecido no artigo 1ºnº3 da LAV:
i. Um compromisso arbitral – existe sempre que o litigio
seja atual, já há um litigio pendente e as partes
acordam em …
1. O compromisso arbitral é um acordo
celebrado entre as partes em que há um litigio
– é raro porque ….

ii. Clausula compromissória – celebrada perante litigios


eventuais
1. Normalmente é uma clausula de um contrato.
As partes celebram um contrato e no final
vem uma clausula que diz que na
eventualidade …. É competente o tribunal
arbitral ….
iii. O que é mais comum que é um intermedio, a lei
impoe em certos casos (ex: bancos) que algumas
entidades celebrem protocolos com centros de
arbitragem oepramentenes no sentido de
disponibilizarem aos seus consumidores a
possibilidade de recorrerem a esses tribunais arbitrais
1. …. O recurso ao tribunal arbitral e fica apenas
dependente do consumidor … a possibilidade
de recorrer ao TA. É um … unilateral e depois
o consumidor ….
3. Artigo 2º - Requisitos para a convenção de arbitragem
4. O objeto da convenção .. apenas podem ser litigos que envolvam
interesses de natureza patrimonial – artigo 1ºnº1 e nº2
a. Tudo o que sejam interesses não patrimonial não podem ser
objeto
b. Nº2 – apesar da regra do nº1, tb é possivel recorrer litigos ….
De natureza não patrimonial, desde que sejam direitos
disponiveis. A regra, portanto, …. É a de que ficam excluídos da
possibilidade de celebrar… direitos indisponíveis.
ii. Arbitragem Necessária – 1136º e ss. do CPC – há situações em que alguns
regimes juridicos impoem para a resolução de litigio a obrigatoriedade das
partes recorrerem à arbitragem
1. Exemplo: ….. administração expropria …. Por algum motivo. Se a parte
quiser discutir o valor da indemnização é obrigatório que o recurso
seja através da arbitragem
AULA 9/11/2023

Artigo 8º – como é que são escolhidos/nomeados os árbitros que vao resolver o litígio:

 Nº1 – pode ser constituído ou apenas por um arbitro ou várias desde que em número
impar (a decisão é tomada por maioria, logo é preciso que o nº de árbitros seja impar).
 Nº2 – regra supletiva para quando as partes não tiverem acordado o número de árbitros,
este é composto por 3 na falta de decisão das partes.

Como é que sabemos quantos árbitros são na prática?

 Na convenção de arbitragem, como regra, as partes estabelecem quantos vão julgar o


litígio, como são escolhidos, (eventualmente) quem são os árbitros.
 Caso a convenção de arbitragem seja omissa, a regra supletiva é a de 3 árbitros.

Artigo 10º - como é que são designados os árbitros:

 A 1ª fonte é a convenção de arbitragem


 A 2ª fonte é uma convenção posterior em que as partes designam os árbitros ou o modo
como eles são escolhidos.
 Caso não haja convenção das partes nestes sentidos, o Nº2 deste artigo estabelece uma
regra supletiva:
o Quando o tribunal arbitral deva ser constituído por 1 árbitro apenas e não haja
acordo quanto a essa designação/não esteja convencionado pelas partes, este
árbitro é escolhido pelo tribunal estadual – as partes têm de recorrer ao tribunal
estadual para mediar esse arbitro
o Quando o tribunal arbitral deva ser constituído por 3 ou mais árbitros a regra
supletiva é de que cada parte designa igual numero de árbitros e estes escolhem 1
árbitro que será o árbitro presidente.

Assim, estes artigos são as regras supletivas para o número de árbitros e forma de escolha.

Como é que se processam/quais são as regras aplicáveis a um processo arbitral?

 Temos na lei de arbitragem apenas uma serie de princípios imperativos que estão no artigo
30º
o estão consagrados os princípios do processo equitativo: igualdade, contraditório,
etc - princípios gerais processuais e que são imperativos.

 Fora desses princípios, quem escolhe qual é o regulamento aplicável à arbitragem são as
partes – portanto, é por convenção das partes ou se as partes não tiverem convencionado
será o tribunal arbitral a decidir qual é o regulamento de arbitragem que vai aplicar,
podendo inclusivamente usar e discorrer supletivamente às regras do CPC.

 Muitas vezes o que acontece, sobretudo com os tribunais arbitrais com existência
permanente (caso do tribunal arbitral da Universidade Católica), é que estes têm um
regulamento de arbitragem pré-constituido que os árbitros depois seguirão no processo
arbitral.
 No entanto, se for um tribunal arbitral constituido ad hoc por 3 árbitros constituido pelas
partes, nesse caso não há um regulamento pré-constituido e, portanto, das duas uma:
o Na convenção de arbitragem as partes determinam por acordo que regulamento
se aplica (podem remeter para um regulamento previamente existente com um
centro permanente) ou então atribuem ao tribunal arbitral a competência para a
escolha das regras.

Artigo 20ºnº1 – prevê-se que o tribunal arbitral tem competencia para decretar procidências
cautelares, apenas não tem competência para as executar, porque tudo o que implica o exercício
do iuris imperi carece de recurso ao tribunal estadual. Mas de resto, o tribunal arbitral tem
competência para decretar providências cautelares.

Artigo 39ºnº4 – estabelece que a regra nos processos arbitrais é de que a sentença que poe termo
ao processo arbitral não é suscetivel de recurso, a não ser que as partes tenham expressamente
convencionado em sentido inverso.

 A lei anterior determinava a regra oposta: sentenças arbitrais eram recorríveis para os
tribunais estaduais, em concreto para o tribunal da Relação (considerava-se que a
sentença dos tribunais arbitrais eram o equivalente à 1ª instância), a não ser que as partes
convencionassem que não havia recurso.
o Na maior parte dos casos as partes esqueciam-se de convencionar o contrário, e,
portanto, o que acontecia era que, em regra, as sentenças arbitrais acabavam por
ser recorríveis e isso era extremamente prejudicial para a arbitragem – porque a
razão de ser na maioria dos casos de recurso à arbitragem era o fugir ao peso do
sistema judiciário estadual.
 Portanto, se a sentença do tribunal arbitral for recorrível volta a entrar-se
no circuito de funcionamento dos tribunais estaduais que é o que as
partes que escolhem a arbitragem não querem.
o Logo, o legislador entendeu com a nova lei que se devia presumir que as partes
não queriam o recurso, salvo se o disserem o contrário.

Artigo 39ºNº1 – embora os árbitros julgam segundo o direito constituído, as partes podem
determinar por acordo que julguem segundo a equidade

 Assim, é possível num julgamento arbitral (nunca num tribunal estadual, a não ser que a lei
remeta expressamente para a equidade) que as partes decidam que os árbitros devem
decidir segundo a justiça do caso concreto.
 É frequente, sobretudo quando os árbitros não são juristas – quando os árbitros escolhidos
sejam médicos, engenheiros, etc, muitas vezes as partes podem preferir em vez de
determinar a aplicação do direito constituído, remeter para a equidade.

Artigo 46º - “o pedido de anulação”

 As sentenças arbitrais por regra não são recorríveis, mas podem ser objeto de pedido de
anulação com os fundamentos determinados neste artigo.
o A razão de ser do pedido de anulação não é um controlo de conteúdo da sentença
porque se assim fosse era uma forma de recurso, os fundamentos são coisas
como: o tribunal arbitral condenar com valor superior ao objeto diverso do pedido,
violação da convenção de arbitragem, violação dos pp gerais previstos no artigo
30º.
o Ou seja, estao em causa são razões de natureza formal e não de natureza material.
 Nº3 alinea b) ii) – Há um único fundamento de anulação que por vezes permite (a
professora acha que é por isso que está nesta norma) uma revisão de conteúdo material
da decisão
o determina que o tribunal pode anular a sentença se se verificar que o conteúdo da
sentença ofende os princípios da ordem pública internacional do Estado
português.
 Ninguem sabe bem o que é que este princípio significa – o que a parte
vencida num processo arbitral tenta é alterar de uma decisão que não
pode ser objeto de recurso vem a este fundamento para dizer que o
conteúdo da sentença é claramente violador do princípio da igualdade,
etc, e tentam por essa via alterar o que a impossibilidade de recurso não
permite.

Artigo 42ºnº7 – a sentença arbitral transitada em julgado tem o mesmo carater obrigatório entre
as partes que a sentença de um tribunal estadual transitado em julgado, e a mesma força
executiva. Ou seja, há uma equiparação da força da sentença do tribunal arbitral à força de uma
sentença de um tribunal estadual. – é extremamente relevante: quer o caso julgado quer a força
de titulo executivo são exatamente as mesmas daquelas que resultam da sentença de um tribunal
estadual..

O que é que acontece quando haja uma violação da convenção arbitral e a ação seja proposta num
tribunal estadual?

 A violação e uma convenção arbitral gera incompetência absoluta – artigo 96º CPC e inclui
na alinea b) a preterição do tribunal arbitral como fundamento para incompetência
absoluta do tribunal estadual.
o Significa que o tribunal deve seguir o regime da incompetência absoluta:
 de conhecimento oficioso
 consequencia é a absolvição do réu da instância.
o No entanto, apesar da regra ser de conhecimento oficiosos, também vimos
quando estudámos o regime da incompetência absoluta que há uma exceção a
este conhecimento oficioso: a violação de uma convenção de arbitragem.
 Não é de conhecimento oficioso porque se a fonte da competência do
tribunal arbitral é a convenção, se o autor propõe a ação no tribunal
estadual e o reu não vem arguir essa incompetência entao temos uma
revogação tacita da convenção de arbitragem que faz com que o tribunal
estadual passe a ser competente.
o Porque é que então a incompetência é absoluta e não relativa?
 Porque a consequência tem de ser necessariamente a absolvição da
instancia, não pode ser a remessa do processo para o tribunal
competente. Não fazia sentido que um tribunal estadual remetesse o
processo para um tribunal arbitral que ainda não está sequer constituído.
 isto podia ter sido uma opção do legislador, já com o CPC de 1961,
a violação do tribunal arbitral não gerava competencia absoluta,
mas relativa sendo que a consequência era a absolvição da
instância (o conhecimento não era oficioso, mas a consequência
deixava de ser a adequada porque não era a remessa para o
tribunal competente). Atualmente a consequencia da
incompetência é absoluta com a exceção de que deve ser arguido
pelas partes – é o que resulta do artigo 97ºnº1 CPC.

2. Mediação: prevista na lei 29/2013, de 19 de Abril

 É um processo de resolução de litigios através do recurso a um terceiro facilitador.


o Não é um 3º que vai intervir, mas apenas intermediar de forma neutral facilitando
o alcançar de uma resolução de litigo por via amigável/por acordo das partes –
sempre existiu mesmo antes desta lei
o Qual a diferença com esta lei?
 Veio impor certas regras, moralizar a mediação – impondo certas regras e
princípios deontológicos para que a mediação seja efetuada validamente
 Artigo 9º - veio determinar que a mediação feita em certas circunstâncias,
ou obedecendo a certas regras determinadas pela lei, faz com que o
acordo a que as partes cheguem constitua titulo executivo – é do ponto de
vista da professora a novidade mais importante desta lei: verificados os
requisitos, aquele acordo de mediação tem força de título executivo
mesmo sem qualquer homologação judicial
 Exemplo: através de uma mediação chego a um acordo com a
contraparte e os dois assinamos o acordo mesmo que uma delas
não cumpra o acordo eu posso pegar neste e instaurar uma ação
executiva com base neste acordo – é equiparada a uma decisão
judicial mesmo sem qualquer intervenção do tribunal.
 Falamos de uma mediação pré processual:
o é diferente se tiver uma ação pendente em tribunal e o
tribunal suspender a ação para que as partes cheguem a
acordo – está previsto no 273º CPC mas claro que estando
pendente um processo em tribunal e suspendendo o
processo para que as partes cheguem a acordo, claro que
esse acordo tem de ser homologado pelo tribunal porque
a ação já está em tribunal: artigo 45º da lei da mediação.
 As vantagens deste processo é como solução alternativa de litígios,
claro que será uma mediação pré judicial em que consigo um
titulo executivo sem recurso aos tribunais judiciais e sem
necessidade de um processo judicial.

o Para que haja mediação é necessário que:


 haja uma convenção de mediação - as duas partes têm de estar de acordo
em submeter o litígio a uma mediação: artigo 12º
 a estes requisitos de validade deve acrescentar-se que só podem ser
objeto de uma convenção direitos disponíveis: artigo 11º
 O artigo 11º é equivalente ao artigo correspondente da lei da
arbitragem artigo 1º que só podem ser objeto de convenção de
arbitragem direitos disponiveis

o Artigo 13º - efeitos da mediação pré judicial: são muito relevantes


 Nº2 – quando as partes entendam submeter o litigo a mediação, o recurso
a mediação este suspende os prazos de caducidade e prescrição a partir da
data em que for assinado o protocolo de mediação.
 Se não existisse este efeito as partes, pelo menos a que quer
instaurar a ação, evitaria recorrer à mediação se estiver muito em
cima do prazo.
o Exemplo: Se sou consumidora e adquiro um determinado
bem que não tem as características que esperava
(portanto, estou em erro) e tenho um prazo de 1 ano para
propor a ação de anulação. Se já me falta pouco tempo
para determinar esse prazo e se aceito recorrer à
mediação para ver se chegamos a um acordo mas se não
se suspendesse o prazo para instaurar a ação judicial, seria
muito provável que isso não convenceria as partes a
recorrerem à mediação pré judicial para a resolução de
litigios.

3. Os julgados de paz: lei 78/2001, de 13 de Julho (fala da organização/competência e


funcionamento dos julgados de paz)
 Objetivo era revolucionar o sistema judicial, que julgassem sobre matérias de menor
importância, no entanto, não foi um revolução tão grande.
 São tribunais mas não são tribunais que se incluam na organização judiciária normal,
portanto não são propriamente verdadeiros tribunais porque não fazem parte da
organização judiciária portugueses, não se integram na ordem dos tribunais judiciais.
o São tribunais reconhecidos criados por lei mas que não se integram na ordem
normal dos tribunais estaduais, porque:
 1) Os juizes de paz não são juizes de carreira – são juristas, mas não
ingressam na magistratura, por isso se diz que é uma das razões para não
ser dada tanta credibilidade às decisões dos julgados de paz
 2) alguns dos princípio de funcionamento dos julgados de paz são
princípios diferentes – isto porque os princípios por que se norteia a
resolução dos litigios dos julgados de paz são princípios de proximidade
com as partes.
 Nos julgados de paz não é necessaria a constituição de mandatário
judicial; a postura do juiz de paz é de muito mais proximidade com
as partes; o juiz tenta a todos os momentos que as partes
cheguem a um acordo –
 artigo 2º tem os princípios gerais do funcionamento dos julgados
de paz (são um bocadinho diferentes dos princípios nos tribunais
estaduais)
o são tribunais muito mais simples, mais pequenos e muito
mais próximos
o este princípios do artigo 2º estão concretizados ao longo
da lei dos julgados de paz:
 exemplo - desnecessidade de mandatário judicial
– artigo 38º

o Artigo 61º (para efeitos executivos): As decisões dos julgados de paz têm o valor
de uma sentença de 1ª instância apara efeitos executivos, ou seja, posso pegar
também nessa sentença tal como a sentença arbitral e executá-la através de um
processo executivo
o Artigo 62º (para efeitos de recurso): as decisões proferidas nos processo cujo valor
exceda metade do valor da alçada do tribunal de 1ª instância (ou seja, 2500 euros)
podem ser impugnadas por meio de recurso a interpor para o tribunal de 1ª
instancia, as outras não são recorríveis.
 Portanto, a sentença do julgado de paz por um lado tem o valor de sentença de 1ª
instância para efeitos de exequibilidade (artigo 61º), mas não para efeitos de recurso
porque a sentença de julgado de paz apenas é recorrível em ações de valor superior a
2500 euros e, mesmo assim, o recurso é para os tribunais de 1ª instância e não para os
tribunais da Relação (artigo 62º)
o O legislador quase que dá mais valor às sentenças do tribunal arbitral do que às
decisões do julgado de paz
 Competência de um julgado de paz – determina-se através de 3 elementos:
o Matéria – artigos 6º e 9º
 Artigo 6ºNº1 - Os Julgados de paz apenas têm competência declarativa,
portanto, apenas para ações declarativas e não executivas.
 Artigo 9º: dentro das ações declarativas apenas são competentes para
apreciar e decidir as matérias que estão na lista deste artigo 9ºnº1.
 Alinea d), por exemplo: ações resolução de litigios entre
proprietários de prédios relativos entre a passagem forçada
momentânea
o Ou seja, são ações em respeito às relações de proximidade
entre as pessoas.
o Valor – artigo 8º
 Os Julgados de Paz só julgam ações cujo valor não exceda os 15 mil euros.
 Não são ações de grande valor

o Território – artigo 3º
 A jurisdição não abrange todo o território nacional, não estão
estabelecidos em todo o território
 São criados por diploma do Governo + o diploma de criação define a
circunscrição territorial dos julgados de paz.
 Se estiver numa circunscrição cujo elemento de conexão da
competência territorial nesse território/circunscrição não exista
julgado de paz, então não se pode recorrer a JP.

 A competência dos Julgados de Paz é alternativa ou exclusiva?


o Ou seja, se o litigio cair no ambito da competência (em termos de matéria, valor e
território) onde existe um JP competente, em que medida é que o autor é
obrigado a instaurar num JP ou tenho alternativa de propor a ação num tribunal
judicial.
o Teve bastante discussão:
 Acórdão uniformizador de jurisprudência nº11/2007 de 24 de Maio
 Tem votos de vencido – não foi pacifico
 Decidiu que a competência dos JP é alternativa: autor pode
escolher entre propor a ação no tribunal estadual ou no JP.
o Foi declarada alternativa porque se a função dos JP é
retirar também litígios aos tribunais judiciais, então não
cumpre a sua função se a competência for alternativa.
o O STJ concluiu pelo facto de os juizes não serem
verdadeiros juizes e por não se integrarem na ordem dos
tribunais judiciais nem noutra ordem de tribunais, dariam
menos garantias e portanto tinham de ser uma opção da
parte – não pode ser obrigada propor num JP sob pena de
violação do seu direito de ação.
 Quem defende que a competência dos JP devia ser exclusiva:
defendia que assim não sendo no fundo haveria uma violação do
princípio da igualdade entre as partes porque na verdade quem
decide se é o julgado de paz ou não a julgar o litígio é o autor e o
réu não tem nada a dizer – uma vez que é uma possibilidade
apenas na mão do autor o réu pode estar sujeito a ver o seu
direito de ação ter de ser exercido no JP sem possibilidade de
escolha (é o argumento do voto de vencido).

Capítulo 4 – PROVA: não vamos dar toda a matéria da prova neste semestre

A prova pode ser vista no fundo em 3 sentidos diferentes, todos válidos:

 Prova como atividade das partes: quando dizemos que o processo entrou na fase da prova,
A tem de provar o facto X
o falamos de prova como uma atividade para demonstrar a realidade dos factos
 Prova como um meio: os meios que proporcionam a possibilidade de demonstrar a
realidade dos factos; o autor juntou aos autos as provas
 Prova como um resultado: quando aquela atividade criou no espirito do julgador uma
certa convicção.
o quando dizemos que algo ficou provado.
o Implica a criação de uma convicção da verdade dos factos no espírito do julgador.
No entanto, a necessidade de prova para o julgador julgar a favor daquela parte
nem sempre adquire a mesma dimensão consoante o tipo de processo. Por isso, se
opõe a chamada prova à verosimilhança: aquilo que é suficiente nos
procedimentos cautelares para que o tribunal decrete uma providência cautelar,
devido ao caráter urgente da situação
 Prova – criar no espírito do julgador a convicção da realidade daquele
facto, que este ocorreu.
 Verosimilhança – já não é uma certeza, não é uma convicção mas uma
simples probabilidade da verificação.
 Mas isto é uma exceção

O legislador vai usando estes sentidos.

Artigo 341º CC: prova é considerada matéria de direito substantivo e, portanto está regulada no CC

 As provas têm por função a demonstração da realidade dos factos


o + artigo 410º CPC: remete para a fase processual da instrução o momento por
excelência de realização da prova.
 A fase da instrução do processo é a fase própria para a realização da prova,
seja ela no sentido de atividade da partes, de apresentação dos meios, ou
de resultado da convicção do juiz.

 O momento na marcha do processo por excelência para produzir a prova é a fase da


instrução – destinado à recolha e produção da prova
o A instrução realiza-se essencialmente no momento da audiência final
 Instrução é uma fase que se realiza na audiência final
 Fases da marcha vs meio com se realizam:
o articulados é uma fase da marcha do processo e a forma
como se realizam é por escrito
o saneamento e condensação é uma fase da marcha do
processo e a forma como se realiza é através da audiência
prévia
o a audiência é uma fase do processo que é realizada na
audiência final.
 Embora a maioria dos atos, ou tendencialmente
os atos de instrução se pratiquem na fase da
instrução cronologicamente situada na audiência
final, a verdade é que há atos que funcionalmente
são atos de instrução mas que cronologicamente
não são praticados na fase da instrução em
audiência final.
(Exceções a esta ideia de que os atos de prova são
praticados naquela fase cronológica):
 Exceção 1: A prova documental do artigo
423º CPC diz-nos que a prova documental
deve ser apresentada com o articulado em
que se alegue o facto respetivo.
o Logo, temos um ato de instrução
mas praticado na fase dos
articulados – é um ato de
instrução porque funcionalmente
faz parte da instrução mas foi
antecipado em relação ao
momento próprio da instrução.
 Exceção 2: temos também a possibilidade
no 607ºnº1 CPC de, já depois da audiência
final, o tribunal reabrir a audiência e volta
a ouvir as pessoas que entender se sentir
quer ainda precisa de mais provas. –
imaginemos que o tribunal
o É uma exceção porque temos a
instrução e a discussão – se o
tribunal no fim da discussão volta
a reabrir a audiência, significa que
há atos de instrução que podem
ser praticados depois da
discussão.
 Exceção 3: extremamente relevante
acontece com a produção antecipada de
prova (artigos 419º e 420º CPC):
o é diferente das outras exceções
porque quando se fala de
produção antecipada de prova, o
que acontece é que o legislador
permite que a produção da prova
que devia ser produzida em
audiência se antecipe em relação
ao momento proprio de se
efetuar.
 O momento próprio era a
audiência, mas posso
solicitar que em vez de
ser produzida na
audiência, ser produzida
antes.
 Antes = pode ser mesmo
antes de ser instaurada a
ação.
o Que razões de urgência são estas?
 Uma testemunha que está
a morrer e que pode não
sobreviver ao dia da
audiência em que deve
ser ouvida
 Se há indícios de certos
factos que podem ser
apreendidos através de
prova pericial mas esses
indícios podem não durar
até à data de audiência
(exemplo: um
atropelamento em que
ficaram marcas de
travagem no piso e que se
não forem já registadas
por uma prova pericial
podem ser destruídas
pelo uso daquele piso) –
peço que a prova fique já
registada para a puder
usar na ação mais tarde.
o Logo, a produção antecipada de
prova pode ser prévia à
instauração ou na pendência da
ação antes do momento próprio
para realizar a produção da prova.
 Há uma ligação aqui com
as providências
cautelares, há aqui uma
coisa de parecido
inclusivamente o poder
ser feito antes da
instauração da ação
inclusivamente a situação
de urgência e necessidade
de acautelar um direito,
mas há uma diferença:
aqui estamos a acautelar
prioritariamente um
direito processual (o
direito à prova e, de
forma indireta, estou a
preservar o direito
substantivo), a efetividade
do direito à prova.

o Artigo 419º: o objeto desta


produção antecipada de prova só
pode ser:
1) A perícia
2) Prova por depoimento
Logo, uma prova por
documento não pode ser
objeto de uma produção
antecipada de prova

o Artigo 420º - qual é a forma da


realização da antecipação da
prova
 Tem de haver
contraditório

 Quem recorre antes da propositura da


ação é normalmente o autor da ação
porque é este que sabe que vai ser
proposta a ação.
o No entanto, o Prof alberto dos reis
dizia que se o réu souber
antecipadamente tambem pode
ele próprio requerer a produção
antecipada de prova presumindo
uma possibilidade de uma
determinada ação com
determinado objeto.
 Mesmo o autor quando requer a
realização antecipada de prova antes de
propor a ação tem de fazer um breve
resumo da ação que vai propor, porque a
prova é dirigida a um determinado objeto
que se vai propor na ação.
 Apesar da fase de instrução ser a fase por
excelência para a produção da prova, nem
sempre existe fase de instrução no
processo:
o Nem sempre existe porque se
existir despacho liminar o juiz
pode interceder liminarmente.
o ou se o tribunal recebe o
despacho saneador de julgamento
antecipado.
o Se há um julgamento á revelia do
réu – uma das consequencias da
revelia é que os factos alegados
pelo autor se consideram
confessados e salta-se a fase de
instrução porque já não é
necessária.
AULA 13/11/2023

Aula passada:

início da matéria da prova


Como princípio a prova é realizada na fase da instrução, mas quando se diz isto dizemos instrução
como uma fase cronológica e assim sendo isto não é verdade porque há atos de instrução em
sentido funcional e não cronológico e esses por vezes ocorrem noutros momentos: a prova
documental, produção antecipada de prova, prova produzida depois de encerrada a audiência.
E nem sempre existe fase própria para a produção da prova se por acaso o processo terminar antes
ou se for julgada a ação à revelia do réu em que também não se justifica a prova.
Há vários tipos de direito probatório:

Direito probatório material e formal:

O direito probatório é o conjunto das normas que regulam as questões relativas à prova, é isto que
consubstancia o direito probatório.

No entanto, é bastante discutido qual é a natureza deste direito probatório:

 será uma natureza processual (que é o que à partida parece ser)?


o no fundo as provas servem para formar a convicção no juiz do processo e,
portanto, tudo indicaria que estaríamos a falar de normas de direito processual.
 Será uma natureza material?
o Não nos podemos esquecer que ao mesmo tempo as provas têm função de
atribuir segurança aos direitos materiais, segurança de que um dia em caso de
necessidade vou conseguir demonstrar perante qualquer autoridade que o meu
direito existe. As provas são instrumentais do direito material e nessa perspetiva,
para aqueles que possam defender a natureza substantiva ou material do direito
probatório, faz sentido considerar o direito probatório como tendo uma natureza
material.

Esta discussão é relevante porquê?

 A escolha por um ou outro entendimento pode ter relevancia não apenas no código que
venha a conter as normas (CPC ou CC) – portanto é relevante do ponto de vista da
localização sistemática das normas.
 E ainda, saber se uma norma tem natureza de direito material ou processual é a diferença
entre saber se é uma norma de direito público ou de direito privado de que as partes
possam dispor.
o Direito processual tem uma natureza de direito público
o Direito material tem uma natureza de direito privado
 Tem relevância a nível da aplicação no tempo: se estiver em causa uma norma de direito
substantivo então a sua aplicação no tempo tem de salvaguardar os direitos adquiridos,
enquanto se for uma norma de direito processual a sua aplicação é imediata, está em
causa a salvaguarda do bom funcionamento da justiça.
Logo, esta discussão sobre a natureza do direito probatório ser material ou processual não é
um pormenor.

Há de facto razões para olharmos para o direito probatório e ver que há normas que até podem ter
um cariz mais processual e outras mais material. Por isso é que, dentro do direito probatório, a
doutrina dividiu entre direito probatório material e o direito probatório formal, portanto, dentro
das normas relativas às provas vamos ter normas de 2 naturezas diferentes:

 Direito probatório material – as que são consideradas terem uma natureza substantiva ou
material
 Direito probatório formal – é constituido pelas normas puramente adjetivo-processuais.

Esta questão da natureza das normas foi largamente debatida durante os trabalhos preparatórios
do atual CCivil para decidir se as normas de direito probatório deviam estar reguladas no CPC ou
no CCivil. Depois de se considerar que dependia porque há normas com natureza mais material e
outras mais processual, decidiu-se distinguir estes dois tipos de direito probatório e entender que:

 aquelas normas que fossem caracterizadas como sendo de direito probatório material
deviam ser reguladas pelo CCivil
 enquanto as normas de direito probatório puramente processuais seriam reguladas
apenas pelo CPC.

Que matérias é que se encaixam no direito probatório material vs formal?

Direito probatório formal:

 inclui apenas as normas de direito probatório que disciplinam os procedimentos a ter na


ação para produzir aquele meio de prova. No fundo, são as normas que tratam das regras
processuais para apresentação ou produção daquele meio de prova.
o Exemplo: saber quando é que se devem ouvir as testemunhas; quem deve
interrogar as testemunhas primeiro; se há direito a contrainterrogatório ou não; se
o tribunal pode ou não interromper as partes na inquirição das testemunhas;
quantas testemunhas posso oferecer; etc.
 Tudo isto são normas de direito probatório mas puramente de natureza
processual porque não tem qualquer implicação no plano dos direitos a
demonstrar, são normas que têm relevância meramente de tramitação da
ação.
 E portanto são estas que se incluem no plano direito probatório formal e
às quais são aplicáveis todas as regras relativas a este ramo do direito
publico
 E a estas normas vamos encontrá-las reguladas no CPC.

Direito probatório material:

 temos 3 grupos de normas de direito probatório material:


 normas relativas ao ónus da prova
 normas relativas à admissibilidade dos meios de prova
 normas relativas ao valor dos meios de prova
o são normas de direito material reguladas em geral no CCivil e às quais se aplicam
as regras de aplicação no tempo da lei material/substantiva.

(só vamos tratar das regras de direito probatório material, as regras de direito probatório formal
tem a ver com a marcha do processo)

Temos de analisar primeiro dos Princípios aplicáveis ao direito probatório:

Já tratámos dos principios gerais do Processo Civil. Alguns destes princípios vão ser comuns
(encontram concretização no direito probatório) e outros são próprios do direito probatório (são
apenas especificos do direito probatório).

Os princípios vamos encontrar no CPC, não aqui ainda uma distinção entre direito probatório
material e formal.

1º princípio do dispositivo vs inquisitório (comum e geral do Proc.Civil): saber em matéria de


prova qual o princípio que rege em geral a relação entre as partes e o tribunal (é uma espécie de
equilibrio de forças). Em matéria de direito probatório a questão também se coloca:

 O nosso CPC ainda tinha uma tendência sobretudo dispositiva, era um equilibrio de forças
em que as partes ainda tinham mais poderes, mas uma das exceções a esta prevalência do
dispositivo é precisamente a matéria da prova em que vigora com mais força o princípio
do inquisitório:
o Manifesta-se em vários aspetos dentro do direito probatório:
 1) Iniciativa probatória – artigo 411º CPC
 Este artigo é uma manifestação do inquisitório porque permite ao
tribunal não ter de ficar à mercê dos meios de prova apresentados
pelas partes uma vez que pode o tribunal oficiosamente trazer
meios de prova.
o “trazer meios de prova” não é no sentido de que o
tribunal vai investigar – mas pode ordenar/pedir a certas
entidades para fornecer documentos, etc; pode querer
dirigir-se ao local do acidente para verificar uma série de
aspetos que só se podem verificar em concreto (como
marcas de travão na estrada, se o semáforo está a
funcionar, etc), tudo isto o tribunal pode ter iniciativa e
não tem de esperar pelo requerimento do despacho.
o Não obstante esta iniciativa probatória reconhecida ao
juiz, normalmente é interpretada e de forma correta pela
jurisprudência como sendo um poder complementar:
 Ou seja, se as partes não trouxerem nenhum meio
de prova ao processo não faz sentido que o
tribunal se substitua totalmente às partes na
aquisição de meios de prova, é um poder
complementar em face daquilo que sejam os
meios de prova que são trazidos ao processo pelas
próprias partes.
 Parte final deste artigo “relativamente aos factos de que lhe é
lícito conhecer” – ou seja, esta iniciativa probatória do tribunal não
prescinde da circunstância de que os factos estejam no processo.
o Vimos que há casos de exceções em que o juiz pode
oficiosamente considerar certos factos – estão no artigo
5º CPC relativamente ao dispositivo e inquisitório em
termos gerais e quanto à alegação dos factos.
 No entanto, uma coisa é a alegação dos factos,
outra coisa é a prova dos factos alegados.
o Se os factos não estão no processo é irrelevante a prova
que vou trazer: o objeto da prova são os factos e, se isto é
assim, o tribunal até pode oficiosamente recolher prova
mas se os factos não estão no processo o tribunal não se
pode substituir às partes a não ser nas exceções do artigo
5º CPC.
o Portanto esta parte final do artigo 411º é uma limitação
importante a este poder inquisitório em matéria da
iniciativa de prova.

 2) Produção da prova
 Já não tem a ver com a questão de quem tem a iniciativa de
recolher a prova, mas da questão de saber em que termos é que
se produz a prova.
 Ou seja, o tribunal tem de aceitar tudo o que as partes pedem? ou
é ele que lidera a forma como é que é produzida a prova, se aceita
ou não os meios probatórios trazidos pelas partes, quem é que
tem o impulso processual e dirige a produção da prova?
o Para esse efeito rege a regra geral do poder-dever de
gestão processual do artigo 6º de onde resulta que é o
tribunal que durante a produção da prova que deve
exercer esses poderes, sobretudo o artigo 6ºnº1 dizendo
que “cumpre ao juiz dirigir ativamente o processo,
providenciar pelo seu andamento célere, promovendo as
diligencias necessárias ao andamento da ação e
recusando o que for impertinente ou meramente dilatório”
 Portanto acontece muitas vezes que as partes
requerem um certo meio de prova e o tribunal
indefere, porque, por exemplo: não tem nada a
ver com o objeto da ação; é desnecessário; etc
 Logo, também a nível de produção de prova o
tribunal tem um papel de uma iniciativa
importante.

Logo, é outra manifestação do inquisitório.

 3) Valoração dos meios de prova


 Existem 2 sistemas de valoração da prova produzida:
o Sistema da prova legal/tabelada: cada meio de prova tem
à partida um valor fixo que o tribunal tinha numa tabela
o Sistema da livre apreciação da prova: Tudo depende da
livre convicção do tribunal
 O nosso sistema é misto, temos meios de prova com um valor
tabelado e meios de prova sujeitos à livre apreciação do julgador,
mas a regra é a da livre apreciação da prova – artigo 1607ºNº5
o Só certos meios de prova têm valor tabelado:
documentos, confissão – são a exceção
 O sistema de prova da livre apreciação da prova é uma
manifestação do inquisitório – para um sistema em que as partes
controlam o processo o sistema da prova tabelada seria o que
fazia mais sentido porque não deixaria qualquer margem de
decisão ao tribunal, e por isso é que se diz que um sistema de
prova livre é um sistema que constitui manifestação do princípio
do inquisitório

 4) Forma como a lei admite ou não as convenções probatórias (em que


medida são admitidas convenções entre as partes em ordem a alterar
regras de prova previamente estabelecidas.
o Por exemplo: em que medida as partes podem
convencionar em proibir um determinado meio de prova,
saber em que medida podem alterar as regras de
distribuição do ónus da prova – tudo isto são convenções
probatórias
 Quanto maior a facilidade que o legislador coloque na
admissibilidade das convenções e se forem em geral admitidas
isso seria uma manifestação do dispositivo – estaria a conceder às
partes um poder de regulação da matéria da prova que seria uma
manifestação do dispositivo.
 Pelo contrário, se essas convenções apesar de admitidas, sofrerem
algumas restrições então isso significa que é uma manifestação do
inquisitório – e é isto que acontece
 Artigo 345º CC – diz que estas convenções são nulas em muitas
circunstancias: quando estejam em causa direitos indisponíveis,
quando há uma das partes que fica muito prejudicada, etc.
o Apesar de admitidas estão sujeitas a muitos limites que
nos permitem concluir que prevalece o inquisitório.

2º princípio da colaboração (pp geral): traduz uma imposição legal às partes do processo e a
terceiros da colaboração no processo para a descoberta da verdade. Há um dever geral imposto a
todos os que têm contacto com o processo judicial de cooperação para a descoberta da verdade.

Claro que as partes estão em sentidos opostos, há um limite dentro do qual cada parte está no
cumprimento do seu papel pela circunstância de não estar num papel imparcial como o juiz de
levar a juízo tudo o que interessa independentemente de lhe ser conveniente – falamos de uma
cooperação processual e não numa cooperação ao nível do direito substantivo.

 Exemplo 1: Se o tribunal manda uma das partes apresentar ao processo um determinado


documento que está na sua posse, tem de o fazer sob pena de violar este pp – para as
partes e para terceiros
o podem ser condenados a uma multa e inclusivamente fazer com que tenha de ser
ela a provar o facto contrário, ou ainda pode ficar na disponibilidade do juiz
apreciar ou não esta recusa para efeitos probatórios.
 Exemplo: ações de investigação da paternidade há atualmente testes de
sangue que permitem com um grau de quase 100% de certeza de forma a
saber se um homem é o pai ou não de uma pessoa, mas o réu não pode
ser obrigado a fazer este teste – no entanto, se se recusar a fazê-lo temos
um artigo que diz que o juiz aprecia livremente a recusa para efeitos
probatórios.
 A apreciação mais provável é a de que quem se recusa a fazer um
teste é porque tem receio do seu resultado desse teste.

 Exemplo 2: os terceiros chamados a depor, uma testemunha não é livre de comparecer ou


não quando é dado o seu nome para testemunhar numa ação
o Para alem de estar sujeito ao pagamento de uma multa pode ter a polícia a levá-la
a tribunal mesmo contra a sua vontade

Logo, este princípio da cooperação tem consequências para terceiros e para as partes.

De onde resulta legalmente esta imposição e as consequencias?

 Do CPC:
o princípios gerais aplicados a todo o Processo civil:
 artigo 7º (pp de cooperação)
 artigo 8º (dever de boa fé processual)
 artigo 542º e ss. (litigância de má-fé)
o em matéria de prova temos um artigo específico.
 Artigo 417º:
 Nº1 – consequências para as partes
 Nº2 – consequências para todos

3º principio do contraditório – é um princípio geral mas tem uma aplicação muito relevante em
matéria de produção de prova.

 princípio geral está no artigo 3ºnº1 CPC fala em geral do contraditório que a contra parte
tem de ser sempre chamada à sua posição

 princípio concretizado em matéria de prova no artigo 415º CPC


o Nº1 – generalidade: “salvo disposição em contrário, não são admitidas nem
produzidas provas sem audiência contraditória da parte a quem hajam de ser
opostas”
o Nº2 – distingue dois tipos de prova, concretizando a forma de exercício do
contraditório quanto a estes 2 tipos de provas:
 Provas constituendas – formam-se no decurso do processo. Apenas
existem a partir da pendencia de um processo …
o Exemplo: prova testemunhal, a prova por inspeção judicial
– apenas têm existência a partir da pendência de um
processo em tribunal.
 Faz sentido que a intervenção da outra parte seja uma intervenção
em todos os atos de preparação e produção da prova.
o É uma intervenção “no local”:
 a partir do momento em que a parte oferece
determinadas testemunhas a outra parte tem o
direito de se pronunciar sobre a admissibilidade
dos meios de prova.
 Quando a parte está a interrogar a testemunha a
contraparte tem o direito ao contrainterrogatório.
o Portanto, é uma presença a um exercício do contraditório
no processo de constituição da prova.

 Provas constituídas/pré-constituídas – aquelas que já existem antes de


qualquer ação em juizo.
o Exemplo: prova documental, existe independentemente
da dependência de qualquer ação em juízo
 A intervenção do contraditório deve ser uma intervenção apenas
da admissão da prova ou da sua valoração.
o Não posso intervir na formação do documento, mas posso
pronunciar-me quanto à sua admissibilidade ou quanto ao
seu valor probatório. Até porque a prova pré constituída
tem normalmente um valor tabelado e, portanto, posso
pronunciar-me sobre se a atribuição desse valor é a
correta.
o Concretização do contraditório geral em matéria de
providências cautelares.

Este princípio do contraditório sofre exceções, nomeadamente na matéria de procedimentos


cautelares: em matéria de procedimento cautelar, em certos casos é dispensado o contraditório da
outra parte precisamente por razões de garantia da eficacia da providência.

 Exemplo: no arresto, se o contraditório é dispensado temporariamente a contraparte não


é ouvido antes de decretado o arresto – se o requerido não é ouvido também não é
admitido a prestar prova ou a controlar a prova do requerente. Portanto, o requerente
alega sozinho e produz prova sozinho e só depois de decretado o arresto é que a outra
parte se pode opor e aí há uma nova audiência para a outra parte apresentar os seus
meios de prova.
o Isto é desequilibrado:
 O requerente quando apresentou os seus meios de prova foi sem
contraditório no momento do pedido de decretação da providência
cautelar – por exemplo, prova constituenda através de apresentação de
testemunhas, teve os juizes a fazerem questões mas não teve o advogado
do réu para fazer um contrainterrogatório e que pode pôr em questão a
veracidade da testemunha.
 O requerido depois de decretada a providência quando vier produzir prova
já o fará com a intervenção do advogado do requerente.

4º princípio da aquisição processual – artigo 413º:

 interessa-nos a 1ª parte “o tribunal deve tomar em consideração todas as provas


produzidas”
o Significa, por exemplo: às vezes as testemunhas que as partes levam quando são
inquiridas são tão verdadeiras que acabam por testemunhar factos que não
interessavam à parte que as apresentou.
 Há uma regra deontológica dos advogados de que não podem instruir as
testemunhas sobre o que vao dizer ou não. Antes o advogado não podia
sequer falar com as testemunhas antes de as inquirir. Atualmente não é
interpretado dessa forma, até porque nenhum advogado fazia isso,
portanto apenas não pode instruir no sentido de lhe dizer o que ela deve
dizer ou não, mas pode tentar saber o que ela sabe e ajudá-la para que
esta perceba em que contexto vai testemunhar.
 Ainda assim, e porque há um contra interrogatório e muitas vezes a
testemunha é levada a dizer aquilo que não quer, muitas vezes a
testemunha que é levada pelo autor acaba por dizer coisas e pode acabar
por sair prova relativamente a factos que vão favorecer o réu – um facto
desfavorável para a parte em que a probabilidade de a testemunha estar a
falar a verdade é grande do que quando fala favoravelmente relativamente
a factos relativos ao autor.
 Portanto, há sistemas processuais em que a lei não permite
considerar (sistemas processuais em que mesmo em matéria de
prova é o princípio do dispositivo que vigora) aquele testemunho
para provar factos que interessam em factos contrários - não é o
caso no nosso sistema.
o O que resulta desde princípio no artigo 413º é o contrario:
toda a prova que está no processo, pode ser usada
indistintamente para dar como provados factos quer do
lado da parte que apresentou aquela prova quer da outra
parte.
o Princípio da aquisição processual = Toda a prova
produzida no processo está adquirida para o processo e
não especificamente para uma das partes.

5º princípio da livre apreciação da prova – artigo 607ºnº1 é a regra

 O tribunal aprecia, em regra, de acordo com a sua livre convicção.


 Exemplo: prova testemunhal
o as testemunhas podem estar apenas a dar a sua visão dos factos porque muitas
vezes as audiências ocorrem muito tempo depois da ocorrência dos factos. Um
acidente de aviação, ou se o autor foi ou não atropelado ou não na sequência da
passagem de um sinal vermelho pelo réu e, há testemunhas que vêm naquele
momento e passado muitos anos se calhar já não se lembram dos pormenores que
lhe são perguntados
o portanto, a prova testemunhal é uma prova que é considerada não muito credível,
por vezes é a única e, por isso, claro que é relevante, mas não é muito credível –
por a testemunha já não se lembrar muito bem e portanto é facil ser
sugestionável, porque mesmo que se lembre do que aconteceu
 Foi feito um teste para se ver a credibilidade que deve ser dada a uma
prova testemunhal devido à falibilidade da nossa perceção da realidade:
 Puseram um certo nº de pessoas a assistir a um vídeo em que uma
pessoa entrava numa estação de serviço com uma arma, roubava
dinheiro. As pessoas que estavam a assistir o vídeo foram
inquiridas individualmente sobre o que se tinha passado como se
fossem testemunhas do que tinha ocorrido pouco tempo depois.
o Relativamente a muitas questões: idade, raça, sexo, perfil,
etc. foram os aspetos que mais divergiram aqueles
depoimentos testemunhais.
o Por preconceitos que as próprias testemunhas carregam e
inerente a qualquer pessoa que assiste a uma ocorrência
destas. – é muito fácil ter uma perceção da realidade que
não corresponde necessariamente à realidade

Logo, o depoimento testemunhal é considerado falível e,


portanto, sujeito à livre apreciação da prova.

6º princípio do valor extra-processual da prova – 421º CPC

A regra é a de que a prova produzida numa certa ação pode ser aproveitada numa outra ação pela
parte interessada.

 Não é relativamente a todo o tipo de prova, até porque se for uma prova pré-constituída
este princípio não faz sentido porque quando junto aquela prova ao processo não significa
que não fique com o original
o É relevante sobretudo para a prova constituenda (a produzida em audiência).
 Numa segunda ação em que aquele facto é relevante, como é que posso
aproveitar aquela prova?
 Exemplo: na 1ª ação a contra parte confessou que era um contrato
de trabalho e não uma prestação de serviços e isso fez com que o
autor ganhasse a ação; Numa 2ª ação em que o autor quer a
condenação do réu ao pagamento de uma indemnização das – a
questão é saber em que medida pode o autor da 1ª ação ir buscar
uma certidão da confissão daquela 1ª ação e apresentá-la na 2ª
ação tendo em conta que foi uma prova constituenda daquela 1ª
ação.
o O que nos diz este princípio é que, mediante certas
circunstâncias pode fazê-lo. Nomeadamente, a
necessidade de na 1ª ação ter sido observado o
contraditório, pode aproveitá-lo e pedir uma certidão
daquela prova para usar na 2ª ação.
o No entanto, e o artigo 421º acaba por dizer isso, uma
confissão produzida na 1ª ação não vai ter o mesmo valor
tabelado do que teve na 1ª. Porquê?
 Porque nem toda a confissão tem o
mesmo valor. A confissão processual
(produzida no processo) tem mais valor
do que uma confissão extraprocessual –
compreende-se porque as garantias não
são as mesmas.
 Mas se for buscar uma confissão feita no processo
da 1ª ação e a usar na 2ª, o legislador entende
(artigo 355ºnº3 CC para onde remete o 421ºn1)
que há uma degradação do valor da confissão,
mas posso aproveitá-la.
O valor extraprocessual das provas não significa que o tribunal na 2ª ação tenha de considerar
provados os mesmos factos dos que foram considerados na 1ª ação – o princípio do valor
extraprocessual da prova apenas diz que posso usar no 2º processo uma prova constituenda, mas
no 2º vai ser o tribunal que, de acordo com as regras, se a prova for sujeita a livre apreciação, o juiz
pode ter uma opinião diferente da do juiz na 1ª ação.

Logo, valor extra processual das provas = posso usar uma prova constituenda no 2º processo, mas
não significa que os factos vao ser dados igualmente pelo juiz da 2ª ação.

7º princípio da imediação

Impõe a existencia de um contacto direto entre o juiz e as provas pessoais (relativamente a outras
provas, exemplo: as documentais, claro que o juiz tem contacto direto).

 Provas pessoais são no fundo as provas por depoimento: a testemunha, uma parte, o
perito que depõe sobre o seu relatório pericial.
o Significa que essas provas são resultado de um depoimento em frente ao juiz (um
contacto direto) e não através de, por exemplo, um relatório escrito.
 Na arbitragem é muito frequente que as testemunhas não vão a juizo mas
apresentam documentos escritos assinados por elas e depois só vao a
juizo se por acaso houver dúvidas.

O princípio vigente no CPC é o da imediação, não é que haja um artigo que o consagre
expressamente, mas os artigos que regulam a produção de prova em audiência levam a crer
claramente que os depoentes devem ir diretamente a juizo perante o tribunal na audiência que
está desse depoimento. – resulta do artigo 604ºnº3 (não o determina expressamente, mas resulta
daí).

Em que medida é que este princípio estava a ser observado na altura da pandemia?

 Porque as audiências passaram a videoconferência e, por isso, colocou-se a questão de


saber se isto não punha em causa o princípio da imediação?
o Devido à quebra o contacto direto com os meios de prova.
o A professora é da opinião que o princípio não é quebrado –
 este princípio serve para que ao juiz seja permitido avaliar o
conteúdo mas também a forma do depoimento, ou seja, as
reações, a forma como a testemunha diz, se está nervosa, se
gesticula muito, etc - há teorias psicológicas que tentam associar o
comportamento e as reações das testemunhas para saber se está
a ser verdadeira ou não e, por isso, há elementos de informação
para o tribunal que resultam não apenas do que a testemunha
vem dizer, mas também da atuação.
 Alias, muitas vezes quando o tribunal fundamenta a sentença e
dizem que os factos ficaram provados com base no depoimento da
testemunha A e não da B que disse o contrário, vêm invocar este
tipo de elementos: a consistência do depoimento, a convicção, a
segurança, etc.
 A professora entende que durante a pandemia não houve violação deste
princípio porque a intermediação através do ecrã permitia na mesma a
aferição/captar estes elementos da testemunha + estando a testemunha
presente em tribunal mas tendo de estar de máscara tal seria pior para a
captação das reações e da comunicação não verbal da testemunha que
através de um ecrã sem máscara.

E por isso, a razão de ser do princípio da imediação é esta: se o juiz lesse o depoimento não iria
captar nem metade disso.

Imediação está, portanto, relacionado com oralidade por oposição ao escrito.

Isto não tem nada a ver com a gravação das audiências que é uma regra de que todas as
audiências são gravadas – é uma consequência, uma garantia extra deste princípio, mas não é o
princípio da imediação. A vantagem da gravação é o facilitar o recurso da matéria de facto,
portanto se a parte que perdeu quiser impugnar o julgamento da matéria de facto que o tribunal
fez, vai ter de recorrer à gravação das audiências.
AULA 16/11/2023

(Livro da universidade católica sobre as regras do ónus da prova: “a inversão do ónus da prova no
direito civil português” da professora Rita Lynce de Faria)

Direito probatório material tem 3 elementos: ónus da prova; admissibilidade dos meios de prova e
o valor dos meios de prova.

Ónus da prova: (estudar pelo livro da professora, bom resumo sobre esta matéria

Para que é que servem as regras para distribuição do ónus da prova?

 O juiz não pode chegar ao final de uma ação e dizer que não tem condições para julgar
porque as partes não levaram ao processo prova suficiente para que possa proferir
julgamento, o juiz não pode dizer que não está convicto da decisão e que portanto não vai
decidir do processo- isto não é permitido, o juiz tem um dever de julgar: artigo 8º Código
Civil, artigo 2ºnº1 CPC e artigo 20ºnº4 CRP determinam todos isto.
o Artigo 8º CCivil: “o tribunal não pode abster-se de julgar invocando a falta ou
obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos em litígio” –
não pode mesmo com dúvida deixar de julgar.
 Então como é que o tribunal vai decidir se anula ou não determinado contrato quando não
tem a certeza de que o vício se verificou?
o É neste contexto que surgem as regras sobre o ónus da prova – são regras que
determinam contra quem é que o juiz deve julgar em caso de dúvida insanável
sobre os factos, vão dar uma resposta ao juiz em caso de dúvida.
o Estas regras são muito importantes porque é raro existir uma ação em que o juiz
não tenha dúvida sobre facto nenhum. Há factos que ficarão provados e outros
que não.
 Portanto, são raros os processos em que o juiz não tem de recorrer a estas
regras, mesmo que não sobre todos os factos (há factos que ficam
provados e outros que não) – relativamente aos não provados como é que
o juiz julga? Contra o autor a consequência será absolver o réu; contra o
réu será condená-lo.

Onde é que encontramos as regras sobre o ónus da prova? Encontramos no Código Civil porque
são regras de direito probatório material. Neste caso é muito evidente que são regras com uma
natureza e um conteúdo material e substantivo, porque o tribunal vai usar estas regras para decidir
se vai absolver ou condenar o réu. Apesar de aparentemente serem normas sobre prova, ao
mesmo tempo vão determinar quem é que vai ganhar a ação, portanto, no fundo, são regras que
dizerem algo do género: “se o autor numa ação de anulação não provar o vicio do negócio jurídico
então o tribunal tem de absolver o réu” (são regras deste género) — logo, no fundo, são regras de
direito material. Apesar de ser sobre prova, esta regra vai determinar o conteúdo material da
sentença do tribunal – é o mesmo que ter uma norma que diga “quem tem razão nesta
circunstância é o réu”.
Portanto, são regras com um conteúdo material porque vão determinar o conteúdo de mérito da
sentença.

A expressão ónus da prova pode ser enganadora no nosso sistema processual:


Isto porque quando dizemos que são as regras que determinam como é que o juiz vai julgar em
caso de dúvida, há um outro conceito possível de ónus da prova que é o mais vulgar que é aquele
que diz que as regras sobre o ónus da prova são as regras que determinam qual é a parte que tem
de provar o quê, sob pena da ação da ação ser julgado contra ela (conceito subjetivo do ónus da
prova: as regras do ónus da prova são aquelas que determinam a cada parte o que é que têm de
provar sob pena da ação ser julgado contra ela).
Isto é um bocadinho diferente do conceito anteriormente dado: as regras que determinavam a
decisão do juiz em caso de falta de prova (conceito objetivo do ónus da prova).
Qual é a diferença do conceito objetivo e subjetivo do ónus da prova:
 O subjetivo — é dirigido às partes, são as regras que determinam a cada parte quem é que
tem de provar o quê sob pena dessa parte vir a perder a ação (determina o que é que cada
parte tem de provar)
 O objetivo — apenas é dirigido ao juiz, serão regras de decisão para o juiz se este chegar
ao final da ação e não estiverem provados aqueles factos

Porque é que no nosso sistema jurídico adota o conceito mais objetivo?


Porque o nosso sistema é colaborativo quanto à prova, e essa colaboração quanto à prova
manifesta-se: 1. no inquisitório na recolha da prova (o tribunal tem poderes inquisitórios em
matéria de prova – mesmo que as partes não tragam certas provas o tribunal pode determinar
que seja uma entidade pública ou à contraparte que apresente provas que espontaneamente
não foram trazidas ao processo) e, 2. existe um princípio da aquisição processual (artigo 413º
CPC) que nos diz que qualquer prova trazida ao processo é válida venham ou não da parte a
quem aproveitam.
Na verdade, o momento em que é relevante saber se os factos ficaram provados ou não é
apenas no momento da sentença, porque ainda que a parte a quem o facto interessa não
venha provar o facto, se o tribunal conseguir através da sua conduta oficiosa ou se a outra
parte através de meios de prova que traga fizer com que esses factos fiquem provados por essa
via, só na sentença é que é relevante o juiz ver do conjunto de todos os factos que estão na
ação saber o que é que falta e se tem de recorrer ou não às regras sobre o ónus da prova.

As regras sobre o ónus da prova em sentido objetivo são regras que se aplicam apenas no
momento em que o tribunal vai formular a sentença porque é apenas nesse momento em que
o tribunal vai olhar para o conjunto dos meios de prova independentemente da sua origem e
considerar que os factos estão verificados ou não vs num sistema de sentido subjetivo para
além do juiz não poder trazer prova ao processo, não existe o princípio da aquisição processual
e, portanto, relevam as regras do ónus da prova no momento em que as partes vão proceder à
instrução dos factos que lhes aproveitam.
Como o nosso processo é colaborativo o ónus da prova ganha um significado na sentença.
Enquanto nos sistemas subjetivos ganha significado na fase da instrução para cada parte saber
o que é que tem de provar e, se não provar, as consequências que terá.

Apesar do nosso ónus da prova ser objetivo, isso não significa que cada parte não vá tentar
provar os factos que lhe aproveitam: seria uma insanidade de uma das partes se pensasse que
como o tribunal pode recolher prova oficiosamente e como pode ser que da prova
apresentada da outra parte alguma coisa lhe seja favorável, então não vai produzir prova sobre
os factos de que tem ónus da prova — o provável é cada parte se dedicar a essa prova de
qualquer forma porque quando o juiz vai aproveitar as regras do ónus da prova é só no final.

Em qual dos sentidos é que as regras sobre prova são o verdadeiro ónus? No sentido objetivo ou
subjetivo?

No subjetivo, porque no sentido objetivo em que tudo o que é recolhido é usado e aproveitado
para a prova há um ónus tendencial mas o que há verdadeiramente é um risco. Portanto, quando
falamos em ónus da prova o nosso sistema processual não é um ónus propriamente é um risco da
prova não ter sido feita por alguém mas não é necessariamente um ónus porque a parte pode não
ter trazido ao processo prova do facto que lhe aproveita mas o tribunal ter conseguido recolhê-la e
a ação não ser julgada contra si na mesma.

As regras do ónus da prova estão no Código Civil porque estão em causa regras de direito
substantivo: artigos 342º e ss.

Artigo 342º - regra geral:

 Não vai falar em ações em concreto, é uma norma geral e abstrata para todo o tipo de
ações:
o Nº1 – “àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos
do direito alegado”.
o Nº2 – “a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
invocado compete àquele contra quem a invocação é feita”.
o Nº3 – para casos irresolúveis, casos de dúvida que nem o nº1 nem o nº2 resolvem:
os factos devem ser considerados como constitutivos do direito
 é de aplicação excecional
 Logo, a aplicação dos nºs do artigo 342º faz depender o ónus da prova da classificação dos
factos na ação — temos de saber o que é um facto constitutivo, extintivo, modificativo ou
impeditivo:
o Para aplicar o artigo 342º não posso classificar um facto independentemente de
analisar a situação em concreto e o direito que está a ser invocado na ação,
porque o 342º diz “àquele que invocar um direito compete a prova dos factos
constitutivos desse direito”, logo não posso qualificar um facto como constitutivo
sem saber em 1º lugar qual é o direito que está a ser invocado porque um mesmo
facto em ações diferentes pode ter uma natureza diferente.
o Exemplo de ação:
 ação de cumprimento de um negócio jurídico, de pagamento do preço - o
que estou a invocar é o direito ao cumprimento do negócio celebrado.
 Factos constitutivos serão os relativos ao nascimento da relação
jurídica, portanto quais foram os factos que deram origem àquele
direito (a fonte do direito do autor):
o a celebração do negócio jurídico é desde logo um facto
constitutivo do meu direito ao cumprimento.

 Factos impeditivos são aqueles que paralisam os efeitos dos


factos constitutivos no momento em que surge a situação jurídica.
o Exemplo: os vícios do negócio jurídico
 são factos impeditivos do direito da ação,
porque não permitem, apesar de serem
contemporâneos do negócio, que este
produza os seus efeitos.
 Não permitem que os factos constitutivos
produzam os seus efeitos.

 Factos modificativos são aqueles que alteram a situação


jurídica já constituída
o Exemplo: uma moratória que o credor vai conceder ao
devedor ou qualquer outra alteração ao negocio
jurídico são factos modificativos do direito invocado.

 Factos extintivos são os factos que extinguem a situação


jurídica ou o direito que é invocado na ação
o Exemplo: se o direito que eu invoco é o direito ao
pagamento e se o réu vem dizer que já pagou, isto é
um facto extintivo daquele direito.

o Logo, temos de qualificar os factos em função do direito invocado – é em


função do direito invocado porque se mudar a configuração da ação, o mesmo
facto pode passar a ser constitutivo.
 Exemplo: se em vez de uma ação de cumprimento for uma ação de
anulação do negócio, o direito que invoco já não é o direito ao
pagamento e passa a ser o direito à anulação – aí o vicio do negócio
jurídico deixa de ser um facto impeditivo, passa a ser um facto
constitutivo porque o que estou a invocar já não é o mesmo direito.
Portanto não posso classificar os factos em abstrato, apenas posso
classificar os factos se eu souber à priori qual é o direito que está em
causa.

Situações que se suscita na doutrina discussão sobre saber o que é aquele facto:
1º exemplo: se quando peço a celebração de um negócio jurídico, se facto constitutivo do direito é
apenas a celebração do negocio jurídico, ou se será a celebração de um negócio jurídico válido

 Ou seja, será que facto constitutivo do direito para alem do negócio jurídico não é
também a necessidade de demonstrar que este não tinham nenhum vicio do NJ? Será que
isso não é também facto constitutivo? Ou será que esses vícios serão factos extintivos ou
ainda impeditivos do NJ?
 Concluiu-se que, e o professor José Alberto dos reis fala disso: o que deve vingar é uma
teoria da normalidade, ou seja, temos de partir do princípio de que um NJ se é
apresentado é valido, há um princípio de validade dos NJ – porque se não fosse assim
seria quase impossível demonstrar o facto constitutivo, seriam factos negativos. Teria que
demonstrar a ausência de vícios, que foi tudo celebrado corretamente e isso é quase
impossível de provar. Logo a normalidade deve prevalecer

2º exemplo: na mesma ação de cumprimento de um NJ em que não há duvida que o facto


constitutivo do direito do autor (o facto constitutivo compete a prova ao autora) e é a celebração
do NJ, mas surge a duvida de saber se o autor não tem de provar que o réu não pagou para puder
exigir o pagamento, ou é o réu que tem de provar que pagou? Será um facto constitutivo do direito
o constar que ainda não houve cumprimento, ou é um facto extintivo do direito o demonstrar que
já houve o pagamento e que portanto nada deve? A classificação muda tudo:

 o autor é quem tem o ónus da prova dos factos constitutivos (nº1 342º):
o se considerarmos o não pagamento um facto constitutivo do direito do autor – se
o juiz ficar na dúvida sobre se o réu pagou ou não, vai julgar contra o autor, ou
seja, absolver o réu do pedido.
o enquanto se considerarmos que o não pagamento é um facto extintivo, quem
tinha de mostrar o pagamento como facto extintivo do direito do autor seria o réu
(nº2 342º) — então nesse caso que, se não ficar provado o pagamento, então o
réu será condenado.
 A resposta da jurisprudência em geral considera que o pagamento é um facto extintivo
do direito do autor, por razões de facilidade de prova.

Há vários critérios que ao longo do tempo a doutrina foi criando e a jurisprudência também para
complementar este artigo 342º e facilitar a interpretação do que serão factos constitutivos,
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito:

 Critério do meio de defesa invocado pelo réu:


o O réu pode defender-se por impugnação ou exceção.
 Sempre que se defende por impugnação ele não invoca factos
novos, apenas contraria os factos alegados pelo autor.
 Quando se defende por exceção significa que traz factos novos ao
processo.
 O que se interpreta é que:
 Quando o réu se defende apenas por impugnação (não trás factos
novos) então continuamos no âmbito dos factos constitutivos do
direito do autor.
 Quando o réu se defende por exceção (invoca um facto novo)
então este é um facto extintivo ou modificativo do direito.
o Defesa por exceção: a invocação de factos extintivos,
modificativos ou impeditivos do direito do autor.

o Porque é que este critério não é o mais usado?


 Porque por vezes distinguir o que é uma defesa por impugnação ou por
exceção também pode ser difícil. Logo, este critério acaba por também
padecer das mesmas dificuldades que padece a distinção entre estes dois
tipos de defesa, mas é um critério auxiliar. Sempre que venha invocar
factos novos ou meios de defesa novos, em princípio não serão factos
constitutivos.

Temos também critérios que não foram teorizados, que foram criados ad hoc que muitas vezes a
jurisprudência inova (vai pela intuição olhando a quem é que faria sentido imputar este facto em
vez de o qualificar):

Rosenberg criou uma teoria que teve muita adesão e aplicou-se na Alemanha:
 Teoria da Norma e foi adotada em PT como critério complementar de interpretação do
artigo 342º:
o Dizia que a cada parte cabe a prova dos factos que constituem a previsão da
norma que a parte invoca.
 O autor quando instaura uma ação vai fundamentar a sua pretensão numa
norma. Como é que eu sei quais são os factos constitutivos do direito do
autor?
 Olhando para a previsão da norma o autor tem de demonstrar
todos os factos que integram a previsão da norma só assim
podendo aplicar-se a estatuição da norma – a estatuição da norma
é aquela de onde resulta do direito do autor.
o Em termos gerais de acordo com esta teoria, cada parte tem o ónus de provar os
factos que integram a previsão da norma que invoca, para garantir a existência do
seu direito.
 Exemplo 1: responsabilidade civil extra-contratual do artigo 483º CC
relativo a um acidente de viação - vai invocar como fundamento jurídico,
ainda que não invoque a norma, este é o fundamento jurídico do seu
direito à indemnização.
 Vamos ao artigo 483º CCivil para determinar qual é a previsão e a
estatuição:
o a estatuição é “fica obrigado a indemnizar o lesado pelos
danos resultantes da violação”.
o Quem vem invocar esta norma é o autor.
o A pergunta que se coloca é saber quais são os factos
constitutivos do seu direito para o tribunal saber, no final,
se esses factos não ficarem provados, que tem de julgar
contra o autor que é quem tem o ónus da prova dos factos
constitutivos = Quais são os factos que integram a
previsão deste artigo 483ºnº1 CCivil?
 os factos que integram serão: o acidente que
corresponde à violação ilícita do direito; a culpa,
nexo de causalidade porque os danos têm de
resultar da ilicitude, e os danos (no fundo são
todos os pressupostos na responsabilidade civil).
 Os factos constitutivos são os factos que integram
estes conceitos jurídicos: o acidente; a
demonstração de que o autor sofreu danos;
demonstrar que o réu vinha em exceções de
velocidade ou outra forma de culpa; que os danos
que sofri foram consequência do embate — o que
releva no processo são factos e não conceitos
jurídicos
 Logo tenho de subssumir os factos, o juiz
quando vai decidir e aplicar a norma o
que vai fazer é pegar nos factos da ação e
subssumi-los à norma.
 Portanto, quando dizemos “factos
constitutivos do direito do autor à
indemnização que são o dano, etc” — são
os factos que integra a ilicitude, o dano, o
nexo de causalidade, etc.

o Esta teoria de alguma forma cria uma formula aparentemente intuitiva e fácil para
percebermos que quem invoca a norma é quem tem de provar.
 A mesma coisa se, por exemplo, o réu vem dizer na sua contestação que o
direito do autor à indemnização já prescreveu - aqui será o réu que está a
invocar aquela norma que se quer que se aplique a consequência da
prescrição (que é a extinção do direito do autor), tem de demonstrar a
passagem do tempo.
 Sei que o ónus da prova de demonstrar que já passaram X anos
pertence ao réu.
 Se o autor conseguir provar os factos constitutivos do seu direito e
o réu não conseguir provar os factos extintivos do direito do autor,
então o tribunal irá julgar contra o réu – condena o réu no pedido.
 Exemplo 2: ação de anulação com fundamento em erro – autor instaura
ação para anular o negócio celebrado com o réu dizendo que houve um
erro sobre o objeto do NJ. Achava que tinha uma determinada
caracteristica e afinal tem outra, estava em erro e portanto quer a
anulação do NJ.
 Nesta ação de anulação o tribunal chega ao final e depois de muita
prova efetuada (prova sujeita à livre convicção do tribunal) vamos
supor que a prova não tem uma força probatória suficiente e,
portanto o tribunal fica na dúvida.
o Temos de saber quais é que são os factos constitutivos do
direito do autor para saber se é contra ele que tenho de
julgar ou se é contra o autor.
o Os factos constitutivos do direito à anulação:
 tenho de ir à norma de direito substantivo (Código
Civil) e em particular ao artigo 251º porque é
aquele que prevê o erro sobre a pessoa ou sobre o
objeto do NJ:
 temos de olhar à previsão e à estatuição:
 estatuição – “torna este anulável”
 previsão (os factos que constam da
previsão da norma) –
o do artigo 251º: “erro que atinja os
motivos determinantes da
vontade” “quando se refira à
pessoa do declaratário ou ao
objeto do NJ”
Logo, tenho de demonstrar que:
 estava em erro, que
houve uma divergência
das vontades;
 que esta divergência
recaiu sobre o objeto do
negócio (que eu achava
que o automóvel tinha
uma característica e afinal
tinha outra);
 a celebração do próprio
NJ
o do artigo 247º: “o declaratário
tem de conhecer ou não devesse
ignorar a essencialidade do
elemento sobre o que incidiu o
erro”
 temos a essencialidade do
erro – tem de ter sido
determinante da vontade
de contratar (que já
estava no 251º)
 que o declaratário
conhecesse ou não
devesse ignorar a
essencialidade do erro.
o Vamos ao conjunto destes dois
artigos, vamos à norma, e
retiramos todos os factos
constitutivos.
o O réu vem invocar que o direito à
anulação já caducou e vem
invocar para o efeito o artigo 287º

Este caso é um exemplo em que


temos uma norma que é formada por
vários artigos, e portanto, temos de
consultar os dois. Temos de ir ao
artigo 247º buscar os outros factos
que integram a previsão do artigo
251º.

o O réu vem invocar neste caso que o direito à anulação do


negócio já caducou e vem invocar para o efeito o artigo
287º.
Artigo 287º: “o prazo é de 1 ano subsequente à cessação
do vício para vir anular o NJ”.
 Este facto que está a ser invocado já é um facto
extintivo do direito do autor à anulação – porque
já consta de outra norma. O proprio réu vem
invocar uma nova norma, já não está a impugnar.
 Logo, temos de ir à contra norma
(relativamente ao artigo 251º, porque
extingue o direito do autor) - quem tem
de provar os factos que constam da
previsão do artigo 287º é o réu (artigo
342ºnº2).
o Se não demonstrar que passou x
tempo desde aquele momento,
então o que o tribunal vai fazer é
julgar contra ele (desde que
tenham ficados provados os
factos constitutivos)

= Há uma ordem de prioridade: se


nenhum facto ficar provado (nem os
constitutivos nem os extintivos,
modificativos ou impeditivos) claro
que o tribunal absolve o réu. O réu só
tem de provar, só há o ónus da prova,
à posteriori da prova dos factos
constitutivos.

 Esta Teoria da norma é um criterio auxiliar/complementar do artigo 342º CC.


o O critério original é o critério do artigo 342º CC, a teoria da norma é algo auxiliar
que na verdade é mais fácil de aplicar na Alemanha porque as normas têm a
previsão e a estatuição bem previstas.

Artigo 343º - regras especiais:

 Para certo tipo de ações temos casos especiais. Porque é que o legislador criou estes casos
especiais? Por 2 motivos:
1) Porque eram ações em que na altura já existiam duvidas, ou seja, ações que
suscitavam dúvidas na doutrina sobre a quem cabia o ónus da prova. Portanto o o
legislador esclareceu a quem competia, resolveu as dúvidas
2) Nestes casos especiais o legislador quis alterar as regras gerais.

Portanto há casos que foi para esclarecer dúvidas e outros casos que foi para alterar as
regras gerais.

 Nº1 – Ações de simples apreciação negativa:


o O objetivo do legislador foi inverter as coisas em relação às outras ações. Porquê?
 As ações de simples apreciação negativa são ações invertidas:
o Normalmente é o autor que vem alegar um direito e vem
pedir ao tribunal que reconheça esse direito e que
condene o réu no cumprimento – isto é o vulgar numa
ação judicial.
o No entanto, nas ações de simples apreciação negativa o
autor não vem invocar nenhum direito, vem apenas dizer
que o direito do réu não existe.
 Logo nestes casos a petição inicial do autor vai ser cheia de que
tipo de factos? Cheia de factos extintivos ou impeditivos ou
modificativos do direito do autor.
 É na contestação que vão surgir os factos constitutivos porque é
na contestação que o réu vem alegar os factos constitutivos do seu
direito porque pretende que o seu direito seja conhecido e que a
ação de simples apreciação negativa seja improcedente.
 Por isso é que este artigo 343ºnº1 esclarece que compete ao réu a prova
dos factos constitutivos em 1º lugar. Portanto se o réu não conseguir a
ação de simples apreciação negativa é procedente.

o Pormenor deste artigo: “do direito que se arroga” – ou seja, podemos retirar da
parte final deste artigo que este ónus da prova especial (esta inversão do ónus da
prova) só faz sentido quando seja o réu a dar origem à situação de dúvida ou de
incerteza, quando foi o réu que se arrogou do direito.
 É como se fosse uma sanção para o réu – se ele se arrogou então vai ser
ele que em primeiro lugar vai ter de demonstrar os factos constitutivos do
seu direito.
 Esta é a regra geral: numa ação de simples apreciação negativa
sabemos que só existe interesse em agir quando haja uma
incerteza grave e objetiva que, normalmente, terá sido criada pelo
réu.
 No entanto, (embora menos comum) se por acaso estivermos
numa situação de incerteza causada por um terceiro (como é o
caso do exemplo do jornal que noticiou a existência de uma dívida
do autor sobre o devedor), se vou instaurar a ação contra o
devedor para que se declare que o direito não existe, neste caso já
não se aplica a regra especial do artigo 343ºnº1 porque não foi o
réu que se arrogou do direito – aqui será o autor que terá o ónus
da prova pelos factos, no fundo, extintivos, modificativos e
impeditivos em primeiro lugar e se não o fizer então o tribunal não
pode julgar a ação procedente.
 Há muita jurisprudência diferente sobre esta parte final do artigo.

 Nº2 – trata da caducidade:


o Ações que têm de ser propostas dentro de determinado prazo a partir do
momento em que o autor teve conhecimento do facto.
o É o caso das invalidades com fundamento num determinado vício de um negócio
jurídico do artigo 287º CCivil:
 O vício do negócio jurídico cessa a partir do momento em que a parte tem
conhecimento da existência do vício.
 É o caso do contrato anulável com fundamento em erro qualificado por
dolo – a parte até pode ter conhecimento do erro mas não ter
conhecimento do dolo. O prazo começa a contar a partir do conhecimento
integral do vício que a parte quer arguir.
o Eu só posso propor a ação no prazo de 1 ano a contar do conhecimento do vício,
cabe ao réu a prova de o prazo ter já decorrido, salvo se outra for a solução
especialmente consignada na lei.
o A questão que se levantava na jurisprudência era saber: o prazo para propor a
ação ou é extintivo do direito do autor ou constitutivo do direito do autor (na
verdade se vou exercer um direito, demonstrar que o direito está a ser exercido no
prazo dentro do qual tem de ser exercido tambem se pode considerar que é
constitutivo do meu direito)
 Portanto, a jurisprudência oscilava muito em saber quem é que tinha o
ónus da prova:
 Na verdade se formos aplicar aqui a teoria da norma, o prazo para
propor a ação é uma contra norma, não faz parte daquela norma
em que se prevê a anulação de um negócio juridico com
fundamento no erro, essencialidade, etc – portanto supostamente
será uma contra norma invocada pelo réu que conduziria à mesma
solução.
 Não obstante isso, a verdade é que o legislador considerou
esclarecer a questão e portanto neste Nº2 fica estabelecido que o
prazo de caducidade é um prazo extintivo do direito do autor cujo
ónus da prova compete ao réu.
Ou seja, o que nos diz este Nº2 é que o prazo de caducidade é um facto extintivo
do direito do autor.

o Suscitaram-se dúvidas sobre se, quando vou invocar o direito à anulação, será que
não tenho de demonstrar que estou a exercer o direito dentro do prazo? Não
devia ter de demonstrar como facto constitutivo do meu direito que desde o
conhecimento do vício até à instauração da ação ainda não decorreu 1 ano? – este
Nº2 esclarece-nos que não.
o Porquê?
 É uma razão de dificuldade de prova: é muito mais fácil para o réu provar
que o autor numa data em específico já sabia do vício e a partir daí contar-
se o prazo para saber se a ação foi proposta dentro do prazo (= fazer a
prova de um facto positivo), do que para o autor demonstrar que não
conhecia do vício – até pode demonstrar que no dia x não conhecia, mas
nada garante que não tenha conhecido antes o vício –, teria de
demonstrar que durante todo aquele tempo não conheceu o vício, que só
conheceu naquela data e que desde aí não passou 1 ano (= fazer prova de
um facto negativo).

Seria mais difícil para o autor a prova de um facto negativo, do que para o réu
a prova de um facto positivo.
AULA 20/11/2023

Perguntas para o teste de AC:

 1 - Se a forma do processo for errada, o que acontece?


o Aplica-se o Artigo 193º sobre o erro sobre a forma de processo mas este
pressupõe que alguns atos sejam aproveitáveis. Ou seja, deve tentar aproveitar
alguma coisa, mas se não for possível, se for completamente diferente e não seja
possivel aproveitar nenhum ato dos praticados então deve absolver o réu da
instância porque é uma exceção dilatória inominada.
o Se, por exemplo, forem duas formas processuais diferentes, às vezes é difícil
aproveitar.
o A regra é a de que o tribunal pode aproveitar, mas vai depender da circunstância.
o Se vir que não pode aproveitar nada (que é raro) absolve o réu da instância, e não
vai violar o pp do dispositivo porque é só a forma do processual (o pedido e a
causa de pedido mantém-se e o juiz não pode alterar) – ou seja, exemplo: uma
ação de divorcio instaurada na forma de processo declarativa comum. O juiz ao
corrigir a forma de processo para a forma especial do divorcio litigioso não está a
alterar nada, não vai mexer no que é pedido. é uma questão meramente
processual e que faz sentido que possa alterar.
 Se for de uma ação de condenação para uma ação constitutiva o juiz já
não pode alterar porque não é uma questão de forma de processo mas do
pedido.
 Quando há coligação e são formulados vários pedidos – em pp se
seguirem formas de processo incompatíveis o tribunal deve absolver da
instância relativamente a um dos pedidos, a não ser que ao abrigo do
37ºnº2 o tribunal possa compatibilizar (mas há casos em que de facto não
é possível e aí há a absolvição do réu da instância).

 2 - Na capacidade judiciária: se entendermos que o menor não está representado na ação


e tivermos de aplicar o artigo 27ºnº2 2ª parte:
o Se houver negligencia artigo 21º
o Se não houver negligência temos de distinguir entre réu e autor
 Réu aplica-se a revelia do 568º alinea b) mas esta revelia é inoperante –
mesmo nos casos dessas exceções não quer dizer que os réus não estejam
na revelia, a questão é que a revelia é inoperante por estarem em causa
aquelas exceções.
 O regime que se aplica é o da revelia mas da revelia inoperante. O
que faz com os factos não se considerem confessados, etc… mas
não deixa de haver revelia, revelia no sentido de não contestação
com tudo o que isso possa implicar.
 Ou seja, o processo continua mas sem contestação.
o Não é abuso de direito não contestar por
o O objetivo da não aplicação dos efeitos da revelia é tutelar
o réu defendendo de alguma negligencia dos pais, mas a
professora não considera que ultrapasse algum limite
relativo à boa fé os pais usarem isso para não
contestarem, porque na verdade também se pode dar o
caso de, misturado com isto, haver um certo prejuízo do
menor se os pais não contestarem (não há por causa do
regime, mas a professora defende que na duvida não
parece que ultrapasse um limite os pais usarem isto como
estratégia processual). Em ultimo caso, se isso se
considerar claro que os pais podem ser condenados como
litigantes de má fé.
o Mesmo sem ser os casos de revelia inoperante, pode ser
uma estratégia do réu não contestar. Por exemplo: se o
réu se apercebe que a petição inicial é deficiente e,
portanto, que estar a contestar essa petição inicial irá
trazer mais informação para o processo que o réu
considera que mais vale não dizer nada para que depois o
tribunal não mande aperfeiçoar a petição inicial e não haja
uma condenação. – pode ser uma estratégia, embora a
não contestação não sirva propriamente para isto, mas há
estratégias que dentro de certos limites não constituem
um abuso de direito.

 3 - Admitindo-se uma providencia cautelar autónoma contida no processo especial de


tutela da personalidade não impede que seja admissível uma providencia cautelar comum,
qual é o fundamento para isto? Havendo processo especial não há processo comum, mas
qual é a justificação?
o Se estiver instaurada a ação da tutela da personalidade em que o pedido seja
apenas esse (uma violação da tutela dos direitos de personalidade) e se a ação
está pendente não é uma escolha, só posso instaurar aquela especial
o Posso instaurar a comum quando caía fora do ambito da aplicação da especial, das
duas uma:
 Ou a ação ainda não está instaurada e aí aquela só está prevista dentro da
ação, portanto, da ação especial
 Ou se admite que, porque quero formular mais pedidos como uma
indemnização, afinal a tutela da personalidade vai seguir a forma de
processo declarativa comum e aí posso perfeitamente recorrer ao
procedimento cautelar comum. Agora, são casos que não caem no ambito
restrito daquela norma: se for em termos restritos uma ação para simples
tutela da personalidade em que quero na pendencia da ação requerer
uma providência cautelar, não há fuga a ser aquela (tem de ser a especial,
até é mais rápida, tramitada internamente ao processo, etc) – as exceções
existem quando se foge à regra daquela ação especial.
 3.2 - Então a nova figura do processo especial da tutela da personalidade não resolve o
problema de cumulação de um pedido de indemnização ao processo urgente?
o Responde e não responde: isso não impede que a parte depois proponha outra
ação para pedir a indemnização. Porque o objetivo imediato de quem está na
eminencia de ter uma violação ao seu direito de personalidade é impedir
imediatamente (é uma ação inibitória), por exemplo: alguem que sabe que daqui a
pouco tempo vai ser publicado um livro com uma biografia não autorizada, aquilo
que é mais urgente e que tem a ver com a tutela da personalidade é conseguir
impedir de forma atempada que o livro seja publicado. Depois pedir uma
indemnização não é tão urgente porque já não está em causa a violação do direito
de personalidade, mas sim uma consequencia da violação e, portanto, é um direito
de indemnização que tenho. Logo, de certa forma, se for mesmo urgente resolve o
processo sem prejuízo de depois se separar, não conseguir formular os dois
pedidos na mesma ação (nesse sentido resolve).

Aula passada:

Temos regras gerais de distribuição do ónus da prova (artigos 342º do CC) – há dificuldade pratica
de aplicar estas regras, e para isso temos um criterio auxiliar de interpretação deste artigo que é o
criterio/teoria da norma de autor alemão Rosenberg, este critério consiste na distinção dentro das
normas de 2 partes:

 entre a previsão da norma e a estatuição


o apenas pode ser aplicada a estatuição da norma quando aquele que se quer valer
da aplicação da norma demonstrasse os factos que integram a sua previsão. Isto
Funciona segundo um sistema de normas e contra normas – as normas seriam
invocadas pelo autor que é no fundo aquele que vem invocar o direito e, portanto,
terá o ónus de provar todos os factos que integram a previsão da norma sendo que
o réu pode invocar uma contra norma (caducidade, prescrição, causa de anulação
do negócio, etc), ou seja, corresponderão à invocação de exceções pelo reu e por
isso vao corresponder à invocação de factos impeditivos, modificativos ou
extintivos cujo ónus da prova compete a esse réu.
 Logo, temos de ir à previsão da norma que o réu invoca para ver onde está
a previsão e a estatuição.

Tendencialmente há outros critérios auxiliares:

 critério da teoria da alegação – também é útil embora não tão fidedigno como a teoria da
norma.
o Vem dizer que tendencialmente aquele que alega um facto é aquele que tem o
ónus da prova desse facto, porque em principio, claro que a parte vai alegar
aqueles factos que lhe interessam e no fundo o resumo geral do que está no artigo
342º quando diz que o autor tem de provar os factos constitutivos e o reu os factos
impeditivos, modificativos ou extintivos, o que a norma está a dizer é que cada
parte tem o ónus de provar os factos que lhe aproveitam. Por isso, a tendência é
que (se são os factos que lhe aproveitam) cada parte venha alegar esses mesmos
factos que lhe aproveitam.

– CONTINUAÇÃO AULA PASSADA –

Embora o CPC não tenha normas de distribuição do ónus da prova que estão contidas no CCivil
(porque são normas de direito material, com um conteúdo material), a verdade é que o CPC tem o
artigo 414º CPC que apesar de não ser tão desenvolvido sintetiza a ideia do 342º CC.

 Tem por epigrafe “princípio a observar em caso de duvida”: a dúvida sobre a realidade de
um facto e sobre a repartição do ónus da prova resolve-se contra a parte a quem o facto
aproveita (isto depois está concretizado no artigo 342º CC).
o Ou seja, o resumo do 342º é este: cada parte tem o ónus da prova do facto que lhe
aproveita.
o Tendencialmente cada parte vem alegar apenas os factos que lhe aproveita, não é
natural que o réu venha alegar no processo factos que aproveitam ao autor. Se isto
é assim então temos um critério também auxiliar que é o da alegação dos factos –
em princípio quem alegou o facto tem de o provar.

Mas este não é o critério que se deve adotar como auxiliar segundo a professora, e
porquê?

1) Não é tendencialmente verdade porque quando o reu vem impugnar os factos


alegados pelo autor (não excecionar, mas impugnar) também vai dizer algumas
coisas que lhe aproveitam a ele mas não transferem o ónus da prova para si
porque está apenas a contradizer os factos alegados pelo autor. Apesar de vir fazer
essas alegações estas podem ser apenas de mera impugnação e portanto aí o ónus
da prova permanece do lado do autor.
2) Existem casos, ainda que excecionais, em que os factos são alegados por uma das
partes e o ónus da prova cabe à outra. – não é comum mas acontece
a. Exemplo 1: o autor pede a condenação do réu a pagar o preço de um
contrato porque este não pagou e o réu vem dizer que já pagou.
i. Vimos na última aula que um exemplo de um facto extintivo do
direito do autor é o pagamento, portanto quem tem de
demonstrar o pagamento (o ónus da prova do pagamento) é o réu.
Ainda assim, o autor na sua petição inicial tem de dizer que o réu
não pagou porque se não o disser a sua pretensão não é
compreensível, logo tem de se dizer para se considerar que a
petição inicial é válida/ não é inepta.
ii. Portanto é o autor que alega mas quem tem o ónus da prova do
facto contrario é o réu
b. Exemplo 2: ações de simples apreciação negativa – vimos que há uma
regra especial no artigo 343ºnº1 que determina que o ónus da prova
nestas ações pertence ao réu. No entanto, quem tem de alegar pela
primeira vez é o autor – o autor não pode numa ação de simples
apreciação negativa chegar a tribunal e dizer “peço ao tribunal que declare
que este direito não existe mas não sei porquê (portanto não alegar facto
nenhum)” – não pode, é obrigado mesmo numa ação destas a alegar
factos que integrem a sua causa de pedido. ainda assim, quem tem o ónus
da prova é o réu.

Logo, este critério da alegação como auxiliar do artigo 342º Código Civil é
frágil, o critério mais fidedigno é o da teoria da norma de Rosenberg.

Artigo 343º estabelece casos especiais – estabelece ónus da prova em casos especiais

 No fundo, em vez de recorrermos ao 342º para determinar quem tem o ónus da prova há
casos especiais que suscitavam dúvidas particulares (ou porque o legislador quis esclarecer
ou porque quis inverter o ónus da prova), o legislador considerou que nos tipos de ações
previstas nos seus nºs 1, 2 e 3 estabeleceu diretamente em vez de o fazer através de uma
norma geral do 342º passou a fazê-lo através de uma norma especial que dá uma resposta
concretamente.
 Nº1 – vimos na aula passada: ação de simples apreciação negativa
 Nº2 – vimos na aula passada: caducidade

 Nº3 – direito sujeito a condição ou a termo


o O que diz esta norma não é nada de mais, até seria aquilo que resultaria das
normas gerais, porque distingue:
 Condição suspensiva ou o termo inicial – são os casos em que a produção
de efeitos pelo direito depende da verificação do facto futuro e incerto.
 A quem interessa aqui é ao autor: se o autor vem invocar o direito
que está sujeito a uma condição suspensiva ou a termo inicial é
evidente que é a ele que lhe aproveita demonstrar que se
verificou a condição ou o termo, portanto é natural que lhe
compita o ónus da prova.
 Condição resolutiva ou a termo final – são os casos em que a produção de
efeitos pelo direito cessa com a verificação de um facto
 Aqui já aproveita o réu, porque é a este que lhe interessa: se o
autor vem invocar um direito e se esse está sujeito a uma
condição resolutiva a quem interessa a verificação da condição
resolutiva ou do termo final é ao réu.
 portanto, quando o nº3 diz que é o réu que tem o ónus da prova
na realidade não nos diz nada demais – acaba por ser um
esclarecimento ou uma concretização do 342º.

o No entanto, este Nº3 deixa por esclarecer uma situação mais complexa que
suscitava duvidas na jurisprudência e que não foi esclarecida:
O que é que acontece quando uma das partes no caso do autor vem invocar o
negócio jurídico (de onde retira o seu direito) e o réu vem dizer que esse negócio
jurídico estava sujeito a uma condição ou a um termo, que não era um NJ puro
mas sujeito a condição ou termo?
 Isto é diferente do que está previsto no artigo 343ºN3 do CCivil: no
artigo 343ºN3 já se parte do princípio de que o NJ está sujeito a
termo ou condição, já ficou demonstrado isso.
 A questão aqui é diferente porque a duvida existe não
relativamente à verificação da condição ou do termo, mas da
verificação da própria existencia da condição ou do termo: o autor
vem dizer que o NJ é puro e, portanto, não há nenhuma condição
ou termo a verificar enquanto o réu vem dizer que o NJ é
condicional ou sujeito a termo.
 O artigo 343ºNº3 não resolve esta questão, só se pode aplicar à posteriori,
quando está esclarecido de que o negócio não é puro ou não há dúvidas
entre as partes de que o NJ foi sujeito a condição ou a termo.
 Então como é que vamos considerar o termo ou a condição? Que tipo de
facto é que é?
 Para isto vamos ter de aplicar o artigo 342º CC porque a resposta
não está nos casos especiais do 343ºNº3
 Há uma divergencia na doutrina:
o Prof. Antunes Varela considera que as cláusulas acessórias
do NJ fazem parte das declarações de vontade dos
contraentes, e, portanto, fazem parte do NJ:
 A consequência disto é que se é o autor que tem
de demonstrar o NJ então tem de mostrá-lo com
todo o seu conteúdo incluindo a existencia ou não
clausulas acessórias (condição ou termo)
 Portanto, isto seria um facto constitutivo do
direito do autor e, portanto, seria o autor que
quando invoca um determinado NJ tem de
demonstrar que esse NJ não estava sujeito a
qualquer condição ou termo, que era um NJ puro.
o A conselheira Maria dos Prazeres Beleza (com quem a
professora concorda): considera que a existência de uma
condição ou termo é um facto impeditivo do direito do
autor que impede que o direito do autor surja naqueles
termos.
 A questão de existir uma cláusula que condiciona
aquela negócio seria um facto impeditivo do
direito do autor nos termos em que o autor o
alega.
Porquê um facto impeditivo?
 Porque é contemporâneo ao surgimento
do NJ e impede que o direito que o autor
vem invocar em termos puros exista em
termos puros. Não quer dizer que não
exista, mas está condicionado.
 Portanto, se considerarmos que é um
facto impeditivo do direito do autor então
a sua prova compete ao réu.
o Se o réu não conseguir provar a
existência de uma condição ou de
um termo, parte-se do princípio
de que não há qualquer condição
ou termo.
o Se o réu conseguir demonstrar a
existência da sujeição do contrato
a uma condição ou termo então
aquilo que falta provar é se a
condição ou termo se verificaram
e para isso já vamos ao 343ºnº3.

 Uma das razões para defender que esta 2ª opinião


é a mais válida segundo a professora:
 É muito dificil para o autor demonstrar
que o negócio celebrado com o réu era
um NJ puro, porque está em causa a prova
de um facto negativo – como é que o
autor consegue mostrar que nunca em
tempo algum sujeitou o NJ a uma
condição ou um termo?
o Até posso apresentar um NJ e que
deste não consta nenhuma
condição ou termo, mas o NJ
pode ter sido alterado
posteriormente, ou podemos
estar a falar de um NJ não formal
(celebrado em termos verbais)
 Por isso, é mais dificil para o autor
demonstrar um facto negativo do que
para o réu mostrar demonstrar que
sujeitaram aquele NJ a uma condição ou
termo.
Artigo 344º CC “inversão do ónus da prova”

já não estamos a falar de regras especiais, este artigo são inversões do ónus da prova em relação à
regra geral do 342º. O artigo 344º joga por confronto com o 342º porque se se fala em inversão é
em relação ao que resultaria da regra geral.

Casos em que o ónus da prova muda de lado: se pelas regras gerais competisse a uma das partes,
havendo inversão transmite-se para a contraparte.

No nosso sistema jurídico estas situações de inversão do ónus da prova são taxativas, ou seja, o
juiz não pode inventar inversões que não estão previstas neste artigo – o tribunal não pode criar
uma espécie de distribuição dinâmica do ónus da prova.
Não é assim em todos os sistemas juridicos: no Brasil é concedida ao tribunal a possibilidade de
alterar as regras de distribuição do ónus da prova se considerar que faz mais sentido, por exemplo,
em virtude da dificuldade de prova alterar essas regras (tem de o fazer no início de cada ação, não
pode decidir no final) – ao abrigo do seu poder de adequação formal e de gestão processual pode
determinar esta inversão.

A professora concorda com o sistema taxativo do sistema juridico PT na matéria de inversão do


ónus da prova porque:

 As regras de distribuição do ónus da prova são regras de natureza material


o O tribunal através de uma alteração das regras de distribuição do ónus da prova
pode alterar a decisão material.
o São normas com tanto impacto como as normas de direito substantivo, seria o
mesmo que modificar uma norma do CCivil.
o Alterar as regras de distribuição do ónus da prova tem um sentido material
conduziria a isto.

Nº2 – Atitude culposa de uma das partes: culpa no sentido de dolo ou negligência

Claro que há formas do tribunal atenuar a dificuldade de prova de uma das partes, não alterando o
ónus da prova – o tribunal tem poderes inquisitórios em matéria de prova. E portanto, se se
percebe que a maioria dos meios de prova estão na posse da parte que não tem o ónus da prova o
tribunal pode oficiosamente determinar que aquela parte seja obrigada a apresentar os meios de
prova que possui, sob pena do tribunal inverter as regras do ónus da prova (está no 344º) – MAS é
só depois disto e só se houver culpa da parte.

 Exemplo 1: A morre e deixa testamento a favor de determinados herdeiros e os herdeiros


que não foram beneficiados querem impugnar o testamento por algum motivo, portanto
são estes que propõem a ação (não têm a posse do testamento, quem o tem são os
herdeiros que foram beneficiados).
o Se quero instaurar uma ação para anular um testamento sou eu que tenho o ónus
da prova de que este sofre de um vicio, no entanto, estes não têm o testamento
consigo, não têm os meios para provar aqueles factos cujo ónus da prova lhes
compete.
o Neste caso, se fosse no Brasil o tribunal alterava o ónus da prova porque quem
está na posse dos meios de prova é a outra parte. Em PT o tribunal tem outros
poderes que permitem atenuar essa dificuldade de prova e o que faz é determinar
oficiosamente, emite uma ordem para que a parte que possua o testamento o
entregue em tribunal – se não fica impossível o ónus da prova da contra parte.
o E se a parte tiver destruído o testamento para evitar na ação a prova dos factos
que competem à outra parte?
 Artigo 344ºNº2 - situações em que a parte contrária tiver culposamente
tornado impossível a prova ao onerado.
 Isto significa que se o tribunal se apercebe que houve culpa dos
possuidores do testamento e que com a destruição da prova
tornaram com isso impossível a prestação dos meios de prova, o
que o tribunal vai fazer é que passam a ser os herdeiros
beneficiados a ter o ónus de provar que o testamento era válido –
que é muito difícil sem o testamento.

 Exemplo 2: testes de ADN numa ação de investigação


o Se a outra parte voluntariamente se recusa a prestar uma prova que é a única
prova fiável para a contraparte realizar o ónus que lhe impõe, então passa a ser a
parte que se recusa a realizar os testes de ADN a ter de demonstrar que não é o
pai (é muito difícil).

Apenas se aplica quando haja uma atitude culposa de uma das partes a quem seja pedida a prova.

Nº1 – 1) Presunções legais: apenas invertem o ónus da prova as presunções legais.

Temos dois tipos de presunções: as legais e as judiciais/naturais, apenas invertem o ónus da prova
as presunções legais.

Artigo 349º CC: Presunções – “são as ilações que a lei/julgador tira de um facto conhecido para
afirmar um facto desconhecido”.

 As presunções legais: são as que ilações que a lei tira e não o julgador
o Artigo 350º - “quem tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o facto a
que ela conduz; as presunções legais podem, todavia, ser ilididas mediante prova
em contrário, exceto nos casos em que a lei o proibir”
 Uma presunção legal implica o estabelecimento pela lei de que a partir de
um determinado facto se pode extrair a ilação de outro facto
desconhecido. – há um nexo causal entre o facto base e o facto
presumido.
 Exemplo: Artigo 799º CC - presume culpa, no caso de RC
contratual, do devedor no caso de incumprimento do NJ – há uma
associação de que havendo contrato pré estabelecido, o devedor
tem uma obrigação maior e portanto se não cumpre presume-se
que atuou com culpa.
o Porque é que o legislador estabelece estas presunções? Qual é a vantagem?
 Normalmente as presunções justificam-se porque o facto base é mais facil
de demonstrar do que o facto presumido. Se o facto presumido fosse mais
fácil de demonstrar então a presunção não servia para nada.

Como é que as presunções invertem o ónus da prova?

 Não invertem totalmente, apenas dispensam o beneficiário da presunção de provar o facto


presumido mas tem sempre um ónus da prova relativamente ao facto base.

o Exemplo 1: no caso da Responsabilidade Civil Contratual do artigo 799º basta


provar que foi celebrado o NJ e que não cumprido para funcionar a sua presunção.
 Há quem interprete esta presunção como uma presunção não apenas de
culpa, mas inclusive de incumprimento:
 Há jurisprudência no direito das obrigações que defende uma
extensão maior desta presunção de culpa (retiram da letra da lei).
Porquê?
o 1) Para facilitar o encargo probatório ao credor.
o 2) Mesmo em termos de prova, é mais facil para o
devedor provar que cumpriu ou, que se não cumpriu, este
não se deveu a culpa sua, do que para o credor estar a
demonstrar que o contrato não foi cumprido ou que a
culpa foi do réu (pode ser mais difícil, dependendo
também das situações).
 Porque é que faz sentido que seja o réu a demonstrar o cumprimento?
 Pelas regras da experiência é normal que alguém que entrega/que
cumpre o contrato o devedor exija um recibo de quitação (do
valor, uma prova com uma assinatura de que entregou, etc).
o Ou seja, ninguém vai cumprir uma obrigação sem ficar
com prova de que cumpriu essa obrigação. Por isso é que
a jurisprudência entende que este cumprimento é um
facto extintivo do direito do credor e por isso é que se
entende que o devedor tem o ónus da prova da culpa (de
não ter culpa no artigo 799º CC) como tem de demonstrar
que cumpriu a obrigação.
 Portanto, o entendimento da extensão da
presunção da culpa também ao cumprimento tem
razão de ser ao abrigo das regras da experiência
comum.
 As normas desta Responsabilidade Civil temos o artigo 798º e 799º:
 Artigo 798º - tem os restantes factos constitutivos da
responsabilidade civil: danos, nexo de causalidade, etc. Portanto, o
credor não fica dispensado dos factos constitutivos do seu direito,
temos apenas uma presunção do artigo 799º que inverte
parcialmente as regras de distribuição do ónus da prova.
o Quando está em causa a Responsabilidade Civil extra contratual (aqui não existe
nenhuma presunção de culpa ou de incumprimento) quem tem o ónus da prova
de todos os factos constitutivos do ilícito, dano, culpa e nexo de causalidade é o
credor (artigo 483º CCivil).

Nº1 – 2) Dispensa ou liberação do ónus da prova:

São os casos em que o legislador expressamente dispensa a parte que estava onerado com o ónus
da prova de certos facto e determina que esta não tem de provar.

Isto não é uma presunção, aqui o legislador dispensa a parte da prova do facto, não tem sequer de
provar um facto base que conduza àquela presunção.

 Exemplo 1: matéria das providências cautelares em relação ao arresto – o arresto


pressupõe a demonstração pela parte do receio da dissipação da garantia patrimonial. Há
casos especiais de arresto que o legislador dispensa o requerente do arresto de
demonstrar este receio de dissipação da garantia patrimonial
o Casos especiais do artigo 396ºNº3 CPC: prevê nos casos em que a dividia resulta
da transmissão de um bem mediante o NJ, nesse caso, o credor pode arrestar esse
bem que foi transmitido independentemente da prova de justo receio de perda da
garantia patrimonial.
 Este nº não diz que não é necessário que exista um justo receio de perda
da garantia patrimonial, apenas diz que o credor está dispensado de
provar esse justo receio.
 Neste caso em especial é para tutela do credor e do tráfico comercial e da
lealdade das relações jurídicas (se vendo a alguém um bem e se essa
pessoa recebe o objeto e não paga o preço então o arresto desse bem
para garantia do pagamento do preço é algo que faz sentido e que é
razoável mesmo sem demonstração do justo receio de perda da garantia
patrimonial).

Nº1 – 3) Existência de convecção válida de dispensa do ónus da prova:

Como é que sei quando existe uma convenção válida de inversão do ónus da prova?

 O artigo 345º CC regula as convenções probatórias (falámos das convenções probatórias


quando falámos do pp do inquisitório em matéria de prova)
o Nº1 – diz à contrario quando é que é valida uma convenção neste sentido
 por princípio admite as convenções, mas depois diz que são nulas quando
não se verifiquem certos requisitos:
 se se tratar de um direito indisponível – se o direito é indisponível
eu ao dar o meu consentimento em alterar o ónus da prova estou
a dispor do meu direito indiretamente porque estou a alterar estas
regras.
Ou
 quando a inversão torne excessivamente difícil a uma das partes
ao exercício do seu direito. – se se tornar impossível a uma das
partes a prova daquele direito indiretamente o que a parte está a
fazer é renunciar ao seu direito e entende o legislador que não o
pode fazer nesta via.
 Portanto, se existir uma convenção válida neste sentido, fora destes casos,
a inversão do ónus da prova é valida.

Nº1 – 4) Sempre que a lei o determine

Sempre que exista uma norma que expressamente altera as regras do ónus da prova do 342º.
Considera-se que é valido que o legislador o faça livremente através de lei expressa nesse sentido.

 Exemplo: Artigo 343ºnº1 – esta norma cria uma regra especial para as ações de simples
apreciação negativa.
o No fundo o que este nº está a fazer é inverter as regras gerais do ónus da prova.
Portanto, pode-se considerar que este nº se pode subsumir a estes casos que a lei
expressamente o determina.

O regime de inversão do contencioso foi muito debatido pela comissão da revisão do código. O
artigo 371ºnº1 que determina quais são as regras para a propositura da ação principal pelo
requerido começa por dizer “sem prejuízo das regras sobre a distribuição do ónus da prova” – ou
seja, mesmo que o requerido tenha de propor a ação as regras do ónus da prova são as gerais. Isto
suscitou muitas dúvidas porque:

 havia quem defendia (Prof. Miguel Teixeira de Sousa) que quando fosse o requerido a
propor a ação, devia ser ele a ter o ónus da prova sempre, porque se já ficou demonstrado
na providência cautelar o direito do requerente então é o requerido que tem de ter o ónus
da prova da nova ação.
 No entanto, esta parte inicial do nº1 veio dar razão a quem entendia o contrário, ou seja,
na ação principal proposta pelo requerido as regras são as mesmas.
o Isto quer dizer que vai depender da ação que o requerido proponha:
 se o requerido propuser uma ação de simples apreciação negativa, o
direito do requerente na ação principal, é o requerente que tem o ónus da
prova;
 se a ação que o requerido propuser não for de simples apreciação negativa
(ação de reivindicação no caso da restituição provisória da posse) aí já é
ele que tem o ónus da prova.

se o requerido for inteligente, na ação principal que proponha vai tentar inventar uma ação de
simples apreciação negativa para que seja o réu que tenha o ónus da prova.
Esta é uma das razões que se entende que talvez a inversão do contencioso não seja tão atrativa
como poderia ser para os requerentes. Porque mesmo que não tenham de propor a ação principal
se tiver o ónus da prova na mesma então se calhar preferem ser eles a comandar no fundo os
termos em que propõe a ação – Portanto, esta é uma fragilidade do regime da inversão do
contencioso que se pode considerar que não dá tanta vantagem ao requerente como se poderia
pensar.
AULA 27/11/2023

2ª parte do direito probatório material: A admissibilidade dos meios de prova

 Saber em que medida é que os meios de prova são ou não admissíveis de serem usados
em juizo para a demonstração de determinado facto.

Regra geral – livre admissibilidade dos meios de prova:

 ideia de que apesar de na lei existirem tipificados certos meios de prova, são admissíveis
outros.
o No CPC temos uma espécie de catálogo onde se regula vários meios de prova:
 prova documental 423º e ss. CPC
 prova testemunhal 495º e ss. CPC
 inspeção judicial
 prova pericial
 verificações não judiciais qualificadas
 depoimentos de partes
 confissões
o Esta lista não é taxativa e daí a regra da livre admissibilidade dos meios de prova –
qualquer meio de prova, aprovados os limites de legalidade, é admissível para
contribuir para formar a livre convicção do julgador.

Portanto esta regra da livre admissibilidade dos meios de prova conjuga-se com o princípio da livre
apreciação da prova: A regra é que cada meio de prova tem o valor relativo à convicção que possa
criar no espírito do julgador e aí associa-se a ideia de que qualquer meio de prova (desde que
admitido de forma legitima) é admissível – quer esteja regulado no CPC ou no CC (plano
substantivo que se encontra no CC) e para além desses meios é possivel admitir outros meios.

 A nivel probatório admite-se a existência de convenções probatórias do artigo 345º CCivil


(“convenções sobre as provas”) admite as convenções provatórias desde que verificados
certos requisitos.
o Á contrario do Nº2, resulta que são admitidas as convenções que excluam algum
meio de prova ou que admitam um certo meio de prova diverso dos legais, desde
que obedeçam a determinados requisitos do artigo 345º CC.
o Isto é uma manifestação da regra da livre admissibilidade dos meios de prova:
 são legítimos meios de prova não previstos na tabela legal e é legitimo
inclusivamente que as partes através de uma convenção probatória
venham proibir certos meios de prova que seriam admitidos por lei, desde
que não se trate de um direito disponivel, que a prova não se torne muito
dificil par uma das partes, etc.

Exceções a esta regra:

 1ª exceção - resulta dos casos em que a lei exige documento escrito para a prova de certas
declarações negociais – artigo 364ºnº2 CC
o Este artigo prevê 2 tipos de exigência legal de documento escrito:
 Nº1 prevê os casos em que o documento escrito é exigido como
forma da declaração negocial – está em causa as formalidades ad
substancia,
 Nº2 prevêem-se os casos em que o documento é exigido apenas
para prova da declaração – estão em causa as formalidades ad
probacionem.
 Dentro destes dois tipos de forma, há um caso que está no Nº2 onde se
prevê que há casos em que a lei exige que para a prova de determinada
declaração negocial se use apenas documento escrito.
 Como consequencia deste artigo 364ºNº2 naturalmente que
indiretamente há aqui uma limitação à regra da livre
admissibilidade dos meios de prova, porque quando estejam em
causa declarações negociais para as quais o documento escrito
seja exigido como requisito de prova há uma limitação à regra
geral da livre admissibilidade dos meios de prova.
 No entanto, o 364º nº2 diz-nos que ainda quando o documento
exigido o seja para prova da declaração, pode ser substituído por
confissão expressa judicial ou extra judicial contando que neste
ultimo caso a confissão conste de documento de igual ou superior
valor probatório
o É uma limitação que também ela tem exceção: pode ainda
ser substituída por uma confissão que conste de um
documento de valor probatório superior.

 2ª exceção - casos em que um determinado meio de prova goze de uma força probatória
especial:
o Existem meios de prova que não estão sujeitos à livre apreciação do julgador e que
têm uma força obrigatória tabelada.
 Exemplo: Confissão ou certos meios de prova documental - têm
uma certa força probatória, uma credibilidade especial que o
legislador entendeu dotá-los desta força probatória mais forte.

 O que é que acontece com estes meios de prova com uma força probatória
especial?
 Para destruir a força probatória de uma prova com força especial,
só posso fazê-lo através de outro meio de prova que tenha uma
força probatória de valor igual ou superior.

 É uma consequência de uma existência de hierarquia de meios de prova.


 Exemplo: documento autentico que tem uma força probatória
especial - não posso trazer testemunhas para contrariar o
conteúdo de um documento autêntico.
o Não é admissível porque há uma hierarquia de meios de
prova e a prova testemunhal tem a força mais baixa
dentro da hierarquia dos meios de prova.

Portanto, só posso contrariar a força probatória de meios de prova com força


especial através de meios de prova com força probatória igual ou superior – é uma
limitação á admissibilidade de meios de prova

3ª exceção – há limitações a admissibilidade dos meios de prova que resultam da busca da verdade
material. Ou seja, a procura da verdade material pode justificar (e a tutela de valores de natureza
substantiva) que o legislador crie limitações à admissibilidade de um certo meio de prova.

 Exemplo: prova por confissão não é válida quando esteja em causa a prova de factos
relativos a direitos indisponíveis. – artigo 354º alinea b) CCivil
o Nestes casos a confissão não é admissível
 Exemplo: matéria de direitos familiares que estão em causa direitos
indisponíveis a confissão não é valido.
 O facto da outra parte reconhecer como verdadeiros certos factos
(pode ser livremente apreciado pelo tribunal) não vale como
confissão, porque esta não pode ter como objeto direitos
indisponíveis.
o Se fosse admitida a confissão sobre direitos indisponíveis
seria uma forma indireta de admitir a disponibilidade
desses direitos (a prova da parte que é titular desses
direitos ao admitir um facto que lhe é desfavorável estaria
indiretamente a dispor desse direito).
o portanto, é para evitar a fraude a esta regra relativamente
à qual há certos direitos que são indisponíveis.

4ª exceção - circunstância de existirem convenções probatórias (345º CC) que admitem a exclusão
de certos meios de prova

 Nº2: indiretamente admite a existência de convenções que excluam algum meio legal de
prova.
 Portanto, também constitui uma exceção á regra da livre admissibilidade dos meios de
prova.
– 3ª parte do direito probatório material: O valor dos meios de prova (346º e 347º CC)

Como regra, temos o princípio da livre apreciação da prova – artigo 607ºnº5 CPC:

 1ª parte do artigo – é a regra geral: o juiz aprecia livremente as provas segundo a sua
prudente convicção relativamente a cada facto.
 2ª parte do artigo - exceciona alguns casos: não abrange os factos para cuja prova a lei
exige a formalidade especial nem aqueles que só possam ser provados por documentos ou
que estejam plenamente provados por documentos ou por acordo/confissão das partes
o Esta última parte significa que há casos em que há meios de prova que não estão
sujeitos à livre convicção do tribunal – o tribunal não tem margem de apreciação
desses factos, apenas pode ir à lei ver qual é a força probatória e tirar os factos
como provados em função do meio de prova apresentado --- mas esta não é a
regra, é preciso que a lei o diga expressamente para que exista uma força
probatória especial de determinado meio de prova. quando a lei nada diga
significa que o tribunal aprecia a prova de acordo com a sua livre convicção.

Quando estamos no domínio da regra (livre apreciação dos factos) diz-se que:

 Força probatória de um meio de prova é Bastante: se um determinado meio de prova


conseguiu convencer o tribunal de que aquele facto ocorreu - é a força probatória de um
meio de prova que está sujeita à livre apreciação do julgador.
o O artigo 346º CC descreve-nos em que é que consiste a força provatória bastante:
 Diz-nos que “à prova que foi produzida pela parte sobre quem recai o ónus
probatório, pode a parte contrária opor contra prova a respeito dos
mesmos factos destinados a torná-los duvidosos”.
 A força de um determinado meio de prova revela-se não apenas
pela convicção que gere no espirito do julgador como também
pela atuação necessária da contraparte para destruir essa força
probatória.
o Este artigo diz-nos que, por regra, basta que a contraparte
torne duvidosa a ocorrência dos factos (o que se chama a
contraprova) para ser destruída a força probatória
bastante.
 O grau mais baixo da hierarquia na força de um determinado meio de
prova é constituido pelos meios de prova com força probatória bastante –
são meios de prova que estão sujeitos à livre apreciação do julgador e,
portanto, têm força na medida em que consigam gerar no espirito do juiz a
convicção de que aqueles factos ocorreram.
 Exemplo: prova testemunhal tem uma força probatória bastante
o o que significa que a partir do depoimento de
determinada testemunha, o tribunal pode ou não
considerar que esse depoimento dá prova daquele facto
consoante aquela testemunha o convença ou não. –
significa que a prova testemunhal tem força probatória
bastante.
o A contraparte pode destruir a força probatória bastante
através da criação no espírito do julgador da dúvida sobre
aquele facto – apresentando, por exemplo, uma
testemunha que vem dizer exatamente o contrário, e aí o
tribunal vai ter de escolher entre uma ou outra.

Força probatória bastante = força probatória dos meios de


prova que estão sujeitos à livre convicção do julgador e que
deixam de fazer prova do facto na medida em que a
contraparte consiga criar a dúvida no espírito do julgador
através da chamada contraprova – artigo 346º CCivil.

Temos mais 2 níveis acima na hierarquia da força probatória dos meios de prova:

São níveis de valor de prova que já correspondem a prova legal ou tabelada – já não são a
regra, são as exceções e correspondem aos casos em que a lei atribui especificamente uma
determinada força a um determinado meio de prova. Estes 2 níveis de força probatória
apenas pode ser concedida pela lei, depende de atribuição legal que diga (embora possa
não dizer expressamente que “tem força probatória plena ou pleníssima”).
A lei ao atribuir força probatória legal ou tabelada a esses meios de prova (ou seja, que
não está dependente da livre apreciação do julgador) cria 2 níveis superiores de força legal
ou tabelada:

 Nível logo acima da força probatória bastante: nível da prova plena – força probatória
plena: há meios de prova que fazem prova plena sobre determinados factos
o Consiste num grau de força probatória atribuída pela lei a certos meios de prova
 Exemplo: documentos autênticos e alguns documentos particulares –
portanto, a prova documental em geral tem uma força probatória plena
que lhe é conferida por lei.
o Quando a lei diz que um meio de prova tem força probatória plena significa que:
 O tribunal tem de dar como provado aquele facto, a não ser que a parte
contrária faça prova do contrário:
 Ou seja não basta a simples contraprova que é o que acontece
com a prova bastante em que basta criar a dúvida no espírito do
julgador – para destruir a força plena é preciso a prova do
contrário:
o Na contraprova (bastante) – basta criar a duvida no
espirito do juiz de que aquele facto tenha ocorrido, destrói
imediatamente a força probatória bastante
o Na prova do contrário (plena) – é essencial que a
contraparte convença o juiz sobre a existencia do facto
oposto. Não basta criar a dúvida, é necessário que o juiz
fique convencido da existência do facto oposto para não
dar como provado aquele facto que lhe resultou
inicialmente provado através do meio com força
probatória plena.
 Exemplo: artigo 371ºNº1 1ª parte CCivil – há atos que o próprio
notário atesta na escritura pública que praticou. Imaginemos que
há uma parte que vem apresentar esta escritura pública donde
resulta da escritura publica que fica plenamente provado que o
notário leu o documento às partes. No entanto, a outra parte vem
dizer que o notário nunca leu o documento às partes nem nunca
nos perguntou se concordávamos com o conteúdo.
o Uma vez que este facto está provado com força probatória
plena, não basta a parte vir alegar ou criar dúvidas sobre
se um notário leu ou não o documento ás partes, é preciso
que venha provar o contrário – provar o contrário só é
admitido através de meios de prova com força probatória
igual ou superior ou, neste caso, o legislador criou o
chamado incidente de falsidade (artigo 372º CCivil) em
que é preciso que através deste meio processual a
contraparte venha provar o contrário, ou seja, demonstrar
que não é verdade que o notário tenha lido o documento
às partes.
É necessário nestes casos que fique provado o contrário porque temos um
meio de prova com força probatória plena.

 Nível acima da prova plena, temos a prova pleníssima – força probatória pleníssima:
o A força provatória pleníssima não admite sequer prova do contrário. Ou seja, se
apresento um meio de prova com força probatória pleníssima isso significa que o
facto fica automaticamente provado sem possibilidade de prova do contrário.
 Exemplo 1: presunções inilidíveis – aquelas que não há a possibilidade de a
outra parte vir demonstrar o contrário. Temos um meio de prova com
força probatória pleníssima e isso significa que não é sequer possível a
prova do contrário
 A presunção do artigo 1260ºnº3 CC: a posse adquirida por
violência é sempre considerada de má-fé, mesmo quando seja
titulada – temos uma presunção inilidível.
o Através desta presunção vou conseguir provar sem
possibilidade de prova do contrário, a MF do possuidor.
 Exemplo 2: ficções legais em que se associa uma determinada
consequência a um determinado facto que também não sejam ilidíveis
 Exemplo 3: declarações fictas.
o São casos raros.
DOS MEIOS DE PROVA EM ESPECIAL:

1) Prova Documental: regime está disperso entre CC e CPC

 CCivil temos o regime mais substantivo: artigos 362º e ss.


 CPC temos o regime mais processual: artigo 423º

Do regime substantivo (Código Civil):

 O que é uma prova documental?


o Artigo 362º: é a prova que resulta de documento
 Diz-se documento: “qualquer objeto elaborado pelo homem com o fim de
reproduzir/representar uma coisa, pessoa ou facto”.
 Embora associemos prova documental aos documentos escritos, não é
apenas isto:
 existe um documento sempre que por um lado haja algo, um
objeto da autora do homem e por outro lado, que tenha sido
elaborado com o fim de representar uma pessoa, coisa ou facto –
são estes dois elementos:
o função representativa
+
o de autoria humana
 Exemplo: filme, fotografia, documento escrito, gravações sonoras.

 O que mais nos interessa porque tem uma força probatória especial são os documentos
escritos:
o Temos vários tipos de documentos:
 Classificação dos documentos escritos em função do critério do tipo de
conteúdo:
 pode representar apenas uma declaração de ciência
o é um documento narrativo ou informativo
 exemplo: um atestado, um recibo, fatura, etc.
 pode conter uma declaração de vontade –
o são documentos dispositivos/negociais/constitutivos
 exemplo: NJ, sentença
 Documentos que não se limitam a
descrever uma realidade mas incorporam
em si mesmos uma declaração de vontade
destinada a introduzir alguma alteração
na ordem jurídica.
 A modalidade com classificação mais importante do documento escrito
está no artigo 363º CC – segundo o critério da autoria:
 Documentos autênticos (Nº2 1ª parte)
o Documentos da autoria de:
 uma autoridade pública
 um notário
 ou outro oficial público provido de fé pública
(conservador do registo)

 Documentos particulares (Nº2 2ª parte) – têm tendencialmente


uma força probatória inferior relativamente aos documentos
autênticos.
o Todos os outros documentos são particulares
o Temos dentro dos documentos particulares várias
categorias de documentos:
 Particulares Autenticados
 Artigo 363ºnº3: “documentos que são
confirmados pelas partes, perante
notário, nos termos prescritos nas leis
notariais”.
o Também conta com a intervenção
notarial, não na autoria (isso é
apenas nos documentos
autênticos)
 Há uma intervenção de
uma entidade dotada de
fé pública apenas para o
atestar que as partes
estão cientes do conteúdo
e que este exprime a sua
vontade
 Exemplo: celebro um contrato com outra
parte através de documento escrito e
depois vamos a um notário pedindo que
confirme na sua presença que o conteúdo
daquele documento corresponde á sua
vontade – não foi elaborado pelo notário
mas tem a sua intervenção.
o Em termos de força probatória,
um documento particular
autenticado é equiparado aos
documentos autênticos – artigo
377º CC: têm um termo
autenticado.
 Particulares Reconhecidos/com reconhecimento:
 O notário também intervém mas apenas
para reconhecer a letra e a assinatura ou
apenas a assinatura de um documento.
 Os documentos reconhecidos podem ser
objeto de 2 tipos de reconhecimento
(artigo 375º):
o 1) Presencial – é a regra: aquele
em que a parte escreve e/ou
assina (consoante o objeto do
reconhecimento) perante um
notário e este atesta que o
documento foi escrito e/ou
assinado na sua presença
 não é uma confirmação
de conteúdo, é apenas
uma confirmação de que
a autoria daquele
documento pertenceu à
pessoa que o assinou.

o 2) por semelhança – aquele que


existe por simples confronto
visual com um modelo/padrão
previamente existente
 se vou ao notário e peço
para a partir da assinatura
do meu Cartão de
Cidadão que o notário
reconheça que fui eu que
assinei o documento.
 Não é presencial porque
não assinei à frente do
notário, mas é um
reconhecimento por
semelhança

 Particulares simples – são os documentos


despidos de qualquer intervenção notarial.
 Naturalmente são os documentos que a
nível probatório são os menos fidedignos
porque aparentemente são da autoria de
quem o assina, aparentemente a parte
quis aquele conteúdo, mas não há
intervenção de um terceiro dotado de fé
pública a atestar a veracidade da letra, da
assinatura ou do conteúdo.

FORÇA PROBATÓRIA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS:

 A lei apenas dota de uma força probatória especial os documentos escritos (os não escritos
estão sujeitos à livre apreciação do julgador) e esta força varia consoante o documento
seja autêntico e, dentro dos particulares, consoante tenha ou não havido intervenção
notarial.
o É necessário ainda distinguir 2 tipos de força probatória válido para qualquer
documento – são DUAS FASES NECESSÁRIAS no que respeita aos documentos:
 1º Força probatória formal de um documento – a averiguação da força
probatória formal de um documento implica saber em que medida é que a
sua autoria está provada, no sentido de provir da pessoa a quem é
imputada a sua autoria.
 Autoria do documento – força probatória formal: preciso de saber
se me apresentam um documento que está assinado pela pessoa
X e se uso esse documento em tribunal, em que medida é que só a
apresentação do documento assinado é suficiente para que fique
provado que aquele documento é da pessoa X.
o Temos de ter uma forma de verificar se o X é o autor do
documento.
o Quando se fala em força probatória de um documento

 2º Força probatória material de um documento – diz respeito ao


conteúdo do documento, portanto, saber em que medida os atos
atestados no documento são factos que correspondem à realidade.
 Depois de ficar provado que o X é o autor do documento é
necessário olhar ao conteúdo deste – se ele diz que que recebeu o
preço da compra e venda é preciso saber em que medida ficou ou
não provado o recebimento do preço.
 Só podemos passar à força probatória material do documento
quando a força probatória formal esteja garantida.

 Exemplo: temos uma escritura pública – tem uma força probatória elevada
porque é um oficial público/entidade pública que está atestar de
determinados factos, mas quem é que me garante que a escritura pública
foi elaborada pelo oficial público?
 Antes disso não posso passar a saber se o conteúdo do documento
está ou não plenamente provado, antes tenho de ter como
assente que aquela escritura foi de facto da autoria do notário que
a assina.
 A força probatória de um documento só é relevante quando a contraparte
o venha impugnar – se apresento uma escritura e se a contraparte não
vem pôr em causa a veracidade da escritura, a questao da força probatória
formal é relativa. A questão coloca-se quando há 2 versões diferentes e é
necessário saber como é que o juiz vai atribuir força àquele meio de prova.
 Logo, a verdadeira força probatória de um determinado meio de
prova coloca-se ou está em jogo, quando as partes tenham visões
diferentes dos factos.

 1 - Dos Documentos autênticos: artigos 370º e 371º CCivil (artigo que rege relativamente
aos documentos autênticos)

o força probatória formal – quanto à autoria:


 Artigo 370ºnº1 – “presume-se que o documento provém da autoridade ou
oficial público a quem é atribuido, quando estiver subscrito pelo autor com
assinatura reconhecida por notário ou com o selo do respetivo serviço”
 Há uma presunção de autenticidade de um documento autentico,
desde que esse documento tenha alguns sinais próprios do
documento autêntico e que são sinais de autenticidade: a
subscrição pelo notário, o selo do respetivo serviço, etc.
o ou seja, há uma série de sinais num documento autêntico
de onde se permite presumir que aquele documento é
verdadeiro.
o No fundo, este artigo atribui uma força probatória formal
PLENA a um documento autêntico.

 Exemplo: escritura publica está gravada com o selo do respetivo


serviço notarial que são, no fundo, uma garantia de autoria formal
daquele documento
o a partir do momento em que o documento contenha
todos os elementos que aparentemente lhe dão
autenticidade, esse documento é considerado autêntico
pelo tribunal.
o E se a parte vier dizer que o selo é falso?
(estamos ainda a falar sobre se aquele documento é
autêntico ou não – da forma e não do conteúdo)
 Temos o artigo 370ºnº1 que no fundo permite
presumir a autenticidade, então é necessário que
a outra parte prove o contrário – há uma força
probatória formal plena, só pode ser destruída
através da prova do contrário.
 Como é que posso provar o contrário?
 Esta presunção de autenticidade apenas
pode ser ilidida através de uma incidência
processual especial - o incidente de
falsidade ( no artigo 370ºnº2 e artigo
372º):
o Aquele que impugna a autoria do
documento pode fazer prova do
contrário através de uma forma
especial que é o incidente de
falsidade:
 Exemplo: através de prova
pericial que permite
demonstrar que apesar
dos sinais exteriores que
induzem a concluir que o
documento é de autoria
notarial, não é um
documento de autoria
notarial – isto faz-se
através da prova do
contrário através do
incidente especial de
falsidade.
o Assim, pela autoridade especial
de um documento autêntico não
basta que a outra parte venha
dizer que o documento é falso e
apresentar uma testemunha –
não é suficiente pela credibilidade
do meio de prova deste género.

o força probatória material - quanto ao conteúdo:


 Depois de provada a autenticidade do documento, ou seja, presumida esta
força probatória formal do documento autêntico (+ se a parte não destruir
essa força probatória formal através de um incidente de falsidade), o que é
que do conteúdo da escritura fica ou não provado com força probatória
plena ou será que tem força probatória meramente bastante?
 Artigo 371ºnº1 - rege a força probatória material do documento
autêntico e distingue dentro dos casos que estão contidos na
escritura publica vários tipos de factos:
o Dentro do conteúdo que está, por exemplo, numa
escritura pública, podemos distinguir 3 categorias de
factos – artigo 371ºNº1:
 1) Os factos que o documento refere como tendo
sido praticados pela entidade autora do
documento – estes factos estão cobertos pela
força probatória material PLENA do documento
autêntico.
 Exemplo: na escritura pública o notário
dizer que leu o documento às partes, que
o explicou, que lhes entregou cópias do
documento – são os factos que se referem
como praticados pela entidade
documentadora.
o Portanto, se a outra parte quiser
provar que não lhe foi lido nem
explicado o conteúdo do
documento, vai ter de provar o
contrário através do incidente de
falsidade. – dada a especial
fidedignidade destes documentos
 Claro que há autoria especial do notário (a
força probatória formal plena) estende-se
à veracidade dos atos que este diz que
praticou.

 2) Os factos atestados com base nas perceções da


entidade documentadora – são factos que não
foram praticados pelo autor, mas que o autor
atestou que as partes declararam.
 = são as declarações das partes que o
notário vai atestar que perante ele foram
declaradas – são os factos atestados com
base nas perceções do notário
o Exemplo: o notário atesta que
uma das partes declarou que
queria vender, a outra das partes
declarou que queria comprar; as
partes declararam que já tinha
sido pago o preço – tudo isto são
factos atestados com base nas
perceções do notário: o que as
partes declararam no fundo
 Também estas perceções da entidade
documentadora estão cobertos pela força
probatória material PLENA do
documento autêntico.
o Logo, faz prova plena dos factos
que neles são atestados com base
nas perceções da entidade
documentadora. Ou seja, fica
plenamente provado o que as
partes declararam.
 A perceção do notário
apenas abrange as
declarações das partes,
outra coisa diferente é se
realmente o preço foi
pago ou não – Uma coisa
é o notário atestar que as
partes declararam que o
preço foi pago, outra coisa
é o preço ter sido
efetivamente pago.
 O preço ter sido
efetivamente pago já não
está coberto pelas
perceções do notário,
logo não fica provado de
forma plena pela força
probatória material do
documento autêntico de
acordo com o artigo
371ºnº1, pode ser pela
força probatória de uma
eventual confissão que
esteja contida na
escritura.

 3) Os meros juizos pessoais do autor do


documento – ou seja, quando o notário num
testamento diz que o testador se encontra na
plena posse das suas faculdades mentais, isto é
uma perceção do notário com base nos seus juízos
pessoais
 O notário pode atestar, mesmo sem a
presença de um médico, que por exemplo
um testador estava na plena posse das
suas funções. – não é médico, não tem
formação técnica exceto o conhecimento
empírico que qualquer pessoa teria logo
são meros juízos pessoais da entidade
documentadora.
 Estas apreciações já não estão cobertos
pela força probatória plena do documento
porque o notário não é especialista e,
portanto, esta perceção não vale o mesmo
que se fosse um médico – logo, tem
apenas uma força probatória material
BASTANTE.
o Ou seja, o juiz a quem seja
apresentada uma escritura
pública onde o notário tenha dito
que o testador estava na plena
posse das suas funções, o juiz não
está impedido, por exemplo,
numa ação de anulação do
testamento com fundamento em
incapacidade do testador, de
decidir contra esta declaração do
notário se por acaso forem
apresentados outros testemunhos
que o façam ficar na dúvida –
exemplo, testemunhos de pessoas
que conheciam o testador na
altura e que este não estava na
plena posse das suas capacidades.
 O juiz ao desconsiderar
esta declaração do juiz
não está a contrariar a
força probatória da
escritura uma vez que
estas declarações têm
uma mera força
probatória bastante e não
uma força probatória
plena.
AULA 30/11/2023

 2 - Dos documentos particulares:

o Força probatória formal:


 Sabemos que os documentos particulares são da autoria de um particular,
no fundo não é da autoria nem de uma autoridade pública nem de um
oficial dotado de fé pública para o efeito.
 Dentro dos documentos particulares temos vários categorias de
documentos:
 Documentos particulares Autenticados:
o Artigo 377º CC: a força probatória dos documentos
autenticados equivale à dos documentos autênticos.
 Apesar de não serem da autoria da entidade de
especial autoridade, o facto dessa entidade ter
uma intervenção nos documentos autenticados
(confirmando a vontade das partes) faz com que a
força probatória desses documentos seja quer a
nivel formal quer a nível material, equiparada aos
documentos autenticados
 Ou seja, força probatória formal plena e
força material plena.

 Documentos particulares Reconhecidos:


o Força probatória formal - Artigo 375º CC: a força
probatória destes documentos vai depender do tipo de
reconhecimento.
 Reconhecimento Presencial
 Faz com que se dê por plenamente
provada a autoria da letra e da assinatura
(aquela que seja reconhecida): tem força
probatória formal plena
o o reconhecimento presencial é
muito mais forte e, portanto, se
esta entidade documentadora
atestou que a letra e a assinatura
são da pessoa que a assinam é
evidente que fica plenamente
provada a autoria daquele
documento com reconhecimento
presencial
o logo, é necessário a prova do
contrário: a entidade ou a
pessoa/parte no processo contra
quem é apresentado o
documento, se quiser impugnar
essa autoria vai ter de provar o
contrário – também através da
admissão da falsidade do
documento conforme estabelece
o artigo 375ºnº1 e nº2.
 Logo, há uma espécie de
presunção legal da
autenticidade da força
probatória formal destes
documentos.

 Reconhecimento por semelhança.


 A entidade documentadora não atesta a
realização do ato na sua presença (o
documento não é escrito e assinado na sal
presença) o que faz é apenas comparar a
assinatura ou a letra que constam do
documento com um outro (um
passaporte, por exemplo) da entidade
autora daquele documento.
 O que o artigo 375ºnº3 acaba por
considerar é que “o reconhecimento por
semelhança vale como um mero juízo
pericial” – o juizo pericial tem uma mera
força probatória bastante, e não plena
(artigo 389º CCivil).
o Tem uma força probatória
bastante porque o juízo pericial é
extremamente falível
(normalmente as partes
apresentam provas periciais no
sentido que lhes são favoráveis)
 os peritos podem ter
opiniões diferentes
consoante a perspetiva
em que se colocam e,
portanto, como neste
sentido não é uma prova
infalível o tribunal tem de
poder escolher entre a
prova pericial que merece
mais credibilidade – e
portanto, tem uma mera
força probatória bastante.
 O mesmo acontece com
os documentos que
tenham assinatura
reconhecida por
semelhança: o tribunal
está sujeito a considerar
provada essa autoria na
medida em que fique
convencido dessa autoria
e não seja feita
contraprova pela parte
contrária

o Força probatória material – artigo 376º: relativo aos


documentos particulares simples

 Documentos particulares simples:


o Força probatória formal - Artigo 374º:
 A força probatória formal de um documento
simples depende da atitude da contraparte contra
quem é apresentado o documento.
 Há uma espécie de presunção de que a
autoria corresponde à pessoa que assina o
documento (= presume-se a autenticidade
do documento), sendo que esta autoria
pode ser facilmente posta em causa
através de uma reação contrária da parte
contra quem o documento é apresentado.
 Haverá presunção da veracidade da
autoria se:
- A contraparte nada disser ou admitir
que é da sua autoria;
- Se a outra parte disser “não sei; não
me lembro” também se consideram
verdadeiras essa assinatura
- se a lei expressamente considerar
que aquela assinatura corresponde à
realidade (exemplo, se aquela assinatura é
certificada)
 Exemplo: autor pede que o réu seja
condenado a pagar o preço de um
contrato com ele celebrado e o réu vem
dizer que já pagou e apresenta um
documento assinado pelo autor a dizer
que recebeu o preço – apresenta um
recibo de quitação do autor a dizer que já
recebeu o preço.
o O tribunal vai pegar neste
documento e vai ver em 1º lugar
qual é a sua força probatória
formal: resulta do 374º que
dependendo da atitude do autor,
a autoria vai ou não considerar-se
provada:
- Se o autor, por exemplo,
não se manifestar ou disser
simplesmente que “não sabe; não
se lembra” então há uma
presunção de autenticidade do
documento e, portanto, fica
provada a autoria do documento.
- Pelo contrário, o artigo
374ºNº2 determina que: se a
parte contra quem o documento é
apresentado vier impugnar a
veracidade da sua autoria, então
compete à parte contrária (parte
que apresentou o documento) ter
de demonstrar a sua veracidade
através de, por exemplo, um
exame pericial à letra e à
assinatura.
 Se a parte a quem o
documento prejudica vier
impugnar a autoria
formal, então transfere-se
para a contraparte o ónus
de demonstrar a sua
autoria (força probatória
formal).
Caso fique então demonstrada a força
probatória formal do documento através
de uma prova daquele que apresenta o
documento ou através da demonstração
da falsidade do documento, continuamos
a análise do documento para a força
probatória material.

o Força probatória material - Artigo 376º:


 Nº1 – têm-se por plenamente provadas todas a
declarações constantes do documento emitidas
pelo seu autor = todas as declarações constantes
do documento daquele a quem se atribui autoria
consideram-se plenamente provadas.
 Exemplo: no recibo de quitação em que o
credor diz que recebeu do devedor aquela
quantia
o Se ultrapassarmos a força
probatória formal (e, portanto,
ficar demonstrado que a autoria
daquele recibo é efetivamente do
autor da ação) então,
consequentemente, fica provado
que o autor da ação declarou que
recebeu o preço – é o mesmo que
vimos quanto aos documentos
autênticos:
 fica apenas provado que o
autor declarou que
recebeu o preço, da força
probatória do documento
não fica ainda provado
que ele efetivamente
recebeu o preço.
 Para ficar provado que ele
efetivamente recebeu o
preço temos de ver o que
é que é esta declaração
do autor que recebeu o
preço:
É uma prova por confissão
– temos de ir ver a força
probatória da confissão
para ver se o
pagamento/recebimento
do preço está ou não
provado - tem uma força
probatória especial.
Portanto, vamos chegar à
conclusão que fica
plenamente provado que
o devedor pagou o preço,
mas não é só pela força
probatória do
documento:
É pela declaração que
está no documento.
 O nº1 do 376º faz prova plena quanto às
declarações atribuídas ao seu autor, no
entanto, o nº2 diz-nos que: os factos
compreendidos na declaração (ou seja, o
pagamento propriamente dito) só se
consideram provados na medida em que
forem contrários aos interesses do
declarante – porque as declarações
contrárias aos interesses do declarante
são confissões.
o Logo, a força probatória material
do documento autêntico e do
documento particular é uma força
probatória que apenas alcança as
declarações e não os factos objeto
das declarações.

 Documentos particulares escritos mas não assinados: regime


especial – artigo 366º
o Exemplo: uma nota na pagina de um diário de alguém mas
que não está assinado
o Tem uma força probatória meramente bastante – é
apreciada livremente pelo tribunal. No entanto, temos de
juntar o artigo 366º com os artigos 380º e 381º
(disposições especiais quanto aos documentos escritos) e
que apesar desses documentos escritos mas não
assinados terem uma força probatória meramente
bastante, alguns desses documentos escritos não
assinados fazem prova plena:
 São os documentos escritos não assinados que em
regra não costumam ser assinados
 Exemplo: no artigo 381ºnº1: fazem prova
contra o seu autor se indicarem
inequivocamente a receção de algum
pagamento – livros que os comerciantes
usam onde tomam nota dos seus
pagamentos, são livros que normalmente
não são assinados, mas não deixam de
fazer prova do que está ali escrito
precisamente por serem documentos
escritos que normalmente não são
assinados – têm uma prova superior à
força probatória bastante e, portanto, são
exceção à regra do artigo 366º

FORÇA PROBATÓRIA DOS DOCUMENTOS NÃO ESCRITOS:

 Artigo 368º - “reproduções fotográficas ou cinematográficas, os registos fonográficos e, de


um modo geral, quaisquer outras reproduções mecânicas de factos ou de coisas fazem
prova plena dos factos e das coisas que representam, se a parte contra quem os
documentos são apresentados não impugnar a sua exatidão”.
o Exemplo: um vídeo de onde consta um determinado comportamento da
contraparte fica plenamente provado a não ser que a contra parte venha conseguir
provar a falsidade daquele documento não escrito.

Existe um regime especial aplicável aos documentos eletrónicos que é um regime que consta
atualmente do DL 12/2021 de 9 de Fevereiro:

 Artigo 3ºnº5 “forma e força probatória”: equipara os documentos eletrónicos aos


documentos particulares assinados em termos de força probatória. Portanto, aplicar-se-ia
o artigo 376º do CC, no entanto, exigem que a esses documentos tenha sido aposta uma
assinatura eletrónica qualificada (= uma assinatura eletrónica especialmente reconhecida
por uma entidade governamental)
o Há uma aplicação em que é permitido por associação ao Cartão Cidadão certificar
documentos eletrónicos através da aposição de uma assinatura eletrónica.
o O que resulta do artigo 3ºnº5 é que é necessário que tenha sido aposta essa
assinatura eletrónica para se considerar que aquele documento tem o mesmo
valor de um documento particular assinado.
 Quando não tenha assinatura eletrónica, então está sujeito à livre
apreciação do julgador e não tem a força probatória plena que resulta do
artigo 377º CCivil.
2) Prova por Confissão:

 CCivil temos o regime mais substantivo: artigos 352º e ss.


 CPC temos o regime mais processual: artigos 452º e ss.

Do regime substantivo (Código Civil):

 O que é a confissão?
o Artigo 352º CC “Confissão como meio de prova”: reconhecimento que a parte faz
da realidade de um facto que lhe é desfavorável e que favorece a parte contrária.
 Pressupõe, portanto:
 1º uma declaração de ciência e não uma declaração da vontade – é o
reconhecimento da realidade de um facto
+
 2º esta declaração de ciência provém da parte a quem o facto
desfavorece: o autor daquela declaração está a proferir uma
declaração que não lhe é favorável.
 É por isso que a confissão tem uma força probatória
especialíssima – se alguém profere uma declaração
desfavorável é porque quase com toda a certeza a declaração
é verdadeira e o facto objeto da declaração é verdadeiro.
o Em cada processo há uma distribuição das regras
sobre o ónus da prova e cada parte tem o ónus de
provar os factos que lhe aproveitam.
 Quando existe uma confissão, isso significa
que a declaração é feita pela parte que não
tinha o ónus da prova:
 Se digo que a confissão é uma
declaração de um facto desfavorável à
parte, então isso significa que seria a
contraparte que teria o ónus da prova.
o Nesta ação em que o autor
pede a condenação do réu do
pagamento do preço, se o
autor declara através de um
documento que o réu já
pagou o preço então é
evidente que isso é uma
confissão porque está a
declarar um facto que lhe é
desfavorável e cujo ónus da
prova caberia à contraparte.
o Portanto seria o réu a ter o
ónus da prova de que já
pagou o preço, através da
confissão o réu vai conseguir
que fique provado através de
uma declaração da
contraparte.
o A confissão pode vir do autor ou do réu.

 A confissão não se confunde com algumas figuras afins:


o Confissão do pedido
 Artigo 283º CPC: o autor pode em qualquer altura confessar toda ou
parte do pedido – apenas pode provir do réu.
 Diferença da confissão do pedido com a confissão sobre um meio de
prova:
 Confissão do pedido - é um ato de vontade do réu em que
este reconhece total ou parcialmente o pedido do autor.
o só faz sentido que venha do réu
o O réu que confessa o pedido está a reconhecer o
pedido do autor
o dá origem à condenação do réu
 Confissão como meio de prova - refere-se a um facto e não ao
pedido como um todo.
o Pode provir do autor ou do réu
o Há uma declaração de ciência sobre um facto que
pode conduzir à absolvição/condenação do réu, mas
não necessariamente.
o É mais restrita do que a confissão do pedido

o Simples admissão de factos:


 Às vezes, nos articulados o autor apresenta a petição inicial descreve o
litígio e faz o pedido, e o réu na sua contestação vem dizer: “admito
como verdadeiros os factos nos articulados alegados nos artigos x”-
isto é uma admissão de factos e não uma admissão de confissão.
 Tem o mesmo efeito que a confissão da prova porque os factos vão se
considerar como confessados, mas não é uma confissão porque é um
ato de vontade de sentido neutro – não há propriamente uma
declaração de ciência dizendo que correspondem à verdade,
simplesmente que admite como sendo considerados como
verdadeiros.
 Quando é que costuma acontecer? relativamente a factos neutros:
quando o autor diz uma série de coisas que são neutras e que o réu
não impugna nem considera verdadeiros e, portanto, diz que aceita
como se admitidos como verdadeiros. – não é uma confissão uma vez
que é um ato de vontade de sentido neutro
o Depoimento de parte: artigo 452º CPC
 Não é propriamente um meio de prova, mas é uma forma de provocar
a obtenção do meio de prova.
 Artigo 452º CPC: é o depoimento de uma das partes pedido pela parte
contrária.
 No fundo, é diferente de declarações de parte porque consiste
no pedido de depoimento da parte contrária para obter uma
confissão da parte contrária.
 Exemplo: o autor pede que para além das testemunhas seja ouvido o
réu daquela ação na esperança de que o réu possa confessar algum
facto que lhe é desfavorável.
 É diferente da confissão porque é o modo processual através do qual
se obtém uma confissão, mas assim mesmo não é um meio de prova.
AULA 4/12/2023

Modalidades da confissão: Artigo 355º e 356º CCivil - classificação e definição de confissão:

355º Nº1,Nº2,Nº4 – a confissão pode ser judicial ou extrajudicial:

 Esta distinção tem como critério o momento no qual é efetuada a confissão. Ou seja, será:
o Judicial – quando é feita em juizo
o Extrajudicial – é feita por qualquer outro modo que não em juízo

 355º Nº3 – confissão feita no processo só vale como judicial nesse processo
o O princípio do valor extra processual das provas (Artigo 421º CPC) determina que
posso aproveitar meios de prova produzidos numa ação, posso usá-lo noutra ação
contra a mesma parte.
 A questão do valor extra processual das provas coloca-se relativamente a
meios de prova produzidos em processo (exemplo - prova testemunhal,
pericial, por confissão)
o Prova por confissão emitida naquele processo
 Exemplo: o réu confessou alguns factos naquela ação – em que medida
posso usar essa confissão contra o mesmo réu noutra ação?
 Se tenho várias ações contra o mesmo réu, e embora estejam em
causa pedidos/ações diferentes, há factos semelhantes e a
questão é saber em que medida posso usar a confissão de um
facto feita pelo réu numa ação do réu noutra ação – já sabemos
que podemos usar através deste princípio do valor extra
processual das provas.
 No entanto, esta utilização extra processual da confissão tem uma
consequência:
o A degradação do meio de prova por confissão
 Nº3 – a confissão judicial na 1ª ação passa a
confissão extrajudicial na 2ª ação em que é
aproveitado aquele meio de prova.
 A confissão extra judicial tem um valor
probatório muito mais frágil do que a
confissão judicial – como regra geral a
confissão judicial tem um valor probatório
muito elevado porque precisamente é
feita num processo perante um juiz.
Confissão Judicial: aquela que é feita em juízo e apenas é judicial nesse mesmo processo.

 Esta pode ser de 2 tipos - consoante a origem da iniciativa de confessar


o Espontânea (artigo 356ºNº1 CCivil) – por livre iniciativa do confitente
 “Pode ser feita nos articulados segundo as prescrições da lei processual, ou
em qualquer outro ato do processo, firmado pela parte pessoalmente ou
por procurador especialmente autorizado”
 Ou seja: pode ser feita na fase inicial do processo ou qualquer
outro momento.
 O mais comum é a confissão ser feita na fase inicial, também o
pode fazer nos articulados.
 Fora dos articulados podem existir outros momentos em que
espontaneamente a parte venha a juizo admitir a verdade de um
determinado facto.
 É um meio de prova que resulta das chamadas declarações de
parte. A parte em juízo pode apresentar os articulados, como vir
ao processo depor na audiencia de julgamento. E pode acontecer
que a parte na audiência de julgamento enquanto depõe venha a
admitir um facto que lhe é desfavorável – diz-se que é uma
confissão espontânea fora dos articulados.

 Os advogados das partes também podem confessar factos desde que


estejam munidos de poderes especiais no seu mandato, exceto o que
resulta dos artigos 46º e 356ºNº1 CPC: o mandatário apenas não precisa
de poderes especiais para confessar, se estiver em causa confissões feitas
nos articulados – a não ser que essas confissões depois sejam retiradas
enquanto a outra parte não as tiver aceitado especificamente.
 Portanto, o mandatário, quanto aos articulados não precisa de
poderes especiais.
 Quanto a todas as outras confissões fora dos articulados precisa
de poderes especiais para as efetuar.

Exemplo 1: numa ação de anulação do contrato com fundamento em


incapacidade acidental do autor em que o autor diz que estava num
determinado estado quando celebrou o contrato com o réu mas que
devido á incapacidade em que estava este é inválido. O mais provável é o
réu admitir que o contrato foi feito, mas provavelmente vai contestar o
estado em que o autor se encontrava. – há um acordo das partes quanto à
celebração do contrato, é uma confissão espontânea por um facto alegado
pelo autor e que interessa ao autor, e, portanto, está aqui uma confissão
de factos.
o Provocada (artigo 356ºNº2) – Não é da livre iniciativa do confitente, mas acaba
por resultar de um ato processual provocado pela parte contrária ou determinada
pelo juiz.
 Determinado pelo juiz:
 Em matéria de prova o tribunal tem um poder inquisitório (ao
contrário do que é regra nas restantes matérias) e, ao abrigo deste
poder, o tribunal pode notificar as partes para virem prestar
informações ao processo ou esclarecimentos relativamente a
alguns assuntos.
o No âmbito desse esclarecimento, a parte pode acabar por
confessar algum facto que não tinha admitido nos
articulados.

 Requerido pela parte contrária:


 O que a parte contrária vem requerer é que a outra parte seja
ouvida através do meio processual chamado depoimento de parte
(instrumento processual através do qual a contraparte é ouvida
sobre factos que lhe são desfavoráveis) e pode acontecer que do
depoimento de parte resulte alguma confissão.
 Exemplo: o autor pede que o réu seja ouvido e ao questioná-lo
sobre a empreitada e o réu pode no meio de tudo vir a admitir
que não concluiu partes e, portanto, factos que são favoráveis ao
autor.

Confissão Extrajudicial: aquela que é realizada fora de qualquer ação, ou realizada em juizo mas
num processo diferente.

 Esta confissão depende da forma como foi realizada:


o Confissão extrajudicial verbal:
 Exemplo: o réu fora do processo admite que ainda não cumpriu o plano de
trabalhos no caso da empreitada efetuado pelo autor, e houve uma
testemunha que estava presente quando o réu o admitiu.
 Esta confissão é extrajudicial verbal que numa eventual ação de
responsabilidade civil pela não execução da empreitada pode a
testemunha ser chamada para vir contar o que ouviu.
 Quando a confissão é verbal será de forma indireta que vai chegar ao
processo – através de, por exemplo, depoimento da testemunha.

o Confissão extrajudicial escrita:


 Pode resultar de qualquer tipo de documento escrito (autentico ou
particular) e a confissão é trazida a juizo através do próprio documento.
 Pode ser autentica ou particular
 Vai se juntar ao processo o próprio documento
o Exemplo 1: num caso de uma ação de pagamento do
preço o réu junta ao processo um recibo de quitação em
que o autor diz que já recebeu o preço, isto é
naturalmente um documento particular simples em que o
réu vem trazer ao processo uma confissão do autor
 Relativamente à força probatória dos documentos,
sabemos que coberto pela força probatória
material dos documentos está apenas a
declaração proferida por aquele que assina o
documento.
 No entanto esta declaração proferida, (neste caso
um recibo em que o autor diz que já recebeu o
preço) para além da declaração que fica provada
temos aqui uma confissão
 Porque o autor do documento dizer que já
recebeu o preço no contexto daquela ação
em que o autor está a pretender a
condenação do réu no pagamento do
preço, é uma confissão extrajudicial num
documento particular simples.
 Portanto, vou ter de juntar aqui a força probatória
não apenas da prova documental, mas também a
força probatória da confissão para saber se o facto
“pagamento” está ou não provado.
 Ou seja:
 a prova documental permite provar as
declarações emitidas no documento
o através da prova documental
consigo chegar à prova de que a
parte que assina o documento
declarou aquilo
 a prova por confissão permite provar os
factos objeto da declaração
o mas só através da prova por
confissão é que consigo chegar á
prova de que o facto declarado é
verdadeiro.
 Temos sempre de juntar estes dois meios de prova
para concluir sobre a prova oral do facto.
o Exemplo 2: O autor quer que o réu seja condenado a
pagar um determinado valor por resultado de um contrato
a que as partes se obrigaram. O réu diz que já pagou e
junta um documento assinado por ele próprio em que diz
“eu já paguei o preço” – temos um documento particular
simples, cuja força probatória leva a concluir que o réu
declarou aquilo com força probatória plena (a não ser que
haja uma impugnação de autoria). No entanto, isto não é
uma confissão – não é um facto desfavorável ao réu,
portanto este documento não prova nada, apenas que o
réu declarou que já pagou (mas isto não tem valor
nenhum no processo).
 Só tem valor quando o objeto da declaração é
uma confissão e teremos de ir à força probatória
da confissão – é muito elevada.

Temos uma outra classificação verdadeira para qualquer um dos tipos de confissão acima
referidos:

Confissão expressa/ficta:

 É a confissão que resulta da declaração que seja diretamente destinada a reconhecer a


realidade do facto que seja desfavorável ao declarante – há uma intenção expressa de
reconhecer a realidade de um determinado facto.
o Não é a mesma coisa que intenção expressa em confessar: a parte pode nem ter a
noção de que está a confessar, mas se está a admitir um facto que lhe é
desfavorável, a essa realidade será considerada uma confissão expressa

Confissão presumida:

 Resulta de uma presunção legal de reconhecimento de um facto desfavorável que a lei


extrai de um determinado comportamento da parte.
 Ou seja, não precisa a parte de admitir diretamente a veracidade de um
facto porque a lei independentemente da parte o fazer, perante um certo
comportamento da parte, associa a confissão do facto.
o Exemplo: casos de não contestação pelo réu – sempre que o réu não contesta,
resulta do artigo 567ºnº1 CPC: “a falta de contestação do réu permite considerar
confessados todos os factos articulados pelo autor”.
 A parte até pode não querer deliberadamente confessar, apenas quis não
contestar mas não pode vir dizer que não contestou mas não queria
admitir aqueles factos e, portanto, não se devem considerar confessados.
 Há aqui uma presunção legal que é inilidível.

Requisitos de eficácia da confissão – para que a confissão seja válida:

Embora a regra seja a da livre admissibilidade dos meios de prova, há limites que a lei coloca a este
princípio. Alguns destes limites justificam-se por razões de garantia desses meio de prova e
garantia de que o meio de prova corresponde à realidade dos factos.
 Exemplo: a confissão não é admitida em relação a direito indisponíveis
o Se o fosse, na medida em que a confissão é uma declaração que provém do
próprio titular do direito de um facto que lhe é desfavorável, isso poderia equivaler
na prática à disponibilidade do direito.
o Exemplo – nas ações familiares: impugnação da paternidade, regulação do poder
paternal, etc – se vou admitir um facto que me é desfavorável estou a contribuir
para ser condenado e isso pode significar na prática à disponibilidade do meu
direito.

Logo, quais são os limites à admissibilidade da confissão que constituem também


requisitos/garantias de eficácia da confissão:

 1) requisitos relativos à pessoa do declarante (do confitente)


o Artigo 353ºNº1 CCivil + 453ºNº1 CPC – resulta que há 2 requisitos relativos ao
confitente que têm de se verificar para que a confissão seja válida:
 1º - Capacidade:
 Exige-se que o confidente tenha capacidade de exercício (é isso
que está em causa quando se refere na capacidade para confessar)
para dispor do direito a que o facto se refere
o ou seja, um menor naturalmente não pode confessar
factos: para além de não ter capacidade judiciária, não
tem possibilidade de por si, pessoal e livremente,
confessar factos em juízo ou fora dele (confissão judicial e
extrajudicial).
o O mesmo para um maior acompanhado caso o objeto da
confissão se refira a direitos sobre os quais o maior
acompanhado não tem poderes de disposição e, portanto,
temos de transpor também o regime da capacidade de
exercício para a matéria da confissão.
 Sendo uma confissão judicial é facil de concluir – se o incapaz de
exercício tambem tem incapacidade judiciária, naturalmente que
não pode praticar nenhum ato em juízo e, portanto, tambem não
pode proferir uma confissão judicial.
 A relevancia maior desta exigência para a confissão põe-se a nivel
de confissões extrajudiciais – porque não posso aproveitar através
de qualquer meio de prova uma confissão extrajudicial que tenha
sido proferida por um incapaz.

 2º - Legitimidade:
 É necessário que a confissão seja feita por quem tem “o poder de
dispor do direito a que o facto confessado se refere”
o Este requisito tem particular importância relativamente a
3 casos:
1º caso: representantes dos incapazes e das pessoas
coletivas - em que medida o representante do incapaz ou
da pessoa coletiva pode ou não confessar factos relativos
ao seu representado?
 Artigo 453ºNº2 que remete para os poderes de
representação
 Ou seja, tenho de ir aos poderes de
representação que são conferidos ao
representante (do menor, do maior
acompanhado ou da pessoa coletiva) e só
a partir desses poderes atribuídos ao
representante é que sabemos quais são os
factos que este tem legitimidade para
confessar.
o No caso de ser pessoa coletiva
tem de se ir aos estatutos da
pessoa coletiva e ver quais são os
poderes do representante
naquele caso.
 Exemplo: se há uma incapacidade genérica de
exercício e o representante tem poderes genéricos
sobre os bens do representado, então também
terá legitimidade para confessar algum facto
relativo à disponibilidade desses direitos.

2º caso: litis consórcio (há uma pluralidade de partes e


simultaneamente uma unidade de relação material
controvertida)
 Relativamente aos litis consortes, o artigo
353ºNº2 CCivil determina que:
 No litis consórcio necessário a confissão
de um deles não é eficaz, logo é
necessário a confissão de todos para que
a confissão seja válida
o o que se compreende, porque no
litis consórcio necessário o que
acontece é que há normalmente
uma indivisibilidade do interesse
ou da quota-parte para um dos
litis consortes. Portanto, por
exemplo: numa ação de anulação
do contrato celebrado com os 2
réus que o autor quer anular – há
um litis consórcio necessário pela
natureza da relação material
controvertida (não posso anular o
contrato por partes) e, portanto,
se não posso anular o contrato
por partes tenho de convocar ou
demandar os 2 réus – não é
suficiente um dos réus vir admitir
que de facto sabia que o autor
estava em erro quando celebrou o
contrato uma vez que não é
possível dividir em quotas-partes
o interesse dos 2 réus – portanto
não fica provado que o autor
estava em erro quando celebrou o
contrato, a não ser que os 2 litis
consortes confessem
simultaneamente.

 No litis consórcio voluntário a confissão de


um dos réus é eficaz relativamente a este.
o Exemplo: uma ação de cobrança
de um crédito cuja obrigação era
conjunta - se o que está em causa
é a ação de cobrança de 50% do
prédio para cada um dos réus
nada impede que um dos réus
confesse um determinado facto
porque isso não se vai estender à
quota-parte do outro réu e o
tribunal vai conhecer de factos
diferentes do pedido na medida
em que está em causa o
litisconsórcio voluntário.

o 3º caso: poderes do mandatário judicial


 Resulta do CPC e do CCivil que o mandatário
judicial apenas pode confessar quaisquer factos
em nome do seu representante, em princípio
quando tenha poderes especiais para o efeito,
salvo quanto às confissões feitas nos articulados.
 Os mandatários para terem legitimidade
para confessar têm de estar munidos de
poderes especiais, exceto quanto às
confissões feitas nos articulados.

 2) requisitos relativos aos factos confessados


o Artigo 354º CCivil: a confissão não é eficaz (ou seja, não faz prova contra o
confitente) em 3 situações:
 1 – se recair sobre factos cujo reconhecimento ou investigação a lei proíba
 Casos em que a lei expressamente diga que a confissão não é
admitida para aqueles factos.

 2 – se recair sobre os factos relativos a direitos indisponíveis


 3 – se o facto confessado for impossível ou notoriamente inexistente
 Se estiver a admitir um facto que é evidente que não é verdadeiro,
a confissão não se sobrepõe há inverosimilhança desse facto.

Regras/Princípios aplicáveis à confissão:

Há 2 princípios que são exclusivos da prova por confissão:

 Princípio da irretratabilidade – da não revogação;


o irretratável no sentido de que o confitente não pode revogar a sua confissão
o Artigo 465º CPC:
 Nº1 – regra geral: a confissão é irretratável
 Nº2 – exceção à não revogação das confissões: a confissão de factos feita
nos articulados que só pode ser revogada até à aceitação expressa da
contraparte.
o Ao contrário do que acontece com outros meios de prova (como a prova por
documento, prova pericial, etc. em que se pode prescindir do documento ou
retirar a prova pericial), na prova por confissão não é possível – pela especial
dignidade que se considera que a prova por confissão tem.
o Ou seja, é algo muito sério a nivel processual a consideração de que uma parte
admitiu que um facto lhe era desfavorável – a probabilidade de a confissão ser
falsa é mínima, porque a probabilidade de alguem admitir num processo/ou fora
dele um facto que lhe é desfavorável é muito pouca. A presunção de veracidade
daquela admissão do facto é enorme.
 Por isso, considera-se que não é possível que o confitente volte com a
palavra atrás porque se arrependeu de confessar.
 A única exceção (além da exceção dos factos feitos nos articulados):
 Artigo 359ºNº1 CCivil: Há uma possibilidade de anular a confissão
se o confitente demonstrar que este estava afetado por um vício
da vontade quando proferiu aquela confissão
o Este artigo é importante porque a confissão não é uma
declaração de uma vontade, mas de ciência – os vícios da
vontade aplicam-se às declarações negociais, portanto há
uma aplicação de alguma forma não direta do regime das
invalidades das declarações negociais aplicada a uma
declaração que não é negocial
o por isso é que artigo tem de o dizer expressamente e por
isso é que o Nº2 expressamente determina que o erro
desde que seja essencial não tem de satisfazer os
requisitos exigidos para a anulação do NJ – porque aqui
não está em causa a tutela da outra parte como na
celebração de um NJ, é irrelevante que a outra parte
conheça ou deixe de conhecer a essencialidade do erro
para o confitente.
 Por isso é que temos este nº - estamos perante
uma mera declaração da vontade que tem efeitos
processuais graves
 Logo, a confissão não é revogável a não ser que seja invalidada com base
no vício da vontade – exemplo: erro, coação física ou moral, dolo, etc..
Tudo isto são causas que podem justificar a anulação da confissão.
 No entanto, isto não é propriamente o arrepender-me de ter
confessado e portanto retirar a minha confissão, é necessário uma
anulação da confissão.

 princípio da indivisibilidade – artigo 360º CC


o existem 2 tipos de confissões (que juntam a confissão com outra realidade e, por
isso, não tem a ver com as classificações anteriores)
 confissões qualificadas
 exemplo: numa ação em que o autor vem dizer que emprestou
dinheiro ao réu e quer que este seja condenado a devolver esse
dinheiro. O reu na contestação vem dizer que o autor lhe
emprestou esse dinheiro, mas esse dinheiro não foi entregue a
titulo de mutuo mas de doação
o portanto, o réu vem admitir o facto desfavorável de ter
recebido aquele dinheiro mas vem juntar a essa confissão
(a esse reconhecimento do facto desfavorável) uma
qualificação que lhe é favorável, daí a confissão qualificada
 Por um lado há uma parte desfavorável, mas esta
confissão está associada a um aspeto favorável ao
confitente, que é a qualificação do facto.
 É uma confissão em que a qualificação atribuída a
torna semi desfavorável – o que favorece o
confitente é uma nova qualificação

 confissões complexas
 exemplo: na mesma ação o réu vem dizer que ainda não pagou,
mas porque tinha ficado combinado com o autor que a devolução
do dinheiro só tinha de ser feita daqui a 1 ano
o aqui a admissibilidade de um facto que é desfavorável ao
réu, mas vem acrescentar um facto que no fundo altera o
seu desfavor (porque só tinha de pagar daqui a 1 ano e,
portanto, não está em incumprimento).
o O que torna a confissão semi desfavorável é o acrescentar
de novos factos que acabam por favorecer o confitente – o
que favorece o confitente são novos factos.

o O que é que significa o principio da indivisibilidade da confissão aplicado quer à


confissão qualificada e á complexa?
 O artigo 360º CC determina que: aquele que se quer aproveitar da
confissão da contra parte não o pode fazer escolhendo apenas a parte que
lhe interessa, a não ser que prove o contrário relativamente à parte que é
favorável ao confitente.
 Ou seja, se se quer aproveitar da confissão este tem de ser feito na
sua totalidade – a menos que prove o contrário relativamente a
uma das partes.

Força probatória da Confissão:

A confissão devido à sua dignidade especial, diz-se que é a rainha das provas – quem consegue
uma confissão num facto importante tem a ação ganha. O facto da confissão ser uma prova com
especial dignidade reflete na força probatória da confissão.

 É dos graus mais elevados de prova - é quase pleníssima, algures a meio caminho entre a
força probatória plena e pleníssima
 Artigo 358º CC – faz uma distinção entre os vários tipos de confissão e associa-os à força
probatória:
o Confissão judicial escrita – Nº1 força probatória plena contra o confidente
 é preciso que seja escrita em qualquer tipo de documento
 o habitual é que a confissão judicial seja escrita: nos articulados não há
duvida que é escrita, mas há confissões que a parte pode fazer
espontaneamente (por exemplo, na audiência quando está a ser ouvida
através de declarações de parte ou de depoimento de parte)
o depoimento de parte – meio processual através do qual
eu peço audição da contra parte para ver se ela confessa.
o declarações de parte – meio processual através da qual eu
peço a minha própria audição.
 Se por acaso surgir uma confissão num depoimento de qualquer
das partes essa confissão é oral (se estiver a ser interrogado na
audiência), a não ser que a parte que se quer aproveitar da
confissão peça para que conste da ata aquela confissão – para que
isso se torne uma confissão judicial escrita, que é a que tem maior
força probatória.
 Assim, a parte que quer destruir a força probatória desse meio de prova
tem de provar o contrário.
 Exemplo: o autor quer que o réu seja condenado a pagar e o réu
vem admitir nos articulados que de facto ainda não pagou
(confissão judicial escrita do réu que tem força probatória plena) e
o réu quer vir destruir a força probatória da própria confissão e
vem ao processo e vem provar que não é verdade
o Isto é suficiente para destruir a força probatória da
confissão?
 Não pode ser, porque se isso fosse suficiente para
destruir a força probatória da confissão
estaríamos a violar o princípio da irretratabilidade.
Se para o confitente bastasse provar o contrário
para afastar a confissão então estaria a arranjar
uma forma de voltar atrás na sua confissão
 Assim, é necessário que venha anular a confissão
através do artigo 359º CCivil
 É preciso que venha demonstrar que
confessou porque a sua vontade estava
viciada.
 É por isso que se diz que a confissão
judicial escrita tem uma força probatória
quase pleníssima.

o Confissão judicial não escrita – Nº4: força probatória bastante “é apreciada


livremente pelo tribunal”

o Confissão extra judicial – Nº2: força probatória plena


 “A confissão extrajudicial, em documento autêntico ou particular
considera-se provada nos termos aplicáveis a estes documentos e se for
feita à parte contrária ou a quem a represente, tem força probatória
plena”.
 Tem 2 partes:
1ª parte – se a confissão extrajudicial consta de um documento, só
posso dar como provada que aquela declaração confessória foi
proferida se for à força probatória daquele documento em
concreto e concluir que aquela declaração está provada.
o Tenho de ir aos artigos relativos à prova documental e
escolher o adequado consoante o tipo de documento em
que se contém a confissão, para que a declaração
confessória fique provada.
 2ª parte – só depois é que vou ao artigo 358ºNº2 última parte - à
força probatória plena (quase pleníssima porque tenho de anular a
confissão para a destruir).
 Exemplo: escritura pública de uma c/v de um imóvel em que
perante o notário o vendedor diz que já recebeu o preço e o
notário atesta na escritura que o comprador declarou que já tinha
recebido o preço. Mais tarde, o vendedor apercebe-se que afinal
não recebeu o preço (porque o comprador lhe tinha passado um
cheque que afinal não tinha cobertura), portanto propõe uma
ação de condenação do comprador no pagamento do preço.
o O comprador vai juntar a escritura e vai valer-se da
declaração que está na escritura para dizer que já pagou
que está provado na escritura – A pergunta é: está ou não
provado que o preço foi pago? vai depender:
 A 1ª coisa que temos de fazer é ir ver qual é a
força probatória do documento autêntico – logo
temos de ir aos artigos 370º e 371º CC para ver a
força probatória formal e depois material dos
documentos autênticos respetivamente.
 Artigo 371ºNº1 – os factos atestados com
base nas perceções do notário têm força
probatória plena. O que significa que fica
plenamente provado que o vendedor
declarou que já tinha recebido o preço. –
esta declaração do vendedor de que
recebeu o preço, nesta ação em concreto,
é uma declaração confessória. Porque se o
vendedor está a pedir que o réu seja
condenado a pagar o preço, se ele admitiu
no documento que o réu já tinha pago o
preço, isto é uma confissão extrajudicial
num documento autentico.
o Mas como é que sei se está ou não provado o pagamento?
 A 2ª coisa que temos de fazer é ir ao artigo
358ºNº2 última parte e concluo que a confissão
tem força probatória plena, ou seja, fica
plenamente provado que o vendedor recebeu o
preço
o Mas isto é mentira, porque o vendedor depois apercebeu-
se que não tinha recebido o preço: Como é que o
vendedor consegue contrariar a força probatória da sua
própria declaração?
 Tem de fazer 2 coisas:
 1 – provar o contrário: que de alguma
forma não entrou na sua conta aquele
valor, nem de que qualquer de outra
forma entrou no seu património aquele
valor
 2 – uma vez que o princípio da
irretratabilidade existe, é preciso ainda
demonstrar que houve um vício da
vontade que o afetou quando proferiu
aquela declaração confessória (artigo
359º CC) – neste caso era um erro que até
poderá ser qualificado por dolo se tiver
sido a outra parte que o induziu em erro.

o Confissão extrajudicial que não conste de qualquer documento – Nº3: força


probatória bastante “é apreciada livremente pelo tribunal”
 Porque normalmente é trazida a juízo através da prova testemunhal (que
também ela tem uma força probatória meramente bastante).
AULA 7/12

3) Prova por Declarações de Parte: Coexiste com outro meio de prova - a prova por depoimento
de parte.

Qualquer um destes meios de prova é admissível em juizo e é regulado pelo CPC

 Vimos a figura do Depoimento de parte como um instrumento através do qual a


contraparte na ação provoca uma confissão. No fundo resulta de um pedido da
contraparte, exemplo: autor pede ao tribunal que chame o réu a depor em qualquer
momento do processo para provocar uma confissão.
o Instrumento para obter o meio de prova confissão – logo, nesta perspetiva não é
um meio de prova autónomo, é um instrumento/vertente processual da aquisição
da confissão.
o No entanto, pode acontecer que este depoimento de parte quando chamo a
contraparte a depor, que ela não confesse (o que acontece na maior parte dos
casos)
 Se não obtiver do depoimento de parte uma confissão, ainda assim
entende-se que esse depoimento de parte deve ter um valor de livre
apreciação, ou seja, o tribunal deve puder valorar aquele depoimento da
contraparte livremente (não confessou, mas se calhar mostrou-se nervosa,
disse coisas que indiciam factos que a desfavorecem, etc)
 Tem uma força probatória bastante
 Portanto, o depoimento de parte pode também ser um meio de prova
autónomo quando dele não resulte uma confissão. – por isso é que
falamos dele para além da confissão.
o Está regulado no CPC nos artigos 452º e ss. (não tem autonomia, a secção que
integra o artigo 452º diz “prova por confissão das partes”)
 Nº1 - o depoimento de parte também pode ser pedido pelo juiz
também para obter a confissão ou não, apenas declarações que
podem ser livremente apreciadas.
 Se for uma confissão, remete-nos para as regras da prova por
confissão
 Se não for uma confissão, vamos à regra geral do artigo 607ºnº5
CPC que nos diz que, salvo situações da lei em contrário, o juiz
aprecia livremente as provas segundo a sua prudente convicção
acerca de cada facto.
 Não está regulado no CCivil precisamente porque não tem propriamente
uma autonomia material.

O que o depoimento de parte tem em comum com as declarações de parte:


o são as duas um tipo de prova por depoimento
o as duas são de partes em juízo
O que o depoimento de parte tem de diferente com as declarações de parte:
o o depoimento de parte é o depoimento da contraparte
o a declaração de parte é uma auto declaração

 Figura diferente, prova por declarações de parte


o As declarações de parte são uma auto declaração – ou seja, é a própria parte que
se oferece para depor ela própria sobre factos que lhe interessam.
o Aqui é a própria parte, não estou a pedir o depoimento da outra parte, mas o meu
 Portanto, o objetivo não será a confissão mas sim reiterar ou conseguir
contribuir para a prova dos factos que eu alego.
o Força probatória das declarações de parte: tem de ter uma força probatória
meramente bastante também, é sujeito à livre apreciação do juiz
 A parte que vai prestar declarações vai apenas reiterar factos que já
alegou, até porque não pode vir complementar factos novos (já teve
oportunidade de o fazer nos articulados).
 Logo, é natural que (a não ser que daí resulte por acaso uma
confissão) o tribunal desconfie até deste meio de prova porque é
normal que a parte vá forçar tudo o que já alegou e que vá dizer
coisas que lhe vão ser favoráveis.
o Artigo 466º CPC – também tem uma parte processual instrumental tal como o
depoimento de parte.
 Este artigo não existia antes do código de 2013, antes da existência deste
artigo não era permitido a prova por declarações de parte (ou seja, as
próprias partes estavam proibidas de prestar declarações em tribunal, a
não ser que fossem instadas pela contraparte a titulo de depoimento de
parte) – portanto, existia o depoimento de parte mas não existia a
declaração de parte
 Porque se considerava que a própria parte já tinha tido
oportunidade de nos articulados vir dizer o que tinha a dizer e,
portanto, ouvir a parte não serviria de nada.
 Porque é que se passou então a permitir que as partes pudessem vir depor
por livre iniciativa a tribunal?
 1º motivo – muitas vezes assistia-se a fraudes para que as partes
pudessem vir depor a tribunal, sobretudo quando a parte era uma
pessoa coletiva
o Quem a representa é o seu administrador/gerente/etc e,
muitas vezes, a própria parte tem interesse que o seu
representante venha dizer o que se passou, ou reforçar o
que se passou. Portanto, o que se fazia muitas vezes era
que o administrador renunciava às suas funções antes da
audiência para puder ir depor a tribunal (porque assim já
não estava impedido de ir, já não era o representante) e
depois voltava a nomeado administrador no final da ação -
deixava de ser administrador apenas para este efeito.
 2º motivo – no caso das pessoas singulares, acontecia que a não
possibilidade da parte ser ouvida fragilizava muito a sua posição
sobretudo nos casos em que os pactos aconteceram apenas entre
as partes e não havia testemunhas.
 Exemplo: casos de divórcio em que não há
testemunhas dos factos relatados pelas partes. – é
natural que o tribunal ao ouvir cada uma das
partes possa retirar para a sua livre convicção
elementos de prova que não podem trazer ao
processo de outra forma porque não há
testemunhas, não há prova documental, os factos
passaram-se apenas entre as partes, então não
havia forma de provar os factos que
fundamentavam o pedido de divórcio, por
exemplo.
o Logo considerou-se que sobretudo nos casos em que não
existem outros meios de prova possíveis, as declarações
de parte podem ter uma importância fundamental.
 Nos outros casos em que existem muitos outros
meios de prova, normalmente o tribunal dá pouco
valor a este meio de prova.

Assim, apesar destas duas figuras serem meios instrumentais para adquirir um outro meio de
prova às vezes confundem-se com o próprio meio de prova e, portanto, a designação do
instrumento e do meio de prova é o mesmo sobretudo quando não desencadeiam uma confissão –
porque quando desencadeiam uma confissão temos outro meio de prova.

A sua base legal está apenas no CPC porque é mais instrumento de um resultado do que
propriamente um meio de prova

4) Prova Pericial

 O regime mais substantivo da prova pericial: artigos 388º e 389º CC


 O regime mais processual da prova pericial: artigos 467º e ss. CPC

Do regime substantivo:

Artigo 388º CC – a prova pericial tem dois aspetos relevantes:

 A perceção ou apreciação sobre factos ou sobre pessoas


 A autoria dessa perceção que é feita/atribuída a quem tenha conhecimentos especiais –
aos chamados peritos (técnicos com conhecimentos especiais)

Como é que se distingue a prova pericial da prova testemunhal?

 Os peritos e as testemunhas são terceiros na ação em relação à causa e vao depor


sobre as suas perceções. No entanto, há diferenças fundamentais:
o As testemunhas são chamadas para relatar as suas perceções sobre factos
passados (o que viram, ouviram, etc) – vai contar o que aconteceu
 Diferença da pessoa em causa - testemunha qualquer pessoa pode ser,
desde que assista aos factos
o Os peritos trazem essencialmente ao tribunal a sua apreciação ou valoração e
factos presentes – vai ser chamado para relatar o que se passa agora,
provavelmente será o teto partido, as rachas na parede, etc. mas não são
factos passados, mas sim factos presentes/atuais
 Diferença da pessoa em causa - são técnicos, pessoas com especiais
conhecimentos técnicos sobre a matéria
 Às vezes temos a figura testemunha-perito:
o Pode um médico, por acaso, estar no local do acidente quando este ocorre e
vir testemunhar e isto não impede que tambem seja perito sobre alguns
aspetos que testemunhou: saber se morreu logo ou não, se partiu a perna ou
não, etc. – mas o que o médico vai depor ali é na qualidade de testemunha
porque assistiu àquilo que aconteceu, depõe sobre factos passados.

 Como consequência disto tudo, o perito tem uma função essencialmente ativa
(investiga), ao passo que a testemunha tem um papel passivo (porque é interrogada, é
ouvida)
o Perito – investiga e depois apresenta ao tribunal um relatório pericial sobre o
qual depois pode ser interrogado.
 Muitas vezes o tribunal para além do relatório pericial chama os
peritos a juízo para puder interrogá-los sobre determinadas questões
relativas ao relatório pericial, mas na verdade, a função do perito é
uma função essencialmente ativa.

Força probatória da prova pericial:

Artigo 389º CC – força probatória bastante

 As opiniões dos peritos podem divergir consoante a sua visão


o Exemplo: uma ação proposta pelo dono da obra contra o empreiteiro e pede uma
indemnização dizendo que durante o inverno entrou agua dentro de casa e que
esta entrou devido a defeitos de construção, e o réu vem dizer que a agua entrou
mas que não foi por defeito de construção, foi devido a um defeito anormal
porque choveu de forma não comum.
 Cada relatório pericial vai ter posições diferentes porque vai depender da
perceção dos factos, da perspetiva, daquilo que lhes seja relatado pelas
partes que pedem o relatório.
 Por isso, muitas vezes o juiz depara-se com relatórios periciais sobre os
mesmos factos em sentido contrário. Logo, não seria funcional que a lei
dissesse que o relatório pericial teria força probatória plena – tem de ficar
sujeito á livre convicção do tribunal que vai escolher o relatório que lhe
ofereça melhor credibilidade.
 Para além de que às vezes os relatórios periciais não são singulares
– às vezes as partes decidem em conjunto com o tribunal que se
vai efetuar um relatório pericial com base numa perícia colegial.
o Exemplo: 3 peritos – 1 nomeado por cada parte (autor, réu
e tribunal) e os 3 apresentam 1 relatório em conjunto
 O que acontece muitas vezes é que o perito que
não concorda formula uma opinião divergente,
uma espécie de voto de vencido no sentido
oposto.
 Logo, mesmo quando o relatório é único as
opiniões muitas vezes são divergentes.

4) Prova por Inspeção Judicial:

 O regime mais substantivo: artigos 390º e 391º CC


 O regime mais processual: artigos 490º e ss. CPC

Do regime substantivo:

Artigo 390º CC – “a prova por inspeção tem por fim a perceção direta de factos pelo tribunal”:

 No fundo, corresponde a uma deslocação do proprio tribunal para atestar os factos


o Tem um elemento que tem a ver com a sua autoria
 que é feita pelo proprio tribunal, é o próprio juiz que é o autor da prova
por inspeção judicial
o Tem um elemento que tem a ver com o objeto
 Tem por objeto os factos diretamente – há uma relação direta entre o juiz
e os factos
 Exemplo: há uma ação para constituição de servidão de passagem e uma das partes diz
que não tem outro acesso à via publica senão pelo prédio do réu, enquanto que este vem
dizer que não é verdade porque se der a volta por um sitio especifico o autor consegue
chegar à via pública
o Pode uma das partes ou o próprio tribunal oficiosamente pedir ou determinar que
o tribunal se deslocará ao terreno para verificar na 1ª pessoa se de facto há ou não
passagem para a via publica.
 É uma perceção direta de um facto que interessa à solução da causa.
o Exemplo: em matéria de confrontações de prédios vizinhos – uma das partes diz
que o réu está a ocupar uma parcela do seu terreno e o réu diz que não
 O tribunal pode deslocar-se ele próprio ao tribunal
o Exemplo: processo com uma ação de responsabilidade civil de um dono da obra
contra o empreiteiro, um condomínio que tinha sido construído por uma empresa
e passado uns anos ainda no prazo da garantia as pedras da fachada começaram a
cair e os donos do imóvel puseram uma ação contra o empreiteiro para este
reparar ou indemnizar e o empreiteiro dizia que este dano não tinha a ver com
defeitos de construção nem colagem, mas teve a ver com o mau uso – o tribunal
decidiu deslocar-se ao imóvel para tentar perceber se a olho nu era possível
perceber se as pedras estavam bem coladas, etc.

Força probatória da prova por inspeção judicial:

Artigo 391º CC – Força probatória bastante

 O tribunal vai avaliar consoante a sua livre convicção os resultados da sua apreciação.

5) Prova por verificações não judiciais qualificadas: Artigo 494º CPC

 Foi introduzida pelo código de 2013 – é uma parente da inspeção judicial


o Artigo 494º CPC: estas inspeções no fundo substituem a deslocação do tribunal ao
local.
 O tribunal entende que não se justifica a sua deslocação ao local da
verificação dos factos entao nomeia alguem (um técnico do próprio
tribunal, um notário, um oficial público – alguem dotado de uma especial
autoridade) que em substituição do tribunal vá ao local ter a perceção dos
factos e que traga o relatório.
 Exemplo: se os factos ocorreram a bastantes km do local do
tribunal
 Não é um relatório pericial porque não é alguém propriamente com
conhecimentos especiais sobre a matéria mas é alguém com especial
credibilidade.
 Nº2 – também é livremente apreciável pelo tribunal = tem força
probatória bastante.
6) Prova testemunhal:

 O regime mais substantivo: artigos 392º e ss. CC


 O regime mais processual: artigos 495º e ss. CPC

Do regime substantivo:

Distingue-se:

 do depoimento de parte e das declarações de parte – implicam que os seus autores sejam
partes, ao contrário da prova testemunhal
 da prova pericial – (desenvolvido nesta matéria)

Quem é que tem capacidade para testemunhar em juízo?

 Artigo 495º CPC – “todos os que tiverem aptidão mental para depor sobre os factos que
constituam objeto da prova”
o Regra geral: todas as pessoas podem depor como testemunhas
independentemente de serem maiores, menores ou maiores acompanhados,
incapazes ou não.
 Claro que o tribunal avaliará livremente qual a capacidade da pessoa – nº2
do 495º: é o próprio tribunal que faz a triagem daquele depoimento para
saber se vale a pena considerá-lo ou não. No entanto, a regra é que todas
as pessoas podem depor como testemunhas.
o Exceções:
 O juiz pode apreciar a capacidade natural da pessoa naquele momento,
para além disso há um outro impedimento que está no artigo 496º CPC:
 Estao impedidos de depor os que na causa possam depor como
partes.

 Apesar de não estarem impedidos de depor como testemunhas, existem causas legitimas
para uma testemunha que seja chamada se recusar a depor – é diferente da incapacidade
para depor: artigo 497º CPC
 À contrario deste artigo, as testemunhas têm uma obrigação de depor
 O dever de cooperação que existe em matéria de prova do artigo
417º CPC: quem se recusasse a colaborar sofre as
correspondentes soluções
o Situações que podem por em causa a liberdade do testemunho – não é um
impedimento, mas uma possibilidade de recusarem por razões de liberdade que
podem impedir a verdade do testemunho e que impeçam que a testemunha seja
sincera.
o Nº3 497º – permite que se recusem a depor os que estejam adstritos ao segredo
profissional ou de funcionário público ou segredo de Estado.
Condições de admissibilidade da prova testemunhal:

O direito probatório material inclui 3 pontos: o ónus da prova, a admissibilidade dos meios de
prova, o valor – a regra geral em termos de admissibilidade era de que todos os meios de prova (os
previstos na lei quer os não previstos na lei e que as partes tragam ao processo) são livremente
admissíveis. No entanto, há exceções: estas são especialmente extensas no caso da prova
testemunhal pela pouca credibilidade que a prova testemunhal pode dar em relação a outros
meios de prova.

 Por isso, é admitida em regra sobre quaisquer factos que constem dos temas da prova
(artigo 392º CC) – regra da admissão
 Temos uma série de situações em que a prova testemunhal não é admitida (artigos 393º,
394º e 395º CC)
o Artigo 393º:
 Nº1 – “não é admitida prova testemunhal de DN que tivessem de ser
reduzidas a escrito”:
 Ou seja, quando seja exigido quer por lei ou convenção das partes
que a forma de uma determinada declaração ou NJ seja uma
forma escrita, não pode essa forma ser substituída por forma
testemunhal – compreende-se, porque se a forma exigida é, por
exemplo, uma escritura publica e A instaura uma ação de
reivindicação contra B de um imóvel e B na contestação vem dizer
que o imóvel não pertence a A mas a ele, porque este comprou o
imóvel ao autor através de um contrato de c/v celebrado com o
autor e para o efeito junta uma testemunha que vem dizer que
testemunhou que houve um acordo entre as partes e que
efetivamente B comprou o imóvel ao A – esta prova testemunhal
não é admitida.
o Se esta prova testemunhal fosse admitida para provar que
um negócio para cuja validade é necessária forma escrita
e neste caso escritura pública, estaria a defraudar a
exigência de forma – estaria a admitir indiretamente
através de um processo que aquele negócio de c/v tivesse
sido feito sem ser através de escritura pública

 Nº2 – quando o facto estiver plenamente provado por documento ou por


outro meio com força probatória plena:
 A razão de ser desta limitação à admissibilidade de prova
testemunhal compreende-se pela hierarquia dos meios de prova:
o há uma hierarquia e a prova testemunhal tem uma força
probatória meramente bastante, ao passo que em geral a
prova documental e outros meios de prova têm uma força
probatória tabelada. Assim, faz sentido que a nível de
hierarquia de meios de prova haja esta limitação.
o Artigo 394º:
 Nº1 – “se tiver por objeto quaisquer convenções contrárias ou adicionais
ao conteúdo de documento autêntico ou dos documentos particulares
mencionados nos artigos 373º a 379º quer as convenções sejam anteriores
à formação do documento ou contemporâneas dele”
 Este artigo é apenas uma consequencia daquilo que vimos no
artigo 393º: se não posso usar prova testemunhal para contrariar
aquilo para o qual é exigido documento escrito, eu também não
posso usar prova testemunhal para provar convenções contrárias
ou adicionais ao conteúdo de documentos. – tem a ver com a
hierarquia de meios de prova

 Nº2 – estabelece esta proibição aplicando-a diretamente ao acordo


simulatório e dissimulado, quando invocado pelos simuladores.
 Temos uma proibição de usar prova testemunhal para os
simuladores (apenas aos próprios simuladores e não para
terceiros) precisamente por causa da pouca fiabilidade da prova
testemunhal e porque tendencialmente os simuladores entre si
terão meios de prova mais fidedignos como será a prova
documental.
o O que não quer dizer que não haja doutrina que considera
que esta limitação não se aplica se a prova testemunhal
surgir como prova complementar e não como exclusiva ou
principal – ou seja, se a prova testemunhal servir para
interpretar o conteúdo do documento onde está contido o
acordo simulatório ou para vir esclarecer algumas dúvidas
relativas ao documento no fundo já não seria impeditivo
este meio de prova. mas como meio exclusivo e principal
nunca por razões de pouca fiabilidade e eventualmente de
sanção para os simuladores.

o Artigo 395º:
 Estende a proibição da prova testemunhal quando a obrigação tenha de
ser reduzida a escrito também aos factos extintivos das obrigações
 Ou seja, proíbe-se que as próprias partes do negócio que tenha de
ser reduzido a escrito ou que conste de documento escrito.
Também todos os negócios supervenientes não podem ser
provados através de testemunha desde que o negócio original
tenha de ser reduzido a escrito ou tenha sido reduzido a escrito.

 Todas estas limitações resultam da hierarquia dos meios de prova, são uma consequência
neste caso da pouca fiabilidade da prova testemunhal.

 Estas limitações relativas à admissibilidade de prova testemunhal são extensíveis à


possibilidade de recorrer a presunções judiciais: artigo 351º CC
o “As presunções judiciais só são admitidas nos casos e termos em que é admitida a
prova testemunhal”
 Ou seja, o juiz não pode ele próprio fazer referencias e tirar conclusões
relativamente a estes factos relativamente aos quais é proibida a prova
testemunhal.

Força probatória da Prova Testemunhal:

Artigo 396º CC - força probatória bastante

 É o meio de prova mais utilizado, mas o mais falível e por isso está sujeito à livre
apreciação do tribunal. – é o mais fácil de obter, no entanto é muito fácil instruir
testemunhas num determinado sentido mas muitas vezes não há outro meio de prova.
 Mesmo que as testemunhas não venham mentir, a sua perceção é muito frágil e, portanto,
2 testemunhas no mesmo local à mesma hora podem ter perceções completamente
diferentes dos mesmos factos
 O tempo que medeia entre a ocorrência dos factos e o depoimento das testemunhas pode
ser muito longo, e, portanto, o normal é que não se lembre de muitos dos factos.
 Consideram-se testemunhas:
o As pessoas que não sendo parte na ação nem seus representantes, são chamadas
a juizo para narrar as suas perceções sobre factos passados e que interessam ao
julgamento da causa.
 1º - não ser parte nem representante
 2º - chamadas a narrar perceções de factos passados
 3º - factos que relevam ao julgamento da causa.

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